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Espairecer,

  • "Senta aqui, vamos tomar um café"

    Senta aqui, vamos tomar um café?! Jogar conversa fora? Rir pra caramba, quem sabe chorar em algum momento. Senta aqui, vamos falar sobre nós! Como você está? Seus planos? Suas conquistas... Conta mais.

    Senta aqui, vamos matar a saudade de nós, vamos aproveitar um tempinho livre pra descansar a cabeça, o corpo! Senta aqui, vamos falar sobre sonhos, até mesmo daqueles mais cabulosos, quase impossíveis! Senta aqui, vamos olhar dentro do olho, ver como estão brilhando. Senta aqui, me deixa ver como você está bem, como você está feliz!

    Quero sentir seu abraço por alguns instantes. Ouvir sua voz, sua risada. Senta aqui, deixa eu te contar como eu estou como me sinto. Senta aqui, quero te contar uma ideia maluca que tive. Senta aqui, lembra aquela viagem que eu queria fazer, deu certo! Senta aqui, me ajuda a fazer uma lista de prioridades! 

    Preciso ir... Obrigada pela companhia, pelo café, pelo abraço, pela voz doce e suave, pelos conselhos impagáveis, pela companhia maravilhosa, pelas gargalhadas que demos, pelas bobagens que falamos e pela saudade que matamos!
  • "Tudo fica mais fácil com você"

    Queria que todas as lágrimas que estão nos seus olhos estivessem nos meus;
    E que o peso que você carrega estivesse nos meus ombros;

    Porque tu é para mim o ar fresco da noite, a brisa de manhã...tudo o que me faz respirar sem sentir dor.
  • [Cartas] AUSÊNCIA

    Me surpreende que mesmo há muito tempo sem te ver, falar, fitar, sentir, tocar, encarar ou simplesmente lhe escrever… não houve sequer um dia em que eu não tenha pensado em ti.

    É absurdamente estranho. Você distante, me magoando, não só por isso; mas também, por aparentemente não fazer questão, como quem já não mais se lembra. Me magoando, pois te vejo evitando todo e qualquer contato comigo, por mais ínfimo que seja. Digo isso com certeza, já que você sabe muito bem onde e como me encontrar. As poucas notícias que tive a seu respeito, desde então, foram através dos nossos colegas, afinal, tu continuas mantendo contato e saindo com todos os meus amigos..., aliás, sem sequer pronunciar o meu nome. Me machuca ver que usas de todos os meios e artifícios para inibir, obstruir, desviar todas as minhas tentativas em simplesmente conversar. Deve fazer ideia do quanto acho isso infantil.

    Não sei se fico feliz por você aparentemente ter superado e seguido ou incrivelmente decepcionada por perceber que não marquei o quanto imaginava, na mesma intensidade que as nossas estações marcaram a mim. Adoraria conseguir lidar muito bem com as idas e vindas, chegadas e partidas, mas não é do meu eu. Desmorono.

    E mesmo na ausência, você se faz tão presente… é na rotina do meu dia, na pausa para o café, na caminhada até a faculdade, é durante o meu banho, até na insônia da calma noite chuvosa… não precisa de muito, basta o soar de uma música para eu memorar um instante, ouvir uma frase (sutil) e julgá-la tipicamente sua, o notar de um perfume e percebê-lo familiar, é simplesmente tornar um lugar e ter uma “reprise” dos minutos que estivemos por lá. É, sobretudo, desejar insanamente o teu toque, o teu corpo, a sua fala mansa, ansiar temerosamente estar novamente no envolto do teu abraço e ser preenchida pelo teu cheiro. Sim, a sua presença é leve.

    Confesso, nos primeiros dias estava a ponto de delirar. Ouvia o seu nome, relia nossas mensagens de texto, procurei todas as nossas fotos, ouvi todas as músicas dedicadas a mim e também reli todos os textos que te dediquei. Lógico, escrevi muito na tentativa de exteriorizar e arrancar de mim o peso da sua ausência e até usei todas as suas camisas que ainda estavam no meu armário. Passei em claro todas as madrugadas quentes de agosto pensando em nós, em você, em tudo que aconteceu e que poderia ter acontecido — martirizando-me sobre o eterno “e se”. Em cada instante sozinha, eu pensava na dura transição do “nós” para o “eu e você”.

    PS. Jamais vou te perdoar se nas próximas estações todas às vezes que ouvir “É Você Que Tem — Mallu Magalhães” e “João de Barro — Maria Gadú” o meu pensamento cair em ti.

    Eu ainda penso em nós. É, sobretudo, nas frias madrugadas tempestuosas, ao ser acordada pelos estrondos dos trovões, ao perceber o quarto iluminado não só pelo clarão da lua que atravessa a imensa janela, mas também dos raios luminosos que invadem e espantam a escuridão — você sabe, detesto raios por temê-los -; instante que me sinto pequena, frágil e extremamente vulnerável… lembro o quanto você me julgava boba e infantil por isso, mas ainda assim, me abraçava fortemente e não me soltava… não faz ideia do quanto eu me via protegida, naquele instante, ouvindo sua respiração, o meu mundo estava concentrado em você, mesmo que não estivesse vazia, uma felicidade insana me preenchia ao me dar conta de que você sempre estaria ali, comigo e eu por você.

    No entanto, é especialmente nas noites de sexta que o meu corpo pulsa e anseia pelo seu toque. O desejo de ter você, por inteiro, não somente no meu corpo, mas também na minha alma, assim como desejo de uma vida ao seu lado, de modo que meros instantes não seriam o suficiente. [Me arrepio ao escrever isso]. Sim, eu sei, disse para ti inúmeras vezes “que a nossa coisa perdure, enquanto sentido fizer”, ela ainda fazia sentido para mim, em partes; jamais irei esquecer a imensidão que o tempo contigo me proporcionou, sobretudo, me fez ser alguém melhor, mudou minha visão sobre algumas coisas, me ensinou muito e acabou agregando uma oitava cor ao arco-íris que chamo de vida… até a ruptura.

    Ainda enquanto estávamos juntos, ao deitar na cama cansada à procura do sono, imaginava um futuro incrível, deduzindo infindas possibilidades, criando e reinventando as cenas mais distintas… com apenas uma coisa em comum, você em todas elas. Vez ou outra me pego fazendo a mesma coisa, não largo essa velha mania, madrugada que coloco os meus fones na fútil tentativa de me dissociar do teu eu. Não é incomum, busco me castigar afirmando para mim mesma que você não merece tomar todo esse tempo de mim, então realmente digo isso a mim mesma, alto e em bom-tom, com convicção — pois preciso que me digam com seriedade já que sou teimosa —; corro para o espelho e reproduzo mais duas ou três vezes a mesma oração. Por alguns minutos, funciona. Depois paro e penso no que fiz, mesmo que eu seja “mulher” para algumas coisas, nisso eu me vejo muito infantil, boba, ingênua. Sabe, alguns momentos tenho 30, 20, 12 anos... isso me assusta e te assustava também.

    Mas, no final das contas, esse ritual de nada adianta, não importa o quanto eu queira. Tenho raiva de você por arrancar todo esse tempo de mim, tempo que eu gasto pensando em nós, escorre; e tenho ainda mais raiva de mim por atrelar a culpa a você de uma coisa que está em mim. Quem sabe, talvez com o correr do tempo, eu me acomode a sua ausência até não mais percebê-la; e se isso for verdade, que o tempo sana tudo, Deus, como quero que ele passe.

    Porém, acima de tudo, isso não é a parte difícil, o duro é assumir que, apesar de tudo, sinto falta de alguém que, ao final, me magoou. Jamais irei me perdoar por uma coisa dessas. Como se habitassem duas pessoas em você, o cara pelo qual, talvez, me apaixonei e o cara que me fez ir embora, não faz ideia do quanto sinto a presença da ausência desse primeiro. Não sou tola, recordo com clareza todas as suas condutas que me magoaram, desde ações às omissões, coisas que falou, coisas que você não fez… foram tantas. Sim, penso “ele não me merece, nunca mereceu”. Mas, instantaneamente, recordo das partes gostosas, dos instantes que fui surpreendida, que, aliás, superam de longe as demais coisas — que se fazem diante dessa comparação tão bobas — e me remetem à minha criação do seu “primeiro eu”; portanto, acabo me sentindo uma mentirosa.

    Me sinto mal ao afirmar “você me magoo”, pois me vejo apontando o dedo e gritando isso na sua cara; sendo que tenho total consciência de que a recíproca também é válida. Talvez, eu tenha te decepcionado profundamente e isso justifique a sua partida efêmera. É contraditório, mas nas últimas semanas conturbei muito as coisas entre nós, justamente tentando fazer dar certo. Nós dois somos terrivelmente diferentes.

    Sei que peco em muita coisa. Não consigo ser direta e isso atrapalha tanto, principalmente por prolonga discussões, é o meu defeito, você o conhece bem e sabe o quanto o detesto. No mais, às vezes cobro que você pense como eu, espero que você supra minhas expectativas e entre outras coisas. Tem hora que deixo a razão falar mais alto ou a emoção. Eu não tenho equilíbrio, talvez por isso seja digna de elogios como “desequilibrada, descontrolada, louca”. Eu erro, falho, estou muitas vezes equivocada. Mas, quando acontece reconheço, assumo a bomba, isso nos diferencia. Eu não tenho receio em pedir perdão, quando vejo sentido, me desculpo com o coração, jamais da boca para fora… de mim nunca haverá manipulação... afinal, é como se concretiza um pedido de perdão sem mudanças. Mas, isso não vem ao caso agora, não é o cerne da questão. Sou uma pessoa difícil, você também é. Sabe, eu temia tanto isso… que nós magoássemos um ao outro.

    Nunca falei tanto sozinha como no último mês. Vez ou outra me deparo questionando em pensamento algo sobre ti e outra versão de mim mesma responde alto e em bom-tom. Quando é mais latente, me deparo jogando “n” coisas na sua cara, como se estivesse ali, diante de mim. É insano. E tudo cessa com a frase “Pelo amor, você tá ficando doida”.

    Choveram tantas coisas em mim. Me vejo num eterno não senso. O “sim” e o “não” na mesma pessoa. O desejo e o desprezo em tê-lo comigo, afinal, se é para ficar e eu me sentir daquela forma, você sabe qual, prefiro que vá. Eu queria te proporcionar dias gostosos no último mês e penso que não consegui… não me doei como gostaria. Aceito defeitos de todos os tipos, menos a indiferença. Os momentos de desdém me matam. Me mata principalmente reconhecer que, nos últimos dias, eu nāo fui o melhor de mim, em muitos sentidos. Serei franca, culpo você por isso.

    Não é novidade: o meu eu contra si mesmo.

    É assim, sempre dessa mesma forma, basta em pensar seja lá o que for ao seu respeito que novamente aquele desejo me consome. É uma chama azul. Um fogo me domina de tanto que queimo em intensidade na ânsia de ter-te comigo… me contorço e o meu corpo estremece na abstinência do teu toque, desejando o teu amor, desejando com todas as minhas forças a ponto de te fazer pensar em mim, a ponto de sentir você pensando em mim, até que tudo se desfecha em brasa. Delírio. Chame do que quiser, loucura, insanidade. Procure adjetivos e se encontrar, seja qual for, não conseguirá definir.

    Eu nunca imaginei que chegaria a esse nível. Insanidade. Qual é o sentido disso? Me levará ao que? Será que é tudo isso em vão? Acredito que não, quero acreditar que não, acreditar que não foi e não é tempo perdido, não quero reconhecer que insisto em alimentar algo que cedeu ao fracasso. Então, na tentativa de cessar a tortura emocional e psicológica digo em voz alta para mim mesma: “Que tipo de perguntas idiotas são essas?”.

    Está claro, não é? Estou tão confusa... indo e vindo em centenas de coisas e não chegando a lugar nenhum. Mais uma vez, perdendo o foco... a concentração. É isso o que sua ausência está me causando "desconcentração".

    Não entendo como ousa me ignorar, evitar. Me corta as suas ações, pois elas me dizem que fui para ti apenas um capítulo. Enquanto fiz e faço de você o meu melhor livro, aquele favorito, que jamais canso de ler e reler. Eu gostaria de ter razões suficientes para acreditar que seu intuito é justamente tentar demonstrar isso, mas, que, no fundo diverge da realidade. Realmente me corta, pois, eu ainda te desejo. O meu íntimo, ainda que não insista em acreditar que estávamos “destinados a ficar juntos” (não sei qual termo usar para definir), ele espera, com força, que você enxergue o quanto é gostoso quando estamos juntos, ao menos, para mim, um tempo foi… enquanto o distanciamento ainda não existia.

    Não, eu nunca disse e não estou dizendo que quero ser tudo para você; mas, a pessoa que não trocaria por nada. Nos proporcionamos um amor puro, percebi assim. Serei eternamente agradecida por essa dádiva. Sobretudo, gostei imensuravelmente da nossa coisa. Adoro o vínculo que construímos e é cortante vê-lo se diluindo. Talvez, eu não seja o grande amor da sua vida ou você da minha, o destino é uma álea, aliás, nem sei se existe isso de “o eterno amor” ou sequer “o grande amor da vida de alguém”, mas, saiba, que o nosso foi — ainda é — o amor mais intenso e breve que vivi.

    E, por falar em destino, infelizmente, você será a minha eterna saudade, quem sabe a eterna quedinha, talvez o eterno desejo. Não sei. Mas, tenho certeza de que fez e fará parte das minhas melhores recordações. Jamais esquecerei a grandiosidade do que me permiti sentir, com você. Nem sequer cogitarei intitular como fase, paixão ou ilusão tudo o que pulsa aqui. Agora, já não faço ideia da sua percepção sobre o nosso enredo, espero que seja um tanto parecida com a minha. Me fará sorrir se, eventualmente, de alguma forma, eu souber que pensa em mim com carinho, que te atingi de um jeito bonito. Apesar dos pesares.

    Ainda assim, soa tão simples quando diante do que acreditei causar. E é um imenso contraste se comparado ao que me causou. Seria um prazer se lembrasse de mim como a garota pela qual foi apaixonado, a amiga pela qual teve carinho, a mulher que te causou imenso desejo… que te proporcionou conhecer um sentimento que queima de tão intenso, quem o incendiou, sobretudo, quem realmente lhe despertou o amor.

    Não se é preciso ser perfeito para ser incrível na vida de alguém.

    Vez ou outra me pego pensando se, depois da ruptura, houve uma madrugada sequer em que você tenha me desejado. Me desejado de alma como por um lapso temporal já desejou, já demonstrou, já gostou. Já sentiu. Desejo mesmo, sabe? Que só em me olhar te consumia, te preenchia por uma vontade insana e intensa, como uma fúria interior, um querer que corrói, uma imensidão latente implorando para me ter ao seu lado por toda a vida. Não faz ideia do quanto eu amava imensuravelmente esses instantes, os instantes que sentia e via o seu olhar em mim me dizendo o universo e o mundo.

    Será que, por um momento, uma mísera vez, se questionou se ama ou se já me amou?

    As suas palavras, escritas, cuspiram na minha cara que não. E, ainda assim, demoro a acreditar. Contradizem tudo o que vivi:

    “Olha, desculpa.
    Me desculpa por cada vez que te deixei triste, por cada momento que te decepcionei.
    E, principalmente, por às vezes parecer um idiota com você.
    A real é que essa coisa é grandiosa e eu não sei lidar.
    Eu não levo nada a sério na minha vida, muito menos ela própria.
    E, sobretudo, não sei sequer um dedinho do que é sentir algo por alguém.
    Por isso, mudo repentinamente, sem mais nem menos, fico diferente do nada, meu estado de espírito me controla naturalmente e esqueço que as pessoas têm sentimentos e que preciso respeitá-los.
    Quero me afastar de você. Não por mal, mas porque não te faz bem ficar comigo.
    E eu não sou bosta nenhuma e não tenho nada para te oferecer de bom.
    Por fim, agora, ainda que compartilhemos a mesma lua, estamos muito longe um do outro.
    É isso.
    Ps. Sou grato pelo tempo que esteve comigo. Foi puro."

    Não faz ideia do alvoroço sentimental que as suas palavras frias me causaram. Juro, ri ao terminar de ler, um riso sem alegria, aquilo era o cúmulo do absurdo. “Você sabe, não sou a pessoa que insiste na presença de quem já não quer ficar. Perde o sentido”. Depois de tudo o que você vomitou, pensei o infinito e o mundo e não dirigi a ti mais nenhuma palavra.

    Ainda que eu diga para mim mesma, com veracidade, em alto e em bom-tom, que eu simplesmente me acostumei com a sua presença, me sinto uma mentirosa, tentando envenenar o meu pensamento na fútil tentativa de sanar o meu sentir. Nunca imaginei que seria doloroso e difícil assumir, bater no peito e falar, mesmo que somente para mim, que amo você.

    Isso é tão irônico, não é? Eu aqui, em devaneios por sentir o peso da sua ausência, enquanto ti sequer depois daquele dia, da ruptura, me ligou…

    E ainda assim, sou nua e crua ao falar que te desejo as melhores coisas do mundo, ainda que isso signifique se afastar de mim. Você sabe o que é melhor para você. E, no momento, eu não faço ideia do que seja o melhor para mim.


    Janaina Couto ©
    [Publicado - 2019]

    @janacoutoj

  • [Cartas] ESQUECIMENTO

    Noite passada eu não parei de pensar em ti. Hoje, muito menos. Incrível como isso pode ser tão irônico. Justamente ontem fiz uma pausa para refletir a respeito dessa minha nebulosa onda sentimental que insiste em não cessar, na tentativa de encarar com racionalidade e me livrar da tortura. Notei que passar mais estações sofrendo não só por sua; mas, também por minha causa e pela “nossa coisa” já não fazia sentido.

    Afinal, você sabe o meu número, conhece os meus amigos e poderia muito bem falar comigo se sentisse saudade, se fosse da sua vontade. Diferente de mim. Ás vezes me questiono sobre isso, se tu pensas exatamente do mesmo jeito e fica á espera de uma atitude minha. Mas, no mesmo instante, recordo que você não é assim, age por impulso quando quer algo, não exita em fazê-lo. Porém, acaba por descartar tal característica ao dotar-se de orgulho. E pela forma como tudo terminou, não posso de maneira alguma descartar essa hipótese, “cuspiu no prato que comeu” foi uma frase bem forte.

    Detesto fazer presunções, soa tudo tão incerto. Aliás, tu não é desses que se prende a alguém. Sendo franca, algo dentro de mim quer estancar a minha percepção da realidade, qual compreendo até demais, além dela estar distante do que eu gostaria, não é nada agradável e acaba por ser doloroso de aceitar. Mas, não posso seguir tentando enganar a mim mesma, soterrando e afugentando o que está escancarado. Você seguiu em frente e eu ainda não superei a ruptura em todas suas facetas.

    Concluí, com decepção, que no fundo, não consigo te esquecer porque realmente não quero, ainda permaneço a alimentar este sentimento. Não me permito conhecer outras pessoas, pois sei que nenhuma delas será você. Vez ou outra, me pego fazendo comparações até mesmo nas coisas mais ínfimas ou caçando características tuas nelas; pior, inconscientemente te projetei em um outro alguém. Tem noção do quanto isso foi prejudicial?

    Não obstante, reconheço o porquê de tudo. Apesar de toda a parte cortante da história; é evidente, houveram sim momentos dignos do título de “inesquecíveis”. Me apeguei a estas memórias intensamente e não quero que o desejo de vivenciá-las novamente se apague, por temer perdê-las, já que ansiando as lembranças são tão vívidas.

    Logo, me vi decidida a deixar tudo isso para lá e encarar de frente a situação. Não mais passaria minhas tardes com o pensamento em ti e evitaria nas conversas tocar o seu nome. Tentaria não me frustrar todas às vezes que, ao chegar e pendurar o casaco, perceber que a minha sala está do mesmíssimo jeito que deixei pela manhã, um sinal de que naquela noite você não passaria aqui em casa para jantarmos juntos; que eu não teria seus dedos tateando as minhas costas num vai e vem para me fazer dormir, que não ficaríamos envoltos num grande abraço corporal e eu não mais em segredo iria tentar sincronizar minha respiração com a tua; que não seria aquecida pelo teu corpo quente e sequer me sentiria acolhida pelo teu sorriso e o seu olhar terno. Não escreveria mais sobre você, muito menos sobre nós. [É evidente, fracassei]. Ficaria realmente aberta para conhecer outras pessoas, à espera de alguém sobretudo interessante, para me divertir ainda que de maneira efêmera e “queimar em intensidade como um dia incendiei por ti”… mas, rapidamente descarto a ideia, pois tenho a sensação que jamais seria a mesma coisa, nos seus exatos termos.

    Quando essa nevoa passar, quando realmente me der conta, ficarei surpresa comigo mesma. E sei que vou perceber a transição somente quando os meus escritos falarem apenas de mim e não mais de você.

    Naquela noite, reconheci que esse meu desejo constante e a esperança de que nos encontraríamos novamente para viver o “amor mais intenso de nossas vidas”, como se fôssemos amantes predestinados, nos encontrando novamente e trazendo a paixão do passado sempre a tona; era um sonho utópico, mera fantasia. Apesar do nosso caso ser reincidente, qual seria a probabilidade de acontecer novamente?

    Eu definitivamente estava ficando louca e cogitando coisas que eu sempre desacreditei. E, pior, ainda assim tenho a convicção de que nada disso faz sentido.

    Definitivamente os meus delírios de amor já estavam indo longe demais. Eu havia decidido que a partir daquele instante não iria mais pensar em ti, não iria forçar para te esquecer (é até antagônico), não iria imaginar momentos contigo e nem ansiar teu toque.

    Mas, incrivelmente, nessa mesma noite, ouvindo música enquanto tomava um vinho tranquilo, me deparei com o som de “Take My Breath Away” e ele destruiu todos os meus planos e decisões anteriores.

    Pois, por incrível que pareça, essa melodia sedutora retrata uma paixão em chamas e descreve fielmente tudo o que o meu íntimo mais deseja, a razão pela qual ele pulsa. Isso mesmo, desejo que nos encontremos novamente, trazendo para o agora aquela mesma paixão avassaladora e aquele sentimento quente, que me deixava em chamas.

    Desejo que a paixão que brotou na juventude, ou seja lá o que for que ainda permanece vivido aqui, não se desmanche — em ambos os lados. Eu sempre, verdadeiramente, não só esperei, como também acreditei, com lasciva veemência, que estávamos fadados a um intenso romance; assim como retrata a canção.

    Projetei tanto que não me conformo com esse desfecho, não consigo me render a essa ideia. Digerir que nossa envoltura não estava como imaginava, que de um instante ao outro perdi o eclipse, o acontecimento centenário que tanto ansiava, uma oportunidade não aproveitada; pra ser sincera, não quero me render, evitando a frustração de sentir-se vencida pelo que mais temia. Sofro pela perda do que nunca me pertenceu, pelo que não vivenciei, pelo que poderíamos ter sido.

