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  • A batalha pela rota do oeste

    A Guerra Civil chegou até onde não havia civilização. Todos os cantos do vasto mundo viviam a luta armada desde a primeira metade do Séc. XXI. Neste contexto não havia alternativa para um homem que não fosse se juntar a Resistência. Então ele podia ter dois caminhos a seguir: soldado propriamente dito, daqueles que pegam em armas e estão prontos a morrer pela vitória, ou contrabandista. Neb era flácido, lento e não sabia usar a Colt 45 que carregava na cintura. Então para ele restou apenas a opção B. Apesar de todo horror da guerra, Neb operava um esquema de tráfico de frutas. O produto não era abundante, mas depois da grande contaminação nuclear das últimas duas décadas do Séc. XXI, a procura também havia caído. Ele mesmo não confiava nelas, preferia as pilulas de proteínas e as gelatinas de carboidratos. Mas elas também não eram abundantes, e vinham do norte, o que dificultava tudo. As frutas vinham do oeste. Ele buscava elas nas montanhas de soldados inimigos que as roubavam da base. Depois vinha por entre as florestas mortas e minadas até uma entrada pelo antigo sistema de esgoto. Neste trajeto ele empurrava uma carroça, mas quando entrava nos canos tinha que carregar caixas. Ele tinha acabado de receber 69 unidades de mamão. Mais treze melancias, 52 berinjelas e duas caixinhas com, raríssimos, 50 morangos. Foram quase dois dias para chegar com tudo no centro nervoso do caos. Como tinha que subornar os heróis da própria Resistência em um certo do ponto do caminho, ele sempre levava primeiro as mais judiadas. Com elas também abastecia o próprio lar e os mais próximos, que não podiam se dar ao luxo de escolher. As melhores iam para os comandantes, que pagavam com o que tiravam dos corpos espalhados pelas ruas ou nas casas abandonadas da cidade.

    Neb estava esperando um cliente num porão de uma construção destruída na Rua 10. Ele chegava pelo esgoto e saia pela porta da frente. Uns quarteirões a frente conseguia outro acesso subterrâneo num prédio bombardeado. “Estamos vencendo, a guerra vai acabar.” O soldado de compras do Coronel reproduzia o discurso típico do Exército Armado Local. “Ela já acabou, mas ninguém percebeu.” “Você pode ajudar a fazer todos perceberem. O Coronel quer que eu te leve até ele.” “Que? Não posso, tenho outros compromissos. Talvez em outro momento.” “Se você não for ele não te paga, e eu levo tudo e não volto mais.” “Meus compromisso acabam de ser cancelados. Vamos passear.” Os dois atravessaram os escombros de algumas casas até chegar num buraco. Mas quatro jovens aguardavam a chegada das frutas e do fruteiro. Dali para frente Neb foi sendo arrastado com os olhos vendados e as mãos amarradas.

    Quando chegaram a um lugar quente e úmido uma porta se fechou e Neb pensou estar sozinho. Na hora que tirou a venda viu um cara parado na sua frente. “Precisamos das suas rotas no oeste.” Aquele rosto não parecia desconhecido para Neb, mas o tom imperativo de voz era novo. Ele ajudou Neb a libertar as mãos. “Não sei do que você esta falando.” “Vamos receber um grande carregamento de armas e monição e uma rota mais desconhecida garantiria a chegada de tudo ao combate.” Ele se parecia muito com o patriarca de uma família que seu avô ajudava muito tempo atrás. Mas eles tinham morrido ou sido capturados, não necessariamente nessa ordem. “Eu trabalho com frutas, não com armas.” “Você trabalha para quem te paga, e eu vou pagar.” Neb tinha mais de 25 anos, o que já o colocava num seleto grupo de sobreviventes. Uma enorme fatia do bolo não passava dos 23, e quem chegasse aos 40 teria atingido o ápice do improvável. Tanto tempo no mercado tinha lhe dado a reputação de barato e suspeito, além de pacifico e otário. “O carregamento chega daqui três dias. Por razões de segurança você não vai poder sair daqui até que tudo se conclua.” “E para minha segurança vou acompanhar tudo só até o ponto de encontro com o fornecedor, então você me dá meu dinheiro e nos separamos.”

    Três dias depois Neb, o Coronel e mais dois soldados cruzavam as florestas mortas rumo as montanhas. Neb não se sentia bem na posição de guia. “Você sabe por quê esta rota funciona há tanto tempo? Porque só eu a uso.” “Vou tentar ser discreto.” Alguma coisa no tom de voz dele não deixava Neb a vontade. “Você não é o único na Resistência a gostar de maçã. Tenho clientes em todos os níveis”. O Coronel olhou com desdém. “Há muito tempo atrás, quando ainda existiam os Abrigos da Resistência para as mulheres, velhos e crianças, um homem me disse para sempre desconfiar de quem diz lutar pela liberdade.” Neb jogou o anzol na água, mas o Coronel não queria papo. Foi um dos soldados que mordeu a isca. “Nunca ninguém dizia nada que prestava nestes esconderijos para covardes.” A ideia de morrer atravessou seus pensamentos deixando rastros de cautela. “Meu pai dizia que é melhor ser um covarde e sobreviver para contar a história.” “Ninguém vai sobreviver.” As palavras do coronel soaram como um sentença de morte para Neb.

    Enquanto eles cruzavam as montanhas o traficante de frutas formulava um plano para fugir antes de chegar ao ponto final da caminhada. Para ganhar algum tempo, e preservar um possível refúgio, ele evitou o caminho pelo pântano. Quando eles chegaram a planície avistaram um espelho brilhando no horizonte como sinal de contato. Neb sentiu que era o momento de agir. Diminuiu o passo até estar mais ou menos dois metros atrás do pequeno bando. No momento em que o primeiro soldado olhou para trás ele, tentando ser rápido como o bote de um escorpião, sacou a Colt do bolso direito e começou a atirar. Como que por milagre cada um dos três disparos atingiu um alvo, que caíram aos gritos de traidor e atirando suas metralhadoras para o alto. O Coronel ainda conseguiu acertar Neb na perna, mas sua bala foi mais certeira se alojando no pulmão esquerdo dele. Antes de morrer ele revelou que não havia Resistência, e que era ele e sua família que haviam entregado a localização do antigo Abrigo da Resistência para as mulheres, velhos e crianças. Neb fugiu chorando para se esconder no pântano.
  • A conta

    Eu estou morrendo. Sei que todo mundo está, mas eu tenho enfisema pulmonar. Não consigo mais fumar e minha vida é um inferno por causa disso. Tenho que passar o dia na cama, ligado à respiradores e monitores, morrendo. Nunca me importei muito com como seriam esses tempos, mas sabia que eles iam chegar. Você desenvolve uma certa consciência depois de passar 30 anos fumando dois maços de cigarro por dia. Sabia o que ia acontecer. Assim como quando aceitei ser governador, sabia no que estava me envolvendo. Quando disputei minha primeira eleição para vereador era porque eu queria me envolver. Não é só fazer política ou filantropia, é um estilo de vida. Tem haver com manter tudo como esta: bom para todo mundo. Nem de longe imaginei que as coisas poderiam se desenvolver desta forma. O que você tem que entender é que sempre fiz o que achei que era certo para manter o nosso estilo de vida. Eu tenho esposa, filhos, netas. Sempre achei que quando este dia chegasse seria o fim de um outro começo. Sei que isso não me absolve dos meus pecados, mas eu estou morrendo de enfisema pulmonar. E todo mundo que esta morrendo merece alguma compaixão. Porque todo mundo fez alguma coisa de bom para alguém um dia no vida, e quando se esta numa cama, ligado à respiradores e monitores, morrendo, é isso que tem que ser lembrado.

    Quando vi a Fernanda pela primeira vez ela estava começando o estágio na Assembleia Legislativa. Era uma jovem estudante de direito, linda. Os longos, e encaracolados, cabelos morenos, o olhar penetrante, as coxas grossas. O conjunto da obra era hipnotizador. Ninguém conseguia resistir aos seus encantos. Admito que quando convidei ela para assumir um cargo em meu gabinete eu já tinha tudo planejado. Sempre fui daqueles que não faz nada sem ter pensado em tudo. Ela não era a primeira, nem eu. Todo mundo faz assim. Acontece. Eu tenho esposa, filhos, netas. Quando ela aceitou o cargo ela sabia o que estava fazendo. Porque o cargo também incluía um apartamento no centro, com cartão de crédito e carro na garagem. Então, se você aceita tudo isso, você sabe que seu trabalho não será exatamente no escritório. E durante dois anos tudo foi uma maravilha. Nós nos víamos de duas a três vezes por semana. A vida pública exige que algumas coisas sejam realmente privadas. Eu não ia no apartamento dela para não ser visto. Nunca éramos vistos juntos. Se você usa uma aliança no dedo anelar esquerdo, e ocupa um cargo público, você não quer que as pessoas te vejam fazendo o que elas fazem. Elas votam em você exatamente porque elas acham que você não faz como elas fazem. Elas votam em você para poderem continuar fazendo o que elas acham que só elas fazem. Se todo mundo soubesse o que todo mundo fez e faz, o que seria desse mundo? E agora, que estou numa cama, ligado à respiradores e monitores, morrendo, agora isso vai ser importante?

    O que você tem que entender é que jamais imaginei que aquilo ia terminar como terminou. Eu tenho esposa, filhos, netas. Não teria feito o que fiz se não julgasse que havia extrema necessidade. Era muita coisa que estava em jogo. Todos os meus grandes feitos não podem ser ignorados por um incidente. Eu também construí escolas, creches, hospitais. Toda uma história não pode ser questionada por causa de uma estagiária num momento de devaneio. Não é porque estou numa cama, ligado à respiradores e monitores, morrendo, que estou contando tudo isso. É porque a imprensa vai fazer um escarcéu, vai supervalorizar tudo. Eu tenho esposa, filhos, netas. Não vão respeitar elas e elas não merecem isso. Não estou aqui pedindo absolvição, é só que vejam que fiz o que fiz porque precisava manter outras coisas, que eram boas para todos. Pode não ter sido a melhor escolha, mas era a única que eu tinha. Quando ela apareceu grávida, na casa da minha família, vociferando que eu era um monstro, ela mesmo não deu valor a tudo isso. Em tudo que eu representava, em tudo que eu era. Ela não me deu opções. A questão não é quem é a vítima, é como se reage as coisas. Ninguém é santo. O mundo é muito maior que uma pessoa só, e exitem os seus problemas e os do mundo, e perto dos do mundo, o seu sempre vai ser pequeno. Uma coisa que pode parecer pequena para você, pode ser grande para o mundo. Não era só a minha honra que ia ser atingida, era a honra de todo mundo.

    Quero deixar claro que antes de matar ela asfixiada, e incinerar o corpo numa pilha de pneus, tentei todos os outros meios ao meu alcance para evitar que as coisas terminassem dessa forma lastimável. Não foi fácil fazer o que fiz. Eu não queria. Eu chorei, pedi, implorei. Mas ela tinha vídeos, fotos, conversas. Eu poderia ter dado tudo que ela jamais imaginou ter. Hoje ela poderia estar vivendo bem em qualquer lugar que quisesse. Tentei garantir, com todas as palavras possíveis, que ela e a criança jamais passariam nenhum tipo de necessidade. Muito ao contrário, viveriam sem nunca terem que se preocupar com dinheiro. Teriam até direito a herança. Eu reconheceria o filho quando deixasse a vida pública. Mas ela queria causar um escândalo. Queria usar uma criança para acabar com tudo. O que ela queria era ver tudo que eu tinha construído destruído. Eu fiz o que qualquer um no meu lugar faria. Eu tive que matar ela asfixiada, e incinerar o corpo numa pilha de pneus, para garantir que tudo continuasse como estava, porque estava bom para todo mundo. Eu tenho esposa, filhos, netas, e estou numa cama, ligado à respiradores e monitores, morrendo.
  • A true love story

    Preâmbulo

    Contos dramáticos, longos romances, filmes, músicas, novelas, seriados, guerras, “what more in the name of love?”, perguntaria o U2. O que for necessário, responderiam os jovens. Amor não é um sentimento, é uma justificativa para uma atitude que poderia ser tida como débil. Sócrates diria que o amor é a ausência do belo e do bem, desembocando nos antônimos feio e mau. Ainda segundo os gregos, que conversavam enchendo a cara de vinho num banquete, o amor poderia ser um desejo ardente de se ter o que não se tem. Logo, quando se conquista o desejado o amor bau bau. Segundo o dicionário Aurélio, o amor também é enquadrado como uma inclinação forte por outra pessoa, geralmente de caráter sexual, mas que apresenta grande variedade de comportamentos e reações. Bem, certamente ele existe, e determina a vida de todos nós.

    Personagens

    Neb | Mais ou menos 1,70m, 100kg, 25 anos e cabelo comprido. Estudante do quarto ano de jornalismo. Se veste como repórter de rádio, sempre de xadrez, mas trabalha numa assessoria de imprensa. Gosta de ouvir Rock’n Roll e toca baixo. Como quase todo gordinho, Neb é inseguro e meio engraçado. Nunca teve uma namorada.

    Júlia | Cerca de 1,73m, 65kg, 21 anos, cabelo nos ombros. Cursando o 3º ano de enfermagem. Tenta não se preocupar com a moda, gosta de blusinhas com alcinhas e casaquinhos de lã. Faz estágio num hospital público. Gosta de ver o pôr do sol num mirante e de praia. Não se acha bonita e é traumatizada pelas decepções da vida.

    Tempo

    Se conheceram no 2º ano de faculdade dela, mas Neb já a observava com carinho, de longe, antes de os dois se tornarem amigos. Em seguida ele entrou num projeto cultural que Júlia fazia parte só para ter mais contato com ela. Por uma coincidência da vida vieram a se tornar vizinhos seis meses depois. Foi nessa época que perceberam o quanto gostavam um do outro. Em pouco tempo estavam indo nos mesmos lugares e tinham os mesmos amigos. As coisas aconteciam cronologicamente e um futuro juntos, e felizes, era tão certo quanto o fogo é quente.

    Espaço

    No começo se encontravam na lanchonete da faculdade, naquelas mesas enormes que se formam com os amigos no frenesi do intervalo. Sem perceber os dois sempre estavam próximo. Nas reuniões para falar sobre os eventos que iam realizar dificilmente discordam da opinião um do outro. Quando morando lado a lado Júlia ia na casa de Neb todo dia, mas ele raramente retribuía as visitas dela, mas sempre comprava queijo porque sabia que ela gostava e fazia café quando ela chegava.
    O período de vida universitária é marcado pelas novas experiências, e grande parte delas está ligada ao flerte. Qualquer espaço que reúne centenas de jovens, com os hormônios a flor da pele, é um convite para aventura, um lugar onde tudo se desenvolve.

    Narrador

    Eu era próximo aos dois. Na verdade eles começaram a ter mais contato porque o Neb sempre vinha me chamar para fumar um baseado com ele no intervalo. A Júlia também fumava, e um dia veio junto. Quando comecei a reparar no que estava acontecendo os dois já estavam sempre grudados, e ela sempre perguntava dele, e ele dela. Pareciam ter nascido um para o outro, mas tinham uma certa dificuldade de reconhecer isso. Nunca entendi o por quê. Os dois sempre foram bastante reservados, então ninguém falava sobre isso com eles, nem eles falavam com alguém, mas todo mundo falava disso longe deles. Era impossível não reparar no jeito especial que se tratavam e em como, as vezes, não se olhavam.

    Enredo

    Ela admirava o quanto ele era atencioso com as outras pessoas e a quantidade de amigos que tinha. Dava para perceber isso vendo como Júlia se esforçava para fazer a mesma coisa que Neb. Ele jogava futebol com os amigos, ela entrou num grupo de corrida. Ele sempre carregava um bom livro, ela começou a levar um na mochila também. Neb achava que Júlia era diferente de todas as outras garotas porque era bonita, inteligente e não ficava se exibindo. Sua admiração por ela ficava nítida na forma como a tratava, sempre tentando arrancar um sorriso dela e facilitando a sua vida. Neb sempre pensou que jamais teria alguma chance com alguém como ela, tanto que as indiretas dela demoravam dias para serem percebidas por ele, quando o momento já tinha passado. Júlia achava que Neb pensava que ela não estava à altura dele, porque ele sempre respondia as investidas dela com um sorriso desconcertado, e não com palavras românticas ou um amoroso beijo. No ritmo do “ninguém me ama, ninguém me quer”, os dois se identificavam cada vez mais um com o outro. As chances de ficarem juntos se multiplicavam a cada encontro. Numa festa, assistindo um filme deitados na cama ou uma tarde perdida, a todo momento pressentiam que uma coisa fantástica podia acontecer. Quando se tocavam acidentalmente, ou num abraço e beijo de “oi, tudo bem”, as borboletas no estômago diziam que aquele amor não tinha nada de cortês.

    Diante da falta de iniciativa de Neb, Júlia arrumou um namorado…
  • All Star #31

    Acho que, se a Bíblia estiver certa, ninguém que morreu com mais de 18 foi para o céu. Tudo que pode se fazer de errado já se fez até os dezoito anos. Milhares de punhetas, centenas de chingamentos, pensamentos sacanas com a mulher do próximo, gula, avareza, mentira, não tem alma que dure até os 18. Tudo indica que eu tenha assinado a minha passagem quando roubei uma caneta da papelaria da escola, com uns nove anos. De lá para cá venho apostando na teoria do arrependimento, e colecionando pecados. Por isso acho que Deus me pune com a Júlia. Sou um covarde e ela sabe. É tipo um blues do Charlie Park depois da meia noite, com uns goles de wiskey barato. Ou o Leonard Coen tocando Wanderwall. Dói de verdade. Não quero parecer um idiota, mas é difícil evitar. Vou procurar o que fazer na loja de CD do Dé para fugir de qualquer tipo de pensamento. No caminho encontrei a Paula voltando da escola. “Porque você não foi na aula hoje?” “Sei lá, fiquei no computador até altas horas ontem e não acordei no clima. Perdi alguma coisa?” “Não. Eu, a Júlia e a Alina queríamos ir na sua casa fumar um e escutar um som hoje a tarde.” “A hora que vocês quiserem.” “Umas três e pouco?” “Fechado.”
    Queria ter um novidade, alguma coisa legal para contar para elas. Parei na Curva de Rio Discos já com a ideia de levar alguma coisa do Strokes. Era uma batida legal, um som que as meninas iam gostar, e eu não tinha nenhum álbum deles ainda. Resolvi não perder muito tempo na loja, só peguei o CD e voltei para casa para começar a bolar os baseados. Liguei a nova trilha sonora, coloquei Beleza Americana no mudo na TV e sentei na escrivaninha para trabalhar. “Sou só um cara comum que não tem nada a perder.” Adoro quando o Lester fala isso para aquele chefe dele com cara de almofadinha de Harvard. Quero falar isso para um chefe cretino destes um dia. Ou para um professor idiota que acha que sabe tudo da vida. E entre esse pensamento de glórias e uma empolgação homérica em Last Night a Paula e a Júlia gritam no portão. “Nossa, você tem o Is this it??” Foi a primeira coisa que a Júlia disse quando entrou no quarto e escutou a música. “Peguei hoje no Dé, sabia que você ia curtir.” Me sentia como se tivesse passado no vestibular de medicina. “Vi um clipe deles na MTV ontem que nunca tinha visto. Tem umas imagens de Nova York muito legais.” “Não vi esse ainda.” “Posso colocar o refri na geladeira e acender um baseado?” A Alina sempre era mais objetiva.
    A Paula chegou e pediu para tirar o filme porque ela ainda não tinha assistido inteiro e queria ver depois. Coloquei Os Bons Companheiros para ver se dava um pouco de ação à tarde. “Aí, não gosto de filme de violência.” A Júlia reclamou antes da primeira facada do Henry no corpo do porta malas. Naquele momento desejei nunca ter tido aquela fita. Como a Alina estava lá o Enrolado também apareceu. Com dois baseados acesos e todas as mídias operando o mundo parecia que estava aos nossos pés. “Será que a gente vai viver para ver a maconha legalizada?” A Paula falava sobre erva com uma notável paixão. “Acho que sim. É uma planta, nunca vão acabar com uma planta. Ela se multiplica por força da natureza.” A Júlia as vezes parecia que tinha vocação para natureba, mas a Coca-Cola não deixava. “Vamos fazer um bolonha?” “Aqui não dá, não vou ter como explicar pro meu Vô o ingrediente verde. Mas apoio a ideia.” “Vamos falar com a Tati e fazer no forno a lenha do sitio dela no fim de semana.” “Vamos!” “Vamos!” “Vamos!” “Sim!” Moção apoiada por unanimidade efusiva.
    Escutar 1979 com a galera fazia tudo ser mais legal, então troquei os Strokes por Smashing Pumpkins entre a ideia do bolonha e as discussões sobre as aulas de matemática. Descobrimos aí um ponto de tensão entre a Alina e o Enrolado. “A aula do cara é um saco. Ele não tem a mínima didática. Ele não esta falando com robôs. O cara não dá um sorriso, não faz uma piada”, dizia ele. “Eu entendo muito bem matemática por causa dele. Se você é burro não bota a culpa nele”, e ela estava disposta a iniciar uma guerra por Pitágoras. “Sei lá, a aula dele faz eu me sentir burra. A didática dele comigo não funciona.” A Paula queria jogar gasolina na fogueira. “Tem gente que se da bem com exatas, uns com humanas. Pelo menos ele não enche o saco como o Tadeu de Português que acha que é o centro do mundo.” Tentei dar uma aliviada, e quando a Júlia concordou comigo foi como se a gente fosse tão parecido que era evidente que tínhamos sido feitos um para o outro.
    A filme acabou, o baseado também, e humanidade continuava sem perceber a existência daquele universo paralelo que a gente construía no quarto. “Eu só queria viver sem que ninguém se preocupasse comigo.” Falei isso sem pensar que eu queria que a Júlia se preocupasse comigo. Quando pensei isso me senti um verdadeiro idiota. Eu não era diferente do professor de matemática cretino que queria atenção. O CD terminou e não troquei a música. Fiquei jogado no canto da cama com cara de paisagem tentando atrair a Júlia por piedade. Fechei o olho e desejei com toda força que tinha que todo mundo desaparecesse e só sobrasse eu e ela. Acabei caindo no sono quando eles falavam alguma coisa sobre uma balada no sábado. Acordei sozinho não sei quanto tempo depois que eles saíram.
  • All Star #35

    As vezes acho que acredito que todo mundo nasce com um destino traçado. Tipo, independente do que você faça as coisas vão acontecer, de um jeito ou de outro. Aposto minha vida com a Júlia nisso, mas esta começando a ficar difícil de acreditar. Fiquei sabendo que ela esta ficando com um cara que já esta na faculdade. Não conheço o bastardo, e nem estou afim de conhecer. Agora todas as garotas que eu vejo tenho vontade de beijar, só para ela saber como eu me sinto vendo ela com outro cara. Mas acho que ela não vai sentir a mesma coisa. Queria que ela soubesse de tudo isso. Também queria que esta porra de aula de física nunca tivesse começado. A Paula fez um bilhetinho passar de mão em mão da primeira a última carteira até chegar em mim. “Eu e as meninas queríamos ir na sua casa mafu nhacoma hoje a tarde.” “Nem tudo acontece do jeito que a gente quer”; era o que eu devia ter respondido. Mas como um ser humano pacífico e otário confirmei o rolê. Tinha comprado o CD novo do Eagles of Death Metal e queria cantar Now I’m a Fool para a Júlia, mesmo que ela não entendesse nem o porque nem a letra.

    Aleguei uma dor de cabeça indecente e fui para casa antes de ter que encarar a aula de biologia. Passei as aulas quase que dormindo, meio longe, sair mais cedo adicionava algum mistério sobre a vida para as meninas. No caminho parei na Curva de Rio Discos para comentar com o Dé sobre o livro do Mutarelli que tinha acabado de pegar. “Será que o cara não tem medo de escrever uma história como essa?” “Medo do que?” “Sei lá. Um policial assassino apaixonado por uma travesti. Eu pensaria que todos os policias do mundo estariam querendo me matar por causa disso.” “Tem muito mais que isso no livro. Esse é só o enredo.” As vezes acho que acredito que todo mundo tem um plano de vingança secreto contra alguma coisa que odeia. Se eu fosse um policial talvez eu odiasse o Mutarelli por ter escreto Miguel e os Demônios. Tenho medo de estar andando com ele na rua e um policial me parar, pegar o livro e dizer: “Porque você esta lendo esta porcaria? Você acha que policial é viado? É isso?” Enfim, como diz o meu avô “até provar que focinho de porco não é tomada o coitado morreu com o choque”.

    Quando sai da Curva de Rio vi a Júlia subindo a pé sozinha. Ela também devia ter dado o migué na aula de biologia. Fiquei com cara de expectativa zero esperando ela chegar até mim. Ela também não parecia a garota mais feliz de todos os tempos. “Acho que não vou a tarde na sua casa com as meninas hoje?” Queria ter dito: “Se eu soubesse que você não ia não tinha topado.” Mas saiu só um “Por quê?” murcho. “Não sei, não estou me sentindo bem.” “Fumar um pode te ajudar.” “Não sei. Talvez o problema seja esse. Estou fumando demais.” “Duvido que o problema seja esse.” Falei dando uma risadinha de leve, que ela retribui. As vezes acho que acredito que a vida da uns sinais sobre o destino. Aquilo era um sinal. “Também não ando muito bem, mas acho que não é por estar fumando muita maconha.” “Porque então?” “Sei lá, tudo que eu faço dá errado, não vou passar no vestibular nem para ser lixeiro. Não estou feliz.” “Porque não? Tudo que você faz é legal, todo mundo queria ter uma vida como a sua.” “A grama do vizinho é sempre mais verde, até você perceber que é artificial.” “É. Vou virar aqui. Até mais.” “Beijos! Aparece lá mais tarde….não me abandone.” Falei colocando a mão no peito e fazendo uma cara de cão sem dono. Ela rio e se foi me deixando cheio de esperança.

    Cheguei em casa e tirei uma soneca depois do almoço para ver se recuperava o ânimo. Quando voltei a vida pensei que a única coisa que poderia salvar o dia seria a Júlia aparecer com as meninas. Sem ela preferia passar a tarde sozinho escutando um som e viajando na maionese. Coloquei uns clips do Aerosmith na televisão e comecei a bolar baseados em linha de produção. No terceiro a Alina chegou com a Paula. “Meus Deus. Essas meninas dos clips do Aerosmith são demais. Nunca vou ter um corpo assim.” As vezes acho que acredito que todo mundo só pensa em sexo. Tem gente que parece que vai na padaria não para tomar café, mas para ver se acha alguém para transar. Queria perguntar se elas sabiam se a Júlia vinha, mas não queria que elas percebessem que meu único interesse na tarde era esse. “Estamos esperando mais alguém ou podemos acender esse baseado?” “Se mais alguém chegar a gente não pode acender outro?” Não era exatamente a resposta que eu esperava, mas fazia bastante sentido.

    Quanto mais o tempo passava mais eu tinha certeza que a Júlia não ia vir. No fim a gente queria a mesma coisa, passar a tarde sozinhos. Ela deve ter conseguido, ou não, o cretino que ela esta ficando poderia estar lá com ela tentando fazer ela melhorar. As vezes acho que acredito que nós dois ficarmos juntos é inevitável, só preciso ter um pouco de paciência. Estava todo mundo em transe com o clip de Crazy. “Como pode a Liv Tyler ser filha desse monstrinho?” “Ele não é tão monstrinho.” Não era a filha dele que a Paula queria ser. “Acho que ela é um tesão.” A Alina não segurou seu lado lésbica e deu uma risada sexy quase interminável. Será que a Liv Tyler tinha uma turma como a nossa? Que passava a tarde fumando maconha e falando de Rock’n Roll? Será que a Júlia esta sozinha? Acendi mais um baseado e me ajeitei na cama como quem vai dormir. As duas entenderam a mensagem e foram embora depois do cigarro pós-baseado.
  • All Star #44

    Já faz um tempo que descobri que estudar não é fundamental para terminar o colégio. Só precisa estar lá no dia-a-dia e fazer uma prova que quase sempre é coletiva. A escola não quer reprovar ninguém e os pais dos alunos não querem os filhos reprovados. Isso basta. Então, como diz o Gabriel Pensador, gosto de pensar que estou usando este tempo para aprender a viver. Não é fácil com um monte de gente dizendo que tudo é importante todo tempo, mas é agradável quando a Júlia vem conversar sobre qualquer coisa. “Você tem um cigarro pra mim fumar no intervalo?” “Mas você não fuma…” “Estou começando. Ontem fumei um com a Alina e o Enrolado. Hoje queria fumar com você no intervalo.” “Você que sabe, mas acho que isso não é legal.” “Por favor, não venha você, que fuma quase um maço por dia, dizer que fumar faz mal e blá blá blá…” “Nunca disse que me orgulho.” Ela me olhou com aquele sorriso de ironia, um pouco envergonhada. As borboletas estralaram por todo o meu estômago e gritaram em coro: “ela quer ficar sozinha com você idiota!” Um contido eu murmurou: “vamos no fundo da garagem dos ônibus então?” “Legal, vou falar com a Alina e o Enrolado também.” E as borboletas voltaram a ser lagartas parasitas que roubavam toda minha coragem de dizer para ela tudo que eu queria.
    Fumar escondido no corredor entre os dois ônibus que ficavam na garagem era como sentir a liberdade inflando os pulmões. “Ontem, escutando National anthem conclui que Radiohead é pura arte.” Na verdade tinha passado a tarde de ontem inteira escutando este som. “Arte do suicídio?” A Julia tinha me dito uma vez que tinha medo de escutar Radiohead sozinha. “Arte é uma coisa que te diverte, tira você do ar, Radiohead deprime.” “Quem te disse isso cara?” “Que Radiohead deprime?” “Não, que arte é diversão.” “Não é?” “Não. Arte é uma coisa que causa estranheza e não tem finalidade por si só.” “Então você é arte!” Me sinto duas vezes mais idiota quando o enrolado faz eu parecer um idiota na frente da Julia. Já faz um tempo que descobri que um dia, que não vai demorar muito, tudo que acontecer aqui não vai significar absolutamente nada. Mas enquanto essa hora não chega qualquer coisa parece com hambúrguer para o apocalipse. Como sempre acontece trinta segundos antes do sinal do tacar o Sergião estava de olha na gente lá no fundo para ver se ninguém ia pular o portão para fugir daquele hospício. “Vamos fumar um lá na beira da pista para ver o pôr-do-sol no fim da tarde?” Jamais diria não para a Julia. “Nós temos que terminar o trabalho de inglês depois da aula hoje.” Quando a Alina tirou ela e o Enrolado do rolê as borboletas voltaram a estralar no estômago. “Eu topo.” “Legal, vou ver se o Jhony quer ir com a gente, tudo bem?” E as borboletas voltaram a ser lagartas parasitas que roubavam toda a minha coragem de dizer para ela tudo que eu queria.
    Passei a tarde inteira pensando em um jeito de escapar do destino implacável de amar alguém. Escutei In my darkest hour do Megadeth, depois o acústico inteirinho do Alice in Chains, Lithium do Nirvana, e nada. Os contos do Bukowisky me diziam que as coisas ainda podiam piorar. Nem Holden Caulfield podia me salvar, e Beleza Americana confirmava um fim trágico para a vida se eu continuasse no caminho que os professores, meus pais, avôs, o mundo, traçava para mim. O melhor mesmo seria se jogar no abismo de uma faculdade pública qualquer longe daqui. Nos últimos tempos perdi umas horas pesquisando a relação candidato vaga em universidades do norte e nordeste. Da para passar em filosofia, sociologia ou um curso ia qualquer em um monte delas. Já faz um tempo que descobri que ainda não tenho a menor ideia do que quero ser na vida. Enquanto eu não souber o que vai ser o melhor a fazer é ganhar tempo. Uma temporada longe da Julia podia ser bom para ela sentir minha falta. Isso fazia as borboletas do estômago estralarem como nunca. Eu voltando para casa, formado numa faculdade pública, e a Julia morrendo de saudades, também formada, e a já casada com um cara qualquer que ela conheceu na faculdade. Era o mais provável. E as borboletas voltaram a ser lagartas parasitas que roubavam toda a minha coragem de dizer para ela tudo que eu queria.
    A Julia passou em casa, com o Jhony, e o trio princesa, príncipe e o bobo saíram para passear. O jeito que um falava com o outro, e a empolgação deles em falar um com o outro, gritava que eu estava sobrando lá. Só quando já estávamos perto do limite da cidade, e acendi o baseado, minha presença foi notada com um comentário do Jhony. “Hummm….senti aquele cheirinho da erva vinda do norte.” Os dois riram como se o Ari Toledo tivesse contado uma piada. Não fiz questão de disfarçar um sorriso forçado, e a Júlia tentou criar alguma ligação entre nós três. “O Jhony tava me falando outro dia que começou a ler O senhor do anéis…..você já leu, né Neb?” “Não, eu acho o Tolkien muito descritivo, prefiro ficção científica.” Passei o baseado para ela e nem olhei para ele, que tentava invocar uma amizade que nunca existiu. “Eu gosto bastante de umas coisas mais mitológicas.” “O Neb me emprestou uma vez A revolução dos bichos e eu gostei muito. Mas não consigo ler O senhor dos anéis.” Os dois não concordavam em alguma coisa, foi o suficiente para as borboletas no estômago estralarem como a esperança que surge sem explicação todo começo de primavera. “Mas os filmes são sensacionais. Eu tenho os três.” “Nossa, eu nunca vi.” “A gente podia combinar de fazer uma maratona e assistir os três qualquer dia em casa.” Os dois se olharam e a Júlia deu pra ele um sorriso que ela nunca me deu. E as borboletas voltaram a ser lagartas parasitas que roubavam toda minha coragem de dizer para ela tudo que eu queria.
  • Bruno, Maira em uma tarde qualquer

    Bruno acordou como foi dormir, desempregado. Pegou a última colher de café e fez um chá preto fraco. Queria um cigarro, mas o cinzeiro não tinha bitucas. Precisava de dinheiro. Pensou em ligar para o César. Ele estava bem. Era gerente de alguma coisa numa multinacional há anos. Foram grandes parceiros de truco nos tempos de escola. Não se falavam desde o enterro do Muleta, dois, três anos atrás. Depois ficou com vergonha porque não sabia nem o que ia pedir. Dinheiro? Trabalho? Good times? Tudo junto? Bruno estava fodido. Morando de favor no sofá da sala do pai, roupa mal lavada e cara de desocupado. Procurou umas moedas nos potes da cozinha, depois nos da sala, e no sofá. Achou o suficiente para uma dose de qualquer coisa barata e um cigarro. Sem muitos destinos a seguir ele rumou para o Bar do Jaime. Chegando lá sentou numa mesa na calçada e ficou esperando o tempo passar na companhia solitária de um copo de conhaque. Quando parecia que o mundo inteiro estava alheio a sua existência Maira sentou ao seu lado.

