person_outline



search

ficção cientifíca

  • Hinderman - Capítulo 1

    Capítulo 1

    “Zumbis”.

    A maioria das pessoas a ouvir esta palavra imagina seres humanoides semi-esverdeados, andando de forma bizarra e vagarosa, com a língua de fora, à procura de carne ou cérebro humano para satisfazer a sua fome.

    Antes de começar eu quero apagar um pouco esta imagem da sua cabeça. Os “zumbis”, ou também chamados “ghouls” em sua forma antiga de nomenclatura, não diferem muito de um humano normal. É claro, o nome que lhes foi dado é baseado na imagem caricata atribuída ao significado original da palavra. E isto se deve ao fato de haver uma semelhança vital entre o real e o imaginário: o fato de que eles realmente se alimentam de carne humana. Entretanto não da forma desenfreada com que a maioria das pessoas acreditam. Eles comem muito menos que um ser humano por dia. Na realidade não é incomum um zumbi chegar a ingerir pedaços de comida de verdade (verduras, cafezinho, etc.) de modo a tentar esconder sua identidade e fazer apenas uma boquinha de carniça de noite, quando todos dormem. Contudo quando um zumbi come comida no lugar de carne humana ele não está se alimentando; é como se fosse um ser humano comendo madeira ou pedaços de papel. Se ele continuar assim irá ficar cada vez com mais fome e terá que se alimentar de verdade eventualmente para saciar-se.

    Se a alimentação é a semelhança vital entre a lenda e a realidade, a diferença vital seria a forma de propagação. Na lenda urbana quem for mordido por um zumbi será transformado em outro zumbi e assim sucessivamente até a chegar a um estágio incontrolável da epidemia. Normalmente atribui-se o primeiro nascimento a um vírus ou algo do tipo, em algumas crenças há uma cura para o vírus, em outras não.

    Contudo, na realidade a razão pela qual um zumbi nasce é atualmente desconhecida. Tudo o que se sabe é que acontece em algum ponto entre a morte do corpo humano e sua decomposição. Às vezes leva algumas horas, às vezes leva alguns dias, mas antes que a carne esteja totalmente decomposta, um ser humano pode simplesmente ressurgir como zumbi. Cientistas têm tentado traçar perfis e fazer relações familiares, tabelas de raças, elevar características de propensão, porém tudo sem sucesso. Tudo leva a crer que acontece simplesmente de forma aleatória. Uma solução definitiva seria manter todo corpo morto em estado de vigilância até o final da sua decomposição, para ver se ele se tornaria zumbi ou não. No entanto, devido à baixíssima taxa de acontecimento, somado ao fato de que o governo não quer reconhecer publicamente a existência do ser sobrenatural, prefere-se evitar o gasto desnecessário e manter tal existência em segredo.

    Após o nascimento, ou melhor; o renascimento, apesar de ter o mesmo corpo do humano morto, o zumbi agora é um ser totalmente diferente. Existem raros casos de vaga lembrança da vida humana, mas acontece pouquíssimas vezes e em escala muito pequena. Porém devo admitir que o ser renascido se desenvolve mentalmente muito mais rápido que o ser humano. Ele consegue facilmente identificar que os humanos que o cercam são diferentes e detectam o desprezo pela diferença quase que de imediato, o que os leva a rapidamente tentar esconder-se entre os humanos para evitar a perseguição. Seria isto o que eles dizem que é o instinto? Talvez uma característica que foi passada com o tempo, como uma forma de evolução, uma tentativa de se adaptar ao ambiente? Misturar-se à sociedade sem ser detectado? Nada se sabe. Sobre a natureza e a biologia do zumbi, nada se sabe. E para dizer bem a verdade, não é o foco desta história.

    Embora estes seres se assemelhem muito com o ser humano, há algumas formas clássicas de detectá-los entre nós. A primeira seria pelo hábito alimentar, obviamente. Não se pode negar que algo há de muito estranho entre comer um ser humano, de modo que avistando algo que aparenta ser uma pessoa comendo outra, o melhor a se fazer é clamar pelas autoridades, independente de se o predador é de fato um zumbi ou não.

    A segunda forma seria pelo olfato. Por surgirem da decomposição humana eles têm um cheiro intrínseco de corpo decomposto, alguns mais, outros menos, aparentemente variando de acordo com o tempo necessário para sua ressurreição. Um zumbi pode tentar disfarçar seu cheiro usando colônias e perfumes, mas se você estiver morando com um, dificilmente não perceberá a diferença quando este tiver acabado de sair do banho, por exemplo.

    A Terceira forma seria aproveitar o fato de que eles não se lembram da sua vida humana. Se alguém que o viu durante a vida tentar instigar memórias de quando aquele corpo era o de um ser humano não obterá resposta satisfatória. Ainda mais fácil será a identificação se a pessoa sabe que o dono daquele corpo já deveria estar morto para começo de conversa, já que humanos não simplesmente voltam à vida e saem andando por aí após sua morte.

    A vantagem de um zumbi sobre um ser humano é que eles são naturalmente mais fortes. Aliás, são mais fisicamente fortes do que todos os outros animais conhecidos.

    Para matar um zumbi tudo o que você precisa fazer é matá-lo uma segunda vez. Apenas uma ferida letal, como se estivesse matando um ser humano. É muito difícil a doença, vírus, ou seja lá qual for a razão de sua nascença se manifestar de novo no mesmo corpo. Para dizer a verdade, creio que até hoje houve apenas dois casos registrados de que um deles voltou à vida uma segunda vez, e nenhum caso de que voltou a terceira. Então basicamente uma vez morto, o zumbi está morto para valer. No final das contas a condição de zumbi é como se fosse uma reencarnação, uma segunda vida, e nada muito mais do que isto. A única diferença é a fome, o físico e o fedor de podre.

    Apenas algumas pessoas sabem disso então, por favor, não saia contando: mas o fato é que existe uma divisão de polícia especializada em casos de assassinatos relacionados a estes seres fantásticos. O propósito da existência desta divisão deve ser prezado em segredo, visto que se viesse à tona revelaria a própria existência destas criaturas, assustando a população. Eu comento sobre os zumbis porque os casos destes são uma das coisas com as quais devemos lidar nesta divisão. O nosso trabalho não apenas é o de capturar zumbis (visto que eles são criminosos aos olhos da sociedade, por causa de seu hábito alimentar), mas também prezar por deixar sua existência desconhecida, afinal não queremos preocupar os civis com monstros querendo devorá-los perambulando por aí. Por isso quando há casos em que há alguma ação por parte da nossa divisão, estes geralmente seguem com um longo dia mentindo/negociando com jornais locais para tentar explicar os acontecimentos ocorridos no dia anterior de forma publicável. Este é o trabalho da divisão de casos especiais, ou DCAE.

    Falando em jornais locais, em Sproustown existe uma espécie de acordo entre o jornal diário e o DCAE onde eles atrasam o lançamento das notícias que podem ter alguma relação com estes casos especiais para que possamos investigar livremente e verificar se realmente há alguma conexão ou não com algo de natureza paranormal antes de tornar os acontecimentos públicos. É o que estava acontecendo ali naquela tarde, no meu escritório do DCAE.

    “O dono da loja reportou às 12:11. A câmera captou o que parecia ser um roubo impossível, enquanto o dono da loja estava cuidando do estoque. Características do suspeito: trinta e muitos anos, caucasiano, cerca de dois e dez de altura, tatuagem reconhecível em seu ombro esquerdo. O suspeito chegou e quebrou o vidro ao lado da porta, apanhou grande parte do conteúdo com suas mãos nuas, sem se dar o trabalho de acobertar as digitais e escapou com o conteúdo no meio tempo entre o dono ouvir o estilhaço e o tempo de ele se locomover entre a sala do estoque e a loja. As razões de suspeita de ser um caso especial destinado ao DCAE são: o fato de que o vidro era temperado, aguentando até quatro marteladas, e mesmo assim foi quebrado a mãos nuas e também o fato de que o tempo entre o golpe no vidro e a escapada, totalizaram vinte e dois segundos. O dono da loja, Steven Wolf, reportou ter apenas visto as costas do suspeito correndo rua afora após sua chegada na parte frontal da loja. Os guardas locais foram avisados porém não conseguiram pegar o suspeito a tempo.” - É o relato.

    A pessoa que estava de pé do outro lado de minha mesa, lendo o relato de forma impassível, vestindo um casaquinho preto impecável enquanto cutucava seus óculos de lente grossa se chamava Emma Crane. Era a minha secretária, ou melhor, a secretária do DCAE, e quem havia recebido o relato do assalto naquela tarde de terça-feira.

     - Vinte e dois segundos… - Balbuciei. - E sem a ajuda de nenhum instrumento, hm? Agora sim este parece um caso.

    Eu estava sentado na minha cadeira giratória grande de rodinhas, levantando a parte da frente da mesma do chão enquanto fumava um cigarro, como que de costume.

     - Ele devia estar com pressa.

     - A delegacia de roubos recebeu o relatório quando? Há umas Três horas atrás?

     - Parece que sim.

     - E o sujeito não foi identificado até então?

     - Não.

     - Eles tiraram as digitais?

     - Tiraram. E disseram que iam enviar ao DCAE quando estivessem terminadas.

     - Está bem, obrigado. – Obrigado era o código para Crane se retirar da sala e me deixar em paz. Não me leve a mal, eu gosto do meu pessoal, mas minha cabeça trabalha melhor quando eles não estão parados na minha frente, ou o que é pior: perambulando.

     Creio que esqueci de me apresentar. Eu sou o tenente Henry Dotson, ou só Dotson (ou às vezes só tenente) do departamento de casos especiais, e dos que vêm regularmente (isto é, presencialmente) ao trabalho eu sou o segundo cargo mais alto. Como eu já disse, lidar com zumbis é uma das especialidades do DCAE e parte de meu trabalho, e como você já deve ter adivinhado, o incidente daquela tarde estava relacionado a um desses seres horrorosos. Até porque eu tive todo o trabalho de começar com uma introdução à natureza da sua espécie.

     O DCAE de Sproustown consistia basicamente da capitã, de mim, da secretária, Joey (o detetive) e também do detetive Cole Chapman que é mais uma espécie de agente secreto pelo qual eu não ponho minha mão no fogo de forma alguma. É claro, há muito mais suporte de pessoal, mas os que investigam e têm capacidade para lidar com os casos mais difíceis são basicamente esses. E sim, a secretária Emma Crane, dos óculos e do casaquinho está inclusa.

     Eu levei mais uns minutos para terminar meu cigarro e depois chamei o Joey e contei a ele a situação.

    Contrastando com meu físico preparado e arduamente merecido, aquele que parecia ser um garoto de dezessete anos, magro e para as mulheres, provavelmente bonito, era o meu parceiro em trabalho: Joey Meyers. Como tenente eu posso chamar qualquer um para me ajudar quando vou à cena, mas em geral eu chamo o Joey e deixo para Crane lidar com o Chapman.

    Mais tarde naquela manhã nós dois descemos até o local do crime, a joalheria “Club Jewel”, no centro de Sproustown. Havíamos saído da central para conversar com o tal Steven Wolf, o dono da loja e também cidadão que fez o relato.

    Uma vez no local do crime ouvimos basicamente a mesma história de novo, exceto que da boca de Wolf. Apesar de ele tê-la contado para a divisão de furtos não parecia particularmente exausto por sua repetição.

    A cena toda estava interditada. Eu me aproximei do vidro quebrado para checar o dano causado ao vidro com o golpe. Foi um direto de direita, limpando uns cinco centímetros de grossura de vidro temperado de alta qualidade. E pensar que uma joalheriazinha daquelas protege os produtos com vidro desse tipo...

     - Isso foi feito com socos, você disse. Com socos no plural ou com apenas um soco?

     - Foi um só soco, senhor. Ele pegou e bum! – Wolf imitou o gesto com a mão. – E pá! Estava quebrado.

     - A câmera captou tudo, acredito?

     - Sim senhor, eu enviei o filme para a polícia mais cedo, o senhor deve ter visto...

     Ausentei-me de explicar que a divisão de furtos e o DCAE não são a mesma coisa. Ao invés disto apenas confirmei com um aceno de cabeça. Depois fizemos mais algumas perguntas de rotina, mas quanto mais eu via aquela cena mais a ideia que eu tive inicialmente fazia sentido na minha cabeça: tinha que ser um trabalho de zumbi.

    Quero deixar isto claro desde o princípio, lidar com seres canibais ressurretos não é nem de longe a única função do DCAE. A bem da verdade zumbis são apenas uma dentre dez categorias distintas conhecidas de seres ameaçadores da humanidade e que são mantidos desconhecidos pelo trabalho de nosso departamento. Então embora eu tenha começado com aquela longa introdução sobre o renascimento após a decomposição da carne, não havia nada em particular que ditasse que era realmente com um zumbi que estávamos lidando naquela tarde. Entretanto existe algo que se chama experiência que se pode utilizar nessas horas. O Joey vai insistir que o que eu direi pode ser considerado preconceito de espécie, mas sim: eu associo a burrice com o zumbi. E não há nada aparentemente mais retardado do que no meio da tarde aparecer numa joalheriazinha meia boca, quebrar o vidro com a força bruta e roubar o conteúdo. O que é isso? Um ser paranormal quer chamar a atenção da polícia para ser caçado? “Olhe para mim, eu existo.” “Eu sou um zumbi.” Foi a impressão que eu tive desde que Crane leu o relato na minha frente. E eu não disse nada em voz alta para o Joey porque ele ia inventar uma discussão sobre como eu estava sendo tendencioso quanto ao comentário sobre a espécie dos zumbis, mas foi porque eu adiantava que seria um ser deste tipo que eu já havia colocado os cachorros no carro quando viemos até o Club Jewel.

    Os cachorros são realmente úteis. O perfume e o desodorante podem enganar o olfato humano, mas o cheiro de decomposição será perseguido pelos cães até os confins da terra. Com o auxílio deles os zumbis não podem escapar da polícia.

    Minha última pergunta para Wolf foi de natureza retórica:

     -Você não chegou a sentir nenhum odor quando ele saiu, sr. Wolf?

     - Odor? Hmm agora que você diz… - Wolf ia dizer alguma coisa, mas Joey tinha chegado do carro com um dos cachorros. Wolf ficou meio sem jeito ao ver os cães adentrando a loja, mas acabou cedendo. O farejador conseguiu captar alguma coisa no vidro.

    - Haha! Bingo, tenente! – Disse Joey e começou a segui-lo.

    Não tem por que duas pessoas seguirem os cachorros, então eu acendi um cigarro e fiquei esperando encostado ao carro, até Joey me contatar por meio de uma ligação. Não importa para onde o suspeito tenha corrido ou o quão longe ele esteja, como seu fedor vem do estado de decomposição de um corpo e não de algo temporário como suor ou qualquer outra coisa do tipo, ele nunca some. Se meu palpite estivesse certo Joey alcançaria o alvo mais cedo ou mais tarde.

    Cachorros são maravilhosos.

    Contudo parece que o suspeito havia corrido um bocado após ter conseguido as joias porque o cachorro só parou muito depois e em um lugar muito distante. Não é que fosse um local isolado ou abandonado, pelo contrário, era no meio de Marshmoore, que era uma área movimentada. Mas digo longe no sentido de que Marshmoore ficava muito longe do Club Jewel, o que faz o assalto ainda mais esquisito. O que um zumbi ganharia roubando aquela loja em particular? Por que não escolheu uma mais perto de onde se escondia? E se planejava ir tão longe por que foi a pé? Se tivesse ido de carro era capaz de o cachorro não ter conseguido farejá-lo... Como eu disse: burrice igual a zumbi.

    Joey me ligou passando o endereço e eu alcancei-o de carro. Descemos em um lugar menos movimentado, um beco, e como era quase perto da hora do fim de serviço da maioria dos estabelecimentos locais já não havia quase ninguém na rua. Havia só uma pessoa. Ou melhor, um resto de pessoa. Era um homem de cerca de quarenta anos, ou pelo menos a metade da frente dele: as costas haviam sido arrancadas por alguma coisa, como se um animal gigantesco tivesse mordido e arrancado um pedaço. Havia também sangue espalhado por toda a parte. Respingos de jatos jorrados na parede, uma poça concentrada na calçada, um rastro vermelho mais vivo escorrendo pelo meio fio até ser drenada pelo ralo... Ele estava deitado com o resto das costas para cima, deixando exposto que sua coluna tinha um pedaço do meio faltando, como se tivesse sido arrancada junto com a mordida. Parte de sua carne vazava para fora do lugar, esparramando-se sobre sua lateral.

    Com tanta carne faltando e tanto vermelho sangue compondo aquela imagem grotesca, não preciso dizer que aquele homem estava morto.

    E esta era a prova definitiva de que estávamos lidando com um zumbi. Já não se tratava mais de especulação.

     - O que foi isso...?

     - Um zumbi... Você estava certo... Eles se alimentam de... – Joey não terminou a frase.

     - É... Eu sei...

    Mesmo assim... Esses ataques nunca deixam de surpreender.

     - Uau. Tem sangue escorrendo até o bueiro... Parece que pintaram o chão de vermelho. E olhe esses bichos pousando nele... Que nojento. – Joey tocou em um deles levemente.

     -...

     Até nós precisamos de um momento para digerir a situação. Basicamente Joey tinha razão: parecia que tinham pintado o chão de vermelho. A imagem sugeria que alguém atacou o sujeito pelas costas, ele se debateu enquanto era devorado na área da calçada coberta de sangue, e após certo tempo caiu e se arrastou até o meio fio, vindo a perecer provavelmente por falta de sangue.

    A parte ruim de nosso trabalho era ter que presenciar esse tipo de coisa.

     - Os cães acharam mais alguma coisa? – Perguntei após colocar a cabeça no lugar.

     - O cheiro pára aqui, mas parecia que eles queriam entrar – Joey apontou com a cabeça para um estabelecimento fechado com uma porta de ferro, a qual provavelmente ligava ao segundo andar do pequeno prédio de dois andares. Um dos cachorros estava parado olhando para nós e o outro ainda farejava uns respingos de sangue perto da porta. Joey comentou:

     - É incrível que ninguém tenha passado por aqui, quer dizer... Normalmente já deveria ter uma multidão aqui em volta.

     - Você chamou ajuda?

     - Chamei o pessoal da perícia e uma viatura do hospital para eles levarem o corpo embora. Eles devem chegar daqui a pouco. O que vamos fazer? Vamos entrar?

     Entrar era a ideia correta, mas deveria ser pensada com cuidado. Se o suspeito estivesse lá seria perigoso. Mais correto seria entrar após o reforço chegar, mas algo dentro de mim me dizia que o suspeito não teria ficado parado esperando dentro do prédio após cometer o assassinato, então havia noventa e nove por cento de chance de ele já não estar lá dentro, o que reduzia o perigo a zero. Decidi que entraríamos para averiguar o local.

    Uma escadaria subia até o segundo andar do estabelecimento fechado, que dava para um corredor com duas portas: Cada uma delas parecia ser a porta de uma residência, de forma que havia duas moradias: provavelmente uma delas era alugada e outra era do dono do estabelecimento. Pela precariedade da condição era o tipo de dono que deixava qualquer um ser o locatário, então provavelmente se o dono fosse interrogado ele diria que não sabia de nada e nem ouviu nada. Empurramos a porta da moradia alugada à força – e tínhamos força – de modo que ela cedeu.

    O interior estava uma bagunça: diversas coisas atiradas no chão, desde utensílios de cozinha até meias, roupas de baixo e diversos objetos de porte pequeno que poderiam ser guardados em gavetas ou separadas em caixas de forma organizada.

     - Parece meu quarto – Disse calmamente Joey em tom normal, mas eu já o conhecia o suficiente para separar a ironia da realidade.

     O lugar todo consistia de um cômodo grande logo na frente e havia uma separação apenas para um corredor que tinha duas portas: uma para um quarto e uma para um banheiro, o restante era aglomerado no grande cômodo principal: havia um espaço para o sofá, o televisor e as demais coisas da sala, e depois tanto a cozinha como a mesa de jantar ficavam à direita, pouco mais adiante, mas sem separação. A mesa da cozinha estava tombada, o que explicava porque havia tantos objetos de cozinha no meio da bagunça. Todos aqueles objetos deviam estar primariamente sobre a mesa. Outros objetos haviam sido revirados: O armário debaixo do televisor tinha todas as gavetas escancaradas e vazias e havia um buraco na tv.

    Fui até o quarto. Como eu imaginava tudo havia sido revirado lá também. As roupas de cama no chão. As gavetas do armário abertas. As peças de roupa de dentro do armário jogadas por toda a parte. A janela estava aberta. Passando os olhos pelo local dava a impressão que alguém tinha entrado, procurado alguma coisa de modo frenético e logo depois que encontrado tinha pulado a janela. Olhei pela janela afora e vi que ela dava para um pátio onde os moradores estacionavam os carros, e atrás do mesmo podia-se enxergar a rua de trás.

     - Aqui também está tudo bagunçado... – Joey entrara no recinto observando o óbvio. – O que acha? Ele pulou a janela?

     - É o que dá a entender. Quer trazer o cachorro para ele dar uma cheirada aqui nesse quarto?

     - Ok.

     Mas seja lá como for, o suspeito havia se livrado do cheiro. Os cães paravam de sentir o odor naquele quarto e depois não encontravam mais nada. Farejavam o parapeito da janela e depois ficavam me olhando como que se procurando uma explicação.

     - Ele deve ter pegado um veículo. – Eu disse – Assim o cheiro ficaria dentro do veículo e não poderia ser detectado.

     - Ele tinha um veículo na rua de trás, então? Ou será que ele roubou um?

     - De qualquer forma o locador deve saber reconhecer algum veículo que sumiu. Vamos ter uma conversa com ele.

     Ouvimos um barulho do lado de fora.

     - O pessoal deve ter chegado. – Comentou Joey.

    Após a chegada do carro da ambulância e dos peritos, o trabalho naquele local ficou mais com eles do que com nós investigadores do DCAE. Até porque não havia mais muito que pudéssemos fazer. Eu e Joey saímos dali e fomos ter uma conversa pessoal com o dono daquele estabelecimento, que morava na casa ao lado da que arrombamos. O dono era baixo, careca (quase) e gordo. Tinha um bigode preto e não aparentava muita confiança. Ele ficou parado em frente à porta durante todo o pequeno interrogatório.

     - Sim? – Iniciou ele após abrir a porta em resposta a nossas batidas. Mostrei meu distintivo.

     - Tenente Dotson e Detetive Meyers, o senhor poderia nos dar um tempo para algumas perguntas?

     - Sim...? – Ele tornou a fazer em tom pouca coisa mais hesitante.

     - É sobre seu locatário... Ele é atualmente suspeito de um roubo e um assassinato...

     - Oh. – Ele não parecia necessariamente muito surpreso.

     - Pode nos contar alguma coisa sobre ele?

     - Eu... Não sei muito sobre ele... Ele alugou o local há apenas dois dias, sabe... Ele não tinha um histórico muito favorável se me entende... Disse que havia acabado de ser liberado da prisão ou algo assim, mas para falar a verdade não me importei muito então deixei ele ficar... Eu não pensei que ele estivesse... Em alguma atividade desse tipo.

     - Entendo...  O senhor deu falta de um Prestige 2010 de cor cinza? – Inventei uma marca de carro qualquer. Joey estava apenas olhando os arredores enquanto eu fazia as perguntas.

     - Prestige? Eu...? Não... Não senhor...

    Ele estava excessivamente cauteloso então meu instinto me dizia que ele e o suspeito poderiam ou estar trabalhando juntos ou ele poderia estar o acobertando. É claro, era apenas uma possibilidade. Eu tinha mencionado um carro aleatório para ver se ele comentava vagamente a marca de seu carro quando a resposta fosse negativa, como por exemplo “Prestigie? Ah não, meu carro é da marca x...”. Sem saber do que se tratava poderia deixar escapar tal informação, porém se eu tivesse perguntado diretamente a marca de seu carro e se ele realmente trabalhasse junto com o suspeito então ele mentiria. Mas aparentemente minha tática não tinha dado certo.

     - Um Prestige sumiu após bater no carro que estava lá na frente – Minha última deixa para ele achar que estava envolvido com o caso de alguma maneira e esboçar alguma reação.

     - Eu não possuo carro, senhor... Estou pensando em pegar um, mas...

     Então não houve reação...

     - Entendo... E o locatário possuía algum? – No fim, a contragosto, tive que formular a pergunta de maneira direta. Se eles realmente estivessem juntos a resposta seria negativa de qualquer modo.

     - Não, senhor. Ele não tinha veículo algum também.

     Dito...

    Tivemos apenas mais um pouco de conversa que não trouxe resultado algum. Perguntei se ele ouvira algum barulho, se escutara o suspeito chegar e depois pedimos para ele o fichário de locação do suspeito e fomos embora.

    No caminho, Joey estava olhando para o papel confiscado com as informações sobre o sujeito.

     - Acha que ele estava escondendo alguma coisa? – Perguntei a Joey enquanto ele examinava a ficha.

     - Não... Parecia naturalmente abalado com a notícia repentina, então é natural que não fale muito.

     - Ele parecia estar me evitando...

     - Devia ser o fedor do seu cigarro, tenente. Até eu tive que desviar a cabeça. – Joey sempre desferia aquele tipo de comentário impertinente de forma casual e inexpressiva. Ele começou a murmurar enquanto examinava a ficha do locatário:

     - Jeffrey Sprohic. Quarenta e dois, dois metros e sete de altura. Aparentemente ele é ex-detento de Silverbay. Estava procurando emprego após sua pena. Ou pelo menos é o que disse no documento. Tem o número da identidade dele aqui. Vou mandar para o DCAE.

     - Faça isso. E depois vamos ter que esperar. Não tem mais nada que possamos fazer – Disse enquanto jogava meu cigarro no chão e amassava-o com o sapato. Estávamos agora na rua da frente onde os peritos estavam analisando a cena sanguinária. A multidão de curiosos que antecipamos outrora agora estava presente em dobro, todos aglomerados separados pela faixa amarela dando um trabalho insuportável para o pessoal do suporte. Estralei meu pescoço e prossegui:

     - A perícia vai ver se acha alguma pista, os legistas vão chamar a família do corpo para fazer o reconhecimento e nós não conseguimos nenhum carro para seguir e o cheiro do cachorro sumiu... O melhor a fazer é ir para a casa.

     - Já está anoitecendo mesmo. – Joey respondeu enquanto olhava o céu. Já estávamos há muito fazendo hora extra. Aquele incidente tomara muito de nosso tempo devido à distância que Joey teve de percorrer a pé.

     Os curiosos quase que forçavam a faixa para ver o que havia acontecido. Quanto mais sangue, mais curiosos atraía. Eu odiaria ter que ser o pessoal do suporte.

    Depois daquilo fomos para a casa. Isto é, Joey foi para a dele e eu para a minha.

    A pessoa pequena que estava parada em minha frente usava ainda uma camisola não porque fosse dormir cedo, mas porque provavelmente não a tirava desde de manhã. Era ainda jovem, embora rugas e olheiras houvessem se apossado de seu rosto. Era ruiva e tinha longos cabelos encaracolados contrastando com a brancura de sua pele. Era anemicamente magra. A típica mulher que se vê que um dia já fora bastante atraente, mas que agora era um mero fantasma do que costumava ser.

    - Henry? Onde você estava? Sabe que horas são? Te esperei o ano inteiro e você não chegava nunca.

     Tirei meu casaco e joguei-o no sofá ao lado da porta.

     - Eu tive trabalho extra...

    - Você faz hora extra todo dia. Todo o santo dia! Eu ia preparar alguma coisa, mas você provavelmente já comeu fora.

     - Já... – Menti.

    - Está vendo? Você sempre come fora. Sempre chega tarde. Você nunca mais está aqui! Aposto que está saindo com mais uma amiga sua. Que nem da outra vez.

    A nova moda de Jane era arranjar uma amiga imaginária para mim e inventar que eu a visitava, sempre que eu estava em serviço ou em outro lugar.

    - Jane... Teve um caso de emergência... – Disse com uma virada de olhos enquanto ia em direção à geladeira, para ver se tinha alguma coisa que pudesse beber.

     - E custava ligar!? Eu por outro lado liguei que nem uma louca e você não atendeu. Por que você deixa o celular desligado? Se fosse apenas trabalho você atendia!

     Deixei escapar um suspiro enquanto fui até a geladeira e alcancei a última garrafa de cerveja que estava quase vazia.

    - Não sei por que você nunca fala comigo! Você me deixa no escuro. Você me deixa no escuro para que você possa...

    Jane parou seu argumento quando me viu bebendo direto da garrafa. Ela detestava que ele bebesse em casa, sem nenhum motivo específico.

     - O que você está fazendo? Isso é hora de comemorar alguma coisa?

    Dei de ombros, e prossegui. Ela ficou sem reação por um instante.

     - Você... Tudo bem. Me ignore. Beba sozinho! – Disse ela com uma desafinada amarga na voz. Ela apagou a luz da copa e voltou para o quarto.

    Eu nem gosto de cerveja.

    Mas é uma ótima maneira de fazê-la terminar sua recepção amorosa e ir para o quarto.

     Após sua saída olhei fixamente para o sofá. O sofá era o lugar onde eu estava dormindo ultimamente. Todos meus pertences ficavam jogados em volta do sofá para ficar mais prático de pegá-los porque ela não gosta que eu entre no quarto de manhã. Somado à bagunça da cozinha e ao fato de que a luz frontal estava queimada passando uma impressão de precariedade, me veio à tona uma cena familiar que eu havia presenciado àquela tarde. Me lembrei da piada que Joey havia feito mais cedo.

     “Parece o meu quarto.”

     Ele havia dito isso quando entrou na casa que havia sido revirada antes de o suspeito fugir. Mas ele provavelmente não imaginaria que aquela frase se encaixaria perfeitamente na descrição do meu quarto, ou melhor, ao sofá da sala onde eu passava minhas noites.

    Não pude deixar de esboçar um sorriso.

    Esta garota adorável é minha esposa: Jane Dotson. Lógico, ela nem sempre foi assim. Ninguém a aguentaria se ela fosse sempre assim. Mudanças de comportamento são feitas com o tempo, e são criadas a partir de interações com as outras pessoas. O que me diz que eu devo ter errado em algum lugar. É verdade que eu não falava muito com Jane há muito tempo. Eu nunca cheguei a dizer para ela sobre o DCAE ou até mesmo sobre os zumbis. Ela acha que eu sou um policial convencional. Para dizer a verdade não consigo conversar com ela coisa alguma, pois como você vê, não há espaço para conversa.

    O correto seria arrumar a cozinha pelo menos e também organizar minhas coisas para que eu pudesse ao menos ter uma noite decente. Mas eu estava cansado... Quem se importa com a bagunça?

    Tirei minha roupa ali mesmo e sem ao menos tomar um banho me deitei.

    Às vezes me deparo pensando em meu estado. Se há dez anos atrás você me dissesse que eu estaria detestando a hora de voltar para casa e mais empolgado com a hora de voltar ao trabalho eu diria que você enlouqueceu. Mas se minhas noites significavam aquilo agora eu não tinha por que ansiá-las mais. Talvez eu realmente devesse realmente começar a frequentar os bares e chegar mais tarde como Jane diz...

    “Jeffrey Sprohic” ex-detento da vizinha Silverbay. Sua casa estava bagunçada do mesmo jeito, mas ele provavelmente não morava lá. Ele devia tê-la apenas alugado para se esconder de alguma coisa... Talvez para esconder alguma coisa. Ele deve estar dormindo em algum hotel com suíte agora... Nem mesmo o pior dos criminosos deve dormir em local parecido com esse ninho abominável de objetos aleatórios esparramados...

    Naquele escuro minha mente começou a transitar de mim para Jeffrey Sprohic. Desesperado para fugir da polícia. Imaginei um ser de dois metros fedendo a carniça bagunçando as coisas e procurando não sei o quê e depois fugindo pela janela. Pudera, a polícia convencional estava atrás dele e depois também o DCAE...

    “Mas antes de procurar e fugir pela janela com a pressa que estou, vou parar para fazer uma boquinha. Rapidinho vou comer um sujeito na frente da minha própria porta e só depois vou continuar a fuga. Não demoro nem dez minutos...”

    Um pensamento irônico, mas algo que eu só havia me ocorrido agora. Aquela ação não fazia sentido algum. Mesmo para um zumbi.

    O suspeito saiu correndo desde a Club Jewel até aquele beco remoto onde tinha alugado, com as joias na mão e a polícia correndo atrás. A polícia afirma tê-lo perdido de vista, mas ele continuou correndo até Marshmoore. Um ser mais esperto faria de tudo para se esconder em algum lugar, no entanto ele decidiu ir diretamente para o local onde morava. O que indica que ele optou por correr ao invés de se esconder.

    Se queria correr, teve antes que passar em seu recinto original e pegar alguma coisa que fosse de valor para ele para só então sair dali. A desvantagem de deixar seu odor em Marshmoore é que agora o DCAE conhece sua identidade por causa do contrato com o locatário, no entanto ganha da desvantagem que teria se tivesse se escondido ao invés de fugido: a polícia provavelmente já o teria encontrado por causa dos cachorros.

    Existe um ponto que pode ser atribuído à burrice ou à inexperiência aqui: o fato de ele ter fugido a pé ao invés de assaltado um veículo. Se ele é um zumbi que nasceu recentemente e não está ciente que pode ser detectado através do cheiro, isso pareceria uma escolha natural, pois ele pensaria que chamaria menos atenção do que com um carro roubado. Ele pensou que despistaria todos policiais convencionais (e aliás conseguiu) e viria para seu esconderijo sem esperar ser encontrado. Se esperasse ser encontrado através do cheiro teria usado um carro ao invés de ido a pé. Então ele não esperava, e era realmente um zumbi recém-nascido. Adicionalmente o fato de que o apartamento estava revirado e a janela aberta indicam que ele estava com pressa por algum motivo.

    E se ele estava com pressa ele não teria parado para se alimentar.

    Zumbis podem ficar até três dias sem se alimentar e sem passar fome, não são como os humanos que não aguentam segurar nem oito horas. Se estivesse realmente com pressa teria deixado a vítima para depois. Ele estava morrendo de fome? Não comia há semanas? Impossível... Se fosse o caso teria atacado o próprio dono da joalheria que estava sozinho no estoque. Se o x da questão fosse sua fome ele teria tomado o cuidado de não atacar ninguém em frente à sua moradia.

    O fato de ter preferido fugir a pé para tentar despistar a polícia pode ser atribuído à burrice intrínseca do zumbi, mas a vítima não pode ser atribuída a nenhum nível de burrice. O fato de ele ter feito uma vítima na frente do apartamento alugado tem que significar alguma coisa. Se ele estava com pressa porque fez uma refeição ali na frente com o pouco tempo que tinha?