    Não sei se fico feliz por já ter tido você por instantes ou decepcionada pela possibilidade de não tê-lo novamente. Talvez, minhas palavras não passem de devaneios, frutos de uma decepção amorosa. Mil e um pensamentos rodeiam a minha mente enquanto meio torpe escuto essa música e te escrevo.

    Sei, pode parecer brega, mas super a minha cara, escrever cartas para alguém que jamais irá recebê-las. [Você sabe muito bem disso].

    Definitivamente ainda não consigo esquecê-lo e a canção só me faz lembrar e desejar ainda mais estar em você. Não paro de ouvi-la ou de muito menos desejá-lo, de ansiar tudo aquilo novamente. Afinal, pode ser putativamente, mas sinto que vivemos nesse jogo tolo de amantes que a letra tanto fala. Sou eu quem está assombrada pela noção de que em algum lugar existe um amor em chamas, voltando, retornando de algum lugar secreto no interior.

    Ou, talvez, eu somente esteja meio torpe.

    Sabe, o vinho me deixa “alta”.

    Acredito que amanhã darei risada e me sentirei ridícula por tudo isso.

    Bom, espero.


    Janaina Couto ©
    Publicado em 2018

    @janacoutoj

  • [Cartas] FANTASIA

    Eu fantasiei. Fantasiei muita coisa a respeito do que estava rolando entre nós. Finalmente, depois de tanto tempo, identifiquei que também fui parte do problema. Tudo aquilo era tão novo, tão excitante, aquela sensação de perceber que o cara pelo qual sempre tive uma queda estava claramente na minha, me corria! Isso arrasou o meu psicológico. Literalmente.

    Você fazia as coisas mais simples e esperadas de um cara que está afim de alguém, mas, simplesmente pelo fato de ser você, eu me sentia incrível, a grande contemplada; me contentando com migalha. Afinal, desde o início, lá atrás, sequer cogitava a hipótese de te atrair, pois, não me enquadrava nem um pouco com as mulheres que você costumava sair.

    Não foi assim que te vi. Não, definitivamente não foi, apesar de ter chamado fortemente a minha atenção de primeira. Foi de modo gradual, com decorrer do tempo, quando passei a conhecê-lo realmente [ou melhor, quando acreditei que o conhecia], que me encantei por você.

    Confesso, inicialmente, me recusei a aceitar já que aquilo parecia o cúmulo do absurdo, cheguei a passar por toda aquela fase de negação que, aliás, foi relativamente longa. No entanto, reconheci que mentir para mim mesma não fazia sequer sentido, como poderia sentir vergonha por ser capaz de me cativar por alguém antes mesmo de tocá-lo?

    Mas, o problema não estava nisso, jamais fora o sentir. A grande questão era o receio de não ter o meu interesse correspondido, como já mencionado, ao meu ver eu não fazia “o seu tipo”. Esse pensamento me inibiu por um tempo considerável, até que, em meio às brincadeiras da galera, você passou a dar sinais favoráveis a mim.

    Mas, para a garota que no fundamental era alvo de chacota entre os garotos da turma, tudo aquilo não passava de mais gozação. Aliás, acabou por ser um dos principais motivos da minha insegurança e baixa auto-estima, qual até hoje percebo seus reflexos. Não era capaz de acreditar. No entanto, por incrível que pareça, aos poucos eu cedi à medida que você pareceu tão confiável, claro e franco. Você não era como eles.

    Não é novidade, sempre há um “porém”, você agia diferente comigo em detrimento das demais garotas da classe, com uma espécie timidez, acanhamento. Não faz ideia do quão isto deturpou a minha mente. Eu precisava encontrar um porquê. Cheguei ao ponto de identificar uma espécie de padrão nas garotas que você curtia; e, pior ainda, me rotular como não interessante e/ou atraente como elas. Que apesar de sentir-se atraído por mim, jamais seria na mesma intensidade que elas o atraíam. Eu não podia competir.

    Sinto vergonha em assumir que tive tal pensamento esdrúxulo, como se nós, mulheres, estivéssemos numa competição; ou que pelo fato de uma mulher ser para ti atraente e eu não possuir as mesmas características que ela me diminuísse de alguma forma. Além do mais, tola, por ter sido tão ingênua e deter uma visão distorcida sobre “conquista”, já que ainda não compreendia sobre “reciprocidade” e “leveza”.

    Sei bem o que me levou a isto. Sabe o que? Minha tentativa fútil de justificar a razão pela qual as coisas aconteciam lentamente entre agente. Não, eu nunca fui e não sou apressada, a real era que você me enrolava e eu não conseguia compreender o seu porquê. Você agia diferente comigo, não tinha atitudes negativas, ao contrário, tinha medo e eu só não sabia do que. De agir? Pois, chega a ser curioso, eu estava apta a me deixar levar e isso não era possível quando reconhecia que apesar de sentimentalmente a coisa ser mútua, você ainda assim não tomava atitude consonante.

    Havia algo sim, medo, receio ou sei lá o que, você não era assim e isto me fazia reconhecer que era por causa de mim, eu causava essa reação em ti. Era por isso que eu viajava. Não conseguia entender o que te embasava. Porque não me chamava logo pra sair? Demorou, mas, depois finalmente compreendi.

    A sensação que vigora entre nós era a de estar pisando em cascas de ovos, a todo instante evitando deslizes, constantemente tendo cautela exagerada em tudo para não estragar o pouco conquistado em tanto tempo. Mal sabíamos que isso nos impedia de sermos nós mesmos.

    Fazíamos o possível para manter a boa impressão e não afugentar o outro; eu, por exemplo, chegava a ficar minutos pensando em como responder uma mísera mensagem; você, por hora, corava ao falar comigo em nossa roda de amigos, ficava sem graça e ao invés de conversar se afastava.

    Justamente o zelo e o desejo de que “fluísse naturalmente”, sem colocar pressão ou sequer expectativas no que acontecia, de modo a não fazermos projeções para evitar a temida frustração, tornava tudo ainda mais embaraçoso.

    Mal sabíamos que só em pensar dessa forma, estávamos os dois concomitantemente implorando para dar certo. Expectativa. Não chegamos a falar isto, mas, era evidente dos dois lados. Eu dançava conforme os seus passos. Mesmo não concordando com o lance da demasia, isso me consumia. Mas, ainda assim, continuei a dança, persisti naquilo, afinal, eu também queria que desse certo.

    Em virtude do anteposto, é evidente, não deu certo. Recordo os detalhes, consigo explicar conjunto de fatores externos de uma forma lógica que inibiram o que desejávamos, mas não sei bem explicar como isso pôde ser maior que a intensidade e pureza do sentimento avassalador que havia ali, aparentemente, a magia da primeira paixão de adolescência não era tão forte assim.

    Alguns verões depois, em tese “maturos”; se comparado a nossa, ou melhor, a minha — em especial -, falsa percepção de conquista, idealização de amores e nula experiência quanto a mãos, bocas e perfumes, nos esbarramos novamente. Destino? Universo? Coincidência? Não sei, não importava. A minha única convicção era de que jamais cometeria o mesmo erro que anteriormente. Desta vez, não havia um sentimento antecessor, paixão ou seja lá o que, para complicar as coisas ou até mesmo postergá-las.

    Em contrapartida, havia ainda forte interesse e, claro, lembranças. Isso deixava tudo inflamado, quente. No início, estávamos jogando e o flerte não só era excitante; mas também, escancarado.

    Além de tudo, a minha percepção de mundo havia mudado, já não mais existia aqueles fantasmas de baixo autoestima ou qualquer coisa atrelada a me taxar como insuficiente. Naquela época, eu não me sentia menos que inteira. Aquele seria o meu ano e me permitiria viver e sentir o mundo, nada iria me impedir.

    Estava decidida e isso foi ótimo. Sim, “foi” enquanto ainda tínhamos tudo sobre controle. As coisas são imprevisíveis. Sou emotiva demais. Perdi o controle. Aos poucos criei um vínculo muito forte e só pude perceber quando me peguei implorando para isso se desfazer, pois, eu me magoei demais.

    Como alguém pode insistir permanecer com algo que acabou por tornar-se mais motivo de decepção do que satisfação, por julgar que é melhor ter aquilo do que perdê-lo? “Melhor pouco do que nada”? “A frustração ao abrir mão seria maior”? O que havia acontecido com a história da “reciprocidade”?.

    Cara, você fez eu me sentir especial. Não como se não existisse nenhuma outra garota aos seus olhos; mas, como se dentre tantas mulheres encantadoras, você pudesse escolher uma, ainda sim desejaria e preferiria estar comigo, jamais por me achar melhor do que elas, mas por ter zelo à nossa troca de energia. Porque, no meu ponto de vista colorido e bem elaborado, você estava apaixonado [novamente] por mim. Como eu disse, fantasiei, ou melhor, acreditei. Ou será que apenas não fui capaz de discernir as coisas?

    Mas, o problema foi que sim, talvez eu tenha fantasiado. No entanto, você colaborou fortemente para isso. É mais que óbvio quando um cara chega para sua irmã, dizendo que desejava mais que tudo que fosse você quem estivesse ali e ainda a questiona sobre o que ela pensa a respeito da possibilidade dele te namorar, com o intuito de aferir se a sua vontade era essa também. Eu sentia mais que o suficiente. Eu queimava em intensidade.

    Ah, você acabou com o meu psicológico. Mas, estranhamente, por um longo período, foi um dos motivos que mais fez bem a ele. Sabe, a única coisa que realmente me faz ter saudade era em como estar com você fazia eu me sentir ainda melhor. Gostava de ti, logo, ter-te por perto era gostoso.

    No início, cheguei a te dar todo o crédito pelo “bum” da minha auto felicidade, pela minha autoestima, pela minha calmaria, pelo meu bom humor — que se fez tão marcante naquela época -, pela minha inteligência e demais atribuições e características; eu definitivamente me sentia incrível. Não que eu não fosse nada disso anteriormente, apenas não havia percebido e você reconheceu, me mostrou.

    Porém, durante muito tempo fui equivocada e acreditei que você havia me dado tudo isso. No entanto, não sou egoísta ao ponto de não assumir que adorava saber que você me via daquela forma, da maneira que eu gostava, do jeito que eu era.

    Tínhamos uma troca muito gostosa, havíamos decidido encarar a situação da melhor maneira. A regra era clara, não cometer os mesmos erros. Mergulharíamos. Sim, mergulharíamos, profundo, desde que aquilo que nos motivasse fosse puro, sincero, espontâneo. Intrínseco. Não magoaríamos um ao outro.

    Justamente por tal, por proposta sua, conversamos, nada ficou a cegas, expomos o nosso interesse e a partir disso surgiu o acordo: o lance deveria ficar entre nós, seria “a nossa coisa”; a melhor maneira para nos conhecemos definitivamente sem qualquer tipo de pressão alheia ou algo correlato; inicialmente, sem nenhuma cobrança sentimental, já que não havia sentimento pré-existente para ambos, diferente de outrora; porém, como consequência de se conhecer, impossível seria descartar a possibilidade, consiste em algo qual não detemos controle, logo, nessa hipótese seriamos francos e claros um com o outro. Um pacto perfeito para nós dois.

    Tu não é capaz de imaginar o quão uma simples mensagem sua, inesperada, me alegrava, muito menos sequer compreender tamanha euforia que suas frases curtas quando acompanhadas pelo famoso sorriso mútuo, já que os seu olhos sorriam também, de “te quero” [como intitulei] me causavam.

    Algo florescia, era quente, pulsava, dominava; minha respiração ficava desregulada, sentia uma leve palpitação e por uma fração de segundo eu entrava em transe enquanto um calor percorria ferozmente o meu corpo; no mesmo instante podia sentir meu rosto aquecer, momento em que tinha certeza da nova cor que minhas bochechas haviam ganhado, me via envergonhada só em cogitar a possibilidade de você perceber todo o alvoroço que causava em mim.

    Afinal, acreditava que tu estava sendo sempre franco (de acordo com o nosso combinado), chegando até a ficar frustrado nas poucas vezes que eu ironizava suas falas, pois, era encantador demais ouvir-te pronunciá-las, quase que surreal, não me restava saída que não a brincar com a sua frase na fútil tentativa de não te deixar perceber o embaraço que você provocava em mim.

    Sua companhia realmente me fazia muito bem. Não imagina o quão eu me sentia incrível por saber que era por ti admirada, desejada; em sentido amplo. Como se eu tivesse te conquistado. Reciprocidade. Sim, reciprocidade, uma vez que que eu sentia o mesmo por você. Achava um máximo que apesar do seu jeito sarcástico, nos instantes mais inesperados, involuntariamente, você me falava coisas tão bonitas e logo após ficava sem graça, como fuga, caçoava ao se dar conta que estava sendo “romântico pra caralho”.

    Frases que jamais esperava ouvir de qualquer cara, muito menos de você. Além do mais, me tratava de uma forma que me surpreendia. Me surpreendia realmente, ternura.

    Lembro detalhadamente de cada borboleta no estômago, cada instante de aceleração dos meus batimentos cardíacos, de cada respiração ofegante, do desejo em te ver todo dia, de cada troca de olhar, dos joguinhos, dos teus sorrisos maliciosos, do seu olhar profundo me fitando com o famoso sorriso de “te quero”. Sempre lembrarei. Confesso que, por esses instantes, eu sou grata a você.

    Foi sim perfeito, no começo. Ao decorrer do tempo, o tratado já havia sido parcialmente descartado, ignorado, seja lá como queira chamar. Descumprido, já que víamos sentimento surgindo, ou melhor, metamorfoseando-se para ambos e estávamos gostando daquilo; não que essa parte não tenha sido prazerosa, só que não fomos específicos, não conversamos a respeito, que seria o ideal já que devíamos ter honrado o pacto. Justamente isso acarretou, a longo prazo, um problema no quesito “intensidade”.

    Mas, ainda assim, estava no ar, era evidente, límpido e posso afirmar com convicção que não tratava-se de um ponto de vista exclusivo meu; para ti também estava óbvio.

    Não obstante, conforme anteposto, sermos silente e não tratar do assunto ocasionou uma confusão, na verdade, uma teia, graças a você, que foi cínico o suficiente ao ponto de utilizar tal argumento, um tanto quanto fraco, como justificativa ao me ver te questionar sobre o que possuíamos e o que seria do depois (quando pude perceber que estávamos mais uma vez fadados a não ficarmos juntos). Me vi cercada, sem saída, sem argumentos e, de certa forma, traída.

    Tudo parecia maravilhoso demais pra ser verdade, aí reconheci os vacilos. Que na época eu não enxergava dessa forma, sempre acreditava nas suas explicações e razões, que hoje, reconheço como as mais idiotas possíveis, coisas que para com quem você afirmava “ter uma história”, partiam o coração na hora e logo depois, antes mesmo de você arranjar uma desculpa escrota, eu acabava criando uma razão lógica para tal atitude me culpando.

    As estações tinham mudado, mas eu havia estagnado o tempo, queria eternizar o que possuíamos. Cai na real apenas quando não só o ritmo, mas a canção era outra. A letra dessa vez era difícil pra caramba, eu não apreendi. Sinceramente não tenho como apontar um motim, sequer compreendo o que aconteceu. Me vi imersa numa situação qual eu sozinha jamais seria capaz de mudar. Estava surtando com o seu vai e vem.

    Recordo claramente a primeira vez que me disse “perdi o interesse”, na verdade, contou-me uma série de coisas quais se resumiam nesta curta frase, a única que assimilei. Foi cortante, me senti péssima, pois, jamais cogitara nosso distanciamento. Porém, eu prezava pela reciprocidade. Aceitei. Não o questionei ou pedi uma explicação, mesmo tendo certeza de que merecia um mísero “porque”.

    Jamais iria me humilhar dessa maneira, fazer questão de alguém que já não quer ficar. Havia tomado sua decisão, respeitei. Decidi encarar isso da melhor forma e não era de modo algum negando a sua existência, muito menos me martirizando para te esquecer.

    Por incrível que pareça, estava me saindo bem, daria certo. Exatamente, “daria” se você não se aproveitasse do meu método para se aproximar aos poucos e tentar restabelecer o vínculo que eu ainda não havia cortado. Não posso mentir para mim mesma, te vi chegar, não convidei, mas te permiti entrar. Afinal, eu não havia cortado o vínculo e ao ver-te tomar tal atitude, me equivoquei ao interpretar como um “me enganei”. Acreditei que aquilo não iria mais se repetir. Tudo se restabeleceu como se nada tivesse acontecido, como se o seu vínculo jamais fora rompido.

    Na realidade, eu é que me enganei. Me enganei ao crer que aquilo não mais aconteceria. Aconteceu, infelizmente, mais de uma vez. Está aí o problema, quero dizer, parte dele; ou melhor, um deles, percebeu? Hora você me fazia pirar de tanto desejo; Outrora, me fazia ficar mal, ao te ver tratando-me como um tanto faz, como se só me quisesse por perto apenas nos momentos em que eu te convinha. Isso era péssimo, sentir-se uma pessoa que apenas convém e não alguém com a qual se tem zelo.

    A sua indecisão me corroía, era doloroso ficar no meio termo. Tu sabia que o meu sentimento era mais forte quando comparado ao teu e se aproveitou disso. Evidente era que eu queria estar contigo, mas, desde que você quisesse o mesmo; jamais cogitei a possibilidade de implorar ou desejar que você permanecesse aqui sem querer ficar, não sou do tipo que era egoísta consigo mesmo ao ponto de mendigar reciprocidade.

    Porém, infelizmente, eu ficava naufragando e emergindo, hora você era a boia que me salvava, ora a água gélida que invadia minhas narinas e estranhamente queimava. Não, eu não mendiguei reciprocidade, mas aceitei migalha.

    Você estava sempre indo e vindo. Sinto-me mal em falar, mas, apesar de não pedir para você voltar ou ficar; ainda assim, estava sempre a disposição, afinal, era melhor estarmos juntos quando você queria do que eu te dar um fora e não poder sequer sonhar com a possibilidade do que possuíamos dar certo. De qualquer maneira, fui sim egoísta comigo.

    Eu, que sempre odiei meios termos, me submeti a um por causa de você. Identifico-me integralmente com aquela frase da Clarice Lispector “Não suporto meios termos. Por isso, não me doo pela metade. Não sou sua meio amiga nem o seu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada!”.

    Fui tão cruel comigo, me senti impotente e mais uma vez, tentei jogar o peso da situação para mim “Como pude deixar você escapar pela segunda vez?”. Errando comigo pela enésima vez, eu não havia deixado nada. Ao contrário, você mudou comigo completamente e eu, sinceramente, não estava mais aguentando me submeter a tentar resgatar a “nossa história”. Fui cruel ao me culpar por colocar um ponto final no seu vai e vem.

    Hoje, reconheço que jamais estarei sendo egoísta por me colocar em primeiro lugar.

    Viajei, pra caramba. Viajei ao pensar que aquele seria o nosso ano. Óbvio que você também não ajudou muito. Sabe o que é mais impressionante? Na época eu tinha plena certeza que você estava sendo sincero. Pior que isso, eu. EU via você apaixonado por mim. Pesado, não é? Me questiono se tudo isso que eu via em você era real ou apenas fantasia. Tudo foi tão intenso.

    A minha intensidade. A brisa nostálgica do passado. Como eu posso ter inventado; ou melhor, fantasiado aquilo? Foi a única conclusão a qual cheguei, fantasia. Sabe porquê fantasia? Não consigo encontrar um explicação lógica para ti de uma hora para outra jogar fora, ou melhor, abrir mão do que demoramos para constituir (tratar como tanto faz).

    Lembra? Eu, que não me permitia se fascinar ou me entregar, me apaixonei duas vezes por você e, na última, esperando um resultado diferente, mergulhei completamente nesse teu mar agitado, porque tu me fazia ver-te águas cristalinas de uma atraente calmaria, te permiti me conduzir, te daria um voto de confiança e passei a acreditar que me desejavas como se necessitasse de mim. Fantasia.

    Pra ser sincera, se fantasiei, eu não sei.

    Já não consigo decifrar o que eu criei [inventei para mim mesma] do que realmente aconteceu. Será que cheguei a fantasiar algo? Idealizei ao ponto de perder a percepção da realidade? Francamente, esses sentimentos e as lembranças são tão vivas em mim que chego a duvidar.

    Resta, agora, um turbilhão de emoção e lembranças com uma pitada de confusão. Sim, confusão, uma vez que não sei o motivo de você ter se afastado de modo tão repentino. Me arrisco a dizer que foi quase como se tivesse renegado o que ousou um dia chamar de “nossa história”. Renegado não somente isto, mas o que nos permitimos sentir.

    Não compreendo o porquê, se aquele foi o sentimento mais incrível que tinha despertado, até então, por um cara. Justamente por isso, ainda não consigo colocar nenhum outro acima de você. Que, aliás, já não é mais merecedor do posto que ocupa e, aqui dentro, travo uma batalha pra te destituir.

    E por falar em fantasias, nas madrugadas após as conversas mais gostosas contigo, que mexiam tanto comigo e me causavam até insônia, esperando o sono chegar ao longo do resto da noite eu fantasiava, idealizava, momentos ao teu lado. Momentos simples e intensos de uma vida que eu torcia tanto pra acontecer.

    Você também já fantasiou momentos comigo? Creio veementemente que sim, pois, nas madrugadas era tu que me mandava mensagens criando um roteiro de uma vida comigo, aliás, roteiro qual seguiu por um breve momento. Não faz ideia do quando ansiei para que seguisse o roteiro completo daquele verão.

    Fantasia. Incrível como uma palavra se faz tão presente. Fantasias quais eu ainda, em meio a madrugadas de verão movidas por uma brisa nostálgica, me pego memorando. Viajando. Então, eu levanto, coloco pra tocar um indie, me sirvo uma taça de vinho, e fico ali, no escuro da sacada debruçada no parapeito, dispersa em devaneios enquanto observo o quão deslumbrante pode ser a cidade sob o negro do céu.

    Espero profundamente que isto não seja um sintoma de saudade.

    Estou mais confusa do que nunca, não sei se desejo me afastar ou ficar junto de você. Sou incapaz de concluir isso. Novamente, sendo ainda mais egoísta comigo. Tu não faz ideia do que é sofrer de amor. Será que já não sei diferenciar a fantasia da realidade? Ao dizer fantasia, me refiro ao fato de ter atribuído mais emoção e importância a tudo que acontecia. Isso não seria apenas intensidade? Afinal, eu queimava em intensidade. Sempre queimei. E se eu não tiver fantasiado? Talvez seja o que tenha acontecido, ou não. Mas, e se tiver?

    Será que me apaixonei pelo que inventei de você?


    Janaina Couto ©
    [Publicado — 2019]

  • [Cartas] NAUFRÁGIO

    Não consigo “estar” com alguém só por desejo carnal efêmero. Sou intensa demais. Adentrar no teu jogo, certamente seria empolgante e me proporcionaria muito êxtase, por ser você a jogar comigo. Porém, em contrapartida, tenho receio e medo só em cogitar o depois.

    Além desse detalhe importantíssimo, ao decorrer desses meses, aferi características intrínsecas tuas quais muito me cativam, arrisco-me até a dizer que a ti conheço. E gosto pra caramba desse cara. Em virtude da construção de uma amizade suave e, inicialmente, sem mais pretensões, tenho zelo por ti. Recordo com euforia as memórias de cada dia, fala, olhar, toque, canção. Claro, já ansiei por muito mais.

