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- Senhor... Lady Vane está... O que diabos aconteceu aqui?
- Ele não pode suportar a dor... Tirou a própria vida.
Houve um tempo em que éramos conhecidos como a suprema dinastia, mas agora, sou último dela. Nós Venuanos éramos fortes, poderosos. Qualidades que toda boa família sonhava em ter. Até que... Todos, salvo eu, foram assassinados. Há muita coisa para ser contada, então... Comecemos de onde tem de começar, do começo! Sóis e luas atrás, nós Venuanos vivíamos no reino de Miac, uma terra peculiar diria eu, coisas estranhas e brutais aconteciam, todos sem explicações. Falando em coisas estranhas me recordo de uma história, talvez não queiram saber, não é muito importante? Curiosos? Se aquietem! Tudo beeem! Dir-vos-eis de que se trata. Repito novamente, não é importante, apenas é a história de como toda minha família foi assassinada... Espere! Sim, isso é importante, como pude confundir-me? Certo, vamos lá. Residíamos em um palácio demasiado grande, com um jardim que se estendia além do horizonte, havia árvores de palmeiras gigantes, a grama variava entre um verde fraco quase sem cor e terra marrom, um tom claro semelhante ao verde dos olhos Venuanos. O céu de Miac, o reino usurpado dos Venuanos, o céu que, reluzia uma luz deveras calorosa e revigorante, dia após dia, noite após noite. Havia uma paz no reino, uma paz que durara décadas desde a grande revolução, assim chamada pelo meu pai que, era ainda jovem quando seu pai tomara para si o reino. Anteriormente havia os Garianos, um povo rude e asqueroso. Tipicamente brutal. Há um ditado em minha famíl... Havia um ditado em minha família que dizia “Um Gariano a menos equivale a uma erva daninha em um campo”. Durante muito tempo acreditei nisso, mamãe contava histórias que meu pai a contou e que o seu pai lhe contara quando ainda criança. Dizia que eles possuíam pares de chifres, unhas enormes que dilaceravam a carne igual dentes de leão corta a carne de sua presa. Essa ideia perturbadora me assombrava todas as noites, da minha infância até a quase juventude. Certo dia quando ainda brincava com os cavalinhos de madeira que mamãe tanto zelava, não pude conter-me com uma curiosidade. Tinha à frente do reino, além das muralhas, uma floresta, mamãe mesmo contava em suas histórias que lá viviam eles, os Garianos, dizia-me para não ir para lá, pois eles iriam cozinhar-me em um caldeirão. Ria-se em seguida dizendo “Ah, mas quem iria comer você? Só tem ossos” De fato... Só havia ossos... Retornando a história... Não pude conter-me, a meia-noite, quando a guarda-da-muralha estava distraída com as belas damas que tomavam ar fresco nas suas graças, sai pelo portão grandioso de madeira, Porem quanto mais grandiosos, mais falha terá. Havia uma estreita abertura, na qual pelo meu físico consegui atravessar sem o menor esforço, em questões de minutos já me encontrava meio caminho andado, olhava para trás com euforia enquanto dava curtos e rápidos passos, quando me aproximei das gigantescas árvores, um súbito arrepio na espinha me deu. Foi como se os fantasmas da infância voltassem em massa nos meus pensamentos. As histórias de mamãe pareciam cada vez mais verdadeiras ao passo que me aproximava daquelas altas e expeçam árvores, a visão entre elas era mínima, seria como mergulhar na escuridão. Parei mais rápido do que consegui correr. Observei aquele lugar totalmente opaco, virei-me para o reino, não havia alarme algum “O filho do rei sumiu e ninguém vem atrás? Isso é vergonha” Era meu pensamento. Talvez por que ensejava que alguém interrompesse aquela loucura, eu era demasiado inocente, um tanto tolo, porém inocente. Não havia uma alma mais pura que a minha. Dei mais algumas olhadas, todavia parecia que a floresta me puxava, algo nela me atraia. Algo inexplicável. Simplesmente adentrei-a, por segundos formulei as horrendas