    - Não vai me oferecer uma bebida?
    - Não tenho dinheiro e esta é uma dose individual. Mas você pode ficar sentada aí se quiser.
    - Então eu pago a bebida.

    Maira entrou no bar e voltou com uma garrafa de cerveja e uma dose de conhaque. Serviu dois copos com a cerveja e sentou.

    - Não consigo me imaginar trabalhando, casada, com filhos. Nasci para ser livre.
    - Dá para ver.
    - O que dá para ver?
    - Que você nasceu para ser livre.
    - Mas as pessoas não aceitam. Querem transformar você numa coisa que você não é.
    - As pessoas são foda.
    - Você nasceu para ser o que?
    - Nada. Vou no banheiro.

    Bruno se levantou e entrou no bar. Quando voltou tinha um outro cara na mesa e um mostruário hippie apoiado na parede.

    - Esse é o Alberto. Ele vende artesanatos. Perguntou se eu aceitava um colar em troca de uma cerveja e eu aceitei.
    - Tudo bem.
    - Qual o seu nome?
    - Bruno.
    - Eu também não sabia, nem tinha perguntado.
    - Tudo bem.
    - A gente estava falando do preconceito que o Alberto sofre por ter escolhido vender artesanatos na rua. As pessoas acham que ele é vagabundo.
    - Negro como eu então, o preconceito é dobrado.
    - As pessoas são foda.
    - Costumo dizer que sempre desconfie quando alguém pergunta o que você faz. Ela quer saber como ela pode se aproveitar de você.
    - Eu acredito mais no que as coisas são do que no que elas podem fazer.

    Maira morava sozinha num apartamento, no centro, que sua família lhe deixou como herança. O vizinho de baixa mora onde morou sua vô um dia, e como ela não mora no céu Maira que recebe o aluguel. Tinha feito o antigo magistério, mas nunca usou o título para nada. De repente abriu a cortina da sala e se deparou com Bruno, sentado sozinho no bar com um copo na mesa, desanimado. Ela não queria ficar sozinha sem fazer nada em casa, de longe ele parecia que também não. Por um instante ela pensou que tinham sido feitos um para o outro, então resolveu descer. No elevador ela lembrou de quantas vezes este pensamento invadiu sua cabeça, e que a esperança é uma doença. Mas ela não tinha nada a perder e já estava no meio do caminho. Depois de uns goles, e de Alberto voltar para a batalha da rua, Bruno ganhou o status de intrigante.

    - Você não gosta muito de falar, né Bruno?
    - Não.
    - Porquê?
    - A chance de falar besteira é menor.
    - Meu pai dizia que em boca fechada não entra mosca.
    - É.
    - Você é meio misterioso, tem cara de inteligente. Gosta de ler?
    - Não.
    - Eu também não. Prefiro outras coisas para viajar. Ahahahahha.
    - ….
    - Tem gente que acha que você tem que ler, ter cultura, estudar. Acho que estas coisas só deixam os outros mais chatos, metidos a besta. Ficam se achando superiores.
    - As pessoas são foda.
    - Como se saber uma conta de matemática ou ter lido todos os livros do mundo fizessem de alguém mais inteligente. Você terminou a escola?
    - Não.
    - Você por exemplo, não gosta de ler, não terminou a escola, e parece muito inteligente.
    - ….
    - Acho que se aprende mais aqui, vivendo a vida na rua, do que com um professor metido a besta numa escola que parece uma cadeia.
    - É.
    - O que você tem para fazer?
    - Nada.
    - Eu também. Acabou a cerveja. Tenho mais lá em casa, quer subir?
    - Sim.

    Os dois foram para o apartamento dela e deram uma meia foda. Bruno teve uma parte do ânimo tomado pelo conhaque e Maira desanimou com a falta de jeito dele com a coisa. Depois de tentar um pouco os dois desistiram e Bruno voltou para o sofá da casa do pai.
  • Cachorro no mato

    Era uma multidão. Um fluxo aleatório de gente indo para cá e para lá. Bruna vinha andando como quem não quer nada, mas com o ritmo de quem sabe onde quer chegar. Só seguindo o fluxo da sua linha. Quando viu o pato vindo concentrado na tela do celular ela deu o bote. Rápida como uma naja atacando um ratinho branco especialmente para as câmeras da Discovery. A super-câmera ia mostrar em detalhes como o punho dela se dobrava num ângulo perfeito para baixo e depois para cima, retirando com suavidade e segurança o celular da mão do duck. Ela não mudou o ritmo da caminhada, não fez nenhum movimento brusco. Só os músculos do braço se moveram como um chicote. Do bolso e de volta para o bolso, carregada, em milésimos de segundos. Quando o pato atordoado acusou o golpe Bruna já estava pelo menos dez passos longe da confusão. Daí para frente era só não olhar para trás.

    Ela entrou num shopping shing-ling e esvaziou os bolsos num balcão. “Quanto tempo faz você roubar isso?” “Foi tudo agora, se você correr para mudar o PIN não vão nem conseguir travar.” “Você boa.” “Me paga.” O chinês, que na verdade é coreano, deu o dinheiro e Bruna colocou as notas no sutiã. Como uma estudante de uma faculdade tradicional qualquer ela caminhava desapercebida pelo formigueiro do centro da cidade.

    De repente Bruna sabia que estava sendo observada. Manteve as mãos quietas nos bolsos e continuou a tocada firme. Girou só um pouco a cabeça, como quem quer ver o que esta acontecendo em volta de si, e percebeu que ele estava três passo atrás, do seu lado esquerdo, falando num celular. Quando ela se virou para frente de novo ele tocou seu ombro e se aproximou. Num terceiro movimento um cano frio tocou a sua cintura. “Só vem comigo. É só uma conversa.” Avessa a chamar atenção ela só seguia a direção que o cano apontava.

    Os dois entraram num prédio com aspecto de velho, depois numa das salas do sétimo andar. Ele pediu para que Bruna encostasse na parede para ser revistada. “Cuidado com essa mão aí!” Ela falou só por implicância. “É estranho quando é o seu bolso com uma mão que não é a sua?” O capanga abriu a porta de outra sala e mandou ela entrar. Um velho carcamano meio chinês (ou coreano?) estava sentado do outro lado de uma mesa. “Entrar cara Bonnie. Você saber quem ser eu?” “Não.” “Eu ser quem todo mundo que fazer coisa errada alguma aqui ter que pagar. Me entender?” “Não vou mais fazer nada de errado aqui então.” “Vai sim. Vai porque você boa. Vai porque Sr. Antônio ganhando muito dinheiro vendendo o que você entregar ele, e eu ganhar muito dinheiro também. Vai porque eu querer que você vai.” Ela ficou olhando sem saber o que falar. Não precisava ter assistido um filme do Scorsese para entender o que estava acontecendo. “Agora o Sr. Antônio me pagar 20% do que você ganhar, porque ele pagar sua parte mim. Assim nunca precisar nós ver. Entender?” Bruna acenou que sim com a cabeça sem conseguir mais esconder o medo. “Agora poder voltar ao trabalho.” Ela se levantou e saiu.

    Indignada ela foi em direção ao cubículo do Sr. Antônio no shopping shing-ling. “No que você me enfiou seu chinês desgraçado?” “Calma. Não nervosa.” “O que você falou para ele seu cretino?” “Que você ser boa. Ele proteção. Você não cadeia.” “Proteção o escambau! Não tenho dono!” “Calma. Não nervosa. Eu paga metade sua parte. Pronto.” “Chinês burro!” Ela voltou para o mundo sem muito destino. Tinha o trabalho do dia no peito e percebia o tempo todo que estava sendo vigiada. Irritada com toda aquela situação ela entrou repentinamente num ônibus sem nem ver a bandeira e saiu dali.

    Conseguiu se virar por três dias com o dinheiro que tinha até se entregar a loucura orgânica do calçadão do centro da cidade. No momento em que desceu a ladeira, e avistou a massa desordenada de carne humana atravessando o viaduto, já sabia que estava sendo vigiada. Fez uma primeira coleta de aparelhos e voltou para o box chinês-coreano. “Você não aparecer. Eu ficar preocupado.” “Preocupado porra nenhuma. Quem mais vai querer me extorquir dessa vez?” “Que? Eu não entender você querer dizer. Istoiqui?” “Tá bom, tá bom. Só me dá meu dinheiro. Entender me-dá-dinheiro?” “Sim, sim.”

    Ela pegou a grana e voltou para as ruas. Não procurava mais quem há estava seguindo, apenas sabia que eles estavam lá. Então começou a se exibir. Primeiro roubou a carteira de um executivo depois de um encontrão 'acidental'. “Desculpa” foi tudo que o palerma disse para ela, que respondeu com um sexy “tudo bem” enquanto enfiava a carteira dele no bolso da calça. Mas não conseguia fugir de sua especialidade, as chicotadas. Viu o cordeirinho vindo de longe. Digitando compulsivamente. Levantava a cabeça sem o menor foco. Ajustou a direção para passar ao lado dele. Calculou a rota de fuga por detrás da presa. Colocou as mãos no bolso do moletom e foi para cima com a confiança de uma leoa que ataca um cervo em campo aberto. Quando ela estalou o braço de volta com o celular na mão sentiu um empurrão por trás. “Sua larapia maldita!” Não conseguiu distinguir as palavras enquanto caia esbarrando nas pessoas e abrindo um círculo no meio do povo. O dono do celular virou lobo e foi para cima dela uivando. Socos, chutes e pontapés aos gritos de “mata! mata! mata!” da torcida. Toda encolhida no chão ela foi resgatada por duas mãos e arrastada para dentro de um carro. Bruna tremia e chorava descontroladamente. Só começou a se sentir mais segura quando percebeu que era o capanga do velho carcamano meio chinês que dirigia o carro.
  • Daily routine facts

    Translation | Eder Capobianco

    I arrived home already was nine at night. My wife was sitting on the sofa, smoking. The sofa was old, moss green. It has been another green one day. It had a raggeds parts, it was not comfortable to sit on that sofa. She was wearing a tank top that stank of housekeeper. An old shorts, with an old slipper completed the costumes of my lovely wife. I do not know with what intention she passed a cheap lipstick and combing her long broken and oily hair.

    I threw my blazer on top of a lot of stuff that had in the living room table. It was not difficult for the plate from which had dinner noodles last night were still there. If it dirty my jacket I had no other to go on my work tomorrow. I put the briefcase on the ground and into the kitchen.

    It stank as my meal. I had a dish made with egg, cabbage, beans, rice and potatoes. After so many years I have concluded that my family likes the smell of my fart. I had a lemonade glass (only one glass!), in the refrigerator. Paper napkin was something only when someone had picked up a lot in fast food close to home. That has not happened for a few months.

    I pushed the things out carefully on the table. Getting a space to sit and eat. It was muffled and the whole apartment smelled like cigarette. It did not take two forkful until someone would interrupt me. Home sweet home. The burden who accompanied me for ten (long) years stand up with the cigarette in his left hand, and the ashtray on the right, sat on my side and said, "we need to talk."

    A million of answer passed to my mind in this moment. “We need divorce.” “We need to free ourselves each other.” “Take the house and the kids.” “No mess with me!” “Fuck you!”

    I did not look for she to avoid any of the answers. I continued eating and she started. “No longer stand this life. The childrens complain all day long that has nothing to do. The telephone is cut off for more than a week. Every day comes a bill collector at the door. You need to do something.”

    It is impossible to describe what I felt at that moment. I stopped for a few seconds. I felt I was bending the fork. I took a sip of juice. I took the bent fork and before the food reach my mouth she started screaming. “SAY SOMETHING! YOU DON'T CARE COUSE AREN'T YOU HERE ALL DAY. THESE IMPS NOT STOP TO FIGHT. I CAN NOT TAKE MORE, DO NOT take any more, can not take......”.

    After that she fell and began to weep. Feel sorry for her. The two childrens looked scared by the bedroom door and cried. I stand up and went to my room. I opened the wardrobe and the door fell. I sat on the bed. I lit a cigarette. I went to the door and looked out. The scene was all on the floor and a chorus of sobs with television talking about the inflation background.

    I put a t-shirt, a shoe and old pants. I took my wallet, my cigarettes and went toward the door. I heard when she asked where I was going. I passed in the pub, took a shot of something and went to the bus station. The first bus to the Acre went out at midnight. I bought a ticket and went to sit in the platform to wait. It was eleven o'clock when she smiles for the first time in at least ten years.

  • E se…..?

    Maria poderia ter saído de casa com 18 anos para fazer faculdade de direito no interior. Lá conheceria José, João e Gabriela. Juntos passariam por emoções e decepções que iriam marcar suas vidas. Descobririam tudo que se poderia saber sobre sexo, drogas e Rock’n Roll. Graças a uma empatia explicável apenas pelos fatos de estarem na mesma classe, no mesmo ano e com a mesma idade, montariam uma República, onde todos aprenderiam como conviver com as diferenças alheias, além de aprimorarem suas habilidades em lavar louça, cozinhar, limpar banheiro. Ela se apaixonaria por João, com quem namoraria por algum tempo antes de descobrir que, na verdade, João vinha de uma família tradicional que o havia convencido que lugar de mulher é em casa, cuidando do marido. Depois de muito chorar pela descoberta de um cretino João se aventuraria com Gabriela na busca de novos sabores.
    Ainda no primeiro ano Maria entraria para o grupo de estudos aristotélicos e o Coletivo de Advogados Culturais. Descobriria anos mais tarde que o professor que orientava as discussões no grupo poderia ser seu orientador no mestrado. Também entenderia que as leis não são feitas para proteger as pessoas, e sim para proteger o sistema delas. Através do Coletivo teve contato com Mateus, um escritor de contos que estaria processando uma emissora de televisão que tinha usado um texto seu como argumento para uma novela. Mais uma vez se veria enterrada no poço sem fundo do amor. Seu novo namorado faria Maria conhecer os prazeres de Ovídio, passaria horas ouvindo o Bolero de Ravel com ele e finalmente entenderia que o sentido da arte abstrata é uma emoção que esta além dos signos. Frequentaria restaurantes e conheceria artistas que jamais imaginou ter algum contato. Se sentiria tão vislumbrada pela arte, e o estilo de vida que ela proporciona, que até pensaria em largar a faculdade de direito. Primeiro para ser artista plástica, depois apostaria na carreira de atriz, e no fim optaria pela independência que havia conquistado através da bolsa na faculdade às incertezas da vida de artista. Foi mais ou menos na mesma época que percebeu que o mundo em que Mateus vivia jamais seria o dela, e novamente se sentiria sozinha na busca de um sentido para a vida.
    No fim do terceiro ano decidiria que iria ser juíza no Superior Tribunal de Justiça. Deixaria de morar em Repúblicas para ter seu próprio espaço, onde organizaria melhor as coisas e poderia aproveitar mais o tempo para estudar. Por obrigatoriedade acadêmica começaria a fazer estágio numa delegacia de polícia. Lá lutaria, bravo e inutilmente, contra um sistema que marginaliza cidadãos segundo sua origem, profissão, entre outros absurdos. Maria defenderia vagabundos, traficantes e pais de família contra as injustiças promovidas pela justiça. Seria quando se veria pela segunda vez em crise com a profissão de advogada. Cancelaria o projeto de ser juíza e o mestrado para, após o fim da faculdade, ter um ano sabático mochilando pela América do Sul. Faria o caminho da morte pelas estradas e trens da Bolívia até Machu Picchu, procuraria as tartarugas gigantes de Galápagos, veria a Cordilheira dos Andes como uma paisagem que jamais imaginou fora do cinema, chegaria a Patagônia com um fascinante brilho no olhar e cheia de confiança para recomeçar tudo como psicóloga. Ia querer entender as pessoas e realmente fazer a diferença em suas vidas. Continuaria a viver de bolsa e faria outra faculdade. Tomaria mais cuidados com as amizades e iria morar sozinha. Teria um caso com Ederson, do mestrado de letras, e sofreria de paixão por Valéria, uma garota mais nova de sua classe que ainda acreditava no poliamor.
    Focada como nunca em atuar como psicóloga em zonas de guerra aprenderia inglês e francês para poder fazer parte da Cruz Vermelha. Mudaria de ideia antes do fim do segundo ano ao embarcar para um longínquo e quase perdido vilarejo no meio da Amazônia com o Projeto Rondom. Pensaria que primeiro era preciso mudar ela mesma para depois mudar o mundo. Para isso Maria precisaria se conhecer melhor. Entraria num grupo de estudos foucaultiano e começaria a fazer Yoga. O resultado natural seria uma aproximação com Ederson, que era praticante de técnicas de meditação, e o controle do sofrimento com Valéria. Cansada de viver de bolsa se lembraria do seu diploma, tiraria a carteirinha da Ordem dos Advogados do Brasil e começaria a advogar. No começo seriam apenas os casos designados pela Ordem como defensora pública, mas seu amplo conhecimento das leis, e seu profundo saber aristotélico da retórica, fariam ela se destacar entre seus pares facilmente. Antes do fim da segunda faculdade já estaria envolta em diversas propostas para se juntar aos mais prestigiados escritórios da cidade.
    Por fim, o curso de psicologia lhe daria o equilíbrio necessário para lidar com as piores situações possíveis. Ficaria famosa por defender um pai e uma mãe do assassinato dos filhos por afogamento. Conseguiria uma pena branda num hospital psiquiátrico para os dois, alegando que a crescente pressão exercida pela sociedade para que eles fossem uma família de comercial de margarina havia os levados a um estado de surto incontrolável. Quando Ederson terminasse o doutorado os dois decidiriam morar juntos. No começo ele iria morar na casa dela, que teria muito mais estrutura. Mas isso seria por pouco tempo. Os dois se dariam tão bem que rapidamente comprariam um apartamento no centro da cidade, para ela ficar mais perto do escritório e do fórum. Planejariam o primeiro filho, que se chamaria Arnaldo, mas a segunda, Camila, viria por um descuido do amor. Se mudariam para uma casa com mais espaço e um pouco de grama para as crianças. Viveriam bem até a primeira crise financeira da família, que seria quando o escritório onde ela era sócia perderia uma série de causas trabalhistas e quase iria a falência, ao mesmo tempo que ele seria demitido da faculdade onde dava aulas por discordar abertamente do governo. Ele arrumaria aulas em outro lugar, e ela passaria num concurso público de promotora, e depois de uns dois anos patinando a vida seguiria no rumo do e eles foram felizes para sempre…….ou não. Mas Maria se casou com Manuel, para não sair da casa dos pais brigada, e foi trabalhar como caixa de supermercado.
  • Fábrica de chocolate verde

    Em dias como este eu realmente não queria existir. Nos outros também não, mas nestes, em espacial, não queria mesmo. Não sei por quê acordei. Não quero saber a hora. Nem o dia. Não quero viver. Se a cama não estivesse molhada com toda imundice que meus poros expeliram nas últimas horas poderia morrer sem sair dela. Iam demorar mais de três dias para alguém me achar porque os vizinhos já estão acostumados com o cheiro podre que esse lugar exala. Se um banho fosse só o começo da solução dos meu problemas eu tomaria um. Talvez o Grande Arquiteto ainda me mantenha respirando como prova viva da degradação do ser humano. Para continuar nessa grande missão preciso beber. Por isso coloquei uma roupa seca e fui para o bar do Jaime. Sentei e pedi dois ovos de codorna e uma pinga. Olhei para a televisão e uma senhorita loira, limpinha e perfeita, tentava convencer o mundo de que uma câmera fotográfica não era só uma câmera fotográfica, além de tirar fotos ela cozinha, lava e passa, e valeria um milhão, mas poderia ser comprada por dez meras parcelas de sei lá quanto. Acho que uma propaganda de cigarro seria mais honesta, e que definitivamente o sol não brilha para todos.

    Investi meus últimos trocados em uma garrafa de cerveja. Eis uma coisa que pode tornar a vida de um homem melhor. Entre um apresentador que tentava vender cintos de couro e os comerciais um cara entrou no bar, cercado de mais três inúteis, e sentou do meu lado. “Você quer cem mangos?” “Se o Jaime não cobrasse por esse mijo de égua quente, não.” Entrei na caçamba de uma caminhonete e saímos pela cidade como ratos que correm num labirinto. De repente a porta de um depósito se abriu e entramos como o Batmóvel na Batcaverna. Lá dentro o Alfred se agarrava num trinta e oito enferrujado e ninguém parecia muito interessado em fazer justiça. Tinha uma prensa gigante, uma embaladora a vácuo, cortadeira, esteira rolante e tudo mais que uma linha de produção precisa para funcionar. Como soldados amestrados cada um foi para sua posição no campo. O coronel apontou para o lado e começou a falar. “Esta vendo aqueles tijolos de maconha caindo da esteira no carrinho?” Eram dezenas, um cego veria, não tinha como negar. Só disse que sim com a cabeça. “Você espera o carrinho encher, tira ele, coloca um vazio e esvazia o carrinho cheio dentro daquele contêiner, entendeu?” Mexi a cabeça para cima e para baixo.

    Assumi meu posto e o balé começou. Primeiro um peão misturava um saco de alfafa com um saco de maconha, então jogava tudo num misturador. De lá o blend escorria para a prensa, que transformava tudo em tijolos de um quilo. Depois eles passavam pelos embaladores, que por fim descarregavam o produto na esteira rolante que ia até mim. Fazia um esforço desgraçado para arrastar as rodinhas que deveriam rolar. Com a ajuda de uma alavanca emperrada tinha que virar aquele monte de mato prensado dentro da caixa de bombons jamaicanos gigantes. Na terceira viajem minhas costas começaram a avisar que eu ia ter que fumar muito daquilo para ela não reclamar por semanas de tanto esforço. Foram três horas de trabalho e, quando eu já não sentia mais nada, tivemos um momento de descanso. Aparentemente o gerador que movimentava aquelas geringonças tinha ficado sem combustível. Nem máquina funciona sem álcool, por quê eu seria diferente? Alguém apareceu com um baseado gigante bolado e os desocupados fizeram uma roda para celebrar a fartura. “Dizem que a maconha pode ser usada para fazer tecido, papel, óleo e mais não sei o que. Será que dá para fumar roupa de maconha?” Falou o cara do baseado. “Claro que sim, é de maconha.” Respondeu um outro qualquer. Pensei que as vezes a verdade não importa tanto e fiquei quieto.

    O ritmo de trabalho tinha ficado alucinante depois de um bom tempo parado. O efeito do baseado havia deixado todo mundo meio introspectivo e o silêncio reinava. “Vamos seus molengas. Você são vagabundos, não putas. Não estão ganhando por hora.” O coronel agora tinha virado leão de chácara, poderia até usar um chicote se tivesse um. As máquinas faziam um barulho ritmado que poderia estar tocando numa daquelas festas que acontecem bem longe da cidade e duram o dia e a noite inteiras. Comecei a viajar que aquele carregamento ia abastecer malucos de todas as partes do mundo. Se estavam colocando em contêiners é porque iam transportar num navio. Para Europa provavelmente. Talvez os caras do Led Zeppelin fumassem ela, ou uma modelo antes de um desfile de moda em Paris. Com certeza uma parte ia ser fumada na rua, por estudantes e professores. Em algum lugar um padre meio pecador poderia fumar ela. O mundo inteiro poderia ser feliz com aquele tanto de erva. Tanta maconha assim poderia até parar uma guerra. No meu céu todas as nuvens tem um pezinho.

    Quando eu estava perto de fumar um baseado com Deus e o Diabo para selar a paz celestial o portão da Batcaverna abriu e me cuspiu para fora do paraíso. Carrinho emperrado e alavanca arrastando eram a minha realidade, e nela ninguém parecia contente com aquele movimento repentino. Duas motos entraram com escapamentos barulhentos que não tocavam no mesmo ritmo das máquinas. O coronel começou a gritar alguma coisa sobre “o que esta acontecendo aqui!?” e foi na direção delas com um dos brutamontes. A resposta veio na forma de balas, disparadas por pequenas metralhadoras, como as que os bandidos usam nos filmes do Charles Bronson. Todo mundo se jogou no chão sem saber para onde correr. Pensei em me fingir de morto até escutar o barulho das motos saindo, mas o que escutei foi a voz de uma mulher. “Ei!” Olhei por debaixo do carrinho e vi uma loira e uma morena segurando dois capacetes e duas armas. “Vou pagar o dobro do que ele prometeu para cada um se tudo isso estiver pronto antes do sol nascer. Não parem.” Então voltamos a trabalhar.
  • Mosca morta em movimento linear uniforme [conto]

    Droga. Minha vida continua. As marcas na cara dizem que alguém tentou dar cabo dela ontem a noite. As dores no corpo gritam que tento fazer isso faz tempo, e nem isso eu consigo. Mas ao menos cada dia estou mais perto. O sangue no vômito é uma prova incontestável. Não consigo achar motivos para sair da cama. Se eu fosse o Iggy Pop todos os meus problemas estariam resolvidos, mas eu não sou. Então vou ter que continuar enfiando a mão na merda até tirar alguma coisa que salve a minha vida dessa desgraça miserável, ou ela acabe. Será que eu precisaria viver se não tivesse contas para pagar? Vou fazer um café para ver se encontro alguma coragem para encarar o mundo lá fora sem ter um surto de loucura e desespero. Ainda há cigarros, então há esperança. Tem um pedaço de queijo na geladeira, não contava com isso. Sinto a mão de Deus aqui.
    Rumo para o bar do Jaime como um rato condicionado num estudo de Skinner. É, eu posso ser um viciado, estar enterrado na bosta até o pescoço, mas eu sei quem foi B. F. Skinner e o que ele fazia nos verões passados com as suas cobaias. Não sei onde a filha do Jaime passa as tardes, mas ela nunca está por aqui. Ele não consegue disfarçar todo o desprezo por mim e o resto da humanidade. Coloquei uma nota de dez no balcão e colhi uma garrafa de cerveja e uma dose de pinga. “Eu estive aqui ontem a noite?” O velho carrancudo franziu a sobrancelha e começou a suar. Entendi como um sim. “Preciso de trabalho. Você está sabendo de alguma coisa?” Ele pegou um pedaço de papel e escreveu um endereço.
    O lugar era um armazém gigante ali perto. As portas estavam abertas, e um tipo Vic Vega andava de um lado para o outro com um copo de refrigerante numa mão e um cigarro na outra. É, eu posso ser um viciado, estar enterrado na bosta até o pescoço, mas eu também assisto aos filmes do Tarantino. “Quem te mandou aqui?” “O Jaime, do bar. Perguntei de trabalho e ele me deu seu endereço.” “E você aguenta o trabalho pesado?” “Se eu não aguentar você não me paga.” “Fechado. São cem mangos. Espera com o resto ali que o trabalho já está chegando.” “Tem um cigarro?” O cara ficou me olhando como seu eu tivesse falado qualquer coisa absurda, tipo, você chupa pinto? “Não.”
    Fui me juntar aos outros. Fiz um sinal e o camarada com cara de marinheiro sem navio me deu um pouco de tabaco e um guardanapo de lanchonete. Éramos seis. É, eu posso ser um viciado, estar enterrado na bosta até o pescoço, mas eu sei que esse é um livro do Maria José Dupré adaptado para a televisão e o cinema, mas não tem nada a ver com o contexto aqui. Sei o que é contexto também. E estamos falando só de seis pessoas que não falavam nada, e a maioria preferia ficar olhando para baixo a maior parte do tempo.
    Três caminhões refrigerados entraram no depósito ao mesmo tempo que o metido a chefe que não era chefe de porra nenhuma gritou: “Vamos cambada de vagabundos. Chegou o trabalho.” Eles abriram as portas e entre as carcaças mortas e penduradas por um gancho havia caixas com sabe-se lá o que. “Vamos seus preguiçosos, todas as caixas para fora. Rápido.” Alguém tirou um par de tábuas de madeira de não sei da onde e fez uma rampa no primeiro caminhão. Cada caixa devia pesar uma duas toneladas. Ok, não eram duas toneladas, foi só uma ironia. É, eu posso ser um viciado, estar enterrado na bosta até o pescoço, mas eu sei usar figuras de linguagem.
    Tinha um moleque tosco que queria provar alguma coisa para não se sabe quem. Enquanto todos os outros vagabundos fodidos descarregavam uma caixa ele descarregava duas. Quando começamos o segundo caminhão tinha a sensação de que não ia conseguir chegar até o fim daquela empreitada. O Vic Vega apareceu na frente da rampa e gritou para mim: “Ei, estorvo, se não aguentar eu não pago, lembra?” Os tiros começaram enquanto ele ria. Um o acertou em algum lugar e ele caiu. Me escondi no fundo do caminhão e só escutava gritos, tiros e o estalar dos metais. De repente o caminhão começou a se mexer, saiu do galpão e acelerou sem dó pela rua.
    Me sentia como o Eddie Murphy nas primeiras cenas de Um tira da pesada I. É, eu posso ser um viciado, estar enterrado na bosta até o pescoço, e ter desperdiçado a adolescência assistindo Sessão da Tarde, mas e daí caralho? O caminhão parou me lançando para o chão e o fundo do baú simultaneamente, confirmando violentamente todas as leis de Newton. Foda-se se eu sei ou não as três malditas leis de Newton. Sai correndo e pulei no meio do trânsito. Era um semáforo. Escutei a porta da cabine do caminhão abrir e um grito de “Ei!” e corri como nunca meio abaixado até conseguir virar a esquina. Me certifiquei de que não estava sendo seguido e percebi que estava todo cagado e mijado. As pessoas desviavam de mim e eu tremia como uma máquina de lavar roupas velha. Fui para casa antes que alguém me oferecesse ajuda.
  • MYSTICA STATERA por Lux Burnns O tomo para iniciantes

    Sumário
     Agradecimentos..........................3
     Introdução......4
     Capítulo 1- O nascer e o torna-se.....5
     Capítulo 2-Realizando a magia.......12
     Capítulo 3- A magia é vida, mas não é um ser 
    vivo....20
     Capítulo 4- O mundo sem o véu..........26
     Capítulo 5- O fanatismo, o grande o veneno mágicko......33
     Capítulo 6 - A verdade liberta, mas é dolorosa....39
     Capítulo 7 - DIY mágicko.............47
     Capítulo 8 - A bruxa que vive entre os santos e os pecadores............ 54
     Capítulo 9 – Os Deuses, e o Fim da farsa da Realidade Dualística...... 59
     

     
     
    Agradecimentos
    Minha gratidão é voltada para o meu companheiro Soul, que me apoiou desde o início desta caminhada, me ajudando a melhorar ainda mais como ocultista, e jamais desistir das minhas convicções, mesmo quando o mundo inteiro, parecia discordar das mesmas. Também deixo minhas graças aos meus amigos: Lua Negra, Srtoa Gamab, Milliato, Rivendell, Srta Rabbith, Mandy, Tha, a Witch born on fire, e Isa, que me ajudaram a perceber quê este tomo poderia ser útil as próximas gerações. Por fim reconheço também o auxílio de minha mãe Silvana, que apesar dos pequenos atritos pelas crenças diferentes, sempre acreditou em mim e nos meus ideais. Obrigado a todos vocês, que me deram ânimo para chegar até aqui, e terminar este projeto. Não sei o quê me aguarda depois disso, mas certamente é um feito e tanto, e me orgulho por plantar esta semente, que vocês com carinho e paciência regaram.
     

