Aquela tarde quente me mostrou que nos últimos dias nós estávamos em intensidade diferente.
Eu desejava muito a mudança pra melhor do nossa contato. Sabe, via que haviam coisas a se melhorar, que o nosso vinculo estava passando a ser algo para encher a nossa mente e nāo deveria ser assim.
Via tudo isso, via os problemas que partiam de mim e estava disposta a mudar, mesmo. Por coisas óbvias, por gostar de verdade de você e te querer comigo.
No entanto, foi um soco no estômago ter a sensação de que, para ti, a doação pela mantença da nossa coisa passou a ser indiferente. Entende? Tanto fazer.
Quando me questionava a razão de tanto choro, sem mais nem menos, quando estava ao seu lado. Era justamente isso. A sua indiferença.
Sabe, ao decorrer dos últimos dias, pequenas coisas me mostravam isso.
Dentre as coisas mais claras, posso imediatamente apontar o simples fato de facilmente me descartar, me anular do seu dia e me contar somente em “cima da hora”; enquanto eu havia planejado o meu dia inteiro e ansiado por passar aquele momento com você.
Sem contar quando me “incluiu” nos seus planos com outros amigos, de última hora cancelou tudo e em um outro momento, sem se dar conta, comentava algo que aconteceu, entregando que na realidade você havia cancelado a mim.
Como se não bastasse, aprendi a lidar com o fato de passar o dia com o pensamento em você para ao cair da noite a gente mal conversar (conversar mesmo, como fazíamos antes).
E quando o que eu desejava acontecia, facilmente, por qualquer coisa ínfima, eu conseguia “encher a sua paciência” a ponto de te ver evitar todo e qualquer contato comigo pelo restante da noite.
A semana toda a saudade me corroía para quando finalmente nos víssemos, não raramente, você mal me olhar, muito menos me tocar.
O silêncio que em algum lugar no tempo nunca havia existido, passava a ser cada vez mais presente entre nós. Sobretudo, cada vez mais sufocante.
Sempre estive consciente de que isso pouco a pouco iria nos tornar distantes. E eu tinha medo disso.
Talvez, por isso, tenha chorado tanto e te implorado, nas últimas semanas, muitas coisas. É triste ver não somente o “nós”, mas até mesmo o “eu e você” se diluindo.
Sei que minha rotina cheia estava atrapalhando, justamente por toda insanidade dos meus dias, nós mal nos víamos. Mas, poxa, esse pico de obrigações nāo ia durar pra sempre.
Não faz ideia do quanto me deixava mal, nos últimos dias, você me chamar para qualquer coisa e eu simplesmente nāo poder ir. Convivi com a gana incessante em “largar tudo" e sair correndo na ânsia de despender o meu tempo integralmente para estar com você.
Aliás, me matava te ver cogitando que eu simplesmente nāo queria ou não fazia questão de passar instantes entrelaçada com o meu amor.
Justamente por isso, semanas antes havia te ligado, chorando, e explicado como tudo estava denso (trabalho, faculdade). Sobretudo, te pedindo desculpas e agradecendo pela compreensão.
Pelo nosso tempo corrido, por isso, quando tínhamos um tempinho juntos (fisicamente ou virtualmente), eu queria entrega (minha e sua). A impossibilidade de estarmos fisicamente entrelaçados todos os dias, nāo poderia ter condão para nos distanciar.
É triste constatar que, apesar de estarmos “perto”, não possuíamos o tempo que gostaríamos. Nossos curtos horários “livres” sequer batiam.
Por passarmos dias sem nos vermos que nos momentos presenciais eu queria ao menos um olhar apaixonado.
Na sexta-feira retrasada, me desmanchei. Havia passado o dia esperando para te ver, estava eclodindo em saudade, depois de dias insanos e atarefados, finalmente, ao passar de uma semana longa, eu teria uma noite de refúgio com o meu bem.