imagens que mamãe me contava, sentia que minha carne seria retirada de meus finos ossinhos, que iria arder em água quente para ser devorado... Engolia o ar seco que se enrolava em minha garganta. Eu sentia o suor frio escorrer-me o rosto e as mãos estremeciam. O que tinha eu de arma? “Poxa, esqueci a espada de madeira, como poderei lutar?” Alguns passos na escuridão e avistei uma luz densa verde. Aproximei-me receoso, estava certo que teria meu fim, entretanto para minha surpresa eram apenas sapos, sapos luminosos que pareciam dançar sincronicamente, semelhante à valsa das deusas Henota e Jenida. Os bichinhos eram verdes e peculiares, brilhavam como as estrelas. Achei-me em uma situação que já não conseguia pensar em nada, apenas direcionava-me minhas com as mãos àquela dança anfíbia. Quando toquei suas costas, senti algo puxar-me pelo ombro, uma mão áspera, no momento me lembrei de mamãe... Os Gerianos iriam comer-me... “Estás endoidecendo? Estás encrencado moleque, muito encrencado!” Disse Harlor, rei de Miac, também meu pai. Chegando ao palácio iniciou-se uma discussão... “Esse garoto está para deixar-me louco Vane, louco! Já não bastam as peripécias, as... As... As balbúrdias” “Não fale isso, ele é nosso filho, nosso garoto, és apenas curioso!” “Curioso? Esse garoto é um travesso, não sei o que me deu para não enfiar-lhe uma lamina no peito... Ora essa, agora quer ir para a floresta? Vai-te, ao menos não preciso quebrar a cabeça com um pirralho grotesco” Eu ouvia quieto, sabia que tinha feito por merecer, mas era inevitável que uma ponta de rancor e ódio crescia em mim naquele momento. Em seguida chegou meus irmãos, Goer e Hans, ambos jovens de uma beleza extraordinária e intelecto excepcional, porém franzinos e nada aptos para guerra. Apesar de terem uma personalidade deplorável, eu os admirava, queria ser como eles. “Logo repensava em meus sonhos quando me diziam à mesa do jantar: “És um monstrinho V, tens uma testa grande, caso fosse marrom, diria que estava à frente dos portões” E riam-se. Logo mamãe os interrompia dizendo: “Calem-se, deixem seu irmão em paz, não veem que ele será o cavaleiro do Midhy”? Olhava-me piscando, em uma espécie de símbolo afetuoso maternal. Papai, no entanto retrucava “Estás a delirar querida, não passa de um travesso magricela” Eu ria, mas no fundo, durante noites ficava a pensar “Sou um monstro? Por que não tive a sorte da beleza ou da sabedoria? O que fiz eu para merecer isso?”... Continuando, entraram no recinto meus irmãos, mal sabiam da história e já me atacaram com palavras de fúria, muitas apenas por diversão “Eu não falei? Mate-o papai, apenas nos traz problemas, quer chamar a atenção, mate-o, queime-o!”- Disse Goer. Já o outro era mais dócil “Queimar? Estás maluco Goer?...” Por um momento abri um ligeiro sorriso... “Queimar deixaria o reino empestado com seu futum, melhor seria envenena-lo!” Meu mundo caiu por completo, me senti uma escória, apenas retirei-me, achando inocentemente que se importariam, mas apenas olharam-me com um olhar de nojo, de repúdio! Estava decidido que ali não era meu lugar, por algum motivo desconhecido me odiavam. Não suportava mais. Subi rapidamente para meu quarto, chegando lá, quando estava arrumando alguns utensílios em minha pequena trouxa, senti minha mão formigar, como se estivesse queimando por dentro, um sebo verde e luminoso havia nela. Mamãe entrou no quarto em seguida, com um olhar de dó que me fazia sentir um leve ódio. Perguntava com ao menos uma lágrimas nos olhos o que estava a fazer, eu dizia com uma falsa serenidade que estava a partir. Não demorando muito tempo arrumei-me, recebi o seu beijo quente na testa. Vane... A única pessoa que me amara por compaixão. Sai... nem mesmo um até logo recebi... Não sabia onde iria, estava apenas com a alma ausente, por não nem mesmo saber quem era eu... Andei... E andei para a escuridão.