    Introdução 
    É válido mencionar, que jamais tive a intenção de escrever um livro voltado para o aprendizado dos demais. Afinal há muitos autores, infinitamente melhores do quê uma velha bruxa, em um corpo não tão jovem. 
    Mas devido ao grande número de desinformados, que se acham conhecedores do mistério, e tudo o quê mesmo representa, vejo que é hora de assumir o meu manto de ocultista outra vez, e trazer-lhes algumas verdades nada convenientes. 
    Não estou aqui para lhes ensinar fórmulas, que vão mudar as suas vidas num estalar de dedos. Muito menos sobre como devem adorar seus deuses, ou o quê é o certo e o errado. Não sou uma bússola moral para tomar tal partido, apenas viajo de mundo em mundo, para libertar aqueles que aceitam o preço da liberdade. A ignorância pode ser uma benção, mas é a coragem que determina quem tem a chave do tudo. O inimigo é astuto, logo devemos ser justos, mas isto não significa dissociar, e se abster, e sim que devemos está preparados. Você pode não compreender estas palavras no momento, mas logo entenderá o quê cada frase significa.
     Se escolheu decifrar este livro, é porquê ouviu o chamado, mas não estou falando dos filhos do sol, e sim de algo mais amplo e intrigante.
    Há memórias de um mundo que querem te fazer acreditar que não existe. Há poderes que um ou nenhum dos seus parentes consegue explicar. Há mistérios em teu íntimo, que quer desvendar.
    As respostas estão presentes aqui, mas está pronto para ouvir o quê a primeira causa tem a dizer? Não será um caminho fácil, por isso é necessário que esteja pronto para esta jornada, que saiba no mínimo o quê é a espada e o escudo, e como usá-los. Do contrário será devorado pelos teus demônios, antes mesmo de ouvir a palavra da força geradora.
    Eu sei, parece o roteiro de algum filme de ficção científica bizarro, porém tudo o quê for mencionado aqui, será focado na minha experiência real como bruxa, e no aprendizado que isto me trouxe no decorrer do tempo. Está preparado? Então vire a página, pois a aventura o aguarda jovem peregrino.
    Capítulo 1
    O Nascer e o Tornar-se 
    Vivemos numa sociedade cheia de liberdade, que acredita bastante no ideal de igualdade, e que todos podem entrar no mundo da magia, sem discriminações de espécie. 
    Não estou aqui para me impor sobre tal coisa, porém acredito -e é o quê devia ser ensinado- que há aqueles que nascem com a predisposição para a magia, e os que infelizmente, não foram agraciados pelas divindades.
    Isso faz com que estes sejam mais fracos? Não. Eles devem ser escorraçados, e friamente criticados ? Também não. Apenas devem ter consciência de quê a sua busca, certamente será mais trabalhosa e longa – ou não se souber usar os meios certos, mas não vem ao caso – Por isso jamais devem se comparar aos que possuem habilidades naturais, pois tal atitude culmina em desencontro com o propósito inicial, de descobrir-se neste caminho.
    Não pense em nenhum momento, que o fato de ser somente humano te faz inferior, isso não significa muita coisa, quando você sabe que há meios de melhorar as suas habilidades.
    Já os predispostos, deveriam entender que o fato de terem recebido dons da natureza, não os faz automaticamente deuses, apenas lhes dá alguma vantagem em relação aos outros. Mas uma vantagem, não significa uma vitória garantida, portanto devem estudar e se preparar, tanto quanto os que não foram agraciados, para superar suas limitações, que sim existem.
    Não importa o quê são capazes de fazer - se levitam, se incendeiam, se preveem, manifestam, projetam, e tudo mais-  isto não os faz bruxos, apenas são detentores de habilidades especiais. Tanto o filho de um deus, quanto o filho do homem, precisam de treinamento, e conhecimento, para poder serem dignos de tal alcunha.
     
    É nos ensinado desde o começo, que precisamos andar em grupos, para poder obter o grau de bruxo, mago, ou feiticeiro. A sociedade mágica insiste em seguir essa premissa, mesmo nos tempos atuais, e isso atrasa bastante a vida de um novato.
    Grupos, como: Ordens e Covens, Podem até servir para ajudar no entendimento de certos assuntos, mas a realidade é que se queres realmente o poder, não deve seguir com ninguém mais, além de ti mesmo.
    Afinal de contas, o ocultismo no fim é apenas uma forma de encontrar-se, e não é no meio da multidão, com suas ideias diversificadas, que conseguirá te achar, no máximo ficará ainda mais confuso e perdido.
    Você se encontrará apenas quando não houver ninguém por perto, quando estiver sozinho num quarto escuro ou claro, questionando-se sobre o quê é, como, e o porquê das coisas.
    Por isso não acredite em líderes, que fazem questão de impor que precisa deles, acredite em ti mesmo, e naquilo que vai de acordo com a tua personalidade, e o quê tu consideras certo ou errado.
    E este tópico nos leva a outra questão. A magia tem se tornado um grande alvo do entretenimento. Para onde olhar  há “bruxos” ou “seres místicos”. O quê é uma coisa boa, mas somente para a diversão, pois tudo o quê se encontra nos filmes, seriados, desenhos e afins, são apenas fragmentos de textos ocultistas, e qualquer um de bom senso sabe, que não dá para entender o texto com apenas um verso, pois o mesmo pode servir para expressar diversas possibilidades, e se apenas escolher ler tal parte, jamais entenderá o contexto para que foi criado, por isso não use tais meios para aprender sobre o caminho. 
    A verdadeira magia, influencia o ambiente, mas o ambiente não influencia a magia. Logo uma obra midiática pode ser inspirada em algo oculto, só o quê o oculto, não pode advim de uma obra midiática, do contrário todo o entendimento se perde, e em vez de formar a sua inteligência divina, apenas a degrada e a transforma em loucura vã.
    Um bruxo de verdade- homem ou ser mágico- Sabe disto por instinto próprio. Entretanto com tantos jovens adotando posturas erradas, por conta do quê assistiram, é sempre bom frisar tal fato.
    Como disse antes são verdades inconvenientes, por isso não espere que eu vá apoiar uma conduta tão inapropriada para o ocultista.
    Queres ser um bruxo? Então leia, pesquise, estude, questione-se, e faça-se um. 
    Não espere que apenas porquê mudou o caminho, e deixou de seguir com as ovelhas, tudo será mais fácil. Verdade seja dita, se quer conforto, e evitar desafios que podem te fazer desmoronar, seu lugar não é aqui. Não importa se tem o sangue, sem essência jamais conseguirá sair do lugar.
    A magia não é um caminho simples, nunca foi. Apenas os que se encantam por sua versão comercializada de luzes e pó brilhante, acreditam nesta falácia.
    O agraciado deve aprender a controlar seus dons, para não ferir os que não merecem receber tal castigo, e o humano deve procurar meios, de melhorar seu espírito, ou DNA cósmico, para garantir que conseguirá manifestar alguma habilidade.
    Só que ambos precisam passar pelo mesmo processo árduo e cansativo. O agraciado, que nasceu com poderes sobrenaturais, precisa torna-se aquele que tem controle de si, e o humano que tem o controle da sua mente, precisa destruir todas as barreiras impostas, para então nascer como um ser sobrenatural.
    Ambos são como a metade um do outro, mas precisam focar em suas limitações, pois o primeiro poderá sofrer consequências desagradáveis, e o segundo precisa achar meios, de fazer-se tão forte quanto o outro, mas no fim os dois se encontram no mesmo patamar, por isso seus caminhos, ou o quê são , não interessa.
    É dito que para ser um bruxo, é necessário uma iniciação, canalizada por sacerdotes e sacerdotisas, que receberam o chamado dos deuses, e toda aquela parafernália, que estamos cansados de ouvir.
    A iniciação é um processo necessário sim, mas não precisa vim das mãos de alguém que diz ter sido “tocado” pelos deuses. 
    Haverão aqueles que certamente discordarão de mim, pois são tão tradicionalistas quanto os cristãos ortodoxos, contudo esta é uma verdade inegável.
    Não estou dando pontos a favor de rituais de meia tigela, encontrados na vasta rede, que fique claro. Apenas acho justo mencionar, que tais postos – sacerdotes- não torna os homens e as mulheres detentores da verdade, pois para aqueles que podem ver, a mesma   é revelada dia após dia, fora dos templos “sagrados”. 
    Aliás creio que o grande segredo, é apenas um pedaço de papel vazio, que nada diz, pois o axioma está no vento, na água, na terra e no fogo, não nas palavras ditas por um mestre.
    Você é o quê acredita ser, não o quê os outros impõem sobre ti.
    A iniciação nada mais é que um processo psicológico, no qual você condiciona o teu cérebro, para se abrir a possibilidades, que por anos foram lhes ensinadas como impossíveis.
    É importante pois o poder, embora se manifeste em nossos genes, vem da mente. 
    É um fato científico, pois por mais que muitos duvidem, a magia é sim ciência, pois pode ser estudada, verificada e comprovada.
    Os neurônios são responsáveis por tudo o quê fazemos, seja bom ou ruim. Assim se você acredita firmemente, que ao chegar do outro lado de uma rua, vai acabar caindo, esses impulsos químicos captam a mensagem, e fazem com quê sofra o acidente, porquê os manipulou para isso.
    Este é um caso simples, mas há situações ainda mais “inexplicáveis”, nas quais as pessoas sofrem de males mentais, que podem provocar sintomas físicos, mesmo que não haja aparentemente nada para causar dor, são as chamadas doenças psicossomáticas.
    É por isso que um bom bruxo, precisa ter um ótimo preparo mental, ou a sua magia não obterá resultados.
    Não adianta nada você nascer com a predisposição, ou procurar pela essência sem acreditar nelas, pois em ambos os casos, não conseguirá despertar suas verdadeiras habilidades.
    Já viu que pode levitar, ou incendiar as coisas por exemplo, só que na hora de provar os teus poderes, há um bloqueio.
    Sozinho chega ao teto, queima a toalha da mesa. No entanto na presença de amigos, é visto como louco, pois seus pés não saem do chão, ou acreditam que usou o isqueiro, para forjar provas.
    Isso te faz achar que enlouqueceu, que os outros estão certos, e que é melhor evitar as suas “habilidades imaginárias”. Não é?
    Esse certamente é o caminho mais fácil, mas como disse antes o caminho é difícil, não adianta fugir no primeiro obstáculo.
    Esta é apenas a prova, de quê precisa tornar-se aquele que controla a si mesmo, para poder provar aos outros, do quê realmente é capaz.
    É a evidência de quê a predisposição, não é o suficiente, se em nada acredita – Principalmente se duvida de si.
    Já no caso dos humanos, a situação é um pouco diferente, pois este ainda não manifesta nada, mas precisa se desamarrar das correntes de concreto da sociedade, na qual foi inserido.
    De outra maneira, achará apenas os que lhe oferecem um lugar, servindo aos deuses, mas jamais um acento do lado dos mesmos.
    O ser humano, está acostumado a ter tudo nas mãos, e a seguir sempre aquilo que o torna o maior dos maiores, e é isso que tem que acabar.
    Há uma hierarquia no mundo mágicko, que deve ser respeitada. Só que o fato de hoje ser apenas homem, não implica que amanhã também será, então é preciso que aprenda a aceitar as suas limitações, e a conhecer melhor as possibilidades.
    Seu mundo é pessimista demais, ou exacerbadamente otimista, você não tem equilíbrio, vive mergulhado em caos, engolindo os ideais daqueles que supostamente estão acima de ti, sem nunca levantar a voz.
    É preciso que entenda que você tem sim voz, que o quê sente importa, que há muito mais do quê somente um planeta abrigando a vida, e -comprovado por Galileu Galilei- A Terra não é o centro do Universo.
    Desse modo, quase tudo o quê lhe ensinaram até o momento, pode ser mentira, ou uma verdade mergulhada em mentiras, ou seja há fatos que são claramente falsos, e outros embora pareçam como tais, são verdadeiros.
    É preciso que entendam suas limitações, ou a magia nunca funcionará.
    A iniciação além de expandir a sua mente e elevá-la, é também o  desenvolvimento de uma conexão mental do seu eu e o cosmos, e por isso deve ser considerada “sagrada.” 
    Assim sendo quando for realizá-la, não vá procurar por “receitas de bolo” prontas, como se houvesse alguma nova bruxa, que fosse a Ana Maria Braga da Magia, pois não há - se houvesse todos teriam poderes e entendimento, e não é o que acontece.
    Somos todos mestres e aprendizes de nós mesmos, mas devemos sempre procurar sermos a melhor versão. - É importante frisar, porquê se tu é o teu mestre, logo irá crer que pode fazer o quê quiser, como se ser um mestre, significasse que é Deus, e pode mandar e desmandar. Mas não é bem assim.
    Ser o teu próprio mestre, significa melhorar-se nos aspectos necessários. Crescer, e desenvolver-se, para alcançar os teus objetivos, não interessa se são bons ou ruins, pois bem e mal é relativo -O quê é bom para mim, pode não servir para ti.
    A iniciação, mesmo que realizada por tuas mãos, ainda é um ritual, e por isso dependendo do Deus que escolher seguir, deve respeitá-la como tal.
    Se queres obter sucesso e expandir teus pensamentos, é preciso que ouça a tua voz interior. Mas esta voz não nasce do nada, ela não é uma ideia absurda que lhe vem ao pensamento, e tu executas, isso se chama criatividade, não o chamado interno.
    Para realizar uma iniciação de sucesso, é necessário, que conheça os cultos anteriores dedicados ao Deus com o qual escolheu aprender. É uma forma de honrá-lo, e a ti mesmo também, para quê não passe vergonha entre os outros ocultistas, e consiga calar a boca dos iniciados.
    Eu escolhi aprender com Satã, logo me utilizei de velas negras,  símbolos profanos, e materiais de corte, para realizar a minha auto-iniciação.
    Sou uma predisposta, nasci numa família, que embora hoje sirva a Yaweh sob a luz, um dia serviram ao seu lado negro, conhecido como Adonai.
    Por isso consegui aprender muita coisa, sem a interferência de mestres e iniciados. Já tive a oportunidade de andar com grupos. Mas os “mestres” que apareceram em meu caminho, mais me atrasavam, do quê me ajudavam a entender a minha verdade.
    Entendo muitos conceitos místicos, por intermédio dos deuses do abismo. Eles me ensinaram a ser mais forte, e me indicaram o quê procurar, para achar as respostas, por isso sou muito grata a eles, e defendo minha versão da veras mística. (Ou verdade mística)
    É significativo mencionar que os deuses, embora nos guiem pelo caminho, eles jamais podem andar por nós, sendo assim não espere que o Deus escolhido, te entregue todo o material, que precisa para alcançar o teu objetivo, eles te darão a chave, mas a porta quem procura é você.
    Outra coisa, se teus caminhos se abrem com facilidade, há apenas duas explicações: O teu papel é pequeno, logo suas limitações são fáceis de superar, ou já sofreu o suficiente, para entender como alcançar aquilo que mais deseja.
    Após passar pela iniciação, e receber sinais – isso mesmo sinais, e não sinal- de quê o Deus escolhido te acolheu entre os seus, você agora vai definir como deve estudar, e mensurar o teu aprendizado, por isso precisará de um caderno, e uma caneta, para registrar, cada coisa incomum que te ocorreu, com data, hora, condições mentais, respostas plausíveis, e tudo o quê for necessário, para provar que teu relato é verídico.
    Se é um predisposto, poderá medir a melhora do controle de teus dons, se é o primeiro da tua linhagem, poderá transmitir isso para o próximo que colocar o manto, que certamente vai aparecer, podendo ser um filho seu, ou algum outro parente.
    Coisas incomuns vão acontecer, é inevitável, faz parte da jornada. Como lidarão com elas, é que vai definir se são ou não bruxos, magos, ou feiticeiros de verdade.
    Ou acreditaram mesmo que bastava um ritual, para se tornarem algo?
    Não, não é tão simples. Se fosse, se chamaria cristianismo, e não paganismo.


    Capitulo 2 – Realizando a magia

    Poderia encher as páginas com vários sistemas mágickos, como: Herméticos,  Satânicos, Caoístas, Streghes, Célticos, Gregos, Egípcios etc. Alguns conheço a fundo, outros apenas de maneira superficial, mas não o farei. 

    Se queres conhecer cada um deles, sugiro que faça uma pesquisa, extensa e detalhada, para entender o conceito apresentado, por estas filosofias de maneira profunda.

    Como disse antes não estou aqui para ensiná-los, como adorar os seus deuses, até porquê o ato de “adoração”, é algo que me dá nó estômago, mas vai de cada um.

    Então você escolhe com o quê quer trabalhar, minha função é apenas te ensinar, a realizar o ato mágicko. (Note que há um k extra, é proposital, para separar magia de ilusionismo, e foi proposto por um famoso ocultista.) 

    Primeiramente lembre-se sempre: O poder vem da mente, e com a linguagem certa pode programá-la. Sendo assim os resultados mágickos (como respostas, questões, ou atos) são genuínos, mas o processo para se realizar o ato, pode ser provocado pela mídia. 

    Não estou me contradizendo, a magia sempre influencia, mas a mídia não deve fazê-lo, pois faz do entendedor um tolo. No entanto, se souber usá-la, pode ser bastante benéfica, na hora de preparar a sua mente, para desbravar a Terra Oculta e suas maravilhas.

    Você Não deve aceitar a verdade escrita no roteiro, pois é uma meia verdade, e toda meia verdade é uma mentira.

    Todavia se for esperto o suficiente, fará bom uso de tais artifícios, e em vez de acabar mergulhado nas trevas da insanidade, será um exímio ocultista.

    O tolo irá ouvir a música milhares de vezes, e se deixará ser controlado por ela, tornando-se mais dos zumbis da cultura popular. O astuto utilizará a mesma música, para domar a si mesmo, pois tem conhecimento dos seus efeitos e que a própria serve para controlar a mente, por isso sabe como programar a canção, para atingir o seu objetivo.

    O ingênuo assistirá um filme, e criará diversas histórias em sua mente, acreditando que aquela é a sua realidade, sem de fato ser. O desperto verá na mesma obra, aspectos que condizem com a sua jornada, e os quê também contradizem seu aprendizado. – A magia estará presente ali mas o verdadeiro ocultista, saberá sobre o quê se trata o seu contexto.

    O hipócrita utilizará lendas urbanas, para validar as suas experiências “mágicas”, e recuará quando for abordado. O consciencioso saberá que a verdade sobre as lendas urbanas, é tão pequena que passa despercebida, por isso fará o possível para detalhar o seu relato, de maneira que coincida com o quê tal criatura realmente é, pois tem o entendimento de quê lendas nascem da má interpretação dos povos sobre determinados seres. Lobisomens por exemplo podem ser criaturas provindas de Sirius B, Vampiros podem ser membros da constelação de Alfa Draconis, e por aí vai.

    A voz do coletivo precisa ser ignorada, até que se faça necessário ouvi-la, ou seja o conhecimento empírico tem de ser esquecido, até que haja uma explicação científica para o mesmo, ou uma forma de validá-lo de maneira, que não seja uma experiência pessoal.

    Encontrar-se a si mesmo é importante, contudo depois de achar-se, deve focar-se em descobrir se realmente é o quê acredita ser, pois é a mente é uma caixinha de surpresas.

    No mundo em que vivemos, o ceticismo doentio é louvado, por isso devemos dançar de acordo com a música, para poder criarmos nossos passos. Isto é necessitamos abraçar o conhecimento concreto, antes de realizar a magia. Porquê embora o espírito preceda ao corpo, a mente funciona como nossa alma, e quando a mesma é atingida, nossos resultados mágickos podem falhar.

    Não adianta tentar empregar a magia pela magia, numa sociedade que te obriga a ter respostas para tudo. 

    Foi-se o tempo que não havia explicações para os fatos naturais, e bastava curva-se para os deuses para conseguir as suas graças.

    Não é mais a Era de Ouro, os Deuses não estão mais entre nós, eles abandonaram este planeta há muitos anos, e até os seus filhos estão por conta, por isso conectar-se com os mesmos não é tão simples.

    É imprescindível que o predisposto tenha consciência disto, pois muitos filhos dos deuses, acreditam do fundo de seus corações, que nossos pais cuidam de nós, por 24 horas, como se fossem como os humanos que nos acolheram em suas casas, mas a realidade é outra.

    É, eu lamento, lamento de verdade. Mas os deuses tem seus próprios afazeres, e embora nos visitem algumas vezes, deixando rastros incontestáveis de sua presença, eles não ficam ao nosso lado todo o tempo.

    Novamente estou ciente de quê muitos tentarão me “apedrejar” por isso. Só que como disse antes, as verdades são inconvenientes, e trago a liberdade para os que aceitam o seu preço, e neste caso o preço é abandonar a carência de seus coraçõezinhos, e aceitar que o pai, a mãe, ou ambos nem sempre podem ficar presentes.

    Se vocês os veem, ou os ouvem constantemente, é porquê ainda estão acordando, e as memórias da vida passada, estão se manifestando, de acordo com a forma com a qual eles se comportavam com vocês, no outro mundo.

    Eles nunca aparecem por nada, sempre há uma motivação para realmente virem ao nosso encontro, e quando vem, fazem com que saibamos que estiveram conosco.

    Lúcifer e Lilith são meus pais, sou a primeira de sua linhagem, e isso pode ser confirmado no meu site antigo, que disponibilizarei no fim deste livro. Por quê digo isto? Bem uma famosa série, retratou tal fato recentemente, só que antes do mesmo acontecer, já havia escrito no meu site, que esta primeira era eu. Então pode ir conferir na prática, que o oculto influencia mídia mas a mídia não interfere no aprendizado místico.

    Quando Lúcifer me visita, sempre há todo um contexto por trás disto, ou é para me dá um alerta, como em 2013 quando me mostrou que Belzebu é um traidor, que quer o seu trono. Para me proteger de alguma criatura nociva, que tentou me destruir, enquanto caminhava pelo mundo inferior. Ou me convocar para alguma reunião importante. - Eu sei parece cômico, mas já fui chamada uma vez, para ir com o mesmo no conselho celestial.

    Como sei que de fato era ele? Eu jamais tinha visto Belzebu como um traidor. Mas após este sonho e outros nos quais fui perseguida pelo Senhor das Moscas,  fiz uma extensa pesquisa, e encontrei relatos de pequenos ocultistas, que defendiam a mesma teoria. Alguns que falavam que Belzebu se opõe a rebelião de Satanás, outros que ele era como um exorcista, mencionado na bíblia.  Mas pareciam tão dissociados da realidade, que me desanimei e aleguei insanidade.

    Contudo algo em meu interior, me levou a pesquisar ainda mais, e acabei encontrando um belo artigo dedicado ao mesmo, no site da Penumbra Livros, onde faço grande parte dos meus estudos esotéricos atualmente, devido a enorme fonte de conteúdo gratuito disponível ali.

    De fato não só Belzebu era traidor, como já tinha conquistado o trono do Inferno uma vez, fazendo com quê 49 dos 72 demônios que caminhavam com Lúcifer o servissem, e isto já tinha até se tornado o roteiro de uma revista em quadrinhos da Vertigo inclusive.

    Até aquele momento eu nada sabia, mas Lúcifer veio e me mostrou um fato, que não era uma fantasia, e podia ser comprovado.

    Além disso no dia do dito sonho, ocorreu um evento quase cataclísmico em minha cidade, ligado ao vento, que é um dos elementos que o representa, e minha mãe literalmente viu um anjo dentro do nosso lar, muito bonito segundo a mesma.

    Já na outra vez, foi como se ele enviasse uma mensagem através de uma médium, na qual me mandou tomar cuidado, pois coisas terríveis iriam acontecer em breve. 

    É claro que duvidei, para mim a possessão, é apenas um processo psicológico, no qual o “possuído”, na verdade é um predisposto, que desconhece seus dons, e acaba manifestando habilidades sobre-humanas, que fazem com os quê os padres interpretem de maneira errônea, e na época, achava que se tratava de uma insanidade maior que a minha, só que ainda sim, é no mínimo suspeito tudo o quê aconteceu depois.

    Minha casa foi saqueada, e levaram todo o meu material de registro de eventos sobrenaturais, os homens reviraram o meu quarto todo, e deixaram o da minha mãe arrumado. Procuraram pelo notebook, onde tinha fotos, teorias, e vídeos, sobre a minha caminhada oculta, levaram a minha câmera, e até o quê eu usava para me distrair do mundo, o meu playstation 2, que já não valia muita coisa na época, e acreditei ser o disfarce perfeito, para o quê realmente fizeram.

    Foi como se declarassem guerra a mim, e a minha sanidade, pois eu analisei os fatos, bati cabeça dando explicações para mim mesma, e a verdade é que até hoje não consigo ver como um mero assalto, pois o mesmo começou, segundo a perícia no momento do incêndio da rua debaixo, que havia começado por causas naturais, e não por intervenção humana.

    Isso não foi a única coisa, naquele ano e até o inicio do outro fiquei muitas vezes a beira da morte. Escapando de acidentes por muito pouco, ou sobrevivendo as tentativas de suicídio, mesmo sem querer continuar de pé, porquê não suportava mais o fardo de ser filha de Lúcifer e Lilith. – Ou achou que somente o não agraciado sofreria? 

    Não foi fácil, e depois que tudo o quê era meu foi levado, fiquei isolada do mundo, e saiu a notícia de quê as contas estavam sendo vigiadas pelos americanos, e como se isto não bastasse, a minha página com apenas 150 curtidas, tinha sido apagada da rede, como se o link estivesse quebrado. O quê convenhamos, é no mínimo suspeito.

    Mas Lúcifer havia me avisado, e eu não dei ouvidos.

    Já Lilith sempre foi mais sutil, aparecia em corpos bonitos, e transmitia mensagens de importância sentimental, que me impediriam de me meter em furadas - Entretanto eu não ouvia, e por isso me machucava sem necessidade.

    No meu primeiro contato com a mesma, esta me revelou que o meu namorado na época, não era digno, nem me pertencia, e que era um erro tomar posse do mesmo, pois este era infantil e malévolo, e não era o quê tinha escolhido para mim.

    Duvidei de imediato, pois a moça que me disse, parecia ter sentimentos pelo rapaz. Só que anos mais tarde, vim saber que as suas predições estavam corretas, e que o cara era realmente um traste.

    Não haviam sinais plausíveis, que nos ligassem de fato, somente aqueles que vinham da sua capacidade de me estudar, para saber o quê eu queria - como um sociopata adolescente - e que o fato de me juntar a ele, não trouxe nada mais que:  Desentendimento, culpa, tristeza, e desespero. Como se o mesmo tivesse sido colocado na minha frente, somente para atrasar a minha descoberta, sobre quem e o quê de fato era, pois tal informação certamente tinha grande valia, e lá na frente falarei sobre isto.

    Por estas e outras que digo, eles só vão se manifestar em casos de extrema importância, por isso não espere que apareçam apenas por quê é a tua vontade.

    É preciso entender que a linha da realidade e a ficção por vezes se cruzam, mas a ficção é apenas uma expressão exagerada da realidade. Se não compreender isso, certamente não vai suportar os desafios, e acabará por enlouquecer. – Foi o quê quase aconteceu comigo, depois de 6 anos no caminho.

    Por isso use os artifícios midiáticos apenas para controlar a ti mesmo, para atingir o teu objetivo, ou por diversão. Mas jamais faça uso dos mesmos, para o teu aprendizado. Eu sei deve ser a 3° ou a 4° vez que repito, mas é para que entre em suas cabeças.

    O preparo mental é o primeiro e mais importante nível, porquê é através deste que vai destravar todo o teu potencial oculto, e trazê-lo para a luz.

    Por isso é necessário cuidar da tua mente, como se fosse o teu corpo, absorvendo somente aquilo que é capaz de suportar, e que favoreça o teu entendimento, ou a realização do teu propósito.

    Dias antes de fazer o ritual, faça uma boa playlist de músicas, que te ajudem a se sentir mais forte e capaz, de filmes que te façam crer no mundo oculto, de games e quadrinhos que seguem o mesmo roteiro, e quebram o padrão do impossível, tornando-o possível.

    Pois assim é criada a atmosfera mística mental, e isto te ajuda a ficar pronto para realizar o teu ato místico.

    Feito isto, agora é hora de seguir para o segundo nível.

    A atmosfera mental já foi desenvolvida, você se sente pronto para fazer o seu primeiro ritual, e não há nada que te faça duvidar de suas capacidades.

    Então agora deve expressar isso de maneira física, desenhando símbolos em teu altar, utilizando as velas certas, o incenso necessário, e o ambiente favorável ao teu rito.

    Por isso precisará conhecer cada símbolo que for utilizar em teu ritual, do contrário pode acabar libertando uma coisa, que deveria ficar no outro mundo- Falo por experiência, passei 9 anos sob a influência de Carreau, por ter o libertado em um dos meus rituais, e só há pouco tempo me livrei do mesmo. Então tome muito cuidado, com os símbolos que vai utilizar, pois cada um tem significado específico, e não é o teu desejo de alterá-lo, que vai promover a mudança de uma egrégora que está presente neste planeta há anos.

    Feito isto, agora é colocar em prática o teu aprendizado, então vá adiante.

    Já estudou, já conheceu os símbolos, e leu tudo a respeito dos cultos dedicados ao deus que tu escolhestes, então porquê não se arriscar com um rito próprio? 

    Você já aprendeu a respeito do ser escolhido, sabe o quê pode, ou não fazer, o quê o honra ou desonra, então dê asas a tua imaginação, pois uma imaginação sem recursos é criatividade, mas quando a mente foi preenchida com conteúdo, a imaginação pode abrir as portas, para quê consiga ouvir a tua voz interna. Quer dizer que se você apenas fizer um ritual, seguindo a tua imaginação por nada, pode falhar e cometer erros graves, mas se souber moldá-la, pode servir de ponte entre você e o deus que te aceitou entre os seus.

    Os predispostos precisam está preparados, pois quando a sua voz interna surgir, vários fatos intrigantes vão acontecer, inclusive coisas de origem sobrenatural, que parecem obra de um poltergeist, mas provavelmente virão deles mesmos. 

    A forma de saber se vem de si mesmo, é medindo sua temperatura corporal, pois o excesso de energia, fará com quê a mesma suba bastante, independente do seu elemento, mesmo os que tem afinidade com o gelo, poderão sentir a sensação de calor intenso.

    Ou tentando mensurar o seu comportamento psicológico, pois se estiver sob o estado de muita adrenalina, também poderá acabar por influenciar o ambiente com a tua força oculta.

    Já os humanos não precisam se preocupar, também podem empregar a sua energia oculta num ato mágico, sem ter alcançado o poder divino. É claro que no caso dos mesmos, coisas sobrenaturais serão raras, e provavelmente se acontecer, dificilmente virão dos mesmos. Contudo isso não significa que não há nada que possam fazer.

    O poder dos homens está em sua mente, um pouco mais que no caso dos predispostos, e os humanos podem usar a sua força, para realizar sonhos típicos da espécie, como: Ganhar muito dinheiro, um bom emprego, atrair o amor de suas vidas, melhorar a aparência etc.

    Não será algo instantâneo pois são limitados, por serem a imagem de seu Deus Jeová, mas mesmo assim, com o método certo, e os 2 níveis mental e físico, eles certamente atingirão as suas metas.

    Pois há uma energia oculta poderosa, que está disponível para todos, inclusive os humanos, e é através desta que podem inclusive, abandonar a condição de homens, para se tornar algo mais próximo dos predispostos, ou ainda mais poderosos que alguns.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Capitulo 3- A Magia é vida, mas não é um ser vivo.

    A magia não é feminina, nem masculina, ela está acima de teorias tão mundanas.

    Atualmente vemos constantemente que a magia é algo especificamente feminino, que a mulher é detentora de uma enorme energia oculta, porquê somente a mesma é capaz de produzir a vida, e todo aquele blá, blá, blá feminista, do qual até mesmo Lilith já está por aqui.

    Ou pior ainda que o homem, por conta de seu intelecto voltado para o modelo mais racional da realidade, é naturalmente aquele que manifesta as forças de um verdadeiro deus, ou outras besteiras machistas que nos fazem entender, porquê o feminismo existe para se opor a tal pensamento.

    Nem o homem ou a mulher são os provedores de tal energia. Não separados pelo menos. Pois a mulher embora tenha o ambiente perfeito para gerar a vida, não pode fazê-lo sem a semente que existe dentro do homem.

    É totalmente desnecessário provar a sua superioridade através do seu sexo. Isto não é coisa de um bruxo real, mas sim de alguém que tem sérios problemas consigo, e precisa validar-se pelo quê tem no meio das pernas.

    No caso das mulheres, é como adotar uma postura semelhante ao machismo, que supostamente desprezam. No caso dos homens é apenas seguir sendo como os outros, quando, como ocultista , deveria ser melhor que os demais.

    Baphomet representa a união do feminino e masculino, e é uma das figuras mais poderosas do ocultismo, pois não expressa apenas a dualidade, mas a totalidade, que é o uno. A união  do céu e o inferno, do sagrado e o profano, e provavelmente é a imagem perfeita, de como a primeira causa seria, se a mesma se manifestasse em forma física, portanto aprenda a lição mostrada por esta imagem.

    A Magia não tem Religião.

    Muitos defendem abertamente que bruxaria cristã não existe, porquê a igreja perseguiu inúmeros bruxos na santa inquisição. – Até os 16 anos acreditava no mesmo, mas hoje tenho 24 anos, e sou obrigada a desiludi-los mais uma vez.

    O conceito amplamente defendido é que a magia pertence ao paganismo, e logo não pode ser praticada dentro das igrejas, ou por seus fiéis.

    Quem faz tal defesa, provavelmente se encontra no inicio da caminhada- Mas se já passou vários anos, e ainda acredita nisso, precisa urgente deixar de seguir a “massa mística” (O quê é irônico, pois nem deveria haver uma.) e conectar-se  com os deuses, pois apesar do quê imaginam, não estão nem os servindo, nem caminhando com os mesmos.

    Eles sentem como se a nossa cultura estivesse sendo saqueada dos templos sagrados, e entregues aos cristãos.

    E não estão errados, pois isto é o quê de fato aconteceu, antes da chegada de Cristo. – A bíblia sagrada cristã é um mosaico de textos ocultistas de outras culturas.

    Portanto o “roubo” já aconteceu há muito tempo, não é algo novo, e desta forma muitos fiéis já tiveram tempo suficiente para desenvolver os seus cultos. Existe até mesmo uma linha do cristianismo, voltada para os misticismos, então a bruxaria cristã não é algo novo, aceite isso.