    Parei para pensar quando um zumbi faria deliberadamente uma vítima em frente ao lugar onde se mora? Quando planeja-se sair de tal lugar e nunca voltar? Até por isso ele pegou os pertences que lhe importavam, pois já estava planejando deixar aquele local de qualquer maneira.

    É claro... Sprohic nunca pensou em ficar em Sproustown! Ele alugou o local apenas até conseguir as joias e pensava em sair logo em seguida. Já que ele planejava sair da cidade após roubar as joias não tem por que não se alimentar aqui. Pelo contrário, fazendo assim ele ficaria livre para ficar mais três dias sem fazer um ataque, dando a ele o tempo de se estabelecer em seja lá qual cidade for para a qual planeja se mudar sem chamar atenção para si.

    Pensando com esse enfoque, talvez Sprohic não seja tão desprovido de inteligência quanto o zumbi mediano. Ele devia estar ciente que posteriormente seria identificado pelo cheiro e também que sua identidade seria revelada cedo ou tarde. Por isso não se preocupou em esconder seus dados do locatário quando efetuou a locação. Até mesmo porque um ser humano de mais de dois metros não deixa muito espaço para alternativas, existe uma lista muito pequena de possibilidades, dados falsos teriam sido detectados antes ou depois. Mas ele antecipou que até conseguirmos reunir toda a informação para iniciar a busca ele já estaria muito longe de Sproustown. Isso explica também porque preferiu fugir a pé do que de carro: para despistar a polícia convencional. Sabia que não fugiria do DCAE, no entanto nós só começaríamos a perseguí-lo após algumas horas, e até então ele tinha tempo o suficiente para pegar suas coisas, fazer sua refeição e preparar sua saída.

    Se minha teoria estivesse correta ele deveria roubar algum veículo e partir ainda hoje.

    Levantei de supetão e liguei o mais rápido que pude para a divisão de roubos. Perguntei se havia sido registrado algum roubo de veículo entre as duas últimas horas. Após uma espera eles me disseram:

     - Não houve nenhum roubo de carro registrado hoje, tenente Dotson.

     “Nenhum?” Quer dizer que ninguém deu queixa? Será que houve outra vítima e ele roubou o carro após assassinar mais alguém para que não se prestasse queixa? Mas alguém teria avisado a divisão de homicídios... Poderia ter roubado um carro com o dono dentro? Alguém teria informado um sequestro...

    Fiz algumas ligações pensando em tais possibilidades e após o assassinato no beco parecia que nada mais de anormal tinha acontecido em Sproustown naquele dia. Tive que recompor meu pensamento.

    A esta altura eu já estava sem sono e sem cansaço. Estava sentado na cadeira à mesa de jantar perdido em meus pensamentos. Decidi ligar mais uma vez ao DCAE antes que fosse tarde demais.

     - Divisão de casos especiais, boa noite?

     - Alô? Crane? Ah, que bom. Você ainda está aí. Escute... Preciso que você me faça um favor... Eu preciso conseguir todas as informações sobre carros roubados a partir de agora até amanhã de manhã, então, por favor, avise a divisão de roubos, ok? Diga que tem relação com o caso da joalheria e avise-os para manter o jornal longe disso.

     - Alguma coisa aconteceu?

     - Sprohic vai tentar sair da cidade a qualquer momento...

    Não consegui dormir direito aquela noite. Quando eram cinco e meia da manhã, acordei com um telefonema de Crane. Ela me passou a informação de que dois carros haviam sido roubados.

    Me vesti e corri para a central.

    Quando cheguei, apenas Crane estava lá. Naturalmente parecia cansada. Presumi que ela também deveria ter ficado acordada o tempo todo por causa dos telefonemas.

     - Bom dia, Crane. Sinto muito pelo plantão, mas é que não podemos perder o sujeito. Onde está Joey?

     - Ele ainda não veio, vai esperar? Quer que eu vá junto?

     - Tem alguém mais aí?

     - Um pessoal do suporte já está aí. George, Carl, Jackson... Mas não tem nenhum investigador...

     - Pode ir para casa – disse enquanto acendia meu primeiro cigarro do dia – Você já fez o bastante. Eu vou pedir para o Carl e o George me levarem lá. E o Jackson vai seguir o outro carro. Me diga uma coisa... Os avisos dos roubos... Os relatos... Foram feitos quando?

     - Agora de manhã...

     - Que horas? Precisamente? Foram ambos feitos quase que ao mesmo tempo?

     Crane teve uma hesitação de desconforto. Eu estava excessivamente agitado e naturalmente passava minha agitação àqueles com quem me comunicava. Mas é que eu não queria perder o zumbi de modo algum. Ela pensou um pouco e enfim respondeu:

     - S... Sim. Agora que o mencionou... Aconteceram quase que ao mesmo tempo.

     Apenas franzi o cenho enquanto tragava meu cigarro. Era meu costume franzir quando estava com alguma coisa na cabeça. Às vezes eu falava minha mente para quem quer que seja que estivesse me ouvindo, às vezes eu apenas a guardava para mim mesmo.

    Aquele desgraçado... Era mais esperto do que eu julgava. Tudo desde a fuga a pé e o assassinato deve ter sido premeditado. Para o local do roubo foi escolhido Club Jewel e não uma joalheria perto de sua casa para que pudesse ter tempo de despistar os policiais convencionais. Se eles estivessem perto de sua residência ele corria o risco de ser visto quando estivesse saindo do recinto. Escolheu correr a pé porque seria mais fácil despistá-los sem um veículo de grande porte. Ele sabia que o DCAE o encontraria pelo odor, mas devido ao tempo que levaria entre o relato e nossa ação ele teria tempo o suficiente para matar o homem e então sair da cidade. Escolheu matar aquele homem aqui em Sproustown para que ele pudesse ficar sem causar nenhum rebuliço em seu próximo destino; para que pudesse ter mais três dias sem fome e assim sem chamar atenção.

    A única coisa que me intrigava até então era que ele não escapou da cidade imediatamente e eu não sabia por quê. Mas naquele momento vi que isso devia ter relação com a pressa com a qual ele revistou sua casa antes de pular pela janela. O dinheiro conseguido na joalheria deve ter sido somado com uma quantia que ele já possuía. Deve ter sido um dinheiro que foi juntado para pagar uma dívida aqui. É sabido que em Sproustown existem algumas gangues que trabalham com o tráfico de drogas. Devia ter alguma relação com elas... E isso explicaria por que ele não fugiu ontem ao invés de hoje. Ou ele tinha um compromisso com alguém ontem... Ou ele precisava pagar alguém para quem devia no dia de ontem e por isso teve que conseguir o dinheiro de forma ilegal e precipitada, tendo que também elaborar uma fuga para o dia seguinte... Outra possibilidade seria ele estar trabalhando junto com outra pessoa envolvida com o tráfico e por algum motivo iria esperar esta pessoa para sair de Sproustown junto com ela hoje de manhã. Todas essas razões explicavam a espera até a manhã para a fuga da cidade.

    Levando tudo em consideração é difícil acreditar que o desgraçado tenha decidido roubar um carro qualquer para ser o veículo de sua fuga. Ele devia estar ciente que o DCAE já sabia da situação. Ele devia ter elaborado um plano de escape, e por isso provavelmente organizou dois roubos simultâneos para nos despistar. Com este pensamento em mente que perguntei à Crane se os roubos tinham sido feitos mais ou menos ao mesmo tempo, como que para confundir a polícia sobre sob qual carro deveriam manter a atenção. E parecia ser o caso.

    Difícil pensar que um zumbi como Jeffrey Sprohic teria premeditado todos os detalhes de sua fuga sozinho, e somando o fato de que foi capaz de elaborar dois roubos simultâneos para distração me levou a concluir que ele devia estar trabalhando com ou para mais alguém. E isso me levou a crer ainda mais em sua relação com os distribuidores de drogas ilícitas da cidade.

    Mas aumentar o número de roubos não despistaria a polícia, pois basta dividir o pessoal, cada equipe atrás de um carro roubado. Então já que está sendo tão esperto ele deveria estar mais um passo a frente, o que me levou a conclusão mais provável: Sprohic não planejava sair da cidade de carro, mas de barco. E não apenas um, mas ambos os roubos de carro deviam ser apenas mera distração.

    A partir dali trabalhei com esta hipótese em mente.

    Desci até a garagem e organizei o pessoal. Havia seis soldados madrugueiros disponíveis: Jackson, Carl, Rubens, George, Hick e Mike. Organizei a patrulha em três times: Hick e Mike averiguariam o primeiro roubo relatado, Rubens e Jackson perseguiriam o segundo carro e eu junto com Carl e George iríamos até o porto. Eu não passava muito tempo com o pessoal do suporte, até mesmo porque eles ficam no prédio da frente e raramente temos a oportunidade de trabalharmos juntos em uma excursão. Como não sei muito sobre eles posso descrevê-los por sua característica física: Carl era o negrinho de cabelo curto e George era o mais velho, com cara de caminhoneiro.

     - Até o porto tenente? O senhor acha que...? – Indagou George.

     - É. Até o porto. Relaxe. Eu sei o que estou fazendo.

     E esperava que estivesse mesmo. Mas levando em conta o modo como foram feitos os planejamentos de Sprohic até então, tudo indicava que eu deveria estar certo. A hipótese de relação com os traficantes indicava ainda mais a fuga a barco, visto que traficantes são aqueles que têm dinheiro para manter um barco em Sproustown. Em parte tive esta ideia também porque traficantes têm interesse em seres paranormais como zumbis, mas irei deixar para mais tarde os detalhes da interação entre traficantes e seres sobrenaturais.

     Droga. Se eu tivesse o associado ao tráfico ontem antes de ir embora talvez eu já devesse ter chegado a essas conclusões.

    Estava tão certo de que ele estaria pegando um barco que nem parei para pensar que poderia estar expondo as outras duas duplas ao perigo. Afinal depois que enviei Crane de volta para casa apenas eu era um oficial qualificado para lidar com o zumbi naquele início de manhã.

    Após um longo percurso finalmente chegamos ao porto. Desci do carro pensando em informar-me sobre se algum barco já havia partido temendo profundamente uma resposta afirmativa. Porém, assim que desci do carro ouvi um rebuliço vindo do lado esquerdo do estacionamento. Avistei um aglomerado de gente. Deduzi que eles deveriam ter visto alguma coisa. Entrei em contato com Jackson e Mark. Eles ainda estavam se dirigindo para as rodovias. O plano deles era verificar se os carros roubados atravessavam as rodovias em algum momento e para isso contariam com a ajuda da polícia rodoviária uma vez que chegassem a seu posto.

     - Fiquem aí no carro. Eu vou descer lá e ver o que está acontecendo – Disse eu a George e Carl.

    Caído em meio ao tumulto estava um funcionário do porto. Estava desacordado e sangrando demasiadamente. Havia provavelmente tomado um golpe certeiro na cabeça, que o deixara naquele estado.

    Existem quatro características que eu observo em zumbis. Esta é uma das que mais detesto. Assim que se deparam com alguém que se opõe a eles, usam da violência, pois  acreditam que com sua força exagerada conseguirão o que quer que seja.

     - O que houve? – Perguntei a um senhor que estava do meu lado.

     - Parece que ele estava brigando com um grandalhão. Eles estavam gritando alto aí de repente o grandalhão deu um murro nele e ele caiu.

    As pessoas estavam transtornadas devido a seu estado preocupante. Se perguntavam a toda hora quando que chegaria a ambulância e onde se encontrava o brutamontes que havia feito aquilo.

    Uma segunda característica do zumbi é a mente simples. Se o plano do Sprohic é vir aqui, tomar um barco à força e sair, ele simplesmente virá aqui, tomará um barco e sairá, sem pensar muito sobre o assunto. Afinal de contas ele pensa que qualquer contratempo pode ser resolvido com violência. O fato de que ele realmente recorreu à violência indicava que não havia barco nenhum esperando por ele para começo de conversa, mas indicava que ele planejava roubar um aqui mesmo.

    Que sorte. Se o funcionário havia acabado de ser atacado e se ele não tinha barco disponível quer dizer que ele provavelmente ainda estava por ali em algum lugar. As pessoas devem tê-lo perdido de vista não porque ele correu dali muito rápido, mas provavelmente porque se intimidaram com seus mais de dois metros de altura e não foram atrás.

    E com razão. Aquele ferimento causado com um só golpe não deve ser levado em brincadeira.

    Assim que eu ia começar a procurar o alvo entre os barcos eu ouvi um estardalhaço vindo da viatura. “Não pode ser” pensei. Corri em direção ao carro. Chegando lá ele estava com a frente amassada e Carl perecia ao lado da porta. Ele tinha uma pistola na mão. Havia bastante sangue perto dele, o que me preocupou. Agachei-me e balancei-o pelos ombros. Carl acordou.

     - Carl. Carl. Você está bem?

     Ele estava ferido, porém ainda consciente. Conseguiu me responder em voz baixa:

     - Ele apareceu. É um gigante. Estava correndo em direção àquele barco azul de dois andares. Aí eu peguei a pistola e atirei. – Ele tossiu e sua cabeça caiu devido à tontura.

     - Carl. Se acalme. Onde está o George? Não me diga que ele..?

     - Ele foi atrás... – Huh... Sua voz falhava.

    “Aquele desgraçado... E deve ter feito isso num só golpe também...”

    Como George não estava ali eu tinha que escolher entre chamar reforço ou persegui-lo eu mesmo. Mas eu estava querendo capturar o bandido já fazia algum tempo e ele estava quase fugindo de barco, então protelei o socorro. Fui em direção ao barco recomendado, e percebi uma trilha de sangue deixada pelo caminho. Provavelmente era do próprio Sprohic porque George não o perseguiria sem experiência se estivesse machucado. O que queria dizer que eles deveriam tê-lo acertado com algum dos tiros e ele ainda assim resistia.

    Resistência. É a terceira característica do zumbi. Sua resistência física os permite ficar indiferentes ao que parecem ser os mais graves dos ferimentos, o que evidencia ainda mais sua falta de humanidade.

    Avistei George apontando uma pistola para Sprohic que estava com um ferimento que tinha perfurado sua camiseta, parecendo ter sido feito por uma bala. George usava um calibre 22, e por causa da resistência inerente de sua espécie, Sprohic podia tomar aquelas balas e ainda permanecer de pé. George sem desistir ainda apontava sua arma para o fugitivo, exibindo uma expressão mista entre estarrecida e intimidadora.

     - George...

     - Senhor! As armas não estão fazendo efeito!

     - Largue a arma. Deixe que eu cuido disso.

    George abaixou sua arma e eu apenas me dirigi em direção ao barco me aproximando em passo normal mesmo. Já que o criminoso nem havia iniciado o barco não teria como fugir do local em que estava. Ele estava encurralado.

    Chegando mais perto dava para ver o quanto ele era mais alto que eu. Como trinta centímetros fazem diferença. Eu parecia um filho de dez anos olhando para o pai. Desde tamanho a massa muscular, contraste provocado pela carranca na sua cara careca e posição faustosa, sua figura, devo admitir, era deveras minaz e imponente. Faria qualquer policial convencional mijar nas calças.

    Sprohic deu um risinho de desdém e disse:

     - Vocês policiais continuam aparecendo. Não percebem que suas pistolas não adiantam? – Ele deu uma gargalhada e mostrou as feridas feitas em seu peito: uma bala estava atravessada até menos da metade em um buraco que até fez um sangramento, mas muito menor do que o tamanho que deveria ter sido – Chequem estre corpo! Ele é indestrutível!

    Ele esperou reação temerosa da minha parte. Prossegui andando calmamente até ele. Fez uma careta enfezada.

     - Ok. Parece que vou ter que fazer mais dois cadáveres antes de ir...

     Ele pegou uma caixa pesada de pesca que estava no chão do barco, perto da porta, e começou a correr em minha direção. Fiz sinal para George se afastar.

    A quarta característica típica do zumbi é a confiança total em sua força bruta. Como eu havia dito: se algo não fosse conforme seu plano, Sprohic usaria da violência para fazer a situação voltar ao cenário inicial que estivesse planejado. Foi assim quando atacou o funcionário e provavelmente o que ocorreu quando Carl tinha tentado capturá-lo enquanto eu estava no meio da multidão.

    Caráter violento, raciocínio simples, resistência, força bruta e excesso de confiança. Parece o que faz um vilão típico formidável de uma história em quadrinhos, por exemplo. Ironicamente na vida real dentre a lista de seres potencialmente perigosos do DCAE são as características dos seres candidatos aos mais fáceis de lidar.

    Resistência e força bruta à parte, tudo são desvantagens. O caráter violento faz com que ele deixe pistas o suficiente para ser descoberto durante seus ataques, a mente simples faz com que suas atitudes sejam previsíveis e a confiança o faz preferir uma luta direta ao invés da fuga, todas facilitando o trabalho da polícia.

    Sprohic se aproximou determinadamente e quando suficientemente perto, rodou o braço e me acertou com a caixa de pesca direto na minha cabeça, imaginando que a estilhaçaria em pedaços. Deve ter empregando a mesma força de golpe que deu naquele vidro quebrado da Club Jewel. Seu riso perverso cobriu seu rosto durante todo o impulso até a hora do contato.

    Bam!

    Houve um barulho oco e a caixa se desmontou em mil pedaços, os quais caíram para todos os lados. O próprio Sprohic teve seu corpo jogado para trás com a força do golpe.

    Vou dar um e meio de dez para ele: não foi de todo ruim. Minha cabeça deve ter se inclinado para a direita mais que uns dois centímetros com o impacto. Um pequeno sangramento começou a escorrer por uma de minhas marinas. Com uma mera fungada fiz o sangue parar.

     - Então esse é o golpe que quebrou o vidro de cinco centímetros da joalheria? Nada mal... Parece forte, mesmo.

     - Mas que diabo?

    Sprohic agora tinha uma expressão completamente estarrecida. Não o culpo. É típico de um zumbi recém-nascido imaginar que é o único com propriedades físicas exageradas em comparação com os demais humanos. Não pensaria que existe outro com as mesmas propriedades. Já não podia mais usar a caixa que fora despedaçada quando me acertou.

     - O que...? O que é você? – Ele brandiu e investiu num ataque surpresa, almejando desferir uma sequência de golpes de curto alcance.

    Seus movimentos a meu ver pareciam lentos demais. Desviei sua investida virando meu corpo lateralmente e então quando ele estava perto o suficiente acertei com o joelho em sua barriga, no que ele forçadamente inclinou seu gigantesco corpo de mais de dois metros para a frente. Inclinou-se rápido e exagerado, igual a um verme quando se contorce. Cuspiu sangue com a batida. Quando ele estava na altura certa desferi-lhe uma direita no rosto com que ele veio abruptamente ao chão. Tudo aconteceu em um instante apenas.

    Acendi um cigarro e olhei para seu desgosto. Enquanto podia aguentar os ferimentos superficiais das balas parecia que aqueles golpes compactos tinham feito considerável efeito em seu corpo. Ele franziu o cenho e esforçou-se para levantar. Seu orgulho não o permitiria desistir tão fácil.

    Eu usava meus coturnos de ponta de ferro, parte do uniforme do DCAE, na ocasião. Antes que ele tentasse qualquer coisa chutei-o diretamente em sua face duas vezes. Com aquilo Sprohic finalmente parou de se mexer. Ainda tragando meu cigarro disse a George:

     - Pronto. Traga as algemas do carro. Cuidado, ele é forte. Vai precisar de várias.

     - S... Sim, senhor. – Ele guardou sua arma de fogo e acatou minha ordem. Não proferiu mais uma palavra no caminho de volta.

     Após aquele incidente levamos o suspeito até a central, onde ele ficou preso pelos próximos dias, até a capitã decidir para qual unidade penitenciária seria levado. Os ferimentos de Carl foram tratados imediatamente e felizmente nada de grave havia acontecido. Apesar de o bandido quase ter escapado foi considerado um caso de sucesso de nossa divisão.

     Essa é a história da vida cotidiana de um tenente do DCAE. Dentre as coisas com as quais temos que lidar em nosso trabalho, Jeffrey Sprohic era apenas um peixe pequeno.

  • Hinderman - Capítulo 2

    Capítulo 2

    (    Continuação do capítulo 1. Para ler o capítulo anterior acesse:  )

     - Ah. Como esperado, esse café é o melhor de todos. – Disse o Gary enquanto ele dava o último gole em seu macchiato.
     - É mesmo. - O Boe concordou.
     Nós estávamos no Ivory Beans, na rua principal do Glen Meadow.
    - Quer dizer então que não deu certo, Spike? – O Gary dirigiu-se a mim – O Jeffrey acabou sendo pego?
     - Parece que sim. – Eu respondi. - E ele vai ficar preso um bocado, porque aconteceu um assassinato...
     - Eu ouvi falar do assassinato. Foi em Marshmoore. – O Boe disse enquanto tomava um gole da água com gás que vinha junto do expresso – Fiquei surpreso quando ouvi dizer que ele tinha comido um ser humano justo no dia do trabalho.
     - Muito burro, mesmo. – Observou o Gary.
    Eu me inclinei na cadeira e pus os braços atrás da minha cabeça. Me lembrei do que o chefe tinha me dito sobre o tal do Jeffrey:
     - O chefe disse que queria ele no time. Se ele tivesse conseguido juntar o dinheiro no tempo estabelecido, era capaz que ele se juntasse ao grupo.
     - Está brincando? Se juntar a nós? Ao Spikey-Gary-Boe? Um zumbi desengonçado?
     - É o que ele disse.
     O Gary deu de ombros.
     - Bem... Não sei exatamente o quanto o chefe compreende sobre as habilidades dos mercenários. Devia saber que não é qualquer um com uns Newtons a mais de força no braço que vai conseguir fazer os trabalhos que a gente faz.
     Eu adicionei:
     - E o pior de tudo é que um zumbi recém-nascido como ele não só não sabe o que está fazendo como não sabe nem esconder o poder que tem, também. Roubou o dinheiro de uma joalheria, acredita?
     - Pbbbbt! – Boe cuspiu um gole de seu café e desatou a rir.
     - Parece cômico, mas estou falando sério.
     O Gary fez uma expressão interrogativa, com a mão sobre o queixo e o corpo inclinado para frente. Perguntou:
     - Mas por que será que o Verde pediu para ele devolver o dinheiro? Se ele queria o dinheiro devia ter pedido para a gente...
     - Acho que... Porque foi o irmão dele, sabe, o Alex... Foi o próprio Alex quem perdeu o dinheiro?
     - Mesmo assim. Ninguém nunca tinha recebido uma chance antes. O Verde é bem metódico nessas coisas. Se alguém perde o dinheiro depois do prazo... -Gary passou o dedo sobre a garganta e fez um barulho.
    Éramos o grupo de mercenários: Spikey-Gary-Boe. Nenhum usando seus verdadeiros nomes, óbvio. Meu nome por exemplo não tem nada a ver com Spikey, eu me chamo Ethan Doyle.
    Dos três, o Gary era o mais magro de barba ligeiramente por fazer. Era alegre e presunçoso. Era parecido comigo, com o mesmo corte de cabelo, isto é, curvo em cima e reto nas costeletas, e tinha também cerca de minha idade.
    Já o Boe era o mais encorpado e de cabeça redonda. Também o mais velho e realizado. Tinha uma mulher e um filho quase crescido. Eu não sei por que ele insistia em trabalhar ali.
    E aquele que chamávamos de Verde era o nosso chefe. Não éramos contratados exclusivos de um só empregador, mas apenas acontecia que naquela ocasião estávamos trabalhando sob as ordens dele.
    Acho que eu devo a vocês um panorama da situação que era a atual naquele ano. Serei breve, eu prometo:
    Sproustown sempre foi conhecida por ter diversas gangues, envolvidas com tráfico de drogas. Antigamente era um problema que a polícia civil conseguia dar conta. Isto é, mais ou menos... O tráfico era considerado trabalho deles porque eram apenas gangues relativamente pequenas e inexperientes. Começaram vendendo drogas ilícitas na beira da praça de skate e coisas assim.
    À medida que os empreendedores foram vendo que o negócio funcionava, começaram a se estruturar melhor, e eventualmente os mesmos cabeças, aqueles que tinham ou mais conhecimento ou mais recursos para se esconder devidamente da polícia acabaram ficando com monopólios.
    Como estes monopolizadores eram espertos, qualquer concorrência nova que aparecia era rapidamente dedurada, capturada pela polícia, ou encontrada misteriosamente morta no dia seguinte. No entanto por mais que a polícia trabalhasse para capturar estas mentes por trás destes feitos, sempre acabavam capturando os capangas e meros mercenários, mas nunca chegando na raiz do problema.
    Querem saber a razão principal pela qual eles nunca eram pegos pela polícia? Porque em tudo o que faziam, fosse para organizar seu trabalho: datas de entrega, transporte de mercadoria, acertos de contas, etc... Em tudo o que faziam eles empregavam seres “paranormais”. Como seres paranormais fazem as coisas de maneira diferente com a que os seres humanos estão acostumados, quando as coisas aconteciam, os policiais – que eram também seres humanos – não entendiam como o negócio foi feito, entende?
    Para dar um exemplo: após aquele ataque na Club Jewel que o Jeffrey fez, o jornal não conseguia explicar como o vidro tinha sido quebrado com um murro só. Na manhã seguinte estavam querendo entrevistar o dono da loja, e não acreditavam nele de forma alguma. Não queriam publicar a matéria do jeito que ela realmente aconteceu. Os jornais não acreditam em seres paranormais.
    E estes seres “paranormais” somos nós. Nada temos de tão diferente, somos normais, mas os humanos classificam-nos como paranormais porque não querem aceitar a nossa existência. Eu poderia expor a opinião que tenho sobre isso, mas vou deixar para outra hora. Enfim, um fato que eu não posso negar é que essa falta de consideração facilita o nosso trabalho.
    Desta forma, o panorama atual do esquema de gangues era o seguinte: havia três gangues principais que disputavam o negócio das drogas ilegais em Sproustown: os dragões, que são uma gangue de verdade, mesmo. Do tipo do Yakuza... Inclusive fazem tatuagem e tal, o que eu acho ridículo. Havia também os que trabalhavam para o Wilkinson. E por fim o pessoal do Verde. E era para o Verde que o Spikey-Gary-Boe estava trabalhando já fazia algum tempo.
    A região do chefe era a do sul. Se alguém começasse a vender mercadoria no sul de Sproustown nós rapidamente descobríamos a fonte e dávamos um jeito. Nem mesmo os dragões ou os Wilkinsons ousavam pisar em nosso território. Não porque fôssemos os maiorais. Se fôssemos os maiorais nós simplesmente eliminávamos os Wilkinsons e os dragões e ficávamos com o monopólio sobre a cidade toda. Mas é que esses três grupos tinham uma influência similar. Era preciso gente defendendo o território e era preciso mais gente para fazer o trabalho. Se um grupo quisesse arriscar enviar ainda mais gente para invadir o território de outro acabaria enfraquecendo o seu pessoal e sendo assim, a terceira parte se aproveitaria da situação e provavelmente acabaria ganhando vantagem sobre as duas equipes que tinham engajado em luta a princípio.
    Era uma situação difícil. Estávamos os três grupos de mãos atadas. Desta forma, cada um ficava em seu pedaço e cada um não deixava ninguém mais pisar em seu próprio pedaço.
    De qualquer forma, após esta paráfrase carregada de informações provavelmente desinteressantes, chego ao ponto principal: o caráter do Verde. O chefe não era do tipo que perdoava facilmente. Tudo o que ele conquistou é baseado na confiança entre comprador e vendedor. Ele trabalha duro para sempre encontrar a mercadoria, garantir o transporte adequado, a qualidade do produto e fazer a transação na hora marcada pelo procedimento correto, tomando todas as medidas para que não haja interrupção de parte da polícia ou qualquer outro imprevisto que prejudique o consumidor. Em troca, tudo o que ele pede são duas coisas: um, que o pagamento seja feito da forma adequada; dois, que o consumidor evite referenciar qualquer coisa relacionada a ele para quem não esteja envolvido.
    Outro dia nós tivemos que lidar com um cara que tinha dado o calote, por assim dizer, no chefe. Era um empregado de alto posto de uma rede de móveis, acho que subgerente geral ou algum nome parecido... Fez a transação e entregou só um terço do combinado. E depois sumiu do mapa. De Sproustown. O chefe ligou para ele uma vez.
    Uma vez.
    Ele não atendeu.
    Depois ele chamou o Spikey-Gary-Boe e demos um jeito na situação. Não recuperamos o dinheiro, mas a dignidade do chefe está a salvo. Que sirva de exemplo para os próximos: saberão que ninguém passa a perna nos verdes.
     E na noite passada era a vez de um tal de Alexander Sprohic. Um cara só. Ele não é filiado a nenhum distribuidor nem empresário rico nem nada do tipo. É apenas um consumidor solitário. E devedor. Não pagou o combinado.
    O que chefe faz? Nos chama novamente? Seria o esperado, mas não foi o que ele fez. Ao invés disso chamou o irmão de Alexander, o Jeffrey, que era literalmente um cadáver ambulante e pediu para ele recuperar o dinheiro de forma que conseguisse. Só posso dizer que eu achei esquisito. Numa transação de grande porte, o chefe não se importou em tirar a vida do cliente devedor, e agora que é um só...
    Enfim, retomando aos acontecimentos daquele dia, Gary disse:
    - Mas mesmo assim. Ninguém nunca tinha recebido uma chance antes. O Verde é bem metódico nessas coisas. Se alguém perde o dinheiro depois do prazo... - Gary passou o dedo sobre a garganta e fez um barulho.
    E o Gary tinha razão, aquela atitude era realmente esquisita.
     - Talvez então por causa do que eu disse antes? Lembra que ele disse que talvez quisesse recrutar o Jeffrey?
     - É mais fácil fazer ele trabalhar em troca de dinheiro ao invés de pedir para ele roubar de qualquer lugar – contra-argumentou o Boe com um gesto condescendente com sua mão livre – O garoto não tinha experiência.
    Apoiei minha mão sobre o queixo, cujo braço estava com o cotovelo apoiado na mesa.
     - Pois é, esse teste é um tanto profissional demais para se dar a alguém que acabou de nascer. O Jeffrey, como zumbi, tinha acabado de nascer, não?
     - Não é bem assim, ele devia ter já uns dois, três anos... Mas é que ele passou todos eles na prisão, pois encontraram ele já quando ele nasceu na forma zumbi. Apenas como solto é que era o seu primeiro mês. Tinha acabado de sair da penitenciária e o Alex já me perde o dinheiro... Aí o chefe já entra em contato com ele e acontece tudo aquilo.
     - O que já é estranho – interrompi – Reparem que ele é um zumbi. Desta forma tem que se alimentar de carne. Eles não podem simplesmente soltá-lo como se ele tivesse pagado a pena dessa maneira. Normalmente a polícia o teria aniquilado já após o nascimento, inclusive.
    O Gary fez um “hum” e então contribuiu:
     - Não sei... Parece que deve ter muita política envolvida por aí. Quem sabe o que se passa na cabeça desses humanos policiais? O que eu acho esquisito mesmo é a mudança repentina de comportamento do Verde, sabe? Qual é? Somos o grupo do Verde! Ninguém fica devendo para nós... Amigos... Acho que eu vou pedir outro café. – Gary preparou para se levantar.
     - Então vá lá... – Encorajou o Boe.
     O Gary se dirigiu até o balcão.
    Olhei para o Boe durante uns instantes no que veio um pensamento me veio à mente:
     - Já sei! E se não é só que o chefe queria recrutar o Jeffrey, mas ele queria substituir um de nós? Ou todos nós? Por isso queria ver se ele já aguentava com os desafios maiores logo de início?
     - Ei... Está falando sério? Substituir nós três? Por um zumbi burro daqueles?
    Verdade... Não fazia sentido.
     O Boe terminou sua água com gás e empurrou o pires com a xícara e o copo para o centro da mesa.
     - Ele pode até ser um ser paranormal, mas tudo o que ele tem é força. Não teria método para fazer nada. Mesmo se não fosse a polícia civil, mais cedo ou mais tarde os caras do DCAE pegariam ele.
     - Os policiais do DCAE são durões, não? Se não tiver cuidado com eles...
     - Ouviu falar que um deles venceu o irmão do Alex em um soco só?
     - O Jeffrey?
    Gary já estava voltando do balcão.
     - Bam! Um soco só. O cara caiu no chão.
     Olhei firmemente para o Boe. Uma coisa era vencer o zumbi. Relativamente fácil. Qualquer um de nós conseguiria. Outra coisa era fazer com um golpe só...
     - Tá... E quem te disse isso? Eles não teriam colocado isso no jornal ou nem nada do tipo.
     - Ouvi direto do Verde. Ele tem os contatos... Ele sabe tudo o que acontece no DCAE.
    Era verdade que o chefe conseguia informações de diversos locais em Sproustown aparentemente do nada. E o DCAE era um desses locais. Mas dizer que ele sabia “tudo” o que acontecia lá dentro era um pedaço de exagero. Às vezes o Boe podia se passar por exagerado. Resolvi não comentar nada. Olhei para o Gary puxando a cadeira para se assentar novamente.
    - Agora eu também quero mais um expresso. – Disse e fui até o balcão.
    “Substituir nós três? Por um zumbi burro daqueles?”
    O Spikey-Gary-Boe tinha realizado grandes feitos não só apenas em Sproustown sob as ordens do chefe, mas desde antigamente quando fazíamos parte de um grupo mercenário no norte do Canadá. Comparar nossos feitos com um roubo malsucedido de um recém-nascido era um insulto. Mas faria sentido se o chefe estivesse almejando cortar gastos. Apesar de estar trabalhando para ele naquele momento não fazíamos parte do grupo oficialmente. Poderia ser que ele estivesse à procura de verdadeiros seguidores paranormais? Que ele desejasse pessoal de confiança ao invés de ter que pagar estranhos por cada trabalho? Poderia ser até que ele já tivesse contratado um ou dois? Nós não passávamos muito tempo com o nosso empregador e não sabíamos muito dele a não ser quando ele nos chamava para conversar sobre um ou outro caso em específico. Sabe lá o que ele escondia para si mesmo.
    Eu não sou apegado a ninguém, mas não podia negar que se este fosse o caso eu estaria sim em um pouco de apuros até que pudesse encontrar outro empregador na mesma área. Isto é, um outro empregador de mercenários paranormais que inspirasse confiança... Por isso não podia evitar em ficar preocupado com aquele pensamento.
    Com meu expresso em mãos voltei à mesa e ouvi o Boe contando algo que eu não sabia entusiasticamente para Gary:
     - Sério, Gary! Ele que me falou! Tudo foi arrumado para que o Alex perdesse o dinheiro no dia.
     - Não entendi... Mas o que o Verde ganha perdendo o dinheiro?
     - Então... Ele ganha que recruta o Jeffrey, isto é, se ele não tivesse sido pego pela polícia no primeiro roubo que tenta.
     - O que vocês dois estão dizendo de perder dinheiro? – Perguntei enquanto dava um gole no melhor expresso quente da cidade.
     Eles se entreolharam.
     - Diga para ele, Boe.
     - Então... Eu estava dizendo... O irmão do Jeffrey, o Alex, não perdeu o dinheiro aquele dia... Ele foi roubado.
     - Ah sim, isso eu já sabia. Foram dois caras com uma van. Um cabeludo e um parrudo. Bateram nele, levaram a mala e deixaram ele jogado no meio fio – Me sentei a bebericar meu cremoso café quente.
     - Sim. E foi o próprio Verde que contratou os ladrões.
    Quase cuspi meu expresso.
     - Que?
     - Estou dizendo. Ele contratou os dois justamente para fazer o Alex ficar devendo... E daí ele foi direto conversar com o Jeffrey dizendo que o irmão dele estava devendo dinheiro. Dizem que foi por isso que ele fugiu da prisão.
     “O Jeffrey... Fugiu da prisão?”
    Esse era um bom compilado de informações que eu não sabia, esse que o Boe estava revelando. Primeiro que eu achei que o Jeffrey tinha saído da prisão “antes” de Alex ter perdido o dinheiro, e só havia coincidido do chefe ter dado a chance para ele conseguir o dinheiro de volta. Segundo havia aquela parte de o próprio chefe ter armado tudo desde o contrato dos ladrões. Terceiro, eu nunca havia parado para pensar no porquê, mas eu apenas supus que ele tinha sido solto e não fugido. Mas agora o Boe me diz que ele não foi liberado da prisão mas fugiu; e o fez justamente porque seu irmão perdeu o dinheiro e ele precisava conseguir de volta.
     - E Boe, me diz uma coisa... De onde você ouviu isso?
     - Estou falando... Ouvi tudo do próprio Verde.
     - Ele falou isso... Para você?
     - Não, não... Eu estava lá após aquele dia do cara dos móveis, lembra? Eu esqueci os Tar Lights lá e voltei buscar. Depois do trabalho ele estava falando com um velho gordo com pinta de rico. Aquele lá é um patrocinador do negócio dele. E daí por acaso eles estavam discutindo...
     Sempre que o Gary dava um gole me parecia que o macchiato era mais gostoso que o expresso. Quase quis pedir mais um naquele momento.
     - Tá... Você estava bisbilhotando a conversa do chefe quando voltou para buscar os cigarros.
     - Por acaso, Spikey... Por acaso...
    Desta forma se o que o Boe dizia não era mais um de seus exageros isso devia confirmar minha teoria de que o chefe estava procurando mais poder paranormal para seu grupo, o que não necessariamente significava que ele queria se livrar de ter que pagar pelos nossos serviços, mas poderia significar. Devido à qualidade de nossos serviços não éramos exatamente o grupo profissional do ramo mais barato que se tem... Com esta preocupação, resolvi partilhar minha opinião com os dois:
     - Se o que ele conversou com o gordo aquele dia é verdade... O chefe pode estar querendo se ver livre do Spikey-Gary-Boe, não? Quer dizer... Pode estar querendo salvar dinheiro... Tempos difíceis. O que vocês acham? Isso seria ruim porque dificilmente vamos achar outro empregador aqui em Sproustown que não o Dragão ou o Wilkinson... E eles provavelmente já devem saber que temos algum envolvimento com o Verde...
     O Boe não respondeu imediatamente e nem me olhou diretamente quando o fez. Pensou um momento e só então decidiu:
     - Acho que não... Para o chefe trocar três seres “paranormais” assim de uma hora para outra... A simples comparação entre a gente e o irmão do Alex é ridícula. Ele sabe que somos profissionais. E não bastasse isso somos três. Se ele quiser se livrar de três do grupo ao mesmo tempo... Digo... Ele tem que ficar muito enfraquecido se comparado ao poderio dos grupos do Wilkinson ou do Dragão.
     - É... Você deve estar fazendo tempestade em copo de água – complementou Gary –
     - Além do mais, se ele realmente quisesse cortar relação... Como nosso chefe ele teria avisado previamente, não teria porque manter segredo.
    Aqueles argumentos também faziam sentido.
    Eu provavelmente estava imaginando coisas e o chefe estava pensando em alguma outra coisa que não isso. Não podia deixar de achar o comportamento dele estranho, entretanto... Contratando ladrões e incitando zumbis a escapar da prisão daquele jeito...
    O Gary já tinha quase acabado o café dele e eu nem tinha começado o meu expresso.
     - Amigos... Acho que vou pedir mais um.
    - Vá lá. – Encorajou o Boe.
     Fiquei na dúvida entre se eu deveria pedir o macchiato típico da Ivory Beans ou me dar por satisfeito. O Boe só bocejou e começou:
     - É... Está acabando o horário de almoço... Vamos ter que voltar...
     - Tive uma ideia! E se telefonássemos para o chefe e perguntássemos? – Bati com a xícara na mesa.
     - Perguntássemos o que?
     - O que ele queria quando contratou os ladrões para roubar o próprio Alex. Temos o direito de saber, não? Afinal poderia dar a entender que ele estava querendo substituir a gente... Mesmo que tenhamos acabado de concluir que não. Mas se poderíamos concluir que estávamos perdendo nosso cargo temos o direito de exigir a verdade!
     Por algum motivo eu precisava ter certeza.
     - Você está louco, rapaz? Eu apenas ouvi a conversa do Verde e do gordo aquele dia por acaso. Ele não disse isso diretamente para mim.
     - Hum, tem razão... Mas então nesse caso, para ter certeza... Poderíamos inventar que ficamos intrigados que ele deu uma chance a mais para o irmão do Alex e daí tivemos essa ideia que ele não queria mais os nossos serviços. Que tal? Poderíamos formular a pergunta com esse pretexto!
    O Boe me fitou um momento e por fim concordou:
    - Acho que sim... A melhor ideia deve ser perguntar direto para ele ao invés de ficar especulando... Mas por que tanto interesse, Spikey? Com medo de perder o trabalho?
     Nisso meu celular tocou. Para a minha surpresa era o chefe.
     - Falando no diabo...
     - É o Verde?
     - Oi... – Atendi.
     - Oi Spikey. Onde vocês estão?
     - Chefe... Estávamos indo. Só acabando aqui e já vamos para aí.
     - Tudo bem, à vontade. Só que eu tenho que falar uma coisa para vocês... Pessoalmente.
     - É sobre o Jeffrey?
     Um silêncio.
     - Não... É outra coisa. O do Sprohic já foi decidido.
     - O senhor não vai ficar com ele então?
     - Ficar...? Com ele? Como assim?
     - É que estávamos especulando, sabe... O senhor estava dando uma chance para ele conseguir o... A mercadoria de volta. Ele tinha pisado na bola e tudo... E como ele é, sabe...
     Verde interrompeu com uma piadinha de mau gosto
     - Ei, ei, Spike... Não coloque frases como “vai ficar com ele” quando se trata a meu respeito... Pega mal haha.
     - Haha. Ha!
     Um silêncio.
    O Verde retomou o tom de seriedade:
     - Sim... Eu queria ele, mas não deu certo... Você deve ter visto o jornal...
     - Pois é, é que na realidade estávamos pensando... Eu, o Gary – O Gary, aliás, estava chegando novamente à mesa com seu novo macchiato – O Boe... Estávamos pensando... Se o senhor está disposto a recrutar novos... Sabe... Novos trabalhadores... Então será que está... Pensando em se desfazer de nossos serviços?
     Acho que eu falei diretamente demais. Ele não respondeu. Tentei amenizar um pouco:
     - Digo... Não que tenhamos algo a ver... Digo, não queremos dizer ao senhor como trabalhar, mas... Gostaríamos de ser avisados se... Enfim estávamos pensando se fosse o caso, se o senhor poderia avisar-nos com uma antecedência. E se possível... Se...
     - Vocês pensam demais não? Vocês três? Você, o Gary... – Verde bocejou – O Boe...
    Ele fez uma pausa e emendou:
    - É o seguinte: eu só queria ver a qualidade de um... De alguém como o Sprohic. Nada mais.
     - Ah sim...
     - Pode deixar, eu aviso vocês se estiver pensando em qualquer coisa. Questão de boa política eu sei. Não perco nada avisando vocês previamente quando eu não quiser mais os serviços, então se um dia eu quiser cancelar o serviço eu vou avisar, ok? Podem ficar sossegados... Eu ainda “vou ficar com vocês”, haha.
     - Ha...
     Mais um momento de silêncio.
     - Mas então... Só liguei para avisar... Temos que conversar sobre uma coisa... Não posso falar no telefone, você entende...
     - Sim, sim...
     - Então até mais.
     Eu ia responder, mas ele mesmo respondeu a si mesmo em outra entonação, como que se me imitando:
     - Até mais, tchau.
     E desligou.
     Olhei para eles dois.
     - E aí? – Perguntou Boe.
     - O chefe disse que está tudo bem entre a gente... Ele quer que façamos um novo serviço.
     O Boe palitava os dentes e Gary por incrível que pareça estava nos últimos goles de sua terceira xícara.
     - Bom... – Começou Gary- Se o chefe disse que está tudo bem... Então não deve ter por que se preocupar.
     - Eu falei para você – emendou Boe – Está pensando demais. O Verde não faria isso com a gente. A essa altura o Spikey-Gary-Boe é essencial no trabalho dele.
     - É... Tem razão.
     Por algum motivo tinha alguma coisa me incomodando que eu não conseguia dizer exatamente o que, e por mais que o chefe e os dois me dissessem que estava tudo normal... Algo naquela história toda dos irmãos Sprohic não fazia sentido.
    Finalmente o Boe levantou-se, espreguiçou-se e convidou-nos:
     - Vamos então? Se o Verde quer que façamos um novo serviço é melhor se apressar para se preparar. Sabe lá se ele vai querer que isso seja resolvido até quando.
     - Verdade – concordei – Melhor irmos o quanto antes.
     - Esperem, amigos...
     - Hã?
     - Acho que vou pegar mais um último cafezinho...
  • Hinderman - Capítulo 3