    Estamos engajados numa confusão. Nenhum de nós sabe como agir. Sentimos exagerar, passar dos limites ou até mesmo errar diversas vezes. O pior é que errar jamais fora tão gostoso. Ao menos, alego com firmeza desprezar “meios-termos” por não saber lidar. Tu, por vez, apesar de sentir-se assim, é fascinado por esse jogo e quer me fazer jogar. Porém, não há regras, como pretende me ensinar, se até você perde-se em si mesmo?

    Momento acaricia meu rosto e beija minha testa, agradecendo-me por ser sua amiga; outrora, me abraça e desenha com o indicador círculos suaves em meu corpo, enquanto sussurra ao meu ouvido admirar tanto quem sou a ponto de sentir imenso tesão. Me arrepio. As coisas não iniciaram assim, os deslizes e desejos surgiram com a convivência, o tempo (ao menos para mim).

    Não como se ambos possuíssem pseudônimos, pelo olhar reconhecia-se o homem e a mulher devassa que sempre existiu e fazia parte de um único “eu”. Mesmo, constatando aquilo como inadequado, eu não resistia. Somente quando os toques, olhares e falas ultrapassavam a minha tênue linha imaginária entre a afeição e a volúpia, instantaneamente era preenchida por lucidez. Sempre fui eu quem cessou todos estes instantes, na iminência de algo que evidentemente mudaria intimamente, para mim, o nosso elo.

    Se dependesse de ti, isso jamais ocorreria. Nunca um momento seria postergado ou ocluso. Como já apontei, a inconstância te seduzia. Justamente o que te fazia insistir a mim para prosseguir. Parecia um ritual, segundos após me ouvir dizer “não costumo agir assim com amigos” dava-se por vencido. Então roçava os lábios por meu pescoço e posteriormente me fitava já com o polegar pressionando os meus lábios e sibilava “eu quero, mas não posso nem mesmo beijar você. prometi”.

    Antes de toda esta loucura, rebuliço, começar, lembro com detalhes o que me disse “posso te falar uma coisa? independente do que você vai dizer, pensar ou julgar, eu preciso contar. não parei de pensar em ti essa semana, desde o dia em que nos beijamos sob o seu guarda-chuva. isso é um problema?”. É notório, adorei a sua sinceridade e não só por isso; mas, também porque o acontecido não saia da minha mente, respondi “desde que o intuito de seu contato comigo não seja em face apenas dessa forma de desejo ou gana, não há problema algum”.

    Eu estava disposta a deixar as coisas acontecerem, mas jamais ficar empacada no meio-termo e, por via, nos condicionando a um alvoroço sentimental polido pelo conflito de interesses.

    Não obstante no início eu enfatizei, deixei claro inúmeras vezes, o quão despreza sentir-se cobiçada apenas por características físicas quais já nasceram comigo como é o caso do que alguns podem chamar de “beleza”; e não também por atribuições quais adquiri, como força, inteligência, empatia ou coragem. Claro, digo tangente ao como quero ser desejada por aquele com quem tenho um envolvimento ou relacionamento “amoroso”.

    Tenho fervor por quem me têm como tentação por inteira, corpo e alma. É óbvio, gosto e sinto-me muito bem ao saber que veem beleza em mim e por isso ser considerada e me considerar uma mulher atraente. No entanto, venero ainda mais ser considerada sensual — chame como quiser — em razão do conjunto de todo o meu eu; corpo, essência e modo de ser.

    Conversávamos diariamente, nunca diálogos monótonos, já passamos madrugadas expondo nosso modo de ver, pensar e valorizar as coisas, refletindo sobre os mais diversos e complexos assuntos, este já esteve por diversas ocasiões em pauta e você demonstrou sincronia comigo a respeito.

    Há uma outra questão qual não posso deixar de mencionar. Incoerentemente, no “meio-termo” você gosta de ser profundo, ou melhor, quente de um jeito exagerado que me deixa com o pé atrás. É vantajoso, para você. Não sei qual palavra utilizar, “quente” transparece intensidade, mas, ao que me refiro, está longe disso. Na realidade, soa para mim como se você tirasse proveito libertino.

    Confesso. É gostoso saber que sou desejada por alguém cujo também tenho interesse em suas diversas facetas. No entanto, em primeiro lugar, você sabe que não me permito ter essa envoltura contigo por uma intrínseca questão de seguridade e confiança, ou seja, tanto quanto ao parceiro como na relação existente. Sua insistência comigo especificamente neste quesito está me dando nos nervos, por questões óbvias e razões infinitas.

    Além de tudo, em segundo lugar, mas não menos importante, o seu desejo por mim se não for meramente físico é expressivamente nele pautado; o fato de se resumir à isso me broxa toda. Me faz perder o interesse. É frustrante.

    Apesar de já ter me dito “desejo na sua pessoa também, não só fisicamente. é um conjunto que fez surgir interesse em mim” e eu confiar na sua fala, tuas ações demonstram o contrário, fico dividida. Não sou hipócrita e compreendo que nem sempre foi assim, porém, agora é o que vigora, já que não perde uma oportunidade para adentrar no assunto. Se sinto-me inibida até mesmo para beijar-te implicada nesse “chove e não molha”, como pode achar que algo mais intenso aconteceria? Fico surpresa com seu pensamento mirabolante, chega a ser inusitado.

    Ao que parecia, nós aparentávamos possuir mais sincronia do que realmente tínhamos. Me vi precisando escolher se permitia o desenrolar e transformação do nosso vínculo ou se insistia na amizade. Pois, como eu poderia insistir em algo que não fosse da vontade ou sequer fruto do consenso de ambos? Eu precisava ouvir “qual era a sua” ao invés de realizar deduções em meio a uma centena de prognósticos.

    Justo no dia em que havia decidido explicar a minha necessidade em definir o que estava acontecendo e meus desafios com o “meio-termo”, a fim de destrinchar qual era sua intenção com a manutenção desse inconstante manejo, infelizmente, não tive chance de viabilizar essa conversa. Não precisei. Inesperadamente, no momento mais impensável, antes mesmo que eu precisasse perguntar, tomou uma decisão.

    Você não pareceu referir-se apenas a pegação. Encerrava tudo. Ruptura. Cada vinco em seu rosto me dizia. Mas, ainda assim, eu precisava ouvir literalmente para ter certeza. Soava tão absurdo. Não conseguiu sustentar o olhar enquanto cuspia cada palavra confirmando. Fiquei boquiaberta, esperando pacientemente o instante em que tornaria a me encarar, já que permanecia de queixo erguido e olhar fixo no breu numa tentativa ridícula de me anular do seu campo de visão.

    30 segundos se passaram.

    Uma torrente de emoções preenchiam meu corpo. Primeiro, fúria. Não conseguia acreditar que você seria capaz de desprezar, acima de tudo, a nossa amizade daquela forma, como se nada significasse para ti. Observando as linhas retilíneas do seu maxilar demarcado e anguloso, quase que ferozmente puxei o seu rosto para mim, forçando-o prestar atenção no que iria dizer, meus pulmões inflaram e eu estava prestes a gritar na sua cara “Mas que tipo de decisão idiota é essa?”. Frustrante. Não consegui.

    Segunda, decepção. Sua expressão estava endurecida, como de quem fala com convicção. Decidido. Ao fitar fixamente teus olhos castanhos, minha garganta fechou. Minha fala foi entrecortada. Falei, mas não expeli o que pretendia, a mensagem presa. Sufocava. Num sussurro questionei “está falando sério?” e tu consentiu. Soltei seu rosto. Ficamos em silêncio enquanto eu imaginava ser sua hora de fala, aguardava uma explicação ou desabafo, um mísero porquê que fosse. Não requisitava uma justificativa plausível, desejava sinceridade. Queria saber o que te embasou a decidir, independente do meu julgamento sobre. Então, finalmente você cessou o silêncio torturante, “vamos embora”.

    Terceira, conformismo. Mil e um pensamentos vinham à tona, apesar de realmente ter sido pega de surpresa por seu posicionamento, não demorei em aceitar. Se é o que você quer, assim será. Não irei implorar nada. A escolha foi sua, óbvio que irei respeitá-la. Jamais abandonarei a reciprocidade, se você não quer ficar, prefiro que vá. Não me agrada ter alguém comigo por dó em face de acreditar que sinto carência ou necessito de atenção. Se para ti a nossa amizade (ou seja lá o que for que há entre nós) é indiferente, para mim esse negócio não vale a pena mesmo.

    Quarta, incredulidade. Enquanto me acompanhava a caminho de casa, o silêncio fez-se ainda mais presente. O ocorrido repetia-se inúmeras vezes em minha mente, buscava futilmente concluir qual havia sido o estopim. Qual detalhe estava deixando passar? Não fazia sentido algum querer me ver e de uma hora para outra, na mesma noite, mudar de postura radicalmente. Por que pôr um fim à nossa amizade? Claro, evidentemente eu chegaria a uma conclusão. E cheguei. Ah! Não faz ideia do quão ansiei estar enganada.

    Reconheci que o ritual havia sido quebrado, dessa vez não sibilara a mesma frase. Ao contrário, cansado das coisas não acontecerem da sua forma, jogou sua última carta. Descarregou sua frustração em cima de mim, como se ficar nesse meio fio fosse uma tortura única e exclusivamente sua. Não foi por falta de aviso, lhe disse que comigo isso não seria viável. Se ao proferir tais palavras o seu intuito foi me fazer ceder ao que havia me pedido, “deixa rolar”, acreditando que eu iria simplesmente descartar as razões que me inibiam, por temer o fim do nosso vínculo, qual sabia que eu muito valorizava, agiu como babaca.

    Ainda a caminho de casa, lhe disse que estava tudo bem e iria sozinha dali em diante. Sua despedida seca soo como partida, também não esperava nada mais que isso.

    Caminhei lentamente pelas ruas tranquilas até em casa, aspirando a quarta-feira de noite quente. Olhando cada traço a minha volta, minha mente vagava na memória dos últimos meses, dessa vez, eu via de longe, não mais narrador personagem e sim o próprio leitor. A fim de aferir se o ocorrido fazia jus ao meu desapontamento; se valia a pena a dor ou se aquela estação merecia a minha indignação concomitante com a tentativa de salvá-la.

    Infelizmente, ou felizmente, constatei coisas quais diminuíram grotescamente as chances dessa última hipótese. Se tivesse prestado atenção, há tempo já teria te exposto e esperado por mudança. Naquela madrugada eu chorei por não ter percebido tudo isso antes. Explorando algumas atitudes minhas, sequer me reconheci. Extrapolei de um modo que não gostei. No dia seguinte, me senti mal a ponto de parecer torpe. Óbvio, decidi por deixar as coisas como estavam, por concluir como o ideal e melhor para mim.

    Fui tão racional que não sofri com a ideia. A minha semana exalava calmaria e eu me sentia livre. Apesar de apreciar a tarde de domingo azul, sua madrugada foi tempestade e desde então choveram três semanas. Havia prometido a mim mesma que não “sumiria”, a quimera de cortar vínculo com alguém de modo a evitar e cessar até mesmo o mínimo diálogo possível, para mim, ao invés de ajudar a superar o ocorrido, só posterga.

    Fato, da minha parte, tempo e distância seria a melhor escolha. Fui empática, tomei banho de chuva. Mas, sinto falta do sol. Você persiste em ficar e não sabe de que forma. “Teus sinais me confundem da cabeça aos pés”, como canta Djavan. Estou cansada de te ver mudar falas e vontades de um instante ao outro.

    Agora, quando já pressentia águas passadas, você volta e sugere algo que, se não fosse aquela quarta-feira, eu provavelmente aceitaria. No entanto, eu tive um tempo considerável de chuva para repensar o que eu estava antes apta a acolher.

    Isso não vai para frente. Eu queimo em intensidade. Desta forma, quero dizer que, caso a nossa relação sofra a metamorfose que você propôs, apesar dela ser extremamente tentadora e atraente, não posso acatá-la. Pois, é indubitável que eu levaria, veria e sentiria tudo de uma maneira; enquanto você, de outra essencialmente distinta, nada intensa como a minha.

    Não me é interessante ficar só de pegação, meus “envolvimentos amorosos” nunca resumiram-se apenas a isso e não é agora que será. Esbarraríamos na reciprocidade. Não posso enganar a mim mesma, me conheço o suficiente para escancarar a alta probabilidade de me fascinar. Creio que compreende o significado. Gostar demais, eu já gosto e nem sei expôr um porquê. Não vejo coisas capazes de me prender.

    Por empatia a mim, por me colocar em primeiro lugar, mesmo que essa ruptura doa agora, não irei me submeter à uma certeira desilusão amorosa. Apesar de, francamente, saber lidar, é uma tortura emocional e psicológica longa e árdua qual não pretendo encarar novamente, justamente você (sem saber) me ajudou a enfrentar uma.

    Sim, infelizmente, ruptura, já que tu aparenta tratar como “historinha e frescura” por não compreender as minhas razões, agindo quase com desdém comigo nesse sentido.

    Tu exala incerteza e curte “meio- termos”. Comigo esse manejo não funciona. Como eu já disse, se é pra ser dessa forma, eu prefiro manter nossa amizade. Sem esse lance de efêmero e incerto. E não ouse falar novamente em “amizade colorida”, me corrói, já que não consigo me doar pela metade. Logo, engajada num “meio-termo” algo me inibe e não ajo como gostaria.

    Não me é interessante ser o “quase” alguma coisa. Tenho esse tipo de envolvimento por quem tenho intrínseco interesse em conhecer realmente. Prezo e sou atraída pela reciprocidade. Não gosto de coisas rasas. Se é isso o que você me oferece, agradeço; mas, recuso.

    Aquilo que popularmente tratamos como “ficar” com alguém, não me refiro ao contato único e súbito que temos na balada numa madrugada qualquer e sim a algo relativamente duradouro em detrimento desse primeiro, ou seja, aquele processo imediatista de conhecimento, “paquera” e “conquista” do outro; levo de uma maneira qual tu não parece compreender, e se caso compreende, não te é nem um pouco atraente.

    Justamente por pressupor isso que havia resolvido pôr as cartas na mesa (não aconteceu), antes mesmo de ti fazer tal proposta, pois, ainda que optássemos pelo desenrolar da metamorfose, em razão de nossa explicita divergência quanto a égide de vivenciar e significar essa espécie de ligação, requisito seria acordarmos como prosseguir, não seria do seu jeito e nem do meio, seria do nosso jeito. Porém, ao que tudo indica, haveria um colapso e jamais uma fusão.

    Quando estou saindo com alguém, tenho peculiar interesse em conhecer e vivenciar o outro intensamente. Sem receio, medo ou temor de me enfeitiçar. Deslumbre. Sou aquela pessoa quem convida para ir ao teatro, exposição, galeria, festival, biblioteca e até mesmo a um Café.

    Desejo um contato suave, sincero, puro; sem cobranças. Espero que aquilo a se chamar de “nossa coisa” agregue muito a cada um de nós, que nos permita transcender como ser, proporcionando um ao outro além de curtição, gozo, aventura. Independente de tratar-se de dias, meses ou estações, que seja intenso enquanto perdure. Marque, que não seja raso.

    Vai muito além de pegação, quero conexão. Uma troca de experiências, conhecimentos, gostos. Impossibilitando assim, epílogos catastróficos. Desejo momentos que jamais sejam posteriormente sinalados por frases cortantes, como “perda de tempo”.

    Assim, mesmo que, talvez, um dia não possuamos mais esse elo e até já não mais tivermos saudade um do outro, espero que as lembranças nos deixe gratos pelos momentos compartilhados.

    A ideia de duas pessoas que não mais se conhecem (somos uma constante mudança), com afáveis memórias de uma história num passado comum, me agrada.

    E essa grandeza não tem nada haver com uma amizade colorida. Acima de tudo, há sim e baseia-se numa verdadeira relação de amizade, mas não apenas. Não estou falando inerentemente de “relacionamento sério”, mas sobre ter seriedade nas decisões pensando de forma empática no melhor para consigo e com o outro. É em prol daquilo “eu tenho a minha coisa, você tem a sua, e quando nos encontramos é muito bom”. Eu gosto.

    No entanto, tu vê como “compromisso”; já eu, como “entrega”.

    Em virtude do meu jeito de viver essa forma de relação, sequer cogito ouvir um “perdi tempo contigo” ou “você me iludiu”, haja vista que jamais usarei alguém apenas para suprir meus prazeres momentâneos ignorando as emoções e, quem sabe, sentimentos alheios e até mesmo os meus.

    Não me arrependo de um instante sequer dessa nossa relação indefinida e, confesso, naquela noite, ouvir-te dizer que “perdeu tempo” comigo me decepcionou. Nem mesmo soube como lhe responder, ouvi sua frase ecoar em face ao meu silêncio. Não por escolha minha, naquela altura do campeonato, esse teu sussurro manso foi como se me desse cianeto enquanto eu imaginava experimentar um vinho branco suave. Suas reais intenções camufladas. Fiquei sem fala. Nunca me viu apenas como amiga? Nem mesmo no início?

    Pois bem.

    Como se não bastasse, curiosamente, sinto e vejo que sou eu quem vai até você. Não como se apenas eu te procurasse, como denota-se ao olhar alheio; mas, digo pelo fato de que a maioria das vezes que me chama para jogar conversa fora, eu vou. Porém, não há recíproca. Nos encontramos quando diz querer me ver e que está com “saudades”, afinal, difícil é eu não estar disposta a te encontrar. Logo, por que eu não iria? Não sou do tipo que costuma passar vontades.

    Além do mais, assim como eu, tu gosta da simplicidade. Curte caminhar pelo bairro de madrugada, ouvir música abraçado no banco da praça, conversar na calçada. Saímos, da forma que eu propus, uma única vez, planejávamos ir ao teatro, acabamos nos atrasando e passamos a noite mais gostosa de todas no Centro da cidade. Lembro do gosto da garoa, das cores vibrantes, da ventania que assanhava o meu cabelo e da maciez do brownie com castanhas.

    Esse dia foi a “exceção”. Não sei o porquê, mas as poucas vezes que te convidei para sair, não rolou e acabei por me divertir com outras pessoas. Por um tempo insisti em te fazer primeira e melhor opção, como sei que já fui a sua. Mas, quando você não se esquivava do meu convite, me dizia um “não sei”, outrora chegou a ignorar mudando descaradamente o assunto. Não foram uma ou duas vezes. Cansei.

    Ansiava conhecer lugares junto a ti, a fantasia de ter memórias em comum para recordar quando a esses tornássemos me encantava. Acho tão gostoso. Uma pena o verbo estar no passado, “fazia”. Não costumo implorar, decidi por não mais convidar; mas, ainda assim; esperava por um convite seu.

    Até hoje, não aconteceu. Já não espero.

    É ainda mais curioso que você sempre sai com seus demais amigos e adora compartilhar cada minuto virtualmente. Confesso, não me atrai nem um pouco a ideia de escancarar a vida dessa forma, não uso às redes sociais com esse intuito.

    Não me é nem um pouco importante tu expor aos outros que somos alguma coisa, é um lance nosso, uma troca entre a gente. Por outro lado, eu fazia imensa questão em sair contigo. Estranho, não é? Um “amigo” praticamente suplicar algo assim.

    Eu negava para mim mesma que você nunca quis a minha amizade. Somente eu a enxergava. Confesso, quando me dei conta, me atingiu de uma maneira nada bacana. Os dias de tempestade deixaram isso bem claro.

    Eu acreditei que você seria diferente e acabei, mais uma vez, fazendo algo que detestava, generalizações: “ele é um otário como todos os outros”.

    No entanto, nada soou mais cortante do que sua súbita fala — naquele dia da ruptura — de que, para ti, as minhas ideias me deixam menos atraente.

    Não foi especificamente o que dissestes, mas o momento em conjunto com ao que você se referiu. Apesar da sua tentativa de romantizar a frase “você é muito chata com algumas coisas. coisas que não tem necessidade de pensar e agir da forma que você faz. isso acaba tirando o brilho que eu tenho nos olhos quando olho pra você”, foi perceptível o intuito de adocicar a mensagem amarga.

    Impossível mensurar o quão me senti mal; mais difícil ainda é indicar com propriedade o que senti, indecifrável. Passei a noite revendo cada fala e atitude minha para contigo, martirizando-me. Fiquei imersa em devaneios. Acreditando que exagero em algumas coisas, que meus valores e crenças me fazem pensar demais antes de agir e, por isso, me impedem de vivenciar e aproveitar algumas situações, cogitei rever todos os meus conceitos e mudar radicalmente quem sou hoje.

    Mas, mudar por quê? Tenho horror a ideia de mudar simplesmente para agradar o outro e acabar me tornando quem deseja que eu seja, uma versão pirata de mim mesma. Jamais irei me sujeitar a algo assim, vendo-me cada vez mais distante de quem realmente sou, cada vez menos parecida comigo.

    Como aquela frase da Clarice “sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre”, tenho que mudar quando eu perceber sentido na mudança, quando for da minha vontade e não quando apontarem o dedo na minha cara alegando que o meu eu se faz cada vez menos cativante.

    Porém, ainda assim, de modo algum abandono o fato de que, em virtude desse meu jeito peculiar de ver, pensar e conceituar as coisas, acabo por cobrar demais dos outros; claro, preciso mudar isso com urgência, aliás, agradeço pelo alerta. Somos uma constante metamorfose, estamos, felizmente, sujeitos à mudança e eu a venero quando é espontânea.

    Sinceramente, creio que isso não deveria ser causador de conflitos. Ao menos, não nesse nível. Não deveria ser algo visto como negativo, pois evidente que não é. Eu voo e isso te assombra, já percebi. Detesta quando me imponho e escancaradamente discordo de você. É ridículo.

    No mais, trata-se de uma questão de lidar com as pessoas, elas têm pontos de vista e veem as coisas de forma distintas. Somos diferentes. Talvez uma coisa que é super importante e valorosa para ti, para mim já tanto faz. Nem por isso irei alegar que a sua pessoa se torna menos cativante ou atraente, ao meu ver, por causa do seu jeito de enfrentar e enxergar as coisas; chegando a encarar com desdém e ridicularizar seus ideais e ideias; pois, é a sua forma de lidar com a situação e eu respeito, apesar de não entendê-la. Independente de eu não pensar da sua maneira, irei tentar compreender, mesmo que ainda assim não aceite ou concorde, é nesse manejo.

    Adoraria que desde as nossas minimas às titânicas divergências rendessem longas conversas, risadas e reflexões, jamais embates. Com certeza, uma bate-papo assim poderia gerar ótimos frutos, como, por exemplo, vontade de mudança. É para que possamos conviver sem acabar por abandonar os nossos pensamentos ou aos poucos moldarmos o outro ao nosso gosto, mesmo que inconscientemente.

    Antes da ruptura, eu gostava de quem acreditei que você era e realmente estava curtindo mesmo o que acontecia.