    Além disto os grandes ocultistas conhecidos, estudaram as mesmas filosofias criadas por estes fiéis, antes de fundar as suas escolas de pensamentos. É o caso de Aleister Crowley - conhecido como “To Mega Therion”, a  “Besta 666”, “O homem mais cruel do mundo” - que ingressou na Ordem da Aurora Dourada, antes de criar seus Libers. Porém o quê poucos sabem, é que embora o mesmo tenha sido expulso da escola dominical, a Ordem que o recebeu, foi fundada através do ensinamentos distorcidos de Agrippa, que era um grande homem, e devoto do divino.

    Então não há necessidade de espancar e cuspir naqueles que descobriram tal possibilidade, pois pode até servir para contribuir em alguma coisa.

    Há tanta coisa que merece mais tal ódio, que realmente me dói a vista, ler tanto desgosto voltado para os que resolveram seguir um caminho diferente do nosso.

    Do momento em quê erguemos nossa espada para os homens apenas por conta da sua religião, estamos sendo tão sujos e hipócritas, quanto os inquisidores, que apenas apontavam o dedo para aqueles que discordavam da sua versão do mundo. – E eu sei que você não quer ser comparado com o teu rival, então não haja como tal.

    É importante frisar, que a magia supostamente foi trazida aos homens por aqueles que desceram dos céus, por isso a mesma não pertence a humanidade, e logo não deve ser julgada como se fosse.

    Lúcifer e os caídos ensinaram as mulheres, e lhes deram o poder, para realizar os próprios intentos. Mas de onde Lúcifer veio e onde a magia residia antes? Isso mesmo no plano celestial, ou a Deusa Desceu a Terra para ensinar os humanos a praticar a magia, e os guiar para o seu mundo. Quando não mais pôde ficar enviou a sua filha, para continuar o seu trabalho. Mas é sempre seguindo a premissa de quê a magia foi transportada de outro reino, que não é o quê vivemos.

    Então por favor, pare de usar esse contexto absurdo, de quê a magia pertence somente a um grupo, pois até nos textos antigos, pode ser comprovado, que “não é assim que a banda toca”. Hermes Trismegisto já dizia: O quê está acima, é o quê está abaixo. Entenda de uma vez por todas este conceito.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    A magia não tem política.

    Se você é de : direita, esquerda, liberal, fascista, socialista, ou qualquer outro partido conhecido, não importa.

    Novamente é algo mundano, que deve ser deixado em seu devido lugar.

    Não traga suas convicções partidárias para dentro da sociedade ocultista, pois não é bom misturar as coisas.

    Hitler e o Vrill estão aí para provar. 

    Ele obteve um grande sucesso ao realizar a sua missão, mas a sua mensagem real jamais foi ouvida, e pior ainda acabou por ser distorcida, com o decorrer dos anos. Sendo tratada como um massacre desnecessário, ou desumano, ou o grito de horror de inocentes, que nem eram tão inocentes assim. – A sua luta não era contra os judeus, e sim os sionistas, que supostamente queriam dominar o mundo, mas conseguiram fazer parecer que esta era a vontade de Adolf.

    Esta é a versão da verdade que conheço e acredito, pois a filosofia sionista e illuminati, em muito coincidem.

    Mas é algo em quê Eu acredito. Não significa que você é obrigado a crer no mesmo. Por isso saiba que há um espaço para a magia, e outro para a política, não é porquê um influencia o outro, que devemos misturá-los.

    O Tudo é o Todo, e o Todo é Um. Só que é preciso compreender suas metades, para poder entender como se complementam.

    A Magia não tem etnia.

    Não importa se tu és negro, branco, hispânico, índio, ou qualquer outra raça conhecida. Todos são humanos, ou ao menos meio-humanos, no caso dos predispostos. Assim sendo devem respeitar uns aos outros.

    Se o branco quer fazer parte da gira, deixe-o entrar. O mesmo vale para o negro que anseia entrar num sistema mais elitista como o luciferianismo ou o satanismo.

     

    Salvo apenas exceções para filosofias voltadas para o racismo como a Skull and Bones por exemplo. Porém creio que tais ideais são como feminismo e machismo, e precisam ser abolidos da face da Terra, pois só servem para validar a vontade, de gente tão pequena que se define por sua cor ou sexo.

    A magia não tem estilo.

    Vocês encontrarão gente de todo tipo no caminho. Mulheres com roupas provocantes, homens maquiados, moças de turbante, rapazes de dread, gente de preto, gente de branco, e isso não significa absolutamente nada.

    A roupa que a bruxa veste, não representa o seu poder, apenas expressa a sua mais forte emoção, aquilo que mais gosta, e tem alguma afinidade.

    Ou seja não é porquê uma bruxa veste preto, que ela trabalha para Satã, ou porquê uma bruxa usa vestes coloridas, que esta serve a deusa e o deus.

    A diversidade neste meio é muito grande, logo nem tudo o quê aparentemente é, de fato é. Quer dizer há casos de bruxos que se vestem como anjos, mas trabalham com energias bem densas, e o mesmo ocorre com aqueles que se vestem como demônios, mas praticam magias menos pesadas, pois é o quê podem suportar.

    Há bruxos que pouco estudam, mas conseguem obter grandes resultados. – Embora mais tarde acabem achando que o hospício é o lar doce lar.

    Há ocultistas que procuram estudar mais do quê necessário, e quê embora criem barreiras no seu desenvolvimento, se sentem mais confortáveis, em suas limitações.

    Então não adianta ditar que a magia é um estilo de vida, pois cada um é livre para encontrar o tipo de vida que o mais o agrada. – É claro que adotar a prática diariamente, certamente vai te ajudar a obter bons resultados, pois condiciona o cérebro a destruir o empecilho do impossível. Entretanto isso não é uma obrigação, nem uma regra. Você decide o quê se adequa a tua condição. - Até porquê há aqueles que compartilham seu lar com outras pessoas, que não apoiam as suas práticas, e por isso precisam de outros meios, de gerar uma boa atmosfera mágica, que não implique em desrespeito aos que lhe oferecem um teto, e seja viável para executar.

     

     

    A magia é uma energia.

    A magia é formada de átomos de energia positiva e negativa, e você é o nêutron que rege tais forças. 

    A magia não tem voz, ela apenas te ajuda a encontrar a sua. A magia não pode ser um corpo, mas te ajuda a moldar o teu. A magia não ouve, mas te faz ouvir. A magia não vê, mas te ilumina para enxergar. A magia não sente, mas te impulsiona a sentir. A magia não pensa, só que intervém em teus pensamentos.  

    A magia é uma força gigantesca, que se bem canalizada, pode criar ou destruir a vida, mudar ou colocar as coisas no lugar, alterar o fluxo ou mantê-lo, incendiar ou apagar o incêndio. É a mais perfeita expressão da linguagem divina, proveniente da Primeira Causa. É a matriz de onde tudo nasce, da qual pode beber de sua energia.

    A magia é vida, pois é movimento, e ausência do mesmo, é luz, é sombra, é claro e escuro, é impulso, é neutra, é causa e efeito, mas não é um ser vivo.

    Consequentemente não pode ser tratada como tal. A vista disto não lhe atribua as características de um humano, fazendo-a ter: sexo, política, etnia, ou estilo, pois esta é muito maior que tais convicções.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Capitulo 4- O Mundo sem o véu.

    Já trabalhamos em cima da atmosfera mística , e a importância do aspecto mental, para criar tais condições, e portanto aplicar a energia mágicka. Mas como é que o mundo se torna, após quebrar a barreira do impossível? 

    Primeiramente o mundo de concreto, continuará o mesmo, são seus olhos e o olhar que se tornarão diferentes. 

    Provavelmente deve ver diariamente a batalha entre os céticos e os ocultistas. “Só confie na ciência pois há como comprová-la e a magia é apenas crendice.” Dizem os apaixonados pela ciência. “Abra seus olhos, há um mundo mágico por trás deste, e somente a fé nele é o suficiente para manifestá-lo. A ciência é uma tolice, um insulto as forças divinas.” Dizem os aficionados a magia.

    Você pode de imediato concordar com a segunda visão, mas ambas estão erradas. – Embora a parte do conceito metafísico (o mundo por trás do mundo) seja correta.

    Quando se encontra de fato com o oculto, você percebe que magia e ciência, servem para dar as mãos e não se destruírem, como se fossem inimigos velados.

    Essa rivalidade trivial, não é digna de um ocultista, pois o mesmo tem consciência, de quê muito do quê temos hoje antes era visto como místico.

    Imagine-se em 1500 com um celular em suas mãos, certamente as pessoas do tempo, ficariam maravilhadas, e depois iriam temê-lo, ao ponto de queimá-lo vivo, sob a declaração de prática de bruxaria. – Mas nos tempos em que vive, sabe que se trata de ciência, e isto o faz rir.

    Essa perspectiva a princípio pode deixá-lo desnorteado, só que é um fato. Eles nem parariam para estudar a respeito, pois naquela época a Terra era movida pelo medo.

    Muitos cientistas foram tidos como hereges no seu tempo, e jogados no fogo purificador dos santos, então tentar separar o inseparável é bobagem. – Todavia é significativo que saiba que não basta compreender as metades, é necessário entendê-las a fundo.

    A ciência é um meio de comprovar se um fato é real ou falso. Embora seus métodos, pareçam servir somente para desbancar a existência de seres maiores que a humanidade. Eles também podem ser usados, para por exemplo separar, quem realmente viveu uma experiência sobrenatural, e os que apenas precisam de tratamento psiquiátrico. – Lembrando que alguns eventos de natureza mística, podem ser tão devastadores, que causam este efeito de estresse pós-traumático.

    Logo se a ciência serve para medir o evento, o esoterismo é o evento– Uma manifestação nua e crua da natureza, que para muitos foi esquecida, e que tem mistérios a serem desvelados.

    Desta forma o primeiro ponto é esse: A inexistência de um padrão dualista, e percepção de que o universo é realmente um, cujas as metades unidas, o fazem completo.

    Além disso, quando você se conecta de fato com o cosmos, ele também se junta a ti, e assim desenvolve o quê é conhecido como inteligência divina. – Não que vá conseguir resolver cálculos matemáticos complicados em segundos, como no filme Transformers, mas certamente libertará uma sabedoria, bem diferente da dos demais, e que vai te ajudar a se compreender melhor.

    No caso daqueles que tem a predisposição, poderão descobrir mais sobre a linhagem, através das memórias dos deuses, que vão lhes transmitir informações sobre a sua missão, e o nível dela. – Se será fácil ou cheia de obstáculos.

    Já os humanos, terão como resolver as suas grandes questões, a respeito de quem são, e de onde vieram de fato, podendo inclusive conhecer o criador da sua espécie, e lhe pedir a dádiva divina. – Mesmo que tenha um preço alto a se pagar.

     

     

     

     

     

     

     

    E este é o segundo ponto: Saberá sem ter visto nada antes. – Mentalize a seguinte situação: Você é um estudante de médio conhecimento sobre a Deusa Afrodite. Tudo o quê sabe é que é a Deusa do Amor, e que seu par é Hefestos, o ferreiro do Olímpo, e outras pequenas coisas. Do nada seu corpo se desliga, e você tem a visão de Afrodite na cama de Ares, o Deus da Guerra dos Gregos, e Hefestos quer provar a sua traição. Você retorna, acha aquilo estranho, e decide pesquisar sobre isso, então lá está o quadro que retrata a sua visão. É o quê vai acontecer, quando libertar este tipo específico de aprendizado.

    Novos mundos irão se apresentar a ti, mas eles não serão físicos. Sempre que meditar, terá visões do teu verdadeiro lar, que não é este planeta, e ao fazer a viagem astral irá sentir, como  são as outras civilizações.

    Há chances de prestigiar o mundo, em que o Deus que te acolheu habita, e assim receber dele algumas direções, para te ajudar a cumprir o teu propósito.

    É quando começará a entender a teoria de Giordano Bruno, sobre os milhares de planetas, que existem além da Terra, e a diversidade presente nos mesmos.

    Deixará de crer em filosofias como criacionismo ou evolucionismo, e aceitará o design inteligente, que lhe parecerá a resposta mais plausível, para a origem das espécies existentes.

    Verá que a panspermia cósmica, é uma ideia incompleta, pois a vida não se forma do nada, é preciso de uma causa que a gere, e esta é ninguém menos que o próprio Uno, que você conhece como Universo.

    Ao entrar no plano invísivel , começará a duvidar se está vivo, ou preso em um sonho, do qual acorda todas as noites, e retorna para casa. – É lindo, porém se você criar afinidade com apenas o outro lado, esquecerá que não habita nele, e isto te trará consequências terríveis, como buscar o abraço gélido da morte por exemplo, e ao fazê-lo, se levará a dimensões sombrias, que deram origem ao termo adotado como Inferno, o quê atrasará ainda mais a sua volta.

     

    É preciso que se lembre sempre, de quê embora a sua casa seja a anos luz daqui, há pessoas que precisam de você, e tu tens uma missão a cumprir, antes de retornar para aquele lugar que te faz tão bem. – Quando fizer a projeção, tenha ciência de quê está fazendo uma visita, e não se mudando pra lá.

    Alguns rapidamente encontram o caminho de volta para as estrelas, outros demoraram, pois não estão prontos para aceitar, que aquele canto maravilhoso, o aguarda, mas ainda não é o momento certo. – Ou pior, devido as espécies superiores e inferiores, que vem se aniquilando há milênios, não há pra onde ir, e só pode aprender com o quê restou, da sua civilização materna.

    Outra coisa, é importante também ter conhecimento de quê, tudo o quê tem no outro mundo, não pode trazer para o físico. O máximo que conseguirá, é uma versão fantasma da coisa em questão.

    Portanto se atravessar o mundo dos dragões para este, montando em um deles, o mesmo não vai se materializar em teu quarto, como se fosse um animal comum, e somente os que desenvolveram A Visão, poderão enxergá-lo, (ou nem isto, pois há os que escolhem com quem interagir).

    Há muitas críticas no meio sobre o quê os bruxos já viram ou experimentaram.  Qualquer magista que tenha  visto duendes ou dragões, e se juntado a estes numa experiência mística, é friamente julgado. Então mesmo que adentre no outro lado, é preciso que não fale isto para quem não presenciou o mesmo, pois dificilmente vão compreender. – Salvo exceções aos que se dizem ocultistas, mas precisam de substâncias alucinógenas para adentrar no outro mundo. Estes realmente possuem pouca credibilidade sobre o quê presenciaram, pois as drogas não te ajudam a conhecer a outra dimensão, no máximo consegue refletir o teu interior. Isto não significa que me oponho ao seu uso, pois cada cabeça tem uma sentença, e sabe o quê é melhor para si. No entanto quando se trata de experiências extra-sensoriais, o uso de tais artifícios pode lhe ofuscar A Visão.

     

     

     

     

     

    Não estou falando da visão física, mas sim do terceiro olho, o olho que tudo vê, o olho que não enxerga somente o concreto, mas os átomos que o compõem, e vibram na mais baixa frequência, para torná-lo pesado.– É o olho que desmembra a realidade, para que conheçamos cada um dos seus mais profundos mistérios, e certamente você não querer perder essa capacidade. Pois uma vez que encontra o plano místico, os seres do plano místico te encontram também, e nem sempre isso é algo positivo, pois a maioria detesta os seres esquecidos na Terra, e anseia destrui-los, para que não retornem ao mundo deles, com medo de serem “infectados” por ideias humanas.

    E aqui é que a situação piora, pois os seres que odeiam os meios- terrestres, e terrestres em sua totalidade, fazem de tudo para que  os bruxos, não consigam atravessar a ponte do astral, para o Etérico – O plano acima do astral, (que também pode ser reconhecido como o Consciente Coletivo de Jung) terão as respostas necessárias, para evoluírem suas consciências, sobre quem são.

    Eu sei parece o roteiro de algum RPG, e se quer saber a realidade, o mundo invisível não é tão diferente do mesmo. Então se anseia entender a respeito, sugiro que comece a jogar, e estude todo o sistema, para quê saiba de suas limitações.

    Aliás creio que quando disseram que Deus jogava com dados, se referiam a isto, pois tudo depende das circunstâncias. Deus lhe oferece alternativas, e você no início, quer seguir adiante, e derrotar o monstro com um golpe de misericórdia. Contudo Ele no poder de mestre do jogo, prefere que lute contra o monstro, da forma mais humilhante que há, e perca teus braços e pernas. Ambos atiram seus dados no tabuleiro. O resultado dele é 7 o seu é 2, sua vontade é alterada para que a dele seja atendida, e você nobre peregrino, acaba por perder teus membros na batalha contra o gigante.

    Pois não importa o quanto digam que A Tua Vontade é A Lei, seus artigos podem ser alterados pela diretoria, que foi gerada pela Lei Imutável dos Antigos. 

     

    A sua vontade, não é o suficiente para alterar algo monumental, principalmente quando se trata do seu encontro com o Mestre do plano Superior. Pois naquele lado há uma egrégora poderosa, que foi alimentada por milhões, e a diferença do milhão para um é muito grande.

    Você certamente deve está pensando, se é assim que graça tem em praticar magia? A mesma de jogar. Pois quando você segue dentro dos padrões sociais, apenas está sendo parte do cenário, e não tem controle das próprias ações.

     Mas quando modifica o rumo, ao menos tem a chance de escolher, ou seja está pegando os seus dados, e se preparando para alcançar a glória do verdadeiro livre- arbítrio.

    Porém assim como para jogar um RPG, você precisa muito do quê o dado, na magia não é diferente. É necessário escolher um personagem, ou no caso do ocultismo, uma vertente, como a magia draconiana por exemplo.

    Feito isto, não basta apenas manter o personagem, é preciso fortalecê-lo, para encarar o mundo que o aguarda. No RPG com armaduras, joias, e outros apetrechos. Na magia com sigilos, círculos, linguagens desconhecidas, etc.- E mesmo que seu personagem esteja no nível máximo, sempre haverão aprimoramentos, para torná-lo cada vez mais capaz de alcançar os objetivos, que lhe são apresentados na jornada.

    Portanto antes de adentrar de vez no mundo translúcido, ou tentar remover o véu do mundano, se prepare devidamente, pois nem sempre o mestre vai com a cara do seu personagem, e no seu caso essa potência é ninguém menos que o próprio Deus. - Não o Deus dos Ocultistas, que é a força ilimitada e geradora. Mas sim o quê foi criado por uma egrégora de humanos ambiciosos, e mal intencionados, que conheceram um ser, que achou que poderia tomar a coroa cósmica de quem o gerou, e o fortaleceram o suficiente para ser aquele que hoje comanda muitos mundos. É, eu sei parece a história de Lúcifer, mas este é um clássico caso, em quê o vilão se denuncia pela sua versão deturpada dos fatos, e quem tem o bom senso consegue perceber as entrelinhas. – Leia o Antigo Testamento, como um livro comum, e verá que o Deus do Amor, é na verdade uma expressão do mais puro Ódio. 

     

     

     

    Além destas alegorias, há muitas outras, então fique atento, e aprenda a jogar, ou siga como a massa permitindo que o mestre controle o seu destino, sem jamais se opor a tudo o quê te acontece, e ficando grato pelo pão e o vinho na mesa, assim como pela morte dolorosa de toda a sua população, porquê este quis assim.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Capítulo 5 - O fanatismo, o grande veneno mágicko.

    No capítulo 4, abordei sobre o outro mundo, mas primeiro expliquei sobre o maior dos empecilhos para chegar lá, pois é importante que esteja ciente, de quê nem tudo são flores.

    Posso ter passado a impressão de quê estou em cima do muro, sobre Deus e o Diabo. Mas o fato é que, quando se conhece ambos os lados, fica claro que a ideia do preto e branco, não serve para nada.

    É claro Jeová é cruel, é o Deus dos homens, dos pecadores. Contudo é um verdadeiro Ares da religião judaico-cristã, não há quem duvide da eficácia de suas estratégias, e isto é admirável. – Apenas discordo de algumas metodologias dele.

    O mesmo ocorre com Lúcifer, ele é meu pai, e certamente me orgulho disto. Porém não concordo em evitar a massa. Apesar de não pertencer a ela, seus tipos de entretenimentos são bem agradáveis.

    Então é aqui que se percebe, a razão para não apoiar fanatismos. Se fosse obcecada por Lúcifer, concordaria com tudo o quê dissesse, mesmo que fosse contra aquilo que gosto, somente para ser o quê ele supostamente espera de mim.

    Isso é errado. Além da grande falta de amor próprio, há também o risco de ser manipulado por entidades maléficas, que não caminham nem com a luz, nem com as trevas, apenas servem a si mesmos. – O quê não é errado, mas do momento que atrapalha a vida do outro, se torna prejudicial.

    São seres que passaram grande parte da sua vida, sob a sombra dos senhores, e que jamais conseguiram ascender como eles, e por isso na primeira oportunidade, os apunhalaram pelas costas, e assim foram jogados num mundo caótico, de onde vez ou outra saem para atormentar, sob a forma de fantasmas, que sussurram coisas em nossos ouvidos. – É como se fossem os empregados que se dedicaram a empresa, sem terem recebido uma proposta de aumento, e mesmo assim esperaram subir de cargo, e quando nada aconteceu, começaram a destruir o prédio para que ninguém mais trabalhasse. 

    Uns os chamam de demônios, mas isto é um insulto aos seres do mundo inferior. Então prefiro seguir com o conceito da umbanda, de espíritos obsessores, e embora grande parte diga que se tratam apenas de seres humanos, poucos sabem que não são apenas os homens, que tem problemas para evoluir.

    São criaturas que em vez de terem visto alguma oportunidade, abraçaram as limitações como desculpa, para concentrar a sua ira em algum foco.

    E porquê estou falando nelas? É bem simples na verdade. Porquê tais seres encarnados ou desencarnados, costumam se aproveitar da fé alheia, para que cumpram seus objetivos atrozes, de destruir a base das filosofias, que supostamente os abandonaram.

    Portanto quando você se entrega demais a fé, não consegue perceber as armadilhas dos mesmos.

    Imagine duas situações: Primeiro há um padre de uma cidade pequena, cheia de gente analfabeta, mas com muita fé em compensação.

    Eles acreditam que apenas a palavra de Deus, proferida por seu padre, é a verdade imutável da vida.

    Contudo tal líder, pouco se importa com as palavras divinas, apenas as estudou, para ter poder sobre as pessoas, e assim usá-las como bem entender.

    Ele tira das mesmas: o seu dinheiro, os seus filhos, a sua liberdade, e os faz segui-lo cegamente, em rumo a completa perdição, pois sabe que está condenado, e quer levar quem puder junto.

    Como se não bastasse, para garantir-se, diz que é a vontade de Deus, toda vez que o questionam, e pior ainda, faz com que seus seguidores, repudiem qualquer figura pública, que pode desmistificar a sua falácia. – E se a tática funciona, mostra as suas garras, é quando por exemplo reúne os mais devotos, e os influencia a matar alguém, alegando que a pessoa está sob possessão demoníaca. (Não que discorde da existência da mesma, mas creio que eu, que o quê parece palhaçada para quem entende, é assustador para o ignorante, e o medo, sempre gera caos, se mal empregado) 

    No segundo caso, a mentira é um pouco mais articulada. O sacerdote diz que você é livre, que não precisa mais seguir nenhuma regra do “Nazareno”, que a vida começa agora, e os pecados não passam de uma bobagem.

    No início nenhum centavo é tirado, eles apenas promovem festas de orgia. – O quê não é ruim se for solteiro, mas o verdadeiro preço, que vem depois sim.

    Você se envolve nas palavras do sacerdote: Não há Céu, Não há Inferno, somente o aqui e agora, então façam valer a pena do jeito que o diabo gosta!

    Assim como o padre, tal sacerdote não está interessado no crescimento do seu grupo, somente quer arrastá-los para o fundo do poço, para que precisem dele, e é aqui que o golpe se torna mais evidente.

    Pois toda vez que a pessoa quer sair da tristeza por sua vida vazia, surge um novo motivo para deixá-la em tal estado. – É, o sacerdote, não carrega tal acunha, sem ser praticante de magia.

    Após fazer com que a vítima de seu magnetismo ( e alguns espíritos), comece a enlouquecer, vem as ofertas absurdas. “Mate um bebê para Satã, e ele te libertará destas correntes.” Diz o mesmo. Mas convenientemente, esquece de contar que a criança escolhida, é filha da ex com o atual - que percebeu o bosta que ele era, e o deixou.

    Eu sei parece inacreditável, mas a situação somente se agrava, pois no fim das contas, o padre e o sacerdote, se encontram longe dos olhos de todos, e assumem que suas jogadas, estão sendo bastante eficazes. Pois se os cristãos ficarem longe da magia, que os levam a questionar, e os satanistas evitarem o sentido de certo e errado, nunca conseguem atingir o estado da iluminação, para descobrirem a quem de fato servem, e que não é nem ao Diabo, nem a Deus.

    Estas criaturas são ainda mais inescrupulosas que Jeová, pois enquanto o mesmo ainda recompensa os seus, estes seres apenas fazem os demais afundarem, e nunca reconhecem os seus esforços, porquê como disse antes, sentem-se injustiçados, e que todos merecem a sorte que tiveram, por serem tão tolos ao acreditarem neles.

    Então não deixe que a sua fé te domine, mesmo que seja parte do plano superior. – Ela pode abrir portas, mas se não souber onde pisa, acabará indo para uma selva, e mergulhará em areia movediça.

    Somente a fé, nos faz ficar cegos. Da mesma forma como seguir somente a ciência, nos faz deixar de perceber, o tamanho da plenitude do universo, e que nem tudo se resume ao que é “concreto”. – A verdade mística não pode ser medida por filosofias dualistas da humanidade, pois esta se perdeu há muito tempo.

    Então como nos impedir de chegar a esse ponto? 

    Não há um método certo, e que tenha 100% de eficácia. Mas após várias pesquisas de campo, com base em observação, percebi algumas formas, que listarei a seguir:

     Evite defender a sua fé com paixão. – Não estou dizendo que não deve amar o quê faz, mas sim que precisa saber a diferença, entre o amor e a paixão. Amor é uma chama pequena, que serve para nos aquecer numa caverna. Paixão é um incêndio, que se alastra, destruindo toda a floresta, e se não ficou claro Paixão é um caso de amor intenso, impulsivo, e descontrolado. Amor é quando duas pessoas completas, compartilham uma vida juntas, sem desistir de quem são, pois escolheram andar com o par, e não dominá-lo.

     Estude tanto o seu opositor, quanto aqueles a que apoia. – Não estou dizendo que precisa se tornar um cdf de magia. Todavia é preciso sim ter conhecimento do quê faz. Então antes de julgar o inimigo, tente descobrir sobre as suas motivações para agir de tal forma. Concordar ou não, está fora do caso, mas é importante ver até onde o boato relatado é real.

     Haja como cético. – Apesar da correlação com o item anterior, é importante nos focarmos no fato, pois ser cético, é duvidar bastante da história, antes de aceitá-la como verdade, e é esta postura que deve tomar, sempre que uma coisa, que desconhece, surge na tua porta.

     Procure informações imparciais – Se o bruxo diz que a sua deusa é santa, e a religião a condena como “demônio”, é bom evitar ouvir ambos, e buscar por uma voz, que trabalha todos os aspectos da deusa, desde os puros, aos mais pecaminosos.

     Não fale sobre sua filosofia com eles. – Um fanático não tem nada para acrescentar na sua busca por conhecimento, a não ser, que queira estudar sobre transtornos de personalidade, ligados a estresse pós- traumático. Mais terrível ainda, pode te levar pro fundo do poço junto com ele, pois te faz crer no mesmo mundo maravilhoso, em que os seus superiores o colocaram. Então se tem um(a) amigo(a) que sofre disto, fale sobre qualquer assunto, menos deste.

     Rejeite as palavras do fanático – Não precisa humilhar a pessoa, por conta do seu fascínio. Afinal o fanático em si, é apenas uma pessoa apaixonada, sendo controlada por terceiros. Então sempre que notar os traços de fanatismo, lembre-se de que ela é apenas o papagaio repetindo o quê ouviu, e não sabe o quê fala.

     Conheça os traços de fanatismo. – Um ser tomado por esta paixão doentia, manifesta alguns sintomas como: 

    Palavras vazias. – O(a) sujeito (a) fala como se entendesse do assunto, mas ao ser confrontado, e obrigado a defender os interesses, com ideias próprias, fica mudo, ou tenta alterar o rumo da conversa. Fingem sensatez e calmaria. – Frases como “O mundo é injusto, por causa de...” são bem comuns no seu vocabulário, pois estes conhecem o Uno, mas são incapazes de entendê-lo.

    III. São agressivos. – Se mudar o rumo da conversa, não funcionar, eles começam a se irritar bastante, e por isso se tornam violentos.

    Não suportam a verdade. – Diga-lhes que Satã é bom, ou que Deus é engenhoso, e verás o fanático demonstrar, a escuridão mais profunda daquilo a que serve. São iludidos. – Não conseguem extrair a verdade de um material fabricado para entretenimento, e pior ainda, tomam para si o todo como verdade absoluta. (Depois saem matando hereges ou sacrificando virgens porquê o programa ensinou.) Veem sinais onde não há nada. – Que há sinais no universo, todos nós sabemos, porém achar que tudo é sinal de alguma coisa, sem antes avaliar os aspectos psicológicos, entorno de tal possibilidade, é sim um erro. Se você sonha com um homem te perseguindo, após ter assistido um filme de terror, ou vários, isto certamente comprova que no fundo, não suportou tão bem quanto pensava. Agora se você sonha com anjos te ajudando, quando a sua vida, é totalmente voltada pro satanismo, é bom avaliar o quê significa.

    VII. Carregam olhos vazios, e parecem está sob efeito de drogas pesadas. – Eles podem tentar forçar o riso, para demonstrar que estão 100% satisfeitos, mas se olhar bem, verá sinais físicos, que denunciam a sua infelicidade como: Olhos de quem foi vítima de hipnose, sorriso que não condiz com os mesmos, magreza ou gordura extrema, tremedeira, e fala lenta, cheia de pausas excessivamente longas, (mesmo que não condiga, com a sua regionalidade) ou discurso caloroso e agitado demais.

    VIII. São ativistas do templo. – Que há fiéis enjoados dentro das igrejas voltadas para o culto cristão, já estamos cansados de saber. Mas sim, também há fanáticos no templo pagão. São bruxos e bruxas, que vivem querendo impor a sua crença, mesmo que isto não seja bom para a própria imagem.

    Não tem noção do quê fazem – São como crianças de 3 anos, que repetem os gestos dos líderes. Nunca questionam os seus superiores. – Nem conseguem, pois a lavagem cerebral intensa, os tornou submissos.  Te amam, somente enquanto concorda com eles. – Discorde de uma ideia sobre a sua conduta, e eles te queimam vivo (literalmente ás vezes).

     

     

    Em algum momento da vida, podemos apresentar, alguns destes sinais, já que independente do caminho que seguimos, nós o amamos, não importa o quão complexo seja. Mas é bom lutar contra tais atitudes, pois elas só servem para nos envergonhar, e também nos distanciam dos deuses, e consequentemente do quê é real e falso.

     

     

     

     

     

     

    Capítulo 6 – A verdade liberta, mas é dolorosa

    É, nobre forasteiro, se a vida tem sido fácil, e as verdades que descobriu até o momento, não lhe trouxeram nenhum problema, ou representaram tudo aquilo que sempre quis, sem algum esforço, e nem sangue ou suor foi derramado. – Significa que a parte boa está acabando, e é melhor está preparado, ou você é vítima da sua própria mente.

    No segundo caso, é algo muito comum atualmente. É o quê chamo de iluminação de holofote. Trate-se de uma pessoa, que sai dizendo que é superior aos demais, ou força transparecer que já atingiu o nível máximo da evolução cósmica. – Mas antes dos beijos de luz, deixa subentendido que te quer “queimando no inferno”.

    A verdade nunca é aquilo que serve para compensar uma perda, mas sim confrontar a existência do ser, por ter sido pré-estabelecida há muito tempo, e isso nos leva a um tópico interessante: Os bonecos que pensam ser filhos dos deuses.

    Hoje em dia tem muitos filhos de Lúcifer e Lilith por aí. Se for contar nos grupos de magia do Brasil, há mais ou menos “mil” deles. – Razão pela qual, prefiro me manter em silêncio a respeito disto, pois me sinto envergonhada.

    Assim como há também as crianças Percy Jackson – Jovens entre 11 e 18 anos, que se encantaram pelos programas, que são focados na visão etérica (e distorcida) do mundo, e saíram mundo a fora, batendo no peito, e dizendo eu sou um (a) semideus!

    Em ambos os casos é algo bastante incômodo, pois se for falar com tais seres, muitos são vítimas do fanatismo midiático, e não só não possuem habilidades, como também mentem, para dar a impressão de quê são “especiais.”

    Chego a sentir dó dessas crianças, pois o tempo que gastam tentando provar o quê não são, poderiam usar para adquirir conhecimentos, que os levassem a encontrar os deuses, e dependendo do contexto, serem abençoados por eles, ao ponto de desenvolverem algum dote.

    Não seriam semideuses, mas e daí? Quantas lendas maravilhosas serão necessárias, para que entendam, que nascer humano, não significa morrer como tal?

     Olhem o exemplo do conde Vlad III, o turco, que empalava os seus inimigos vivos, e deu origem ao vampiro mais famoso das décadas. Ele iniciou como humano, mas hoje, para muitos, é visto como um Deus Noturno.