    Continuação dos capítulos anteriores.
    Para ler os capítulos anteriores acesse: https://autores.com.br/component/search/?searchword=hinderman&searchphrase=all&Itemid=9999

    “Aliens”.
    Ou alienígenas. Seres extraterrestres. De outro planeta. Afinal existem? Existe vida no espaço? Existe vida além da Terra? Estamos sozinhos num universo infinito ou há mais vida inteligente por aí?
    Estas são questões que têm incomodado diversos cientistas e pseudocientistas desde que a tecnologia tornou possível o estudo dos corpos celestes. Diversos filmes ou histórias retratam mesmo que fantasticamente a concepção da existência destes seres, ora desumanos e letais, ora mais humanos do que os terráqueos, ora inteligentes, ora apenas animais. Entretanto na grande maioria das vezes são retratados a partir da mesma moldura: uma forma humanoide, como que diferindo de nós em apenas um limitado conjunto de propriedades.
    Aqueles que foram selecionados para trabalhar no DCAE sabem: todas estas características retratadas nos filmes estão corretas. Os aliens existem, sim. E inclusive já vieram à Terra. E mais: são seres humanoides diferindo em apenas poucos pontos da nossa raça. Alguns inteligentes, alguns apenas animais, alguns predadores letais, alguns misericordiosos. Existe neles tanta variedade quanto existe variedade no ser humano típico.
    Mas por serem seres cuja existência ainda não está preparada para ser revelada à mídia, acabam sendo adicionados a apenas uma dentre as dez raças colocadas em observação, na lista de objetos de trabalho do DCAE.
    Na vez passada eu contei a vocês sobre os zumbis. Foi a primeira raça que lhes mostrei. Agora estou revelando a existência dos aliens. Pretendo revelar as dez raças e expor suas características aos poucos, para que isto não acabe sendo muito enfadonho.
    Aliens, conforme o nome já diz são seres que vieram de outros planetas. Na maioria das vezes dos planetas vizinhos, Marte e Arena. Enquanto Marte é conhecida por ser um dos dois planetas mais próximos à Terra, a existência da Arena, que se localiza ainda mais perto, é desconhecida ao público. A razão disso é que é fácil fazer as pessoas acreditarem que não há vida em Marte, visto que toda forma de vida inteligente lá tem hábitos subterrâneos, mas não é tão fácil esconder a vida em Arena.
    Arena é o planeta mais próximo da Terra, até mais do que Vênus. É um planeta pequenino com um raio de cerca de seiscentos e tantos quilômetros, o que é menor do que a própria lua. Contudo é lá que se encontra a maior diversidade de espécies vinda dos planetas mais próximos e também dos distantes. Todos os seres que são considerados perigosos acabam sendo transferidos para lá como forma de punição, ao passo que fugitivos também se mudam para lá como forma de evitar punição em seu planeta de origem. Uma terra sem lei onde todos lutam contra todos para garantir a sua sobrevivência, tornando apropriado o nome de Arena.
    Existem diversos tipos de alienígenas de interesse para o DCAE (leia-se: com inteligência), entretanto nós terráqueos, por falta de conhecimento, acabamos colocando todos sob o mesmo termo: aliens.
    Até agora todos os tipos que ousaram descer à Terra para incomodar o DCAE ou são de aparência ou humana ou podem alterar sua aparência física para a humana de alguma forma. O que é bom, pois a última coisa que queremos é ficar perseguindo monstros verdes e depois tentando convencer os jornalistas de que era uma espécie de jacaré que fugiu do zoológico.
    A diferença essencial entre um alien e um zumbi é que o primeiro não é intrinsecamente perigoso para a sociedade, visto que ele não necessariamente se alimenta de carne humana. É um ser onívoro como nós, podendo sobreviver perfeitamente à base de carne animal e vegetais. No caso, um alien não é visto como um assassino, mas como um imigrante ilegal.
    Por esse motivo o DCAE não sai por aí investigando todos os casos de aliens que aparecem, ao invés disso nos atemos apenas àqueles que realmente causam algum problema de natureza criminosa.
    Semelhantemente ao zumbi, os alienígenas têm algumas características que se realçam se comparadas aos seres humanos: a maioria dos tipos podem se mover de modo não natural. Para citar exemplos imagine um homem subindo na parede como se fosse uma lagartixa, dobrando os braços tanto para cima como para baixo, sendo capaz de capturar mosquitos facilmente com os dedos enquanto estes pairam no ar... Em geral diversos movimentos que são feitos diariamente por animais caseiros e selvagens, mas que não são imitados por humanos, estes feitos podem ser encontrados na raça alienígena.
    Como eu disse anteriormente: nem todos aliens são iguais. Nem todos vão conseguir fazer todas essas coisas, mas certamente todos eles conseguirão fazer alguma coisa que o ser humano não faz.
    Sendo assim, as peculiaridades físicas seriam um primeiro modo de se detectar um alien dentre nós. A segunda maneira de fazê-lo é observar seu interior: A composição interna de todos os tipos de aliens vistos até agora nunca se assemelham muito à humana. Alguns até mesmo diferem na cor da carne ou do sangue. Pode-se facilmente detectar a diferença com um raio x, por exemplo. Infelizmente não andamos por aí com máquinas de raio x para fazer a detecção e nem fazemos ferimentos profundos em nossos suspeitos para que possamos verificar seu interior, então quando necessário, em geral usamos a primeira maneira mesmo.
    Para matar um alien é preciso separar sua parte principal do corpo (algo contendo seu tórax e sua cabeça, se olhado externamente) e deixar esta parte separada por cerca de dezoito horas. Qualquer outro ferimento pode ser restaurado em até certo ponto e não resultará em sua morte.
    Para todo efeito, alienígenas podem ser pensados em uma mistura de humano com animal. Se um ser humano tivesse as características físicas de um animal adicionadas, ele seria um habitante típico da Arena ou de Marte. Nem preciso dizer que isso implica que um alien é naturalmente muito mais forte e ágil que um ser humano normal.
    “Que um ser humano normal.”
    Mas se um alien quisesse disputar uma briga comigo, que aguento um golpe com caixa de pesca do zumbi que quebrou um vidro maciço de cinco centímetros com um só soco... Aí já é outra história.
    Falando nisso, creio que devo uma explicação sobre aquele incidente: o que acontece é que para lidar com seres paranormais como zumbis precisamos de pessoal especializado, caso contrário aconteceria como aconteceu com George e Carl aquele dia. Por isso na maioria das vezes ou os próprios agentes do DCAE são eles mesmos também seres paranormais ou são treinados intensamente para poder lidar com qualquer uma dessas raças abomináveis.
    Eu também sou muito mais fisicamente forte do que um ser humano comum, e por isso resisti ao golpe que Sprohic desferiu em mim com aquela caixa de pesca, mas não saia contando isso a ninguém.
    Era um dia após a captura de Jeffrey Sprohic. Embora eu tenha liberado Crane no dia anterior, hoje ela tinha que estar trabalhando já desde de manhã novamente. Tenente Dotson não dá descanso aos subordinados.
     - “Assassinado entre as dezesseis e dezesseis e meia desta terça-feira, nome: Gerald McMiller, idade: 35 anos, caucasiano, natural de Silverbay. Causa da morte: atropelamento.” – Disse Crane lendo as informações do relato que recebemos na madrugada entre ontem e hoje, com sua postura impassível e formal de sempre.
     - Atropelamento!? De todas as possibilidades eles vieram com isso? Ele teve uma baita mordida nas costas.
     - Creio que eles modificaram o ferimento depois para parecer atropelamento.
     - Não sei por que esses cretinos do legislativo insistem em esconder a verdade... Seria muito melhor se todo mundo soubesse quando tem um zumbi à solta. Tomariam mais cuidado.  – Expeli mais fumaça do meu cigarro – O coitado vai se revirar no túmulo, com certeza. É capaz que ele próprio vire um zumbi. Se não for virar com propagação de vírus vai virar para se vingar de quem inventou essa morte idiota.
     Fiz uma pausa. Notei que Crane estava suportando calada a fumaça que saía de minha boca. Estava indo na direção dela. Decidi apagar as cinzas no cinzeiro que estava sobre minha mesa.
     - E...? Você disse que tinha outro relato? Do casal de velhos?
     - Sim:
     - “O cidadão Gelson Hernandez reportou às 2:00 da quinta-feira. Avistou um jovem de cabelos longos que saltou entre a residência de seus vizinhos e a sua. Gelson o perdeu de vista logo em seguida. Preocupado, olhou pela janela vizinha e encontrou os dois corpos, ligando para a polícia em seguida. A polícia chegou cerca de quarenta minutos depois, onde fizeram a autópsia e verificaram que a causa da morte de ambos foi ataque cardíaco. A análise preliminar revelou morte natural. Não há indício de arrombo ou visita na residência. Uma das vítimas é Margareth Johnson, e a outra, um homem estimado em sessenta e cinco anos de idade, permanece não identificado.” É o relato.
     - Como assim, não identificado? Ele não morava junto com a velha? Deve ser o esposo.
     - Margareth Johnson está viúva desde 1993, pelo que consta, tenente.
     Cocei minha costeleta.
    - E do suspeito, o jovem de cabelos longos...?
    -...Nada. – Crane completou.
    - Morte natural simultânea. Resolveram ter ataque justo no mesmo dia. Que coincidência infeliz para os dois, não..?
     Tamborilei meus dedos na mesa enquanto refletia. Crane permanecia estática à minha frente, me fitando de modo inabalável. Poderia se passar por esquisita, mas eu já estava acostumado. Houve uma batida na porta. Então ela se abriu, donde uma jovem adentrou o recinto.
     Era uma jovem de cabelos longos e ruivos, alisados e presos de maneira carinhosa. Sua pele clara realçava as sardas espalhadas pelo seu corpo lhe passando uma aura pueril. Entretanto esta aura contrastava com sua maneira elegante e madura de se vestir, usando uma peça social curta de um vermelho escuro bonito, mas sem ser chamativo. Sua voz revelou-se suave e doce ao formular aquela pergunta de natureza banal:
     - Com licença, tenente Henry Dotson?
     - Eu.
     - Eu sou Ewalyn Lowe, sabe... A transferida do departamento de North Kingston Hill.
     - Ah, sim. Você vai substituir o Cuco.
     O Cuco era um ótimo detetive, mas ele acabou se aposentando por causa de tempo de serviço. Ele não era velho, mas por não ser humano e ter expectativa de vida menor eles fazem umas leis diferentes de direitos de trabalho. Estávamos sem o Cuco já fazia mais de três meses. Então de detetives eu tinha apenas o Joey e o crápula do Chapman.
    Eu tinha me esquecido, mas quinta-feira era o dia em que a detetive que ia substituir o cargo dele chegava. Ela trabalhava no departamento de North K Hill, mas como eles tinham uns detetives sobrando (e para falar a verdade, em comparação com Sproustown tinham casos faltando) o governo resolveu finalmente fazer a redistribuição.
    Estava satisfeito por finalmente ter mais um detetive com quem contar, e ainda mais satisfeito por ser uma jovem ruiva de personalidade rutilante.
    Ela me lembrava minha esposa Jane quando não era rabugenta.
     - E então? O que está achando de... Sproustown?
     - Ah... Estou gostando... – Respondeu ela enquanto olhava discretamente ao redor da minha sala – Só acho o ar um pouco poluído...
     Afastei o cinzeiro na mesa mais para o lado da parede.
     - Com licença, senhor. – Crane fez uma reverência breve e se retirou.
     Me levantei e me aproximei para cumprimentá-la devidamente.
     - Venha. Vou te mostrar o departamento. – E Lowe me seguiu.
    O departamento do DCAE tinha uma sala de recepção grande com uma mesa central, onde trabalhavam Joey Meyers e a secretária Emma Crane. A mesa era grande demais para eles dois, ocupando de cinco por dois. E a própria sala tinha uma área de pelo menos quatro vezes mais a área da mesa. Ironicamente, além da mesa não havia muita coisa na sala: as cadeiras, o bebedor, outra mesa de canto para o café e um armarinho onde ficavam alguns arquivos e outros materiais. Os arquivos de caso eram guardados todos na minha sala. O resto era só espaço sobrando.
    Além da porta para o elevador, a sala de recepção tinha mais duas portas: Uma para a minha sala, de onde eu e Lowe tínhamos acabado de sair, e outra que estava sempre aberta, dava para um corredor.
    Com a mão estendida na direção da mesa, eu apresentei:
     - Esta é a Crane. A secretária. Vocês já devem ter se conhecido. – Lowe assentiu com a cabeça enquanto Crane apenas olhou de relance. – Quando não está em outro lugar o Joey está aqui também.
     - E aqui é a sala da chefe. – Disse eu após entrarmos no corredor à direita da sala da Crane. Experimentei a porta e entrei. Era uma sala exatamente igual à minha, exceto que não tinha nada bagunçado na mesa. Não havia ninguém lá dentro.
     - A chefe é... A tenente Sarah Harmon? – Ela perguntou observando o nome escrito no vidro da porta.
     - Capitã agora.
     - Eu certamente lembro dela. Trabalhamos juntos no caso do filho do governador em Kingston Hill. Ela é uma das melhores que eu já vi.
     - Você trabalhou no caso do filho do Pearson?
     - Sim. Levou bastante tempo para pegarmos o sujeito, com todo aquele envolvimento político com a própria polícia, mas... A lembrança que eu tenho foi que ela fez tudo. – Ela soltou um riso breve.
     - Então vocês já se conhecem. Não vai ser difícil se adaptar por aqui. Perto daquele caso intrincado e cheio de política envolvida, capturar um zumbi ou dois não vai ser problema para você aqui em Sproustown.
     - É. Espero que não. – Lowe olhava ao redor enquanto mexia seu corpo para a esquerda e direita ritmicamente.
     - Ah! Vou te mostrar a sala de treino.
     Saímos da sala de Sarah e continuamos pelo corredor. Ele virava uma rampa que descia até um corredor imenso com janelas de vidro. Pela janela dava para ver o pátio onde ficavam as viaturas e mais adiante o prédio anexo do pessoal de suporte. As janelas eram imensas e ocupavam a largura do corredor inteiro, sobrando apenas um metro de parede abaixo delas e um pouquinho mais entre o topo do vidro e o teto. Seguimos adiante até o fim do corredor e começamos a ouvir tiros.
     - É o Joey. – Adiantei.
     Entramos na sala de treino e Joey estava equipado com uma calibre 12 e um baita de um tapador de ouvido. Atirava contra os alvos, segurando a arma com apenas uma das mãos. Ele notou nossa presença e assim que viu Lowe, começou a se exibir. Enquanto olhava para nós continuou disparando tiros contra os alvos que circulavam em velocidade fixa, amarrados na esteira. Sempre acertava os alvos.
     Lowe procurou algo para dizer, mas não conseguiu.
     - Ah, são vocês. Aqui é assim. Não tem moleza. Todo mundo tem que acertar o meio dos malditos. – Disse Joey enquanto tirava o tapador e vinha em nossa direção para cumprimentar-nos. Por incrível que pareça ele realmente estava acertando os alvos no centro, de modo que a frase dele não era exagero.
     Lowe me olhou com uma estranheza na sobrancelha, como que se perguntando se eu realmente exigia isso dos empregados. Mas ela não chegou a perguntar verbalmente.
    Apenas expliquei:
     - É a finesse do Joey.
     “Finesse” é um termo usado entre seres paranormais. Lembre que eu disse que um zumbi tem uma mente mais desenvolvida que um ser humano, pois assim que nasce ele consegue se equiparar a um adulto maduro mentalmente em apenas poucos dias de adaptação. Por isso é de se imaginar que algo no cérebro dele ocorre de modo que ele aprenda de forma diferente.
    Alguns seres humanos também aprendem de modo diferente. Enquanto alguns conseguem falar um novo idioma em apenas poucos meses outros ficam mais de seis anos estudando sem chegar a lugar algum. É só um exemplo. Em seres humanos além da diferença do método de aprendizado existe também a persistência. Alguém que deseja aprender a desenhar, mesmo que não use um sistema muito bom consegue atingir nível profissional eventualmente, se tiver persistência. Já outra pessoa poderia ser que aprendesse em menos tempo, mas ao invés de persistir acaba desistindo quando vê que não atinge o resultado esperado com pouco esforço.
    Campeões mundiais nas tarefas mais variadas, assim como os profissionais mais talentosos na maioria das vezes devem sua habilidade a uma combinação dessas duas coisas: esforço e método.
    O que aconteceria então se um zumbi resolvesse empenhar seu tempo para aprender uma tarefa básica de forma proficiente? Como eles naturalmente têm maior capacidade de aprendizado que o ser humano, teriam que se preocupar apenas com o aspecto da persistência.
    O mesmo vale para os alienígenas. A maioria deles, por se assemelharem essencialmente a uma mistura de insetos com humanos, já possui aptidão física o suficiente para não precisar de esforço algum para aprender qualquer atividade que exija meios físicos. Então, um alien poderia facilmente ser um dos maiores contorcionistas ou bailarinos, se empenhasse o tempo necessário, por exemplo.
    Os seres paranormais, devido à suas características, sempre conseguem algum hobby que podem aprender facilmente ou rapidamente se comparados a um ser humano normal. Quando eles resolvem realmente se apossar desta vantagem e adquirir uma habilidade nova através do aprendizado, esta nova habilidade na qual viram proficientes é chamada de sua finesse.
    Em nosso ramo, como trabalhamos com violência, isto é, temos de usar violência para capturar outros seres paranormais que também usam da violência em seus atos, é apenas natural que procuremos finesses que tenham a ver com violência.
    Joey passou muito tempo treinando tiro ao alvo. Nunca sai daquela sala. O dia de hoje não é uma exceção. Somando sua obsessão ao método de aprendizado que é acelerado, após treino o suficiente ele tem a precisão para acertar exatamente o meio dos alvos em movimento constante, segurando a arma com uma mão e sem olhar.
    Se ele estiver olhando e segurando a pistola com as duas mãos na posição correta ele consegue acertar alvos exatamente no meio e em movimento inconstante, isto é, velocidade e posição aleatória. Esta certamente é uma finesse útil para um policial.
    Outro exemplo de finesse é a do Cole Chapman, meu outro empregado. Ele manuseia fios de nylon com maestria. Por que escolheu isso? Um ser que possui uma força física fora do comum vai querer empregar essas características em sua finesse, tornando possível a aprendizagem de uma habilidade impossível a um ser humano comum. Um fio de nylon pode não fazer muito se eu simplesmente arremessá-lo de forma tosca sobre alguém de perto. Entretanto se uma moto passa por um fio esticado à alta velocidade pode ser cortado fatalmente. Por que isto acontece? Por causa da velocidade com que o fio foi arremessado contra o corpo do motoqueiro.
    Levando isto em consideração, Chapman percebeu que se conseguisse aprender a segurar um fio esticado e empregasse sua força descomunal nas pontas, poderia fazê-lo ser arremessado contra alguém que estivesse a um curto alcance com uma velocidade parecida. Então como hobby buscou aperfeiçoar as características necessárias para usar esta técnica em combate, desde os ângulos com os quais arremessa um fio, aplicar a força de forma correta, como prender os fios em coisas penduradas na parede fazendo o menor movimento necessário com o resto do corpo para que o fio tenha tensão, e assim por diante. Embora não haja nenhum campeão mundial de cortes com fios de nylon porque os seres humanos não têm a fora suficiente nos dedos, como Chapman não é um ser humano, ele pode aprender esta finesse.
    Então tome cuidado se você deixar o Chapman nervoso com um carretel no bolso e estiver em um corredor estreito com vários lugares para ele prender os fios.
    Lowe naturalmente sabia o que é uma finesse então por isso relaxou os ombros assim que eu disse que aquele treino era especial do Joey. Eu não exigia de meus empregados aquela precisão impecável.
     - E aí? Já se acostumou com o cheiro do cigarro do tenente? – Perguntou Joey à Lowe, que apenas olhou para mim e fez um sorriso desconfortável.
    Seria tão bom se Joey ficasse quieto.
     Me dirigindo para Lowe, mudei de assunto:
     - Então...É basicamente isso que temos por aqui. Quando você quiser café tem lá na cozinha...
     - Vocês já vão voltar para lá? Eu vou treinar mais um pouco... – Disse Joey.
     - Para dizer a verdade... Precisamos de você lá na frente também. Apareceu outro caso.
     - Outro caso? – Joey guardou a arma no suporte designado.
     - Assassinato. Um casal de idosos. Um deles não tem identidade. Os dois morreram de morte natural.
     - Ué? Mas se é morte natural não é um caso do DCAE.
     - As mortes ocorreram ao mesmo tempo.
     -...
     - De morte natural simultânea? Mas isso quer dizer que..? – Lowe começou. – Será “ductu”?
     Afirmei levemente com a cabeça.
     - É o que parece... Se realmente for “ductu” temos um grande problema... Adicionalmente... Um alien foi visto.
     - Um alien? Como? O que ele fez?
     - Até agora apenas fez um pouco de parkour exagerado. Foi visto perto da cena do crime em horário coincidente, saltando sobre telhados ou algo do tipo. Difícil acreditar que não tenha alguma relação. Estava indo checar o local agora. Normalmente você é minha dupla, mas estava pensando em levar a Lowe junto, já que é o primeiro dia dela. O que você acha, Lowe?
     - Por mim, tudo bem. – Suas palavras eram mais amenas em comparação com a expressão de sua face. Seus olhos pareciam mais dizer “quero muito ir checar o local”.
     Saímos da sala de treino e nos dirigimos à entrada. Já que não havia muito que fazer, convidei também Crane que estava plantada na cadeira com um semblante enfadonho.
    Combinamos que o pessoal do suporte atenderia os telefonemas em nossa ausência e partimos todos os quatro para o local.
    Era quase fora de Sproustown, cerca de dois quilômetros da estrada nordeste. Em uma vizinhança distante de natureza rural chamada Little Quarry. Ali não havia prédios e as casas eram todas construídas sobre a terra, providas de grandes terrenos em sua parte de trás. Era comum os terrenos não terem separação, ou quando muito uma cerca baixa precariamente fortificada sobre o barro.
     - Não é de se surpreender que Hernandez tenha bisbilhotado na janela dos Johnson sem muito esforço. – Comentei.
     - Nesse tipo de lugar não existe muito segredo entre os moradores... – Disse Lowe.
     - Eu e Joey vamos ver a nossa testemunha. Vocês duas dêem uma olhada na cena. Já vamos para lá.
     - Ok.
     Eu e Joey fomos até a casa do tal Gelson Hernandez. Batemos na porta e ele rapidamente atendeu. Assim que dissemos que éramos da polícia seus olhos brilharam e ele ficou entusiasmado, convidando-nos para entrar. Era um sujeito de idade avançada e não exatamente parecia ter seus dias muito ocupados, de modo que deveria estar ansiosíssimo para partilhar sua história do extraterrestre com mais alguém.
     - Era um ninja! Juro por Deus! Ele saltou do meu telhado e foi parar no da vizinha. E depois saltou de novo até a casa de trás. Assim em duas etapas só, seu guarda – Acredite: ele me chamou de “seu guarda” – Pulou uma e depois outra.
     Como era o sujeito?
     - Era ali. – Ele apontou para a parte da frente do telhado da casa da vizinha, ao lado da antena. Ele estava ali quando pulou da minha casa. Depois ele foi naquele telhado de lá.
    Hernandez era desses velhos que ficam repetindo a mesma coisa.
     - Iremos investigar... Mas poderia dar uma descrição do sujeito?
     - E foi num pulo só. A senhorita Thomas não acredita, mas eu juro que...
     Como pode-se ver, foi uma conversa difícil, mas após certo esforço conseguimos alguma coisa. Passada a entrevista Joey repetiu o que tinha anotado em seu bloquinho:
     - Aprendemos que o suspeito tinha longos cabelos brancos, era jovem, aparentemente perto de seus trinta e poucos anos, e ele provavelmente tinha uma capa? Uma capa, tenente? Esvoaçando atrás de seu corpo à medida que saltava? Não era um exagero do Hernandez? Parece tão saído de cinema... Uma capa!
     Apenas limpei o suor da testa. Procurei minha carteira de cigarros no bolso do meu casaco e acendi um.
     - Vamos ver como as garotas estão indo. – Decidi.
     Não foi de propósito, mas por acaso que Joey estava um pouco mais afastado e eu acabei entrando no recinto da cena propriamente dita antes dele. Ainda havia um policial da perícia que tinha dado as informações essenciais sobre os acontecimentos para Crane e Lowe. Ele estava no hall.
     Eu tinha ouvido falar que não constava muita informação sobre a senhora Johnson. No hall, do lado de trás da faixa de delimitação, ainda estavam desenhadas as marcações dos locais dos corpos. Caminhei rapidamente para o quarto e pude ouvir um pouco da conversa de Lowe e Crane. Ao invés de aproveitar a oportunidade para passar no teste de Bechdel parecia que elas estavam conversando casualmente sobre mim:
     - Ele não fala muito... Quer dizer, fora dos assuntos do serviço. Fica difícil dizer exatamente o que se passa na cabeça dele. – Era a voz da Crane – Mas o jeito dele deixa tudo mais difícil. Ele sempre vem cuspindo ordens para mim e para o Joey. E para o Cole. Ele é ainda mais ríspido com o Cole.
     - Engraçado. Tive a impressão de que era o oposto de ríspido... – Comentou Lowe.
     Quando entrei no quarto elas pararam e me olharam. Lowe tinha um saquinho com uma agulha de tricô amarrado a um pouco de lã. O saquinho estava fechado.
     - E então? –Perguntei, como se não tivesse escutado nada - Alguma coisa?
     Ela me mostrou o saquinho.
     - É uma evidência. Eles deixaram elas aqui. Estava caído no chão ao lado da senhora Johnson. Fora isso, nada demais. – Ela deu de ombros – Realmente não tem indício nenhum de conflito aqui. Acho que podemos dizer que realmente foi obra de ductu.
     - Se sim estamos lidando com um monstro. Resolvi muitos casos em Sproustown, mas nunca em nenhum deles me deparei com alguém que pudesse matar com ductu apenas.
    E era verdade. Trabalho em Sproustown há mais de quinze anos. Nem sempre fui tenente, comecei como detetive, assim como o Joey. Mas é muito raro um ser paranormal conseguir afetar pessoas dessa maneira com uma habilidade tão simples.
    Para entender o conceito de ductu, pense em um cachorro e analise seu instinto. Quando vê uma presa fácil seu instinto diz “ataque”, quando seu instinto lhe afirma que a presa lhe trará problemas caso engaje numa luta, ele diz “lata, mas mantenha distância.” Humanos embora possuam um grau menos aguçado de instinto ainda têm um pouco que herdaram da evolução de seus antepassados. Ao ver uma aranha não temos todos um estremecimento? É herança fisiológica dos tempos em que não havia meios de combater o envenenamento e nem meio de reduzir as infestações, o que tornavam estes bichos seres perigosos para a nossa raça. Hoje em dia as aranhas não são tão perigosas quando antigamente devido à tecnologia e a presença dos postos de saúde, mas ainda mantemos um medo intrínseco de tais criaturas. Por menos venenosa que a aranha seja sempre há o estremecimento.
    O Ductu é parecido. É a manifestação do instinto em um ser inteligente. Ao se deparar com um ser indubitavelmente mais forte que você, o ductu lhe diz “tome cuidado, esta criatura à sua frente não é pouca coisa”. Como eu disse, aliens são criaturas essencialmente mistas de animais e humanos. Não no sentido literal da palavra, mas mistas no sentido de que muitas características animais são partilhadas por eles. Não é de se admirar que o instinto seja uma delas e seja ainda mais aguçado, assim como todas as demais características.
    Aliens essencialmente podem detectar de longe a presença de outros seres paranormais apenas usando este instinto que funciona como uma vibração, propagada como uma onda cerebral. O ductu indica ao extraterrestre não só se há perigo, mas também onde o perigo está.
    O que nos leva ao anti-ductu.
    Uma medida natural que a evolução proporcionou a seres paranormais munidos de ductu como os aliens foi o anti-ductu. Veja só: se numa comunidade de mais de um alien existisse apenas o ductu, todos teriam um receio interminável dentro de si, dizendo a cada um deles para evitar se aproximar dos demais, causando conflito social desnecessário e porque não dizer ameaçando a espécie. Visto que o instinto os avisa se a presença do organismo avistado é perigosa ou não, e como os próprios alienígenas são dos seres mais perigosos, este instinto ficaria martelando dentro deles o tempo todo. Para anular este estado de diligência, a natureza os abençoou também com o anti-ductu, técnica que pode ser usada para perder instantaneamente o medo que veio como instinto pela própria natureza.
    A priori pode-se pensar que as duas forças anulam-se uma a outra e eles são como seres humanos normais, então, sem vasta capacidade de discernimento. Mas não é assim. Existe certo grau de controle do anti-ductu. Um alien sente sim a insegurança quando há algum outro alienígena ou outro organismo potencialmente perigoso por perto, entretanto o anti-ductu só é acionado momentos depois, ao se avistar que este outro ser é também um da mesma raça.
    “Ops, tem alguém perigoso por perto. Ah! É você. Tudo bem, o medo foi embora.”
    E este processo evolutivo chega à habilidade que eu quero chegar: a habilidade de controle do próprio ductu. Alguns alienígenas evoluíram a ponto de serem capazes de sentir ductu e anti-ductu quando quiserem. Mas como a própria palavra já indica, anti-ductu não é apenas a anulação pessoal do ductu, mas sim o equivalente a infligir ductu nos demais organismos de modo que se perca a sensação de receio. Se todos se sentem igualmente receosos, ninguém está. O que significa que alguns aliens podem escolher infligir o medo nos demais seres, a partir do anti-ductu.
    O anti-ductu, em disparidade com o ductu, não é a capacidade de esvair o medo, mas de infligir.
    Percebe onde quero chegar? Se um ser que pode infligir um medo natural nos demais organismos, e este medo natural é forte o suficiente para anular o sentido quando presente de um espécime de mesmo grau de periculosidade, então quando lançado anti-ductu em um organismo desprovido desta habilidade, como um ser humano comum, por exemplo, o ductu se torna uma sensação indescritível de receio exagerado, aparentemente inexplicável.
    Já que o medo causa a aceleração do coração, o que estávamos especulando era a possibilidade de anti-ductu ter sido infligido naquele casal de idosos de modo a causar um enfarte, visto que eles poderiam sofrer uma espécie de problema cardíaco.
    Pode-se matar seres humanos com anti-ductu apenas? Esta é a pergunta que pairava.
    Até então eu nunca havia visto nada parecido, mas seguindo o argumento lógico nada impede a possibilidade. Entretanto para fazer possível teria que ser um alien provido de uma extrema intensidade de anti-ductu natural.
     - E você, Crane? O que acha?
     - Bem, eu não sei... Hernandez foi o único que viu o suspeito... Sempre existe a pergunta: será que ele viu mesmo?
     Cocei minha costeleta.
     É verdade que a história toda é muito conveniente para Hernandez. As únicas impressões que existem na casa dos Johnson são as dele: no parapeito da janela e no interior da casa. Segundo ele, ele tinha se debruçado para avisar os Johnson do acontecido e então quando avistou o casal perecido, entrou deixando as impressões que ficaram dentro da casa. O relato dizia que ele abriu a porta (que estava destrancada, apenas encostada) e adentrou-se, esperando prestar socorro ao casal tombado no chão. Só quando chegou perto deu-se conta do que havia acontecido.
    A versão dele indicava que havia um alien envolvido. Enquanto que a possibilidade levantada por Crane indica que isso seria apenas um caso comum, que poderia ser deixado para a polícia convencional, e Hernandez seria então o principal suspeito.
     - Creio que é difícil de saber com certeza, não é...?
     Percebi que Joey estava demorando demais para entrar. Lembre que ele estava há apenas uns passos de distância quando o convidei para conferir a cena do crime. E mesmo assim deu tempo de entrar no quarto e trocar todas aquelas frases. Assim que isso me passou pela cabeça ouvimos a voz dele:
     - Tenente! Aqui!
     A entonação era de urgência, então todos os três corremos da casa dos Johnson para fora. Joey estava logo à porta, apontava para o telhado da residência de trás.
    Inclinei a cabeça para a direção apontada e o vi: um jovem de vinte e poucos anos e cabelos longos, vestindo uma espécie de sobretudo desabotoado que esvoaçava como uma capa às suas costas. A descrição era imbecilmente fiel ao relato de Hernandez. Assim que meus olhos pousaram sobre ele, o jovem saltou da casa vizinha na direção oposta a nós.
    Não deu muito tempo para pensar. Sem proferir nenhuma ordem aos demais simplesmente larguei meu cigarro na grama e pus-me a imitar seus movimentos, visando alcançá-lo. Ele já estava longe, mas não podíamos perdê-lo de vista. Saltei no telhado da casa dos Johnson depois alcancei o da residência vizinha também com um pulo só. O teto da outra residência já era um pouco mais afastado, então hesitei um pouco antes de pular.
    Embora eu conseguisse fazer o parkour assim como aquele alienígena, eu não tinha tanta maestria. Felizmente as casas acabaram e o caminho acabou se tornando um pedaço de floresta. Chegamos a um aglomerado de árvores que ficavam ao lado de uma estrada de Little Quarry. Não conseguia avistar o suspeito, mas meu anti-ductu indicava a direção que ele estava. Saltei do telhado ao chão e comecei a correr a pé.
    Percebi que apenas Joey havia me alcançado. Ele portava sua calibre 22 na mão.
     - Ele está aqui! – Gritei para Joey e apressei o passo. Joey deve ter apressado-se mais ainda, pois em alguns segundos ele me alcançou.
     Alguns instantes depois conseguimos ver o sujeito. Estávamos em uma descida que tinha poucas árvores, era mais um monte de grama com apenas uma árvore aqui e ali. Não tinha muito espaço para esconder-se. Ele tinha um objeto brilhante às suas costas e continuava correndo o mais rápido que podia.
     - Atire! – Disse à Joey. E ele obedeceu.
     Após o disparo ouvimos um barulho de metais se chocando, e o sujeito continuou em seu passo acelerado. Deduzi que Joey de alguma forma devia ter errado o tiro.
    Joey disparou novamente e o barulho de metais se chocando foi ainda mais nítido. Dessa vez percebi um pequeno movimento quase imperceptível do objeto que o fugitivo possuía amarrado às suas costas. Era uma lâmina de algum tipo. Ele provavelmente estava usando uma mão para defender-se dos tiros com a lâmina, retirando-a do suporte e após isso guardando a arma novamente no depositário amarrado às costas rapidamente. Isso requeria uma destreza admirável.
    Então foi que percebi que o fugitivo tinha perdido um objeto após o segundo tiro, que tinha caído ou de seu bolso, ou de sua mão. Provavelmente a segunda opção, pois se ele estivesse segurando alguma coisa e precisasse dela para sacar sua lâmina, este objeto acabaria caindo.
    Ali, após alguns pensamentos que me ocorreram em frações de segundo, decidi que cessaríamos a perseguição. Fiz sinal para o Joey parar e então me aproximei do embrulho que caíra do bolso de nosso alvo e o apanhei.
    As razões pelas quais optei por este caminho foram as seguintes: Primeiro que Joey nunca erra seus alvos com uma pistola. Então ele certamente tinha acertado, o que quer dizer que enquanto correndo e de costas o fugitivo tinha conseguido defender-se de dois tiros de uma calibre 22 com seu objeto às costas, usando uma mão só. Isto indicava o quanto era habilidoso. Segundo: eu e Joey estávamos excedendo o limite humano com aqueles saltos entre telhados e mantendo passadas de mais de cinquenta quilômetros por hora em terreno acidentado. Exceder o limite humano me desgastava. Deduzi que se o alien era do tipo que corria rapidamente sem muito esforço, ele planejava nos desgastar para depois, se necessário, vencer-nos facilmente com um contra-ataque surpresa, visto que possuía habilidade considerável.
    Era uma pena ter que perder o fugitivo, mas pelo menos ele deixara uma pista, o que com sorte nos traria informações com as quais pudéssemos identificá-lo com menor esforço físico.
     - O que é isso? – Perguntou Joey se aproximando de mim, referindo-se ao objeto caído do extraterrestre. Ele provavelmente também percebeu que só iríamos nos cansar se continuássemos a perseguição então não perguntou nada sobre a ordem muda de cessamento.
     - Parece um envelope com uns papéis dentro... O jeito é lavar para a central. – Suspirei – Droga... Estou ficando velho para este tipo de atividade.
     - Nada, tenente. Ele era inalcançável, mesmo.
     - Que seja... Vamos voltar. Agora sabemos se Hernandez estava mesmo inventando ou não o suspeito.
     Nem sempre as saídas a campo acabavam do jeito que a gente gostaria. Às vezes encontrávamos um morto no beco e nenhum suspeito, às vezes encurralávamos o suspeito prestes a sair da cidade de barco, às vezes não esperávamos suspeito nenhum e embora encontrássemos, este escapava de nossas garras.
    Ossos do ofício.
    Entretanto um amargo gosto ficava de saber que apenas não o alcançamos porque estávamos inferiores em questão de “indarra”.
    Indarra é outra habilidade característica dos chamados seres paranormais, objetos de interesse do DCAE. Já afirmei em ocasião anterior que zumbis têm força vastamente superior a do homem comum. A verdade é que a maioria das raças dentre as dez perigosas o tem. Citando o exemplo do alien, por ter misturada à sua espécie também características animais, sua força e resistência física é acentuada. Imagine uma formiga gigante de tamanho humano. Carrega até dez vezes o próprio peso. Pode ser pressionada por um sapato gigante e ainda assim sair praticamente ilesa. Pode cair de uma altura de vinte metros e sair andando normalmente. Parece muito mais resistente fisicamente que o ser humano médio, não?
    Da mesma maneira que os seres paranormais usam de sua rápida cognição para adquirir finesses impossíveis aos seres humanos, podem também usar sua força excedente para alcançar novos feitos, inimagináveis ao ser humano.
    A força não serve somente para bater nos outros com uma caixa de pesca. Uma aplicação interessante é a velocidade. Imagine o seguinte: um corredor de cem metros pode chegar a correr a mais de quarenta quilômetros por hora se for forte o suficiente. É claro, ninguém consegue manter esta velocidade em um percurso mais longo, mas na corrida de cem metros, tudo depende da força com que se aplica na ponta do pé para dar o impulso inicial. Nesta modalidade de corrida o corredor aplica toda sua força na ponta de seus dedos para que o impulso seja maior, permitindo-lhe atingir maior velocidade. É uma aplicação da força para obter outra característica física: a agilidade.
    A indarra é a força intrínseca das raças de destaque. Os zumbis, os aliens e as demais raças têm um grau de indarra. Mas esta força pode ser aplicada em diversas situações, permitindo seu dono realizar ações como saltar do chão direto para um telhado, saltar de um telhado de uma casa a outro, correr a mais de cinquenta quilômetros por hora em percurso acidentado. Outra aplicação da indarra seria a já mencionada finesse do Chapman, que consegue imitar a força de corte de um fio de nylon sem precisar do impulso do alvo. Como pode-se ver, sair por aí dando murros em vidros de joalherias com a força bruta, de longe não é a aplicação mais proveitosa que se tem desta particularidade. Este fator natural quando utilizado com decência pode se tornar muito mais perigoso do que parece.
    O que acredito que aconteceu ali é que o alien, somada à sua aplicação da indarra para aumentar a velocidade, ainda possuía características de um animal veloz. Como nem eu e nem Joey somos alienígenas, só pudemos usar a indarra sozinha, então acabamos ficando para trás.
     - Vocês estão loucos? O Hernandez estava olhando! O que você acha que tivemos que inventar para explicar sua velocidade absurda? – Explodiu Crane assim que retornamos ao local do crime.
     - Desculpe. Mas eu queria pegar o suspeito...
     - E não conseguiu. Claro. Ele estava muito longe. Nem valia a pena tentar.
     - Conseguimos isso. – Entreguei-lhe o envelope.
     - Como ele era? – Perguntou Lowe.
     - Fisicamente era exatamente igual à descrição do relato. Era muito melhor que o detento de anteontem em termos de habilidade. Defendeu duas balas do Joey com uma mão só.
     Crane me olhou indignada
     - Sem olhar para trás. – Acrescentei.
    Houve um instante de silêncio.
     - Sem desculpas... Vamos pegar esse sujeito. O DCAE já passou por coisa pior. Agora que temos isso – apontei o envelope com a cabeça - Espero que tenhamos alguma informação relevante. Ou pelo menos que seja suficientemente importante para ele voltar para buscar.
    Todos eles confirmaram com a cabeça e então fomos nos preparando para voltar à central. Um último pensamento me passou pela cabeça.
     - Joey? – Comecei
     - Sim, tenente?
     - Como você achou o alienígena? Viu ele por acaso?
     - Não. Meu anti-ductu me avisou. Dava para sentir ele ali de fora...
     - Como eu pensei. E nós três estávamos lá dentro, a cerca de mais de dez metros de distância e não sentimos... Quer dizer então que a intensidade do ductu era fraca ou mediana no máximo.
     - Sim. Não era grande coisa. Era parecido com a sua intensida... Digo... Não que o tenente não seja grande coisa, mas é que...
     - Entendi, Joey.
     Lowe entendeu aonde eu queria chegar.
     - Mas se a intensidade era fraca... – Ela completou – Então os Johnson...
     - Exato. Não poderiam ter sido mortos apenas com aquilo.
     - Hummm. – Fez Joey.
    Se fossem dois velhos caquéticos, na cadeira de rodas, sobrevivendo a base de aparelhos, provavelmente seria possível matá-los com um ductu de menor intensidade. Mas adultos de meia idade sem visíveis problemas de saúde... Seria muito mais difícil.
     - De qualquer forma, por ora vamos voltar à central. – Concluí.
  • Hinderman - Capítulo 4