Porém, mais uma vez você “não veio” e ouvi desculpas esfarrapadas (quais fingi engolir). Sobretudo, ainda assim, pensei que no mínimo iríamos conversar, que iria me ligar . Mas, nāo. Ainda que eu tenha pedido, nāo aconteceu. Afinal, me descartou por estar “exausto” e depois saiu com os seu amigos.
Na madrugada de sábado, quando me ligou, foi esse o motivo de todo o meu choro implorando “atenção”. Pedi ainda para que, no minimo, nossas conversas passassem a ser como antes. Imersas.
Eu sabia que pra você a coisa estava “blé” e eu nāo queria isso. Mas, desejando melhorar uma coisa sozinha estava me deixando triste. Principalmente, por ver a sua nítida indiferença.
Durante aquela tarde, eu vi isso. Foi muito evidente… a indiferença. A mesma cena se repetia, parecia que eu nāo estava ali, parecia que estar ou nāo tanto fazia para você.
Eu me senti como qualquer pessoa. E quando se gosta de alguém pra caralho, se sentir ninguém corta demais.
Mais uma vez, segurei o seu rosto, tirei o instrumento de cordas sobre você e lhe disse “Estás com ele todos os dias, mas comigo não. Eu estou aqui agora. Esteja para mim”. E sabe o que você fez? Deu uma risada sarcástica na minha cara e voltou a tocar. Pelo teu jeito, levei como um insulto.
Por isso, disse que iria embora e, mais uma vez, me surpreendeu de uma forma ainda mais incrivelmente ruim. Tu ergueu as sobrancelhas, deu um sorriso de canto, assentiu com a cabeça na direção da porta e falou “tá bem”, aliás, sequer olhou para mim.
Eu fui embora. Saí por aquela porta. Mas, sob o sol, enquanto eu descia a sua rua, sentido a minha pele quente, conversando comigo mesma concluí “se persistir, irei me magoar”.
Bastaram instantes de puro delírio e eu voltei à sua casa. Entrei sem mais nem menos. Não fiquei incrédula com a sua surpresa diante do meu retorno e fingi não me importar com o seu riso que exalou a comicidade por constatar a cena irônica.
Percebendo que definitivamente estava delirando, novamente saí. Te deixei ali sozinho enquanto sussurrava para mim mesma “vai embora, o que você está fazendo é ridículo”.
Daquela vez, você não me deixou partir. Aquele saída efêmera te incomodou. Enquanto eu passava em frente do enorme Cinamomo, após passos longos e acelerados, você me alcançou e parou diante de mim, impedindo o meu caminhar, disse querer me ouvir.
Parei. Respirei fundo e disse, novamente, a mim mesma “essa é a hora, desaba”.
Naquele momento, foi a primeira vez que, desde a nossa coisa, me vi naquela situação. Sendo serena e falando com sinceridade as claras sobre algo nada fácil de se digerir, sem ter planejado ou pesado no que diria. Pela primeira vez, me vi no seu lugar. Fui imediatista.
Direta e reta, te questionei o que estava acontecendo. Você sabia muito bem ao que me referi, sequer precisei pormenorizar os fatos. Assim como eu, estava muito consciente de tudo.
Com palavras rasas, me disse que esse seu “novo agir” passou a ser com todos e nāo só comigo. Me contou que estava lidando com alguns “problemas”, sem adentrar ao mérito de qualquer deles. Aliás, problemas esses que nunca havia me contado nada a respeito, até então, ainda que eu tenha te falado vezes consideráveis frases como “desabafa, divide comigo”.
Mesmo que jamais tivesse me dito a respeito, eu mesma questionava a possibilidade de algo estar acontecendo e, por conhecer o seu jeito ocluso, não iria dividir. Ao menos, não tão cedo.
É evidente, eu gostaria de ser alguém que te fizesse se sentir diferente, que quando estivesse comigo, nāo houvesse o vazio. Acredito que se trata disso. Nós dois sabemos o que isso significa. Um conjunto de falas, posicionamentos, jeitos e risos me disseram isso.