    Então novamente o quê você é no momento não importa, o quê pode vim a se tornar, após a caminhada sim, portanto pare de perder tempo, forçando ser o quê não é, e abrace quem é de fato.

    A verdade, não é aquilo que deseja, e sim o quê necessita.

    Você pode morrer gritando aos 4 ventos, que é filho (a)  de um deus (a) mas se não for, sempre haverão ausências de sinais legítimos, e a magia não vai se manifestar, mesmo que a sua fé seja grande, pois haverá um forte bloqueio em teu caminho.

     Porém quando realmente é algo, até as coincidências, serão ligadas ao deus com o qual sente a conexão.

     É o meu caso. Quando me foi revelado que era filha de Lúcifer, me opus a isso, com toda fibra do meu ser. – Tinha acabado de ler Lex Satanicus, e via Lúcifer e Satã como seres distintos. Sendo Lúcifer, o belo e inteligente, que tem repulsa ao mundano, e Satã um charmoso nerd, que se divertia em qualquer lugar.

    Jamais pensei em Lúcifer, como sequer meu semelhante, pois apesar de ter problemas para me socializar, não desprezava a sociedade, como ele, e isso foi um grande baque para mim.

    Como se não bastasse, além de ser filha do ser mais inteligente e cheio de conquistas, também me foi revelado que eu era um anjo, e foi a gota d’água, porquê detestava celestiais, e todo o plano superior na época. – Tinha 17 anos, e os hormônios agiam com grande potência em meu organismo.

    Não foi da noite  para o dia, que consegui aceitar. Receber a notícia de que era filha de Lilith foi fácil, pois já tinha notado traços de personalidade, bem semelhantes aos da deusa antiga, que ao contrário do quê a maioria pensa, não nasceu de um mito Judeu, mas sim Sumério, sob o nome de Kiskill-Lila, a filha legítima da deusa Terra, ou Antu, também conhecida como Tiamat, pelos Babilônicos. – Então sei que Lilith não é a deusa suprema, e também que não foi criada para o Adão.

    Lilith era uma deusa lasciva, hipersexualizada, que seduzia os homens, para torturá-los. Tinha ódio da humanidade, por ter sido substituída, por uma mulher inferior. Gerava abortos, para não mandar suas crianças sagradas, para este buraco conhecido como planeta Terra.

    Eu a admirava, me sentia como ela, sentia seu poder em minhas veias, e gostava muito da sensação. Mas como disse antes a verdade não é algo que tapa buracos, por isso tinham aspectos negativos, sobre ter o seu sangue.

    Meu impulso agressivo era muito forte, meu desejo sexual também, ás vezes manipulava as pessoas para o benefício próprio e nem percebia, e pior fui inclinada a uma vida pecaminosa de traição, que por muito esforço, não foi física. – Com exceção ao homem com o qual sou casada, mas ele era meu amante, e não o traído.

    Além disto, como carrego duas naturezas divinas em meu DNA cósmico, tenho peso de consciência sempre que pratico atos de maldade, com aqueles que não deveriam receber a escuridão de mim. – Mas os que a merecem, ou esqueço, ou me vanglorio da vitória.

    Saber destas e outras coisas, foi um enorme desafio, principalmente porquê não entrei no caminho, achando que era um ser celestial ou demoníaco. Apenas o fiz para entender, porquê minha família toda, possuía um passado de histórias fantásticas ou sombrias, e coisas estranhas aconteciam comigo desde criança.

    Quando bebê, meu andajá  se ligava sozinho de madrugada, e isto causou tamanho pavor nos meus pais, que estes queimaram o objeto. Já um pouco mais velha, quando me irritava as coisas caíam sem tocar, se sentia muito ódio, os eletrônicos pegavam fogo perto de quem me magoou, ouvia passos há metros de distância, encontrava objetos perdidos através de sonhos, e literalmente deslocava  meu espírito de um mundo para o outro. – Na infância entrava numa espécie de transe, que me levava para uma dimensão, onde os belos eram maus, e os seres horrendos me protegiam, mas não sabia o porquê. Assim como costumava dizer que o bicho papão era meu amigo, muito antes de lançarem filmes sobre o tema ( quando o entretenimento era voltado para bom é bonito, e mal é feio.) Tal capacidade assustava a minha avó materna, que me pegava falando “sozinha”, e acusava que eu conversava com demônios.

     Como se isso não fosse o suficiente, quando estava na quarta série, e estudava numa escola de esquina para o cemitério, chamada Guanabara, cheguei a me deparar com o mundo sobrenatural, e creio eu que a própria morte, pois era um ser de mortalha negra, que apareceu em meio a penumbra, iluminada por pequenos raios de sol, depois de ter me encontrado com torneiras, que se abriram sem o auxílio de mãos alheias. Não fiquei lá para conversar, tinha 10 anos na época, por isso sai correndo, e ao entrar em contato com meus colegas, tentei não parecer que tinha medo, ou visto algo. Dentre outras histórias, que vieram depois, mas que se eu citasse seria difícil de crer, então vou parar por aqui.

    Quando me abri para o satanismo, não tinha a intenção de ser uma das filhas de Satã, ansiava apenas por ser uma soldada, que guiaria as pessoas para os seus devidos caminhos.

    Por isso ao ser confrontada com visões, e gente muito mais surtada do quê eu mesma, acabei por duvidar de tudo. – “Ah tah eu sou filha de Lúcifer e Lilith, e a herdeira do Inferno, Aham, acredito” ou “Este é o cúmulo da infâmia”. “Tanta gente lá fora, querendo isso, e eu aqui apenas seguindo a minha jornada sem acreditar que sou eu.” “Por quê Lúcifer e não Satã?” – Relembrando que na época via-os como gêmeos negros, não uma totalidade de opostos complementares.

    Não foi algo simples, e pra piorar fiz uma cota de inimigos, que achavam que eu não era digna. – E não ligava muito, pois também concordava com isso, só brigava quando se tratava de mim, não da minha suposta “herança”.

     

     

     

     

    Até hoje sigo duvidando, mesmo que bem lá no fundo, saiba que é verdade, e que aceitar isso é o melhor caminho. Só que sou muito cética, para abraçar tal fé sem provas mais consistentes, e outra eu nunca quis sentar no lugar de Lúcifer, só de está na sua presença, com meus dragões, e meus aliados, já me sentiria feliz. –Apesar das reservas, que tenho, por ele ter interferido para que soubesse, como era ser a ovelha negra da família, e iniciar uma conquista, com apenas as asas e a essência. Todavia há sinais de quê sou da sua linhagem, e vou citá-los, para quê fique claro, quando alguém é um filho, e quando não é. São eles: 

     Nascimento que parece milagroso, mas é maldito: Quando minha mãe engravidou, ela teve rubéola, e o caso foi tão grave, que o médico mandou-lhe me abortar, mas ela se opôs a isto, e fez promessa a uma santa, para garantir minha segurança, e vim saudável. — A igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, quase pegou fogo em 2013, quando houve um incêndio de grandes proporções em Macapá- AP, que foi inclusive noticiado no jornal nacional, mas a causa por muito tempo, foi um mistério insolúvel.

     O meu número da sorte ligado a data do meu aniversário: 15/02/1995 foi quando nasci, e 15 é o meu número da sorte desde criança. – Afinal ganhava festas e presentes. O mesmo dígito é considerado o número do Diabo no Tarot. Além disto se somar todos os algarismos de maneira cabalística, resultará em 5, que lembra o pentagrama, um símbolo bastante comum na magia, e o 1,5 é uma das partes presentes da Deusa Babalom, de Aleister Crowley, representada em sua totalidade por 156.

     Os fenômenos de 15/02: O dia é marcado por grandes eventos históricos, ligados a Nova Era, e ao mesmo a antiga. É no dia 15 por exemplo, que comemora-se a Lupercália, o “dia dos namorados pagão”, em que se celebra Lupercos – que é tido como uma das faces de Lúcifer na Itália – e o dia da fundação de Roma. Foi também no dia 15, que logo após o Papa renunciar, um meteorito caiu na Rússia, e muitos acharam que era um sinal apocalíptico. Desde então no mesmo dia: O exército de fanáticos, chamados de gladiadores do altar se levantou – Estes são responsáveis pela destruição ilegal de terreiros.  Até o material midiático foi direcionado para o caos do fim do mundo. Procure pela série mais assistida por quase um mês: The Umbrella Academy que foi baseada na HQ da Dark Horse, e Doom Patrol, um dos poucos sucessos da DC comics. – Que a propósito, fazem parte do meu gênero favorito de programação, e soou como um presente. Mas você já deve saber, afinal o oculto influencia a mídia... e o resto já deve ter gravado não é?

     Sinais físicos: “Os olhos são a janela da alma”, já dizia o ditado popular. – Embora tenha nascido sem uma alma, meu espírito segue me precedendo. Portanto vez ou outra, os olhos se alteram de maneira expressiva, (quase inumana em alguns casos).

     A minha descendência física: É evidente que carrego uma grande herança Africana, mas o quê poucos percebem, é que a minha forte ligação é com a Itália, inclusive meu sobrenome é dessa origem, e tenho parentes originalmente italianos. Por quê é um sinal? Lá é único lugar onde as bruxas cultuam, e aceitam que Lúcifer teve uma filha enviada a Terra, e também o primeiro local do mundo, onde ouviu-se o nome do Deus Romano. – E eu não sabia disto até 2016. Quando tive um sonho, sobre ter ficado adormecida por 500 anos, que me levou até um conflito na terra da minha descendência de sangue, onde até mesmo encontrei, uma música relevante ao meu nome secreto em 2013. Mas nunca tinha pesquisado mais a fundo, até aquele dia, quando tive o estalo “E se eu focasse na minha magia hereditária para me desenvolver?”.

     A falta de empatia satânica: Lúcifer não é aquele que se diverte entre os demônios, é o quê os mantém na linha, então é normal, que muitos demônios, ou espíritos perturbados, tenham aversão a mim, pois sou filha do “carcereiro da prisão cósmica”.

     Poderes, que podem ser terríveis ás vezes: Odeio ferir pessoas inocentes, mas por vezes a minha ira, se manifesta de tal forma, que consigo interferir neste plano. – Se você é um de nós ou dos nossos, sabe bem a que me refiro.

     A ausência de Lúcifer e Lilith: Eles são deuses, tem seus afazeres, não podem ficar me mimando a cada 24 horas, só porquê vim deles. – A não ser que eu necessite exclusivamente de sua proteção. No entanto é mais fácil enviarem guardiões, antes de tomarem partido, pois querem filhos fortes e dispostos a lutar.

     Loucura racional: Não pertenço a um lado, estou ligada ao todo. Conceitos separativos pertencentes a humanidade, me parecem antiquados. “Magia não pode se unir a Religião” é o tipo de frase que me faz rir por exemplo.– Mas sigo respeitando cada crença, assim como quero, que a minha seja respeitada.

     Relatos autênticos: Devido ao conhecimento sobre os grimórios – e a grande quantidade de gente cética sobre quem sou – registrei tudo datado num site, que serviu como meu diário por um tempo. O nome do mesmo é: Os pensamentos infernais de Carry Manson. – Tenha em mente que na época eu tinha 18 anos, havia acabado de aceitar que era a primeira filha de Lúcifer, e meus textos soavam completamente insanos (e até vergonhosos.) Além disso há os livros Sobre mim de 16/05/2018 e The Angel In Earth de 28/05/2019 no site da Autores, onde podem ler melhor sobre a minha história, e tirarem as suas conclusões. – Os conceitos apresentados acima, são apenas para diferenciar a fantasia do verdadeiro.

     

    Queria dizer que a verdade é o máximo, um conto de fadas, ou tudo o quê aparece na TV, em quê do nada os esquisitos se tornam legais, e imediatamente são reconhecidos como os maiorais da história da Terra. Mas não é assim que funciona.

    Diga que é filho de um Deus, e prepare-se para as risadas, insultos, e pessoas que imediatamente se acham melhores que você.

    Levante-se contra aqueles que não tem consciência, e eles vão apontar o dedo, achando que surtou, e se por acidente acabar os machucando, farão a tua caveira.

    Estou revelando sobre mim, não para que venham tirar satisfações mais tarde. – Mas se quiserem tenho muito mais material para provar quem sou.  – E sim para lhes mostrar, que há sim semideuses entre os humanos, e que nem todos pertencem ao 90% dos mergulhados em mentiras, somente para aparecer.

    Vocês não estão sozinhos. Eu posso ouvi-los, e acreditar em suas histórias, se forem sinceros sobre o quê houve. – Quem realmente é, percebe as inconsistências dos fatos, por isso é mais fácil saber, quem carrega a mesma dádiva ou maldição.

    Cada de nós tem uma missão, seja ela grandiosa, ou parte de um grande plano, e seria bom que nos apoiássemos, pois o universo é grande o suficiente para quê todos consigamos, alcançar a merecida glória. – E isso vale para humanos e predispostos.

    Acham que apenas por ser filha de Lúcifer e Lilith, sou uma criatura suprema e imbatível? Não, não é por aí. Há os filhos que nasceram da própria Tiamat ou de Apsu, e outros Titãs, que são muito mais poderosos. – No entanto ter muita energia, não significa  automaticamente, que sabe usá-la.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Capítulo 7 – DIY MÁGICKO

     DIY é um conceito em inglês que significa Do it Youself, ou Faça você mesmo, e foi adotado por alguns grupos dos E.U.A que preferem fabricar seus materiais, e se abstém do uso das grandes marcas conhecidas. É claro que tal ideal parece implícito para muitos, e embora haja uma corrente chamada Magia do Caos,  que foi desenvolvida Austin O. Spare, e trabalha com isso de maneira bem expressiva, é importante que saiba como praticar.

    Você pode naturalmente criar feitiços, rituais, e cerimônias, para cultuar o teu deus, e lhe mostrar a sua devoção. Mas infelizmente há leis que por hora são permanentes.

    Não adianta por exemplo usar um baphomet para fechar um portal, quando o mesmo é usado a décadas por diversas seitas satânicas, para invocar os príncipes infernais.

    Assim como não adianta tentar invocar um demônio, atribuindo energias negativas ao pentagrama, que há muito tempo é considerado pelas bruxas, como um símbolo de proteção. – Pode até funcionar devido o grande descaso da sociedade, que segue achando que é o símbolo do Diabo, mas a entidade em questão vai rir de você.

    Sempre crie meios de se proteger, mesmo que seja na hora de criar um servidor – No caso da Chaos Magic. – Você pode ter a linhagem dos demônios, sem saber, e atrair um ser de luz, que tenta te destruir, somente porquê tu nascestes como determinado herdeiro. – E vá por mim, luz não significa ausência de combate violento.

    Verifique as condições ideais para realizar a prática mágicka. – Não só a atmosfera mística, como a física também.

    Se a lua é negra, e não condiz com o teu objetivo, evite-a, ou vibre de acordo com o instrumento, de onde saiu o acorde.

    Se o tempo está ruim, (e você não foi responsável), vivem te perturbando, e tudo parece dá errado no dia em questão, já tem a resposta para o teu intento, que é: Não. O universo está se manifestando contra, então fica por sua conta e risco. – Caso queira ir adiante.

    Procure conhecer os presságios. O chamado do universo é comum, por seguir um padrão lógico de repetições, que foge do binário computacional 0 e 1, e passa a ser 0,0,0 ou 1,1,1 – Quanto mais frequente, mais chances há de ser o Cosmos falando de maneira silenciosa. – Será um alerta, se Todos os itens estiverem presentes:

     Números: Números iguais, são portais de consciência – e energia mágicka – se abrindo. Mas quando surgem várias vezes, em conceitos diversos, é bom avaliar o quê significam através do estudo da numerologia, cabala, e gematria em geral.

     Sonhos : O plano onírico é um dos mais interessantes, pois revela sobre o mundo, que há dentro do ser. – Freud estudava os sonhos, para compreender melhor seus pacientes, e você também pode, embora o método não seja recomendado, pois dificilmente será objetivo para ter resultados plausíveis. Além disto, se o indivíduo está conectado com o oculto, tem a capacidade, de prever as linhas dos próximos acontecimentos. Assim sendo deve-se avaliar, quando um sonho, é apenas sonho, ou um sinal. 

    Por ex: Se você tem tido sonhos com elementos semelhantes isolados. Como: a presença constante de pregos em evidência. O resto do contexto se aplica a ti, mas a presença dos pregos é um comunicado. – Como se fosse um código morse do Universo.

     Frases incomuns: Sejam de ameaças, ou que transmitam segurança. – Devem ser avaliadas, se sentir algum tipo de calafrio na espinha, quando as ouvir. Não importa se é da boca de um estranho, na tela do pc, ou em uma canção, pesquise sobre a questão, e tente decifrar o quê significa.

    É relevante salientar que o Padrão Ressoante é a chave, e que embora tenha citado apenas 3 exemplos, o fato de o presságio acontecer 3 vezes, não é o suficiente para se definir como um sinal. Será um sinal, se houver persistência do oculto em te mostrar a mesma mensagem, do contrário pode ser somente uma bela coincidência. A(o) Bruxa (o) saberá intuir a partir disso, e definirá se quer seguir tal caminho, ou optar por outro.

    Respeite as Leis Antigas, apenas atribua algo condizente a tua personalidade no Culto a teu Deus.

    Se lá no teu grimório diz que deve usar a violeta, use a violeta, não o  eucalipto – Com exceção a sacrifícios humanos e de animais, sem razão lógica. Como por ex: Mate um carneiro para o deus, e se livre do cadáver. (Se for para matar um bicho, que seja para deleitar-se da sua carne, ou trazer alívio para alguma dor.)

     

    Siga os antigos, estude-os, respeite-os, mas adore somente aos deuses. – Não trate grandes nomes da vertente da magia, como se fossem a entidade a que te dedica. – Por ex: Aleister Crowley Não É Um Deus Supremo. Em vista disso não haja como se fosse. ( Leia seus escritos, mas sempre com a consciência crítica, do quê condiz com a tua realidade.)

    Você pode imitar alguns rituais, feitiços, e poções. Mas o ocultismo é o campo da criatividade, então quando estiver pronto, inove, entregue-se, e DIY (Faça você mesmo) – Não é porquê fulana usa sempre os métodos 100% tradicionais, que tu devas utilizar também, afinal para ela pode ser fácil, arrancar a cabeça de um cervo, e para ti não.

    Como é errado falar de um ideal, sem aplicá-lo na vida, a experiência que lhes trago é a minha própria língua, que batizei de Lovlicos, pois me baseei em escritos de H.P Lovecraft, e nos sinais da linguagem cósmica, e ela consiste em: 

    Alfabeto tradicional  português- BR. 3 Palavras abreviadas com 3 siglas no total.

    III. Formação de frases, com no máximo 3 sentenças.

    Dicção forte, com acentos ocultos, que somente 

    quem já presenciou os mistérios do universo, 

    consegue aplicá-los.

    Timbre doce para o uso benéfico, timbre

    sombrio, beirando o demoníaco para o

    maléfico.

     

     

    Ex: 

    Em português é: 

    A lua brilha sem parar

    Em Lovlicos é: 

    Alub separ

    Em português é:

    Sim e não, talvez

    Em Lovlicos é:

    Sie nata

     

    Em português é:

    Não vou

    Em Lovlicos é:

    Navo

     

    Parecem palavras de uma raça antiga de alienígenas – ou com os Enn’s demoníacos que conheci ano passado. Mas é apenas um sistema simples, que apliquei aos meus rituais, e até agora rendeu bons resultados. – Ainda que alguns fatos tenham me assombrado, pois apesar de não ter uma egrégora forte (por ser minha criação) é uma expressão muito poderosa. – A melhor explicação, é que o cérebro se impressiona com coisas estranhas, e o uso das mesmas, intensifica o poder mágicko.

    A intenção aplicada nela pode variar, mas pelo que percebi com as minhas experiências e análises, é uma força que mexe com a ordem mundana, e traz a tona o quê é considerado impossível. – Tanto pro bem, quanto pro mal.

     

    Fora a Lovilicos, também realizo meus próprios rituais, baseados na filosofia com a qual tenho mais afinidade. – Uma qualidade, que me fez inclusive criar uma seita chamada Sees- Seguidores da Estrela, que obviamente representava Lúcifer, mas para acessá-la bastava acreditar em algo. -  Através dela introduzi algumas pessoas no mundo místico, após comprar-lhes a sua alma. – Quando acreditava em tais falácias.

    O Sees tinha um propósito comum: Realizar desejos, sejam eles nobres ou atrozes. Assim como também gerava consequências, para aqueles que traíssem o círculo.

     

    No total formávamos 4 componentes. Todos os membros eram femininos, e a nossa crença no poder oculto, era tão grande, que quando nos tornamos A constelação – O quê uma sente, as outras também. – O efeito foi imediato.

    Da mesma maneira que quando uma das moças, escolheu um homem, em vez do círculo. Acabou possuída, e tentou matar o seu amado, diante dos familiares. – Tinha 16 anos na época, e até chorei, me sentindo culpada, por um demônio tomar-lhe posse. – Nem sempre ter poder, é um sonho, na maioria das vezes parece mais um pesadelo. (Ao menos para mim.)

    Nossos rituais incluíam derramamento de sangue, como prova de lealdade, e devorar as doces frutas do cemitério, onde nos reunimos para realizar nossas práticas ocultas. – Que fique claro, não tolerava sacrifício de animais, o fluído da vida, vinha das moças, que faziam parte do círculo.

    Era pura brincadeira de criança, como uma versão da vida real de jovens bruxas. – Mas não cheguei a me tornar uma maníaca como a Nancy, apesar de me vestir como tal.

    Tivemos poucas reuniões, pois após chegarem as consequências, duas garotas, queriam pular fora. Uma perdeu o namorado, e a outra começou a ver as sombras, e isso lhe fez ter medo de onde colocava o pé. Então só restou eu e outra garota, que me apoiou por um bom tempo. – E até me ajudou quando minha vida ficou em risco, após romper o círculo de vez.

    Lembro-me do nosso último encontro. Foi o mais marcante de todos, pois ali tive o primeiro vislumbre da vida passada. – Fomos até o cemitério, e lá um estranho homem de chapéu branco, e camisa vermelha nos recebeu, fazendo perguntas interessantes, a respeito de estarmos ali para passeio ou trabalho, e nos avisou para tomar cuidado com as visagens (termo para espíritos) minha companheira riu, disse temer só os vivos, e eu disse que a morte era uma escapatória para os covardes, frase esta que não saia da minha cabeça.

     Ao ouvir a minha resposta, ele fez uma reverência, e sumiu no meio do matagal. Após a sua partida, as sombras começaram a ganhar forma, e tanto eu, quanto a menina vimos coisas. Primeiro vi uma mulher enforcada no topo de um pinheiro, por um cipó cheio de espinhos, e logo deduzi que era uma bruxa. Em seguida seu corpo sem vida caiu, e um ser de chifres meio homem meio touro, veio para recolhê-lo. Tão grande foi a minha surpresa, ao ver como ele a pegava nos braços. Não a arrastava para o inferno, nem levava como um pedaço de carne, parecia mais que era a sua noiva, e tinha um aparente carinho por ela. – Conseguia sentir que aquela imagem, era um retrato da minha vida passada, e aquela conexão era fantástica. – Ambos desapareciam na névoa, e 7 ou 8 rostos, não lembro ao certo, apareceram, sendo 5 femininos e os restantes masculinos. Nós voltamos para a causa da minha amiga, e acabei por desmaiar sem razão aparente.

     

     

     

     

    Mais tarde a noite, quando estava sozinha em meu quarto, vi que haviam várias sombras chifrudas ao meu redor, e as mesmas pareciam que iam sair das paredes. – Isso me deu um calafrio tão grande, que naquela noite, resolvi dormir no sofá. – Neste tempo nem imaginava que era a herdeira de Lúcifer, então não tem como ser algo influenciado por tal descoberta, que veio acontecer no ano seguinte, e só foi aceita, quase 2 anos depois, pois precisei analisar toda a gama de fatores, para poder aceitar tais fatos.

    Então tome muito cuidado com o quê aplica no seu DIY mágico, pois tudo o quê fizer, expressará a sua real natureza. – É por isso que estou lhe dando estes conselhos de maneira direta, pois apesar de ser uma conhecedora dos mistérios, com grandes saberes, por ter estudado sempre sozinha. Queria que alguém tivesse me dito estas palavras, para evitar todos os desastres que aconteceram.

    A magia independente do quê faça, sempre trará consequências. Mas não é como colher o quê plantar, e sim por causa do valor que atribui a tua responsabilidade pelos atos. Portanto sempre pratique, somente aquilo que a sua consciência é capaz de suportar, do contrário além de ser taxado como louco pela sociedade, vai realmente acabar como um. – Ouça esse conselho de quem foi recentemente diagnosticada com transtorno de personalidade, após inúmeras tentativas de suicídio e agressão, antes de conhecer formas de lidar com a própria escuridão.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Capitulo 8 – A bruxa que vive entre os santos e os pecadores.

    Viver em sociedade é uma tarefa difícil para um bruxo. Sabemos de tantas coisas maravilhosas, e verdades indizíveis, que nos sentimos criaturas superiores, que precisam interferir na jornada dos demais, para que experimentem de toda a beleza ou conhecimento que adquirimos. – Isso é inegável, mesmo que sirva a luz da magia, e diga que acredita que todos são iguais, a igualdade não é a resposta para o quê quer.

    Imagine que todos no mundo são lagartas, e que algum dia se tornarão lindas borboletas. – Se você interferir no processo, eles certamente morrerão, antes de conseguirem sair do casulo. Este é um exemplo que li em Lex Satanicus, e achei algo absurdo na época, mas hoje percebo que é o melhor a ser feito.

    Assim como as pessoas, podem ser simbolizadas como insetos majestosos, também podem ser descritas como música, e cada uma tem um ritmo ou melodia própria, que pode ou não agradar os nossos ouvidos. – Portanto procure sempre andar, com aqueles que tem um ideal em comum contigo.

    É lindo abraçar as diferenças, mas uma coisa é aceitar o outro, outra bem diferente, é querer ser como ele. – A verdadeira beleza do mundo, não está em rostos padronizados e iguais. Mas sim em suas peculiaridades. O quê quero dizer com isso? Seja fiel a ti mesmo, e se aceite acima de tudo, não tente se adequar aos demais, somente porquê eles não te aceitam. Procure pelo teu próprio nicho, pois não importa qual seja, sempre há um espaço para ser ouvido. 

     

     

     

    Evite se expressar em sociedade, se não aceitam a tua crença mística. – Não é porquê você respeita os outros, que eles farão o mesmo por ti. – “Mas Lux você falou para não me adequar aos demais!” Sim, e não se adequar, significa ser leal aos teus ideais, não importa o ambiente em que se encontra. – Eu sou bi, e mesmo em meio aos héteros, continuarei sendo, não importa o quê digam. E se encontrar aqueles que me apoiam, me abrirei e direi a verdade, se não, seguirei em silêncio, pois o mundo é um lugar perigoso, e há aqueles que em seu fanatismo, apenas precisam de um “A”, para virem para cima. – E não quero mais responsabilidades por danos aos outros. É uma questão de sobrevivência.

    Enfiar nossas crenças na goela alheia, é como forçar a pessoa a aceitar nossas filosofias. – Eu sei que funcionou para os cristãos, mas o medo é tão eficaz, que hoje os fiéis se uniram a outras crenças, por não aceitarem a intolerância religiosa. Então o temor, embora funcione, não se compara a força do amor pelo quê se faz. Por isso se quer mesmo trazer, alguém para o seu lado – Vá na mãe de santo mais próxima, e coloque o nome da pessoa numa roda. Brincadeira!

    Tente explicar-lhes sobre a sua fé, e quando for confrontado, apenas faça comparações, que o ajudem a perceber que no fim seu amor pela divindade, não é tão diferente, do quê o quê sentem por Cristo. – Sua vida está tão difícil por quê não larga dessa tal magia e abraça o nosso senhor? Já me disseram e respondi Da mesma forma que você ama o seu senhor, apesar das dificuldades, eu também amo a Lúcifer, e assim como tu se identificas com Cristo, eu me sinto mais confortável andando com o deus romano. Foi o suficiente para seguir em paz, nunca mais tocou-se no assunto, e a amizade seguiu  a mesma.

     

     

     

     

     

     

     

     

     

    Não tente humilhar ninguém, a não ser que a pessoa realmente mereça tal castigo. – Eu pessoalmente odeio “lacrações”, porquê é algo desnecessário para sociedade, e trata-se de gente, que quer “arrasar” apenas repetindo o discurso alheio, como se fosse uma verdade absoluta. A pessoa aparentemente refletiu sobre algo, mas no fundo não se deu o trabalho de questionar, e apenas uniu a ideia do autor, a coisas que ouve no cotidiano. Chega a ser – me perdoe pela expressão – Patético, pois a preguiça intelectual se torna mais do quê evidente. – Por isso fica a seu critério Expor a sua ideologia ou não–  Mas lembre-se Bruxos (a) de verdade, não tomam os problemas da sociedade como seus. – Eu sei soa frio, todavia é assim que funciona, pois devido a enorme gama de poder, que um ser desses possui, se ele coloca as suas emoções em jogo, certamente isso traz consequências, que dificilmente são agradáveis. Hoje destrói um ditador, amanhã impede o seu país de prosperar, e todos acabam na miséria por exemplo.

    Não estou dizendo,  que não deve defender aquilo em quê acredita, estou apenas esclarecendo, que precisa ter noção do quê defende, antes de ir as ruas ou redes sociais. – Não seja mais um papagaio da fé, e somente parta para a guerra, se o conceito do outro, realmente te ferir, de uma forma, que precisa colocar todo o ácido para fora. – Este livro não é para passivos, ou atacados, mas sim guerreiros que sabem quando devem erguer a voz.

    Isto nos leva a um tópico interessante. Não ataque a tudo e todos, apenas porquê não te aceitam. Aprenda a si amar, e não ligar para opiniões repulsivas. – Não ligar mesmo, ou seja ouvir, e entrar por um lado e sair pelo outro, sem sair por aí dizendo “Eu não ligo! Não adianta tentar me atingir! Pois não vai conseguir!” já que se o fizer, estará claramente agindo de maneira contrária, ao que disse.

    Aprenda a controlar a sua raiva, ou ela te controlará. – Não haja por impulsos, pois isto pode custar muito caro para você, ou os seus colegas. – A ira nos faz ter pensamentos num segundo, cuja responsabilidade pesa por uma década.

    Haverão muitos grupos, que exaltarão a fúria, e te dirão para destruir tudo e todos. Mas não te falarão, que você pode ferir alguém gravemente, ou até mesmo matar o alvo escolhido. – Porquê a maioria que venera estas forças, não se dá ao trabalho de conscientizar os seus do perigo.

    Aprender a controlar a sua raiva interior, não te fará mais fraco. Mas sim capaz de realmente arrancar o coração, de um inimigo velado, sem sequer se importar se isto pesa ou não na consciência, pois terá ciência, de quê se chegou a tal ponto, foi algo necessário, e será mais difícil de se arrepender. Só que se o fizer, apenas por causa de um segundo de raiva, a culpa mais tarde vai te consumir, e caso isto não aconteça, sugiro que vá urgente ao psiquiatra, pois a sua falta de empatia, é algo assustador.

    Aceite a natureza, e a proteja, não tente modificar a ordem das coisas. – Nós somos carnívoros, está no nosso DNA, desenvolvemos caninos para devorar carne. Se você quer cuidar da natureza, comendo apenas frutas e vegetais, tudo bem, mas não venha tentar obrigar os outros a seguirem a tua doutrina. – Cada um em seu nicho lembra?.

     “Um leão pode devorar um ser humano, mas o ser humano não pode devorar o leão”? A onde isto é natural na cadeia alimentar? Por quê o leão tem que ser superior ao homem, em vez de haver um termo de igualdade entre ambos? A ciência não tem dito a anos, que o homem tem parentesco com os primatas, e logo é um animal também? – Eu sei isso pode ser desagradável, mas o natural não se baseia em veados e leões, andando lado a lado como amigos, da mesma forma, não pode acontecer com os humanos e os seus irmãos animalescos. Não importa se é racional. A falta do instinto caçador, nos torna dóceis, e mais fáceis de sermos manipulados por entidades obsessoras. – É claro esta é a minha opinião, escolher seguir ou não é de você, mas antes de sair levantando bandeiras a favor do meio-ambiente, pelo menos conheça o quê defende.

    Isto significa que eu, Lux Burnns, sou um monstro, a favor da caça por diversão, e outros meios de entretenimento humano, que humilham os animais? Não, o preto e branco, não se encaixa a mim. Uma coisa é respeitar a natureza, outra é usá-la como posse, da maneira que bem entender. – Por mim as fábricas de comida, deveriam promover o abate misericordioso, semelhante aos dos banquetes de festividades africanas.

     

     

    Sempre respeite a crença alheia. Você ama Odin e seu parceiro a Lúcifer. Mas e daí? Cada um segue a divindade que desejar, e aprende com a mesma. – Novamente lembre-se da metamorfose da borboleta, se mexer no casulo, ela morre.