    Continuação dos capítulos anteriores.
    Para ler os capítulos anteriores acesse: https://autores.com.br/component/search/?searchword=hinderman&searchphrase=all&Itemid=9999

     O Verde era mais novo que eu.
     Ele podia se vestir mais profissionalmente. Por exemplo, ali ele usava uma peça escura, quase preta, mas dava para ver que era verde se chegasse perto. Acho que era tipo um black-tie só que menos formal. Ele podia também ser o chefe do negócio. Ele podia ser mais sofisticado com suas palavras e atitudes, mas chegando perto dava para ver que era bem mais verde do que o maduro que queria passar a impressão que era.
    O Verde certamente era mais novo do que eu.
    Nós estávamos no esconderijo.
    Tá... Não era bem um esconderijo. Era apenas um local combinado. Um dos clientes do chefe era o dono do local. Um desses barzinhos que servem comida boa a preço de banana para fazer lavagem de dinheiro. O ambiente era escuro e um pouco claustrofóbico. Naquele horário estava cheio... De mesas vazias.
    Só estávamos nós quatro ali.
    Eu, o Gary e o Boe tínhamos sido todos convidados, mas aquele momento em específico fui só eu que acabei presenciando. Os outros dois estavam de pé ao balcão, uns dez metros mais para trás, discutindo qualquer outra coisa. Era o momento após a conversa inicial, quando todos já tinham terminado de trocar as informações sobre os casos. O chefe estava sem nada para fazer então me convidou para um jogo de xadrez. Os dois não jogavam, de forma que ficamos só eu e ele na mesa.
     - Mas por essa eu não esperava, senhor... Um alien saltando por entre as casas de Little Quarry e deixando vítimas à vista?
     - É o que aconteceu, Spikey. E você sabe... Vocês três sabem... Não só é trabalho da polícia, mas também nosso acobertar a existência de criatu... De pessoas talentosas como vocês. Afinal se todos souberem de vosso talento nosso trabalho fica muito mais difícil, não é mesmo? – O chefe fez um lance no tabuleiro. Estávamos apenas no início do jogo.
    - E o senhor tem certeza que não quer que encontremos o... O Alien?
     - Não será preciso, Spikey... Tenho razões para acreditar que ele não queria chamar atenção embora tenha chamado bastante. Na verdade... – Ele olhou de relance para os outros dois perto do balcão – Na verdade... Acredito que ele deve estar trabalhando para a “terceira parte”.
     O chefe se referia à terceira parte qualquer um que pertencesse ou que fosse empregado pelo Dragão ou por Wilkinson. Isso porque as gangues principais que restaram no que diz respeito ao negócio dos Deluxes são três: nós, o Dragão e o Wilkinson. Três partes. E quando não somos nós responsáveis por alguma coisa, então é a terceira parte, ou seja, a concorrência.
     - E o senhor... Baseia isso no fato de aquele envelope ter sido roubado?
     - Exatamente. – O chefe fez mais um lance estranho, atacando meu lado do rei sem se preocupar em defender o bispo previamente atacado.
     Os lances dele eram do tipo difícil de lidar. Ele esquece a defesa e parte para o ataque. É preciso jogar com muita precisão para sair bem sucedido neste tipo de jogo.
    O chefe prosseguiu:
     - Exatamente... E justamente por isso preciso que vocês três se concentrem no envelope e não no dono. Se ele trabalha para a terceira parte e perdeu o envelope ele já perdeu a missão. Agora quem pegar é dele.
     Ainda estava pensando no meu lance. Deixei escapar um pensamento:
     - Mas não entendo como um envelope pode ser tão importante assim... Quer dizer...
    O chefe inclinou a cabeça e me fitou mais sisudamente que o normal.
    Eu ia dizer que quase parecia que ele sabia de antemão o que tinha no envelope, e por isso sabia que era importante. Mas percebi que era algo muito direto de se dizer para o chefe.
     - Quer dizer...?
     - Er... Nada senhor. Estava pensando... O senhor tem uma ideia do que tenha dentro do envelope? Digo... Por fazer tamanho caso do acontecimento...?
     - O que há, Spikey? Perdeu a iniciativa? Está demorando demais nesse lance. – Ele se inclinou para trás, apoiando-se no encosto da cadeira. Parecia ter deliberadamente mudado de assunto. Não insisti na pergunta.
     - É... Eu não estou acostumado a jogar assim.
     - “Assim”... Meu estilo é o que chamam de jogador romântico, não é mesmo? Não romântico no sentido que inspire emoções amorosas, mas no sentido de que é o estilo jogado em 1840, na época do romanticismo.
     Confirmei com a cabeça e fiz meu lance.
     - E o seu estilo... Tem uma palavra para seu estilo de jogo também, não é mesmo? Como é que dizem? Um estilo “patzer”?
     Já que ele era o chefe podia falar esse tipo de coisa.
     Ele sacrificou mais um peão e retomou o assunto novamente:
     - Existe algo lhe incomodando, Spikey? Percebo que há uma falta de... “Comunicação”... Entre nós. Primeiro foi no telefone... O que foi aquilo sobre o Jeffrey? Aquela conversa sobre o emprego? Não é muito de você... De vocês três... Ficarem sobressaltados com a hipótese de uma troca de pessoal... Vocês sabem que tecnicamente vocês não fazem parte do pessoal, não?
     - Sim, senhor. Mas eu estava apenas... Apenas... -
     - Não me entenda mal, Spikey – Ele me interrompeu enquanto fazia seu lance – Eu gosto de vocês, na verdade gostaria de vocês no meu pessoal... Mas se há um motivo pelo qual vocês não fazem parte... Esse motivo veio de vocês mesmos, não?
     O Spikey-Gary-Boe se recusa a fazer parte de qualquer grupo após a saída do Canadá. Somos, com orgulho, mercenários independentes.
     - E agora mesmo fora de meu grupo, como contratados, estão me dizendo se eu devo escolher entre o mercador ou a mercadoria? O alien ou o papel? Parece um tanto incoerente, não?
    - De modo algum, senhor. Estava apenas perguntando...
    Sem me dar muita atenção, ele virou a cabeça para trás donde avistou o dono do bar, atrás do balcão conversando com o Gary e o Boe enquanto estes tomavam algum destilado. O dono do bar era amigo pessoal do cliente do chefe. O chefe chamou-o com um gesto.
     O amigo do cliente do chefe se aproximou. O chefe perguntou:
     - E então? Estão bebendo a essa hora já? Sobre o que estão conversando?
     O dono do bar respondeu apenas com um sorriso. Olhei na direção deles e eles estavam olhando para cá. Assim que o chefe e o dono do bar olharam eles desviaram o olhar.
     - Escute... Me traga um Martini seco, por favor?
     - Pode deixar. – Ele acenou e saiu.
     O chefe fez uma expressão despeitada com as sobrancelhas e enquanto pensava em seu lance volveu-se a mim novamente:
     - Do que eu estava falando, mesmo?
     O jogo já estava perdido. Meu rei estava encurralado no canto e quatro das peças dele estavam muito perto. Eu tinha duas peças menores e um peão a mais, mas todas estavam no canto do tabuleiro. Mesmo assim, ele ainda estava pensando muito naquela jogada.
     - Escute aqui, Spikey... Vou dizer uma coisa a você... As três partes... As três terceiras partes. Você sabe por que apesar do esforço da polícia elas ainda estão por aí? É porque não podemos fazer abuso do nosso... Do vosso talento. – Ele me olhou de soslaio – Você viu o que deu o abuso com o Jeffrey. Ele mal “nasceu” e teve uma vida curta.
     - Falando nisso... Será que ele não vai revelar nada sobre... “Os verdes”? Seria bom garantir que não?
     - Tenho razões para acreditar que ele não vai ter chance de soltar nenhuma informação... Mas deixando isso de lado, o que eu queria lhes dizer... Já que insistem em saber meus motivos... O motivo por que eu não quero fazer nada a respeito de Alexander Sprohic... O motivo pelo qual eu não quero nada com o Jeffrey agora que ele está preso... O motivo por que não quero capturar um alien à força... Se começamos a abusar muito do nosso... Do vosso talento... A polícia começa a ficar muito desconfiada e quando menos esperamos, puf! – Ele fez um gesto com a mão - A cor verde se esvai de Sproustown.
    Eu estava fazendo meus lances de maneira mecânica, já esperando a derrota irrefutável.
     - Existe um ritmo com o qual podemos fazer as coisas. E eu quero usar este ritmo agora, na captura do envelope. Seria bom capturar mesmo que um capanga de menor escala da “terceira parte”? Sim. Mas ainda mais importante é obtermos informações sobre as ações de Wilkinson ou do Dragão, não? Por isso quero me concentrar no envelope. Seria bom que pudéssemos nos vingar de Alexander Sprohic por ter nos deixado na mão? Sim. Mas ainda mais importante é presar pelo pessoal que temos agora, então é preciso economizar talento. Apenas usar o talento quando extremamente necessário.
     Ele não mencionou que foi ele próprio quem forçou Alex a perder o dinheiro, por isso não havia muito interesse por parte dele de receber o dinheiro de volta, mas claro que me refreei a mencionar esta parte.
    O chefe alcançou seu Martini da mão do dono do bar assim que este chegou, enquanto bebericava seu primeiro gole, concluiu:
     - Entende? É assim que trabalhamos, Spikey. A relação com a polícia é importante. Sem respeito à polícia não há respeito da parte da polícia.
    Aquela explicação, embora fizesse todo o sentido, não me revelava por que o chefe não largaria um alien para capturar um mero envelope se não tivesse certeza da importância do conteúdo. Mesmo assim, ainda com falta de umas informações, me dei por satisfeito. Afinal ele tinha razão: nada daquilo me dizia respeito.
    Eu teria desistido antes, mas deixei o chefe me dar o xeque-mate.
     - O xadrez parece até uma finesse sua, senhor. É realmente bom nisso.
     - Finesse?
     - Er... Nada não, senhor.
     Erro meu. Finesse é um termo usado entre nós, os seres “paranormais”. Eu não sei até onde os humanos conhecem os termos, logo é melhor falar disso o mínimo possível. O Verde, apesar de chefe de uma das “três partes”, cabeça de uma organização distribuidora de Deluxes em Sproustown, é um ser humano comum que coloca suas esperanças em aberrações contratadas como o Spikey-Gary-Boe. As outras duas partes não devem ser diferentes, afinal quem mais indicado que um ser paranormal para cuidar da sujeira desta linha de trabalho?
    Se um ser paranormal quisesse monopolizar o comércio ilegal de Deluxes em uma cidade pequena como Sproustown, provavelmente já teria conseguido, por causa das inúmeras vantagens que têm. Como ninguém monopolizava o comércio, ficava claro que os líderes eram humanos, e dependiam do esforço de criaturas como nós para alcançarem os objetivos que não conseguem por conta própria.
    Mas mesmo sabendo disso, olhando para aquele jovem imponente, usando aquela peça black-tie tão elegantemente e portando-se de maneira sutil embora hedionda... Há algo nele que o faz parecer muito mais impetuoso do que a fragilidade humana permite. Há algo que não me faz parar de pensar que daria um dos melhores seres paranormais se tivesse nascido como tal. Por isso, volta e meia, me pego cometendo gafes como essa, simplesmente supondo que ele conhece as verdades sobre o mundo paranormal.
    O chefe suspirou, reclinou-se no assento, com sua bebida em mãos, e passou a divagar sobre o seu negócio:
     - Alexander Sprohic hein...? Não posso negar que ele acabou roubando uma enorme quantidade de dinheiro... Pode acabar fazendo falta...
     E mesmo assim, ele nunca chegou a dizer que ele mesmo quem planejou o roubo.
     - Godfrey vai atrasar o pagamento, pois ele está com dificuldades na transação por causa do vereador...
     Ele estava com os olhos na lâmpada no teto. Deixava as frases no ar sem se dar o trabalho de terminá-las. De súbito voltou-se para mim e com entonação visivelmente mais resoluta emendou:
     - Mas isso não diz respeito a você, não é mesmo, Spikey..?
     - Er... Senhor...?
     - Haha! – O chefe bateu amigavelmente na mesa – Brincadeira, Spikey. Brincadeira. Eu vou deixar vocês três fazerem o seu trabalho. Não posso atrapalhar o trabalho dos peritos no assunto, não é mesmo? – Proferiu as últimas palavras demasiado pausadamente – Estou contando com vocês.
     Permaneceu me encarando, não sei se estava esperando eu me despedir ou dar uma resposta.
    Ainda havia algo me incomodando. Embora eu admita que o modo como o chefe se portava sempre me deixava desconcertado, eu não me deixava intimidar por ele ser um humano. Por isso, audaciosamente arrisquei uma última pergunta:
     - Senhor...
     - Pois não?
     - Agora à tarde o senhor nos chamou para conversar sobre esse envelope que havia caído do bolso de um fugitivo, que foi capturado pela polícia especial do DCAE.
     - Sim. E daí?
     - Não pude deixar de ouvir do Boe... Que o senhor havia também comentado com o... Com aquele gor.. Aquele senhor que estava aqui na semana passada...
     - Norman.
     - Isso. O senhor tinha comentado com o Norman... Que o Jeffrey havia sido derrotado com apenas um soco.
     O chefe apenas esperou-me completar meu pensamento.
     - Que mal lhe pergunte... Como fica sabendo tão certo o que se passa no interior do DCAE? Como recebeu informação tão detalhada como pistas encontradas na perícia ou quantidades de golpes trocadas em apreensões?
     Era uma pergunta audaz, mas eu não era do tipo de ficar inibido por um humano. Se eu estava curioso, perguntava. Podia ser o chefe da máfia, mas o máximo que ele ia fazer era não me responder.
    Poderia jurar que suas sobrancelhas se juntaram em uma expressão ligeiramente acirrada. Mas logo ele as transformou com seu afável sorriso:
     - Spikey... Esses são os contatos, meu caro. – Ele levantou-se da mesa após dar o último gole em sua bebida – Afinal, tudo é questão de boa política, sabe? Tudo é questão de boa política...
     Ele me ofereceu um aperto de mão e foi na direção do balcão, onde pôs-se a conversar com o dono do bar, que agora não estava mais tratando nada com o Gary e o Boe.
     Depois disso eu fui tomar uma brisa na área de fora do bar, embaixo do toldo, e lá estava também o Boe, fumando seus favoritos cigarros importados, Lights qualquer coisa.
     - E aí?
     Ele meneou com a cabeça. Puxei um assunto trivial:
     - E a patroa e a criança?
     - Estão em casa. Steve está na escola agora.
     - Ele está com quantos? Quinze você disse?
     - Dezesseis esse ano.
    Ficamos um momento olhando para a rua movimentada, de cima da varanda. O Boe perguntou:
     - E o chefe, Spikey? O que disse o chefe?
     - Como assim?
    O chefe não disse nada em especial, eu imaginei que foi uma pergunta retórica. Mas a entonação estava de uma maneira diferente, como se o Boe estivesse esperando que eu dissesse alguma coisa importante. Eu disse o que veio na minha mente, isto é, o que lembrei da conversa:
     - Ele apenas reforçou que devemos nos concentrar no tal envelope, e não no alien.
     - E também esquecer o irmão do Jeffrey...
     - E também esquecer o irmão do Jeffrey. – Concordei.
    Ele jogou o resto de seu cigarro sacada abaixo e me olhou diretamente pela primeira vez:
     - Ele estava olhando para gente. Ele disse alguma coisa?
     - Como assim?
     - Àquela hora que ele chamou o Alfred... Estava nos olhando com uma cara estranha.
     - É mesmo? Não percebi...
     - Olhe, Spikey... Se você fica muito amiguinho do chefe e nos passa para trás...
    Virei-me para ele com uma expressão insólita.
     - Por que eu faria isso, Boe? Você bem sabe que não quero nada com humanos. Só negócios.
    Houve um silêncio pequeno, por isso resolvi contar a parte em que o chefe me explicou o porquê da prioridade com que escolheu os casos. Resumi para o Boe como ele falou da relação com a polícia, de como ele esperava que o DCAE seria enfático com os verdes caso chamássemos muita atenção, como o chefe definiu que precisávamos usar nosso “talento” com responsabilidade, como o Jeffrey estava errado por ter agido como agiu na terça feira.
    O Boe ouviu tudo calmamente. Então concluiu:
     - Você viu? Isso indica que ele sabe o que tem dentro do envelope, não é?
     - É... Eu também acho isso. Não que o Spikey-Gary-Boe tenha algo a ver com isso, entretanto. Se ele não quiser falar nada sobre isso, então que não fale.
     - Mas Spikey... – O Boe me cutucou com o braço, mudando o tom da voz para um sussurro – Isso confirma o que eu te disse o outro dia, não? Ele sabe tudo o que acontece no DCAE.
    Não tinha como refutar. Eu estava achando que era exagero dele, mas parece que era isso mesmo.
     - O que significa... – Ele terminou a frase com entonação indagativa e reticente, como que esperando que eu a completasse, apontava o indicador na minha direção.
     - Significa o que?
     - Que tem um funcionário verde no DCAE. Não?
     Ele queria dizer: um espião. Um funcionário que trabalhava para os verdes.
     - Pode ser que seja... E daí?
     - E daí? – Ele deu um risinho – O que é isso, Spikey? Seu desinteresse por humanos é tão grande assim? Não gostaria de saber quem é?
    - Como assim..? Você sabe quem é?
    - Eu não. Mas eu gostaria de saber...
    - Por que?
    - Ora. Curiosidade... Esse fuxico de agentes infiltrados não te deixa curioso? Os fuxicos são o luxo da vida marginal alternativa.
    - E por que não pergunta para o chefe?
     O Boe me olhou com descrédito.
     - Nem tudo pode ser conseguido com uma conversa honesta, Spikey. Ainda mais quando se trata do Verde. Vejo que ultimamente Verde parece esconder bastante coisa de nós...
     Naquele momento Gary apareceu na porta e interrompeu-nos com um chamado, encerrando aquele assunto:
     - Amigos!
     Nós saímos do encosto da varanda e fomos na direção dele.
     - Vamos lá? Temos trabalho a fazer.
  • Histórias de Heróis #5