Ainda que não tenha esmiuçado o que se passava contigo, duas coisas, para mim, não coincidiam. Não conseguia entender. Se os problemas mudam você a ponto de transformar o seu agir e, esse seu novo agir magoa a ti e a mim na na nossa coisa, para “ficarmos bem”, eu preciso ajudar você. Lembra? Devemos estar com as pessoas nos momentos bons e nos ruins. Mas, naquela tarde, você rudemente cuspiu na minha cara nāo querer a minha ajuda e ainda enfiou sultimentente na minha garganta um “não se envolve nas minhas coisas”.
Eu nunca desejei somente a sua parte fácil de amar. Eu quero você por inteiro.
Sim, me senti de mãos atadas, literalmente sem saber o que fazer. Eu ficaria inerte assistindo o meu entorno desabar?
Mesmo você adocicando depois, ao dizer que, quando está comigo é o único instante em que não pensa nos “problemas”. Que eu tenho o poder de inibi-los. Que é somente diante de mim que o seu “eu” fica quieto, calmo. Manso. Sobretudo, em silêncio. E justamente essa surpresa consigo mesmo que te faz ficar imerso em si e, desprezivelmente, silente frente a mim.
Juro que tentei. Mas, levando em consideração o caminhar das coisas, constatei que sua fala ainda que sincera, escondia algo maior. Talvez, o grande imbróglio entre nós. Talvez, a razão do seu silêncio que você sequer “repudiava’.
Nessa hora, lembrei de todas as vezes que falou coisas como “eu nāo vou falar, só irei saindo”, “acho melhor sermos somente amigos”, vou ver se eu ainda quero isso aqui”.
E por lembrar de tudo, te perguntei: “mente para mim com medo de me magoar?”. Tu me olhou, sorriu de canto sem denotar qualquer alegria, mas sim certo pesar, assentiu confirmando enquanto abaixava o olhar.
Obrigada por nesse instante, pela primeira vez, lembrar do que tanto te implorei “prefiro que me machuque com a verdade, do que me conforte com enganação”.
Sabe, nāo quero magoar você dessa forma, te fazendo estar comigo, dessa forma, sem ser do seu desejo.
Aí está sua resposta.
Se pra você eu estar ou não comigo é indiferente, se não te causa emoção alguma… se não está mais disposto a fazer ficar melhor a nossa coisa… Isso partindo somente de mim, ia me fazer ficar mais mal, sem ver “reciprocidade”.
Eu aí entendi que sentimos diferente.
Que talvez, você goste das qualidades em mim, enquanto eu sinto o mundo por você.
Por isso te falei “acho que nāo me ama, ainda”.
Eu amo você. Acho que por isso, ainda não sei apontar com propriedade as coisas que gosto apenas em ti. Jamais terei como te buscar em um outro alguém.
Você vê coisas em mim e gosta delas. É fácil gostar das coisas que vê em mim. É fácil apontar. Você gosta de mim por essas razões. Gosta das minhas qualidades, do meu jeito ou sei lá o que um dia te cativou. Mas, ainda não me ama (amar requer tempo).
Você pode olhar para mim e pensar “ela seria uma boa pessoa para se amar”. E quando me diz isso, nada mais é do que você tentando trazer essa realidade para si. Você gostaria de me amar, mas ainda não é o que acontece. Desculpa.
Aliás, você nāo precisava me amar em pouco tempo. Me amar agora nāo é um requisito (estamos nos conhecendo). O amor é manso.
Acho que você estava apaixonado por mim. Eu gostaria que ainda estivesse. Sinto falta dos olhares apaixonados.
Acredito que por saber o que eu sinto, você tem receio de me magoar ao falar que, agora, prefere minha amizade.
Eu desejo com todas as minhas forças estar completamente equivocada em tudo isso aqui. Mesmo!
Enquanto eu era preenchida pelas cores daquela aurora, eu percebi (com tristeza) que você só não ia embora para não me ferir. Eu te falei isso e ainda perguntei “me diz se estou errada”.
Eu não ouvi o que queria. Eu não ouvi “você está completamente equivocada nisso aqui”.