     

    O mesmo vale para os seus pais. Se você vive com eles, lhes deve muito, por te darem um teto, comida, e as vezes até roupa lavada. Então não os desafie, ou os desmereça por causa de crenças diferentes. Vocês são de tempos diferentes, foram colocados juntos, para aprenderem uns com os outros, não se destruírem. – Seja maduro, saiba argumentar, e lutar como um nobre, pelo seu ponto de vista. Se agir assim, eles provavelmente verão, que a tua filosofia está te tornando alguém melhor, e que não precisam se preocupar. Agora se sair berrando, quebrando os móveis da casa, batendo a porta do quarto, mesmo que eles só queiram conversar, tudo o quê vai ganhar com isso, é mais abordagens, que demonstrem medo do caminho que está tomando. – Falo por experiência. Iniciei minha vida mágica da pior forma, e só depois que adotei esta postura, por causa de Anton Lavey, a guerra em casa acabou. Rebeldia com causa é algo louvável, mas rebeldia por rebeldia, nada mais é que tolice. – Se eles  ainda sim, não permitirem que faça os cultos dentro de casa, vá para fora, se for ruim, procure algum canto seguro, onde possa praticar, sem causar problemas em seu lar. – Nem sempre será um método efetivo, mas é melhor ter aliados dentro de casa, do quê inimigos.

     

    Por fim sempre tenha em mente, que sentir-se superior, não significa ser superior. Para torna-se assim, terá que ter atitudes que condizem com tal postura. – Não me mande beijos de luz, se a sua única intenção é me queimar. GsolitaryDevil.

     

     

     

     

    Capitulo 9 – Os Deuses e o Fim da farsa da realidade dualística.

    Este é o fim da sua jornada comigo, e o ínicio de algo ainda maior. Como disse lá no início, há autores infinitamente melhores, e não estou aqui para me apropriar dos seus cargos ou teorias. – Apenas estou apresentando-as com uma linguagem mais direta, para que saibam exatamente o quê praticam, de acordo com a interpretação aceita por outros ocultistas. 

    Até aqui temos trabalhado sobre as grandes causas sociais, que afligem a comunidade mística, e muitas vezes defendi que a realidade não é dualística. Mas para fechar este pequeno guia, me aprofundarei nesta questão com uma explicação mais extensa. – É neste ponto que você vai decidir, se quer continuar sendo ocultista, ou prefere tomar o caminho mais simples, adotando alguma religião por exemplo.

    Desde que éramos jovens, nos ensinaram a dividir o mundo entre homens e mulheres, bem e mal, fogo e gelo, guerra e paz. Nossos pais – na maioria das vezes – nos diziam “No mundo há Deus que é o bem, e há Satanás que é o mal. Deus é luz, Satanás escuridão. Deus é água, Satanás é chamas.” 

    Apesar de não discordar, dos conceitos acima apresentados – com exceção a Deus ser luz, mas é pessoal – creio continuarmos a segui-los é errado. Já aprendemos muito sobre as duas metades, então por quê deveríamos continuar trabalhando-as de maneira separada? 

    Está certo, a iluminação é importante, mas as sombras também são. É preciso que haja um ou o outro, para quê o todo exista. Não adianta tentar tirar um dos números da equação, senão dificilmente encontrará o valor de X ou Y.

     

     

    Devido a minha conexão cósmica, estudei não somente astrologia, como astronomia, física, e biologia. Pensei a príncipio, como muitos magos, que era apenas uma imposição social, para nos manter ignorantes perante a verdade do universo. Mas foi então que percebi, que a culpa da divisão não era dos cientistas, em sua maioria religiosos, e sim dos novos filósofos da internet, que empregam o conhecimento científico, apenas para atender os seus próprios conceitos mesquinhos.

    “Deus não existe.” Dizem todos os ateus, que esqueceram-se de questionar, adotando uma conduta massificada, e muitas vezes tomam como prova inconstetável, as palavras de grandes pensadores, que foram queimados como hereges. Oras meus amigos, se Deus não existe, naturalmente nada mais do mundo místico é real também. Inclusive Lúcifer, Odin, Hel, Osíris, Ísis, Seth, Zeus, Deméter, Amon, Baal, Krishina, e vários outros deuses, pois se o suposto supremo não é real, o resto dificilmente pode ser considerado como tal. O velho barbudo de sandálias que conhecemos, nada mais é do quê uma imagem criada por homens, que compilaram antigos escritos, num livro chamado bíblia sagrada. – Então quando se entrega a crença, de adorar o Deus do impossível, você indiretamente está se conectando com alguma destas divindades do velho mundo, por isso o uso de versículos, para atingir determinados objetivos.

    Espera Lux Burnns, filha de Lúcifer e Lilith, neta da gigante Tiamat, você está sugerindo que devo me converter? Calma! Não, isso jamais. Alimentar a ideia de quê este deus é supremo, é o quê torna ainda mais forte, não lembra? 

    Só que também não se pode descartar o inegável, de quê esse grande mosaico mal feito, também é parte da nossa cultura, e que desprezar alguns dos seus fatos, é o mesmo que massacrar a própria doutrina. – Por isso se prender ao lado A ou B, é errado. 

    “Ah mas a deusa x é maior que o deus y.” ou “O deus y é maior que a deusa x” Já chega de se prender a isso. Queres realmente acessar o poder máximo, nesta realidade limitada? Então pare de abraçar apenas a causa que te convém, e aceite que o quadrado é feito de dois triângulos, ou o círculo é formado pela união dos mesmos. – O quê isto significa? Que a realidade não se resume, a deuses C e D, e que não é necessário comprar as suas brigas, para que adquira o seu respeito, ou realizem os seus objetivos.

    Nem mesmo estes deuses são originários do príncipio feminino ou masculino, mas sim da união de ambos, que nasceram do verdadeiro ser supremo, que não é Jeová, Cerridween, ou nem mesmo Tiamat, apesar do quê muitos acreditam.

    Se você é iniciante, será um choque, mas a realidade precisa mostrada desde aqui, para que entenda a perda de tempo, que é lutar apenas de um lado. Então prepare-se, pois a origem do universo, de acordo com os antigos, lhe parecerá absurda, se ainda continua abraçado apenas a positivos e negativos:

     Mitologia súmeria

    Cosmogonia

    “Antes de todos os antes, nada existia, a não ser Nammu, o abismo sem forma. Um dia, Nammu resolveu espreguiçar-se, e novamente voltou a enrolar-se. Com esse gesto, ele criou Ki e Anu, respectivamente a Mãe Terra e o Firmamento. Deles nasceriam todos os demais deuses, o tempo e, no futuro, o homem, que seria feito de argila.”

    Superinteressante 28/05/2019

     

     Mitologia Egípcia: 

    Cosmogonia 

     

    Neterus Primordiais:

    São os deuses mais importantes os quais estão associados com o mito de criação (origem do universo):

    • Nun (Nu ou Ny): simbolizava a água ou o líquido cósmico que deu origem ao Universo.• Atum (Atum-Rá, Tem, Temu, Tum e Atem): representa a transformação de Nun, sendo considerado aquele que deu origem a explosão do Universo (semelhante ao Bing Bang) e que gerou os diversos corpos celestes, separando assim, o céu e a Terra.• Amon (ou Amun): esposa de Mut, ele é considerado o rei dos deuses.• Aton (Aton ou Aten): relacionado ao sol, ele foi o deus do atomismo que estava relacionado com o disco solar.• Rá (ou Ré): deus da criação, sendo um dos principais deuses do Egito.• Ka: força mística que representava a alma dos deuses e dos homens.• Ptah: marido de Sekhmet e de Bastet, representava o deus criador e protetor da cidade de Mênfis. Além disso, era considerado deus dos artesãos e arquitetos.• Hu: representava a palavra de criação do Universo.

    Toda Matéria 28/05/2019

     Mitologia Hindu

       Comosgonia 

    A Mitologia Hindu está fundada nos Vedas, que são os livros sagrados dos hindus. Segundo a crença, o próprio Brahma os  escreveu. Brahma é o Deus supremo da tríade hindu. Seus atributos são representados pelos três poderes: criação, conservação e destruição, que formam a Trimuri ou trindade dos principais deuses: Brahma, Vishnu e Shiva, respectivamente, da criação, da conservação e as destruição.

    Brahma é o deus criador de todo o universo e de todas as divindades individuais e por ele, todas serão absorvidas. Ele se transformou em várias coisas, sem nenhuma ajuda externa e criou a alma humana que, de acordo com os Vedas, constitui uma parte do poder supremo, como uma fagulha pertence ao fogo.

    Infoescola 28/05/2019

     Mitologia Grega

    Cosmogonia

     

    No princípio de todos os mitos, houve um tempo em que nada existia no Universo além do Caos – a mais antiga, a mais inexplicável, a mais absurda das divindades. Nenhum poeta e nenhum filósofo grego imaginava o que teria existido antes dele: era o primeiro dos deuses, a sombra de loucura e confusão que está nas profundezas de tudo o que existe.

    O Caos ocupava todo o espaço do Universo. Nele, estavam misturadas as sementes de todas as coisas futuras: mas não havia ordem alguma, apenas um turbilhão sem sentido e sem fim. No poema As Metamorfoses, escrito no século 1 a.C., o poeta romano Ovídio descreve assim a terrível divindade que deu origem a tudo: “Antes que a terra, o mar e o céu tomassem forma, a natureza tinha apenas uma única face, chamada Caos: uma massa crua e desestruturada, um conglomerado de matéria composta por elementos incompatíveis… Nenhum elemento estava em sua forma correta, e tudo estava em conflito dentro de um mesmo corpo: o frio com o quente, o seco com o molhado, o pesado com o leve”.

    O Sol não iluminava o dia, e a Lua não brilhava à noite. Não havia chão para firmar os pés, nem mar para se nadar – todos os elementos estavam misturados num caldo primitivo. E as coisas, embora sempre em convulsão, não saíam do lugar: pois não havia sequer direita e esquerda, em cima ou embaixo, Norte ou Sul, dentro ou fora. O Caos era tudo e, ao mesmo tempo, nada.

    Superinteressante 28/05/2019

     

     Mitologia Nórdica

    Cosmogonia

     

    A narrativa das Edas conta que, no princípio, não havia nem céu nem terra, apenas uma enorme abismo sem fundo e um mundo de vapor, no qual flutuava uma fonte. Dessa fonte surgiram doze rios que, após longa viagem, congelaram-se e com o acúmulo das camadas de gelo umas sobre as outras, o abismo se encheu.

    Ao sul desse mundo de vapor, havia um mundo de luz, que soprando vapores quentes, derreteu o gelo que havia se formado. Esses vapores, ao elevarem-se no ar, formaram nuvens e destas surgiu Ymir, o gelo gigante e sua geração. Surgiu, também, a vaca Audumbla, que alimentou o gigante com seu leite e alimentava-se da água e sal contidos no gelo. Certo dia, quando a vaca lambia o gelo, surgiu o cabelo de um homem; no segundo dia, a cabeça e no terceiro, todo o corpo, com grande beleza, força e agilidade.

    O novo ser era um deus e dele e de sua esposa surgiram Odin, Vili e Ve, que mataram o gigante Ymir. Com o corpo do gigante morto, fizeram a terra, com o sangue, os mares, com os ossos ergueram as montanhas, dos cabelos fizeram as árvores, com o crânio fizeram o céu e o cérebro tornou-se as nuvens carregadas de neve e granizo. A moradia dos homens foi formada pela testa de Ymir e ficou conhecida como Midgard ou terra média.

    Infoescola 28/05/2019

     

    Notou uma semelhança? É novato, e A e B nada mais são que A+B, que resulta em AB, que é a resposta sobre o quê o cosmos é. Eu detesto matemática, mas é um cálculo aceitável. Só que esta presença de uma força, que é a soma de partes, não se encontra presente apenas no misticismo, ou em algebra.

    Na física por exemplo um átomo, é formado por prótons e elétrons, que significa respectivamente o positivo e o negativo trabalhando juntos. Isto é algo caiu para mim na sexta-série, mas estava tão focada em renegar o aprendizado mundano, que não pude perceber, o quanto isto podería me ser útil.

    Na biologia há os casos de partogênese, quando uma espécie assexuada, gera uma prole. Mas isto só é possível, porquê as mesmas carregam tanto os genes xx quanto o xy. 

    Esta é a natureza meu caro, esfregando em sua face, que as espécies não são definidas por machos ou femêas, e sim por aqueles que são dotados de capacidades, para dominar o reino em quê habitam. – No reino dos insetos a louva deus fêmea, fica no poder, porquê o ambiente a tornou capaz. No reino felino, especificamente dos leões, é o leão quem comanda, e assim por diante.

    Os humanos, pré-dispostos ou não, continuam sendo animais, por isso também são livres, para definir quem é apto ou não para determinado cargo, desde que estejam cientes, de quê os gêneros feminino e masculino, atuam como formas da valor equivalente, não desigual. Já que novamente, um sem o outro, tem poder, mas os dois juntos, geram a perfeita união que representa o nosso Universo.

    Portanto não se entregue a falácias dualístas, que só agregam valor a determinado grupo. Abrace o todo, entenda-o, e perceba que a união de muitos, é o quê realmente faz a força.

    Por fim guarde isto em sua mente: Bem e mal é relativo sim. Mas uma conduta, realmente correta, pode ser alvo de piada entre os demais. Não importa, se tu segues a luz ou as trevas. Sempre que resolver pensar fora da caixa, haverão aqueles que tendem a te “apedrejar” ou “queimar na fornalha ardente”, por sua postura nobre.

    Um satanista pode sim ser amigo de um cristão. Um bruxo pode sim ser amigo de um mundano. A única coisa que me parece imperdoável, é que ambos continuem, a tentar se destruir, por comprar a briga de seres, que claramente andam de mãos dadas.

    Sem o Inferno não há quem puna os criminosos pelos seus pecados terríveis, da mesma maneira que sem o Paraíso não tem recompensas maravilhosas. Sem a Guerra, não há razão para o Amor existir. Sem a luz não dá para ver na escuridão, assim como sem um pouco escuro, é impossivel enxergar na luz. Sem o fogo para aquecer, o frio nos congela. Sem o frio para nos aliviar, o calor nos queima. Sem a lança para atacar, o escudo pode não ser mortal. Sem o escudo, não há como se defender da espada. A magia branca nos ajuda a alcançar nossos objetivos, mas a magia negra, nos ajuda a sobreviver. O tudo é o todo, e o todo é a junção de todas as metades.

    Agora a sua jornada se encerra comigo, nobre peregrino, e espero ter te ajudado a encontrar o teu cálice dourado. Pegue-o, encha-o do vinho do saber, e embriague-se de conhecimento, pois como pôde ter notado, não importa o caminho que tomares, o destino sempre será o mesmo, mas é a perspectiva do conceito, que te trará paz ou desespero.

    Com muito carinho, Lux Burnns.

     

     

     

     
     
     
  • Natural Witch por Lux Burnns

    Sumário
     Agradecimentos..........................
     Introdução......
     Capítulo 1..........
     Capítulo 2...........................
     Capítulo 3..........................
     Capítulo 4.........................
     Capítulo 5........................
     Capítulo 6....................
     Capítulo 7...............
     Capítulo 8.............
     

     
    Agradecimentos
    Minha gratidão é voltada para o meu companheiro Soul, que me apoiou desde o início desta caminhada, me ajudando a melhorar ainda mais como ocultista, e jamais desistir das minhas convicções, mesmo quando o mundo inteiro, parecia discordar das mesmas. Também deixo minhas graças aos meus amigos: Volúpia, Srtoa Gamab, Milliato, Rivendell, Srta Rabbith, Mandy, Tha, a Witch born on fire, e Isa, que me ajudaram a perceber quê este tomo poderia ser útil as próximas gerações. Por fim reconheço também o auxílio de minha mãe Silvana, que apesar dos pequenos atritos pelas crenças diferentes, sempre acreditou em mim e nos meus ideais. Obrigado a todos vocês, que me deram ânimo para chegar até aqui, e terminar este projeto. Não sei o quê me aguarda depois disso, mas certamente é um feito e tanto, e me orgulho por plantar esta semente, que vocês com carinho e paciência regaram.
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
    Introdução 
    É válido mencionar, que jamais tive a intenção de escrever um livro voltado para o aprendizado dos demais. Afinal há muitos autores, infinitamente melhores do quê uma velha bruxa, em um corpo não tão jovem. 
    Mas devido ao grande número de desinformados, que se acham conhecedores do mistério, e tudo o quê mesmo representa, vejo que é hora de assumir o meu manto de ocultista outra vez, e trazer-lhes algumas verdades nada convenientes. 
    Não estou aqui para lhes ensinar fórmulas, que vão mudar as suas vidas num estalar de dedos. Muito menos sobre como devem adorar seus deuses, ou o quê é o certo e o errado. Não sou uma bússola moral para tomar tal partido, apenas viajo de mundo em mundo, para libertar aqueles que aceitam o preço da liberdade. A ignorância pode ser uma benção, mas é a coragem que determina quem tem a chave do tudo. O inimigo é astuto, logo devemos ser justos, mas isto não significa dissociar, e se abster, e sim que devemos está preparados. Você pode não compreender estas palavras no momento, mas logo entenderá o quê cada frase significa.
     Se escolheu decifrar este livro, é porquê ouviu o chamado, mas não estou falando dos filhos do sol, e sim de algo mais amplo e intrigante.
    Há memórias de um mundo que querem te fazer acreditar que não existe. Há poderes que um ou nenhum dos seus parentes consegue explicar. Há mistérios em teu íntimo, que quer desvendar.
    As respostas estão presentes aqui, mas está pronto para ouvir o quê a primeira causa tem a dizer? Não será um caminho fácil, por isso é necessário que esteja pronto para esta jornada, que saiba no mínimo o quê é a espada e o escudo, e como usá-los. Do contrário será devorado pelos teus demônios, antes mesmo de ouvir a palavra da força geradora.
    Eu sei, parece o roteiro de algum filme de ficção científica bizarro, porém tudo o quê for mencionado aqui, será focado na minha experiência real como bruxa, e no aprendizado que isto me trouxe no decorrer do tempo. Está preparado? Então vire a página, pois a aventura o aguarda jovem peregrino.
    Capítulo 1
    O Nascer e o Tornar-se 
    Vivemos numa sociedade cheia de liberdade, que acredita bastante no ideal de igualdade, e que todos podem entrar no mundo da magia, sem discriminações de espécie. 
    Não estou aqui para me impor sobre tal coisa, porém acredito -e é o quê devia ser ensinado- que há aqueles que nascem com a predisposição para a magia, e os que infelizmente, não foram agraciados pelas divindades.
    Isso faz com que estes sejam mais fracos? Não. Eles devem ser escorraçados, e friamente criticados ? Também não. Apenas devem ter consciência de quê a sua busca, certamente será mais trabalhosa e longa – ou não se souber usar os meios certos, mas não vem ao caso – Por isso jamais devem se comparar aos que possuem habilidades naturais, pois tal atitude culmina em desencontro com o propósito inicial, de descobrir-se neste caminho.
    Não pense em nenhum momento, que o fato de ser somente humano te faz inferior, isso não significa muita coisa, quando você sabe que há meios de melhorar as suas habilidades.
    Já os predispostos, deveriam entender que o fato de terem recebido dons da natureza, não os faz automaticamente deuses, apenas lhes dá alguma vantagem em relação aos outros. Mas uma vantagem, não significa uma vitória garantida, portanto devem estudar e se preparar, tanto quanto os que não foram agraciados, para superar suas limitações, que sim existem.
    Não importa o quê são capazes de fazer - se levitam, se incendeiam, se preveem, manifestam, projetam, e tudo mais-  isto não os faz bruxos, apenas são detentores de habilidades especiais. Tanto o filho de um deus, quanto o filho do homem, precisam de treinamento, e conhecimento, para poder serem dignos de tal alcunha.
     
    É nos ensinado desde o começo, que precisamos andar em grupos, para poder obter o grau de bruxo, mago, ou feiticeiro. A sociedade mágica insiste em seguir essa premissa, mesmo nos tempos atuais, e isso atrasa bastante a vida de um novato.
    Grupos, como: Ordens e Covens, Podem até servir para ajudar no entendimento de certos assuntos, mas a realidade é que se queres realmente o poder, não deve seguir com ninguém mais, além de ti mesmo.
    Afinal de contas, o ocultismo no fim é apenas uma forma de encontrar-se, e não é no meio da multidão, com suas ideias diversificadas, que conseguirá te achar, no máximo ficará ainda mais confuso e perdido.
    Você se encontrará apenas quando não houver ninguém por perto, quando estiver sozinho num quarto escuro ou claro, questionando-se sobre o quê é, como, e o porquê das coisas.
    Por isso não acredite em líderes, que fazem questão de impor que precisa deles, acredite em ti mesmo, e naquilo que vai de acordo com a tua personalidade, e o quê tu consideras certo ou errado.
    E este tópico nos leva a outra questão. A magia tem se tornado um grande alvo do entretenimento. Para onde olhar  há “bruxos” ou “seres místicos”. O quê é uma coisa boa, mas somente para a diversão, pois tudo o quê se encontra nos filmes, seriados, desenhos e afins, são apenas fragmentos de textos ocultistas, e qualquer um de bom senso sabe, que não dá para entender o texto com apenas um verso, pois o mesmo pode servir para expressar diversas possibilidades, e se apenas escolher ler tal parte, jamais entenderá o contexto para que foi criado, por isso não use tais meios para aprender sobre o caminho. 
    A verdadeira magia, influencia o ambiente, mas o ambiente não influencia a magia. Logo uma obra midiática pode ser inspirada em algo oculto, só o quê o oculto, não pode advim de uma obra midiática, do contrário todo o entendimento se perde, e em vez de formar a sua inteligência divina, apenas a degrada e a transforma em loucura vã.
    Um bruxo de verdade- homem ou ser mágico- Sabe disto por instinto próprio. Entretanto com tantos jovens adotando posturas erradas, por conta do quê assistiram, é sempre bom frisar tal fato.
    Como disse antes são verdades inconvenientes, por isso não espere que eu vá apoiar uma conduta tão inapropriada para o ocultista.
    Queres ser um bruxo? Então leia, pesquise, estude, questione-se, e faça-se um. 
    Não espere que apenas porquê mudou o caminho, e deixou de seguir com as ovelhas, tudo será mais fácil. Verdade seja dita, se quer conforto, e evitar desafios que podem te fazer desmoronar, seu lugar não é aqui. Não importa se tem o sangue, sem essência jamais conseguirá sair do lugar.
    A magia não é um caminho simples, nunca foi. Apenas os que se encantam por sua versão comercializada de luzes e pó brilhante, acreditam nesta falácia.
    O agraciado deve aprender a controlar seus dons, para não ferir os que não merecem receber tal castigo, e o humano deve procurar meios, de melhorar seu espírito, ou DNA cósmico, para garantir que conseguirá manifestar alguma habilidade.
    Só que ambos precisam passar pelo mesmo processo árduo e cansativo. O agraciado, que nasceu com poderes sobrenaturais, precisa torna-se aquele que tem controle de si, e o humano que tem o controle da sua mente, precisa destruir todas as barreiras impostas, para então nascer como um ser sobrenatural.
    Ambos são como a metade um do outro, mas precisam focar em suas limitações, pois o primeiro poderá sofrer consequências desagradáveis, e o segundo precisa achar meios, de fazer-se tão forte quanto o outro, mas no fim os dois se encontram no mesmo patamar, por isso seus caminhos, ou o quê são , não interessa.
    É dito que para ser um bruxo, é necessário uma iniciação, canalizada por sacerdotes e sacerdotisas, que receberam o chamado dos deuses, e toda aquela parafernália, que estamos cansados de ouvir.
    A iniciação é um processo necessário sim, mas não precisa vim das mãos de alguém que diz ter sido “tocado” pelos deuses. 
    Haverão aqueles que certamente discordarão de mim, pois são tão tradicionalistas quanto os cristãos ortodoxos, contudo esta é uma verdade inegável.
    Não estou dando pontos a favor de rituais de meia tigela, encontrados na vasta rede, que fique claro. Apenas acho justo mencionar, que tais postos – sacerdotes- não torna os homens e as mulheres detentores da verdade, pois para aqueles que podem ver, a mesma   é revelada dia após dia, fora dos templos “sagrados”. 
    Aliás creio que o grande segredo, é apenas um pedaço de papel vazio, que nada diz, pois o axioma está no vento, na água, na terra e no fogo, não nas palavras ditas por um mestre.
    Você é o quê acredita ser, não o quê os outros impõem sobre ti.
    A iniciação nada mais é que um processo psicológico, no qual você condiciona o teu cérebro, para se abrir a possibilidades, que por anos foram lhes ensinadas como impossíveis.
    É importante pois o poder, embora se manifeste em nossos genes, vem da mente. 
    É um fato científico, pois por mais que muitos duvidem, a magia é sim ciência, pois pode ser estudada, verificada e comprovada.
    Os neurônios são responsáveis por tudo o quê fazemos, seja bom ou ruim. Assim se você acredita firmemente, que ao chegar do outro lado de uma rua, vai acabar caindo, esses impulsos químicos captam a mensagem, e fazem com quê sofra o acidente, porquê os manipulou para isso.
    Este é um caso simples, mas há situações ainda mais “inexplicáveis”, nas quais as pessoas sofrem de males mentais, que podem provocar sintomas físicos, mesmo que não haja aparentemente nada para causar dor, são as chamadas doenças psicossomáticas.
    É por isso que um bom bruxo, precisa ter um ótimo preparo mental, ou a sua magia não obterá resultados.
    Não adianta nada você nascer com a predisposição, ou procurar pela essência sem acreditar nelas, pois em ambos os casos, não conseguirá despertar suas verdadeiras habilidades.
    Já viu que pode levitar, ou incendiar as coisas por exemplo, só que na hora de provar os teus poderes, há um bloqueio.
    Sozinho chega ao teto, queima a toalha da mesa. No entanto na presença de amigos, é visto como louco, pois seus pés não saem do chão, ou acreditam que usou o isqueiro, para forjar provas.
    Isso te faz achar que enlouqueceu, que os outros estão certos, e que é melhor evitar as suas “habilidades imaginárias”. Não é?
    Esse certamente é o caminho mais fácil, mas como disse antes o caminho é difícil, não adianta fugir no primeiro obstáculo.
    Esta é apenas a prova, de quê precisa tornar-se aquele que controla a si mesmo, para poder provar aos outros, do quê realmente é capaz.
    É a evidência de quê a predisposição, não é o suficiente, se em nada acredita – Principalmente se duvida de si.
    Já no caso dos humanos, a situação é um pouco diferente, pois este ainda não manifesta nada, mas precisa se desamarrar das correntes de concreto da sociedade, na qual foi inserido.
    De outra maneira, achará apenas os que lhe oferecem um lugar, servindo aos deuses, mas jamais um acento do lado dos mesmos.
    O ser humano, está acostumado a ter tudo nas mãos, e a seguir sempre aquilo que o torna o maior dos maiores, e é isso que tem que acabar.
    Há uma hierarquia no mundo mágicko, que deve ser respeitada. Só que o fato de hoje ser apenas homem, não implica que amanhã também será, então é preciso que aprenda a aceitar as suas limitações, e a conhecer melhor as possibilidades.
    Seu mundo é pessimista demais, ou exacerbadamente otimista, você não tem equilíbrio, vive mergulhado em caos, engolindo os ideais daqueles que supostamente estão acima de ti, sem nunca levantar a voz.
    É preciso que entenda que você tem sim voz, que o quê sente importa, que há muito mais do quê somente um planeta abrigando a vida, e que - apesar de comprovado por Galileu Galilei- A Terra não é o centro do Universo.
    Desse modo, quase tudo o quê lhe ensinaram até o momento, pode ser mentira, ou uma verdade mergulhada em mentiras, ou seja há fatos que são claramente falsos, e outros embora pareçam como tais, são verdadeiros.
    É preciso que entendam suas limitações, ou a magia nunca funcionará.
    A iniciação além de expandir a sua mente e elevá-la, é também o  desenvolvimento de uma conexão mental do seu eu e o cosmos, e por isso deve ser considerada “sagrada.” 
    Assim sendo quando for realizá-la, não vá procurar por “receitas de bolo” prontas, como se houvesse alguma nova bruxa, que fosse a Ana Maria Braga da Magia, pois não há - se houvesse todos teriam poderes e entendimento, e não é o que acontece.
    Somos todos mestres e aprendizes de nós mesmos, mas devemos sempre procurar sermos a melhor versão. - É importante frisar, porquê se tu é o teu mestre, logo irá crer que pode fazer o quê quiser, como se ser um mestre, significasse que é Deus, e pode mandar e desmandar. Mas não é bem assim.
    Ser o teu próprio mestre, significa melhorar-se nos aspectos necessários. Crescer, e desenvolver-se, para alcançar os teus objetivos, não interessa se são bons ou ruins, pois bem e mal é relativo -O quê é bom para mim, pode não servir para ti.
    A iniciação, mesmo que realizada por tuas mãos, ainda é um ritual, e por isso dependendo do Deus que escolher seguir, deve respeitá-la como tal.
    Se queres obter sucesso e expandir teus pensamentos, é preciso que ouça a tua voz interior. Mas esta voz não nasce do nada, ela não é uma ideia absurda que lhe vem ao pensamento, e tu executas, isso se chama criatividade, não o chamado interno.
    Para realizar uma iniciação de sucesso, é necessário, que conheça os cultos anteriores dedicados ao Deus com o qual escolheu aprender. É uma forma de honrá-lo, e a ti mesmo também, para quê não passe vergonha entre os outros ocultistas, e consiga calar a boca dos iniciados.
    Eu escolhi aprender com Satã, logo me utilizei de velas negras,  símbolos profanos, e materiais de corte, para realizar a minha auto-iniciação.
    Sou uma predisposta, nasci numa família, que embora hoje sirva a Yaweh sob a luz, um dia serviram ao seu lado negro, conhecido como Adonai.
    Por isso consegui aprender muita coisa, sem a interferência de mestres e iniciados. Já tive a oportunidade de andar com grupos. Mas os “mestres” que apareceram em meu caminho, mais me atrasavam, do quê me ajudavam a entender a minha verdade.
    Entendo muitos conceitos místicos, por intermédio dos deuses do abismo. Eles me ensinaram a ser mais forte, e me indicaram o quê procurar, para achar as respostas, por isso sou muito grata a eles, e defendo minha versão da veras mística. (Ou verdade mística)
    É significativo mencionar que os deuses, embora nos guiem pelo caminho, eles jamais podem andar por nós, sendo assim não espere que o Deus escolhido, te entregue todo o material, que precisa para alcançar o teu objetivo, eles te darão a chave, mas a porta quem procura é você.
    Outra coisa, se teus caminhos se abrem com facilidade, há apenas duas explicações: O teu papel é pequeno, logo suas limitações são fáceis de superar, ou já sofreu o suficiente, para entender como alcançar aquilo que mais deseja.
    Após passar pela iniciação, e receber sinais – isso mesmo sinais, e não sinal- de quê o Deus escolhido te acolheu entre os seus, você agora vai definir como deve estudar, e mensurar o teu aprendizado, por isso precisará de um caderno, e uma caneta, para registrar, cada coisa incomum que te ocorreu, com data, hora, condições mentais, respostas plausíveis, e tudo o quê for necessário, para provar que teu relato é verídico.
    Se é um predisposto, poderá medir a melhora do controle de teus dons, se é o primeiro da tua linhagem, poderá transmitir isso para o próximo que colocar o manto, que certamente vai aparecer, podendo ser um filho seu, ou algum outro parente.
    Coisas incomuns vão acontecer, é inevitável, faz parte da jornada. Como lidarão com elas, é que vai definir se são ou não bruxos, magos, ou feiticeiros de verdade.
    Ou acreditaram mesmo que bastava um ritual, para se tornarem algo?
    Não, não é tão simples. Se fosse, se chamaria cristianismo, e não paganismo.
     