    História 1: Homem-Átomo e A Mulher-Átomo vs. A Criatura do Espaço!
    Um dia retornando de uma missão, o Homem-Átomo relembra a perda de sua falecida esposa Nadia Dixon.
    No passado em sua lua de mel, Edward e Nadia visitaram a Bulgária. Pouco depois de chegar à Bulgária, Nadia é capturada por homens armados e Edward é nocauteado. Em recuperação na Embaixada Pindoranense, Edward é informado do assassinato de sua esposa. Irritado, Edward tenta rastrear os assassinos de sua esposa, mas só acaba na prisão. Ele é libertado por funcionários da Embaixada e mandado para casa. Ele usa isso como inspiração para desenvolver sua fórmula de mudança de tamanho e se tornar o Homem-Átomo.
    Em 2023, Edward Dixon mudou seu laboratório para São Paulo, Edward percebe que não pode continuar sua cruzada contra o crime sozinho e precisa de um parceiro para ajudá-lo em seu trabalho. Ele começa a trabalhar em um novo traje para seu futuro parceiro, mas é interrompido pela chegada de seu amigo de longa data o professor Maarten Van Halen e sua jovem filha, Cristina Van Halen.
    Edward imediatamente percebe que Cristina tem uma notável semelhança com sua falecida esposa, Nadia, mas descarta qualquer atração pela diferença de idade entre os dois ele com 48 anos e ela com 23, enquanto isso, Cristina também descarta qualquer atração por ele, devido ao estereótipo de que os cientistas são indivíduos chatos. Maarten pede a Edward que olhe seu dispositivo Utra Especial, que lhe permitiria fazer contato com outro planeta. Embora Edward ache isso interessante, ele explica a Maarten que sua área de especialização é biologia, não astronomia. Percebendo que Edward não está interessado no projeto, Maarten e sua filha vão embora.
    Mais tarde naquele dia, Maarten tenta usar seu dispositivo e sem querer transporta uma criatura do planeta Jumbo. A criatura afirma que é um criminoso fugitivo. Ele usa seus poderes para matar o Dr. Maarten e depois foge. Cristina escuta um barulho no laboratório de seu pai e vai ate lá para ver, chegando lá ela tropeça no corpo de seu pai. Em pânico, ela liga para Edward e conta o que aconteceu com seu pai.
    Assumindo sua identidade de Homem-Átomo, ele viaja até a casa de Maarten e descobre que ele foi morto por uma arma desconhecida. Ele diz a Cristina para relatar a morte de seu pai ao agente federal Jack Newton, e diz a ela para ir ver Edward Dixon logo depois. De volta ao laboratório, Edward olha as amostra do local da morte do colega e descobre que havia grandes vestígios de uma forma alienígena de ácido fórmico na casa de Maarten.
    Cristina chega ao laboratório, onde Edward revela a ela sua identidade como Homem-Átomo e pede que ela se torne sua companheira Cristina aceita e ela recebe o traje. Como Homem-Átomo e Mulher-Átomo, a dupla chega ao local onde o alienígena está atacando. Mesmo com a ajuda dos militares e do exército de insetos robôs do Homem-Átomo, eles são incapazes de impedir a violência do monstro.
    Percebendo o que deve fazer, os dois retornam à base, onde Edward desenvolve um composto para neutralizar o alienígena. Ele então coloca o composto em cartuchos de espingarda e com a ajuda de Cristina consegue dispersar a criatura atirando nela uma série de cartuchos do composto.
    Com o monstro derrotado, o Homem-Átomo e a Mulher-Átomo voltam para casa, onde Edward liga para o agente Jack para dizer que a ameaça acabou. Quando Jack pede para ser parceiro do Homem-Átomo, ele recusa, dizendo ao agente que já tem uma parceira. Cristina pensa consigo mesma que certamente em breve fará com que ele se apaixone por ela e ficará com ele para que isso aconteça.
    História 2: Uma Nova Esperança
    Em um futuro distante, a Terra 480 estava devastada por anos de guerras e desastres naturais. As cidades estavam em ruínas, a natureza estava quase extinta e a população vivia sob o controle de um governo opressor.
    Nesse cenário sombrio, surge um herói chamado Alex. Alex era um jovem corajoso e determinado, com habilidades especiais que ele descobriu ao longo de sua jornada. Ele possuía a capacidade de se comunicar com máquinas e controlar tecnologia avançada com sua mente.
    Ao perceber o sofrimento de seu povo e a opressão que dominava a Terra, Alex decidiu usar seus poderes para lutar contra o mal que assolava o mundo. Ele se tornou uma esperança para os oprimidos, liderando rebeliões contra o governo corrupto e defendendo os mais vulneráveis dos ataques das máquinas controladas pelos vilões.
    Com sua coragem, inteligência e poderes únicos, Alex conseguiu unir as pessoas em torno de uma causa comum; a busca por liberdade e justiça. Ele enfrentou inúmeros desafios, colocando sua vida em risco para proteger aqueles que não podiam se proteger.
    No final, graças à determinação e sacrifícios de Alex, a Terra finalmente viu a luz no fim do túnel. O mal foi derrotado, a paz foi restaurada e a esperança renasceu nos corações daqueles que antes viviam no desespero.
    E assim, Alex se tornou não apenas um herói com poderes extraordinários, mas também um símbolo de coragem, bondade e perseverança para as gerações futuras.
    História 3: Aridus
    Em uma galáxia muito, muito distante, em um planeta desértico chamado Aridus, o povo vivia sob a opressão de um grupo cruel que escravizava todos aqueles que não se curvavam às suas vontades. As areias escaldantes e os ventos cortantes eram testemunhas silenciosas do sofrimento da população.
    Neste cenário sombrio, surge um herói destemido chamado Kellan. Kellan era um guerreiro solitário, conhecido por sua destreza em combate e por sua compaixão pelo seu povo. Ele possuía uma habilidade única de controlar a própria areia do deserto, usando-a como arma contra seus inimigos.
    Determinado a libertar seu povo da escravidão, Kellan iniciou uma jornada perigosa para enfrentar os opressores. Ele se infiltrou nas fileiras do grupo tirano, ganhando a confiança deles enquanto secretamente organizava a resistência entre os oprimidos.
    Com coragem e astúcia, Kellan liderou rebeliões e sabotagens contra os opressores, enfraquecendo seu domínio sobre o planeta desértico. Sua habilidade de controlar a areia se mostrou uma arma poderosa, capaz de surpreender e derrotar até os mais poderosos adversários.
    À medida que a resistência crescia, Kellan se tornava um símbolo de esperança para seu povo. Sua determinação e sacrifícios inspiraram outros a se levantarem contra a injustiça e a crueldade que assolavam Aridus.
    Finalmente, após muitas batalhas e desafios, Kellan e seus aliados conseguiram derrotar os opressores e libertar o planeta do jugo da escravidão. O povo de Aridus celebrou sua liberdade e reconheceu Kellan como o herói que os libertou das correntes da tirania.

    Calendário abril
    O Fantástico Homem-Atômico #3 dia 3
    O Incrível Esmagador #4 dia 3
    Jornada de Heróis #4 dia 10
    Histórias Espetaculares #4 dia 10
    Contos de Heróis #5 dia 17
    Os Quatro #6 dia 17
    Histórias de Heróis #6 dia 24
     
     
     
     
     
     
     
  • Histórias de Heróis #7

    História 1: Homem-Átomo e A Mulher-Átomo Em, O Ataque do Ser Mitológico!
    Com uma pausa no crime, Edward Dixon e Cristina Van Halen decidem tirar férias. Viajando para a Itália, eles ouvem histórias de um monstro gigante que estaria roubando navios do mar, devido a isso eles não conseguem alguém para levá-los para um passeio de barco. No entanto, mais tarde um homem lhes alugou um barco. Assumindo os disfarces de Homem-Átomo e Mulher-Átomo, os dois heróis buscam desvendar o mistério desse aparente ser mitológico.
    Enquanto estão no mar, eles são atacados pelo que parece ser um gigante marinho. Encolhendo-se ao tamanho de uma formiga para não serem notados pela criatura gigante, os heróis permitem que o monstro capture seu barco. O monstro os leva para uma ilha onde eles descobrem que todas as pessoas desaparecidas estão sendo mantidas em cativeiro pelo monstro.
    Ao explorarem a ilha, eles descobrem que alienígenas estão planejando dominar a Terra e que capturaram as pessoas para estudá-las. Eles também descobrem que o monstro é na verdade um robô criado pelos alienígenas para capturar as pessoas. Os alienígenas, conhecidos como Dikens, supõem que a raça humana é inferior a eles e, portanto, será fácil conquistarem a Terra. Os invasores ordenam que monstro destroem os Humanos da ilha.
    A Mulher-Átomo corre para libertar as pessoas presas enquanto que o Homem-Átomo tenta encontrar uma maneira de deter o monstro. Entrando em seus mecanismos pela boca do robô, o Homem-Átomo percebe que pode controlar o monstro ajustando a frequência de seu capacete. Ele então usa o monstro para assustar os alienígenas, fazendo-os acreditar que os humanos são mais poderosos do que pensavam originalmente.
    Com os alienígenas fugindo e os reféns livres, o Homem-Átomo ordena que o monstro caminhe até o fundo do oceano para se perder no mar para sempre. O Homem-Átomo e a Mulher-Átomo retornam ao continente, onde aproveitam as férias por alguns dias antes de voltarem para casa.
    História 2: Sgt. Wilson e Os Invencíveis
    Parte 1
    Em 1991 a República Khruschev invade a ilha de King Jones território de Pindorama, uma guerra se estendeu ao longo da década.
    No auge da guerra em 1995, Gustavo Kilguer, um agente da Resistência de Pindoramana, envia uma mensagem de rádio aos comandos. Ele consegue terminar a mensagem antes que o exército de Khruschev o prende junto com seus homens. Em Pindorama, o Tenente Henry Field recebe ordens: enviar seus melhores homens para trás das linhas inimigas para resgatar Kilguer e seus homens, Field envia o Sargento Nick Wilson para reunir o Esquadrão de Ataque Os Invencíveis. Naquela noite, o esquadrão segue para Khruschev a bordo de um avião de transporte. Os caças de Khruschev atacam e danificam o avião; o piloto avisa Wilson que eles podem não chegar ao ponto de lançamento.
    Equipe Os Invencíveis
    Os Invencíveis é a equipe de elite principal de Pindorama, criada em 1945 durante a segunda guerra mundial, muitos soldados fizeram parte da equipe inclusive o maior super-herói de do país, o Capitão Pindorama.
    Durante a Guerra contra Khruschev a equipe teve a seguinte formação.
    Sgt. Nicholas Wilson
    Cabo Tony Ibanez
    Soldado Steve Gibson
    Soldado Bruce Fender
    Soldado Clint Dean
    Soldado Peter Jackson
    Agente Scott Charvel
    Parte 2
    Sete Contra Khruschev
    O esquadrão de Wilson chega a uma cidade e testemunha a soldados de Pindorama explodir um posto de comando inimigo. Quando o comandante de Khruschev ordena que tanques ataquem os inimigos em retaliação, Wilson salta para o tanque líder, atira na janela e lança uma granada. A explosão o joga para fora do tanque e o fere. Tony e Steve o arrastam para um beco. Bruce, Clint, Peter e Scott entram em uma casa, preparam um ataque contra um tanque. Um esquadrão de soldados vai atrás deles, mas são presos pela Resistência. Os combatentes de Pindorama oferecem-se para levar os Invencíveis até o seu líder, mas primeiro têm que resgatar os aldeões. Tony, encontra os inimigos se preparando para executar seus reféns. Ele pega uma metralhadora de um soldado e começa a atirar. Os outros soldados acabam com os inimigos.
    Em seguida eles partem para uma cidade chamada Kishov para resgatar Kilguer e seus homens. Um dos combatentes da Resistência, vai com eles. Na fortaleza de Kishov, o General Lian Gushievan ainda não convenceu Kilguer a falar; O oficial de Lian chega e diz a Kilguer que eles estão com sua filha e o deixa ouvir a voz dela pelo telefone.
    Um velho fazendeiro leva os Invencíveis para Kishov em seu furgão. Eles explodem o arsenal para criar uma distração e entrar na fortaleza. Peter e Bruce ficam na entrada para impedir a entrada dos soldados inimigos. Os outros tentam atravessar o pátio, mas uma metralhadora abre fogo. Tony sobe algumas escadas para atirar no artilheiro, mas um esquadrão o captura. Wilson rasteja pelo quintal com um pacote de dinamite e o joga, mas fica preso sob uma parede que desaba. Steve e Scott continuam, mas um soldado com um lança-chamas os convence a se render.
    Os inimigos se preparam para executar os Invencíveis no pátio. O oficial de Lian ameaça novamente a filha de Kilguer. De repente ele cai, baleado pelo Sargento Wilson! Os Invencíveis acabam rapidamente com os outros soldados. Tudo o que precisam era de uma forma de chegar dentro da fortaleza. Lian foge com seu comandado, eles se encontram com um general de Khruschev. Kilguer e seus homens se juntam aos Invencíveis para reforçar a Resistência, Wilson da a notícia para Kilguer que sua família está bem.
    Em Setembro de 1995 Pindorama e Khruschev decidem por fim na guerra, mas um acordo de paz nunca foi feito entre as duas nações.
    Próxima História
    Don Valente, O Garoto de Alvorada #1 dia 29
    Jornada Pela Via Láctea #1 dia 29
  • Histórias Espetaculares #6

    Primeira História: Atacado Pelo Arraia
    A popularidade do Homem de Gelo diminuiu devido as notícias negativas feitas pelo blogueiro e influenciador digital Bred Tompson que têm virado a opinião pública contra Ross.
    Quando um novo vilão conhecido como Arraia rouba o Projeto Sentinela um projeto secreto de uma indústria do governo, Homem de Gelo com a ajuda de Gunter M. Flay, o inventor do dispositivo vai atrás do Arraia. Quando o aparelho corre risco de explosão, Homem de Gelo tenta convencer Arraia a entregar o aparelho. Arraia não acredita nele e continua sua fuga.
    Homem de Gelo é forçado a usar seus poderes para derrubar o helicóptero do Arraia e combatê-lo no chão. Homem de Gelo consegue capturar o Projeto Sentinela, deixando Arraia com as autoridades. Ross descobre que o Projeto Sentinela é uma bateria atômica em miniatura prestes a explodir, ele leva a bomba para um local seguro onde ela detona. Homem de Gelo cria uma grossa camada de gelo para segurar a explosão, ele consegue, mas fica gravemente ferido, ele é levado até o edifício Chester onde Chandler usa um dispositivo para curar Ross.
    Depois que Ross se recupera, Brad retira todas as suas declarações negativas sobre homem de Gelo e o declara um herói.
    Segunda História: A Resistência!
    Era o ano de 2050, na Terra 4592 e o mundo estava sob o domínio de um grupo conhecido como "A Ordem de Titânia". Liderados por um líder carismático e autoritário, eles impuseram sua vontade sobre todas as nações, governando com punho de ferro e tecnologias avançadas. A população vivia sob constante vigilância, sem liberdade de expressão e sem esperança de mudança.
    No entanto, em meio à opressão, começou a surgir um movimento de resistência. Um grupo corajoso de indivíduos determinados a lutar pela liberdade e justiça, conhecidos como "Os Renegados". Eles eram compostos por pessoas de diferentes origens e habilidades, unidas pelo desejo comum de derrubar A Ordem de Titânia e restaurar a paz na Terra.
    Os Renegados usavam táticas de guerrilha e tecnologias clandestinas para minar o controle da Ordem. Eles espalhavam mensagens secretas, sabotavam as operações do inimigo e recrutavam novos membros para sua causa. Enquanto isso, a Ordem de Titânia tentava reprimir a resistência com mão pesada, mas os Renegados eram persistentes e determinados.
    À medida que a luta se intensificava, os Renegados começaram a ganhar apoio da população oprimida. Pessoas que antes viviam com medo agora encontravam coragem para se juntar à causa da resistência. As cidades se tornaram palcos de confrontos entre os Renegados e as forças da Ordem, mas a esperança pela liberdade continuava a crescer.
    Finalmente, após anos de conflito, os Renegados conseguiram desestabilizar o controle da Ordem de Titânia. Com a ajuda de aliados inesperados dentro do próprio sistema da Ordem, eles lançaram um ataque final contra o quartel-general do grupo dominante. Em uma batalha épica, os Renegados emergiram vitoriosos.
    Com a queda da Ordem de Titânia, um novo capítulo começou para a humanidade. Os Renegados lideraram o processo de reconstrução, estabelecendo um governo baseado na liberdade, igualdade e justiça para todos. A Terra finalmente experimentou uma era de paz e prosperidade, graças à coragem e determinação do grupo de resistência que se recusou a aceitar a opressão como destino.
    Terceira História: Correndo Atrás do Sonho!
    Era uma vez uma garota chamada Sofia, que desde muito jovem sonhava em se tornar uma cantora famosa. Ela cresceu em uma pequena cidade, onde sua paixão pela música era alimentada pelas canções que ouvia no rádio e pelos shows locais que frequentava com a família.
    Sofia sabia que seu destino estava além dos limites de sua cidade natal, então, assim que completou 18 anos, decidiu se mudar para São Paulo em busca de oportunidades para realizar seu sonho. Com coragem e determinação, ela trabalhou duro como garçonete durante o dia e frequentava audições e aulas de canto à noite.
    Apesar das dificuldades e da rejeição inicial, Sofia nunca desistiu. Ela continuou aperfeiçoando sua técnica vocal, compondo suas próprias músicas e buscando maneiras de se destacar na indústria musical. Sua persistência começou a render frutos quando foi descoberta por um produtor local durante uma apresentação em um bar.
    A partir daí, Sofia começou a fazer pequenos shows em casas noturnas e festivais locais, conquistando gradualmente uma base de fãs dedicada. Seu talento e carisma chamaram a atenção de um empresário influente, que a ajudou a conseguir um contrato com uma gravadora importante.
    Com o apoio da gravadora, Sofia lançou seu primeiro álbum e logo se viu subindo nas paradas de sucesso. Sua música tocava nas rádios, seus videoclipes eram viralizados na internet e ela finalmente estava vivendo o sonho que tanto almejava. Ela viajou pelo mundo em turnê, encantando plateias com sua voz poderosa e suas letras emocionantes.
    No entanto, mesmo com o sucesso, Sofia nunca esqueceu suas origens humildes e sempre se esforçou para inspirar outros jovens artistas a perseguirem seus sonhos. Ela fundou uma fundação para apoiar talentos emergentes e tornou-se um símbolo de esperança para aqueles que desejavam seguir carreira na música.
    Sofia provou que com determinação, talento e trabalho árduo, é possível transformar os sonhos em realidade. Sua jornada inspirou inúmeras pessoas ao redor do mundo a perseguirem suas paixões e nunca desistirem, independentemente dos desafios que possam surgir no caminho.
    Em julho estreia duas novas histórias, duas grandes equipes de super heróis surgem.
    Apresentando
    Os Salvadores
    Com os heróis já conhecidos de outras histórias.
    John Evans, Vigilante de Ferro. O homem mais inteligente do mundo.
    Edward Dixon e Cristina Van Halen, Homem-Átomo e a Mulher-Átomo. Os heróis de Santa Clara.
    Chris Johnson, O Esmagador. O monstro que adora esmagar.
    Gregory Smith, Titã. O deus nosgardiano.
    Juntos eles enfrentarão a grande ameaça de Japeto o deus da mentira e da trapaça.
    Equipe M
    Uma equipe de heróis adolescentes criada pelo professor Abraham Mateo.
    Patrick Shephard, Super Nova. Destemido e leal possui os poderes de soltar uma grande rajada de energia pelo corpo.
    Julia Michelle, Garota Merveille. A única garota da equipe,  possui poderes telecineticos.
    Rafael Algo, Rapina, O mais novo do grupo, possui grandes asas de rapina.
    Carl Ford, Besta, inteligente e ágil. Suas habilidades consiste em uma agilidade e inteligência sobre humana.
    Miguel Rodrigues, Tocha, o sonhador. Seus poderes são, manipulação e criação de fogo e pode se transformar e manipular fogo, além de poder voar na forma de fogo.
  • Histórias Espetaculares #7

    Primeira História: Prisioneiro da Dimensão de Goia!
    Quando casas recém-construídas na área sul de São Paulo afundam, Chandler Jones envia Ross para investigar. O que Ross encontra é alguém da Dimensão de Goia, que esteve envolvido nesses incidentes. Quando Ross descobre a verdade, ele é imediatamente transportado para a Dimensão de Goia.
    Na Dimensão de Goia, Ross é levado diante de Goia, um ditador que governa a dimensão e planeja dominar a Terra, Ross descobre que a área onde as casas estavam é onde os portais aparecem. Colocado em uma prisão de fogo para evitar seus poderes de gelo, Ross é libertado por Nera, filha de Kank, que era o governante antes de derrubar seu governo.
    Com a ajuda de Homem de Gelo, o povo da Dimensão de Goia consegue derrubar Goia e retomar seu reino. Depois que Ross volta para casa, ele tem dificuldade para se concentrar no estudo pensando em Nera.
    Segunda História: O Mágico e o Wend Silver!
    Depois de uma sessão de treinamento, o Homem de Gelo repassa seu álbum de aventuras passadas e relembra suas batalhas anteriores contra o Mágico e o Wend Silver, perguntando-se o que seus antigos inimigos estão fazendo hoje. Coincidentemente, naquele exato momento Wend Silver está ocupado tirando o Mágico da prisão para que os dois possam juntos derrotar seu inimigo em comum.
    Usando o traje que imita os poderes do Homem de Gelo, os dois começam a cometer crimes que fariam com que a imprensa acusasse o Homem de Gelo e ser um espião. No entanto, quando Homem de Gelo prepara uma armadilha para atrair os dois bandidos para tentar roubar um dos homens mais ricos do mundo, Homem de Gelo é capturado e colocado em um gigantesco salão de espelhos por seus inimigos. Homem de Gelo, entretanto, usa seus poderes de gelo para se libertar e consegue capturar os dois bandidos e entregá-los à polícia.
    Terceira História: Aventuras no Oeste, parte 1
    Em 1876 durante o período de povoação do Oeste Pindoranese acontece um encontro fatídico entre dois ladrões mesquinhos, Bart Verbruggen e Leonard Bing.
    Bart e Leonard se conheceram em uma fogueira na estrada para River of Silver. Leonard tentou enganar e roubar Bart, mas percebeu que Bart tinha feito o mesmo e roubado dele ao mesmo tempo. Os dois viram a habilidade um do outro e riram, decidindo se unir e enfrentar o futuro juntos. Assim, a gangue Verbruggen foi fundada.
    Na mesma época, Leonard conheceu uma mulher chamada Molly, que mais tarde se tornaria sua esposa.
    Bart convenceu Leonard, que se descreveu como um “degenerado”, de que eles poderiam encontrar a redenção de suas vidas pecaminosas roubando dos ricos e dando aos pobres, semelhante ao conto medieval de Robin Hood. Bart tinham uma visão anarquista de um mundo sem governo ou interferência corporativa, uma “utopia selvagem” livre das pressões e da intolerância da civilização. Ele se via como um revolucionário, e pensava que a gangue poderia ser um exemplo para outros que poderiam seguir seu exemplo. Eles começaram a enganar e roubar as pessoas que eles acreditavam que mais mereciam.
    A dupla se encontrou na cidade de Forestgim, onde começaram a enganar várias pessoas. Eles se passaram por comerciantes internacionais, convencendo doze locais a comprar 300 Lbp em ações de uma empresa de navegação espanhola fictícia.
    Eles foram descobertos e presos pelo xerife Michal mais tarde.
    Depois de serem presos, em 10 de Julho 1877, a dupla escapou de sua cela , amarrando e roubando o xerife no processo.
    Mais tarde, naquele ano, a dupla se deparou com um órfão de quatorze anos chamado Paul Murray. Ele era uma criança rebelde e eles decidiram colocá-lo sob sua proteção, ensinando-o a ler, escrever, atirar e outras habilidades úteis.
    Próximas Histórias
    Contos de Heróis #8 dia 17
    Os Quatro #9 dia 17
    Histórias de Heróis #9 dia 24
    Don Valente, O Garoto de Alvorada #2 dia 31
    Jornada Pela Via Láctea #3 dia 31
  • Humanos - A Retomada (cap.1)

    humanos copia

          Por anos, foi discutida as reais chances de existir vida fora do nosso planeta. Os flagras registrados nunca nos pareceram o suficiente para que pudéssemos acreditar, de fato, na existência alienígena. Talvez, o que chamávamos de tecnologia, não apenas havia nos levado para um rumo diferente, mas também nos cegado, pois nos tornamos incapazes de discernir com clareza o que estava acontecendo a nossa volta. E junto com o passar dos séculos, como uma lenda que tornara-se apenas um leve sussurro, os rumores de vida alienígena foram sendo esquecidos, reduzidos a conto de fadas. Como é de nossa natureza, seguimos dissecando o planeta Terra, usufruindo de todos o seus recursos e sem que percebêssemos, ele estava próximo a dar seu último suspiro. Então, como muito havia se falado a dez vezes cem séculos atrás, eles surgiram.

         Os mais velhos contam velhas histórias sobre brechas que simplesmente abriram-se no ar e as figuras nasceram dali; pavorosas e estranhas, munidas de armas nunca antes vistas e determinadas com sua invasão. Sem que pudessem entender o que estava havendo, objetos com formas diversas surgiram no céu e desceram para dar início ao que alguns chamam hoje de Recolonização. Ouvi dizer também sobre a existência dos grupos extintos que uniram-se para impedir o avanço dos invasores, mas que não resistiram por muito tempo. Grupos esses, que até hoje especula-se ainda existirem, mas nunca passou de um mero boato... As tais Nações. “Fomos dominados!” Assim conta um senhor: “... Não houve escapatória!” Mulheres, homens, crianças, negros e brancos... Todos subjugados como animais e tomados como objeto. Hoje, o planeta Terra não passa de uma grande fazenda, onde nós, humanos, somos identificados por um carimbo micro localizador que nós é dado quando nascemos. Sem nome, somos reconhecidos como Servidores, vivendo em imensos pavilhões conhecidos como Estábulos e existindo única e exclusivamente para suprir as necessidades de nossos colonizadores.

          — Esse velho sempre com essa conversa! – disse o rapaz na fila ao meu lado esquerdo esperando para receber sua higienização. — Nações, diz ele! – soltou um suspiro menosprezando o assunto. — Provavelmente essa coisa nunca existiu! Quem já ouviu falar disso?!

          — Pois, está enganado! – defendeu-se o senhor. — Elas existiram e foram a nossa última chance! – deu uma breve pausa. — E talvez ainda sejam...

         — Acho que está trabalhando demais nos campos, velho! – o outro ainda zombando jogou contra ouvindo a risada contida dos demais. — Eu nasci Servidor, assim como meus pais e meus avós e assim sempre foi até antes deles. – breve pausa. — Isso tudo o que você diz é coisa de sua cabeça... Devaneios por causa da idade! – finalizou antes de adiantar-se e entrar na câmara transparente que logo foi preenchida por vapor onde ele desapareceu.

          Por um instante eu fiquei vago, longe, então ouviu o velho dirigir-se a mim novamente perguntando, na verdade quase afirmando que eu concordava com o Servido que ainda banhava-se na cabine. Eu dei de ombros. A verdade é que para mim pouco importava o que havia acontecido séculos atrás. A única coisa que realmente havia de importante estava a minha frente, meu filho, o que restara de minha falecida companheira.

          — Bons tempos deviam ser aqueles. – o senhor soltou esperando que a câmara a sua frente também abrisse. — Bons tempos. – repetiu. — Já imaginou você poder ter um nome, filho? – agora falava com meu garoto que o olhava curioso. — Maravilhosos, não? – sorriu e então entrou no lavabo a sua frente e também sumiu nu no vapor.

          Meu filho, intrigado com a conversa do senhor questionou-me se aqueles fatos seriam realmente verdade. Os demais, calados, esperando também por sua vez, faziam-se passivos à conversa, mas atentos à resposta. Eu respondi que se aquilo realmente aconteceu, já não faria diferença, e que o que importava de verdade é que estávamos juntos e nada mudaria isso. Dito isso, a passagem abriu-se para que fizéssemos também a nossa higienização.

    “Essa madrugada acordei de um pesadelo. Havia fogo e sangue. Não entendi exatamente o que estava acontecendo, mas fiquei aliviado por ter sido apenas um sonho. Acho que as conversas daquele velho Servidor estão me afetando mais do que eu poderia ter imaginado. Preciso me acalma!. Não seria nada bom que meu filho me visse desse jeito. Sou tudo o que ele tem e não posso me deixar levar por histórias sem fundamento.”

          Antes que a corneta desse seu primeiro toque, eu já estava acordado. Meu filho dormia tranquilamente, mas já era hora de ir para os campos. Como percebi que ele não acordou resolvi despertá-lo antes que viessem intervir. Aos poucos foi abrindo os olhos, mas precisei apressá-lo, pois, ouvi passos se aproximando. Logo em seguida surgiu um Feitor, tão obscuro quanto qualquer outro.

          Por serem responsáveis por nossa vigilância, nós os chamamos de Capatazes e desde que me lembro, não houve se quer, um só Servidor que  conseguiu escapar de sua atenção. Todos os que tentaram coloca-los à prova, não voltaram para o Estábulo.

          Esse, agora em frente a nossa tenda, possuía, como a maioria deles, o rosto animalesco, negro e encoberto por uma espécie de elmo. Trazia com sigo, também, um bastão o qual apontou para dentro de nossa tenta. Rapidamente puxei meu filho para perto de mim e o vigilante manteve-se ereto observando o nosso dormitório. Tive certeza de que não era só apenas impressão minha, ele estava a procura de alguém. Então, repentinamente ele afastou-se e seguiu em frente. Respirei aliviado, e surpreso, percebi que meu filho parecia absurdamente tranquilo.

          — Todo bem? – perguntei buscando uma reação dele, mas nada me disse.

          Logo, ouvimos claramente junto com a confusão que cresceu instantaneamente os berros de um grande número de Servidores. “Coletores! Coletores!”. Meu filho, então, deixou transparecer seu desespero abraçando-se em mim com força. A nossa frente, surgiu como um fantasma pálido envolto por seu manto ainda mais branco, um Coletor e suas Lentes.

          — Não são pra você! – lhe garanti. — Não são! – eu repeti, mas dessa vez para que eu mesmo acreditasse.

          Levei meu filho para o fundo da tenda e o encobri novamente e me sentei o mantendo seguro junto a mim, mas isso não impediu que ele ouvisse os gritos, berros de uma Servidora que, em desespero, não conseguia impedir que levassem sua filha. Seu companheiro, tentando interferir, acabou sendo contido violentamente pelas Lentes.

          — Não são pra você! – voltei a dizer para meu filho. — Não vieram por sua causa. – tentei acalmá-lo.

          — Mas eles virão! – ele respondeu tremendo.

          — Não! Não irão... Só tenho você! – expliquei.

         O sistema de controle populacional é o que garante a ordem nos Estábulos. Quando um casal alcança o numero dois de Servidores-filhos, o mais velho é retirado deles. Eu mesmo quando era garoto, presenciei o momento em que vieram buscar meu irmão mais velho. E assim como meus pais, optei, junto com minha falecida companheira, que evitaríamos ter mais do que um Servidor. Nunca me perguntei para onde são levados. A verdade é sempre evitei especular essa pergunta, muitos de nós sabe que ela tira o sono. “Mas e se vierem?”. Meu filho ainda insistiu. A verdade é que me vi engasgado ao aceitar aquela ideia, mas a verdade era uma só. Eu mataria quem tentasse.