    Concordo contigo quando uma vez disse que eu não deveria tumultuar e simplesmente deixar as coisas acontecerem. Além disso, conforme já havíamos exposto, nenhum de nós cogitava algo mais sério naquele “agora”. Aliás, ainda naquele estágio, sequer fazia sentido. Mas, deixaríamos as coisas acontecerem até onde?

    Não o único, mas o principal motivo de concluir que isto não valeria a pena, pois me renderia decepção, consiste naquela sua afirmação, que proferiu de um instante a outro sem mais nem menos, me deixando até mesmo sem graça por falar algo assim enquanto eu nunca havia proferido nada nesse sentido. “eu não quero algo sério. só vou ter algo sério mesmo quando eu amar alguém. gostar, eu gosto de você. Mas, o nosso ‘elo’ não significa algo a mais que desejo”.

    Agora, depois que enfrentei a ruptura, você chove e retorna agindo como se todas essas coisas não tivessem acontecido. Jogando fora as partes negativas — que demorei a perceber — e supervalorizando o altos.

    Como ousa me fazer tal proposta? Além de não ser o que desejo, o que me satisfaz, ela é tardia.

    Mediante tudo que expus, como acha que posso mergulhar nesta? Ter esse tipo de envolvimento com um cara que sequer cogita a ideia de ter um laço mais forte comigo.

    As coisas são tão inconstantes e voláteis, tu alega com convicção que não quer desde já, é bem diferente de não querer agora. Não curto criar expectativas e idealizar projeções, mas, não descarto qualquer hipótese, em meio ao emaranhado de fatores alheios a nós, é um tiro no escuro fazer convicções quanto ao futuro. Devemos vê-lo como uma ponta solta. Um leque de possibilidades.

    Sabe o que parece? Que tu acredita veementemente naquela ideia da conhecida frase “se é pra ser, será” e atrela aos astros, destino ou ao universo a íntegra responsabilidade para a união das pessoas. Chega a ser cômico, já que tu zombava a mim por acreditar no destino e em “sincronicidade”.

    No entanto, até mesmo eu tenho ciência de que independente de tudo, somos nós, seu idiota, que escolhemos ficar juntos. O universo jamais irá impor algo assim, uma vez que isso depende também da nossa vontade. Ele pode viabilizar; mas a decisão é unipessoal, já que está condicionada ao nosso querer.

    Para alguém que aparentemente leva tal frase como um mantra, se contradiz ao alegar com seriedade (não somente uma vez) que não quer, nem imagina e trata como “improvável” uma relação mais intensa e intrínseca comigo. Um perfeito contraste com a minha maneira.

    Cara, eu não sou idiota. Não importa o quanto, agora, exponha coisas como “eu estava cego” e coisas assim. Faz um exercício, compara suas atitudes e as coisas ditas na ruptura com a sua proposta de agora. Sua contradição é torturante.

    Como se não bastasse, essa coisa toda. Esse “meio-termo” que existia e até mesmo esse novo “tentar” que me propõe não me agrada. Acredito que essa estranha relação chegou numa proporção que não dá mais pra “ficar”.

    Isso sem contar que não foram um ou dois conhecidos que me questionaram sobre o que rolava entre a gente; provavelmente por estarmos vez ou outra juntos. Sequer sei como surgiu mas já nos viram até como “parceiros”, até minha família já pôs isso em xeque.

    Outras pessoas veem algo que não existe e não existirá. Você, por vez, tem a audácia — depois de tudo — em me propor nova relação indefinida; enquanto eu estou fadigada com essa coisa toda.

    Cumpre esclarecer que em hipótese alguma me importo com o que as pessoas com as quais não detenho vínculo afetivo falem ou pensem ao meu respeito. Juro.

    No entanto, quando os rumores sobre “estarmos juntos” começaram, mencionei contigo e me disseste para não dar atenção e caso tornassem a questionar-me a respeito, deveria afirmar e dizer “e daí?”. Logo, o assunto se espalhava entre conhecidos, que ainda insistiam em me interrogar, e eu já não sentia mais necessidade de comentar com você. Pois, diferente do que me pediu, eu simplesmente negava; vez ou outra ignorava (nossa relação que a época se moldava não detinha sequer traços de definição).

    Porém, quando foi a sua vez, quando alguém do seu círculo de amigos citou o meu nome e colocou “companheira” na frase, imediatamente descartou o pensamento anterior. O fato de você me interrogar para aferir se eu estava “falando algo”, mostrou que você se importa e muito. Ao cogitar que eu teria dito ou criado uma relação que não existia, deixou isso ainda mais saliente.

    A primeira coisa que me veio à mente foi “Mas que tipo de pergunta idiota é essa?”. Por qual razão, motivo ou circunstância eu faria algo do tipo? Poxa, não tenho mais 12 anos. Não exitei, não fico calada, tu sabes que quando algo não me agrada falo imediatamente e espero compreensão e empatia para que não se repita.

    Eu me senti imunda. Você agiu de maneira desprezível. Eu te detestei com força naquele momento. Até mesmo gargalhei incrédula. Você deveria ter levado aquilo como um elogio. Deveria ser razão até mesmo para se engrandecer.

    No mesmo instante lhe disse como me senti e as coisas que pensei a seu respeito. Está enganado se imagina que ao me cortar (de qualquer forma) eu irei ficar calada e aguentar a ofensa sem jogar na sua cara a atitude desprezível. Jamais terei receio em dizer com todas palavras o que me causou por temer como irá se sentir. Pois, se ao falar e/ou agir tu não foi capaz de pensar em mim para evitar me magoar, por qual razão eu não poderia fazer o mesmo justamente por pensar em mim mesma?

    É como a seguinte frase: “cuidado com aquilo que você tolera, pois você está ensinando como as pessoas devem te tratar”. E, definitivamente, eu não mereço ser tratada assim.

    Enfatizei ainda que detesto a ideia de estar com alguém que pretende tudo as escondidas. Como posso conviver com alguém que sente receio e atribui importância às conclusões precipitadas de terceiros a nosso respeito? Espero que esse seu temor não tenha nada a ver com a minha pessoa, pelo meu eu, por quem sou. Aliás, se pesarosamente for, não faz ideia do tamanho do meu repúdio. Me faz ter ânsia de vômito só em pensar algo tão esdrúxulo.

    Incrível como você consegue ser antagônico! Não apenas em noites frias e quentes, mas até mesmo sob a chuva, instante não só caminhava de mãos dadas comigo, como também abraçava e beijava-me, na frente de todos e quando eu alegava timidez, ao perceber olhares curiosos, tu me dizia “jamais me importaria de me verem com você. aliás, deveria fazer o mesmo”; num outro triz, retrata o oposto.

    Apesar de se esquivar das minhas escusas, alegando não ser por causa da minha pessoa o seu aborrecimento com o episódio, isso não importa, não muda os fatos. Por uma questão lógica, é óbvio, se você se incomoda, é claro que irei me incomodar. Além do mais, entre nós, seria devaneio aspirar o meu jeito de “ficar” ou uma trégua, posto que seus pareceres e cobiças revelam-se flutuantes. Ambíguos. Inconstantes.

    Você não sabe o que quer, desde aquele rompante, até então, demonstrou instante arrependimento da decisão, depois querer manter a amizade, posteriormente ansiar a metamorfose e logo em seguida voltou atrás elencando a manutenção do “meio-termo”; é uma tortura.

    Além do mais, não pode simplesmente hora “estar afim” e outrora não, acreditando e esperando que vou adentrar nessa de sempre estar à sua disposição e me submeter à um naufrágio.

    Quando você me chama, eu vou; mas, quando eu te chamo, você não vem. Faz-me sentir alguém que apenas convém, quem intima quando está entediado ou não há nada melhor para fazer, ou seja, o conhecido “tanto faz”. Não gosto. Não me cativa.

    Não sou hipócrita a ponto de descartar os motivos que você expôs (depois que muito insisti) que embasaram o seu primeiro posicionamento, me fez pensar que “o que eu te dei foi muito pouco ou quase nada”, como canta Nando Reis. É justamente o contrário, compreendi totalmente e te expliquei sobre não saber lidar com “meios-termos”. E foi o que te levou a propor definirmos a situação, mas, se é pra mudar e eu me sentir daquela maneira, não vale a pena.

    Me abri e tentei ser o mais clara possível sobre o meu modo de levar esse tipo de envolvimento, com o intuito de te fazer também perceber que vemos e lidamos de forma discrepante, principalmente ao reconhecer que estavas fazendo confusão ao não entender as razões pelas quais da sua maneira para mim esse “lance” não seria possível. Afinal, pretendia com isso o surgimento de um pacto, pautado na conciliação. Não foi novidade isso partir de mim, era de se esperar, prezo pelo diálogo sincero, não lêmos mentes.

    Pena que após fazê-lo, tu apenas disse “entendi”, nem mais, nem menos. Posteriormente, ousou tornar no assunto e fazer breves comentários discordando de alguns pontos sem profundas explicações. Fui paciente e respondi às suas contestações e sou grata por ter me ouvido, realmente disposto a compreender.

    Porém, chegou um instante em que me senti tola, era evidente a minha intenção com aquela conversa. Mas, era evidente também que tu não estava disposto a ceder, seria do seu jeito ou não seria nada.

    Deduzi à medida que ficava silente perante as minhas perguntas; embora me ouvisse, pouco falava; ao indicar as divergências entre as nossas maneiras e os motivos pelos quais sua proposta como cláusula pétrea para mim não fluiria (explicitei as possíveis consequências), fez-me pergunta sobre outro mérito, desviando sutilmente o assunto; ao apontar como me senti perante algumas falas e atitudes suas (sujeitando-me à alegações precipitadas), disse somente uma vez “não quis transparecer isso” e não fez objeções quanto às demais.

    Sim, me senti tola, como se fosse a única a desejar a sanar os vícios e pormenorizar os erros do nosso vinculo.

    Nas últimas semanas, tivemos a mesma conversa inúmeras vezes, até mesmo após diálogos curtos, me deparava retomando o mesmo assunto todos os momentos que você interrogava uma fala ou atitude minha, apontando que estou agindo diferente.

    Inacreditável você portar-se como se nada tivesse acontecido, pior, permanecendo com as mesmas falhas que me deixam cada vez menos seduzida pela proposta que me fez. Não sei como teve coragem, mas, ainda ousou em cobrar reciprocidade de mim, no seu lugar, eu teria vergonha.

    Incrível você não perceber que minhas ações são reflexos das suas, precisando da minha indicação de um por um dos fatos que embasaram minhas conclusões e meu novo modo de agir. Sou espelho. Francamente, é exaustivo precisar te lembrar de tudo que já expus. É cansativo e detesto ser repetitiva.

    Além do mais, tenho a sensação de que falo em vão, já que ao responder sua acusação, creio que por não ter o que dizer e, por via, concordar com o meu parecer, responde “okay”. Tivemos uma série de conversas que não nos levaram a nada, tudo permanece conturbado.

    Em virtude não só disso, mas também de tudo que apontei antes e principalmente por constatar que não chegaremos à concórdia, já não faz sentido prolongar. Aliás, confesso, acaba por ser uma pressão torturante em cima de mim. O que eu quero? Não, mas o que devo fazer e lhe peço é para continuarmos com nossa amizade numa boa. just it. Não é a primeira vez que te peço isso, sinceramente, ensejo que dessa vez respeite e não finja que nada falei ou decidi. Torço para que entenda.

    Francamente, não sei se estou pondo uma espécie de ponto final em algo que nem sei se começou. Infelizmente, nem tudo que envolve outro alguém pode ser do nosso jeito, ambos precisam estar dispostos a ceder e não apenas um; soa terrivelmente como manipulação ou submissão, me estremece.

    Delírio? Jamais. Ainda assim, seja lá o que for que eu esteja fazendo, agora, faço com imenso pesar. Juro que almejava algo integralmente diferente, ansiava imensuravelmente mais. Não é porque tu tomou decisões e agiu de modo que me desagradaram que passo a te odiar ou repudiar; mas, por outro lado, não sou ingênua ou otária a ponto de ignorar ou esquecer que pisou na bola comigo me proporcionando dias de inquietação emocional e psicológica.

    Justamente por tal, faço questão que tome conhecimento disso e não tenho ressentimento algum em frisar este fato caso torne ao assunto. Aliás, também sei que vez ou outra tomei atitudes que te chatearam, apesar de você preferir ficar silente na maioria das vezes.

    Sinta-se a vontade para desabafar comigo a respeito, podem haver coisas das quais não me dei conta e não pude me desculpar ou explicar, assim como muito do que escancarei aqui pode sequer ter sido alvo de sua percepção.

    Vale ressaltar, expus parte da minha percepção sobre a nossa crônica. Exibi, latentemente, meramente os fatores que me chatearam e embasaram minha escolha.

    Sei que muitas vezes minhas falas podem parecer incompreensíveis. Não sei como me salvar do caos em minha mente. Esta foi a minha versão da verdade, como captei a realidade. Qual é a sua? Não sou a dona da razão, ninguém é. Não descarto a possibilidade de estar equivocada quanto uma minúcia ou outra. Adoraria um retorno seu. Não sinta-se obrigado, a nada. No entanto, é certo, mesmo que eu não queira, levarei o silêncio como anuência às minhas conclusões e decisões.

    Eu nāo queria que esse fosse o nosso Agora.

    Ps. Me desculpa por sempre me prolongar, sei que é um porre. Não consigo evitar.


    Janaina Couto ©
    [Publicado — 2019]

    @janacoutoj

  • [Cartas] PROFALÇAS

    Planejava te escrever sobre a imensidāo do que você e o “agora” significam para mim… mas, farei isso em outro momento.
    Juro, chega a ser surreal como tenho dificuldade em transcrever para o papel os meus sentimentos - puros, nus e crus - é muito diferente de criar ou inventar um enredo.
    A grande questão é que, se tratando da realidade, qualquer coisa que eu escreva soa absolutamente ridículo se comparado ao que pulsa aqui dentro…
    Eu desejei escrever algo diferente, o mais singelo e sincero que conseguisse. Me desculpa por nāo ser nada objetiva:
    Meu bem, desejo que essa seja a sua melhor idade! Esse, o seu melhor ano! Que você vivencie as aventuras mais malucas, as experiências mais gostosas, que se permita reinventar e arriscar!
    Sei que muitas coisas há de encarar sozinho, mas quero vivenciar contigo muitas delas… pode ser cedo, mas, quero dividir parte da minha vida com você. Anseio muitos dias tranquilos sentido o sol queimar nossa pele...
    A nossa coisa é nova, mas, desde já, sei que serei eternamente agradecida por cada beijo, pelos conselhos, por cada abraço, pelos instantes de riso, pelos olhares serenos, pelas falas apaixonadas… por cada microsegundo, pela intensidade, por isso que me proporciona sentir.
    É surreal como as horas contigo correm, teu sorriso me desmancha, seu abraço me aquece, seu olhar me desmonta e teu toque me arrepia. Obrigada por tudo isso.
    O aniversário é seu, mas é meu o prazer em dividir esse dia com você. Jamais esqueça o quanto se tornou especial para mim.
    Você é um cara incrível, nāo estou falando que é perfeito - ninguém é; mas, eu vejo os seus 'defeitos' e ainda assim, vejo muito do que eu quero… com quem desejo estar.
    Me encanta o homem que vejo em você.. muito mais que um rapaz bonito com jeito de inconsequente. Independente, forte, inteligente, protetor… astuto. Gosto do teu jeito peculiar de ver algumas coisas... Me amarro na sua personalidade.
    Psiu, jamais perca sua essencia… sempre mude para uma versão melhor de si mesmo!
    Te desejo muitos picos de felicidade, em todas as suas formas, cores e facetas! Claro, a consequência de viver é errar, tentar, acertar, chorar, sorrir, amar... ninguém é perfeito ou feliz, haja vista que é impossível atingir o pleno estado de felicidade. Isso mesmo, a felicidade bem como a tristeza sāo momentos, instantes. A felicidade está nos microsegundos, seja quando alcança uma meta, quando toca, quando ouve sua música preferida tocar na rádio, quando se sente bem consigo mesmo, quando num abraço se sente em casa ou simplesmente quando na monotonia do cotidiano se dar conta de que é capaz de amar e é amado. Nāo use parâmetros para a "felicidade", viva intensamente e "seja feliz" do seu jeito de ser! Viva ao invés de sobreviver!
    Que cada dia teu seja único, intenso, sempre norteado de muito amor — espero te proporcionar para além disso! Que a cada ano que passe, você conquiste seus sonhos e descubra novos desejos. Que você olhe para os dias que correram e sinta orgulho do que viveu. Tente levar a vida sempre numa boa, usufruindo ao máximo das coisas mais bonitas e singelas!
    Espero que você possa sempre evoluir como ser humano, nos seus ideais de evolução. A cada estação, uma versão melhor de você. Quero a cada estação, uma versão melhor nāo só do "eu e você", mas também do 'nós’.
    Te desejo as melhores coisas do mundo, só nāo sei se serāo o suficiente para o Universo que vejo em ti.
    É hora de se despedir do velho garoto e desejar boas-vindas ao homem que está construindo.
    Não sei se é cedo para falar que sinto o mundo por você. Mas, já não importa os meus velhos conceitos. Eu sinto. Sei que sinto. Quero que jamais esqueça isso!
    Não queria usar o clichê "eu amo você", mas, se trata disso.
    Ps. Nesse instante eu estou te abraçando calorosamente e lhe dando um beijo, puro… quero que sinta isso.
    Com amor,
    Beijos,
    Jacarandá.
  • [Cartas] SÚPLICA

    [Cartas] SÚPLICA

    Desde abril os meus dias estão sendo insanos.

    Passei dias consideráveis matutando a estação. Sobretudo, imersa na gana de “voltar a ser quem fui”.

    Foi a estação em que me desmanchei. Acredito que foi a primeira vez que me desfiz. Sempre soube que se trataria de um longo processo de conhecimento, questionamentos e encontro do meu “eu”. Só não fazia ideia do quanto longínquo e invasivo poderia ser.

    Na realidade, ainda enfrento todo esse caos. Busco paz e calmaria no meu exterior na fútil tentativa de amenizar toda a perturbação que vigora no meu interior.

    Foram dias que correram, a primavera chegou e o meu pensamento ainda sente os dias quentes e ensolarados do verão. Eu estagnei no tempo. Vivi um dia de cada vez e o tempo escorre por entre as minhas mãos.

    Todo esse processo de desconstrução é doloroso, me vejo descartando todas as minhas certezas, verdades e convicções anteriores. Já não me resta mais nada.

    Constateio quanto tudo é necessariamente volátil. Me deparei descartando o meu crer e muitas coisas que supervalorizanva. Não bastasse, sopesando valores e principois, eis que em muitas situações estavam em confronto uns com os outros. Foi árduo constatar que não ha como ser estática e se posicionar sempre da mesmissima forma. Me senti, nestes instantes, traindo a mim mesma. 

    No princípio de tudo, quando soube que dias de ainda mais inquietação emocional e psicológica viriam, pensei comigo mesma “Estou pronta, preparada. Aguento.”. Eu fui derrubada na primeira onda.

    O Universo ouviu as minhas preces. “Se é verdade que o tempo sana tudo, Deus, como eu anseio que ele passe”. O tempo escorre e mais uma falsa convicção cedeu. Afinal, a ferida já não sangra, mas as cicatrizes permanecem, vívidas e ainda sinto a minha pele arder até mesmo com o toque mais sutil.

    Já não sei o que fazer, por onde começar, tão menos se estou no “caminho certo”. Aliás, já nem sei mais se existe isso de “o caminho certo”. Só espero com veemência que os frutos, resultado ou seja lá o que for que todo esse transcurso de tempo irá me suscitar, não seja vão. Outrossim, sequer sei se há como algo ser completamente vão.

    Estou perdida e quero me encontrar, se trata disso. Não faço ideia alguma de como restaurar, juntar ou modelar cada um dos meus pedaços. Arrematar as minhas frestas. Não raramente, fico presa no mesmo questionamento “O que será de mim?”.

    A única coisa que reconheço é o meu nome, nem mesmo a minha própria idade eu posso afirmar com convicção, afinal, não se tornou incomum não me identificar com os vinte e tantos anos. A cada uma das mudanças de coloração até o finalmente cair das folhas, aquela velha mania se fez ainda mais presente. Houveram dias em que me vi com 12, 16, 20 e até mesmo com 40 anos.

    Em muitos instantes, me vi e me senti “mulher’, nos exatos termos da palavra. Por sua vez, outros dias tudo o que desejei foi um abraço apertado, um beijo no rosto e alguém que me preparasse um chocolate quente ao me dizer mansamente para não temer os trovões.

    Ao decorrer dessa metamorfose, confesso, alguns dias foram gostosos. Principalmente, aqueles em que me vi mulher. Não só me vesti de acordo, colocando roupas que valorizassem o meu corpo e me doando numa maquiagem com potencial para fazer me sentir ainda mais sensual… eu literalmente incorporei a personagem. Não faz ideia do prazer que é se vê atraente, inteligente, matura, sedutora, dona de si e dotada de uma satisfação desmedida com o seu “eu”.

    Nesses dias, saí na noite vazia e apreciei a minha companhia. Sozinha, vislumbrei a grandeza do meu eu invadir o mormaço de cada uma daquelas noites. Sou grata a estes momentos. Grata a mim mesma por transbordar e me proporcionar sensações incríveis, sendo eu mesma o motim. Aliás, acredito que as garrafas de vinho tenham ajudando a intensificar cada segundo.

    Foram sobretudo no decorrer dessas noites que frases e sensações efêmeras me invadiam quando o meu sentir caia nos dias que correram. E eu dizia a mim mesma alto e em bom tom “Como você pode convidar alguém a entrar no seu mundo e deixá-lo fazer essa balbúrdia? Esses e tantos outros pensamentos cortantes me fizeram reconhecer a razão pela qual uma das facetas a ser tratada nessa árdua transição não havia tido sequer uma minúcia de organização. Tudo permanecia exatamente da mesmíssima forma.

    Toda e qualquer coisa em remetia e ele e todos os espaços que ele outrora preencheu permaneciam com lacunas ou ainda com resquícios de confusão. Como pude ser tão tola? Todo esse tempo esperando que ele viesse preencher os espaços ou ao menos organizar a bagunça, quando na realidade ele só não viria, como também aquilo competia a mim. Eu mesma e mais ninguém.

    Vivi dias consideráveis com essa gana. Vivi um dia de cada vez. Não me privei de chorar, gritar, questionar. As minhas emoções ficaram à flor da pele e eu me rendi a elas. Mergulhei em cada uma delas. No entanto, o meu pensar estava preso no verão. Não me dissociei do passado e o meu agir foi pautado em dias que já deviam estar empoeirados.

    Os dias correram, vivi um de cada vez, mas sou incapaz de afirmar que não tenha tido frenesis do verão. Sempre acreditei que estagnar algo no tempo seria belo, no entanto, consiste em mais uma das minhas falsas certezas que foram nesses dias desmistificadas.

    É um imenso pesar assumir que, apesar de tudo, ainda estou presa ao passado. Isso explica o tempo escorrer. VIvi os meus dias olhando para os alvoreceres findos. Acredito que daí surja a sensação de que estou perdendo algo. Convivo com essa percepção e tenho uma desconfiança medonha, sobretudo, um temor em estar certa, de que a minha perca se trate do “hoje”.