     
     
    Capitulo 2 – Realizando a magia
    Poderia encher as páginas com vários sistemas mágickos, como: Herméticos,  Satânicos, Caoístas, Streghes, Célticos, Gregos, Egípcios etc. Alguns conheço a fundo, outros apenas de maneira superficial, mas não o farei. 
    Se queres conhecer cada um deles, sugiro que faça uma pesquisa, extensa e detalhada, para entender o conceito apresentado, por estas filosofias de maneira profunda.
    Como disse antes não estou aqui para ensiná-los, como adorar os seus deuses, até porquê o ato de “adoração”, é algo que me dá nó estômago, mas vai de cada um.
    Então você escolhe com o quê quer trabalhar, minha função é apenas te ensinar, a realizar o ato mágicko. (Note que há um k extra, é proposital, para separar magia de ilusionismo, e foi proposto por um famoso ocultista.) 
    Primeiramente lembre-se sempre: O poder vem da mente, e com a linguagem certa pode programá-la. Sendo assim os resultados mágickos (como respostas, questões, ou atos) são genuínos, mas o processo para se realizar o ato, pode ser provocado pela mídia. 
    Não estou me contradizendo, a magia sempre influencia, mas a mídia não deve fazê-lo, pois faz do entendedor um tolo. No entanto, se souber usá-la, pode ser bastante benéfica, na hora de preparar a sua mente, para desbravar a Terra Oculta e suas maravilhas.
    Você Não deve aceitar a verdade escrita no roteiro, pois é uma meia verdade, e toda meia verdade é uma mentira.
    Todavia se for esperto o suficiente, fará bom uso de tais artifícios, e em vez de acabar mergulhado nas trevas da insanidade, será um exímio ocultista.
    O tolo irá ouvir a música milhares de vezes, e se deixará ser controlado por ela, tornando-se mais dos zumbis da cultura popular. O astuto utilizará a mesma música, para domar a si mesmo, pois tem conhecimento dos seus efeitos e que a própria serve para controlar a mente, por isso sabe como programar a canção, para atingir o seu objetivo.
    O ingênuo assistirá um filme, e criará diversas histórias em sua mente, acreditando que aquela é a sua realidade, sem de fato ser. O desperto verá na mesma obra, aspectos que condizem com a sua jornada, e os quê também contradizem seu aprendizado. – A magia estará presente ali mas o verdadeiro ocultista, saberá sobre o quê se trata o seu contexto.
    O hipócrita utilizará lendas urbanas, para validar as suas experiências “mágicas”, e recuará quando for abordado. O consciencioso saberá que a verdade sobre as lendas urbanas, é tão pequena que passa despercebida, por isso fará o possível para detalhar o seu relato, de maneira que coincida com o quê tal criatura realmente é, pois tem o entendimento de quê lendas nascem da má interpretação dos povos sobre determinados seres. Lobisomens por exemplo podem ser criaturas provindas de Sirius B, Vampiros podem ser membros da constelação de Alfa Draconis, e por aí vai.
    A voz do coletivo precisa ser ignorada, até que se faça necessário ouvi-la, ou seja o conhecimento empírico tem de ser esquecido, até que haja uma explicação científica para o mesmo, ou uma forma de validá-lo de maneira, que não seja uma experiência pessoal.
    Encontrar-se a si mesmo é importante, contudo depois de achar-se, deve focar-se em descobrir se realmente é o quê acredita ser, pois é a mente é uma caixinha de surpresas.
    No mundo em que vivemos, o ceticismo doentio é louvado, por isso devemos dançar de acordo com a música, para poder criarmos nossos passos. Isto é necessitamos abraçar o conhecimento concreto, antes de realizar a magia. Porquê embora o espírito preceda ao corpo, a mente funciona como nossa alma, e quando a mesma é atingida, nossos resultados mágickos podem falhar.
    Não adianta tentar empregar a magia pela magia, numa sociedade que te obriga a ter respostas para tudo. 
    Foi-se o tempo que não havia explicações para os fatos naturais, e bastava curva-se para os deuses para conseguir as suas graças.
    Não é mais a Era de Ouro, os Deuses não estão mais entre nós, eles abandonaram este planeta há muitos anos, e até os seus filhos estão por conta, por isso conectar-se com os mesmos não é tão simples.
    É imprescindível que o predisposto tenha consciência disto, pois muitos filhos dos deuses, acreditam do fundo de seus corações, que nossos pais cuidam de nós, por 24 horas, como se fossem como os humanos que nos acolheram em suas casas, mas a realidade é outra.
    É, eu lamento, lamento de verdade. Mas os deuses tem seus próprios afazeres, e embora nos visitem algumas vezes, deixando rastros incontestáveis de sua presença, eles não ficam ao nosso lado todo o tempo.
    Novamente estou ciente de quê muitos tentarão me “apedrejar” por isso. Só que como disse antes, as verdades são inconvenientes, e trago a liberdade para os que aceitam o seu preço, e neste caso o preço é abandonar a carência de seus coraçõezinhos, e aceitar que o pai, a mãe, ou ambos nem sempre podem ficar presentes.
    Se vocês os veem, ou os ouvem constantemente, é porquê ainda estão acordando, e as memórias da vida passada, estão se manifestando, de acordo com a forma com a qual eles se comportavam com vocês, no outro mundo.
    Eles nunca aparecem por nada, sempre há uma motivação para realmente virem ao nosso encontro, e quando vem, fazem com que saibamos que estiveram conosco.
    Lúcifer e Lilith são meus pais, sou a primeira de sua linhagem, e isso pode ser confirmado no meu site antigo, que disponibilizarei no fim deste livro. Por quê digo isto? Bem uma famosa série, retratou tal fato recentemente, só que antes do mesmo acontecer, já havia escrito no meu site, que esta primeira era eu. Então pode ir conferir na prática, que o oculto influencia mídia mas a mídia não interfere no aprendizado místico.
    Quando Lúcifer me visita, sempre há todo um contexto por trás disto, ou é para me dá um alerta, como em 2013 quando me mostrou que Belzebu é um traidor, que quer o seu trono. Para me proteger de alguma criatura nociva, que tentou me destruir, enquanto caminhava pelo mundo inferior. Ou me convocar para alguma reunião importante. - Eu sei parece cômico, mas já fui chamada uma vez, para ir com o mesmo no conselho celestial.
    Como sei que de fato era ele? Eu jamais tinha visto Belzebu como um traidor. Mas após este sonho e outros nos quais fui perseguida pelo Senhor das Moscas,  fiz uma extensa pesquisa, e encontrei relatos de pequenos ocultistas, que defendiam a mesma teoria. Alguns que falavam que Belzebu se opõe a rebelião de Satanás, outros que ele era como um exorcista, mencionado na bíblia.  Mas pareciam tão dissociados da realidade, que me desanimei e aleguei insanidade.
    Contudo algo em meu interior, me levou a pesquisar ainda mais, e acabei encontrando um belo artigo dedicado ao mesmo, no site da Penumbra Livros, onde faço grande parte dos meus estudos esotéricos atualmente, devido a enorme fonte de conteúdo gratuito disponível ali.
    De fato não só Belzebu era traidor, como já tinha conquistado o trono do Inferno uma vez, fazendo com quê 49 dos 72 demônios que caminhavam com Lúcifer o servissem, e isto já tinha até se tornado o roteiro de uma revista em quadrinhos da Vertigo inclusive.
    Até aquele momento eu nada sabia, mas Lúcifer veio e me mostrou um fato, que não era uma fantasia, e podia ser comprovado.
    Além disso no dia do dito sonho, ocorreu um evento quase cataclísmico em minha cidade, ligado ao vento, que é um dos elementos que o representa, e minha mãe literalmente viu um anjo dentro do nosso lar, muito bonito segundo a mesma.
    Já na outra vez, foi como se ele enviasse uma mensagem através de uma médium, na qual me mandou tomar cuidado, pois coisas terríveis iriam acontecer em breve. 
    É claro que duvidei, para mim a possessão, é apenas um processo psicológico, no qual o “possuído”, na verdade é um predisposto, que desconhece seus dons, e acaba manifestando habilidades sobre-humanas, que fazem com os quê os padres interpretem de maneira errônea, e na época, achava que se tratava de uma insanidade maior que a minha, só que ainda sim, é no mínimo suspeito tudo o quê aconteceu depois.
    Minha casa foi saqueada, e levaram todo o meu material de registro de eventos sobrenaturais, os homens reviraram o meu quarto todo, e deixaram o da minha mãe arrumado. Procuraram pelo notebook, onde tinha fotos, teorias, e vídeos, sobre a minha caminhada oculta, levaram a minha câmera, e até o quê eu usava para me distrair do mundo, o meu playstation 2, que já não valia muita coisa na época, e acreditei ser o disfarce perfeito, para o quê realmente fizeram.
    Foi como se declarassem guerra a mim, e a minha sanidade, pois eu analisei os fatos, bati cabeça dando explicações para mim mesma, e a verdade é que até hoje não consigo ver como um mero assalto, pois o mesmo começou, segundo a perícia no momento do incêndio da rua debaixo, que havia começado por causas naturais, e não por intervenção humana.
    Isso não foi a única coisa, naquele ano e até o inicio do outro fiquei muitas vezes a beira da morte. Escapando de acidentes por muito pouco, ou sobrevivendo as tentativas de suicídio, mesmo sem querer continuar de pé, porquê não suportava mais o fardo de ser filha de Lúcifer e Lilith. – Ou achou que somente o não agraciado sofreria? 
    Não foi fácil, e depois que tudo o quê era meu foi levado, fiquei isolada do mundo, e saiu a notícia de quê as contas estavam sendo vigiadas pelos americanos, e como se isto não bastasse, a minha página com apenas 150 curtidas, tinha sido apagada da rede, como se o link estivesse quebrado. O quê convenhamos, é no mínimo suspeito.
    Mas Lúcifer havia me avisado, e eu não dei ouvidos.
    Já Lilith sempre foi mais sutil, aparecia em corpos bonitos, e transmitia mensagens de importância sentimental, que me impediriam de me meter em furadas - Entretanto eu não ouvia, e por isso me machucava sem necessidade.
    No meu primeiro contato com a mesma, esta me revelou que o meu namorado na época, não era digno, nem me pertencia, e que era um erro tomar posse do mesmo, pois este era infantil e malévolo, e não era o quê tinha escolhido para mim.
    Duvidei de imediato, pois a moça que me disse, parecia ter sentimentos pelo rapaz. Só que anos mais tarde, vim saber que as suas predições estavam corretas, e que o cara era realmente um traste.
    Não haviam sinais plausíveis, que nos ligassem de fato, somente aqueles que vinham da sua capacidade de me estudar, para saber o quê eu queria - como um sociopata adolescente - e que o fato de me juntar a ele, não trouxe nada mais que:  Desentendimento, culpa, tristeza, e desespero. Como se o mesmo tivesse sido colocado na minha frente, somente para atrasar a minha descoberta, sobre quem e o quê de fato era, pois tal informação certamente tinha grande valia, e lá na frente falarei sobre isto.
    Por estas e outras que digo, eles só vão se manifestar em casos de extrema importância, por isso não espere que apareçam apenas por quê é a tua vontade.
    É preciso entender que a linha da realidade e a ficção por vezes se cruzam, mas a ficção é apenas uma expressão exagerada da realidade. Se não compreender isso, certamente não vai suportar os desafios, e acabará por enlouquecer. – Foi o quê quase aconteceu comigo, depois de 6 anos no caminho.
    Por isso use os artifícios midiáticos apenas para controlar a ti mesmo, para atingir o teu objetivo, ou por diversão. Mas jamais faça uso dos mesmos, para o teu aprendizado. Eu sei deve ser a 3° ou a 4° vez que repito, mas é para que entre em suas cabeças.
    O preparo mental é o primeiro e mais importante nível, porquê é através deste que vai destravar todo o teu potencial oculto, e trazê-lo para a luz.
    Por isso é necessário cuidar da tua mente, como se fosse o teu corpo, absorvendo somente aquilo que é capaz de suportar, e que favoreça o teu entendimento, ou a realização do teu propósito.
    Dias antes de fazer o ritual, faça uma boa playlist de músicas, que te ajudem a se sentir mais forte e capaz, de filmes que te façam crer no mundo oculto, de games e quadrinhos que seguem o mesmo roteiro, e quebram o padrão do impossível, tornando-o possível.
    Pois assim é criada a atmosfera mística mental, e isto te ajuda a ficar pronto para realizar o teu ato místico.
    Feito isto, agora é hora de seguir para o segundo nível.
    A atmosfera mental já foi desenvolvida, você se sente pronto para fazer o seu primeiro ritual, e não há nada que te faça duvidar de suas capacidades.
    Então agora deve expressar isso de maneira física, desenhando símbolos em teu altar, utilizando as velas certas, o incenso necessário, e o ambiente favorável ao teu rito.
    Por isso precisará conhecer cada símbolo que for utilizar em teu ritual, do contrário pode acabar libertando uma coisa, que deveria ficar no outro mundo- Falo por experiência, passei 9 anos sob a influência de Carreau, por ter o libertado em um dos meus rituais, e só há pouco tempo me livrei do mesmo. Então tome muito cuidado, com os símbolos que vai utilizar, pois cada um tem significado específico, e não é o teu desejo de alterá-lo, que vai promover a mudança de uma egrégora que está presente neste planeta há anos.
    Feito isto, agora é colocar em prática o teu aprendizado, então vá adiante.
    Já estudou, já conheceu os símbolos, e leu tudo a respeito dos cultos dedicados ao deus que tu escolhestes, então porquê não se arriscar com um rito próprio? 
    Você já aprendeu a respeito do ser escolhido, sabe o quê pode, ou não fazer, o quê o honra ou desonra, então dê asas a tua imaginação, pois uma imaginação sem recursos é criatividade, mas quando a mente foi preenchida com conteúdo, a imaginação pode abrir as portas, para quê consiga ouvir a tua voz interna. Quer dizer que se você apenas fizer um ritual, seguindo a tua imaginação por nada, pode falhar e cometer erros graves, mas se souber moldá-la, pode servir de ponte entre você e o deus que te aceitou entre os seus.
    Os predispostos precisam está preparados, pois quando a sua voz interna surgir, vários fatos intrigantes vão acontecer, inclusive coisas de origem sobrenatural, que parecem obra de um poltergeist, mas provavelmente virão deles mesmos. 
    A forma de saber se vem de si mesmo, é medindo sua temperatura corporal, pois o excesso de energia, fará com quê a mesma suba bastante, independente do seu elemento, mesmo os que tem afinidade com o gelo, poderão sentir a sensação de calor intenso.
    Ou tentando mensurar o seu comportamento psicológico, pois se estiver sob o estado de muita adrenalina, também poderá acabar por influenciar o ambiente com a tua força oculta.
    Já os humanos não precisam se preocupar, também podem empregar a sua energia oculta num ato mágico, sem ter alcançado o poder divino. É claro que no caso dos mesmos, coisas sobrenaturais serão raras, e provavelmente se acontecer, dificilmente virão dos mesmos. Contudo isso não significa que não há nada que possam fazer.
    O poder dos homens está em sua mente, um pouco mais que no caso dos predispostos, e os humanos podem usar a sua força, para realizar sonhos típicos da espécie, como: Ganhar muito dinheiro, um bom emprego, atrair o amor de suas vidas, melhorar a aparência etc.
    Não será algo instantâneo pois são limitados, por serem a imagem de seu Deus Jeová, mas mesmo assim, com o método certo, e os 2 níveis mental e físico, eles certamente atingirão as suas metas.
    Pois há uma energia oculta poderosa, que está disponível para todos, inclusive os humanos, e é através desta que podem inclusive, abandonar a condição de homens, para se tornar algo mais próximo dos predispostos, ou ainda mais poderosos que alguns.
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
    Capitulo 3- A Magia é vida, mas não é um ser vivo.
    A magia não é feminina, nem masculina, ela está acima de teorias tão mundanas.
    Atualmente vemos constantemente que a magia é algo especificamente feminino, que a mulher é detentora de uma enorme energia oculta, porquê somente a mesma é capaz de produzir a vida, e todo aquele blá, blá, blá feminista, do qual até mesmo Lilith já está por aqui.
    Ou pior ainda que o homem, por conta de seu intelecto voltado para o modelo mais racional da realidade, é naturalmente aquele que manifesta as forças de um verdadeiro deus, ou outras besteiras machistas que nos fazem entender, porquê o feminismo existe para se opor a tal pensamento.
    Nem o homem ou a mulher são os provedores de tal energia. Não separados pelo menos. Pois a mulher embora tenha o ambiente perfeito para gerar a vida, não pode fazê-lo sem a semente que existe dentro do homem.
    É totalmente desnecessário provar a sua superioridade através do seu sexo. Isto não é coisa de um bruxo real, mas sim de alguém que tem sérios problemas consigo, e precisa validar-se pelo quê tem no meio das pernas.
    No caso das mulheres, é como adotar uma postura semelhante ao machismo, que supostamente desprezam. No caso dos homens é apenas seguir sendo como os outros, quando, como ocultista , deveria ser melhor que os demais.
    Baphomet representa a união do feminino e masculino, e é uma das figuras mais poderosas do ocultismo, pois não expressa apenas a dualidade, mas a totalidade, que é o uno. A união  do céu e o inferno, do sagrado e o profano, e provavelmente é a imagem perfeita, de como a primeira causa seria, se a mesma se manifestasse em forma física, portanto aprenda a lição mostrada por esta imagem.
    A Magia não tem Religião.
    Muitos defendem abertamente que bruxaria cristã não existe, porquê a igreja perseguiu inúmeros bruxos na santa inquisição. – Até os 16 anos acreditava no mesmo, mas hoje tenho 24 anos, e sou obrigada a desiludi-los mais uma vez.
    O conceito amplamente defendido é que a magia pertence ao paganismo, e logo não pode ser praticada dentro das igrejas, ou por seus fiéis.
    Quem faz tal defesa, provavelmente se encontra no inicio da caminhada- Mas se já passou vários anos, e ainda acredita nisso, precisa urgente deixar de seguir a “massa mística” (O quê é irônico, pois nem deveria haver uma.) e conectar-se  com os deuses, pois apesar do quê imaginam, não estão nem os servindo, nem caminhando com os mesmos.
    Eles sentem como se a nossa cultura estivesse sendo saqueada dos templos sagrados, e entregues aos cristãos.
    E não estão errados, pois isto é o quê de fato aconteceu, antes da chegada de Cristo. – A bíblia sagrada cristã é um mosaico de textos ocultistas de outras culturas.
    Portanto o “roubo” já aconteceu há muito tempo, não é algo novo, e desta forma muitos fiéis já tiveram tempo suficiente para desenvolver os seus cultos. Existe até mesmo uma linha do cristianismo, voltada para os misticismos, então a bruxaria cristã não é algo novo, aceite isso.
    Além disto os grandes ocultistas conhecidos, estudaram as mesmas filosofias criadas por estes fiéis, antes de fundar as suas escolas de pensamentos. É o caso de Aleister Crowley - conhecido como “To Mega Therion”, a  “Besta 666”, “O homem mais cruel do mundo” - que ingressou na Ordem da Aurora Dourada, antes de criar seus Libers. Porém o quê poucos sabem, é que embora o mesmo tenha sido expulso da escola dominical, a Ordem que o recebeu, foi fundada através do ensinamentos distorcidos de Agrippa, que era um grande homem, e devoto do divino.
    Então não há necessidade de espancar e cuspir naqueles que descobriram tal possibilidade, pois pode até servir para contribuir em alguma coisa.
    Há tanta coisa que merece mais tal ódio, que realmente me dói a vista, ler tanto desgosto voltado para os que resolveram seguir um caminho diferente do nosso.
    Do momento em quê erguemos nossa espada para os homens apenas por conta da sua religião, estamos sendo tão sujos e hipócritas, quanto os inquisidores, que apenas apontavam o dedo para aqueles que discordavam da sua versão do mundo. – E eu sei que você não quer ser comparado com o teu rival, então não haja como tal.
    É importante frisar, que a magia supostamente foi trazida aos homens por aqueles que desceram dos céus, por isso a mesma não pertence a humanidade, e logo não deve ser julgada como se fosse.
    Lúcifer e os caídos ensinaram as mulheres, e lhes deram o poder, para realizar os próprios intentos. Mas de onde Lúcifer veio e onde a magia residia antes? Isso mesmo no plano celestial, ou a Deusa Desceu a Terra para ensinar os humanos a praticar a magia, e os guiar para o seu mundo. Quando não mais pôde ficar enviou a sua filha, para continuar o seu trabalho. Mas é sempre seguindo a premissa de quê a magia foi transportada de outro reino, que não é o quê vivemos.
    Então por favor, pare de usar esse contexto absurdo, de quê a magia pertence somente a um grupo, pois até nos textos antigos, pode ser comprovado, que “não é assim que a banda toca”. Hermes Trismegisto já dizia: O quê está acima, é o quê está abaixo. Entenda de uma vez por todas este conceito.
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
    A magia não tem política.
    Se você é de : direita, esquerda, liberal, fascista, socialista, ou qualquer outro partido conhecido, não importa.
    Novamente é algo mundano, que deve ser deixado em seu devido lugar.
    Não traga suas convicções partidárias para dentro da sociedade ocultista, pois não é bom misturar as coisas.
    Hitler e o Vrill estão aí para provar. 
    Ele obteve um grande sucesso ao realizar a sua missão, mas a sua mensagem real jamais foi ouvida, e pior ainda acabou por ser distorcida, com o decorrer dos anos. Sendo tratada como um massacre desnecessário, ou desumano, ou o grito de horror de inocentes, que nem eram tão inocentes assim. – A sua luta não era contra os judeus, e sim os sionistas, que supostamente queriam dominar o mundo, mas conseguiram fazer parecer que esta era a vontade de Adolf.
    Esta é a versão da verdade que conheço e acredito, pois a filosofia sionista e illuminati, em muito coincidem.
    Mas é algo em quê Eu acredito. Não significa que você é obrigado a crer no mesmo. Por isso saiba que há um espaço para a magia, e outro para a política, não é porquê um influencia o outro, que devemos misturá-los.
    O Tudo é o Todo, e o Todo é Um. Só que é preciso compreender suas metades, para poder entender como se complementam.
    A Magia não tem etnia.
    Não importa se tu és negro, branco, hispânico, índio, ou qualquer outra raça conhecida. Todos são humanos, ou ao menos meio-humanos, no caso dos predispostos. Assim sendo devem respeitar uns aos outros.
    Se o branco quer fazer parte da gira, deixe-o entrar. O mesmo vale para o negro que anseia entrar num sistema mais elitista como o luciferianismo ou o satanismo.
     
    Salvo apenas exceções para filosofias voltadas para o racismo como a Skull and Bones por exemplo. Porém creio que tais ideais são como feminismo e machismo, e precisam ser abolidos da face da Terra, pois só servem para validar a vontade, de gente tão pequena que se define por sua cor ou sexo.
    A magia não tem estilo.
    Vocês encontrarão gente de todo tipo no caminho. Mulheres com roupas provocantes, homens maquiados, moças de turbante, rapazes de dread, gente de preto, gente de branco, e isso não significa absolutamente nada.
    A roupa que a bruxa veste, não representa o seu poder, apenas expressa a sua mais forte emoção, aquilo que mais gosta, e tem alguma afinidade.
    Ou seja não é porquê uma bruxa veste preto, que ela trabalha para Satã, ou porquê uma bruxa usa vestes coloridas, que esta serve a deusa e o deus.
    A diversidade neste meio é muito grande, logo nem tudo o quê aparentemente é, de fato é. Quer dizer há casos de bruxos que se vestem como anjos, mas trabalham com energias bem densas, e o mesmo ocorre com aqueles que se vestem como demônios, mas praticam magias menos pesadas, pois é o quê podem suportar.
    Há bruxos que pouco estudam, mas conseguem obter grandes resultados. – Embora mais tarde acabem achando que o hospício é o lar doce lar.
    Há ocultistas que procuram estudar mais do quê necessário, e quê embora criem barreiras no seu desenvolvimento, se sentem mais confortáveis, em suas limitações.
    Então não adianta ditar que a magia é um estilo de vida, pois cada um é livre para encontrar o tipo de vida que o mais o agrada. – É claro que adotar a prática diariamente, certamente vai te ajudar a obter bons resultados, pois condiciona o cérebro a destruir o empecilho do impossível. Entretanto isso não é uma obrigação, nem uma regra. Você decide o quê se adequa a tua condição. - Até porquê há aqueles que compartilham seu lar com outras pessoas, que não apoiam as suas práticas, e por isso precisam de outros meios, de gerar uma boa atmosfera mágica, que não implique em desrespeito aos que lhe oferecem um teto, e seja viável para executar.
     
     
    A magia é uma energia.
    A magia é formada de átomos de energia positiva e negativa, e você é o nêutron que rege tais forças. 
    A magia não tem voz, ela apenas te ajuda a encontrar a sua. A magia não pode ser um corpo, mas te ajuda a moldar o teu. A magia não ouve, mas te faz ouvir. A magia não vê, mas te ilumina para enxergar. A magia não sente, mas te impulsiona a sentir. A magia não pensa, só que intervém em teus pensamentos.  
    A magia é uma força gigantesca, que se bem canalizada, pode criar ou destruir a vida, mudar ou colocar as coisas no lugar, alterar o fluxo ou mantê-lo, incendiar ou apagar o incêndio. É a mais perfeita expressão da linguagem divina, proveniente da Primeira Causa. É a matriz de onde tudo nasce, da qual pode beber de sua energia.
    A magia é vida, pois é movimento, e ausência do mesmo, é luz, é sombra, é claro e escuro, é impulso, é neutra, é causa e efeito, mas não é um ser vivo.
    Consequentemente não pode ser tratada como tal. A vista disto não lhe atribua as características de um humano, fazendo-a ter: sexo, política, etnia, ou estilo, pois esta é muito maior que tais convicções.
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
    Capitulo 4- O Mundo sem o véu.
    Já trabalhamos em cima da atmosfera mística , e a importância do aspecto mental, para criar tais condições, e portanto aplicar a energia mágicka. Mas como é que o mundo se torna, após quebrar a barreira do impossível? 
    Primeiramente o mundo de concreto, continuará o mesmo, são seus olhos e o olhar que se tornarão diferentes. 
    Provavelmente deve ver diariamente a batalha entre os céticos e os ocultistas. “Só confie na ciência pois há como comprová-la e a magia é apenas crendice.” Dizem os apaixonados pela ciência. “Abra seus olhos, há um mundo mágico por trás deste, e somente a fé nele é o suficiente para manifestá-lo. A ciência é uma tolice, um insulto as forças divinas.” Dizem os aficionados a magia.
    Você pode de imediato concordar com a segunda visão, mas ambas estão erradas. – Embora a parte do conceito metafísico (o mundo por trás do mundo) seja correta.
    Quando se encontra de fato com o oculto, você percebe que magia e ciência, servem para dar as mãos e não se destruírem, como se fossem inimigos velados.
    Essa rivalidade trivial, não é digna de um ocultista, pois o mesmo tem consciência, de quê muito do quê temos hoje antes era visto como místico.
    Imagine-se em 1500 com um celular em suas mãos, certamente as pessoas do tempo, ficariam maravilhadas, e depois iriam temê-lo, ao ponto de queimá-lo vivo, sob a declaração de prática de bruxaria. – Mas nos tempos em que vive, sabe que se trata de ciência, e isto o faz rir.
    Essa perspectiva a princípio pode deixá-lo desnorteado, só que é um fato. Eles nem parariam para estudar a respeito, pois naquela época a Terra era movida pelo medo.
    Muitos cientistas foram tidos como hereges no seu tempo, e jogados no fogo purificador dos santos, então tentar separar o inseparável é bobagem. – Todavia é significativo que saiba que não basta compreender as metades, é necessário entendê-las a fundo.
    A ciência é um meio de comprovar se um fato é real ou falso. Embora seus métodos, pareçam servir somente para desbancar a existência de seres maiores que a humanidade. Eles também podem ser usados, para por exemplo separar, quem realmente viveu uma experiência sobrenatural, e os que apenas precisam de tratamento psiquiátrico. – Lembrando que alguns eventos de natureza mística, podem ser tão devastadores, que causam este efeito de estresse pós-traumático.
    Logo se a ciência serve para medir o evento, o esoterismo é o evento– Uma manifestação nua e crua da natureza, que para muitos foi esquecida, e que tem mistérios a serem desvelados.
    Desta forma o primeiro ponto é esse: A inexistência de um padrão dualista, e percepção de que o universo é realmente um, cujas as metades unidas, o fazem completo.
    Além disso, quando você se conecta de fato com o cosmos, ele também se junta a ti, e assim desenvolve o quê é conhecido como inteligência divina. – Não que vá conseguir resolver cálculos matemáticos complicados em segundos, como no filme Transformers, mas certamente libertará uma sabedoria, bem diferente da dos demais, e que vai te ajudar a se compreender melhor.
    No caso daqueles que tem a predisposição, poderão descobrir mais sobre a linhagem, através das memórias dos deuses, que vão lhes transmitir informações sobre a sua missão, e o nível dela. – Se será fácil ou cheia de obstáculos.
    Já os humanos, terão como resolver as suas grandes questões, a respeito de quem são, e de onde vieram de fato, podendo inclusive conhecer o criador da sua espécie, e lhe pedir a dádiva divina. – Mesmo que tenha um preço alto a se pagar.
     
     
     
     
     
     
     
    E este é o segundo ponto: Saberá sem ter visto nada antes. – Mentalize a seguinte situação: Você é um estudante de médio conhecimento sobre a Deusa Afrodite. Tudo o quê sabe é que é a Deusa do Amor, e que seu par é Hefestos, o ferreiro do Olímpo, e outras pequenas coisas. Do nada seu corpo se desliga, e você tem a visão de Afrodite na cama de Ares, o Deus da Guerra dos Gregos, e Hefestos quer provar a sua traição. Você retorna, acha aquilo estranho, e decide pesquisar sobre isso, então lá está o quadro que retrata a sua visão. É o quê vai acontecer, quando libertar este tipo específico de aprendizado.
    Novos mundos irão se apresentar a ti, mas eles não serão físicos. Sempre que meditar, terá visões do teu verdadeiro lar, que não é este planeta, e ao fazer a viagem astral irá sentir, como  são as outras civilizações.
    Há chances de prestigiar o mundo, em que o Deus que te acolheu habita, e assim receber dele algumas direções, para te ajudar a cumprir o teu propósito.
    É quando começará a entender a teoria de Giordano Bruno, sobre os milhares de planetas, que existem além da Terra, e a diversidade presente nos mesmos.
    Deixará de crer em filosofias como criacionismo ou evolucionismo, e aceitará o design inteligente, que lhe parecerá a resposta mais plausível, para a origem das espécies existentes.
    Verá que a panspermia cósmica, é uma ideia incompleta, pois a vida não se forma do nada, é preciso de uma causa que a gere, e esta é ninguém menos que o próprio Uno, que você conhece como Universo.
    Ao entrar no plano invísivel , começará a duvidar se está vivo, ou preso em um sonho, do qual acorda todas as noites, e retorna para casa. – É lindo, porém se você criar afinidade com apenas o outro lado, esquecerá que não habita nele, e isto te trará consequências terríveis, como buscar o abraço gélido da morte por exemplo, e ao fazê-lo, se levará a dimensões sombrias, que deram origem ao termo adotado como Inferno, o quê atrasará ainda mais a sua volta.
     
    É preciso que se lembre sempre, de quê embora a sua casa seja a anos luz daqui, há pessoas que precisam de você, e tu tens uma missão a cumprir, antes de retornar para aquele lugar que te faz tão bem. – Quando fizer a projeção, tenha ciência de quê está fazendo uma visita, e não se mudando pra lá.
    Alguns rapidamente encontram o caminho de volta para as estrelas, outros demoraram, pois não estão prontos para aceitar, que aquele canto maravilhoso, o aguarda, mas ainda não é o momento certo. – Ou pior, devido as espécies superiores e inferiores, que vem se aniquilando há milênios, não há pra onde ir, e só pode aprender com o quê restou, da sua civilização materna.
    Outra coisa, é importante também ter conhecimento de quê, tudo o quê tem no outro mundo, não pode trazer para o físico. O máximo que conseguirá, é uma versão fantasma da coisa em questão.
    Portanto se atravessar o mundo dos dragões para este, montando em um deles, o mesmo não vai se materializar em teu quarto, como se fosse um animal comum, e somente os que desenvolveram A Visão, poderão enxergá-lo, (ou nem isto, pois há os que escolhem com quem interagir).
    Há muitas críticas no meio sobre o quê os bruxos já viram ou experimentaram.  Qualquer magista que tenha  visto duendes ou dragões, e se juntado a estes numa experiência mística, é friamente julgado. Então mesmo que adentre no outro lado, é preciso que não fale isto para quem não presenciou o mesmo, pois dificilmente vão compreender. – Salvo exceções aos que se dizem ocultistas, mas precisam de substâncias alucinógenas para adentrar no outro mundo. Estes realmente possuem pouca credibilidade sobre o quê presenciaram, pois as drogas não te ajudam a conhecer a outra dimensão, no máximo consegue refletir o teu interior. Isto não significa que me oponho ao seu uso, pois cada cabeça tem uma sentença, e sabe o quê é melhor para si. No entanto quando se trata de experiências extra-sensoriais, o uso de tais artifícios pode lhe ofuscar A Visão.
     
     
     
     
     
    Não estou falando da visão física, mas sim do terceiro olho, o olho que tudo vê, o olho que não enxerga somente o concreto, mas os átomos que o compõem, e vibram na mais baixa frequência, para torná-lo pesado.– É o olho que desmembra a realidade, para que conheçamos cada um dos seus mais profundos mistérios, e certamente você não querer perder essa capacidade. Pois uma vez que encontra o plano místico, os seres do plano místico te encontram também, e nem sempre isso é algo positivo, pois a maioria detesta os seres esquecidos na Terra, e anseia destrui-los, para que não retornem ao mundo deles, com medo de serem “infectados” por ideias humanas.
    E aqui é que a situação piora, pois os seres que odeiam os meios- terrestres, e terrestres em sua totalidade, fazem de tudo para que  os bruxos, não consigam atravessar a ponte do astral, para o Etérico – O plano acima do astral, (que também pode ser reconhecido como o Consciente Coletivo de Jung) terão as respostas necessárias, para evoluírem suas consciências, sobre quem são.
    Eu sei parece o roteiro de algum RPG, e se quer saber a realidade, o mundo invisível não é tão diferente do mesmo. Então se anseia entender a respeito, sugiro que comece a jogar, e estude todo o sistema, para quê saiba de suas limitações.
    Aliás creio que quando disseram que Deus jogava com dados, se referiam a isto, pois tudo depende das circunstâncias. Deus lhe oferece alternativas, e você no início, quer seguir adiante, e derrotar o monstro com um golpe de misericórdia. Contudo Ele no poder de mestre do jogo, prefere que lute contra o monstro, da forma mais humilhante que há, e perca teus braços e pernas. Ambos atiram seus dados no tabuleiro. O resultado dele é 7 o seu é 2, sua vontade é alterada para que a dele seja atendida, e você nobre peregrino, acaba por perder teus membros na batalha contra o gigante.
    Pois não importa o quanto digam que A Tua Vontade é A Lei, seus artigos podem ser alterados pela diretoria, que foi gerada pela Lei Imutável dos Antigos. 
     