Então, fiz o que achei ser melhor para você, mesmo sendo a coisa que eu não queria.
“Vamos ser apenas amigos”.
Pois, se pra você eu estar ou não comigo, dessa forma, se tornou indiferente. Se dividir uma coisa comigo não te causa emoção alguma. Se não está mais disposto a se doar para melhorar tudo o que já havíamos apontado um ao outro antes. Essa vontade em endurecer um vínculo e o prazer por pela existência dele partindo somente de mim, certamente irá me ferir pela ausência de muitas coisas, como a “reciprocidade”, assim como pela ausência de outras.
A única coisa que, felizmente, me prende… que me faz está aqui, que me fez permanecer ainda quando diante da indiferença, é a imensidão do que eu sinto por você. Você. Nada mais.
Eu chorei ao dizer isso, “amizade”, pois, havíamos voltado ao princípio.
Nāo haveria meio-termo. Eu não seria sua grande amiga, nem o seu meio amor. Seria tudo ou nada. Eu ser nada para quem sente o mundo é decepcionante.
Naquela tarde, diante do imenso cinamomo, enquanto via o sol queimar sua pele e, de um instante a outro, o cair de uma flor ao chão, joguei tudo o que aferi de você e percebia que tinha receio em me dizer. Fiz isso a ponto de propor algo que eu nāo queria.
Acho que, deixei tudo claro. No final das contas, espero não ser paranoica. Espero, principalmente, nāo estar sendo sacana.
Sei que nāo sou perfeita, que nāo sou a mulher mais incrível do mundo. Eu falho, falho muito. Sei que foi também o meu agir e o meu nāo agir que fez o nosso vínculo se tornar mais uma coisa para você se preocupar. Eu estou consciente disso e por isso havia prometido mudar.
Sempre desejei o ‘nós’. Mas, nāo há nada que eu possa fazer sozinha para a mantença dele.
Ainda que eu aspirasse pela sua continuidade, depois das minhas palavras cruas pairaram no ar frente ao seu silêncio, diante, especialmente, daquela sua frase “Horrivelmente, eu estou sem fala. Quero, mas não sei o que dizer. Estou espantando e preciso de tempo para pensar. Você escancarou tudo é o que é”, que aceito a sua vontade / minha escolha, ainda que outra parte de mim a deteste do princípio ao fim.
É melhor você ser o meu amigo do que a minha mais bonita mágoa, já que o “amor mais intenso” que eu achei que seria, nāo vai mais ser.
Sim, eu realmente estava disposta à mergulhar e sentia o suficiente para isso.
Eu amo você e acredito que é precioso ter um amigo que ama a gente.
Sou grata a mim mesma por reconhecer que sou capaz de sentir algo puro e profundo (independente de qualquer coisa). E você quem me “mostrou” isso, mas, “queimar em intensidade” quando se trata de sentir, faz com que outras coisas me afetem.
Nāo foi sempre assim (nāo mesmo), mas, nos últimos dias, o seu novo agir me afetou de um jeito nada bacana. Confesso, digo ainda com certo receio. Pois, pelas minhas recentes crises de ansiedade, tenho medo de estar usando você para “descarregar”. Juro que tentei e tento ser cautelosa.
Sabe, estou tão confusa. Queria que você me dissesse a realidade.
Me conta o que realmente se passa com você… quem sabe, assim, eu posso parar de tentar adivinhar as coisas, parar de tentar decifrar você.
(…)
Eu temia tanto isso. Sabia?
Jamais irei esquecer de cada lágrima minha derramada, aliás, dotadas de sentimento e veracidade; enquanto um proferia cada palavra penetrando o seu olhar, que não ousou desviar dos meus por sequer um mísero instante, tive a leve sensação de que, desde o início, estávamos fadados aquilo. Ruptura.
E justamente por nos ver diante do que eu mais temia, que jamais irei esquecer cada tonalidade das cores daquela Aurora.
Janaina Couto ©
Publicado — 2020
@janacoutoj