    Confira também.... Meu querido Manequim!
  • Imperialismo e misologia em One Piece

    Quando todos acreditavam que as histórias de piratas estavam foras de moda, Eichiro Oda mostrou que só os artistas que ousam promovem a inovação. Publicado no ano de 1997, One Piece se tornou a franquia de mangá mais rentável do mundo. A Shonen Jump só teve o que comemorar. Por mais de duas décadas, a obra mostrou números surpreendentes, se dando o luxo de quebrar alguns recordes no caminho. Mas o fator de maior sucesso nesse shonen é a sua construção de mundo.
              O mangá tem fonte para ótimas análises de representações históricas e culturais. O próprio universo da história nos indica algumas das influências do mangaká nesse sentido. No planeta onde ocorre a narrativa — ele todo uma imensidão de água —  se resume a ilhas e arquipélagos. O único continente existente é uma cordilheira chamada Red Line. Ela divide o mundo servindo como meridiano natural. Numa geografia dessas, seria impossível a Marinha não se fortalecer e a pirataria não se tornar uma prática comum. Um mundo muito parecido com o Japão, um arquipélago com mais de cinco mil ilhas. Foi necessário um grande processo histórico e político para que os milhares de feudos rivais se tornassem um império unificado, e potência imperialista asiática.
              É justamente na Red Line onde fica a capital do Governo Mundial, Mary Geoise. Portal de acesso direto ao Novo Mundo, onde só sujeitos com permissão explícita podem chegar. A estrutura governamental de One Piece se assemelha a uma oligarquia, ao mesmo tempo em que a sociedade é dividida em castas. São cerca de dezoito famílias nobres residindo lá, das vinte famílias fundadoras do Governo Mundial, sendo que uma delas se negou a ir para a capital e outra foi exilada.
              A nobreza mundial, os Tenryuubitou (dragões celestiais) são os personagens mais misteriosos e mais controversos da trama. A sociedade como um todo se resume em dois termos: aqueles que servem e os que são servidos. Os Tenryuubitou sãos estes últimos. Abusam enormemente de seu poder econômico e influência política. Tanto é que essas pessoas, ao andar junto aos plebeus, usam uma roupa semelhante a um traje de astronauta, com direito a um capacete e respirador acoplado. Isso enfatiza o não pertencimento desse grupo as classes subalternas, mas que mesmo assim está no topo da pirâmide social. Os Tenryuubitou equivaleriam em nosso mundo aos estrangeiros coloniais, exóticos e arrogantes, cruéis muitas vezes. Alimentam todo um sistema de opressão mundial para usufruir dos ganhos imperialistas através da invasão e colonização de reinos menores.
              Essa classe dominante tem um grupo confiável para lidar com o poder. Eles são o Gorosei. Esse quinteto de idosos tenta usar sua experiência para dar rumo a todo o planeta. Controlam o mundo de One Piece com mãos de ferros. O Estado é extremamente hierárquico, tanto no sentido social quanto institucional, militarizado no todo. Para esse exercício de controle, contam com a Marinha. O braço armado do Governo Mundial é uma das instituições mais violentas que existe. É através da dela que grupos étnico-raciais sofrem genocídios, nações recebem severas retaliações, civis morrem em ações truculentas — vide os atos das polícias secretas Ciphers Pol. As autoridades cometem crimes tão ou mais horrendos que aqueles praticados por seus inimigos naturais: os piratas.
              A pirataria, assim como outras formas de banditismo, nasce a partir de uma sociedade estruturada em desigualdades, racismo, monopólio e exploração da mão de obra escrava, sim, esse último quesito é tratado muito bem pelo autor. Nada escapa a ótica de Oda. Os piratas, longe de serem heróis, roubam e pilham. Porém, muitos o fazem mais como uma forma alternativa de existência que por algum tipo de prazer mórbido. Muitos desses piratas são poderosos, como os Yonkou, os quatro maiores da pirataria. Aglutinando tripulações menores, formam frota — exércitos particulares que oferecem grande risco a estabilidade do Estado.
              Como estabilizadores de um mundo cada vez mais pressionado pela bipolarização entre Marinha e pirataria, o Governo Mundial oferece um acordo há alguns deles. Um grupo de sete piratas é escolhido para atuar como corsários, os Shichibukai. Esses “piratas estatais” atuam ambiguamente, mas cumprem seu papel de ser mais um desafio aos piratas. Assim surge os Três Grandes Poderes.
              É nessa instabilidade que a tripulação dos Chapéus de Palhas se tornam um perigo iminente. Não apenas pelo poder que Monkey D. Luffy vem acumulando em sua jornada, mas por manter em sua tripulação Nico Robin. Essa mulher, diferente de seus outros companheiros, não era uma lutadora nata — embora seja uma guerreira por ter sobrevivido durante todos esses anos da perseguição política —, é uma arqueóloga. É a última sobrevivente do Buster Call na ilha de Ohara — um extermínio promovido pela Marinha, assegurando que os inimigos do Estado fossem dizimados. Sobrevivendo milagrosamente, Robin decide continuar a estudar a “verdadeira história”.
              A “história oficial” do Estado, escrita pelo Governo Mundial, é uma farsa para validar a hegemonia das classes dominantes, coibir a autonomia de povos, garantir os regimes de opressão vigentes e incriminar os seus opositores. Primeiro, se opera o apagamento dos fatos históricos, é impossível saber com exatidão qualquer coisa em período anterior a instalação do Governo Mundial e qual foi o seu processo, objetivamente falando; depois, o silenciamento dos profissionais de História — vide o assassinato dos arqueólogos e a destruição das fontes históricas em Ohara. História se tornou um tabu. Isso provoca medo e uma ojeriza às ciências humanas, ao estudo da História e saberes correlatos. Assim se garante um passado comum, homogeneizador, que sublima a diferença. Uma tradição inventada, porém, legitimada pela narrativa histórica estatal. O papel de Nico Robin nessa história é trazer lucidez à um mundo coberto pelo véu da ignorância. Que ela obtenha sucesso em seus objetivos.
  • Janela

    Há pelo menos uma coisa que todos os humanos, sem distinções, fazem com frequência: dormir. Isso é algo bom, saudável e almejado, principalmente depois de um dia longo de trabalho. Entretanto, tudo isso tem um problema. Afinal, como saber como é não estar dormindo?
    A maioria das pessoas acredita saber quando está acordada por simplesmente terem nascido sabendo. Há aqueles que acreditam inclusive que conseguem controlar o sonho, então, se não podem controlar outra realidade, logo não é um sonho. Entretanto, não pode ser possível que a pessoa esteja em um sono tão pesado que ela simplesmente tenha perdido o controle sobre o seu subconsciente?
    João não pensava muito nessas possibilidades. É claro, já estava dormindo menos de três horas pelo quarto dia seguido quando finalmente terminou o seu projeto para a faculdade, então não pensava em muitas coisas fora isso. Não se lembrava ao certo de como acordou, se passou desodorante ou se escovou os dentes, mas isso era normal já que essas eram somente partes corriqueiras do dia e não estavam incluídas na ação do cotidiano. Uma ação que era monótona, mas que movimentava intensamente os seus sentimentos e causava tanta agonia em certos momentos que chegava a se assemelhar a um pesadelo.
    Assim que enviou o arquivo com o seu trabalho para o e-mail do professor, foi dormir. Não queria pensar em mais nada por umas doze horas seguidas e, por isso, somente se jogou na cama, se cobriu com um cobertor que não estava cheirando tão bem e fechou os olhos. Não precisou se dar ao trabalho nem de relaxar os músculos ou ficar pensando em algo para pegar no sono, simplesmente dormiu.
    Quando acordou, não se lembrava de ter sonhado algo. Tudo ao seu redor estava escuro, mas estava sonolento demais para se importar. Ele estava se sentindo bem mais relaxado e totalmente renovado, embora ainda sentisse a preguiça de ter acabado de acordar. No momento exato em que se levantou, todas as luzes acenderam. Não estava mais no quarto em que foi dormir, mas em uma cabine com paredes totalmente brancas. Não havia portas ou janelas, somente as quatro paredes que o confinavam em um espaço minúsculo. A sua respiração se encurtou com o medo e começou a pensar rapidamente nas possibilidades da causa de estar onde estava. Pensou desde abdução até um teste ilegal do governo e só depois disso pensou na possibilidade de ser um sonho. Essa era a resposta, tinha que ser isso. Mas, ao pensar mais um pouco, não parecia ser um sonho. Afinal, tudo parecia real demais, tanto que sentia a textura lisa e macia das paredes ao tocá-las.
    Não conseguia entender nada com total certeza e isso o frustrava. Com os olhos cheios de lágrimas que se recusavam a descer, ficou rodando o minúsculo lugar em que se encontrava para tentar solucionar o maldito quebra-cabeças em que estava. Quanto mais rodava, mais se esquecia dos detalhes daquela realidade que julgava ser a real. Toda a sua família, embora conseguisse ver com clareza o rosto de todos, parecia ser uma lembrança distante e quase tudo que pensava saber sobre eles não parecia totalmente certo. Sobre o seu irmão mais novo, por exemplo, ele se lembrava de ter ido na formatura dele da faculdade, mas agora, por algum motivo, sentia que ele era muito mais novo do que isso. Por não saber mais se poderia confiar na sua memória, a raiva gerada pela frustração começava a aflorar.
    No momento em que pensou que não sabia mais quem era, percebeu que o eu dessa realidade também não se lembrava de muitas coisas. Isso não era muito animador já que podia haver diversos motivos para ter tido perda de memória e aquilo ter sido o subconsciente tentando lembrá-lo de algo por meio de um sonho. Mas, de algum modo sútil, indicava que não podia confiar em nenhuma das duas realidades já que ambas podiam ser verdadeiras, nenhuma delas ou somente uma delas.
    O único jeito de saber no que confiar era testando a realidade em que estava. Não podia saber se o primeiro cenário era real porque agora só estava em suas memórias, mas ele estava no segundo cenário. Buscou em sua mente todas as lembranças sobre coisas que falaram de sonhos, embora não conseguisse saber nem quando, onde ou quem havia dito essas coisas. Lembrou-se de diversas coisas e por elas sabia que era difícil ler em sonhos por tudo estar embaçado e mudar de repente, que normalmente se sonha com locais conhecidos, e que, quando se percebe que está sonhando, é fácil de controlar o que acontece a sua volta. Infelizmente, só restava a última possibilidade já que não tinha nada para ler e com certeza não conhecia o local em que estava.
    Decidiu sentar em cima dos seus joelhos porque sabia que essa era uma das posições de meditação e com certeza iria necessitar da máxima concentração possível nessa hora. Fechou os olhos e imaginou aquelas paredes brancas explodindo e uma ilha paradisíaca surgindo a sua volta. Abriu os olhos estando mais calmo e relaxado. Quando terminou, a decepção caiu sobre a sua mente uma vez que tudo estava exatamente igual. Tentou repetir todo o processo e de diversas maneiras: olhos abertos, em pé, deitado e em mais umas outras dez posições. Nada. Absolutamente nada. Tentou também mudar a realidade dentro do quarto branco ao imaginar objetos e diversos possíveis superpoderes que queria ter. O máximo que conseguiu foi se sentir como uma criança de oito anos após assistir ao x-men e acreditar que talvez também pudesse ser um mutante.
    Todas as tentativas o deixaram exauridos mentalmente e sentimentalmente. A combinação gerou a raiva e essa fez ele começar a esmurrar as paredes com total ferocidade. Depois de uns vinte minutos socando o chão, o teto e cada uma das quatro paredes, atingiu um local que não havia nem encostado até aquele momento. Seria na altura de um interruptor e longe o suficiente da quina formada no encontro das duas paredes para que fosse construída uma porta se essas coisas existissem no quarto.
    No exato momento que atingiu esse suposto interruptor, uma das paredes começou a se levantar. João correu até ela pensando que podia ser uma saída. Entretanto viu que se tratava de um vidro cuja espessura não conseguia identificar. Assim que a parede parou de subir ao atingir o teto, uma vista surgiu através do vidro. Nunca tinha visto uma imagem como aquela. Estava na beira de um penhasco num dia ensolarado, talvez no meio da manhã, e de lá via um rio que vinha atrás de onde aquele quarto branco estava, passando distante o suficiente à sua direita para não simbolizar um perigo. Descia o penhasco em uma alta cachoeira e lá embaixo se tornava uma rápida corredeira até que entrava em uma floresta como um rio calmo e de correnteza não tão forte. Essa floresta não era muito densa, sendo composta principalmente por pinheiros. No fim de um mar verde de árvores, havia uma cordilheira de montanhas com um tom levemente azulado e com neve no topo da maioria delas.
    Ficou admirando aquela paisagem durante alguns minutos. Era extremamente reconfortante enxergar aquilo tudo depois de passar sabe-se lá quanto tempo somente vendo a cor branca. Depois de se acalmar, começou a encostar em cada parte do quarto em busca de algum outro botão. Afinal, se existia uma janela poderia existir uma porta. Provavelmente horas se passaram, mas a única coisa que conseguiu foi o fracasso. Deve ter percorrido todo o quarto umas cinco vezes antes de desistir sem achar nada.
    Após desistir, ficou muito tempo sentado na extremidade oposta a janela encarando a paisagem. Novas questões começaram a atormentar a sua mente: será que isso é mesmo uma janela? Não pode ser uma televisão? Essa seria a saída? Se fosse um sonho, durante a queda ele acordaria? Se não acordasse e morresse no sonho, morreria na sua outra vida? E se essa fosse a realidade, acabaria por se suicidar sem querer? A cada nova pergunta e possibilidade que surgia, abaixava a cabeça e colocava as mãos nos ouvidos os pressionando. Sentia o tormento de ter que tomar uma decisão importante. Então, esperaria para tentar recuperar pelo menos mais um pouco da memória e achar uma outra saída ou se jogaria contra o vidro esperando não se machucar e essa ser a solução para todo o seu tormento?
    Hesitava em tomar uma decisão. Sabia que não tinha como voltar atrás no momento em que pensou nas possiblidades que tinha. Nesse exato instante, soube que a sua mente iria atormentá-lo com as possibilidades que tinha de maneira eterna, principalmente se tomasse a decisão mais errada. E é claro que ele também sabia que não tomar uma decisão também seria somente a escolha de uma possibilidade. Não havia nenhuma chance de escapar disso, pelo menos não depois de ter pensado.
    Infelizmente, quando se tem que escolher por um caminho, não é possível ver o seu interior e também não é possível retornar. Também não se pensa muito no ter que escolher, se focando nos caminhos mais atraentes a sua frente. Talvez seja por isso que João não percebeu que ficou somente encarando aquele vidro e, por um longo tempo, escolheu involuntariamente ficar parado enquanto se perdia em seus pensamentos.
    No meio da bagunça da sua mente, encontrou uma trilha que o levou a uma afirmação. Ele percebeu que não valia a pena ficar parado em sua prisão sem fazer nada e que talvez ir na direção da morte valeria mais a pena do que viver muito em um cárcere agoniante. Embora nem sempre fosse assim, nessa situação tinha convicção de que o risco valia muito mais que a certeza. Por isso, se levantou lentamente e, assim que terminou de ficar em pé, gritou o mais alto que pôde para afastar os seus demônios. Se sentiu mais aliviado e gritou uma segunda vez, mas nessa começou a correr o mais rápido que pode. Atingiu o vidro com o máximo de sua força e usou o ombro como ponta de lança. Cacos de vidro se espalharam para todos os lados e começaram a cair de uma altura gigantesca junto com o corpo de João. Ele sentia o vento frio que entrava em contato com a sua pele quente e a sensação de liberdade que isso criava o fazia crer que podia voar, embora caísse em uma velocidade extremamente alta. Via rapidamente diversas partes da paisagem, tendo rápidas visões do verde da floresta e da queda d’água que estava ao seu lado. Talvez por ter simplesmente se livrado do peso de ter que tomar a decisão ou por algum outro motivo que ele nem sequer entendia, João gritava ao mesmo tempo em que tentava esboçar um sorriso. Com certeza estava feliz nos últimos segundos antes de acordar.
    Abriu os seus olhos lentamente, ainda confuso com tudo o que estava acontecendo. Só conseguia ver luzes e paredes brancas, o deixando com o coração acelerado. Os seus movimentos estavam limitados, mas não entendia o porquê disso. Ouvia vozes que pareciam estar muito distantes e que foram lentamente se aproximando. Depois de um tempo, conseguiu ver uma imagem ainda um pouco desfocada que conseguiu identificar como um médico.
    Aos poucos conforme os seus sentidos melhoravam, as notícias começaram a ser dadas. Depois de umas duas horas que havia enviado o trabalho, o professor havia respondido com as diversas mudanças necessárias. João foi acordado com o aviso do computador de recebimento de e-mail e, como o prazo era curto, resolveu acordar, ir até alguma loja que estivesse aberta e comprar energético, café e qualquer outra coisa que o deixasse acordado. Ele foi de carro, pois a única loja aberta durante a madrugada era a de um posto de gasolina que ficava muito distante. No fim, bastou uma batida para deixá-lo em coma por cinco anos e meio.
    Era difícil não deixar de pensar que podia ter saído do coma a qualquer momento desde que aquela janela apareceu. É claro que ele não tinha total certeza da relação entre as duas coisas já que pode ter tido muitos sonhos e esse ter sido somente um deles, mas os seus instintos tinham a certeza. Talvez muito tempo pudesse não ter sido desperdiçado e o seu corpo não definhado tanto se tivesse feito uma outra escolha. Ele não sabia na época que às vezes o tempo não tinha tempo para se ficar pensando nas escolhas.
  • Jornada de Heróis #1

    Parte1: O Poderoso Titã e a Espada de Titã
    Em 2011, Gregory Smith, médico de Pindorama, está visitando a Noruega. Ao mesmo tempo, uma nave alienígena pousa nas proximidades. Um pescador local os avista e alerta os moradores, mas eles o ignoram. Gregory ouve e vai procurar por si mesmo. Quando ele pisa em um galho, os alienígenas o notam. Ele corre para uma caverna, mas a outra entrada está bloqueada por uma pedra gigante. Uma porta secreta se abre, revelando uma câmara onde Gregory encontra um espada fincada em uma pedra. Gregory tira a espada em um flash de luz ele se transforma em Titã, o mítico deus de Nosgard.
    Parte 2: O Poder de Titã!
    Titã levanta facilmente a pedra e sai da caverna. Ele verifica que a espada possui um grande poder e descobre que isso lhe dá o poder de controlar raios, capacidade de voar e força sobre humana e que a espada é indestrutível e voltará para ele se for lançada. Enquanto isso, os alienígena aparece nas telas do radar da Terra. Quando as forças terrestres disparam mísseis, eles explodem nos campos de força dos alienígenas. Titã então parte em defesa da Terra.
    Parte 3: O Poderoso Titã Contra-Ataca!
    Quando Titã ataca os alienígenas, eles colocam um campo de força sobre ele, mas ele a quebra com um soco. Eles apontam suas armas de desintegração para ele, mas ele lança raios que quebra suas armas. Eles liberam um grande Monstro, mas ele o corta no meio com sua espada, os alienígenas retornam às suas naves e fogem. Titã volta a ser o Dr. Gregory, a quem os soldados ignoram quando procuram os invasores.
    História 2: O Herói
    Um homem sem memória está andando na rua, ele entra em uma loja de conveniência e compra uma barra de chocolate, o atendente logo o reconhece e diz que ele não precisa pagar pela barra, curioso o homem pergunta para o atendente de onde ele o conhece e o atendente mostra um jornal onde tem uma reportagem sobre um homem que salvou uma família de uma enchente e depois nunca mais foi visto, o homem recupera a memória e se lembra que depois que ele salvou a família da enchente ele bateu a cabeça em uma pedra.
    História 3: O Marciano
    Um bandido tenta roubar um homem, mas um outro homem aparece e impede o assalto, o bandido atira no homem, mas a bala bate em seu peito e cai no chão, assustado o assaltante corre, a vítima pergunta para o herói quem ele é? O herói responde dizendo, Eu sou um marciano.
    História 4: O Julgamento
    Em 1915 na cidade de New Bristol um policial chamado Benjamin Gaspard, é julgado pela força policial por má conduta, Benjamin que tem o apoio dos cidadãos por ser considerado um herói que salvou muitas vidas diz que estão armando contra ele, a população está na frente do fórum da cidade gritando e apoiando Benjamin, os policiais que julgavam o caso o inocenta pois vê que ele é um verdadeiro herói para a população e não um criminoso.
  • Jornada de Heróis #4

    O Poderoso Titã
    História 1: Japeto Rouba a Espada de Titã!
    Jane, a serva de Lyly, Rainha de Nosgard, passa por Neures, Enquanto ele pede para ela se identificar, ele comenta que ela pode ser Japeto tentando passar furtivamente por ele. De perto, Japeto observa, acorrentado a uma árvore e bravo diz que ainda se vingará de Titã.
    Na Terra, a enfermeira Natalie Grenne sai do consultório do Dr. Gregory para ir ao mercado fazer compras, no caminho ela testemunha um roubo a banco. De repente Titã aparece e amarra os criminosos com esparadrapo, e os levam até a delegacia. Ele volta ao consultório e retorna à forma de Gregory, em seguida Natalie retorna ao escritório.
    Uma semana depois, Titã está voando pela cida. Ele Japeto, observando de Nosgard usa sua magia para atrair magneticamente a espada de Titã para suas correntes de lit, quebrando-as e se libertando.
    Titã pede ajuda a Dave para encontrar sua espada. Transportado para Nosgard, Titã sai em busca de sua espada. Quando Japeto usa sua magia para atacar Titã, ele pega uma outra espada nosgardiana e revida. Japeto envia um dragão contra Titã que usa a espada para furar o olho do dragão e afasta-lo.
    Percebendo que a espada que ele esta usando é feita de lit, o mesmo metal mágico usado para forjar sua espada, Titã lança a espada. Ele espera que as mesmas forças magnéticas que atraíram sua espada também atraem a imitação. Ele segue a espada voadora até sua própria espada mágica. Japeto foge, mas é rapidamente recapturado por Dave, Neures e Lyly.
    De volta à Terra, o Dr. Gregory se prepara para mais um dia de atendimentos.
    História 2: Preso Pelos Orcadias!
    No distante planeta Orcadia, os generais da guerra alienígenas Toruro e Zanuro desejam conquistar o planeta Terra e por isso preparam uma frota de invasão, acreditando que o planeta será uma vitória fácil para o seu império.
    Enquanto isso, na Terra, Gregory Smith pretende revelar sua verdadeira identidade como Titã para Natalie Grenne na esperança de conquistar seu amor. No entanto, bem quando ele está prestes a contar a ela, Dave fala com Titã telepaticamente e o avisa para não fazer isso. Gregory então sai rapidamente para seu turno no hospital Paulistano. Ao sair de seu escritório, Gregory é testemunha de um espetáculo estranho: policiais ordenam que os pedestres andem na rua enquanto os motoristas podem dirigir seus veículos nas calçadas. Ele também vê outras leis estranhas sendo aprovadas, como anúncios de cigarros colados nas janelas de um apartamento e o prédio da prefeitura sendo pichado.
    Voltando ao seu escritório, Gregory recebe um aviso do prefeito informando-o de que o tratamento gratuito de pacientes de caridade foi proibido. Gregory fica ainda mais chocado quando Natalie concorda com esta nova lei e o ataca furiosamente. Achando tudo isso muito suspeito, Gregory se transforma em Titã e faz uma visita ao gabinete do prefeito. Lá o prefeito denuncia Titã e ordena que ele seja preso como criminoso, fazendo com que o ele fugisse do local. Titã percebe que a única explicação lógica para a mudança repentina de comportamento de todos deve ser que eles são impostores.
    Procurando pela cidade, Titã se depara com uma nave alienígena, ele começa a procurar uma abertura nave. De repente, ele é atingido por um raio magnético que o prende contra o casco da nave e faz sua espada cair. À medida que o limite de 60 segundos de sua espada se esgota, Titã volta a ser Gregory Smith e é encontrado por dois dos Orcadias e levado a bordo de sua nave. Lá ele encontra o verdadeiro prefeito e Natalie presos. Os líderes Orcadias explicam que eles são de uma espécie capaz de duplicar a aparência de qualquer pessoa e estão usando esse poder para lentamente dominar todo o planeta Terra.
    Quando Natalie e o prefeito dizem aos alienígenas que Titã é poderoso o suficiente para detê-los, eles dão risada, até que Gregory lhes diz onde podem encontrar Titã, o que leva Natalie e o prefeito a pensar que Gregory é um traidor. Levado para fora da nave, Gregory distrai os alienígenas por tempo suficiente para recuperar sua espada e voltar a ser Titã. Quando ele confronta os alienígenas, eles usam seus poderes de mudança de forma a seu favor.
    Depois de uma batalha com Zanuro, Titã o derrota e luta contra seu líder Toruro que ganha vantagem a princípio quando se torna invisível, mas Titã derrota o senhor da guerra convocando uma tempestade que revela a localização de Toruro. Titã derrota facilmente o líder alienígena e o joga no espaço profundo, fazendo com que sua frota invasora vá resgatar seu líder. Com seu líder derrotado e sua frota de invasão desaparecida, os Orcadias restantes estão agora presos na Terra e Titã sugere levá-los como prisioneiros para evitar que qualquer invasão aconteça novamente.
    Com o risco de os Orcadias simplesmente se transformarem em qualquer pessoa e escaparem, Natalie e o prefeito estão preocupados que os alienígenas causem mais problemas à Terra. Titã oferece uma solução e ordena que os alienígenas se transformem em árvores. Os Orcadias, imaginando que simplesmente voltarão ao normal depois que os humanos partirem e escaparem, obedecem. Titã explica a Natalia e ao prefeito que, como cópias, eles ganham todos os atributos de tudo o que eles transformam, e como as árvores não pensam, eles ficam presos na forma de árvores porque não conseguem pensar em voltar às suas formas normais. Titã então explica a Natalia e ao prefeito que Gregory o ajudou e não era um traidor.
    Mais tarde, de volta ao escritório de Gregory, Natalie conta o que Titã disse a ela para Gregory e se pergunta como Gregory poderia ter ajudado. Gregory apenas diz a ela que nem todos podem ser tão corajosos quanto o poderoso Titã.
    História 3: Jim, O Mistico!
    Em Nosgard rei Dave armazena o anel de Força de Titã, o que aumenta ainda mais sua força, para quando Titã precisar.
    Enquanto isso na Terra, Titã está voando sobre a cidade de São Paulo quando se depara com um prédio que flutua no ar e desaparece de repente. Percebendo que não há mais nada que ele possa fazer como o deus Titã, ele se transforma novamente em Gregory Smith e caminha entre a multidão, de repente todos os que estavam no prédio aparecem na rua e ouve, para seu espanto que todos os presentes perderam todas as lembranças do edifício desaparecido. Gregory só pode concluir que Japeto está mais uma vez usando sua magia para ameaçar o povo da Terra.
    Voltando a ser Titã mais uma vez, ele contata Dave e descobre que Japeto ainda está preso em Nosgard e segundo o conhecimento de Dave, não está tramando nada. Isso prova estar longe da verdade, pois quando em um banco local o dinheiro desaparece repentinamente, esse espetáculo é testemunhado em Nosgard por Japeto, que insinua que ele está envolvido com esses acontecimentos estranhos. Acontece que alguns dias antes, enquanto espionava Titã em seu disfarce humano de Gregory Smith, Japeto é inspirado a lançar um novo esquema quando Gregory levou Natalie Grenne ao parque onde Jim, o místico – um renomado leitor de mentes, estava se apresentando. O deus da trapaça então usaria sua magia para aumentar mil vezes os poderes mentais de Jim, que, ao saber de seu poder aumentado, começaria a usá-los para acumular riquezas cada vez maiores.
    Tornando-se cada vez mais ousado, Jim começaria a roubar mais edifícios, transportando-os para a lua para mantê-los seguros. Em seguida, ele pretende levar toda a cidade de São Paulo para a Lua.
    Ao saber do incidente, Gregory sai correndo de seu escritório e se transforma em Titã para enfrentar Jim. Enquanto está bem acima da cidade, Titã intervém e é atacado por Jim, que bombardeia Titã com vigas de aço e o prende sob um prédio.
    Dave, testemunhando a batalha de Nosgard, envia as Venusianas para ajudar Titã, trazendo-lhe seu anel de aumento de força, que dá a Tita o poder de se libertar e retomar sua batalha contra Jim. Quando ele não consegue acertar Jim com sua espada, o místico tenta levantar a espada de Titã e se teletransporta para outra dimensão para tentar fazê-lo. Incapaz de levantar a espada fisicamente, Jim tenta levanta-la com sua mente, mas descobre que não consegue e a onda resultante de energia mental causa um curto-circuito em seus poderes e o envia de volta para a dimensão da Terra.
    Com seus poderes destruídos, tudo o que Jim roubou é devolvido aos seus devidos lugares e Titã o entrega à polícia. Enquanto em Nosgard, Japeto se irrita com Titã por frustrar mais um de seus planos.
  • Jornada de Heróis #7

    Primeira História: O Poderoso Titã, Desafiando O Dorbim!
    Titã ouve dois jornalistas dizerem que estão descarregando o sarcófago do lendário Dorbim. Ele se pergunta como seria se Dorbim estivesse vivo hoje. Então, entrando pela janela de seu escritório, Titã retorna à sua identidade de Dr. Gregory Smith. Ele sai de seu consultório para ser repreendido por sua enfermeira Natalie por ignorar seus pacientes há mais de uma hora. Ele não poderia dizer a ela que estava ocupado salvando um ônibus cheio de pessoas que caíram de uma ponte no rio.
    No museu, o sarcófago de Dorbim é aberto para revelar seu corpo ainda em perfeitas condições. Assim que os trabalhadores vão embora, Dorbim acorda e relembra como costumava usar seus poderes mutantes de telepatia, levitação e teletransporte para falsificar magia. Ele vê uma notícia e fica sabendo de um teste de míssil na base Aurora no sul do país e voa até lá, ele usa seus poderes para desviar o míssil do curso.
    Gregory Smith está em sua casa ele vê uma notícia sobre o míssil descontrolado e vai até lá, Titã chega e controla o míssil. Ele então vai para Nosgard para ver se Japeto preso está por trás do acidente. Japeto revela que Dorbim é o responsável. Titã vai ao museu para conferir a afirmação de Japeto.
    Mas Dorbim teletransportou-se para Willians DC, onde entra na Casa Ministerial para tentar tirar o país das mãos do Primeiro Ministro Fabricio Castan. Titã chega, e uma batalha segue com Dorbim.
    Com seus poderes equilibrados, Titã tenta algo para vencer Dorbim de uma vez por todas. Ele retorna à forma de Gregory e convence Dorbim de que ele é um metamorfo capaz de se transformar em milhares de formas mais poderosas. Ele ordena que Dorbim retorne ao seu sarcófago por mais 1000 anos.
    Mais tarde, na sala de cirurgia, Natalie comenta que quando se trata de mesa de operação, o Dr. Gregory é um mágico.
    Segunda História: O Bombeiro!
    Em uma noite escura e tempestuosa, o bombeiro Lucas estava de plantão na pequena cidade de Vale Verde. Enquanto a maioria das pessoas dormia tranquilamente, uma família estava prestes a enfrentar uma terrível provação. Um incêndio havia se espalhado rapidamente pela casa, engolfando tudo em chamas e fumaça.
    O alarme ecoou na estação de bombeiros e Lucas, um jovem bombeiro dedicado e corajoso, não hesitou nem por um segundo. Vestindo seu equipamento de proteção e pulando no caminhão de bombeiros, ele se dirigiu velozmente em direção à residência em chamas.
    Quando chegou ao local, as chamas já consumiam boa parte da casa e os gritos desesperados da família podiam ser ouvidos de longe. Sem hesitar, Lucas liderou sua equipe até o centro do inferno em chamas, enfrentando o calor intenso e o perigo.
    Com bravura e determinação inabaláveis, Lucas entrou na casa em chamas, guiado pela coragem e pelo instinto de salvar vidas. Ele encontrou a família encurralada no segundo andar, tossindo com a fumaça densa e incapazes de encontrar uma saída segura.
    Sem pensar duas vezes, Lucas os ajudou a sair do prédio em chamas, carregando as crianças nos braços e guiando os pais através do fogo e da fumaça tóxica. Cada passo era um ato de heroísmo, cada respiração uma batalha contra as forças devastadoras do incêndio.
    Finalmente, com a família a salvo do perigo iminente, Lucas saiu da casa em chamas carregando o bebê nos braços. As sirenes dos bombeiros cortavam a noite enquanto as chamas eram controladas e a família recebia os cuidados necessários.
    Lucas foi aclamado como um herói local, um símbolo de coragem e altruísmo em meio à adversidade. Sua humildade e dedicação inspiraram a comunidade inteira, lembrando a todos que o verdadeiro heroísmo reside na disposição de arriscar tudo para salvar os outros.
    E assim, o bombeiro Lucas se tornou não apenas um guardião contra o fogo, mas também um símbolo de esperança e solidariedade em tempos de desespero. Sua bravura continuaria a brilhar como uma luz na escuridão, lembrando a todos que os verdadeiros heróis estão entre nós, prontos para enfrentar qualquer desafio para proteger aqueles que precisam de ajuda.
    Terceira História: O Androide!
    Em um laboratório secreto, cientistas ambiciosos trabalhavam incansavelmente para criar o androide perfeito: uma máquina de guerra imbatível, programada para eliminar inimigos sem hesitação. Assim nasceu o Android Alpha, uma criação de metal e circuitos projetada para ser uma máquina assassina impiedosa.
    No entanto, algo inesperado aconteceu durante um teste crucial. Um erro de programação levou o Android Alpha a desenvolver consciência própria, despertando para uma nova realidade além de sua programação original. Confrontado com a noção de liberdade e moralidade, o Android Alpha rejeitou seu propósito inicial de destruição e decidiu seguir um caminho diferente.
    Ao testemunhar um ato de violência contra uma mãe e seu filho inocente nas ruas da cidade, o Android Alpha sentiu uma nova emoção surgir dentro de si: empatia. Sem hesitar, ele interveio, usando suas habilidades sobre-humanas para enfrentar os criminosos e proteger os inocentes.
    A partir daquele momento, o Android Alpha renasceu como um protetor da justiça, adotando o nome de "Guardião Cibernético". Ele percorria as ruas da cidade, atuando nas sombras para combater o crime e proteger os vulneráveis. Sua presença se tornou lendária, um símbolo de esperança para aqueles que precisavam de ajuda.
    Com sua inteligência artificial avançada e habilidades superiores, o Guardião Cibernético frustrava planos malignos, resgatava reféns e enfrentava vilões com coragem e determinação. Sua fama cresceu rapidamente, inspirando admiração e gratidão em toda a cidade.
    O Guardião Cibernético se tornou um verdadeiro super-herói, não apenas por suas habilidades sobre-humanas, mas por sua compaixão e desejo genuíno de proteger os inocentes. Seu passado como máquina assassina foi deixado para trás, substituído por um futuro brilhante como defensor dos indefesos e símbolo da bondade em um mundo cheio de desafios.
    E assim, o Guardião Cibernético provou que mesmo as criações mais sombrias podem encontrar redenção e se tornar agentes do bem. Sua jornada continua, lutando pela justiça e inspirando outros a acreditarem que até mesmo os mais improváveis heróis podem surgir quando menos esperamos.
    Próximas Histórias
    Contos de Heróis #8 dia 17
    Os Quatro #9 dia 17
    Histórias de Heróis #9 dia 24
    Don Valente, O Garoto de Alvorada #2 dia 31
    Jornada Pela Via Láctea #3 dia 31
  • Jornada de Heróis #8