Depois de muito tempo retornei à Midhy. A juventude já se mostrava em minha face, os olhos já não conservavam o verde puro, deu-se o lugar a um negro fosco. Juntamente de mim estava um amigo, um verdadeiro amigo. Era um tanto misterioso, andava sempre com uma longa capa carmesim, seu rosto ofuscava-se na escura penumbra do capuz, sua voz se misturava a grunhidos muitas vezes impossíveis de entender. Não falávamos muito, não agora... Conhecemo-nos em uma taverna, dizia que estava a caminho de Miac, tinha contas pendentes, contas antigas... Quando chegamos aos portões nos separamos. No momento que sumiu de minha vista um dos soldados me abordaram “Quem és tu?” Ergui minha cabeça de modo que os não tão longos cabelos revelaram minha face, apesar da juventude, reconheceram-me. Era um milagre... “O filho desaparecido do rei retornou!” Todos aclamavam. À porta do palácio fui recebido por nada mais nada menos que a ilustre realeza. Respectivamente: Goer, Hans, Vane e Harlor. “Meu filho! Quanto tempo!” Disse Harlor, calorosamente abraçando-me, “De fato, pai”- Respondi-o, retribuindo o abraço pouco menos caloroso. Em seguida vieram Hans e Goer, abraçaram-me também e disseram uma ou duas palavra como: “Sentimos saudades monstrinho... quer dizer... irmãozinho” - Dando gargalhadas sempre. Por último veio Vane, ela que, na infância deu-me todo o falso, mas caridoso afeto que nunca tive. Abracei-a do mesmo modo que me abraçara quando criança. Entramos, chamaram às criadas. As mesmas mostraram-me os aposentos, como eu não conhecesse... Depois de um longo e angustioso banho desci já à noite ao baile. Iria ocorrer uma grande comemoração em minha homenagem. Talvez a maior... Três leitões e meia dúzia de galinhas foram sacrificados para a ceia. Após o jantar, que por sinal comi pouco, fomos ao salão principal. Via os corpos cintilantes movimentando-se, Harlor no trono observa-me ininterruptamente, levantou-se e veio andando até mim. Juntamente Goer, Hans e mamãe sempre atrás. Andei também em sua direção, o calor aumentava ao passo que me aproximava da mesa, havia algumas sobremesas, queijos e etc. Quando Harlor cogitou em falar-me algo consolador, logo o interrompi “Não precisa explicar papai, eu sei... Eu lhe perdoo” - Inquieto, porém disfarçando deu-me uma risada e saiu. Quando Harlor deu as costas agarrei uma lâmina que estava à mesa e desferi em sua direção... Sim, um homem encapuzado tentou matar Harlor, salvei-o, o mesmo ficou perplexo, imóvel por um tempo. Retirei a lâmina ensanguentada que caíra no chão derramando o líquido vermelho escuro e viscoso ao redor do cadáver. Depois de um tempo a guarda, que não por sinal não era tão guarda assim, chegou. Reviraram o corpo e logo identificaram de quem se tratava o suposto assassino. Era um homem que há pouco tempo chegara ao reino, usava capa carmesim e seu rosto era grotesco. Sim... Sem dúvida nenhuma era um Gariano, o último que ninguém sabia da existência. Disseram também que estava ali para cobrar uma divida, Porém acharam que se tratava de dinheiro... Harlor ainda assustado olhou-me, com um olhar diferente, um olhar de confiança, como se tivesse renascido para ele... Todos também me encaravam, Goer e Hans que murmuravam coisas como: “Assassino, mentiroso, quis se aproveitar para tomar o trono”. Eram uns invejosos... Dias depois fui proclamado como braço direito do rei. Como Goer e Hans ocupavam esse posto anteriormente, viraram contadores.
“Em certa manhã caminhando pelo lindo jardim, ouvi vozes por de trás dos grandes pilares. Eram vozes conhecidas... Aproximei-me e estavam lá eles... Conversando escondidos, como se não quisessem ser vistos, ouvi pouco, mas esse pouco me serviu para tirar sérias conclusões... Estão armando contra o senhor, Harlor...”“ O que? Esses desgraçados. Nunca confiei neles... Estás certo do que estás falando filho? Goer e Hans são espertos, não fariam isso...” “Não posso afirma-lhe, pois são seus filhos e eu entendo isso, não quero me precipitar sobre nada, mas me senti no dever de avisar-lhe...” “Estás certo, certíssimo! Obrigado filho. Amo-te” - Estava a me virar quando o disse: “mais uma coisa...” “Sim meu filho?” “Caso nega-se a acreditar, acho que deves ver com seus próprios olhos, assim não viveras com essa duvida em seu coração... Vá atrás da sexta coluna, próximo às grandes fontes ao anoitecer” - “Verei...” - Ambos se despediram com um simples aceno e viraram as costas andando em direções opostas. Ao anoitecer estavam