    Sim. A desconstrução é tenebrosa. Por constatar cada detalhe que futilmente passei tempo demais desejando “voltar a ser quem era”. Implorando para voltar a ser quem fui antes da ruptura, do caos… antes dele.

    Sempre tratou-se de um raciocínio simples para constatar a impossibilidade que essa frase elucida por si só. Como posso voltar a ser a mesma pessoa que fui nas estações passadas se estamos em constante mutação? Se as experiências que tivemos constrói e molda quem somos? Não tenho como apagar o passado, tão menos me dissociar dele. Aliás, vivi coisa inesquecíveis, desde as mais bonitas às mais incisivas.

    Outrossim, foi um amor repleto de primeiras vezes. Primeiras vezes não se repetem. Aquele verão faz parte da minha história. Seus reflexos e feixes esculpem o meu agora. Sou incapaz de voltar a ser quem fui principalmente antes do naufrágio, o princípio de tudo.

    Aliás, outro ponto ainda mais óbvio é o fato de que a minha rotina, os meus gostos, as minhas experiências, preferências e anseios eram outros. No decorrer do nosso contato, experimentei/provei coisas novas. Em razão de tanto, minhas preocupações e olhares voltaram-se para trechos e formas que antes passavam por mim despercebidos e não tinham qualquer importância. Digo isso, sobretudo, quanto a mãos, corpos, bocas, jeitos e perfumes. Hoje, já não deixo de repará-los, é inevitável, ganharam minha atenção e não há nada que possa ser feito.

    São coisas infindas. Posso pormenorizar cada um dos motivos pelos quais não tenho como voltar a ser quem fui e sim simplesmente me “renovar”. Renovar… acredito que essa palavra faça mais sentido.

    Porém, apesar dos pesares, posso dizer francamente que jamais irei te perdoar por ir embora levando aquele meu encanto. Eu gostava tanto dele e não faz ideia do quanto sinto saudades. Me desconstruí para me renovar, para caçar o meu encanto que está dormindo em algum cantinho, e esse processo é a coisa mais insana que havia enfrentado desde então.

    Já não sei o que quero, quem sou. Desconstruí não só as minhas verdades, como também todas as minhas percepções de mim mesma. Já nem sei a razão de mais nada. Me doo para inúmeras coisas e já nem sei o porquê, tão menos se o que desejo para o amanhã faz jus e depende dela. Não sei o que merece minha doação. Nem sei se a minha entrega é o bastante, fico presa na linha tênue entre o “eu me cobro demais” e o “eu não me dedico o suficiente”.

    Tratando-se de uma vertente ainda mais intrínseca, descobri que fiz muita das coisas que outrora havia dito “jamais” e que também agi de maneiras que hoje me surpreendem me causando tamanha admiração. Refiz meus passos, vi com distância meus posicionamentos, falas, jeitos e andados… hoje, muitas vezes acatei e compreendi a verdade do outro lado.

    A grande questão é que agora habitam nove pessoas em mim. E não me refiro a cada uma das versões de mim mesma. Não são facetas de um mesmo eu. São nove mulheres com gostos, valores, desejos, verdades, tesão, posicionamentos e anseios distintos. Aliás, não raramente, estão em confronto uma com as outras. Já não me é novidade o “eu contra si mesmo”. Me vejo o “sim” e o “não” na mesma pessoa. É surreal.

    Obrigada por me mostrar, da pior forma, que o trono do meu reino pertence a mim. Devo desculpas a mim mesma por ter delegado a ti todo o poder de sustento do meu “eu”. Jamais devia ter lhe dado o aval para imperar. Não serei injusta, você não foi um tirano.

    Ainda assim, sou realmente agradecida pelos dias, momentos e segundos que me cuidou. Não sou hipócrita e nem serei ingrata, foi uma delícia enquanto a sua intenção era me cuidar e ficar.

    Você chegou, assumiu o trono e transformou todo o meu eu. Uma pena que tenha ido embora e me devolvido o império após tê-lo usado de tal forma a ponto deixá-lo devastado. Me devastou de tal modo que após a sua partida não mais me reconheci e torci fervorosamente para voltar a ser quem fui antes de você me aparecer. Antes de eu me apaixonar e fazer teu o meu corpo, o meu sentir e o meu eu.

    Travo uma batalha para me refazer. A desconstrução não foi uma escolha, foi crucial. Afinal, após o caos, me vi uma versão pirata de mim mesma.

    Porém, de mansinho, ainda que lentamente, estou lidando… outros dias, confesso, suportando. Estou deixando para trás as migalhas do meu sentimento por você que há muito tempo foi esfarelado. Sobretudo, felizmente, me encontrando, conhecendo esse meu novo “eu” e lidando com as mulheres que em mim habitam. Após infindas transformações, Cosendo cada uma das minhas frestas. Ainda bem.

    Estou cada vez mais próxima de ocupar o meu trono. No final das contas, essa é a única coisa que eu te peço, imploro… suplico, por favor, não volte. Nunca mais.

    Janaina Couto ©
    Publicado — 2020

    @janacoutoj

  • [Poema] FICAR

    Fazer questão
    fiz questão de muita coisa
    atenção
    satisfação.

    Até que finalmente entendi
    agora, anseio reciprocidade.

    Já não faço questão
    exijo 
    o essencial.
    respeito
    dignidade
    sinceridade.

    Deixei de implorar para que as pessoas fiquem
    que sintam ou desejem na mesma intensidade que eu 
    relaxei
    não há que se falar em 
    "correr atrás".

    Não clamo para que supram os meus desejos
    que correspondam o que sinto 
    que cumpram os meus requisitos.

    Perda de tempo.
    Não há sentido no pedir, implorar 
    perde a primazia
    não há mais essência.

    Valorizo a sinceridade
    assim,
    vivo plena com o meu eu
    inteira
    mesmo que nem sempre tão segura.

    Gosto da suavidade 
    do sentimento espontâneo
    inconsciente
    que chega de mansinho
    que se instala na calmaria 
    na tranquilidade dos meus dias.

    Gosto da naturalidade 
    detesto cobranças
    não há nada melhor que a fluidez
    de toda a coisa
    vontade irracional 
    desejo.

    Gosto quando você decide ficar
    isso me transborda
    quando sentem na mesma intensidade
    que eu 
    me desmancho.

    Se me compreende,
    conecto-me
    fervorosamente.

    Então te convido para um café às 16h
    numa quarta feira chuvosa
    Sei o quão prazeroso é 
    quando simplesmente acontece.

    Gosto da leveza
    Prezo pela proesa
    os dois dispostos a permanecer 
    é delicioso quando decide ficar.

    Mas, 
    se se afastar 
    jamais tentarei impedir.

    Não me decepciono quando se afastam
    desde que me digam o porquê
    sei quando mereço uma razão.

    Desse jeito
    não há desgaste 
    exaustão.

    Não vou insistir para que se acomode 
    afinal
    seria egoísmo
    fez o que decidiu.

    Mesmo que não seja o meu querer 
    ainda que não entenda
    aceito.

    Idas e vindas 
    Voltas e partidas 
    e em meio a isso tudo
    a minha serenidade
    a minha sanidade
    prevalece.


    Janaina Couto ©
    [Publicado - 2019]

    @janacoutoj

  • [Poema] RESPIRAR

    domingo de outono
    árvores curvas
    folhas ainda quentes
    manhã luminosa
    cores quentes
    olhos semicerrados
    é forte, incandescente

    numa travessia
    qualquer um percebia
    a calmaria da vida

    poças de água
    a beira das calçadas
    refletem o musgo verde
    árvores de copas altas
    circundam o quarteirão

    apesar de todo o movimento
    da vida ao redor
    ali, naquele cantinho
    o tempo estava estagnado
    os microsegundos
    exalam insana alegria
    mas, donde vinha?

    centenas de feixes de luz
    atravessam os ipês
    atingem - me em cheio
    aquecem a minha face
    me fazendo sentir parte
    de toda exuberância
    instante atemporal
    plenitude surreal

    a leve brisa quente
    esvoaça meu cabelo
    emaranhado
    traz consigo
    o cheiro de relva
    e a imensa sensação
    pertencimento

    sento-me ao chão
    escoro na árvore
    de copa iluminada
    dona de uma enorme sombra
    alta, envelhecida,
    coberta de musgo,
    mas, 
    ainda assim,
    viva
    ela vive

    me vejo pequena
    diante da grandeza do meu envolto
    mas, ainda assim
    faço parte disso
    e a vida me pertence
    eu a sinto
    eu vivo

    a dádiva elucidada
    diante dos meus olhos
    a tenho
    felizmente,
    a tenho
    sinto a plenitude do viver

    o peso do mundo
    das minhas costas
    se esvai
    carga que eu criara
    naquele triz
    os meus problemas
    tão insignificantes
    coisas minuciosas
    que me faziam escrava
    sobreviver
    ao invés de viver
    como não pude perceber?
    a grandiosidade
    do viver
    do sentir
    do ser

    é perspicaz?
    sigo a observar
    o tranquilo bairro
    no calor escaldante
    vislumbrando o verde
    minha visão deturpada
    ondulatória
    a luz intensa
    a deixa trêmula

    não estou torpe,
    talvez em transe?

    uma buzina na esquina
    cessa a calmaria
    jovens transitam
    apressados
    pobres escravos
    do tempo...

    exceto eu
    não passo pela vida
    nem ela por mim
    caminha comigo
    me pertence
    eu a sinto
    eu a vivo


    Janaina Couto ©
    [Publicado - 2019]

    @janacoutoj

  • [Poemas] DETESTO

    Coisas que eu detesto em você:

    Detesto o fato de você fumar;
    Detesto o fato de você sempre sair pra beber;
    Detesto como você gosta de ser o centro das atenções:
    Detesto como aparenta ser íntimo com toda e qualquer garota;
    Detesto o seu desleixo com os estudos;
    Detesto sua opinião política;
    Detesto como consegue ser bipolar ao extremo;
    Detesto o quanto é pão duro;
    Detesto o fato de você não estar nem aí para nada;
    Detesto o seu jeito de andar se sentindo o fodão;
    Detesto quando suas atitudes vão em confronto com a tua fala;
    Detesto o jeito como se porta diante dos seus amigos;
    Detesto fortemente seu completo desdém;
    Detesto o seu desmazelo;
    Detesto o teu corte de cabelo;
    Detesto como consegue conquistar todo mundo;
    Detesto o seu caminhar como se o mundo estivesse do jeitinho que você quer;
    Detesto quando diz "foda-se" para toda e qualquer situação;
    Detesto o quanto é incrédulo quanto ao amor;
    Detesto as suas falsas convicções;
    Detesto quando você mente;
    Detesto quando me dá desculpa esfarrapadas;
    Detesto quando usa a ironia para discutir comigo;
    Detesto quando me fita e me deixa constrangida;
    Detesto quando teus olhos avelã penetram os meus;
    Detesto a minha tensão quando estou perto de ti;
    Detesto mais ainda quando me vê e me ignora;
    Detesto quando faz eu me sentir "um tanto faz";
    Detesto, sobretudo, quando me ignora, pois eu gosto da tua atenção;
    Detesto como sempre está com uma garota diferente… detesto tanto que sinto ânsia de vômito;
    Detesto o fato de você me fazer sentir ciúmes de alguém que não me pertence, nem mesmo um pouco;
    Detesto como mexe comigo a ponto de eu precisar me esforçar para te odiar;
    Detesto seu potencial para me distrair;
    Detesto o fato de acreditar que estou apaixonada por você;
    Detesto quando afirma que dentre garotas passageiras inexistiu alguém especial;
    Detesto com todas as forças o fato de sequer cogitar o meu "eu";
    Detesto quando me idealizam para você;
    Detesto ainda mais os comentários de que eu te suscitaria qualquer coisa próxima a "mudança";
    Detesto como sempre associam eu a você;
    Detesto ficar questionando para mim mesma o que os outros dizem;
    Detesto memorar a primeira vez que te vi;
    Detesto pensar naquele primeiro ano;
    Detesto principalmente reprisar e sentir uma mormente saudade;
    Detesto ficar imersa numa época em que acreditei vivenciar o meu "primeiro amor";
    Detesto assumir para mim mesma que esse amor era você;
    Detesto me ater a sua afirmação de que as suas borboletas no estômago existiam por mim;
    Detesto desejar uma nova faceta daquela paixão ingênua;
    Detesto enxergar que aquela conexão não há de voltar;
    Detesto como apesar dos pesares, depois de tudo, você me fez sentir especial novamente;
    Detesto com todas as forças o fato de que na verdade somente tomou o meu tempo;
    Detesto reconhecer que acreditei em meias verdades;
    Detesto ter acredito, ainda que por míseros instantes, após aquela noite tudo estaria bem;
    Detesto o fato de depois você ter mudado comigo radicalmente;
    Detesto sua bipolaridade, já falei isso?
    Detesto confessar que havia criado expectativas quanto a nós;
    Detesto afirmar que a alegria das minhas manhãs era te ver;
    Detesto a convicção da minha ilusão;
    Detesto estar tão na cara que não fiz isso sozinha, pois você colaborou fortemente para isso;
    Detesto reconhecer que não fui a única a sonhar e romantizar;
    Detesto a dúvida se também o fiz se decepcionar;
    Detesto te ver e ser incapaz de impedir que tudo torne à minha mente;
    Detesto olhar a estrada e ver o amor juvenil desaparecer;
    Detesto a sensação de ter pedido o eclipse, quem sabe, a álea que mudaria nossas vidas;
    Detesto poder apontar com precisão que perdemos o acontecimento do século;
    Detesto a minha intuição da sua cegueira, eis que não enxerga nada disso;
    Detesto a sua presença, que me impede de virar a página;
    Detesto como tudo desabou em dias;
    Detesto tu não ver os meus cortes;
    Detesto tu não mais se importar;
    Detesto me sentir incapaz de apagar tudo, como fez você;
    Detesto não entender os seus porquês;
    Detesto pensar naquela palavra "esquecer"; soa tão "você"
    Detesto me ver resumida a nada para você;
    Detesto assumir que imploro ao universo para te esquecer;
    Detesto exatamente esse agora, que apesar de vividas as memórias, já não me fazem sofrer;
    Detesto olhar o futuro e cogitar encontros;
    Detesto a hipótese de duas pessoas que não mais se conhecem com memórias em comum;
    Detesto agora desabafar num post-it, enquanto o que eu mais desejava era dizer diretamente a você;
    Detesto saber que jamais terei a oportunidade de esclarecer;
    Detesto recordar com fiducia o seu aviso de que não iria me permitir te confundir novamente;
    Detesto usar a frase com o intuito de suavizar o "estou me apaixonando novamente por você";
    Detesto esses temores bobos;
    Detesto a certeza de que este escrito jamais chegará a você;
    Detesto você sequer gostar de ler;
    Detesto como não se dá conta que eu o conheço melhor que até mesmo você;
    Detesto questionar maneiras de te remeter:
    Detesto antecipadamente sofrer com a ideia de ti amassá-lo sem mesmo ler;
    Detesto o contraste entre a minha alma escritora e o seu analfabetismo;
    Detesto este caso concreto fazer valer a máxima "o que não vira amor, vira poema";
    Detesto pensar em jamais isto publicar, com receio de ti não gostar;
    Detesto apontar a nossa história como a minha mais intensa e o mesmo não partir de você;
    Detesto ter enganado a mim mesma naquela noite;
    Detesto aquela noite marcar a minha vida, enquanto para ti foi um anoitecer qualquer;
    Detesto constatar o tempo que despendi nisso aqui;
    Detesto cada fantasia minha frustrada;
    Detesto a música solene daquele 28 de agosto;
    Detesto sentir saudade daquele agosto;
    Detesto o quanto ainda queima as memórias dos dias quentes;
    Detesto cada uma das controvérsias. Por falar em controvérsias, desde o princípio foi assim, por muito tempo acreditei que te amei, de uma forma que jamais imaginei;
    Detesto este amor em cem linhas.
  • [Roteiros] CIGARROS

    — Quanto tempo. Está me procurando... O que houve? O que quer?

    — Com tédio. Estou querendo ir na praça. Aquele lugar sempre remete você, sei lá. Vou ir.

    — Deve estar um deserto.

    — Não me importo. Eu gosto da calmaria.

    — Vai, chama alguém… Ou vai sozinho mesmo, pensar na vida. É gostoso.

    — Está ocupada?

    — São 23h40 e eu estou no busão… vou descer a serra… encontrar um pessoal e passar o feriado na praia.

    — Espero que seja quente.

    — Eu também, mas como essa madrugada pelo jeito vai ser gélida, já não tenho tanta esperança.

    — Eu queria era um maço de cigarro. Mas não posso gastar.

    — Vícios. Não há o que se fazer, a vontade vai te corroer até tragar.

    — Fuma há quanto tempo? 2 anos?

    — Menos.

    — Hum. Quantos maços por dia?

    — Não fumo todos os dias. Mas quando fumo mesmo, uns 4. Às vezes mais.

    — 4 maços? Cacete.

    — Não, 4 cigarros.

    — Ah, menos mal. Eu acho. Meu pai fuma 3 maços por dia.

    — Já não há uma parte do pulmão que salve.

    — Acho um absurdo.

    — Eu fumo com meu pai. Sempre quando vamos trocar um papo de vida, estamos fumando juntos.

    — Eu sou asmática. O cheiro do cigarro me enoja e dá pigarro.

    — Fresquinha.

    — Não, sensata. Jamais gastaria grana com o que me destrói.

    — Pode ser.

    — Conselho: Nunca pare de fumar por alguém. As pessoas te abandonam, o câncer não.

    — Essa frase não fez sentido

    — Era para ser um humor pesado. Não é pra ter sentido.

    — Ah tá, entendi.

    — Fuma qual cigarro?

    — Lucky Strike. Mas, com o tempo, me acostumei e passei a achar fraco. Passei a fumar Marlboro e não me satisfazia. Agora, Hollywood está suprindo as necessidades.

    — Marlboro fraco??

    — Sim, acredite.

    — E o Ministér? Já fumou?

    — Não.

    — Sempre achei o Marlboro forte. Insuportável.

    — O cheiro?

    — A gente precisa conhecer o inimigo

    — Você sempre odiou o cheiro, não vai dizer que começou a fumar…

    — O cheiro, sim, é insuportável. E nāo, eu nāo fumo.

    — Então não entendi.

    — Eu nāo consumo o que me destrói. Okay? Apenas.

    — Ingere açúcar?

    — Infelizmente, sim. Mas, quando possível, evito. Nesse sentido, me destruo. Pouco a pouco. Lentamente. Mas, eu dou a ele esse poder. Ainda assim, estou no controle.

    — Ninguém está. Então, é a mesma coisa.

    — Não. Pois, os cigarros que fumam perto de mim, me degradam sem o meu querer. Inalo. Me faz mal e eu não posso evitar. É exterior ao meu querer. É bem diferente. Agora, se eu quiser fumar, okay… a escolha foi minha. Eu dando o poder a coisa que me faz mal. Eu e minha vontade. Eu decidindo por mim. Ainda assim, no controle, alteridade…. até se tornar um vício. Aí fode. Mas, coisa que de uma forma ou outra, foi fruto das minhas ações.

    — Às vezes a gente faz coisas para suprir necessidades que nós mesmos fazemos ser necessárias, mesmo sabendo que tal coisa nos faz mal. Bebida, cigarro, entre outras coisas. É o que eu acho.

    — Sim. Vício. Você descreveu o que acarreta. É muito metafísico isso. Concorda?

    — Com o que disse? Sim.

    — Vício. Dá para fazer uma puta comparação ou intersecção com as pessoas.

    — E ao que disse lá em cima sobre câncer. Cigarro causa sim câncer, mas não como dizem.

    — Muita coisa causa câncer.

    — Sim, mas demora muito, em alguns pode ser em algumas dezenas de tragas, mas em outros pode nunca nem acontecer.

    — Sim. Como quem nunca tragou pode desenvolver.

    — Sim.

    — Porém, é evidente que quem é fumante está mais propenso. Seja ele passivo ou ativo.

    — Uma série de coisas que ingerimos, assim como vários temperos, causa câncer. E ninguém liga pra isso.

    — Cara, agrotóxico. Uma centena de coisas.

    — Eu não ligo pra nada disso, tô foda-se. E não quero me importar ou me preocupar.

    — Você diz estar “foda-se” para uma série de coisas. A questão é: Até onde isso é verdade? Já se questionou se diz isso a si mesmo apenas na tentativa de se auto convencer? Dizendo alto e em bom tom?

    — Nunca me perguntei. Mas não acho que seja.

    — Hum. É, pode ser. Ou simplesmente nunca se questionou.

    — A questão é que mesmo sabendo que é errado. A gente costuma, eu costumo, me apegar aos vícios e eles me controlam. Passo a agir por eles a ponto de fazer qualquer coisa para suprir meu desejo.

    — As vezes a gente deseja o que destrói e isso é duro de aceitar e lidar.

    — Concordo.

    — Isso explica muito sobre nós.

    — Eu sei… Eu sou a merda do cigarro não é?

    — Sim. E eu tô tentando parar de fumar.

    — E hoje um alguém te encarou e acendeu a porra de um cigarro na sua frente.

    — Exatamente. Justamente enquanto estou lidando com a abstinência.

    — A merda da abstinência.

    — Ela é sufocante porque os segundos correm e só o desejo com mais veracidade.

    — Ainda que cada trago seja intenso, pouco a pouco tudo se desfecha em cinzas.

    — Você sabe, você vê.

    — Não importa o quanto eu queira…

    — Eu sou nocivo.

    — Não pode continuar a me dar o poder de destruir você.

    — Eu dei o poder e luto para tomar ele. Já havia se tornado um vício.

    — Tenho sede do seu trago.

    — Dizer isso não me ajuda.

    — Desejo você para cacete a ponto de ser egoísta, te querer só para mim. É forte a ponto de te fazer mal. Eu sou a merda de um nocivo. E você tem a porra de um vício. Me desculpa.

    — Eu queimo em intensidade e incendeio ao queimar o cigarro.

    — E é nesse momento em que me tem nas mãos. E eu me desfaço. Momento que sou teu. Momento que você, pelo prazer, me dá o poder.

    — Eu detesto você por tudo isso. E detesto ainda mais a mim.

    — Tudo poderia ser suave. Mas, como você falou, o controle só existe enquanto não há o vício.

    — Sim.

    — São pequenos esforços diários...

    — Eu sei. E hoje, eu não vou tomar minha dose de você.

    — (…).