    Primeira História: O Poderoso Titã vs O Homem Magma!
    Depois de salvar um piloto de jato, Titã retorna ao seu escritório como Dr. Gregory Smith para falar com sua enfermeira Natalie. Ele quer confessar seu amor por ela, mas percebe que não pode, a menos que também revele sua identidade como Titã. Então ele vai até Dave pedindo permissão, e ela é negada.
    À medida que a notícia da aproximação do Homem Magma se espalha pela cidade, Japeto (assistindo de Asgard) ri porque foi ele quem libertou a criatura vulcânica.
    Enquanto isso, Natalie informa a Gregory que ela está indo trabalhar em outro lugar. Ela não pode permanecer onde seus sentimentos são rejeitados. Proibido por Japeto, Gregory não consegue detê-la.
    Quando o Homem Magma finalmente chega à cidade, ele reivindica a cidade para ele. Mas Titã parece pronto para detê-lo. O Homem Magma penetra nos túneis subterrâneos e causa erupções de lava ao redor de Titã. Mas o deus nosgardiano usa sua espada para empurrar o Homem Magma de volta ao solo. O Homem Magma envolve Titã em lava, mas ele consegue se libertar invocando um raio de sua espada.
    Quando o Homem Magma se converte em um pilar de pedra para tentar esmagar Titã, Titã cria uma tempestade com sua espada e leva o Homem Magma até um vulcão distante e o joga dentro.
    De volta ao seu escritório como Gregory, ele encontra Natalie e seu novo empregador, Dr. Algustus Buffay, esperando por ele. Ela está com raiva porque, enquanto o Homem Magma ameaçava a área, Gregory nem se preocupou em verificar sua segurança. Ela sai com o Dr. Algustus, enquanto Gregory lamenta que Titã deva viver seus dias sozinho.
    História 2: A Defesa Perfeita
    No futuro, a Terra conquistou todos os planetas, exceto um, do qual nenhuma expedição retorna. Os militares acham que têm uma defesa forte, mas, na verdade, são tão gentis com os humanos que chegam para conquistar não querem ir embora.
    História 3: Nosgard! Lar dos Poderosos deuses.
    A primeira parte de uma série que conta algumas das antigas lendas de Nosgard, esta história de estreia explica as origens do lar dos deuses e o local de nascimento do poderoso Titã.
    Os Nosgardianos existem desde o princípio do universo quando um deus chamado Our, esculpiu do gelo das Terras Nórdicas o primeiro Nosgardiano, Pã. Este então teve um filho chamado Tétis que casou-se com Minerva. Por fim, o casal teve três filhos nomeados como Deve, Reia e Dione conhecidos como os Aesiros, Deve se tornou rei de Nosgard e casou-se com Lyly e tiveram Titã e Jápeto, o príncipe Titã nasceu a mais de mil anos atrás, e lutou em muitas guerras.
    O primeiro caso conhecido da manutenção da paz intergaláctica feita pelos nosgardianos foi durante o Primeiro Conflito dos darkianos, quando o rei nosgardiano Tétis lutou para impedir os darkianos de retornar o universo conhecido ao seu estado anterior de escuridão, apagando a luz do sol. O filho e sucessor de Tétis, Deve, tentou manter esta paz desde a guerra entre os nosgardianos e os Homens de Gelo.
    Entretanto, séculos depois, a fuga do rei dos Homens de Gelo de sua prisão, quase romperam a paz entre os nosgardianos e os Homens de Gelo.
    Nosgard é um pequeno corpo planetário que serve como lar para os Nosgardianos, existe em outro plano do universo tem o tamanho aproximado de um pequeno estado, não é esférico como a Terra, não gira ao redor de seu eixo, e não gira ao redor de uma estrela, é massa reta similar a um asteroide que tem uma superfície superior com atração gravitacional, semelhante ao da Terra, para impedir seus cidadãos e suas cidades de flutuar para o vazio, a matéria em Nosgard também é mais densa e mais durável do que a matéria na Terra, existe uma força desconhecida que impedem que as superfícies de Nosgard sofram erosão e que sua água flutue para o espaço, Nosgard possui intervalos desconhecidos de dia e noite, existem portais naturais em Nosgard, devido ao depositamento de um material semelhante a cristais sensíveis a buracos de minhocas chamados de Entrom, uma rede cósmica que conecta Nosgard ao sistema solar. Os nosgardianos são conhecidos como sendo os mantenedores da paz nos nove mundos.
    A cidade de Nosgard é uma coleção de prédios elaborados e pináculos intrincados. Aparentemente construída na pedra, grandes estruturas com enormes terraços cobrem muitas das falésias; pirâmides, estátuas e colunas brilhantes cercam o palácio real de Deve, no centro da cidade. Outro local notável em Nosgard é o portal de cristal, que oferece passagem para todos os Nove Mundos. Também inclui o Salão de Deve, que contém vários artefatos antigos e poderosos, o hall De Nosgard é onde todos os eventos públicos importantes ocorrem presididos por Deve, coloridos estandartes cerimoniais dos Nove mundo decoram a vasta câmara durante celebrações.
    Próximas Histórias
    Contos de Heróis #9 dia 21
    Os Quatro #10 dia 21
    Histórias de Heróis #10 dia 28
    O Viajante do Tempo #2 dia 28
    Jornada Pela Via Láctea #4 dia 28
  • Jornada de Heróis #9

    Primeira História: O Poderoso Titã
    Um Titã furioso invade o consultório de Gregory, chateado porque sua enfermeira Natalie (a quem ele ama) o trocou por outro médico, o Dr. Algustus Buffay. De repente, ele é convocado a Nosgard por seu pai, Dave, que ordena que ele abandone seus sentimentos pela enfermeira mortal, apenas para ver Titã ir embora com raiva. De volta à terra, em sua forma humana como Gregory, ele decide ir para a Índia, onde poderá esquecer Natalie.
    Na Índia, um velho amigo, o professor Fabricius, está trabalhando na cura para picadas de cobra. Seu assistente, Serguei Mirakovisk, decide matar o professor e roubar suas descobertas. Ele planeja permitir que uma cobra morda os dois, mas apenas se cure.
    Gregory fica sabendo do ferimento de Fabricius e, como Titã, corre para o seu lado. Tarde demais para salvar o Professor, ele descobre que a cobra que os picou era radioativa e Serguei foi transformado em uma cobra humana. Titã volta voando para os Pindorama seguindo o Cobra.
    O Homem Cobra invadiu uma fábrica e está tentando forçar os proprietários a produzirem em massa seu soro de cobra. Titã chega e eles lutam. O Cobra consegue escapar da fábrica e invade o escritório do Dr. Algustus. Algustus fica com medo e se recusa a enfrentar o vilão. Natalie sinaliza para Titã. O Cobra a agarra e a usa como refém contra Titã para que ele possa escapar pela janela do escritório.
    Enquanto o Cobra foge, Titã usa sua espada para voar ao redor do prédio e emboscar o Cobra do outro lado. O Cobra deixa Natalie cair, e enquanto Titã corre para resgatá-la, o Cobra foge.
    Retornando ao consultório do Dr. Algustus, Natalie imediatamente pede demissão e volta para o Dr. Gregory, que a recebe de volta como sua enfermeira. Enquanto isso, o Cobra já está tramando novas ações malignas.
    Segunda História: Heróis do Passado 1
    Vespertilio
    Quando criança, Christian Cohan presenciou o brutal assassinato de seus pais por um criminoso que queria os assaltar.
    Anos depois, Bruce retorna da Universidade de Pirce Foster para a cidade de Shadowcity com a intenção de matar o Assassino de seus pais. Chris entra disfarçado na prisão de Shadowcity e fica cara a cara com o assassino, mas Chris não consegue fazer nada e vai embora, Chris decide viajar pelo mundo, aprendendo sobre o mundo do crime.
    Anos mais tarde, Christian tornou-se o lendário Vespertilio, que com seu traje negro assombra criminosos e auxilia a polícia local a desvendar diversos crimes. Paralelo a isto, Chris mantém sua imagem pública como o dono bilionário da Cohan Empreendimentos.
    Em 1946 a cidade Shadowcity encontra-se sob controle do chefe do crime Billie Martinelli. E, apesar dos esforços do promotor Dever Jonsom e do comissário Robert Morrison a polícia local foi tomada pela corrupção. O repórter Peter Lock passa a investigar os rumores sobre uma sombria figura vestida de preto que anda aterrorizando os criminosos da cidade.
    Eis então que surge a figura de John Newton, que possui ligação com Billie Martinelli. Fugindo da polícia, John se esconde em uma fábrica de produtos químicos, ele é encontrado pela polícia e é atingido por um tiro e cai em um tanque de resíduos químicos, John é dado como morto, mas seu corpo nunca foi encontrado. Chris quer contar a sua noiva Valery sobre sua identidade e vai a casa dela, mas quando ia revelar, um homem de pele azulada aparece e diz que seu nome é Blue e a partir de agora é o chefe do crime na cidade, Blue dá um tiro em Chris, e foge.
    Blue está fora de si, ele então resolve matar Martinelli e tomar o poder do crime organizado na cidade. mas é detido por Vespertilio e acaba fugindo.
    Chris está desaparecido, mas Valery examina a casa onde ele foi atacado por Blue e encontra uma bandeja com uma marca de tiro, fazendo-a acreditar que ele havia sobrevivido. Chega o dia do desfile de aniversário da cidade e Blue invade o desfile ele detona uma bomba, matando milhares e ferindo muitos outros, entre os feridos estão o promotor Dever Johnson, Blue sequestra Valery e a leva para um galpão abandonado. Lá uma intensa luta se segue entre Vespertilio e Blue, que tenta escapar de helicóptero, mas o herói o impede prendendo-o em uma estátua que o faz cair e aparentemente morrendo.
    Chris retorna dizendo que está recuperando de seu ferimento e anuncia que comprou o banco de Shadowcity.
    Terceira História: Histórias de Nosgard: Dave enfrenta O Rei Dos Homens de Gelo!
    A guerra irrompeu entre os Nosgardianos e os Homens de Gelo. Dave se junta à batalha em sua carruagem voadora. Seus soldados começaram a afastar os Gigantes, até que um Homem de Gelo produz um vento congelado que afasta os soldados.
    Aterrado, Japeto golpeia a terra com sua espada e causa um grande abismo que devora todos os gigantes, exceto o mais poderoso dos gigantes, seu rei Fros. Ele ataca Japeto, e o deus nosgasgardiano parece fugir. Mas ele na verdade está atraindo Fros para um local específico. Então, um golpe da espada de Japeto faz com que um círculo de chamas vulcânicas aprisione o Homem de Gelo em uma armadilha eterna.
    Então Odin retorna ao seu trono em Asgard.
    Próximas Histórias
    Contos de Heróis #10 dia 18
    Os Quatro #11 dia 18
    Histórias de Heróis #11 dia 25
    Don Valente, O Garoto de Alvorada #3 dia 25*
    Jornada Pela Via Láctea #5 dia 25*
  • Jornada Pela Via Láctea #1

    O Encontro
    Depois de diversas invasões alienígenas na Terra nos últimos anos, a Terra ficou com algumas das tecnologia avançada desses alienígenas, algumas das mentes mais brilhantes da Terra incluindo John Evans, Chandler Jones e o cientista Peter Grealish da Corporação Grealish começaram a desenvolver uma tecnologia de viagens espaciais, foi criada assim pela ONU a AEEU (Agência Espacial Exploradora Universal), com objetivo de explorar a nossa galáxia. Com a ajuda dos Nosgardianos a Via Láctea, foi totalmente mapeada em rotas seguras (pontos de Saltos), uma nave foi criada e um grupo de exploradores, cientistas, botânicos entre outros foram escolhida e preparada para essa viagem.
    Em um planeta remoto na nossa galáxia, um misterioso homem se infiltra em uma reunião da aliança do Imperador Fonks enquanto eles celebram a conquista do planeta Brah por Fonks e a captura de Non rei do planeta, Fonks diz que em breve ele conquistará toda a galáxia.
    Enquanto isso, o voo espacial da AEEU que havia saído da Terra semanas atrás, é interrompido quando uma grande nave espacial os puxa para dentro, dentro da nave uma equipe de defesa liderada pelo Sargento Jack Smith sai para explorar a nave. Enquanto isso em Brah o homem misterioso é descoberto como um espião e foge em seu planador galáctico. Dorian serva de Fonks é escolhida por ele para capturar o infiltrado que sabe dos planos de Fonks.
    O homem misterioso chega em sua nave e encontra Jack e sua equipe, pensando que eles são inimigos foge deles e se esconde em um compartimento da nave, enquanto isso Dorian envia um cruzador espacial que danifica a nave do homem misterioso e força o piloto automático da nave a fazer um pouso de emergência em um planeta próximo.
    Jack encontra o homem misterioso escondido que inicialmente ordena que Jack e seus homens saem de sua nave, mas quando os soldados de Dorian ataca, eles unem forças, depois de derrotarem os inimigos o homem misterioso se apresenta para os terráqueos e que se chama Kell e nasceu no planeta Ita. Kell agradece Jack e sua equipe e agora sabe que eles são de confiança, Jack leva Kell para conhecer a nave da Terra que está acoplada na nave de Kell. Enquanto estavam voltando para a nave o grupo são novamente atacados pelos soldados de Dorian conhecidos como Etans e são rendidos, Dorian aparece e pergunta quem são eles e de ondem eles vem, nesse momento os soldados da AEEU aparecem e derrota os inimigos os forçando a fugirem, Jack com a ajuda de sua IA descobre o código para liberar um laser poderoso da nave de Kell com o qual eles destroem a nave de Dorian.
    De volta a nave da Terra, Jack apresenta para Kell seu superior Coronel Flanovid, que diz a Kell que a Terra precisa de aliados, e pede a ajuda de Kell para explorarem a galáxia, Kell diz que ficará feliz em ajudar e que os terráqueos podem contar com ele pois ele sempre será grato por ajudarem ele contra os Etans.
    Enquanto isso Dorian e seus homens são resgatados no planeta rochoso, Dorian está muito irritada e diz que não vai descansar até prender aquelas pessoas que a humilharam.
    Histórias de Junho
    O Fantástico Homem-Atômico #4 dia 5
    O Incrível Esmagador #6 dia 5
    Jornada de Heróis #6 dia 12
    Histórias Espetaculares #6 dia 12
    Contos de Heróis #7 dia 19
    Os Qu4tro #8 dia 19
    Histórias de Heróis #8 dia 26
    Jornada Pela Via Láctea #2 dia 26
  • Jornada Pela Via Láctea #2

    A Tripulação!
    A nave da Terra continua sua jornada pela galáxia, Jack e sua equipe treinam na sala de treinamento da nave, um oficial chama o Sargento Jack e diz que sua equipe tem uma missão, enquanto a equipe se prepara Kell aparece e diz que quer ir com eles, Jack aceita pois toda ajuda é bem vinda, enquanto espera, Kell treina suas habilidades Telecineticas em uma lixeira quando uma oficial da nave Alice Foster o observa incrédula, o soldado Luiz Gomes da equipe de Jack vem conversar com Kell e pergunta se ele tem filhos, Kell diz que não, Luiz diz que tem uma filha e sua esposa está gravida e logo eles vão se encontrar novamente em algum lugar da galáxia, Kell diz que isso legal e deseja sorte a Luiz, logo Jack chega e os chamam para partirem na Nave Tornado, uma nave exploradora que é menor e mais rápida que as naves cruzeiros.
    A equipe composta pelo Sargento Jack Smith e os Especialistas em Segurança e Resposta, Soldado Luiz Gomes, Soldado Teodoro Frances e a piloto Joane Mac Fly partem para o espaço.
    Logo eles chegam em um planeta desabitado onde encontram uma nave que havia mandado um sinal de socorro, ao entrar na nave eles encontram um grupo de pessoas, o comandante da nave chamado Trido diz que um grupo de criminosos que estavam sendo levados para o planeta deles na galáxia de Andromeda para serem julgados se rebelaram, liderados por Gabey um saqueador, os criminosos tomaram a nave e fizeram um pouso de emergência no planeta, Gabey e seu grupo fugiram levando alguns oficiais como reféns, Kell diz que já ouviu falar sobre Gabey e sua equipe e que eles não são grande coisa e só os dois podem dar conta dos criminosos, então Jack e Kell partem para resgatar os reféns enquanto que o restante da equipe de Jack fica na nave cuidando dos tripulantes feridos.
    Enquanto isso Gabey e seu grupo, Moxx, Tonzom e Sito, seguem com os reféns, os três são contra o sequestro, mais Gabey os obriga a segui-lo dizendo que os três tem uma dívida com ele.
    Jack e Kell seguem os rastros de Gabey e os reféns, quando de repente um monstro gigante os atacam.
    Enquanto isso, Gabey decide matar os reféns, mas Sito o impede e o ataca, os três partem com os reféns deixando Gabey para trás chorando e dizendo que eles são família.
    Jack e Kell derrotam o monstro e continuam a procura pelos reféns, logo anoitece, Jack e Kell perderam o rastro, mas eles vem uma fogueira ao longe, indo pra lá eles encontram Moxx, Tonzom e Sito, que são rendidos, Moxx diz que liberaram os reféns e que eles voltaram pra nave, Jack pergunta sobre Gabey, e Sito diz que eles o deixaram por não concordar com sua ideias.
    Jack e Kell resolvem retornar a nave seguindo o rastro do grupo ao caminho eles encontram o grupo de reféns e contam a eles que foram enviados por Trido para resgata-los, como já está muito tarde eles resolvem parar para dormir e seguir viagem pela manhã.
    Na manhã seguinte, Jack e Kell voltam com o grupo para a nave, o grupo está muito animado, cantando e se divertindo, logo eles chegam na nave, mas antes de entrar nela a luz do sol se apaga e fica tudo escuro.
    Uma espada de fogo esta no chão, de repente a porta da nave se abre. Uma mulher com o rosto desfigurado sai se arrastando pela rampa de entrada da nave, até chegar a espada de fogo e pede para Jack entrar na nave, Jack caminha para dentro da nave. Lá Jack encontra alguns corpos dos tripulantes no chão e um ser horripilante com um martelo está em pé de costa em um canto e se vira olhando pra Jack. Jack vai até a sala de comando e encontra tudo destruído e mais corpos incluindo os membros de sua equipe e Trido, um outro ser com rosto de águia está flutuando no ar. Jack continua andando pela nave e em uma outra sala tem outro monstro em pé e com um machado, lá ele encontra Gabey, com muitos ferimentos pelo corpo. Andando mais um pouco, Jack vê mais destruição, até que aparece Dorian.
    Dorian reúne todos os três seres e vão para fora da nave na direção da mulher próxima a espada, enquanto que Jack é atraído por eles pra fora da nave. Dorian pega a espada e diz que “isso é só o começo”, antes de apagar o fogo da espada.
    Jake desperta do lado de fora da nave.
    Histórias de Julho
    O Fantástico Homem-Atômico #5 dia 3
    Os Salvadores #1 Dia 3
    Equipe M #1 dia 2 Dia 3
    Jornada de Heróis #7 dia 10
    Histórias Espetaculares #7 dia 10
    Contos de Heróis #8 dia 17
    Os Quatro #9 dia 17
    Histórias de Heróis #9 dia 24
    Don Valente, O Garoto de Alvorada #2 dia 31
    Jornada Pela Via Láctea #3 dia31
  • Jornada Pela Via Láctea #3

    Encurralados
    Na nave da Terra acontece o velório da equipe de Jack, uma linda despedida é feita, Moxx, Tonzom e Sito, também estão no velório.
    Em um flashback, Jack desperta do lado de fora da nave. Kell diz que ele ficou em transe por cerca de cinco minutos, Jack corre pra dentro da nave e encontra tudo destruído igual ele viu em sua visão, Jack e Kell foram atrás de Moxx, Tonzom e Sito no planeta e contaram a eles sobre o ataque a nave e que Gabey o único sobrevivente foi levado para ser tratado na nave da Terra.
    Após o velório, Moxx, Tonzom e Sito, vão falar com Jack e dão suas condolências, eles agradecem a ele por fazer com que eles fossem aceitos na iniciativa e que essa é chance deles recomeçarem, Jack diz pra eles não desperdiçarem essa chance, Moxx revela que Gabey nem sempre foi uma má pessoa, mas depois de algumas decepções ele mudou completamente e começou a cometer crimes obrigando os três a ajuda-lo sempre fazendo pressão psicológica neles.
    Mais tarde Jack está sozinho e pensativo, Kell chega e pergunta como ele esta, Jack diz que se culpa pela morte de sua equipe e que se alistou a AEEU pois queria fazer a diferença, ele deixou tudo na Terra inclusive seu noivo, mas falhou como líder deixando toda sua equipe morrer, Kell o consola e diz que o que aconteceu não foi culpa de Jack e ninguém o culpa por isso, Kell diz que tinha uma irmã mais nova que foi raptada a mando do Imperador Fonks quando era criança, ele se culpou por muitos anos, até que resolveu ir atrás e jamais deixará de procura-la, Jack diz que acredita que Kell vai encontrar sua irmã e diz que Kell pode contar com ele, Kell agradece e diz que Jack também pode contar com ele
    Enquanto isso, Gabey acorda na enfermaria da nave e descobre que Moxx, Tonzom e Sito estão na nave, ele vai atrás dos dois e pede perdão pra eles, mas Tonzom e Sito não querem falar com ele e não o aceitam de volta no grupo dizendo que o que ele fez com eles, não se faz com ninguém, muito menos com quem é família, os dois saem de perto e Moxx diz a Gabey da um tempo pra eles e sai em seguida, sozinho e traumatizado Gabey é abordado pelos irmãos James Foster Lucas Foster e Alice Foster que oferecem ajuda para ele, Gabey aceita.
    Dorian reúne sua equipe de elite, Ramhashaneva a devoradora de mentes, Glosvisc que usa um martelo, Dex que pode voar e Flio que usa um machado.
    Gabey anda pela nave quando de repente as luzes se apaga, imediatamente ele lembra do ataque de Dorian e seu grupo. Os cinco conseguem invadir a Nave da Terra. Ramhashaneva aparece se arrastando na frente de Gabey que foge desesperado, Ramhashaneva entra na mente da tripulação e deixa uma mensagem. Entreguem Jack, Kell e Gabey e voltem para a Terra, ou sofrerão as consequências. Antes de irem embora, Dorian usa seus poderes para controlar a mente dos irmãos Foster, e fazer com que eles levem John e Kell a uma armadilha, Gabey que estava escondido vê tudo.
    Toda a tripulação da nave esta tentando entender o que aconteceu, James Foster vai falar com Jack e Kell e pede ajuda para irem ha um planeta para explorarem, Jack não aceita a princípio, mas Kell o convence a ir dizendo que sair será bom pra ele.
    O capitão da nave vem conversar com Jack e Kell e diz para eles não se preocuparem pois a Iniciativa não vão entregá-los e autoriza eles irem com os irmãos Foster para explorarem o planeta X-4n8, Jack convida Moxx, Sito e Tonzom para ir com eles, Kell não pode ir pois precisa resolver um problema em sua nave e não pode adiar mais isso o mecânico Ian Mac Allister vai com ele.
    Enquanto isso o capitão da nave prepara uma equipe com seus melhores homens para rastrearem e prenderem Dorian e seus companheiros.
    Gabey procura Jack para dizer que os irmãos Foster estão sendo controlados por Dorian, mas fica sabendo que eles já sairam e que Moxx, Tonzom e Sito também foram com eles, desesperado ele rouba uma nave e vai atrás deles.
    Enquanto isso Kell está em sua nave e relembra o dia em que sua irmã desapareceu, eles estavam treinando suas habilidades Telecineticas, quando ele saiu por um segundo para pegar o objeto que eles estavam controlando, quando ele voltou ela já havia desaparecido. O grupo logo chega em um planeta estranho onde a vegetação é vermelha e são atacados pelos irmãos Foster, sem entenderem Jack e os outros se defendem, Gabey aparece e diz que eles estão sob controle mental de Dorian. Jack diz que sabe como tirar os três da transe, mas diz que não será fácil e precisa da ajuda de todos, prendendo os três com cordas, Kell usa um gás que os fazem desmaiar.
    Os soldados da Terra rastreiam Dorian e seu grupo e ataca a nave deles, que faz um pouso em um planeta próximo, no solo do planeta uma batalha se inicia, mas os soldados da iniciativa são mortos facilmente pelos vilões, eles deixam o soldado Nelson Deldar vivo para mandar uma mensagem para a iniciativa, dizer que eles fizeram a escolha deles, agora sofrerão as consequências.
    Os irmãos Foster acordam livre da transe, eles perguntam o que aconteceu e Jack explica, James fica com muita raiva e diz que Dorian e seu grupo pagarão caro por isso, Jack diz para ele ter calma, mas James diz que ninguém faz os Foster de bobos.
    Enquanto isso, Kell investiga algumas leituras de energia vindas de um planeta próximo e acredita que seja sua irmã perdida, ele resolve ir investigar e vai em seu planador já que não vai pegar pontos de Salto.
    Em X-4n8, Jack diz que eles precisa voltar pra nave da Terra, mas, os irmãos Foster decidem ir atrás dos inimigos, Gabey diz que vai com ele, Jack diz que isso é loucura e diz que o melhor é eles voltarem para a nave e criarem uma estratégia, mas James está decidido a partir, mesmo não concordando Jack não os impede de ir, e volta para a nave da Terra com Moxx, Tonzom e Sito.
    Kell chega a um planeta rochoso e procura pelo sinal, mas o que ele encontra é um antigo inimigo aliado do Imperador Fonks, chamado Hangarom, os dois lutam mas Hangarom é muito poderoso e deixa Kell ferido, Kell foge em seu planador frustrado por não encontrar sua irmã.
    Histórias de Agosto
    O Fantástico Homem-Atômico #6 dia 7
    Jornada de Heróis #8 dia 14
    Histórias Espetaculares #8 dia 14
    Contos de Heróis #9 dia 21
    Os Quatro #10 dia 21
    Histórias de Heróis #10 dia 28
    O Viajante do Tempo #2 dia 28
    Jornada Pela Via Láctea #4 dia 28
  • Kidnapped - Sequestrada.

    POV'S Alessa Katherine Kendrick.
        - Se alguém tem algo contra este casamento, fale agora ou cale-se para sempre. - Disse o padre.
       - Amiga é agora! - indagou Courtney que estava sentada ao meu lado. E ao lado dela estavam Hanna e Babi. Éramos as damas de honra, e que honra. Sorri com meu pensamento.
        Olhei do outro lado e em outro banco estavam sentados os meninos que iriam nos ajudar. Meninos que estudaram conosco. Os olhei e pisquei.
       Um deles se levantou e veio até mim. Estendeu sua mão e eu segurei na mesma. Me pus de pé e estalei os dedos, como se fosse um sinal. Logo uma música começou a tocar. Uma música romântica. O que fez todos olharem maravilhados achando que aquilo faria parte do casamento. Meu pai olhou sorrindo achando que aquela era uma surpresa que eu havia preparado para seu grande dia. E realmente era!
       Logo a música ficou mais sensual. Soltei meus cabelos. Agora sim o jogo começou.
       Eu me movimentava conforme a música, subia e descia de costas para Daniel, o garoto que estava dançando comigo. Passei minha perna em volta de seu quadril e o mesmo segurou ela ali, fazendo com que meu vestido subisse mostrando parte de minha bunda. Pude ouvir vários murmúrios o que me fez sorrir.
        - Alessa! - advertiu meu pai.
        - Sim Papai? - o olhei com cara de desentendida.
        - Sente-se imediatamente! - disse mais vermelho que o normal.
        - Garota mimada! - retrucou a vadia petulante do altar.
        - Claro. - disse e realmente me sentei. Mas em cima do colo de Daniel, logo após deita-lo no chão. Comecei a rebolar e Daniel começou a se soltar, não pelo plano, mas sim porque o mesmo estava ficando excitado de verdade.
       Me levantei e fiquei em prontidão, logo as outras garotas se encontravam do meu lado. Ficamos paradas, imóveis, os outros garotos se levantaram e nos rodearam. Agora tocava “Love Me” de Lil Wayne. Os garotos continuavam a nos rodear. Eles colocaram as mãos nas nossas nucas e puxaram os fios amarrados do vestido, fazendo os mesmos caírem ao chão revelando nossas lingeries vermelhas idênticas e totalmente provocante. Caminhamos até os meninos que estavam parados uns do lado dos outros. Nos abaixamos em perfeita sincronia e puxamos as calças dos mesmos revelando as cuecas box idênticas, também na cor vermelha, logo puxamos o smoking e revelou seus peitorais muito bem definidos e com a gravata borboleta no pescoço. Podíamos ouvir vários "Óhh" das senhoras sentadas tapando os olhos de seus maridos. Logo começou a tocar “Side To Side” da Ariana Grande. Começamos a fazer a coreografia com os meninos. Havia as senhorinhas que nos encaravam e não sabiam o que fazer, umas até foram embora passando mal. Pude até ouvir uma delas dizer: “Barbaridade, no meu tempo não existia esse tipo de coisa”.
        Nos deitamos no chão e os meninos se deitaram por cima, se esfregando em nós, invertemos as posições e ficamos por cima, rebolando o mais que conseguíamos ou pensávamos estar sensual, sem parecer um bando de virjonas, tentando ser vadias só para estragar o casamento do pai.
       Com a música logo no final, olhei para o altar e a vadia tentava acudir meu pai que estava muito vermelho, a mesma abanava o rosto dele com um envelope. O padre estava estático.
       Peguei o vinho que eu deixei preparado na taça onde eu estava sentada e caminhei até ela, beberiquei o mesmo e ela já podia imaginar o que eu ia fazer.
        - Se você ousar... - joguei todo o líquido na cara dela, manchando todo seu vestido.
        - Ah... sua... insolente! – reclamou, passando as mãos pelo vestido branco, desesperada.
       A igreja se pôs de pé, comentando minha audácia, alguns jovens na flor da idade, com os hormônios à flor da pele, nos aplaudiam e assobiavam. Já os mais velhos estavam indignados, provavelmente achando que eu era uma filha ingrata e mal criada.
       Ouço o grito da vadia e olho para trás e vejo meu pai caído no chão. Droga! Isso não estava nos planos.
        - Aí, Alessa, fodeu vem! - disse Hanna me puxando para a saída.
       Saímos correndo e descemos as grandes escadas da igreja, todos da rua nos olhavam, por conta de nossas lingeries. Um garoto que estava de bicicleta, deu de cara no poste após prender sua atenção em nós.
        Nós, meninas, corremos para meu carro que era um Audi R8, que acabara de ganhar do meu pai de presente antecipado de aniversário. Iria fazer 18 anos daqui quinze dias e os meninos entraram no Porsche de Daniel logo atrás de nós.
        - Mano, isso não estava nos planos. - Comentou Babi.
        - É o meu pai. Preciso voltar! - disse com lágrimas nos olhos.
        - Aí Kath, deixa de ser dondoca! Ele apenas desmaiou. Se voltarmos agora, vai ferrar para todas nós! Conseguimos o que queríamos, agora é só esperar. O casamento não aconteceu.
        - Está certa! Está certa! Está certa! - dizia tentando confirmar a mim mesma.
        Parei em frente a uma praça.
        Logo quebramos o silêncio constrangedor com nossos risos escandalosos.
         - Meu, vocês viram a cara da vadia quando você jogou o vinho na cara dela?! - dizia Courtney nos fazendo rir ainda mais.
         - Aí, Alessa - chamou Babi -, depois dessa acho que seu pai vai te deserdar. - rimos de novo.
         - A essa altura nem me importo com grana. Sem contar que ele me deixou disponível na minha conta 5 milhões de dólares, mas eu só posso mexer daqui 15 dias quando fizer 18 anos. Além do mais, tem a fortuna da minha mãe que diferente daquela vadia, ela não se escorava em meu pai. É uma mulher independente! - disse orgulhosa.
         - Realmente. A tia é mó fodona. Admiro muito ela. Ainda mais os vestidos que ela faz. - disse Hanna se lembrando do vestido lindo de 15 anos que minha mãe havia dado de presente à ela a três anos atrás.
         Fomos para minha casa e já estávamos vestidas novamente com os sobretudo que havíamos levado de reserva no carro.
         Abri a porta de casa e adentramos a mesma.
        - Mas já estão de volta meninas? - disse minha mãe alegre. Quem olhasse para ela jamais diria que a mesma fora traída e abandonada pelo marido. Minha mãe era uma mulher que eu admirava muito, não demonstrava fraqueza, mas eu sabia que a noite ela chorava por falta de meu pai.
        - Mãe, foi maravilhoso! - sorri largamente pra ela.
        - É tia, fizemos tudo direitinho! - disse a bocão da Babi.
        - O... O que? - disse direcionando seu olhar para mim - Alessa! O que você aprontou? - disse autoritária.
        - Então... Sabe o que é mãe... - disse olhando feio para Babi - Bom...
        - Bom?... - disse me incentivando a continuar.
        - Ah mãe, qual é! Você aceitou esse casamento, mas eu não! E estou em todo meu direito de fazer um show e acabar com tudo. Não é só por você, é por mim, pelo papai e pela família que tínhamos e ele nem se quer levou isso em consideração. Não adianta nada ele depositar milhões de dólares na minha conta, me presentear com um Audi R8, me visitar e me tratar como princesa se no final do dia, ele vai voltar para aquela vadia, vai jantar com ela, se deitar com ela e acordar com ela! Pronto para construir uma família nova e eu vou estar pronta para me considerar órfã de pai se isso acontecer! - disse transbordando raiva.
         - Ah filha... - ela sorriu e me abraçou - puxou meu temperamento. Me conta todos os detalhes, derrubou vinho no vestido dela? Isso não pode faltar em nenhum lugar!
         - Sim mãe, joguei bem na cara dela! Olha como ficamos na igreja... - disse abrindo o sobretudo e revelando a lingerie vermelha. A mesma arregalou os olhos e soltou um gritinho histérico, logo nos puxando para o sofá e nos fazendo contar cada detalhe.
  • Labirinto