Goer e Hans conversando atrás do sexto pilar perto das grandes fontes. Discutiam inquietos e ansiosos. “Hans, tens certeza que aquela carta que recebera não era golpe? Tens certeza que tinha o nome da pessoa e local de encontro?” Perguntou impaciente Goer. “Cale-te, não sou asno, tenho certeza do que li, dizia certo o local, já o remetente era desconhecido” - Respondeu um tanto nervoso Hans. “Sabe Hans, estava essa noite pensando sobre o assunto de outrora, achas mesmo papai um bom rei?” - “És relativo meu caro, és relativo... Papai é bom, mas apenas no que foi treinado para ser, um brutamonte, um ogro. Não vês suas mãos? São calejadas das batalhas, ainda hoje as conserva... Digo... Como líder de guerra é nato, todavia como do povo não tem aptidão. Por isso necessitava de mentes como as nossas, trabalhando em conjunto. Éramos invencíveis, mas nosso irmãozinho querido tomou-nos o lugar, sabe por que meu caro? Por que nosso pai admira os brutos, homens das cavernas se entendem com os seus. Por isso digo-lhe, temos de retirar aquele monstrinho do cargo...” Após essas últimas palavras, Harlor revelou-se atrás das colunas. Os irmãos não perceberam a presença do pai e se assustaram. Logo disse um deles “P...Pai? Estavas aí? O que ouviste?” - O não tão velho rei respondeu, com um ar impetuoso “ O que ouvi? O que eu ouvi?! Oras, ouvi o precisava ouvir!” “Mas... Pai...” “Cale-te! Eu confiava em vocês, como puderam? Depois de tanto tampo... O perigo estava à minha frente e não percebi... Ele estava certo sobre vocês. Traidores!” Com as últimas palavras todos os camponeses apareceram para ver do que se tratava o furdúncio. Olhavam com um ar de dúvida e conjecturas. Em seguida, rapidamente apareci, estava com um falso ar de questionamento, tentando acalmar Harlor. Ele que estava furioso e Goer e Hans sem entender nada diziam: “O que estás a acontecer meu pai? Traidores? Estás a caducar!” - Com mais ira o rei berrou - “Cale-te, vão morrer, não me importo se são meus filhos, irão morrer!” - Todos se admiraram com a pronúncia, principalmente Vane que chegara mais confusa que seus filhos... “O que está acontecendo aqui?” “Papai está louco” - Respondeu um dos irmãos - “Diz coisas com coisas, fala que somos traidores, que irá executar-nos” Vane voltou-se para Harlor que a olhou nos olhos e disse sério e ofegante: “Seus filhos... Seus filhos são uns covardes traidores, irão queimar!” - Vane logo se aproximou berrando - “Estás maluco? Não podes fazer isso, por qual azo pensas nisso?” “Pelo motivo de estarem conspirando!” - Respondeu o velho, sendo contido pelo caçula “É mentira, estás a blasfemar!” – Vane se virou para os filhos, desesperada e com um pingo de fé “Diga que é mentira, por favor, diga!” “Claro que é mamãe, esse velho está maluco” - Respondeu Goer fitando-o. “Velho? Isso é que pensas? Sou velho, mas ainda sei acender fogueiras!” - Disse o rei, retirando brutalmente Vane do caminho e arrastando pelos braços Goer e Hans até o centro do Jardim, onde haviam antigos troncos usados para incinerar corpos de Garianos na época da tomada do reino. Primeiro ele amarrou Hans com uma corda, que tentou relutar, mas em vão. Apesar de velho, Harlor conservava uma força extraordinária, sem muito esforço amarrou-o. Em seguida foi a vez de Goer que, tentava fugir, porém era também segurado pelos guardas que seguiam ordens do rei. Do mesmo modo foi disposto ao lado do irmão. O Velho rei gritou para todos ouvirem, em um momento de insanidade “Eis aqui dois traidores! Ambos conspiraram e mesmo sendo filhos meus terão o fim que todo traidor merece! A morte!” - No fim de suas palavras, Vane se precipitou em lágrimas aos pés de Harlor, implorando pela vida dos filhos na qual pariu, amamentou e criou com tanto zelo. Ambos estavam amarrados e choravam. Choravam por desespero de perder a vida, choravam em saber que nunca mais teriam os prazeres carnais, choravam, pois viam a mãe se debruçar em lágrimas e choravam por que deixariam o reino nas mãos de um velho louco e um irmão que consideravam mau. Notando suas vidas próximas ao fim, perceberam que a última alternativa seria correr aos meus pés “Irmãozinho, aconselhe papai, eles está ficando fora de si, sentenciar um filho por um crime que não cometera? Isso é hediondo... Por favor, eu lhe imploro, peço perdão por todo mal que lhe causei, sempre o amei... Nós dois o amávamos, por favor, irmão, solte-nos” - Diziam eles, intercalando entre si numa voz rouca e seca. Ouvindo isso