    Janaina Couto ©
    [Publicado — 2019]

    @janacoutoj

  • [Roteiros] DETALHES

    14h16

    Acho que sim. Você disse que não corre atrás e que não irá implorar nada. Sei que faz quando vê um problema, mas, aparentemente, não vê problema em nada.
    [...]
    Vejo sim. Vejo um problema, mas não o mesmo que você.
    Simplesmente queria que se colocasse no meu lugar. Mas, nāo tenta fazer isso. Fica dizendo equivocadamente que eu nāo tenho o direito de me justificar ou de também estar chateada. Acho um absurdo. Só queria que visse o meu ponto de vista para entender que "eu tenho o direito sim" e não ficar como hipócrita na sua visão.
    A sua frustração é quanto a um ocorrido, qual eu ainda não entendi pois você se recusa a explicar; a minha, por vez, é com a sua forma de lidar com ela, o seu modo de agir quando diante de uma situação de incômodo. Você está agindo pensando no mérito e eu no processo.
    [...]
    Entendi. Sei que se trata disso. Quanto a minha forma de lidar, reconheço que me estresso, quero distância no momento e me recuso a falar a respeito, faço isso porque qualquer atitude/decisão minha no momento será influenciada pela emoção, acabo sendo imediatista e agindo de uma maneira que sempre me arrependo depois.
    O seu agir na emoção me afeta de um jeito que você nāo faz ideia e a minha frustração/irritação foi justamente por isso.
    Eu nāo sou assim, a gente é diferente nisso. Tento nāo ser imediatista, as coisas ditas em instantes ficam e a gente nāo apaga. Quando eu tomo uma decisāo é de verdade, pra valer. Por isso te perguntei e te disse "me fala quando tiver convicção". Por isso nenhuma vez eu disse qualquer coisa do tipo. Não sei se entende o peso de falar isso…
    [...]
    Compreendo perfeitamente. Mas, voltando ao cerne da questão, ao mérito, ao que me frustrou… você não se desculpou de nada, em momento algum, somente justificou tudo. Eu entendo e concordo com o que disse, mas eu não quero mais ouvir justificativas e argumentos.
    Não fui bom o suficiente pra você e acho que, talvez, nem você pra mim. Como você mesmo falou, não costuma "correr atrás", se é assim, por favor, não faça isso, minha decisão está tomada.
    [...]
    Não sei o que falar nessas horas. Ainda assim, já nāo importa.
    Eu fui de verdade. A todo instante, nāo menti ou camuflei nada. Fui sempre sincera.... desde o início, até mesmo no longo "meio-termo". Quero que saiba. Não comecei nada cogitando um fim, mas, as vezes é como aquela música da Cássia Eller " o 'pra sempre' sempre acaba".
    [...]
    Você sabe porque acabou.
    [...]
    Eu sei, pelo motivo que eu nāo queria que tivesse acabado.


    20h02

    [...]
    Isso está me torturando.. Vai me atender?
    [...]
    Por qual razão saiu e me deixou falando sozinha?
    Eu disse que tinha muito a falar, pois, depois que tanto implorei para pontuar, fui capaz de compreender seus motins (finalmente entendi ao que se referia ao falar em "detalhes") e você ainda insistiu em sair andando.
    [...]
    Você só diz o que eu não preciso ouvir.
    Sabe o que aconteceu e você parece não se dar conta? Hoje eu percebi, com decepção, que você não correria atrás de mim. Simplesmente parece que não se preocupa com a ideia de poder "me perder". Seria capaz de me deixar partir por uma simples desavença, por ser orgulhosa a ponto de não querer correr atrás e fazer eu ficar.
    Demonstrou que não faz "questão" de me manter na sua vida. Aliás, confesso, ver sua indiferença me matou.
    O papel que eu fiz hoje, você quem deveria ter feito. Eu quem estava frustrado e decepcionado, o que me levou a cogitar uma ruptura, literalmente fui atrás de você por ter dito aquilo a flor da pele, para "resolver" as coisas.
    [...]
    Eu faria, faria o mesmo. Se, desde ontem, soubesse exatamente do que se tratou o seu desconforto, como fui capaz de compreender hoje depois que se propôs a falar. Já disse, não leio mentes.
    Aliás, faço questão sim. Diferente de você, eu sequer colocaria a hipótese da gente terminar por causa de uma simples briguinha.
    [...]
    Você ficou argumentando, tentando se explicar de alguma forma para se isentar de qualquer sentimento de culpa, enquanto deveria ter ficado quieta nesse sentido e simplesmente tentado resolver as coisas, independente de seja lá o que for.
    De antemão, esclareço que, sequer se trata de um "problema". Você se expressou mal, creio eu. Não "errei". Isso sequer deveria ter tido condão para causar discussão.
    Meu bem, uma omissão minha que te fez sentir-se mal… deveria tranquilamente ter me dito, nas suas palavras, que: "eu gostaria que agisse assim, essas pequenas coisas que deixam confortável e demonstram - para mim - que estás comigo, me fará muito bem se passar a ser mais atenciosa nesses detalhes, por mim".
    [...]
    Mas, independente do cerne da situação, você me deixou partir. Algo que eu jamais esperaria. Aliás, ainda nem consigo digerir isso, fiquei incrédulo e por isso mais uma conversa.
    [...]
    Estávamos conversando e tentei explicar o meu agir diante de como vi a coisa. Você parece não perceber que eu não iria "correr atrás" diante de uma situação onde eu sequer constatei "problema" para justificar sua escolha de partida.
    [...]
    Eu vi indiferença da sua parte e me magoou muito. Não disse o que precisava dizer, o que eu precisava ouvir e, sobretudo, o que deveria ter dito. E tenho convicção de que sabe ao que me refiro.
    Isso aqui não era para estar acontecendo, estou praticamente te cobrando. Se você quisesse a minha presença, diria por espontânea vontade. Mas, pelo jeito, a ideia de ruptura não te suscita nada. Não te assombra.
    Como se não bastasse, depois de tudo o que foi dito, das coisas que eu queria ouvir após todo esse meu agir, ainda não ouvi ainda.
    [...]
    Há pouco tempo, eu jurava que você estava disposto por um ponto final no nosso vínculo e isso definitivamente não era o que eu queria. Mas, com tudo nebuloso, ainda ousei e falei: DECIDE e me diz uma coisa dessas somente quando tiver convicção, justamente para você repensar e prestar atenção no absurdo. Sabe, eu jamais imaginaria que diria o que disse. Confirmando uma escolha ruim.
    Eu nāo tinha como correr atrás. Aliás, eu jamais imaginaria que precisaria correr atrás pois eu não fazia ideia de que, diante de uma situaçāo mal interpretada e não esclarecida, você diria um adeus.
    [...]
    Essa conversa não vai dar em nada de novo. Não entraremos em um consenso. Sabe, como se não bastasse, constatei algo que me abalou. Vamos deixar a situação como está.
    Por fim, te peço desculpas por não ter tentado lidar com as situações de incômodo de uma forma melhor.


    22h45

    [...]
    Eu te peço desculpas, agora, por nāo agir do modo que você gostaria, um modo que eu poderia agir e não percebi (digo isso quanto aos detalhes). Aliás, me desculpa por ser "individual" em algumas coisas, sua frustração nesse sentido é, infelizmente, válida. Reconheci isso, percebi tudo sobre os detalhes depois que se propôs a pormenorizar.
    Eu já havia dito que agiria de acordo, por querer agir, por ver sentido em passar a agir assim. Agora, sei como são importantes, apesar de chamarmos de "detalhes".
    Peço desculpas também por nāo ser direta, sei que isso complica muito as coisas.
    Peço desculpas por colocar expectativa no seu agir e me frustrar com ele.
    [...]
    Pediu desculpas somente após ouvir as minhas pelo meu imediatismo cego. Pediu desculpas como se fosse por obrigação.
    Sinceramente, se eu nunca amei alguém antes, acredito que estou amando agora e não gosto de amar alguém. Dói e frustra. Não quero esse sentimento de amor.
    [...]
    Isso foi inesperado e cortante. Não queria te proporcionar isso. E, outra, você nāo é o único a ser afetado nessa história.
    Sobre desculpas, está equivocado. Eu mesma já te disse que um pedido de desculpas sem mudança é manipulação.
    [...]
    Quanto a minha dor, já tomei atitude a respeito. Você precisa me esquecer, o que eu acho que não é tão difícil, a ausência do seu agir quanto aos detalhes me leva a pensar assim.
    [...]
    Não tenho como esquecer ou parar de sentir tudo o que pulsa em mim de uma hora para outra.
    Qual atitude? Aquela decisāo anterior? Aquilo realmente é do seu desejo?
    Como assim, isso foi um "eu amo você"? Disse me amar e não gostar disso?
    Cacete. O primeiro "amo você" que ouvi, dessa forma de amor, foi pronunciado com pesar. Não faz ideia do quanto isso é decepcionante.
    Vejo que está decidido… Se é assim, quanto aquele texto, sobre o parágrafo final (que prometi te responder na hora certa), foi sincero. Sei que nāo mais te importa, mas, foi real.
    Isso explica muita coisa... o meio-termo que me submeti, mesmo sendo doloroso para mim, por causa do desdém e, ainda assim, eu estou aqui.

    [...]
    Um amor que só você sabe que existe? Que não me demonstra com atitudes? Um sentimento que eu não vejo? Um sentimento vomitado? Você me diz muitas palavras de amor, mas tenho a sensação de quem são da boca pra fora.
    [...]
    Eu tenho plena convicção do que sinto e é horrível te ver menosprezando algo que está em mim, algo puro e singelo que pulsa por você.
    Sabe, quanto às suas perguntas retóricas, eu também poderia fazê-las. Principalmente por você ter colocado a hipótese de ruptura, enquanto eu jamais faria uma coisa dessas.
    [...]
    Não conta isso que estou fazendo? Nem mesmo tudo o que já fiz até agora? Aliás,coisas que eu nunca fiz e jamais faria por nenhum outro alguém?


    00h05

    […]
    Tem mais alguma coisa a falar?
    [...]
    Só a ouvir...
    [...]
    Isso quer dizer que está me esperando dizer algo específico?
    [...]
    Talvez. Na realidade, se trata do que eu gostaria de ter ouvido há muito tempo. Mas, não sei, acho que já desencanei…
    [...]
    Entāo isso significa que independente da nossa conversa a sua decisāo é aquela?
    [...]
    Faça uma reprise de todo o acontecido, lembre das coisas ditas.
    Eu fiz e percebi coisas que eu e você dissemos e que nāo dissemos. E, sobretudo, nas coisas que eu falei.
    Aliás, aceito suas desculpas, ainda que você nāo reconheça as minhas.
    [...]
    Eu aceito as suas. Mesmo que eu não tenha sentido sinceridade.
    Como assim? Esteve repensando exatamente o que?
    [...]
    Como as pessoas são capazes de sentir e isso nāo estar ao alcance do outro.
    [...]
    Se refere a o que?
    Quando eu disse que sinto o mesmo que você, me falou que nāo percebia assim…
    [...]
    Não irei te enganar com uma mentira. Não há nada que eu possa fazer a respeito, pois se trata do que eu vejo e sinto.
    [...]
    A gente pode levantar infindas coisas para justificar o nāo crer no que o outro alega sentir.
    [...]
    Eu não vejo o seu sentir e se ele realmente existe, não me satisfaz.
    (...)
  • [Roteiros] ETERNO

    […]

    Estive refletindo todo esse portfólio. O nosso amor. Sabe no que tanto andei pensando? Que a gente deveria casar. E ter uma família, cachorro. Temos uma conexão surreal, gostamos muito um do outro. Não há desculpas ou o que se questionar. Já sei que a resposta é um sim, não precisa responder. Agora só falta marcar o dia… Pode ser hoje mesmo, ao anoitecer, no Recanto, assim que eu sair do trabalho. Fechou então, marcado.

    Vamos mesmo casar hoje, viu? Uma cerimônia a dois, simples e singela, vamos eternizar cada segundo entre o luar e o alvorecer.

    Está será a noite mais incrível dos nossos dias.

    Olha, juro para o Universo que não estou brincando. Você diz que eu sou louco, mas ainda não sabe o quanto. Te amo, meu Jacarandá.

    […]

    Está falando sério? Adorei o seu falar cheio de convicção. Convicto quanto a mim. Exatamente assim, não há que se ter dúvidas.

    Eu trocaria a eternidade por esta noite, como em “Relicário — Nando Reis”. Caso com você quando e onde quiser.

    Assim que te vi, topei uma vida com você e todos os frenesis que há de vir. Estamos entrelaçados. Ligados por todo o sempre.

    O destino me mostrou isso ainda no principio. Te contei, cedo, nas entrelinhas e você não se deu conta.

    Lembra quando nos conhecemos? A primeira vez que nos encontramos?

    Recordo fervorosamente cada detalhe. A primeira vez que senti o seu toque, o teu cheiro, o teu olhar… A primeira vez que ouvi o teu timbre. O nosso abraço sob a densa chuva.

    As águas de março fechavam o verão e naquele dia eu tomei o banho de chuva mais gostoso da minha vida. Sobretudo, me vi no envolto corporal que estranhamente me arrepiou dos pés à cabeça.

    Somente quando diante do seu olhar eu compreendi tudo. Se tratava daquilo… a chuva.

    Quando do nosso primeiro beijo, a chuva também estava lá. Marcando o principio do relicário imenso desse amor.

    Em algum lugar no tempo ouvi dizer, e acredito com veemência, que as coisas que se iniciam com a chuva são eternas. Nos transformam. Mudam a nós mesmos radicalmente. É um sinal de que estamos alinhados ao nosso destino. São instantes atemporal.

    Sabe, tenho essa sensação… de que o “eu e você”, de algum modo, sempre esteve escrito. Não sei explicar, só sinto.

    […]

    Mulher, você é fantástica. Confesso, tive receio de que julgasse bobo, precipitado e mal desse ouvidos. As estações correm e nós permanecermos a agir como no principio. Não há que se esperar nada se tratando de nós dois. Não passamos vontade. Não importa como, quando ou onde. Gosto disso na gente.

    […]

    Óbvio que foi inesperado. Sem mais nem menos, de um instante a outro. Aliás, diante de tudo isso aqui, inequívoco que eu seria incapaz de dizer um “não”.

    Se trata de você, meu bem. O homem que tem nas mãos o meu choro de mulher, que tem o meu ver, o meu olhar e o que quiser.

    Eu toparia casar com você até mesmo se a proposta for fazendo juras de mindinho. O casamento, ao meu ver, não é institucional e sim simbólico.

    […]

    Você tem um potencial para me dizer coisas tão lindas que eu fico perdido sem saber o que responder. Como se nada do que eu dissesse fosse capaz de expressar tudo o que eu sinto.

    […]

    Não precisa me dizer nada. O seu olhar, o seu toque, me diz o Universo e o mundo. A sua linguagem do amor é diferente da minha. Eu não preciso de palavras de afirmação para reconhecer o que você sente.

    Você não precisa usar comparações, canções ou palavras bonitas para me fazer sentir amada. Basta palavras sinceras. Apenas.

    Gosto dessas nossas conversas. São lindas. Parece até mesmo que estamos seguindo uma espécie de roteiro, escrito por um alucinado que idealiza o amor.

    […]

    Eu jamais havia imaginado estar vivendo isso aqui. Esse “agora”, com você. Quando te conheci, não imaginei que seria a mulher com quem dividiria a minha vida. Na realidade, sempre te achei tão dona de si que parecia loucura cogitar qualquer envolvimento contigo. Você é um Universo de qualidades.

    Não sei o que em mim tanto te cativa.

    […]

    Sinto em dizer que não sei te responder. É um mistério. Eu mesma me questiono isso. O que faz você, ser você. Há algo, sei que há. Algo imenso.

    Posso apontar a dedo cada detalhe seu, pinta, marca, riso, jeitos e andados. É um conglomerado de coisas que te faz único. Fico imersa nos seus detalhes.

    Não precisa de muito. É justamente por ser tratar de você.

    Não sei explicar, desde o início, ainda que você e qualquer outro alguém agisssem exatamente da mesmíssima forma, eu sempre fui atingida ao máximo por você.

    O sorriso que enaltece o meu dia. O colo que eu deito e descanso. O olhar que despertar o meu lado devasso.

    Não percebe? Eu amo você. Você. Todo o conjunto do seu eu, cada partezinha.

    […]

    O que eu sinto por ti é desmedido a ponto de ser misterioso. Até mesmo mais que o céu, o luar e as estrelas. Eu sei exatamente o que torna você, você. Cada uma das coisas que me faz transbordar.

    […]

    Sabia que sou fascinada nessa coisa? Planetas, estrelas, anéis… Gostei dessa comparação com os astros. Pode ter certeza que irá encontrá-la em algum dos meus textos. Eles são cheios de você.

    […]

    Então, escolhi a noite certa. Um evento celestial para marcar mais um epílogo. A noite de glória para Vênus, seu ápice. Iremos contemplar o extremo de seu brilho sobrecarregar as Plêiades, da constelação de Touro.

    Aliás, por falar em astros, recorda a primeira música que cantei para ti? “Mecânica Celeste Aplicada — Yoñlu”. Tudo quanto a nós está repleto de pequenas coincidências. Sempre estamos diante da “sincronicidade” que você tanto fala.

    […]

    Espero não estar sonhando, delirando ou em devaneios. Você sempre me surpreende e cada vez de uma forma mais esplêndida. Se eu pudesse, nos fazia eternos.

    […]

    Vamos estagnar o tempo. Eu te farei eterna, em mim. Exatamente como em “As Coisas Tão Mais Lindas — Nando Reis”. Dias, semanas, meses, anos décadas e séculos, milênios vão passar e viveremos por todo o sempre, eternamente, no templo que construímos um no outro.

    […]

    Me sinto grata por você ser o alvo de toda a minha doação e entrega. É um prazer ser você a ter nas mãos o meu sentir e cada fresta do meu corpo. Eu amo a forma como me tem, como me toca (em sentido amplo).

    […]

    O prazer é mútuo. Sei o quanto adora ser chamada de “Vênus”. Mas, você não se dá conta que ser uma deusa, se tratando de ti, ainda é pouco. Você é um Universo inteiro. Aliás, o mais lindo que poderia existir. Tanta força, beleza e intensidade em uma única mulher. Você é expansão.

    […]

    Obrigada, meu bem.

    […]

    Eu quem sou grato. Terei a honra de casar com você. Aliás, venho matutando isso há dias consideráveis. Te comprei um vestido bem antes disso, por de imediato memorar você.

    Fica tranquila, não é branco e muito menos “de casamento”. Sei o que pensa a respeito. Sabe, Ele é do tecido e com os tipos de detalhes que você gosta. Quanto a cor, estampa e tudo mais, não sei dizer. Ele é a linha tênue entre o luar e o alvorecer.

    […]

    Perfeito.

    […]

    Sabe, adoro isso na gente… como nos tratamos. O imenso respeito. A cautela, cuidado e zelo um com o outro. O nosso amor puro. Nesta noite, vamos materializar não apenas simbolicamente. Te fiz algo. Também te escrevi outra música. Bom, seria surpresa, mas eu fico nervoso nesses instantes.

    […]

    Tenho certeza que irei amar.

    Está aí mais uma coincidência. Finalmente finalizei aquele capitulo. Eu escrevi todo o nosso enredo. Cada texto é pautado em um momento. São escritos repleto de frases, cores e falas dos nossos dias. Pormenorizei os nosso detalhes. Espero que goste da minha dedicatória, o primeiro exemplar será seu. Bom, seria surpresa, mas não me contive.

    […]

    Nas ultimas semanas, reconheci o seu jeito e andando diferente. A mudança do seu semblante. Acredito que se tratava disso. Eu tenho convicção que irei me desmanchar com cada palavra.

    […]

    Se trata não somente, mas também disso…

    […]

    Olha, a semana corria e muitos momentos pensei em “arrancar” algo de você, mas não tentei. Você pode ser boa em muitas coisas, mas não sabe disfarçar. Dissimular não é uma característica sua. Eu sinto que tem algo mais.

    […]

    Confesso que já fui melhor nisso. Te mostrei cada uma das minhas versões. No inicio de tudo isso, sobretudo, naquele 29 de fevereiro, eu te era um enigma. Hoje, me conhece tão profundamente que facilmente me decifra.

    […]

    Dona do meu pensamento, cogito algo. Aliás, que eu desejo fervorosamente que seja. Me diz, por favor, que não estou equivocado. Fala de boca cheia e com todas as letras que o nosso vinculo eterno já foi materializado.

    […]

    Se trata disso. Carrego o nosso vínculo eterno em meu ventre.

    Janaina Couto ©
    [Publicado — 2020]

    @janacoutoj

  • [Roteiros] RUPTURA

    Eu sempre vou ter o que falar. Não guardo palavras. Mas, é cansativo quando são proferidas em vão. Sobre o meu sentir, você sabe. Aliás, fim de semana passado foi incrível.

    Posso apontar a dedo (os seus e meus) erros e os acertos, ações e omissões, os altos e baixos.

    Obrigada pelos altos.
    Obrigada pelos dias gostosos.
    Obrigada pelos olhares, pelos momentos de verdade.
    Obrigada por me mostrar inúmeras coisas.
    Obrigada pela imensidão do que me permitiu sentir.

    Porém, foi sobretudo, conturbado para apenas uma estação. Não vivemos ou viveremos tudo o que eu gostaria. Não comecei nada pensando no fim.

    O ponto final você põe, agora, sozinho. Não precisa me falar razões. A minha resistência ao CEDER e a sua necessidade em IMPOR sempre foi um problema entre nós. Sobretudo, o jeito como lidamos com as coisas, que é grotescamente diferente. Causou muitos dias baixos (como ontem e hoje).

    Todas as minhas declarações, choros, abraços, beijos, toques e olhares, foram sempre, profundamente, de verdade.

    Sabe, você diz sentir o universo por mim. Não sei como se pode amar alguém e facilmente colocar ponto final em relação a ela, bem como sempre ameaçar partir. Muito menos como tudo pode ser razão para partida. Não sei se é por você ser imediatista. Não sei.

    Acaba por me proporcionar alvoroço emocional. O alvoroço existe justamente pelo que pulsa em mim, por eu gostar de ti de uma forma desmedida.

    Você parece não perceber que, para quem está do outro lado, isso é foda, pra cacete. É uma espécie de controle emocional. Sem contar que mostra fragilidade do nosso elo, em muitos sentidos. Te disse isso das outras vezes.

    Francamente, como amiga, se atenta nisso. Como isso afeta e o que demonstra para o outro. Não sei se nos seus relacionamentos anteriores isso fluía ou como sua parceira reagia. Mas, pode descartar se quiser. Não tenho outra experiência para poder comparar. E, ainda que tivesse, sabe o quanto detesto comparações.

    Por favor, não me venha com “vai deixar a nossa coisa se desmanchar”. Sendo sincera, você quem iniciou a ruptura e, dessa vez, simplesmente acatei sua decisão. Não jogue o peso da sua escolha sobre mim.

    Recordo precisamente do seu efêmero posicionamento. Ouvi com atenção aquela frase, que, aliás, óbvio, atordoa a minha mente. “Não está bom pra mim”. Ainda que antes mesmo de proferi-la, intuitivamente pude pressentir o que diria. A mensagem amarga. Ao soar de cada silaba proferida, cada movimento dos teus lábios, queimava. Lentamente eu provava cada farpa do veneno.

    Não vou enganar a ti, muito menos a mim mesma, estou decepcionada e, mormente, com raiva. Por todo um conjunto.