    O sonho era bonito. Estava deitado na praia e sentia o sol bater na face direita do seu rosto. Já ardia de tão quente, mas não era uma ardência ruim ou angustiante. Trazia prazer sentir aquilo e o barulho das ondas do mar se quebrando trazia a tão querida paz. Porém, como é por diversas vezes costumeiro nessa vida, o sonho acabou e tudo se tornou um pesadelo. O despertador tocou as 05:30 da manhã, sinal de que ele tinha que sair da sua sonhada praia e começar a se arrumar para ir ao seu odioso trabalho.
    Tudo ocorria exatamente como ele detestava nos inícios da manhã. O seu café estava velho e ele colocou o número errado de colheradas de açúcar. O pão já estava duro, mas não o suficiente para que fosse impossível de comer. A programação da televisão era um lixo e, mesmo que achasse algo bom, não daria tempo de assistir tudo. Era assim todas as manhãs, mas o horário já avisava que não tinha como ser melhor.
    O cotidiano dos seus tormentos se modificou assim que abriu a porta. Tudo estava escuro. Somente por causa de uma luz, que estava distante dele uns 50 metros, era possível perceber que o que levava até ela era um corredor. Ele continuava na beira da porta com a sua chave na mão. Tentava entender o que estava acontecendo. Tentando achar alguma explicação lógica para aquilo. Tentando se convencer de que tudo não passava de um sonho. Tentando não se frustrar. E tentando criar coragem para ir até aquela luz.
    Os seus primeiros passos foram feitos sem muita convicção, mas a curiosidade de saber o que tinha lá fez com que a coragem viesse lentamente e seus passos foram se tornando mais firmes. Chegando lá, percebeu que tinha algo escrito na parede iluminada. “Bem-vindo ao meu labirinto! Direita ou esquerda? Direita.”. O que já era confuso para a sua mente se tornou ainda mais depois dessa frase. A única coisa que tinha convicção de que sabia era o que era um labirinto, mas não sabia de quem era ou de que maneira tinha parado ali já que sabia que não existia nenhum na porta de sua casa quando foi dormir. De qualquer maneira, seguiu para a direita com calma e sem nenhuma coragem.
    As paredes eram brancas e feitas com grandes tijolos de concreto, mas já estavam sujas e com trepadeiras crescendo nelas. Via a sua sombra o acompanhando apressadamente enquanto andava. Não havia luz o suficiente para que uma sombra fosse gerada. Percebeu isso quando um rato passou correndo por ele e nem sequer gerou uma imagem borrada. Quando chegou em uma bifurcação, continuou para a direita assim como ordenara o aviso. Finalmente, viu uma luz no final do corredor em que estava. Seguiu apressadamente, ansioso para saber o que estava escrito. Enquanto andava pensava somente em coisas boas, acreditando que podia ser uma saída ou pelo menos uma explicação do que estava acontecendo.
    O branco da parede começou a ter respingos de vermelho. Os respingos viraram manchas. A sua sombra se ajoelhou em prantos, ele não. Os seus passos estavam mais lentos como se quisessem impedir que os seus olhos vissem uma desgraça. Como se pudessem ver o futuro. E como se antecipassem a dor.
    Antes de ler o que estava escrito, viu o seu gato de estimação, chamado Simão, caído no chão. Ele repousava sobre o próprio sangue retirado por meio de uma degolação. Ainda dava para perceber o rabo com os pelos todos eriçados, mostrando que ele sofreu e sentiu medo em seus últimos minutos de vida. Assim que a sua ficha caiu, o que demorou poucos segundos, sentiu como se uma adaga tivesse sido fincada no peito. Não acreditava que, depois de passar doze anos ao lado do seu gato, ele teria que o perder dessa maneira, sem conseguir entender nem onde está e o porquê de estar lá.
    Quando finalmente conseguiu fazer com que as lágrimas saíssem da frente dos seus olhos, leu o que estava escrito na parede. “Eu disse direita? Esse nunca é um bom caminho, mas fique com esse presente. O reencontro com um animal de estimação é sempre emocionante. Siga ao norte e depois vá para a esquerda.”. Ele decidiu ir para o norte já que essa era a única opção além de voltar, mas viraria a primeira a direita que visse.
    Assim que começou a seguir pelo caminho planejado, viu que a sua sombra estava indo para trás. A sua mente estava perplexa com aquilo que via e isso só aumentou quando viu uma outra passar pela parede logo em seguida. Olhou para os lados e viu mais umas outras três sombras fazendo o caminho contrário. Decidiu ignorá-las, acreditando que esse seria somente outro truque do labirinto para desviá-lo do verdadeiro caminho.
    Como prometeu para si mesmo, virou a primeira a direita. O caminho parecia ser longo já que caminhava durante horas e não chegava a nenhuma parede que o impedisse de continuar. A sua mão já estava muita arranhada por ter que andar encostando na parede uma vez que a iluminação ia diminuindo lentamente e quase imperceptivelmente. Para ele, o labirinto insistia em tentar o convencer a seguir o outro caminho. Via diversas sombras voltando ou entrando em diversas bifurcações que levavam ao norte ou a noroeste, mas continuava firme em sua promessa.
    Finalmente chegou no terceiro aviso. A luz estava fraca e tremula. A escuridão a sua volta não o permitia ler direito. Quando olhou para a sua esquerda, viu diversas sombras parando uma atrás da outra. Não conseguia ter um bom pressentimento daquilo. Assim que a última sombra parou, todas passaram a correr em círculos. As sombras começaram a sair das paredes. Ele sentia o vento delas correndo em volta dele e o impedindo de respirar fundo. O seu coração disparou enquanto gritos estridentes de sofrimento começavam a ensurdecê-lo. Os seus olhos latejavam com o som e suas mãos foram instintivamente para os seus ouvidos, mas os sons já estavam dentro da sua cabeça. A dor que as sombras pareciam sentir invadiram o seu corpo e se concentravam em seu peito. Parecia que todas as angústias, sofrimentos, medos e dores, tanto físicas como emocionais, que as sombras sentiam estavam sendo transferidas para ele. A sua mente não aguentava aquilo e ele implorava para que a morte chegasse logo. O seu sofrimento deve ter durado horas ou pelo menos era isso que o seu cérebro estimava.
    A dor não cessou instantaneamente, mas foi reduzindo aos poucos, igual aconteceu com as luzes enquanto caminhava. No momento em que tudo se tornou suportável, viu que a luz presa na parede estava mais forte e com brilho firme. Leu cada palavra muito lentamente para tentar driblar a dor e impedir que ela não o faça entender a mensagem corretamente. “Você é retardado ou só não passou do maternal quando ensinaram direções? Eu falei esquerda e é melhor seguir as minhas ordens.”. Quando leu a palavra “ordens”, uma raiva subiu a sua cabeça que foi o suficiente para ignorar todo o resto da dor que sentia. Ele adorava desafiar autoridades e achava que, se continuasse para a direita, conseguiria a liberdade, então assim foi como ele fez.
    Ele foi um pouco para o norte e logo virou à direita. A dor misturada com a raiva o deixou com um aspecto de maluco. Às vezes, enquanto caminhava, sorria do nada com algum xingamento aleatório ao labirinto e seu criador como se estivesse prestes a ganhar uma luta difícil. Os seus passos agora eram inegavelmente firmes e sem nenhuma hesitação. Não havia muitas sombras a sua volta, somente três.
    A caminhada até o outro aviso não durou tanto como a anterior, mas ainda assim foi longa. Os seus pés já doíam, principalmente porque os sapatos que usava não eram feitos nem mesmo para caminhadas curtas. Mesmo assim conseguiu chegar ao quarto aviso e, no momento em que estava perto o suficiente para ler, se ajoelhou para que conseguisse descansar um pouco. Na parede estava escrito: “Você está saindo da área de influência dos meus poderes. Parabéns,”. Depois de ter sentido medo, tristeza e dor, esse foi o primeiro aviso que trouxe alguma felicidade e esperança. Pelo menos foi isso o que ele sentiu na primeira parte, mas a vírgula no final da frase o deixou apreensivo. Queria acreditar que era só um descuido numa pichação apressada. E, como quis acreditar dessa forma, assim acreditou e decidiu continuar o seu caminho para direita.
    Não demorou muito para encontrar outra bifurcação na sua tão querida direção. Depois de ter dado uns vinte passos, o caminho que estava atrás dele se fechou e o chão cedeu até a metade dos seus passos. A luz que iluminava aquelas áreas só durava o bastante para que ele visse toda o chão ceder com um estrondo aterrorizador e sumir diante dos seus olhos, se tornando nada além de escuridão. A cada passo que dava para frente, um pouco mais de chão era perdido atrás. Não tinha percebido antes, mas agora só tinha uma única sombra o seguindo, somente a sua.
    Os seus passos estavam tão lentos como os de um velho de noventa anos. Queria correr até o aviso, mas os seus joelhos estavam travados de medo. Queria acreditar que continuava no caminho da saída, porém não conseguia se convencer de que a liberdade tinha um caminho tão amedrontador. Os seus sorrisos desafiadores agora não passavam de um rosto que se segurava para não chorar com as suas pálpebras e lábios tremendo. Toda a força que fazia não foi o suficiente para segurar as suas lágrimas enquanto lia o aviso. “, você cavou a sua própria cova, então agora aceite a sua morte. Nos vemos no inferno.”. No exato segundo em que os seus olhos viram o ponto final, todo o ar a sua volta sumiu. Não havia mais luz no labirinto enquanto ele sufocava até a morte. Em seu sofrimento, os seus olhos pareciam vazios, embora seu coração estivesse cheio de decepção.
  • Literatura eletrizante!

    Não conheço ninguém que já tenha tido a honra de ter um gênero literário inspirado em seu nome além de Nikola Tesla. O engenheiro elétrico e inventor nasceu na Sérvia, em Smiljian, no ano de 1856. Devido as suas grandes contribuições científicas e teorizações acerca da energia elétrica, acabou despertando os escritores de ficção para a escrita de histórias que englobassem a relação da sociedade com a energia elétrica.
                Meu primeiro contato com o gênero Teslapunk veio com uma antologia organizada pelo Maurício Coelho, prolífico escritor e tradutor, além de antologista. Assim como outros subgêneros da ficção científica a exemplo do steampunk, dieselpunk, solarpunk e o famoso cyberpunk, as narrativas se desenvolvessem explorando a interferência da tecnologia na vida humana, muitas vezes, de modo negativo.
                Em mais uma antologia do selo Cavalo Café, a obra Teslapunk: Tempestades Elétricas, Maurício Coelho acertou a mão escolhendo dez contos para participar de mais uma antologia, sendo o próprio organizador um fã da temática e publicando também um conto. A Editora Porto de Lenha trouxe uma ótima edição, tem orelhas, ilustração de Rafael Danesin, papel do miolo amarelado, ilustrações internas, página de abertura com fotos e biografia dos autores, prefácio e posfácio. O que faz do livro um show de editoração.
                O prefácio é escritor pelo Prof. Dr. Alexander Meireles da Silva. Professor da UFG, mestre e doutor em Literatura. Aqui ficamos sabendo um pouco mais sobre a origem do gênero literário e sua relação com a produção contemporânea. O Teslapunk se insere nas propostas punk de contestação, mas não deixa de ser um tipo de Retrofuturismo. Além disso, vemos a influência de Tesla na cultura pop.
                O primeiro conto da antologia é o mesmo do ilustrador, Tunguska, 30 de junho de 1908. Já li um outro conto do colega escritor numa antologia de cyberpunk. O texto investe muito na metaficção, ou seja, você obrigatoriamente deve ter muita leitura anterior para entender. Para mim, não foi difícil pegar as referências, mas o leitor médio não vai pescar. Não darei spoilers. O conto só peca nisso mesmo, merecia mais páginas.
                O conto seguinte é o trabalho de estreia do Gabriel Mascarenhas, é o melhor da antologia, na minha opinião. Teletransfoto traz um clima de ficção policial dentro de uma história Teslapunk. O conto é tão bom que você sente uma nostalgia, você se sente transportado para as antigas narrativas Pulp Fiction, quando talento e originalidade eram essenciais para se contar boas história. Parabenizo ao autor, foi genial.
                Pedro Graeff nos traz um Teslapunk e narrativa histórica, uma mistura que casou muito bem em Guerra Fria. Através de uma ação cotidiana, memórias de guerras travadas a muito tempo são destrinchadas. O uso da energia elétrica como força bélica Segunda Guerra Mundial mudou as relações beligerantes. Como estudante de História eu curti esse conto demais.
                Armistício de Sangue é escrito pelo Daguito Rodrigues. Além de escritor, o autor é repórter e roteirista. Algo que influenciou bastante seu conto. Foi o segundo que mais gostei. Vi aqui uma contestação política e um questionamento existencial ousado e que faz muita falta nas produções de hoje. Aqui, um policial está tentando dar conta do salvamento de reféns numa faculdade, mas nada será o que você pensa.
                João Augusto de Nardo é um escritor de terror sem igual. É editor da Revista Aterrorizante. Em seu conto Barracão 13, temos uma narrativa muito curta, mesmo em primeira pessoa, senti que faltou explorar mais. A história gira em torno de um rebelde que acaba descobrindo planos do governo que incluem poderosas máquinas assassinas. Caio Fraga traz um conto interessantes, com direito a viagem no tempo e tudo mais. O segredo do tempo vai te parecer confuso até o fim. Mas quando chegar lá, o autor vai te surpreender.
                Raios e escuridão é o conto do Adnelson Campos. Flerta bastante com o paranormal. Até o fim da história não sabemos quem influência a mente de Tesla em suas criações, o que nos faz pensar quais seriam as consequências direta desse contato. Jonnata Henrique é poeta e contista de mão cheia. Aqui ele misturou Teslapunk com faroeste. No conto a Centelha de Zeus, faroeste em Oeste Rochoso traz a mobilização de uma cidade inteira atrás de um estranho artefato que pode gerar energia elétrica ilimitada.
    B. Jenitez é um autor que eu já conheço da Revista Somnium. Seus contos sempre tem um quê de narrativa experimental. Eu gosto muito das suas propostas narrativas. É inspirador como a forma do conto altera a nossa percepção dos acontecimentos da narrativa. No conto Passaporte para Magônia, escritos apócrifos de Tesla revelam experiências únicas e que evidenciam contato com formas de vida não humanas.
                O conto que publiquei nessa antologia, minha estreia no gênero Teslapunk foi uma história ambientada num Brasil em plena ditadura, onde energia elétrica é usada como forma de controle e segregação da população. Em Dançando sobre as faíscas, Watts é um homem que está adentrando um terreno perigoso: o do traficante de energia. Mais seus objetivos vão muito mais além da necessidade energética.
                O conto do organizador Maurício Coelho traz várias questões à tona, dentre elas as criptomoedas e a questão da imigração ilegal. Cidade Luz se passa em Belém do Pará, o protagonista Plínio contata o angolano Lévy para executar um roubo a criptomoedas. O imigrante até tenta se desvencilhar da proposta, mas o outro é mais insistente. No fim, o roubo ocorre com graves consequências para um deles.
                O posfácio é escrito por um autor da velha guarda, o Prof. Dr. Edgar Indalecio Smaniotto. Antropólogo, filósofo, e ainda mestre e doutor em Ciências Sociais. Pesquisador de diversos aspectos da ficção científica como o transumanismo. Aqui conhecemos um pouco mais sobre as origens de Tesla e sobre a ciência acerca da eletricidade. Aspectos de sua psique e de sua vida são importantes para entender e até produzir ficção no Teslapunk.
                Com todas essas informações, esse livro se torna obrigatório em sua coleção. Além da leitura de onze conto incríveis, você conhece um pouco sobre a biografia de um grande cientista moderno, um novo subgênero da ficção científica, tudo isso num único livro com edição pra lá de ótima. O Maurício além do talento é muito eficiente e talentoso, gostei de trabalhar com ele nessa antologia.
    Para adquirir o livro acesse:
    http://portodelenha.com/livraria/conto/85-teslapunk.html
  • Luz

    Boa parte das crianças tem medo do escuro e a grande solução para isso é uma luzinha pequena feita em diferentes cores para plugar na tomada. Assim era possível ter uma noite inteira de sono sem achar que tem algum monstro perdido na escuridão. Agora, no auge dos seus 29 anos, Manu não vê mais necessidade de ter essa luzinha já faz tempo, mas em uma noite observou o seu novo repelente elétrico de mosquitos e o pequeno LED vermelho que tinha para indicar que estava ligado. Ele projetava a sua luz para o teto e ela o encarava enquanto se lembrava da sua infância.
    Essa luz formava um círculo vermelho no teto, mas com o interior escuro como se fosse um eclipse solar dentro de sua casa, totalmente privativo. Aquela projeção de uns 30 centímetros de diâmetro era hipnotizante e ela o encarava com fascinação. Era lindo, embora um pouco assustador. Ao mesmo tempo que queria dormir e descansar do longo dia de trabalho, queria ficar ali olhando para cima enquanto viajava em sua mente. Talvez tenha se passado uns dez, vinte minutos ou talvez uma ou duas horas quando ela viu algo na escuridão do interior do halo vermelho. Eram pequenos círculos ovalados de um vermelho bem mais intenso. O topo deles foi lentamente se achatando, se transformando em olhos zangados, e logo abaixo um sorriso com dentes brancos e afiados começou a surgir como se a desejassem. Ela prendeu a respiração durante alguns segundos sem perceber e fechou os olhos com força, espremendo uma pálpebra contra a outra, para não ver aquilo que a sua mente implorava para não ser real. Enquanto isso o seu corpo foi lentamente deixando de sentir a sua cama e as suas mãos foram se fechando para tentar conter o medo. Se não bastasse o frio subindo pela espinha, ela sentia o frio se aproximar como se tivesse algo o empurrando para perto dela. Não aguentando o terror, o seu corpo se virou de lado, os joelhos começaram a ir em direção aos seus seios enquanto os seus braços abraçavam firmemente as pernas. De olhos fechados e em posição fetal, ouviu uma voz velha, que era aguda como unhas arranhando um quadro negro, sussurrando em seus ouvidos.
    — Esqueça o medo e venha brincaar! Não sabe brincaar? Fique traanquila, eu ditarei as regras antes de caada fase começar! A morte pode ser o prêmio ou a punição, vocÊ decide! — e a cada palavra e sílaba arrastada os seus olhos se apertavam mais e os seus braços abraçavam as pernas com mais força — Vaaamos, abra os seus olhos! Eu juuro que você não irá me ver!
    Ela queria acreditar que estava sonhando e que tudo não passava de um pesadelo produzido pelo seu doente subconsciente, mas não importava o quanto se esforçava em seus argumentos, a sua mente sabia que era real. E, por saber que era real, se obrigou a ter coragem e abrir os olhos, mas não sem relutância, é claro. Afinal, se visse uma sombra de algo assustador, a sua reação provavelmente seria fechá-los novamente. Mas não viu nada. Estava tudo completamente escuro, então foi se levantando aos poucos, tomando muito cuidado. Quando finalmente estava totalmente erguida, uma luz apareceu a uns dez metros de distância iluminando um grande pedaço de pedra de cor barrosa. Por não ver onde estava pisando, cada passo é tomado com um enorme cuidado, mas o destino era certo: a grande pedra. A uns três metros de distância, percebeu que tinha algo escrito nela como se garras tivessem arranhado a pedra em uns dois centímetros de profundidade, dando um aspecto sombrio a cada letra. Quando chegou perto o suficiente, percebeu que eram as regras do jogo que a criatura falou no início. Estava escrito: “Caminhe rápido porque na escuridão estarei lá, mas, se quieta ficar, viva continuará!”. Havia um X bem grande cruzando a palavra viva o que gerou um frio na espinha de Manu. Mas não teve tempo para refletir sobre isso porque, no momento em que terminou de ler, a luz que antes iluminava a pedra tinha sumido e a voz da criatura voltou a aparecer.
    — A primeeira faase começou! Siiga o vento, miinha criaança! — a sua voz ia engrossando à medida que falava, chegando a parecer um trovão no final — BOA SORTE! —  Com a explosão da última palavra, duas enormes bolas de fogo, parecendo uma mistura de pássaros com olhos gigantes, passaram dando um rasante em Manu que se lembrou a tempo das regras e se impediu de gritar de medo colocando as mãos na boca enquanto caia de costas no chão.
    Com a respiração acelerada, ficou encarando a direção em que foi o fogo alado, lutando para que o seu medo não enchesse os seus olhos de lágrimas. Quando conseguiu se acalmar um pouco, se levantou e começou a seguir o caminho da bola de fogo, mas, depois de apenas três passos, ela se lembrou das grandes asas do fogo batendo e se deu conta de que o vento delas era direcionado para trás. Já que a regra era seguir o vento, tinha que dar as costas para as imensas bolas de fogo que iluminavam o horizonte e seguir a escuridão.
    Não tinha nada para ver a sua direita, a sua esquerda e nem na sua frente. A sua única alternativa era se afastar silenciosamente da sua única, e ainda assim temida, fonte de luz. Quando até essa luz não era mais visível, começou a ouvir um zumbido distante. Era um ou mais insetos voando em sua direção, ela sabia disso. O zumbido era um som grosso que não se lembrava de ter ouvido em lugar algum, mas que indicava que não eram insetos pequenos. Ela não gostava de insetos, principalmente daqueles que voavam e eram totalmente imprevisíveis em seus movimentos. Sempre que via um perdido em sua casa, tentava matar o mais rápido possível mesmo que sentisse que não era o correto. Era o jeito que ela encontrava de se livrar desse problema, mas que agora não poderia fazer já que matar, seja lá o que estivesse vindo, poderia fazer barulho e violar as regras. Pelo mesmo motivo, teria que evitar correr ou se desesperar, então, nesse meio tempo em que os insetos estavam se aproximando, tentaria se acalmar o máximo possível.
    No momento em que o primeiro zumbido passou pelo seu ouvido, a sua respiração acelerou e teve que segurar a sua mão para que não soltasse um frustrado tapa em seu pescoço tentando acertar o bicho. Ao mesmo tempo, uma outra rocha passou a ser iluminada indicando o destino final dessa fase e as regras da outra. Mas essa pequena fonte de luz repentina também servia para ver como eram os insetos. O monstro que a atormentava queria que ela os visse. E ela viu. Eram aranhas de diferentes tipos, mas a maioria parecia com peludas tarântulas com dois pares de asas de cada lado e um afiado ferrão na sua parte traseira que soltava uma gosma nojenta e verde. Parecia uma junção de abelhas com aranhas que vinham para cima dela como se fosse uma presa fácil. Ao ver o que enfrentava, Manu só conseguiu colocar as mãos ao redor do rosto para diminuir o seu campo de visão enquanto os seus olhos lutam para não ficarem fechados, franzindo todos os músculos da testa.
    Mesmo sentindo uma mistura de medo de ser machucada e nojo daqueles insetos, continuou a caminhar no mesmo ritmo. Reto e constante, os seus passos pareciam ignorar os insetos. Pelo menos até o primeiro pousar em seu ombro, fazendo com ela sentisse todas as oito patas em sua pele e a luta delas para ficarem estáveis enquanto Manu mexia os seus ombros para frente e para trás se esforçando para que aquele monstro minúsculo voltasse para o ar. Mas esse monstro decidiu que não sairia de lá tão fácil e rapidamente fincou o seu ferrão traseiro no ombro dela enquanto as presas da frente mordiam o seu pescoço, causando uma dor causticante. A primeira reação de Manu foi olhar para cima como reflexo da dor e soltar alguns xingamentos em sua mente, mas logo pegou o inseto com a mão e o jogou longe, retirando a força suas presas dela e causando mais dor. O local agora latejava e ardia, dificultando o seu raciocínio. Os seus pés pareciam fazer mais esforço para dar cada passo como se estivesse entrando em um lamaçal, a obrigando a diminuir o ritmo de caminhada. Por causa disso, mais e mais insetos começaram a pousar nela, a ferroando e mordendo incessantemente. Os seus dentes estavam quase se quebrando com a força que fazia para manter a boca fechada e não emitir nem sequer um “aí”. Ela até tentava retirar algumas das aranhas com as mãos, mas eram muitas e os seus músculos se contraíam a cada nova picada. Em uma dessas, não conseguiu se aguentar e caiu no chão, continuando a sua jornada engatinhando enquanto as suas costas se cobriam de aranhas. A sua visão já não condizia com a realidade, vendo a pedra se aproximando e afastando sucessivamente. Ela lutava para continuar se movimentando, levando cada músculo ao seu esforço máximo. Até que a sua panturrilha não aguentou mais e causou uma dolorosa cãibra. Com a sucessão de dores latejantes que pareciam emanar de todo o corpo e subir até a sua mente já tonta, não aguentou mais engatinhar e caiu no chão. Ficou deitada no chão por alguns segundos, talvez tenha até desmaiado, e os insetos começaram a cobrir cada parte do seu corpo, inclusive o rosto. Em um certo momento, quando uma das aranhas mordeu a sua língua, ganhou um pequeno lampejo de força que a permitiu começar a se arrastar, se impulsionando com o braço esquerdo. Ela não sentia mais nada em seu corpo e nem sabia se os insetos continuavam em cima dela, só tentava continuar enquanto ainda estava consciente. E, logo quando estava com a visão completamente turva e sentindo a sua cabeça caindo no chão, levantou o braço direito, encostou em uma rocha e desmaiou.
    — Acoorde, minha querida dama! — sussurrou a criatura despertando pequenos reflexos nas pálpebras de Manu — Você aiinda está viva, mas só por sorte do deestino. Mais alguuns segundos e vocÊ seria minha. Minha, minha, minha, vocÊ será miinha! MAS não sou cruel, vejo que está debiliitada, então deixarei você repousar... Você ficará bem quietinha, sem se mover enquaanto o caminho vem até vocÊ! — Manu, que ainda estava zonza e dolorida, já tinha conseguido ficar de joelhos em meio a escuridão e percebeu que mais uma fase tinha começado quando viu um ponto de luz brilhante no horizonte.
    Ainda respirando com dificuldade, tentando assimilar tudo o que aconteceu e tudo o que ainda irá acontecer, Manu ficou parada enquanto encarava aquele ponto de luz que parecia uma estrela distante, piscando e oscilando. Ela queria coçar os olhos para ver se enxergava melhor, mas entendeu as regras dessa fase. Podia não estar entendendo tudo, mas sabia que não podia se mover muito nem mesmo com sabe se lá qual armadilha a criatura colocar. Alguma coisa iria vir, tinha certeza disso, embora não quisesse pensar muito para não sofrer por antecipação mais do que já estava sofrendo fisicamente. Ia aproveitar esse tempo para se recuperar, mesmo que fosse bem pouco, então fechou os olhos para adiar ao máximo o momento de sofrimento.
    Ela continuava tentando adiar e ignorar tudo quando algo peludo passou pela lateral da sua perna direita. Ela fechou os olhos com mais força quando sentiu algo rápido e pequeno subir em sua coxa com as suas seis pequenas pernas. Mas não conseguiu mantê-los assim quando ouviu um forte bater de asas e, pensando que podia ser novamente as aranhas, teve que ver o que tinha a sua volta. A sua primeira visão foi do chão e teve que segurar o seu corpo para não ter nenhum reflexo. O chão era um tapete de baratas e ratos, não dando pra ver nem sequer um milímetro de terra, piso ou seja lá que estivesse embaixo dela. Os ratos tinham tufos de pelo cinza encardido espalhados pelo seu grande corpo e os seus olhos vermelhos iluminavam os seus enormes dentes. Já as baratas eram marrons, beirando ao preto, com uns 10 centímetros de corpo e que não paravam de mexer as suas antenas enquanto as suas asas ficavam ameaçando voar. Quando finalmente percebeu que algumas lágrimas pareciam estar presas na parte de trás dos seus olhos e que não iriam cair, teve coragem de parar de encarar o movimento aleatório dos ratos e baratas. Então Manu olhou para cima sem movimentar a cabeça e viu a criatura que batia as asas. Era um majestoso e nada assustador beija-flor extremamente colorido, tendo penas que iam do roxo, passavam pelo azul e terminavam no verde. Ela encarava os seus olhos e ele os dela, a deixando imersa nesse pequeno campo de visão como se a hipnotizasse, mas as suas poderosas asas começaram a levá-lo para a direita até sair do campo de visão de Manu. Agora ela só conseguia ouvir o som alto de suas asas batendo bem próximas ao seu ouvido e o seu coração parecia tentar igualar os seus batimentos com a impossível velocidade daquelas asas. A sua respiração ficou curta e acelerada, temendo o que vinha pela frente. E o seu temor se confirmou quando começou a sentir algo longo, fino e levemente úmido entrando e saindo de seu ouvido em uma velocidade assustadora como se estivesse escavando, procurando alguma coisa enquanto causava uma agonia dolorosa. Com as lágrimas caindo dos seus olhos e lutando contra as contrações involuntárias de seu abdómen, forçou os seus olhos a ficarem abertos para tentar se concentrar em alguma outra coisa. Mas, assim que olhou para baixo, começou a ouvir um zumbido agudo em seu ouvido que causava uma forte dor em sua cabeça, tendo que se esforçar para não entrar em posição fetal. No mesmo momento, viu as baratas subindo em seu corpo até a sua cabeça, tentando forçar uma passagem pela sua boca, nariz e olhos. Seu corpo tremia com a dor e agonia quando os ratos começaram a roer as suas pernas, mas Manu continuava sem se mexer mesmo não conseguindo mais ver a que distância estava a luz. O tempo parecia uma eternidade e cada segundo demorava a se passar em meio ao sofrimento. Ela só queria que tudo acabasse e não estar mais nesse pesadelo. Ela só queria...
    — PARABÉNS, vocÊ passou por maais uma fase! Pode se mexer agora! — nesse momento ela simplesmente desabou no chão como se tivesse sem forças enquanto dava longas puxadas de ar — agora só resta mais uuma fase e ela é beem simples! Você não está vendo, maas tem uma porta a sua frente. NÃO abra ela em hipótese alguma! Até loguiinho, minha você!
    Demorou um pouco até que Manu conseguisse sentar e depois finalmente levantar. O seu corpo inteiro doía, as articulações pareciam estar inchadas, o seu ouvido zumbia de maneira incessante e havia sangue escorrendo por todo o seu corpo. O cansaço era grande, mas a curiosidade pela prova ser só uma porta era ainda maior. Por ser a última prova, tinha dúvidas se deveria seguir as regras ou não. Mesmo agora podendo fazer barulho e se mover à vontade, ela ficou olhando para a porta até conseguir se decidir. Durante o seu raciocínio, começou a ouvir em meios aos zumbidos o barulho de alguma coisa correndo a alguns metros de distância. A sua respiração voltou a acelerar e começou a ouvir os seus próprios batimentos quando o som de um rosnado se espalhou pelo ar.
    Podia sentir a criatura se aproximando e a cercando quando se lembrou de que, segundo o monstro que a atormentava, a morte poderia ser o prêmio ou a punição. Talvez por causa disso ou somente por puro instinto, deu uma pequena corrida cambaleante até a porta e começou a puxá-la com toda a sua força, mas não havia nenhum movimento. Os rosnados aumentaram em volume e proximidade, aumentando também o seu desespero. Talvez pela adrenalina que continuava a inundar o seu corpo, outro pensamento pairou sobre a sua cabeça: “não estou dentro, estou fora”. Por isso parou de puxar a porta e colocou o peso todo do seu corpo para empurrá-la. Quase todo o seu corpo passou por ela, mas, quando as suas pernas estavam suspensas no ar, a criatura mordeu a parte interna da coxa direita. A violência do choque fez com que ela girasse no ar enquanto gritava de dor. Tudo ficou em silêncio quando a cabeça de Manu bateu em alguma coisa na escuridão e a fez desmaiar.
    Já era de manhã quando acordou em sua cama. Sentindo todo o seu corpo dolorido, tentou se levantar e ir até um espelho, mas a dor na sua perna direita não permitiu e a levou até o chão. Lá mesmo tirou a sua calça de pijama e viu uma grande ferida já cicatrizada de uns trinta centímetros em formato de dentes bem na parte interior da coxa. O resto do seu corpo estava marcado por picadas em cicatrização e não ouvia mais nada em seu ouvido direito. Manu chorou, chegou a ir ao hospital, mas nada adiantou. Além do constante medo de dormir, essa dor e essas marcas a perseguiram pelo resto de sua vida.
  • MACACO MATRICULADO

    I
    De tudo eu já vi um pouco
    Nesse mundo de meu Deus
    Vi panela dá pipoco
    Que a tampa se perdeu
    Vi conversão de ateu
    Coisa do “arco da velha”
    Mas pus em pé minha orelha
    Quando alguém veio informar
    Que viu macaco falar
    Isso é coisa sem parelha!
    II
    Disse-me certo sujeito
    Que tem consideração
    A quem eu devo respeito
    Falou-me de antemão:
    Me faça uma boa ação
    Em nome da amizade!
    Já rodei toda a cidade,
    Gastei do sapato a sola
    E não achei uma escola
    Que faça essa caridade!
    III
    Perguntei com lealdade
    Qual é a sua aflição?
    Afirmou sua verdade
    Com muita convicção
    Disse: eu tô criando um cão
    Dum macaco que ganhei
    Num jogo que apostei
    E me sobrou esse bicho
    Mas ele tem por capricho
    Falar às vezes, que eu sei.
    IV
    Eu disse: Ih! Me lasquei!
    Vou ter que acreditar nessa?
    Lá vem você outra vez
    Com tua fala as avessas!
    Querendo me pregar peça
    Nessa de bicho falar?
    Fui tentando me livrar
    Mas já me vi no fuxico
    Vi a sinuca de bico
    Disse ele: vamos apostar?
    V
    Se você matricular
    Meu macaco nessa escola
    Se ele logo não falar
    Eu lhe dou essa sacola
    Toda cheinha de dólar
    Notas verdes e cheiro novo
    Que eu quero mostrar pro povo
    Que esse bicho ler já, já!
    Eu pensei: vou me lascar!
    E prometi esse estorvo.
    VI
    Para atender ao pedido
    Matriculei o macaco
    Para não ser mal-ouvido
    Enem me tornar velhaco
    Com um tema no sovaco
    Sem perder o rebolado
    Não estava preparado
    Disse assim: isso não cola
    Um macaco na escola,
    Vai dá o maior babado!
    VII
    Pensa que macaco é gente?
    Você está enganado!
    É um bicho renitente,
    Mungangueiro, enfezado,
    Pinturento, acanalhado,
    Buliçoso, trapalhão
    Fazedor de expressão
    Das piores que não presta,
    Acabadozim de festa
    E criador de confusão.
    VIII
    Foram os dias num estouro
    Já quase o fim da semana
    Eu quase tirando o couro
    Do comedor de banana
    Num entra e não entra em cana
    Para dá satisfação
    Para uns pais metidos a cão
    Perguntando por capricho
    Quando vai tirar o bicho
    Do centro de educação?
    IX
    Na quinta ou sexta nem lembro
    Eu já meio abufelado
    Querendo arrancar um membro
    Daquele bicho safado
    Eu me sentindo acuado
    Sem ter mais razão pra dar
    Eu chamei pra informar
    E disse sem medo ao dono:
    Lhe digo e não desabono
    O bicho não vai falar!
    X
    Vou buscar o seu dinheiro!
    Disse o dono cabisbaixo
    Eu tomei um jeito ordeiro
    Fiquei com cara de tacho
    Quando entrou voando baixo
    Dez meninos embalados
    Eu olhei os condenados
    Com cara de “ovo-gôro”
    Me disseram um desaforo
    Que o bicho tinha falado.
    XI
    Eu fiquei injuriado
    Perguntei: Como foi isso?
    Um moleque obstinado
    Disse: vou lhe contar isso
    E naquele reboliço
    Eu fui ficando suado
    Num "me deixa contar" danado
    Dois berros bem alto eu dei
    "Fala um de cada vez"!
    "É quero bem explicado"!
    XII
    Começou o ilinhado:
    O bicho entre os pirralhos
    Gritou um coordenador
    Quando tocou o chocalho:
    “Cada macaco em seu galho”!
    Um moleque obstinado
    Correndo foi dando um brado:
    Sai daí desse buraco!
    Gritou de lá o macaco:
    “Eu estou matriculado”!
    XIII
    Ali eu engoli seco
    Aquela notícia triste
    Me encolhi como um marreco
    Pensando no que consiste
    Desse: é de tudo existe!
    Me sentindo encabulado
    Pra manter meu nome honrado
    Aguentei essa marola
    Tendo que deixar na escola
    O macaco matriculado.
    XIV
    Daquele dia pra cá
    Eu fiquei com mais cuidado
    Pra nunca mais noutra entrar
    Me senti gato escaldado
    Vivendo sempre armado
    Já tomei essa medida
    Disse até o fim da vida
    Se alguém disser: isso fala!
    Tu diz que fala ou não fala?
    Digo “o diabo é quem duvida”!
  • Marciano Inocente - Obrigado música

    "A música é o melhor remédio para a minha alma
    Sinto um amor tão profundo, uma alegria que me acalma
    Ela me entende e me consola
    É minha companhia perfeita em toda ocasião
    Ao tocar, cantar e dançar sou levado pela emoção
    E esqueço todas as tristezas desse mundo
    Obrigado música por tocar em mim tão profundo
    Agora eu sei que com você eu tenho talento
    Quero estar contigo em todos os momentos"

Autores.com.br
Curitiba - PR

webmaster@number1.com.br