abri um ligeiro sorriso e aproximei-me de Harlor. Sussurrei-lhe algumas palavras. Em seguida o rei se pronunciou novamente: “Hans... Você não será queimado... Apenas um serve de exemplo...” o Jovem foi desamarrado e conduzido para o palácio. Em seguida o rei ordenou calmo e sereno - “Queime o outro” - Ouviu-se então por um curto intervalo de tempo os gritos agonizantes de Goer que, queimava dos pés a cabeça em uma labareda diminuía ao tempo que a carne de torrava. Uma cinza espalhou-se ao redor, um silêncio agoniante dominou o local, aos poucos todos foram se retirando. Vane chorou a noite toda, aquela noite tudo ficou sombrio. O céu escureceu-se pela primeira vez em muito tempo, o ar cinzento e fúnebre acentuava a tristeza ali. Estava prestes a chover... Todos estavam em seus respectivos quartos quando o primeiro trovão rasgou o céu acompanhado de longos raios. A água começara a cair... Hans estava em seu quarto na torre lateral, nelas caiam longos cipós que iam até o chão. O horizonte estava escuro e quase não se via nada, nem mesmo a floresta, observava. Deitou-se em sua cama de braços abertos e olhando para o teto, ficou a refletir por um longo tempo... Não parava de pensar nos gritos agonizantes de ser irmão. O céu constantemente clareava em grandiosos relâmpagos, o clarão apenas o fazia relembrar as chamas que tomou o corpo do irmão. Em seguida percebeu uma luz verde aproximando-se dele, não ligou, achou que fosse apenas um reflexo nos musgo causado pelos clarões dos relâmpagos. Estava deveras errado. Quando se deu conta estava cercado de sapos que dançavam em uma sincronia incrível, foi então que notou que os clarões verdes se tratavam dos sapos. Em uma intercalação de luzes claras dos relâmpagos e verdes dos sapos na sinfonia da chuva, os pequenos anfíbios foram tomando o quarto. Apenas flashes de luzes eram vistos por Hans, quando se deu conta já era tarde... Estava sendo “engolido” pelos sapos, que saltavam sempre em sincronia. Apenas ouviram-se seus gritos... Depois um tempo entrou Vane em seu quarto, vira o filho na cama, seu outro filho amado disposto na cama. Com a face sebosa de um verde claro e brilhante que assemelhavam aos seus olhos. Sem ar, ironicamente sem brilho e sem vida... Era demais para Vane, não aguentaria viver sem quem considerava suas vidas... Acabou por se jogar da torre ao chão, no salto da saudade e desespero de encontrar quem realmente amava...
O filho caçula chegou ao pai que se encontrava ébrio em seu gracioso trono no grande salão e o disse “Então... Papai... Como se sente? Sem família, sem quem ter para receber ou dar amor...” “Do... Do que está falando?” - Respondeu um pouco confuso por causa da bebida, mas ainda consciente. “Ora, não sabes? Hans morreu envenenado e Lady Vane suicidou-se” - Disse ironizando, caminhando em direção ao velho lentamente. “O que? Estás mentindo... É mentira!” - Respondeu moribundo, soluçando com o álcool “Por que mentiria para o senhor? Jamais faria algo assim a vós...” - Respondeu dando longas gargalhadas que ecoavam pelo salão, ao tempo que a chuva caía constante. “O que estás a falar filho? Eu não entendo” “Ora seu velho! Goer estava certo, estás caducando!” “Olha como fala...” “Olha você, você que mataste minha família... sua dinastia corrupta, hipócrita, Gro... Grotescas!” - Gritou nervoso o jovem. “Família? Eu sou sua família” - Respondeu ainda confuso o velho “ Não percebes não é? Olha bem para esse seu filho, o que vê nele? Não vês a mãe? A minha mãe! Que você estuprou a anos atrás! Quando ainda era jovem...” O Velho fez cara de espanto e ao mesmo tempo de confuso “Diga! Não se lembra? Ao menos tenha a decência de lembrar-te, uma Gariana!” - No mesmo instante o velho levantou-se, tentou caminhar, mas caiu alguns degraus depois. “É, acho que se lembrou... você a violentou e depois de um tempo... Uma criança meio-sangue, nobre e bárbara, nasceu... Eu pai! Agora estou aqui, para pedir-lhe uma explicação... Por que me odiava? Por que me acolheu? Por que matou minha mãe quando ela trouxe-me à sua porta?...” Um silêncio tomou o local, apenas ruídos da chuva ouviam-se. “Responda!” – Berrou o jovem, impaciente. “Vá... Vá pro Inferno, Gariano asqueroso!” “Ah, eu vou sim, mas antes irá você! Encontro-te daqui um tempo velho!” - Foram as últimas palavras do jovem então descoberto Gariano, antes enfiar uma lâmina no peito do seu pai friamente e sem seguida se livrando dela. Passado algum tempo, um guarda adentrou o salão...