    Aquela conversa não foi em vão. Aliás, nunca qualquer conversa, fala, minha foi frívola. Detesto a ideia de me doar em conversas baldias.

    Você não pode dar tchau pra mim sempre que tiver vontade. Fazendo-me sentir imenso temor diante de toda e qualquer coisa ínfima, propriamente por saber que você, a qualquer momento, irá se voltar a mim dizendo um adeus ou ameaçando isso.

    Você não pode me dispensar e depois -quando quiser - me chamar, acreditando que vou ignorar isso e simplesmente "gozar".

    Não pode me descartar assim, achando que isso não me abala ou enfraquece um vínculo.

    Sabe o pior? Isso não foi agora. Já havia acontecido mais vezes do que eu gostaria, aliás, vezes demais que chega a ser difícil de acreditar. É tristemente reincidente.
    Não quero uma relação instável. Não quero me sentir insegura, pontualmente nesse sentido: “hoje ele quer estar comigo, amanhã, sem mais nem menos, talvez não”.
    Tenho horror a estar constantemente dependente da sua aprovação e, principalmente, a conviver com a necessidade incessante em me certificar de que “está tudo bem entre nós”.

    Não quero ficar absurdamente pressionada pela ideia de que “se eu não fizer determinada coisa ou se não agir da forma que ele espera/deseja, independente do que penso ou quero a respeito, para mantença do ‘nós” irei ceder, senão ele virá colocar um ponto final ou ameaçar fazer”.

    Não quero estar obrigada a ceder quando não vê necessidade ou sequer sentir vontade para tanto, muito menos quando reconhecer um problema quanto a anuência. Fico apavorada ao me ver sendo qualquer pessoa, que não eu mesma, por temer sua partida.

    Naquela madrugada, custava pensar antes de agir? O que te faz mudar de ideia logo após enfiar na minha garganta um ponto final? Nem sei se mudou, sequer o que te motivou a tomar uma decisão incrivelmente ruim. Juro que isso me intriga. Desde quando o que penso ou sinto sobre a árdua transição do “nós” para o “eu e você” passou a te importar?

    Você fez isso, sozinho, quando eu menos esperava, quando eu sequer podia sentir cheiro de partida, muito menos cogitar qualquer coisa parecida.

    Depois daquela tarde de domingo quente, quando fizemos juras de amor e promessas, exatamente quando, para mim, estava tudo passando a fluir de um modo surreal; mais uma vez, você me fez sangrar, encerrando o nosso ciclo por “bobagem”, quando parecia ser o início do nosso melhor tempo. 

    Acredito que foi a coisa mais idiota que você fez. Justamente por eu gostar pra caralho de você aquela conduta foi uma merda.

    Talvez, seja como canta Adriana Calcanhoto, “Rasgue as minhas cartas e não me procure mais, assim, será melhor.”

    Não importa o que diga. Não me é interessante que as promessas sejam renovadas. Pois, não me valem de nada até que as cumpra. Teve inúmeras chances e elas não foram aproveitadas.

    Não irei permitir ser como das outra vezes. Ainda que eu dê uma nova chance, para o “nós”, é muito provável que semana que vem você faça a mesma coisa. Nessa frequência, irei permanecer me magoando. Detesto com todas as minhas forças o “vai e vem”. Eu não aguento isso.

    Fico pensando naquilo... Se para ti não está bom, imagina para mim com essa instabilidade partindo de você. Não é decidido quanto ao meu “eu”, em muitos sentidos.

    É claro, não imaginava que o nosso relacionamento poderia ser conturbado assim. Instável. Não quero isso para nós. Desejo pisar em terreno seguro. Mergulhar e não cair nas pedras.

    Eu que sempre falei em reciprocidade e priorizei “leveza”, me deparo num naufrágio. Não está sendo saudável e você não vê ou, ridiculamente, fecha os olhos.

    Por constatar o caminhar das coisas e acreditar sinceramente que, nós dois, desejando, seríamos capazes de contornar a situação. Nos proteger da mácula. Te escancarei isso antes. Justamente pela árdua percepção que, naquele domingo, eu te implorei: “vamos tentar”. Mas, infelizmente, nas oportunidades para vermos a tentativa, ela não aparece.

    Desse jeito eu não quero mais. Estive pensando muito de sábado pra cá. A mesma cena se repete. Não quero permanecer num relacionamento desse jeito, a nossa coisa não estava boa para ti e, para mim, estava ainda pior. Sabe por quê?

    Não quero ter que ceder aos seus caprichos (saiba diferenciar ao que me refiro) sob ameaça de te perder! Muita pressão sentimental que estava me sufocando. Sinto que a qualquer momento estarei sozinha, quando eu menos esperar, então é melhor que seja agora, já que você mesmo decidiu isso sob o argumento ridículo de que não supro as suas expectativas.

    No mais, anseio estar com alguém confiante sobre mim. Você sempre com ameaça de fim não demonstra isso.

    Aliás, quanto a sua carta, foi a primeira que recebi dessa forma de amor. Olha, independente de tudo, você sabe o quanto eu sinto por você.

    Desculpa não conseguir responder. Pela primeira vez, não tenho palavras. E isso é raro. Acredito que por estar indignada, com raiva e decepcionada, por aquilo que já falei.

    Eu confiei em você. Confiei em muitos sentidos. Estava mergulhando e me entregando emocionalmente e fisicamente. Para o cara sempre romper comigo por nada. Sem contar nas ameaças de partidas anteriores e nas coisas que já te foram ditas.

    É evidente. Fiquei e estou magoada. Quanto ao nosso vínculo, sou porto seguro enquanto você, para mim, aparenta ser incapaz de ser qualquer coisa próximo a isso. Sempre instabilidade da sua parte.

    Não vou me sabotar tentando repousar a culpa da ruptura nas minhas condutas. Eu sei que tentei agir para você, a todo instante, da forma que eu gostaria que agisse comigo.

    Lembra? Em muitos momentos eu falei “É apenas o começo. Estamos nos conhecendo. Calma, tudo no seu tempo. Podemos lidar da nossa forma. Não esquece o nosso pacto”.

    A estação inteira eu pugnei por um relacionamento saudável. Com sinceridade, reciprocidade e confiança. Sem joguinhos, desconfiança e “paranóias”, pois sequer haviam razões para tanto. Eu via a instabilidade e a repudiava com todas as forças, pois, afinal, eu gosto muito de você e queria o “nós”.

    Acredito mesmo que quando os dois querem, fazem acontecer. Mas, se é preciso maturidade.

    Em muitos momentos não me impus da forma que eu deveria. Ao contrário, conversei cruamente para te explicar o problema de algumas coisas e que poderia se sentir seguro quanto a outras. Não obstante, aceitei coisas que não gostei, de modo desprezível deixando “passar” para ficar tudo bem entre a gente.

    Digo com convicção que em instante algum agi num imediatismo cego contigo, por temer o que isso poderia suscitar em você, a mim e, sobretudo, na nossa coisa. Sei que até mesmo tu reconhece. Pois, diante de toda e qualquer pequena situação de desconforto, eu explicava as minhas razões, problemas e escolhas, me fazendo “nua e crua”.

    Sempre valorizei e recordo de todos esses diálogos. Para mim, representavam um marco para que desde as ínfimas à grotescas situações de incômodo não se repetissem. Deveríamos evoluir para sabermos enfrentar e lidar com coisas novas.

    Reconhecendo que não raramente pareci a sua psicóloga, explicando o problema das coisas, pontos de vistas, aconselhando a ressignificar e mostrando como tudo poderia ser mais suave. Nós dois precisávamos de equilíbrio e aprender a sopesar as coisas.

    Como se não bastasse, para mim mesma, muitas vezes te julguei por “infantil”. Assim como sei que, ainda no momento tendo plena convicção do contrário, também fui.
    Fizemos “pactos” para facilitar o correr dos nossos dias, já que vemos e lidamos com toda e qualquer coisa de modos absurdamente distintos. “Eu e você sempre ‘nus’ e ‘crus’”, lembra? Mas, aparentemente, nos instantes em que mais se era preciso, só eu recordava e estava disposta a segui-los.

    No último mês, houveram partidas em todas as semanas. Todas! As mesmas promessas já foram feitas outras vezes, sobretudo, nas últimas semanas. Por favor, não vamos normalizar isso. Mostra bem mais que fragilidade.

    Relacionamento é balança e não depende só de um. A conduta do outro gera sempre reação. Se isso prosseguir, da maneira como estava, é inequívoco que iremos adentrar novamente no mesmo ciclo vicioso. Assim, acabando somente por prolongar isso, a ruptura.

    Não adianta forçar nada! A entrega, o cuidado, o zelo e a valorização da nossa coisa deveria ser, de ambas as partes, natural. Independente do quanto eu deseje, independente da nossa conexão foda, não temos que forçar dar certo.

    É insano. Foi o meu primeiro relacionamento e sei que minha inexperiência pode ter atrapalhado. Não que sirva de justificativa para erros e afins. Quero dizer que, apesar de tudo, eu tentei agir com maturidade e responsabilidade afetiva. Convivi com uma sede insaciável de afastar as coisas que abalavam o “eu e você”.

    Acredito que irei me magoar ainda mais persistindo nessa ganância de cuidar de algo que independe somente de mim. Não sei como de um instante a outro as coisas podem ser diferentes.

    Você sabe muito bem. Dei um passo muito grande, seria uma surpresa e acabei te contando quando do seu adeus.

    Percebe? É difícil digerir que até mesmo quando tudo está bem, sem mais nem menos, do nada, chove. É triste remoer que na maior parte do tempo estamos no “baixo”, enquanto me apego aos poucos momentos de “alto”.

    Foi a estação em que senti o mundo. Mas, foram dias, sobretudo, conturbados. As minhas emoções ficaram à flor da pele.

    Não acato sua decisão sob o argumento de “é melhor agora enquanto é cedo, antes de entrelaçamos nossas vidas ainda mais, antes se apegar”. Não, não tomo, porque eu já estava apegada o suficiente, desde o meio-termo. No mais, pouco a pouco, te inseri em todos os âmbitos da minha vida.

    Tratava-se do nosso começo e ele deveria ser, em tese, muito bom. Deveríamos, os dois, estarmos eufóricos pela entrega um do outro. A reciprocidade, a sinceridade, o cuidado emocional com o outro tinha de ser trivial. Sem a necessidade de precisar provar que se importa ou, muito menos, se sentir obrigado a tanto.
    Sabe o que demonstra que não estava sendo saudável? Palavras suas: “ambos estão exaustos”. São coisas que não coincidem para mim. Exaustão em um curto lapso temporal. Uma estação! Parece muitos mais tempo, não é? Mas, não, foi só um verão. Com o outono, chegou a ruptura.

    Dessa forma, eu não consigo seguir. Passo o meu dia ponderando em como podemos elevar o suporte do nosso afeto. Fico tentando compreender o que acontece. Como se não bastasse, sinto constantemente o peso de precisar provar para você que pode confiar em mim, que gosto de você, que me importo, que me preocupo.
    Sendo que eu acredito que nunca fiz nada para você pensar o contrário e agir de acordo com tal. Não faz ideia do quanto me sinto imunda por isso. Insuficiente. Ainda que seja convicta de quem sou, muitas vezes, me senti assim diante de ti.

    A única vez que a partida partiu de mim, foi por isso. Por perceber tudo! Conversamos sobre reciprocidade, leveza, sentir e tudo mais. Houveram promessas de ambas as partes. Você se atentou a algumas coisas, mas ao que magoava, não. Com a primeira chuva de outono, nos encontramos nisso, partida.

    Possamos gostar muito um do outro. Mas, não foi a primeira que me disse “não está bom para mim”. Não sei como isso vai mudar de uma hora a outra. Levando em consideração o quanto já tentei, me sinto esgotada, sem cartas na manga. Como de um segundo a outro te farei sentir-se realizado? Não quero ser hipócrita.

    É duro. Posso gritar para o mundo o quanto é duro para mim enfrentar isso aqui, a ruptura.

    Sofro pelo que poderia ter sido e não foi. Não esquece.

    Acredito que estou frustrada, não pela minha entrega, mas justamente por acreditar com lasciva veemência que, depois do pôr do sol daquele domingo, nós dois iríamos tentar, mesmo! Por acreditar que as promessas, conversas e pactos não tinham sido em vão. Pelo meu crer de que nunca mais haveriam idas e vindas. Sempre estive disposta a enrrigecer a nossa coisa.

    E, exatamente uma semana depois, tudo volta ao antes. Ao morno.

    Meu mais insano e desmedido amor, o “eu e você” não vai prosseguir. É árduo dizer que na maior parte do tempo estávamos frustrados um com o outro, ainda que em vertentes distintas.

    Não quero viver na esperança de tentar. Não quero permanecer num relacionamento que conforme palavras suas, “só tenho preocupações”. Não quero seguir assim.
    Nossa afinidade deveria ser o refúgio. Algo digno de agradecimento. Sabe, muitas noites eu agradeci ao universo por estar ao seu lado, por dividir essa fase com você. Ansiei muito para que passasses a me ter como confidente, assim como te fiz o meu. Te falei isso, mas sempre respeitei o seu jeito peculiar, astuto e ocluso, nesse sentido; acredito que tratava-se de uma questão de tempo para você se sentir confortável para tanto.

    Talvez eu tenha posto muito expectativa e essa seja a raiz da frustração. Mesmo que eu tenha tentado manter os meus pés no chão. Desejei ter o seu verdadeiro “eu” comigo.

    Nesse quesito, sobre a sua carta, nas folhas “amarelas”, eu gostaria, mas não consigo ler aquilo e dizer “você não foi assim para mim”. No entanto, afirmo com convicção que você não foi somente aquilo.

    Existem dois caras em você. Aquele por quem me apaixonei e o que me faz ir embora.

    Sei que eu não sou ótima. Que não sou a dona da razão, aliás, não raramente estou completamente equivocada. Mas, realmente tentei agir para contigo da forma que eu gostaria que agisse comigo.

    Eu não menti uma vez sequer. Não tratei com desdém. Não joguei na cara o tempo que despendi para estarmos juntos. Não enganei, nem com ações, nem com palavras e em nenhum instante isso passou pela minha cabeça. Eu fui nua e crua para você, te mostrei cada fresta. Mas, nada disso foi o suficiente.

    Como se não bastasse, o meu sentir, nas suas palavras, “não o satisfaz”. E, quanto a isso, me recuso alegar qualquer coisa. E sei que essa frase jamais será esquecida por mim. Já disse o quanto detesto seu imediatismo?

    Estou assoberbada de pensamentos confusos e conflitantes. Por hora, não sei o que tenho mais a falar. E o que sei que tenho, prefiro acalentar.

    Já falei tanto. Fiz cartas de amor (puras). Me declarei. Me entreguei. Sobretudo, me joguei da cascata, a queda foi gostosa, mas acabei presa nas pedras.

    Não quero mais. Desculpa, sei que devo, pois também errei contigo, apesar da minha “ingenuidade”, como mesmo dissestes. Aquela história. E, sinceramente, pensando em tudo que vivenciamos, analisando os motins das nossas discussões, aquela consistiu na única coisa com titulo de “problema” e digna de uma ameaça de partida. Quanto às demais, trataram-se de coisas que poderiam facilmente ser resolvidas e acabaram, por nós, prolongadas.

    Independente da minha raiva e decepção, juro que digo isso com um imenso pesar, meu bem: Nada do que te digo agora é inconsciente. Essas não serão mais palavras em vão.

    Eu não havia planejado falar nada disso aqui. Depois de agradecer pelos nossos “autos”, pensei: “ao decorrer dos nossos dias, já falei o bastante”. Nada do que expus te é novidade. Não abandono o espetáculo sem mais nem menos.

    Sabe o que me corrói? Não fui para ti quem eu gostaria. Ser refúgio e confidente, por exemplo. Você não me permitiu ser. Acabava comigo te ver “morno”, com a mente e o olhar distante e, especialmente, por notar que os problemas te consumiam a ponto de te fazer agir mal com os que te querem bem.

    Foram muitas as vezes que te implorei para saber o que estava rolando e querer ajudar, mas parei quando me disse em voz alta e em bom tom que não queria a minha ajuda. Não dividiu. Não mostrou confiar em mim. Não me inseriu nos outros âmbitos da sua vida.

    Ainda assim, por ter ciência da sua dificuldade em compartilhar, te perdoo pelos momentos de desdém, pelos instantes que estava atordoado com os problemas a ponto de parecer que eu nem estava ali, que a minha presença tanto fazia.

    Porém, muitas vezes, agiu como um idiota comigo, como você mesmo pormenorizou na segunda folha amarela daquela carta. Como se não bastasse, quando diante dessas ações te disse “eu não não mereço ser tratada assim”, não ouvi sequer um pedido de desculpas, mas sim um “então arranja um cara que te trate melhor que eu”.

    São tantas coisas. São praticamente infindas para apenas uma estação. Fiz uma escolha, acatei sua decisão e, por hoje, não quero falar sobre isso. A minha cabeça está cheia e o meu coração inquieto. Não existe mais o “nós”.

    Eu disse sério ao falar que estou com raiva e decepcionada. Essa ruptura será ainda mais complicada se mantermos contato contínuo. Pelo menos agora.

    Mais uma vez, te peço, não coloque a ruptura nas minhas mãos. Você já tomou uma decisão e eu simplesmente concordei com ela. Faço isso pelo meu bem estar emocional e psicólogo.

    Não quero perder minha essência ou personalidade, como é o caso de ceder a meros caprichos, para manter relações, ainda por cima instáveis. Não quero me desgastar na tentativa de salvar algo sozinha, que não está somente sob o meu controle.

    Me apavora te ouvir dizer que existe algo mais, que estou dissimulando as razões da minha anuência. Parece absurdamente que não prestou atenção ou que ridiculamente descartou tudo o que já desabafei. Não é “do nada” e não tem que se achar estranho. Uma vez, naquele domingo, a partida surgiu de mim e pelos mesmos motivos de agora.

    Sabe o quanto desprezo idas e vindas. No pôr do sol daquele mesmo domingo te disse: “Me vejo voltando atrás numa decisão e isso não é comum para mim. Por respeito a nós, não vamos jogar fora”.

    Você voltou atrás também, em todas as suas despedidas…

    Suas ameaças de partidas e as despedidas foram motivadas com base em que eu fui para você, dentro dos seus limites, ideais de certo e errado e sentimentos.

    Sua percepção sobre o meu desejo de estar com você, príncipalmente sobre o meu sentir, depende de que eu seja quem você quer, ceder, suprir as suas expectativas até mesmo nas coisas mais mínimas.

    Sabe, eu tenho fervor por quem me deseja por inteira. A mim mesma. Não irei mudar a ponto de se tornar uma versão pirata de mim mesma.

    Eu queria poder agradar você, óbvio. Mas, sendo eu mesma e não precisando provar o meu desejo e tudo o que sinto da maneira que você achava que deveria ser. “Não está bom para mim”. Não consigo ceder a ponto de me tornar o amor que te satisfaz, que você deseja.

    Houveram pedidos de desculpas e promessas mútuos, mas nem todas elas foram cumpridas. No principal imbróglio, sequer houve tentativa. Nunca acreditei numa mudança repentina. Mas, o mínimo que eu esperava era uma mísera tentativa.

    Com instabilidade e insegurança sobre mim, tive dias de inquietação emocional e psicológica. Não consigo lidar, me martiriza. Acaba, assim, me atrapalhando nas coisas mais simples (concentração, estudo, trabalho).

    Confesso que nos “altos” me proporcionou coisas incríveis, êxtase. Mas, a maior parte do tempo estávamos no “baixo”. Pelo morno, me sentindo insuficiente, idiota e até mesmo alguém ruim. Sobretudo, “o não satisfaz”.

    Percebeu como sou repetitiva? Isso torna essa conversa densa e incrivelmente cansativa.

    Ainda que me questione, não vou mais te expor motivos. Foram coisas sempre ditas.

    Não vamos ser hipócritas. Isso não precisa acabar mal. Não vamos denegrir a imagem um do outro, não há razão. Aliás, algo assim é ridículo.

    Se é preciso aceitar os erros. Ficar triste pelo que não foi. Reconhecer o que se perdeu. E seguir com maturidade. No mais, agradecer os momentos de “altos”. Não é tratando como se nunca tivéssemos nos conhecidos que a ruptura se tornará fácil.

    Você não foi e não é qualquer pessoa. Isso não vai mudar, para mim. Marcou.

    Eu comecei com sinceridade. Vou terminar assim também.

    A minha decisão está tomada. Espero que aprendamos a não cometer os mesmos erros.

    Sobre a nossa coisa, o nosso meio-termo, me mostrou como sou intensa. Obrigada, mesmo, pelos instantes de intensidade. Adorava quando a nossa coisa pegava fogo.

    Você foi contemplado em ter o meu sentir, o meu querer, o meu corpo. Eu jamais havia me entregado tanto.

    Peço para que a nossa coisa fique entre nós. Principalmente os nossos detalhes, as coisas importantes que aconteceram. Desejos, intenções e afins. Assim como as coisas agradáveis e desagradáveis. Lembre, são memórias suas e minhas também.

    Me agrada a ideia de estagnar no tempo o “eu e você”.

    Não sei como vai me perceber depois da ruptura. Acredito e espero que não seja motivo para “descaracterizar” o meu eu. Jamais irei desonrar o seu nome. Por favor, não o faça com o meu. Não há razões. Não me interprete mal, peço isso por desencargo de consciência. Acredito no que sente por mim e sei que não faria tal coisa.
    Desculpa se te proporcionei momentos ruins.

    Foram meses repletos de primeiras vezes, para mim. Você sabe. Aliás, a primeira vez que proferi “eu amo você”, dessa forma de amor. E dane-se se foi cedo.
    Reconheço que sobre algumas coisas dei passos largos e tropecei nos meus próprios pés. Fui inconsequente. Me arrependo. Mas, jamais irei me arrepender pelo que fui e sou capaz de sentir. Muito menos, pelas palavras de amor ditas.

    Uma pena eu não tê-las visto valorizadas…

    Não quero ser vista como hipócrita.

    Sei que não compreende o meu pedido em mantermos a amizade. Não consegue entender como posso não mais te querer como seu parceiro (mesmo amando-o) e, ainda assim, implorar para que me tenha como amiga. “Não entendo como eu não te querer como amiga é algo que se deva discutir e fazer sentido”.

    Coloquei tudo às claras. Detesto quando questiona o que eu sinto. Eu não queria que fosse assim. Ansiei a transformação do meio-termo muito tempo. Você sabe. O meu sentir nasceu muito antes do verão. Não fale insinuando como se eu tivesse em algum momento mentido sobre o meu sentir, muito menos diminuindo o que me rasga o peito.

    A perda não é apenas de uma parceira ou um parceiro. É de um amigo(a) também. Não apague o meio-termo. Tudo começou numa amizade sem mais pretensões.

    - “Se você realmente sentisse intensamente, iria querer permanecer e continuar, tentar mudar. Nunca se afastar do problema, igual você fez. Me esquece. Você de repente decidiu que os nossos confrontos te fizeram sentir uma fracassada. Além de tudo, foi capaz de esquecer todos os momentos bons, sem mais nem menos, descartar-los e valorizar só os pontos ‘baixos’ para justificar a sua hipócrita vontade de partir. Forte seu amor.  Não vou negar. As vezes me pego preso nisso… questionando se tudo o que me disse, se cada palavra de afeto foi realmente cheia de sinceridade. Você é boa com as palavras e tenho medo de tê-las usado para comigo de uma forma deplorável. Não sei se seria capaz de dissimular dessa forma. É louco dizer, mas, sim, eu acredito no que diz sentir por mim. Ainda que muitas vezes não tenha agido de forma condizente, ainda que eu mesmo fique matutando a respeito. Tudo isso é insano (como você mesmo costumava dizer).”

    Quanto à mantença do “nós”, me recuso a permanecer no que me fazia sentir um fracasso. Essa sensação existia por você ter me dito bem mais de uma vez que a minha linguagem do amor não te satisfazia.

    Da forma que você coloca, faz-me sentir ingrata. Também estou despedaçada. Nos nossos dias, pouco a pouco eu estava me desfazendo em alguns sentidos e precisava do seu agir para me refazer. Por isso tanto diálogo, da minha parte. Por isso a ideia do “pacto”.

    Falei isso naquele domingo. Lembra? Com seriedade. Mas, quando tudo soava calmaria. Você choveu em mim. Foi isso que você fez naquela madrugada de sábado. Naquela noite quente, prometi a mim mesma que era a última vez que iria me fazer chorar. Última vez que iria me frustrar por você descartar suas promessas e não pensar em mim antes de fazer algo que tanto me afetava.

    Me desculpa por ser tão repetitiva. Te remeto inúmeras palavras, te falo coisas infindas, e sei que você acha um porre, acaba descartando quase tudo.

    Ao pôr do sol daquele domingo, me disse as mesmas coisas que agora. E eu voltei atrás na minha decisão, lembra? No mais, deixei claro que a hipótese de partida, da minha parte, se tratava de algo que não desejava, mas que a cogitei para evitar me machucar.

    Ainda que em outro contexto, estamos novamente na mesma coisa. Mas, dessa vez, eu já estou machucada.

    Espero que você fique bem, mesmo. Mas, sendo sincera, não vou mentir. Espero, no mínimo, um pingo de saudade, arrependimento ou pesar pela perca.

    - “Espero o mesmo de ti. Sinto uma saudade incessante. Sonho com você. Tenho arrependimento também. Quanto a estar despedaçada, não acredito. Se você sentisse saudade, vontade, amor… resgataria o ‘nós”. É simples. Eu te falei estar disposto a mudar, mas você não se importa.Eu faria o impossível por você e é deprimente te ver me colocar como imundo. Não jogue entrega na minha cara, suportei muita coisa por você e tu simplesmente joga fora. Sabe, me abri emocionalmente como jamais havia feito com qualquer pessoa. Você tem o meu amor nas mãos e está esfarelando ele. Nunca imaginei que seria capaz de uma coisa dessas. Te vejo traindo quem eu vi em você, principalmente, tudo o que me dizia ser. Você diz estar machucada enquanto me machuca também e não se dar conta.”

    Não me surpreende você não acreditar em mim. Simples para você falar pensando em quem fui contigo. Se coloca no meu lugar. Você mesmo reconheceu coisas nada bacanas que partiam de você. Não quero discutir.

    Foram poucos dias para tudo voltar ao antes. E as três coisas que eu mais te pedi para evitar, porque me afetava muito, vinheram num pacote no mesmo final de semana. Me decepcionei muito naquele sábado. Eu chorei a madrugada inteira.

    Não entendo como pode me amar e não tentar evitar fazer algo que eu tanto te pedia para ser cauteloso. Não entendo como não conseguia evitar fazer o que me desabava.

    Sabe, eu reconhecia quando agiria daquela maneira. Pressentia. Sabia quando seria tomado pelo seu imediatismo cego. Nesses momentos, eu falava coisas como: “Presta atenção. Lembra do que combinamos sobre lidar com os problemas. Não precisa ser assim”. Justamente para ver se você pensava em mim e no valor do nosso vínculo.  Antes de fazer qualquer coisa ou dizer, eu sempre pensava em como você ia se sentir. Por isso tenho certeza de que nunca te ofendi ou derrespeitei, ou magoei com o que falei.

    Não estava sendo saudável, meu bem. Não quero nós dois num relacionamento que ainda no início não estava sendo leve. Não vamos mais reviver essas discussões… Okay?

    - “Não adianta eu dizer mais nada. Vejo que persistirá nessa decisão. Eu preciso digerir a ideia e aprender a lidar. Sabe, foi você mesma quem terminou com a gente. Não te entendo. Eu corri atrás e você não quis mais, praticamente me esnobou. Permanece com a vontade de se afastar e de que, se ficar, será somente para ter minha amizade. Eu não quero ser somente o seu amigo, quero dividir uma vida contigo, desejo ser o seu parceiro. Sabe, nós discutimos algumas vezes e eu te disse coisas impulsivas, sobretudo, nunca dotadas de veracidade, foram coisas que eu não deveria (e não queria) ter lhe dito. Porém, apesar de tudo, isso jamais significou que não quero a sua presença e muito menos que ela tanto fazia para mim. Não precisa ter medo, pode confiar nessas minhas promessas, nas falas que te remeto agora.No entanto, acima de qualquer coisa, sabe o que é foda? No momento que acreditei que ficaria comigo, você foi embora. Isso foi péssimo. Tenho medo de dizer a mim mesmo o que isso significa. Você não está disposta a erguer um castelo comigo.”

    É complicado erguer castelo com alguém que diante de qualquer lajota colocada torta ameaça abandonar a execução ou a faz. Dá a sensação de que a qualquer momento a obra vai ficar inacabada e desmoronar. Do jeito que você coloca, tudo se torna pequeno. Me colocando como venenosa faz eu me sentir muito bem.

    Não foi minha intenção “esnobar”. Foi o que te disse: Eu, ferida, iria passar a ferir você também. Não quero isso. Olha, eu não queria somente a sua parte fácil de amar. Não. Eu mesma falei: “eu e você nus e crus”. Eu disse desejar o seu verdadeiro “eu” comigo.

    Moram dois caras em você. O que fez eu meu me apaixonar e aquele que tem atitudes comigo nada bacanas, me tratando de uma forma que não gosto, e assim me cortando. E, se tratando de um amor que ainda estava no começo, esse primeiro cara deveria ser o mais presente e não o segundo. Diante do segundo cara, eu não conseguia ser o meu melhor com você.

    Aliás, tem algo que está engasgado e preciso te questionar. Sabe o que eu não entendo? Você me disse assim, duas semanas atrás: “Eu posso ser só esse primeiro cara”. “Posso mostrar só o meu melhor”. Me passou a impressão de que, de algum modo, você tinha plena consciência de tudo o que apontei… Não sei.

    - “Me desculpa. Sim, eu sempre tive. Por isso quero você de volta. Para agir como você merece. Aliás, como deveria ter agido desde o incio. Com o inicio da ruptura, passei a ver e valorizar tudo de uma outra forma. Me sinto mal com tudo isso. Porém, ainda que você exponha infindas coisas, só consigo pensar que: ‘É por isso quer partir pra sempre?’. Tenho a horrível sensação de essa conversa não vai dar em nada. Sinto que estou de mãos atadas. Estou implorando para ficar enquanto você constantemente arranja um argumento para reforçar sua partida. Me faz um monstro.”

    Já que percebia, por qual razão não agia assim antes? Já pensou nisso? Sabe, são um conjunto de pequenas coisas e estou decepcionada pela existência delas.
    Argumento porque você merece justificativas. Sobretudo, porque gostaria que se colocasse no meu lugar. Principalmente, que tentasse entender. Você sabe muito bem que não ser tratado da forma esperada por quem a gente ama, corta. Mas, tenho a sensação de que para ti, estou “fazendo tempestade em copo d’água”. “Sou exagerada”.

    A minha decisão não é fácil. Eu sinto o universo por você. Ainda que tenha me decepcionado com atitudes. E é duro assumir isso. Sinto saudade do primeiro cara, muita. Sinto saudade de olhares, toques, do seu abraço, de me sentir protegida ao caminhar contigo, do seu timbre… É por sentir muito, intensamente, que as coisas que apontei me machucaram e você não está percebendo isso.
     
    Isso é difícil, mesmo. Eu vejo que reconhece o que eu expus para aceitar a sua decisão de partida. Não questionou nada e disse reconhecer. Mas, vejo que não vê como motivo para ruptura.

    Eu adoraria — com todas as minhas forças — acreditar quando você disse “eu estou prometendo que vou mudar, porque a minha visão é outra agora”. Eu não sei qual é a sua visão, mas, ainda assim, tenho medo. Poxa, você confirmou que tinha percepção de tudo aquilo antes.

    Os dias correm e em todos eles eu revivo “a nossa coisa”. Tudo poderia ter sido diferente, assim como você mesmo expôs naquela sua última música.

    Não é por meras brigas. Isso vai existir, justamente porque nos importamos e queremos fazer dar certo estarmos juntos.

    O problema é por se tratar das mesmas coisas. Como vamos crescer persistindo nos mesmos “erros”, persistindo no que destabiliza a nós dois?

    Você é astuto, tem controle sobre o que quer. Sei que não me quer como amiga. Porém, preciso saber que você está bem. Se precisar de mim, independente do que for, me diz.  Você sempre disse ter problemas, mas tinha um bloqueio em dividir comigo. Se precisar desabafar, eu estou aqui. Pode confiar em mim. Não irá ouvir julgamentos. Eu sempre questionei sobre eles por me preocupar. Não faço ideia do que sejam. Eu ainda me importo. Isso não vai mudar. Sabe o quanto sinto, sabe onde e como me encontrar, se quiser, se precisar.

    Pensa numa coisa, por favor, é a última coisa que te peço. Questiona se, pelo caminhar das coisas, eu te fazia sentido.

    O sentido a gente percebe com o tempo. Sobre “tempo”, você disse não acreditar. Eu também. Mas, sobre relacionamento, é tudo novo para mim. Ao longo da estação, mudei pensamentos, me vi em coisas que antes dizia “jamais” e fui eufórica com coisas que antes me assombravam.

    Por favor, pensa realmente nisso. Pois, uma coisa é querer a presença de alguém e outra coisa é querer a presença daquela pessoa. E, se tratando daquela pessoa, se é preciso agir com maturidade e responsabilidade afetiva. 

    Se tratando de você, para mim, há sentido. Mas, não naquele caminhar.

    Me chame de venenosa, hipócrita o que for. Só não me puna por estar desacreditada quanto a promessas. Acredito que a mudança que tanto ansiei só existiria na certeza quanto aquilo. Eu sendo “aquela pessoa”. Acredito que assim você agiria como tal.

    Essa infinidade de palavras não existiriam se você não fizesse sentido para mim.

    Juro que tentei, mas não consigo entender como por qualquer “problema” você mudava comigo e dizia coisas como “presta atenção, eu só vou caindo fora” ou que o caminhar não te agradava. Como se não bastasse, algumas vezes, de última hora, tirou o nosso encontro dos seus planos porque, para ti, me ver “não valeria a pena”. E, não obstante, claro, sempre cogitava dar um basta comigo e chegou a fazer isso algumas vezes.

    É difícil ouvir essas coisas de alguém que você ama. Eu me senti insuficiente mesmo. Insuficiente para ti. É isso que eu quis dizer com um fracasso.

    - “Você nunca foi insuficiente, muito menos qualquer coisa perto disso. Aliás, eu pensei. Não quero ser seu amigo. Sei que não irei suportar te ver com outra pessoa, um dia vai acontecer e eu não quero estar lá pra ver isso, muito menos te ouvir falando desse alguém para mim. Não quero ter contato. Mas, ainda assim, pode contar comigo, sempre que quiser, para qualquer coisa. Sabe, eu amo você de todas formas e uma delas é como amigo.”

    Eu gostaria de ser sua amiga.

    Se isso acontecer, vai demorar muito. Pra caralho. Eu não sou do tipo que se apaixona em cada esquina.

    A recíproca é a mesma. Olha, você é um cara super atraente. Devem ter dezenas de garotas lindas interessadas em você e que despertam seu interesse também. Isso nós dois sabemos. Eu sou facilmente substituível. Se ocupo um posto, logo mais ele não será meu. Você já se envolveu com outras mulheres. Já teve outros relacionamentos. Sabe que o que digo é verdade. E se por acaso um dia se lembrar de mim, vai ser em algo singelo, por exemplo, ouvindo “É Você Que Tem”.

    E independente de qualquer coisa, da minha decepção amorosa (já falamos a respeito, sabe o que quero dizer), jamais desejarei o seu mal ou direi coisas ruins a seu respeito para qualquer pessoa. As coisas que aconteceram entre a gente e também o que não aconteceu, só cabe a nós. Aliás, ainda que eu possa em muitos momentos sentir raiva, desprezo e afins, sou incapaz de sentir ódio a ponto de profanar de modo detestável o outro. Não sou alguém que se domina por sentimentos ruins.

    No mais, também reconheço as minhas falhas. Espero, mesmo, que você não tenha somente memórias ruins. Tentei e acredito não ter magoado com palavras, te respeitei (em todos os sentidos). Se em algum instante eu não fiz isso, peço perdão. Pois, tenho muito medo de apontar e de cobrar do outro algo que não está em mim.

    Hoje, eu amo você. Mesmo. Apesar dos pesares. Ainda que, olhando com distancia, eu não goste de quem foi comigo.

    Não sei se você sabe, mas há 5 linguagens do amor. As nossas são diferentes, acredito que por isso você “não vê o meu sentir”.

    Talvez, agora, a minha decisão para você (mesmo depois de tudo que eu expus e esclareci) não faça sentido. Mas, daqui alguns dias, meses ou sei lá, acredito que fará.

    Nem sempre o sentir é o suficiente para duas pessoas ficarem juntas. E juro que acredito naquela ideia de que “há formas de se amar alguém para sempre”. No entanto, às vezes justamente a nossa forma de amar, lidar com as coisas, vê-las ou sei lá, atinge o outro de uma forma que não imaginamos. É preciso ouvir o outro e ter cuidado com o que se está construindo.

    A minha decisão é para não mais me magoar. Eu sou muito intensa. Tudo me afeta muito. É frustante ser o bilhete dourado enquanto o outro só enxerga preto e branco.

    Os nosso pacto estava sendo quebrado e os diálogos e promessas sendo vãos. Eu valorizo tanto essas coisas. Reforço, eu, ferida, ia passar a ferir você também.

    Quero muito o seu bem. Sei que um dia outro alguém vai ter o seu sentir e não quero que esteja despedaçado. Não quero que lembre de mim de uma forma ruim.

    Queria ter te proporcionado somente coisas boas, talvez eu não tenha feito, assim como você não fez.

    Apesar do quanto eu sinta, jamais irei me perdoar se, por acaso, persistir nisso aqui e perder a minha essência.

    Eu apago a luz e fecho a porta com cuidado.

    “Não suporto meios termos. Por isso, não me doo pela metade. Não sou sua meio amiga nem seu quase amor. Ou sou tudo ou sou nada.” — Clarice Lispector. Faz sentido sua escolha. Eu penso a mesma coisa. Queria parecer mais forte. Vou respeitar sua decisão.

    Ps. Se um dia eu escrever um livro, leia. Provavelmente, terá textos meus sobre sentimentos e coisas atreladas a você. Será capaz de reconhecer, eu acho. (Se quiser, claro).

    - “Ninguém será capaz de substituir você pra mim. Só você teve esse posto, da forma que sempre desejei, e só você terá, por todo o sempre. Não vou estragar isso. Talvez eu faça aquilo que você sempre me falou “ressignificar”. E sim, eu já estou despedaçado. Nunca me senti dessa forma. Me magoa ver que está decidida. Só me resta tentar superar e, além de tudo, respeitar. Me desculpa por todos os ‘baixos’. Eu amo você.”

    Nunca mais ouse duvidar do que sinto.

    Sabe, eu realmente acreditei que não mais estava fadada ao Naufrágio.

    Por fim, não joga fora as minhas palavras, nenhuma delas.


    Janaina Couto ©
    Publicado — 2020
    @janacoutoj


    [PS. Não se trata de um relato pessoal. Mas, confesso que é um imenso pesar reconhecer que o meu texto foi lapidado sob um apanhado de relatos de pessoas queridas que estão ao meu entorno.
    Ainda que mesmo nas coisas mais sutis possamos constatar algo a se repudiar e imediatamente afastar-se, não raramente, horrivelmente, isso acontece apenas quando se tornam salientes.]
  • A Esperança de Cada Dia

    No primeiro raio de sol, a esperança
    Do dia nasce mais cedo do que tarde
    Dormem os homens, e o sol, miraculoso,
    Sobre tantos que nascem sob, também morrem
    (Diariamente) juntos, por onde caminhamos.

    [Copiosamente iguais.

    Temo-nos pelos olhares, belos e sedutores:
    À suposição de encanto, que é apenas
    Suposição de encanto. Das vidas pospostas
    Ao raio luzidio, à verdade é íntima, e não menos
    Reveladora ante a cada passo cotidiano.

    Que até o cair da noite! Entre o recuo dos
    Passos, onde cedo, mais que cedo,
    Tornam-se-a dormir pelo amanhã
    Do mesmo dia, tornamo-nos a
    Dormir pelo amanhã do mesmo dia.

    [Copiosamente iguais.
  • A Evolução de Adão

    Toda mulher convém ser amada,
    Com respeito e com muita paixão,
    Pois o barro que D’us a afeiçoou,
    Êle retirou do coração!

    Toda mulher é tom de emoção,
    De mistérios e de mui valor!
    Por serem a arca que guarda a vida,
    São as sendas intensas do amor!

    Em ti encontro este belo esplendor
    Oh coroa da divina criação!
    De uma costela se fez completa,
    Com a inefável inspiração!
    Ao guardar a centelha da vida,
    És a nobre evolução de Adão!

    ISBN - 978-85-5530-024-0
  • A Paz

    Dias de nuvens
    Árvores vestidas de nuvens
    Cabe o mundo inteiro em mim
    Como se o vento que entra nos meus pulmões pudesse cantar
    E tivesse poder transformador
    De deixar o corpo de pé
    Enquanto a alma agradece de joelhos.
    Já faz algum tempo.
    Eu ainda admiro
    E quero continuar a admirar sempre
    Os dias de nuvens brancas
    E as árvores vestidas de nuvens.
  • A Vitória Vem

    A vitória vem
    A aquele que luta
    A quem labuta
    A boa conduta

    A vitória vem
    Ao pai exemplar
    À mãe a cuidar
    Do filho no lar

    A vitória vem
    Ao homem sem sorte
    Sem medo da morte
    Que busque seu norte

    A vitória vem 
    Ao líder certo
    Ao povo liberto
    Que tem Deus perto

    A vitória vem 
    Do anjo de luz
    A quem se fez juz
    Que justo conduz

    A vitória vem.
  • Alvorecer ou simples alvorecer

    portfolio 4 img 2
    O lindo nácar do amanhecer, trazido pela estrela mais próxima.
    As diletas águas de lamentos e tormentos deixados por um ou outro ali. Ondas de felicidade também curvam acolá.
    Comoção causada pelo ralhar da mãe para com um filho aos demais da família.
    Oh, bola que chega a rogar um ou a outro que a toca com a mão ou o pé.
    Tão mimoso o sorriso da criança que o compartilha com bonomia em maçada.
    Uma mulher olha para um homem à socapa. Tenta sem tentar tirar os olhos dos dele. Ele chega e lhe fala parvoíces que a deixa agastada.
    Ela sai, mas a manhã ainda é rutilante. As árvores acordando ao adejar como sinal de bonança.
    O desgrenhado do dia começou. Curta a aproveitar.
    Após o som do ressonar vêm os sons dos automóveis, de algum animal. De uma pessoa a bocejar, pois ainda com sono estar.
    O mar em alcovitar, a areia da praia há de se desenhar, o amor, um coração.
    Nubentes a sorrirem de pilhérias e contentes sem por nada se apoquentar.
    Vamos, seja garrido e sinta-se ao lado de quem estiver como se sente a uma loureira.
  • Ausência e Devaneio

    Sem objetivo ou motivo
    A bebida vai acabando
    O cigarro vai queimando
    Infinitamente
    Em um ciclo, vicioso.

    Como esse nossos desejo
    Um pelo outro
    Eufórico e ansioso
    Na sua ausência, o meu desejo.
    Na sua presença, o meu anseio.
    Amo-te e te odeio

    Na primeira estrofe, nos primeiros versos.
    É onde me encontro
    Nesse mundo vazio
    Cheios de devaneios
  • Bom dia!

    Que o sol ao nascer te faça sorrir, te mostrando que mais um dia se inicia. Que o vento leve os seus sonhos até Deus e que tudo se realize. Mas, quando entardecer e tudo escurecer, não desamine.
    As estrelas vão brilhar e logo mais a lua aparecerá. Mas, se as nuvens cobrirem o céu, feche os olhos e perceba, que nem todos os dias terminam como a gente quer, mas, podem começar como a gente sonha.


    Luca Schneersohn
  • Buscando respectivas definições: amor.

    Quando o amor é certo, você não consegue dormir à noite, você tem dormido muito bem... Mas quando o amor é ruim, eu não sei porque você está tão triste, mas é hora de ir. Mas nunca busquei um amor verdadeiro, já o encontrei, desde pequena aprendi que o amor certo está nos detalhes simples do meu dia. Me perguntam porque me apego a coisas frágeis, porque invisto em relações onde não tenho certeza se existe amor verdadeiro, bom, só estou a procura de um companheiro para brincadeiras ou uma parceira para me aplaudir. Me perguntam porque nunca chorei, e eu nunca consegui entender porque associam sentimentos tão incríveis com finais tristes. Continuarei nessa busca, por pessoas que gostam de brindar só pelo fato de ter acordado. Não exijo amor, quero apenas alguém para compartilhar o que seria a definição de amor para mim, que são as coisas simples do meu dia. Não quero um amor que me tire o sono, quero alguém que me faça ir dormir tranquila e em paz.
  • Camomila

    Imagino sua mão na minha
    Pois vi que pouco tempo tinha
    Ao decidir olhar seus olhos
    Esquecer de meus trabalhos
    Me perder nos horários
    Só observando sua pupila
    Me acalmando e relaxando
    Como se tomasse camomila.
  • Ciclos M - MOÇA

    Moça, os tempos não são fáceis, né ? 
    A mente parece ter dado nó, parece que tudo está fora do lugar.
     
    Moça, se levante dessa cama 
    Tome um banho de água fria 
    Volte a sorrir !
     
    Moça, tempestades são constantes 
    Mas ao início do outro dia o sol volta a surgir.
    Pare de sofrer pelos tombos 
    veja quantas vezes tu já ressurgiu como fênix. 
     
    Moça, esquece os erros do passado 
    Pense no futuro que te espera alí a frente.
    Esquece das tuas dores e lute pra chegar lá !
     
    Moça, não decepcione a Menina
    Moça, torne a Mulher real
    Moça, eu confio em você
    Moça, não desista de si mesma !

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