    A sua vontade, não é o suficiente para alterar algo monumental, principalmente quando se trata do seu encontro com o Mestre do plano Superior. Pois naquele lado há uma egrégora poderosa, que foi alimentada por milhões, e a diferença do milhão para um é muito grande.
    Você certamente deve está pensando, se é assim que graça tem em praticar magia? A mesma de jogar. Pois quando você segue dentro dos padrões sociais, apenas está sendo parte do cenário, e não tem controle das próprias ações.
     Mas quando modifica o rumo, ao menos tem a chance de escolher, ou seja está pegando os seus dados, e se preparando para alcançar a glória do verdadeiro livre- arbítrio.
    Porém assim como para jogar um RPG, você precisa muito do quê o dado, na magia não é diferente. É necessário escolher um personagem, ou no caso do ocultismo, uma vertente, como a magia draconiana por exemplo.
    Feito isto, não basta apenas manter o personagem, é preciso fortalecê-lo, para encarar o mundo que o aguarda. No RPG com armaduras, joias, e outros apetrechos. Na magia com sigilos, círculos, linguagens desconhecidas, etc.- E mesmo que seu personagem esteja no nível máximo, sempre haverão aprimoramentos, para torná-lo cada vez mais capaz de alcançar os objetivos, que lhe são apresentados na jornada.
    Portanto antes de adentrar de vez no mundo translúcido, ou tentar remover o véu do mundano, se prepare devidamente, pois nem sempre o mestre vai com a cara do seu personagem, e no seu caso essa potência é ninguém menos que o próprio Deus. - Não o Deus dos Ocultistas, que é a força ilimitada e geradora. Mas sim o quê foi criado por uma egrégora de humanos ambiciosos, e mal intencionados, que conheceram um ser, que achou que poderia tomar a coroa cósmica de quem o gerou, e o fortaleceram o suficiente para ser aquele que hoje comanda muitos mundos. É, eu sei parece a história de Lúcifer, mas este é um clássico caso, em quê o vilão se denuncia pela sua versão deturpada dos fatos, e quem tem o bom senso consegue perceber as entrelinhas. – Leia o Antigo Testamento, como um livro comum, e verá que o Deus do Amor, é na verdade uma expressão do mais puro Ódio. 
     
     
     
    Além destas alegorias, há muitas outras, então fique atento, e aprenda a jogar, ou siga como a massa permitindo que o mestre controle o seu destino, sem jamais se opor a tudo o quê te acontece, e ficando grato pelo pão e o vinho na mesa, assim como pela morte dolorosa de toda a sua população, porquê este quis assim.
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
    Capítulo 5 - O fanatismo, o grande veneno mágicko.
    No capítulo 4, abordei sobre o outro mundo, mas primeiro expliquei sobre o maior dos empecilhos para chegar lá, pois é importante que esteja ciente, de quê nem tudo são flores.
    Posso ter passado a impressão de quê estou em cima do muro, sobre Deus e o Diabo. Mas o fato é que, quando se conhece ambos os lados, fica claro que a ideia do preto e branco, não serve para nada.
    É claro Jeová é cruel, é o Deus dos homens, dos pecadores. Contudo é um verdadeiro Ares da religião judaico-cristã, não há quem duvide da eficácia de suas estratégias, e isto é admirável. – Apenas discordo de algumas metodologias dele.
    O mesmo ocorre com Lúcifer, ele é meu pai, e certamente me orgulho disto. Porém não concordo em evitar a massa. Apesar de não pertencer a ela, seus tipos de entretenimentos são bem agradáveis.
    Então é aqui que se percebe, a razão para não apoiar fanatismos. Se fosse obcecada por Lúcifer, concordaria com tudo o quê dissesse, mesmo que fosse contra aquilo que gosto, somente para ser o quê ele supostamente espera de mim.
    Isso é errado. Além da grande falta de amor próprio, há também o risco de ser manipulado por entidades maléficas, que não caminham nem com a luz, nem com as trevas, apenas servem a si mesmos. – O quê não é errado, mas do momento que atrapalha a vida do outro, se torna prejudicial.
    São seres que passaram grande parte da sua vida, sob a sombra dos senhores, e que jamais conseguiram ascender como eles, e por isso na primeira oportunidade, os apunhalaram pelas costas, e assim foram jogados num mundo caótico, de onde vez ou outra saem para atormentar, sob a forma de fantasmas, que sussurram coisas em nossos ouvidos. – É como se fossem os empregados que se dedicaram a empresa, sem terem recebido uma proposta de aumento, e mesmo assim esperaram subir de cargo, e quando nada aconteceu, começaram a destruir o prédio para que ninguém mais trabalhasse. 
    Uns os chamam de demônios, mas isto é um insulto aos seres do mundo inferior. Então prefiro seguir com o conceito da umbanda, de espíritos obsessores, e embora grande parte diga que se tratam apenas de seres humanos, poucos sabem que não são apenas os homens, que tem problemas para evoluir.
    São criaturas que em vez de terem visto alguma oportunidade, abraçaram as limitações como desculpa, para concentrar a sua ira em algum foco.
    E porquê estou falando nelas? É bem simples na verdade. Porquê tais seres encarnados ou desencarnados, costumam se aproveitar da fé alheia, para que cumpram seus objetivos atrozes, de destruir a base das filosofias, que supostamente os abandonaram.
    Portanto quando você se entrega demais a fé, não consegue perceber as armadilhas dos mesmos.
    Imagine duas situações: Primeiro há um padre de uma cidade pequena, cheia de gente analfabeta, mas com muita fé em compensação.
    Eles acreditam que apenas a palavra de Deus, proferida por seu padre, é a verdade imutável da vida.
    Contudo tal líder, pouco se importa com as palavras divinas, apenas as estudou, para ter poder sobre as pessoas, e assim usá-las como bem entender.
    Ele tira das mesmas: o seu dinheiro, os seus filhos, a sua liberdade, e os faz segui-lo cegamente, em rumo a completa perdição, pois sabe que está condenado, e quer levar quem puder junto.
    Como se não bastasse, para garantir-se, diz que é a vontade de Deus, toda vez que o questionam, e pior ainda, faz com que seus seguidores, repudiem qualquer figura pública, que pode desmistificar a sua falácia. – E se a tática funciona, mostra as suas garras, é quando por exemplo reúne os mais devotos, e os influencia a matar alguém, alegando que a pessoa está sob possessão demoníaca. (Não que discorde da existência da mesma, mas creio que eu, que o quê parece palhaçada para quem entende, é assustador para o ignorante, e o medo, sempre gera caos, se mal empregado) 
    No segundo caso, a mentira é um pouco mais articulada. O sacerdote diz que você é livre, que não precisa mais seguir nenhuma regra do “Nazareno”, que a vida começa agora, e os pecados não passam de uma bobagem.
    No início nenhum centavo é tirado, eles apenas promovem festas de orgia. – O quê não é ruim se for solteiro, mas o verdadeiro preço, que vem depois sim.
    Você se envolve nas palavras do sacerdote: Não há Céu, Não há Inferno, somente o aqui e agora, então façam valer a pena do jeito que o diabo gosta!
    Assim como o padre, tal sacerdote não está interessado no crescimento do seu grupo, somente quer arrastá-los para o fundo do poço, para que precisem dele, e é aqui que o golpe se torna mais evidente.
    Pois toda vez que a pessoa quer sair da tristeza por sua vida vazia, surge um novo motivo para deixá-la em tal estado. – É, o sacerdote, não carrega tal acunha, sem ser praticante de magia.
    Após fazer com que a vítima de seu magnetismo ( e alguns espíritos), comece a enlouquecer, vem as ofertas absurdas. “Mate um bebê para Satã, e ele te libertará destas correntes.” Diz o mesmo. Mas convenientemente, esquece de contar que a criança escolhida, é filha da ex com o atual - que percebeu o bosta que ele era, e o deixou.
    Eu sei parece inacreditável, mas a situação somente se agrava, pois no fim das contas, o padre e o sacerdote, se encontram longe dos olhos de todos, e assumem que suas jogadas, estão sendo bastante eficazes. Pois se os cristãos ficarem longe da magia, que os levam a questionar, e os satanistas evitarem o sentido de certo e errado, nunca conseguem atingir o estado da iluminação, para descobrirem a quem de fato servem, e que não é nem ao Diabo, nem a Deus.
    Estas criaturas são ainda mais inescrupulosas que Jeová, pois enquanto o mesmo ainda recompensa os seus, estes seres apenas fazem os demais afundarem, e nunca reconhecem os seus esforços, porquê como disse antes, sentem-se injustiçados, e que todos merecem a sorte que tiveram, por serem tão tolos ao acreditarem neles.
    Então não deixe que a sua fé te domine, mesmo que seja parte do plano superior. – Ela pode abrir portas, mas se não souber onde pisa, acabará indo para uma selva, e mergulhará em areia movediça.
    Somente a fé, nos faz ficar cegos. Da mesma forma como seguir somente a ciência, nos faz deixar de perceber, o tamanho da plenitude do universo, e que nem tudo se resume ao que é “concreto”. – A verdade mística não pode ser medida por filosofias dualistas da humanidade, pois esta se perdeu há muito tempo.
    Então como nos impedir de chegar a esse ponto? 
    Não há um método certo, e que tenha 100% de eficácia. Mas após várias pesquisas de campo, com base em observação, percebi algumas formas, que listarei a seguir:
     Evite defender a sua fé com paixão. – Não estou dizendo que não deve amar o quê faz, mas sim que precisa saber a diferença, entre o amor e a paixão. Amor é uma chama pequena, que serve para nos aquecer numa caverna. Paixão é um incêndio, que se alastra, destruindo toda a floresta, e se não ficou claro Paixão é um caso de amor intenso, impulsivo, e descontrolado. Amor é quando duas pessoas completas, compartilham uma vida juntas, sem desistir de quem são, pois escolheram andar com o par, e não dominá-lo.
     Estude tanto o seu opositor, quanto aqueles a que apoia. – Não estou dizendo que precisa se tornar um cdf de magia. Todavia é preciso sim ter conhecimento do quê faz. Então antes de julgar o inimigo, tente descobrir sobre as suas motivações para agir de tal forma. Concordar ou não, está fora do caso, mas é importante ver até onde o boato relatado é real.
     Haja como cético. – Apesar da correlação com o item anterior, é importante nos focarmos no fato, pois ser cético, é duvidar bastante da história, antes de aceitá-la como verdade, e é esta postura que deve tomar, sempre que uma coisa, que desconhece, surge na tua porta.
     Procure informações imparciais – Se o bruxo diz que a sua deusa é santa, e a religião a condena como “demônio”, é bom evitar ouvir ambos, e buscar por uma voz, que trabalha todos os aspectos da deusa, desde os puros, aos mais pecaminosos.
     Não fale sobre sua filosofia com eles. – Um fanático não tem nada para acrescentar na sua busca por conhecimento, a não ser, que queira estudar sobre transtornos de personalidade, ligados a estresse pós- traumático. Mais terrível ainda, pode te levar pro fundo do poço junto com ele, pois te faz crer no mesmo mundo maravilhoso, em que os seus superiores o colocaram. Então se tem um(a) amigo(a) que sofre disto, fale sobre qualquer assunto, menos deste.
     Rejeite as palavras do fanático – Não precisa humilhar a pessoa, por conta do seu fascínio. Afinal o fanático em si, é apenas uma pessoa apaixonada, sendo controlada por terceiros. Então sempre que notar os traços de fanatismo, lembre-se de que ela é apenas o papagaio repetindo o quê ouviu, e não sabe o quê fala.
     Conheça os traços de fanatismo. – Um ser tomado por esta paixão doentia, manifesta alguns sintomas como: 
    Palavras vazias. – O(a) sujeito (a) fala como se entendesse do assunto, mas ao ser confrontado, e obrigado a defender os interesses, com ideias próprias, fica mudo, ou tenta alterar o rumo da conversa. Fingem sensatez e calmaria. – Frases como “O mundo é injusto, por causa de...” são bem comuns no seu vocabulário, pois estes conhecem o Uno, mas são incapazes de entendê-lo.
    III. São agressivos. – Se mudar o rumo da conversa, não funcionar, eles começam a se irritar bastante, e por isso se tornam violentos.
    Não suportam a verdade. – Diga-lhes que Satã é bom, ou que Deus é engenhoso, e verás o fanático demonstrar, a escuridão mais profunda daquilo a que serve. São iludidos. – Não conseguem extrair a verdade de um material fabricado para entretenimento, e pior ainda, tomam para si o todo como verdade absoluta. (Depois saem matando hereges ou sacrificando virgens porquê o programa ensinou.) Veem sinais onde não há nada. – Que há sinais no universo, todos nós sabemos, porém achar que tudo é sinal de alguma coisa, sem antes avaliar os aspectos psicológicos, entorno de tal possibilidade, é sim um erro. Se você sonha com um homem te perseguindo, após ter assistido um filme de terror, ou vários, isto certamente comprova que no fundo, não suportou tão bem quanto pensava. Agora se você sonha com anjos te ajudando, quando a sua vida, é totalmente voltada pro satanismo, é bom avaliar o quê significa.
    VII. Carregam olhos vazios, e parecem está sob efeito de drogas pesadas. – Eles podem tentar forçar o riso, para demonstrar que estão 100% satisfeitos, mas se olhar bem, verá sinais físicos, que denunciam a sua infelicidade como: Olhos de quem foi vítima de hipnose, sorriso que não condiz com os mesmos, magreza ou gordura extrema, tremedeira, e fala lenta, cheia de pausas excessivamente longas, (mesmo que não condiga, com a sua regionalidade) ou discurso caloroso e agitado demais.
    VIII. São ativistas do templo. – Que há fiéis enjoados dentro das igrejas voltadas para o culto cristão, já estamos cansados de saber. Mas sim, também há fanáticos no templo pagão. São bruxos e bruxas, que vivem querendo impor a sua crença, mesmo que isto não seja bom para a própria imagem.
    Não tem noção do quê fazem – São como crianças de 3 anos, que repetem os gestos dos líderes. Nunca questionam os seus superiores. – Nem conseguem, pois a lavagem cerebral intensa, os tornou submissos.  Te amam, somente enquanto concorda com eles. – Discorde de uma ideia sobre a sua conduta, e eles te queimam vivo (literalmente ás vezes).
     
     
    Em algum momento da vida, podemos apresentar, alguns destes sinais, já que independente do caminho que seguimos, nós o amamos, não importa o quão complexo seja. Mas é bom lutar contra tais atitudes, pois elas só servem para nos envergonhar, e também nos distanciam dos deuses, e consequentemente do quê é real e falso.
     
     
     
     
     
     
    Capítulo 6 – A verdade liberta, mas é dolorosa
    É, nobre forasteiro, se a vida tem sido fácil, e as verdades que descobriu até o momento, não lhe trouxeram nenhum problema, ou representaram tudo aquilo que sempre quis, sem algum esforço, e nem sangue ou suor foi derramado. – Significa que a parte boa está acabando, e é melhor está preparado, ou você é vítima da sua própria mente.
    No segundo caso, é algo muito comum atualmente. É o quê chamo de iluminação de holofote. Trate-se de uma pessoa, que sai dizendo que é superior aos demais, ou força transparecer que já atingiu o nível máximo da evolução cósmica. – Mas antes dos beijos de luz, deixa subentendido que te quer “queimando no inferno”.
    A verdade nunca é aquilo que serve para compensar uma perda, mas sim confrontar a existência do ser, por ter sido pré-estabelecida há muito tempo, e isso nos leva a um tópico interessante: Os bonecos que pensam ser filhos dos deuses.
    Hoje em dia tem muitos filhos de Lúcifer e Lilith por aí. Se for contar nos grupos de magia do Brasil, há mais ou menos “mil” deles. – Razão pela qual, prefiro me manter em silêncio a respeito disto, pois me sinto envergonhada.
    Assim como há também as crianças Percy Jackson – Jovens entre 11 e 18 anos, que se encantaram pelos programas, que são focados na visão etérica (e distorcida) do mundo, e saíram mundo a fora, batendo no peito, e dizendo eu sou um (a) semideus!
    Em ambos os casos é algo bastante incômodo, pois se for falar com tais seres, muitos são vítimas do fanatismo midiático, e não só não possuem habilidades, como também mentem, para dar a impressão de quê são “especiais.”
    Chego a sentir dó dessas crianças, pois o tempo que gastam tentando provar o quê não são, poderiam usar para adquirir conhecimentos, que os levassem a encontrar os deuses, e dependendo do contexto, serem abençoados por eles, ao ponto de desenvolverem algum dote.
    Não seriam semideuses, mas e daí? Quantas lendas maravilhosas serão necessárias, para que entendam, que nascer humano, não significa morrer como tal?
     Olhem o exemplo do conde Vlad III, o turco, que empalava os seus inimigos vivos, e deu origem ao vampiro mais famoso das décadas. Ele iniciou como humano, mas hoje, para muitos, é visto como um Deus Noturno.
    Então novamente o quê você é no momento não importa, o quê pode vim a se tornar, após a caminhada sim, portanto pare de perder tempo, forçando ser o quê não é, e abrace quem é de fato.
    A verdade, não é aquilo que deseja, e sim o quê necessita.
    Você pode morrer gritando aos 4 ventos, que é filho (a)  de um deus (a) mas se não for, sempre haverão ausências de sinais legítimos, e a magia não vai se manifestar, mesmo que a sua fé seja grande, pois haverá um forte bloqueio em teu caminho.
     Porém quando realmente é algo, até as coincidências, serão ligadas ao deus com o qual sente a conexão.
     É o meu caso. Quando me foi revelado que era filha de Lúcifer, me opus a isso, com toda fibra do meu ser. – Tinha acabado de ler Lex Satanicus, e via Lúcifer e Satã como seres distintos. Sendo Lúcifer, o belo e inteligente, que tem repulsa ao mundano, e Satã um charmoso nerd, que se divertia em qualquer lugar.
    Jamais pensei em Lúcifer, como sequer meu semelhante, pois apesar de ter problemas para me socializar, não desprezava a sociedade, como ele, e isso foi um grande baque para mim.
    Como se não bastasse, além de ser filha do ser mais inteligente e cheio de conquistas, também me foi revelado que eu era um anjo, e foi a gota d’água, porquê detestava celestiais, e todo o plano superior na época. – Tinha 17 anos, e os hormônios agiam com grande potência em meu organismo.
    Não foi da noite  para o dia, que consegui aceitar. Receber a notícia de que era filha de Lilith foi fácil, pois já tinha notado traços de personalidade, bem semelhantes aos da deusa antiga, que ao contrário do quê a maioria pensa, não nasceu de um mito Judeu, mas sim Sumério, sob o nome de Kiskill-Lila, a filha legítima da deusa Terra, ou Antu, também conhecida como Tiamat, pelos Babilônicos. – Então sei que Lilith não é a deusa suprema, e também que não foi criada para o Adão.
    Lilith era uma deusa lasciva, hipersexualizada, que seduzia os homens, para torturá-los. Tinha ódio da humanidade, por ter sido substituída, por uma mulher inferior. Gerava abortos, para não mandar suas crianças sagradas, para este buraco conhecido como planeta Terra.
    Eu a admirava, me sentia como ela, sentia seu poder em minhas veias, e gostava muito da sensação. Mas como disse antes a verdade não é algo que tapa buracos, por isso tinham aspectos negativos, sobre ter o seu sangue.
    Meu impulso agressivo era muito forte, meu desejo sexual também, ás vezes manipulava as pessoas para o benefício próprio e nem percebia, e pior fui inclinada a uma vida pecaminosa de traição, que por muito esforço, não foi física. – Com exceção ao homem com o qual sou casada, mas ele era meu amante, e não o traído.
    Além disto, como carrego duas naturezas divinas em meu DNA cósmico, tenho peso de consciência sempre que pratico atos de maldade, com aqueles que não deveriam receber a escuridão de mim. – Mas os que a merecem, ou esqueço, ou me vanglorio da vitória.
    Saber destas e outras coisas, foi um enorme desafio, principalmente porquê não entrei no caminho, achando que era um ser celestial ou demoníaco. Apenas o fiz para entender, porquê minha família toda, possuía um passado de histórias fantásticas ou sombrias, e coisas estranhas aconteciam comigo desde criança.
    Quando bebê, meu andajá  se ligava sozinho de madrugada, e isto causou tamanho pavor nos meus pais, que estes queimaram o objeto. Já um pouco mais velha, quando me irritava as coisas caíam sem tocar, se sentia muito ódio, os eletrônicos pegavam fogo perto de quem me magoou, ouvia passos há metros de distância, encontrava objetos perdidos através de sonhos, e literalmente deslocava  meu espírito de um mundo para o outro. – Na infância entrava numa espécie de transe, que me levava para uma dimensão, onde os belos eram maus, e os seres horrendos me protegiam, mas não sabia o porquê. Assim como costumava dizer que o bicho papão era meu amigo, muito antes de lançarem filmes sobre o tema ( quando o entretenimento era voltado para bom é bonito, e mal é feio.) Tal capacidade assustava a minha avó materna, que me pegava falando “sozinha”, e acusava que eu conversava com demônios.
     Como se isso não fosse o suficiente, quando estava na quarta série, e estudava numa escola de esquina para o cemitério, chamada Guanabara, cheguei a me deparar com o mundo sobrenatural, e creio eu que a própria morte, pois era um ser de mortalha negra, que apareceu em meio a penumbra, iluminada por pequenos raios de sol, depois de ter me encontrado com torneiras, que se abriram sem o auxílio de mãos alheias. Não fiquei lá para conversar, tinha 10 anos na época, por isso sai correndo, e ao entrar em contato com meus colegas, tentei não parecer que tinha medo, ou visto algo. Dentre outras histórias, que vieram depois, mas que se eu citasse seria difícil de crer, então vou parar por aqui.
    Quando me abri para o satanismo, não tinha a intenção de ser uma das filhas de Satã, ansiava apenas por ser uma soldada, que guiaria as pessoas para os seus devidos caminhos.
    Por isso ao ser confrontada com visões, e gente muito mais surtada do quê eu mesma, acabei por duvidar de tudo. – “Ah tah eu sou filha de Lúcifer e Lilith, e a herdeira do Inferno, Aham, acredito” ou “Este é o cúmulo da infâmia”. “Tanta gente lá fora, querendo isso, e eu aqui apenas seguindo a minha jornada sem acreditar que sou eu.” “Por quê Lúcifer e não Satã?” – Relembrando que na época via-os como gêmeos negros, não uma totalidade de opostos complementares.
    Não foi algo simples, e pra piorar fiz uma cota de inimigos, que achavam que eu não era digna. – E não ligava muito, pois também concordava com isso, só brigava quando se tratava de mim, não da minha suposta “herança”.
     
     
     
     
    Até hoje sigo duvidando, mesmo que bem lá no fundo, saiba que é verdade, e que aceitar isso é o melhor caminho. Só que sou muito cética, para abraçar tal fé sem provas mais consistentes, e outra eu nunca quis sentar no lugar de Lúcifer, só de está na sua presença, com meus dragões, e meus aliados, já me sentiria feliz. –Apesar das reservas, que tenho, por ele ter interferido para que soubesse, como era ser a ovelha negra da família, e iniciar uma conquista, com apenas as asas e a essência. Todavia há sinais de quê sou da sua linhagem, e vou citá-los, para quê fique claro, quando alguém é um filho, e quando não é. São eles: 
     Nascimento que parece milagroso, mas é maldito: Quando minha mãe engravidou, ela teve rubéola, e o caso foi tão grave, que o médico mandou-lhe me abortar, mas ela se opôs a isto, e fez promessa a uma santa, para garantir minha segurança, e vim saudável. — A igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, quase pegou fogo em 2013, quando houve um incêndio de grandes proporções em Macapá- AP, que foi inclusive noticiado no jornal nacional, mas a causa por muito tempo, foi um mistério insolúvel.
     O meu número da sorte ligado a data do meu aniversário: 15/02/1995 foi quando nasci, e 15 é o meu número da sorte desde criança. – Afinal ganhava festas e presentes. O mesmo dígito é considerado o número do Diabo no Tarot. Além disto se somar todos os algarismos de maneira cabalística, resultará em 5, que lembra o pentagrama, um símbolo bastante comum na magia, e o 1,5 é uma das partes presentes da Deusa Babalom, de Aleister Crowley, representada em sua totalidade por 156.
     Os fenômenos de 15/02: O dia é marcado por grandes eventos históricos, ligados a Nova Era, e ao mesmo a antiga. É no dia 15 por exemplo, que comemora-se a Lupercália, o “dia dos namorados pagão”, em que se celebra Lupercos – que é tido como uma das faces de Lúcifer na Itália – e o dia da fundação de Roma. Foi também no dia 15, que logo após o Papa renunciar, um meteorito caiu na Rússia, e muitos acharam que era um sinal apocalíptico. Desde então no mesmo dia: O exército de fanáticos, chamados de gladiadores do altar se levantou – Estes são responsáveis pela destruição ilegal de terreiros.  Até o material midiático foi direcionado para o caos do fim do mundo. Procure pela série mais assistida por quase um mês: The Umbrella Academy que foi baseada na HQ da Dark Horse, e Doom Patrol, um dos poucos sucessos da DC comics. – Que a propósito, fazem parte do meu gênero favorito de programação, e soou como um presente. Mas você já deve saber, afinal o oculto influencia a mídia... e o resto já deve ter gravado não é?
     Sinais físicos: “Os olhos são a janela da alma”, já dizia o ditado popular. – Embora tenha nascido sem uma alma, meu espírito segue me precedendo. Portanto vez ou outra, os olhos se alteram de maneira expressiva, (quase inumana em alguns casos).
     A minha descendência física: É evidente que carrego uma grande herança Africana, mas o quê poucos percebem, é que a minha forte ligação é com a Itália, inclusive meu sobrenome é dessa origem, e tenho parentes originalmente italianos. Por quê é um sinal? Lá é único lugar onde as bruxas cultuam, e aceitam que Lúcifer teve uma filha enviada a Terra, e também o primeiro local do mundo, onde ouviu-se o nome do Deus Romano. – E eu não sabia disto até 2016. Quando tive um sonho, sobre ter ficado adormecida por 500 anos, que me levou até um conflito na terra da minha descendência de sangue, onde até mesmo encontrei, uma música relevante ao meu nome secreto em 2013. Mas nunca tinha pesquisado mais a fundo, até aquele dia, quando tive o estalo “E se eu focasse na minha magia hereditária para me desenvolver?”.
     A falta de empatia satânica: Lúcifer não é aquele que se diverte entre os demônios, é o quê os mantém na linha, então é normal, que muitos demônios, ou espíritos perturbados, tenham aversão a mim, pois sou filha do “carcereiro da prisão cósmica”.
     Poderes, que podem ser terríveis ás vezes: Odeio ferir pessoas inocentes, mas por vezes a minha ira, se manifesta de tal forma, que consigo interferir neste plano. – Se você é um de nós ou dos nossos, sabe bem a que me refiro.
     A ausência de Lúcifer e Lilith: Eles são deuses, tem seus afazeres, não podem ficar me mimando a cada 24 horas, só porquê vim deles. – A não ser que eu necessite exclusivamente de sua proteção. No entanto é mais fácil enviarem guardiões, antes de tomarem partido, pois querem filhos fortes e dispostos a lutar.
     Loucura racional: Não pertenço a um lado, estou ligada ao todo. Conceitos separativos pertencentes a humanidade, me parecem antiquados. “Magia não pode se unir a Religião” é o tipo de frase que me faz rir por exemplo.– Mas sigo respeitando cada crença, assim como quero, que a minha seja respeitada.
     Relatos autênticos: Devido ao conhecimento sobre os grimórios – e a grande quantidade de gente cética sobre quem sou – registrei tudo datado num site, que serviu como meu diário por um tempo. O nome do mesmo é: Os pensamentos infernais de Carry Manson. – Tenha em mente que na época eu tinha 18 anos, havia acabado de aceitar que era a primeira filha de Lúcifer, e meus textos soavam completamente insanos (e até vergonhosos.) Além disso há os livros Sobre mim de 16/05/2018 e The Angel In Earth de 26/05/2019 no site da Autores, onde podem ler melhor sobre a minha história, e tirarem as suas conclusões. – Os conceitos apresentados acima, são apenas para diferenciar a fantasia do verdadeiro.
     
    Queria dizer que a verdade é o máximo, um conto de fadas, ou tudo o quê aparece na TV, em quê do nada os esquisitos se tornam legais, e imediatamente são reconhecidos como os maiorais da história da Terra. Mas não é assim que funciona.
    Diga que é filho de um Deus, e prepare-se para as risadas, insultos, e pessoas que imediatamente se acham melhores que você.
    Levante-se contra aqueles que não tem consciência, e eles vão apontar o dedo, achando que surtou, e se por acidente acabar os machucando, farão a tua caveira.
    Estou revelando sobre mim, não para que venham tirar satisfações mais tarde. – Mas se quiserem tenho muito mais material para provar quem sou.  – E sim para lhes mostrar, que há sim semideuses entre os humanos, e que nem todos pertencem ao 90% dos mergulhados em mentiras, somente para aparecer.
    Vocês não estão sozinhos. Eu posso ouvi-los, e acreditar em suas histórias, se forem sinceros sobre o quê houve. – Quem realmente é, percebe as inconsistências dos fatos, por isso é mais fácil saber, quem carrega a mesma dádiva ou maldição.
    Cada de nós tem uma missão, seja ela grandiosa, ou parte de um grande plano, e seria bom que nos apoiássemos, pois o universo é grande o suficiente para quê todos consigamos, alcançar a merecida glória. – E isso vale para humanos e predispostos.
    Acham que apenas por ser filha de Lúcifer e Lilith, sou uma criatura suprema e imbatível? Não, não é por aí. Há os filhos que nasceram da própria Tiamat ou de Apsu, e outros Titãs, que são muito mais poderosos. – No entanto ter muita energia, não significa  automaticamente, que sabe usá-la.
     
     
     
     
     
     
    Capítulo 7 – DIY MÁGICKO
     DIY é um conceito em inglês que significa Do it Youself, ou Faça você mesmo, e foi adotado por alguns grupos dos E.U.A que preferem fabricar seus materiais, e se abstém do uso das grandes marcas conhecidas. É claro que tal ideal parece implícito para muitos, e embora haja uma corrente chamada Magia do Caos,  que foi desenvolvida Austin O. Spare, e trabalha com isso de maneira bem expressiva, é importante que saiba como praticar.
    Você pode naturalmente criar feitiços, rituais, e cerimônias, para cultuar o teu deus, e lhe mostrar a sua devoção. Mas infelizmente há leis que por hora são permanentes.
    Não adianta por exemplo usar um baphomet para fechar um portal, quando o mesmo é usado a décadas por diversas seitas satânicas, para invocar os príncipes infernais.
    Assim como não adianta tentar invocar um demônio, atribuindo energias negativas ao pentagrama, que há muito tempo é considerado pelas bruxas, como um símbolo de proteção. – Pode até funcionar devido o grande descaso da sociedade, que segue achando que é o símbolo do Diabo, mas a entidade em questão vai rir de você.
    Sempre crie meios de se proteger, mesmo que seja na hora de criar um servidor – No caso da Chaos Magic. – Você pode ter a linhagem dos demônios, sem saber, e atrair um ser de luz, que tenta te destruir, somente porquê tu nascestes como determinado herdeiro. – E vá por mim, luz não significa ausência de combate violento.
    Verifique as condições ideais para realizar a prática mágicka. – Não só a atmosfera mística, como a física também.
    Se a lua é negra, e não condiz com o teu objetivo, evite-a, ou vibre de acordo com o instrumento, de onde saiu o acorde.
    Se o tempo está ruim, (e você não foi responsável), vivem te perturbando, e tudo parece dá errado no dia em questão, já tem a resposta para o teu intento, que é: Não. O universo está se manifestando contra, então fica por sua conta e risco. – Caso queira ir adiante.
    Procure conhecer os presságios. O chamado do universo é comum, por seguir um padrão lógico de repetições, que foge do binário computacional 0 e 1, e passa a ser 0,0,0 ou 1,1,1 – Quanto mais frequente, mais chances há de ser o Cosmos falando de maneira silenciosa. – Será um alerta, se Todos os itens estiverem presentes:
     Números: Números iguais, são portais de consciência – e energia mágicka – se abrindo. Mas quando surgem várias vezes, em conceitos diversos, é bom avaliar o quê significam através do estudo da numerologia, cabala, e gematria em geral.
     Sonhos : O plano onírico é um dos mais interessantes, pois revela sobre o mundo, que há dentro do ser. – Freud estudava os sonhos, para compreender melhor seus pacientes, e você também pode, embora o método não seja recomendado, pois dificilmente será objetivo para ter resultados plausíveis. Além disto, se o indivíduo está conectado com o oculto, tem a capacidade, de prever as linhas dos próximos acontecimentos. Assim sendo deve-se avaliar, quando um sonho, é apenas sonho, ou um sinal. 
    Por ex: Se você tem tido sonhos com elementos semelhantes isolados. Como: a presença constante de pregos em evidência. O resto do contexto se aplica a ti, mas a presença dos pregos é um comunicado. – Como se fosse um código morse do Universo.
     Frases incomuns: Sejam de ameaças, ou que transmitam segurança. – Devem ser avaliadas, se sentir algum tipo de calafrio na espinha, quando as ouvir. Não importa se é da boca de um estranho, na tela do pc, ou em uma canção, pesquise sobre a questão, e tente decifrar o quê significa.
    É relevante salientar que o Padrão Ressoante é a chave, e que embora tenha citado apenas 3 exemplos, o fato de o presságio acontecer 3 vezes, não é o suficiente para se definir como um sinal. Será um sinal, se houver persistência do oculto em te mostrar a mesma mensagem, do contrário pode ser somente uma bela coincidência. A(o) Bruxa (o) saberá intuir a partir disso, e definirá se quer seguir tal caminho, ou optar por outro.
    Respeite as Leis Antigas, apenas atribua algo condizente a tua personalidade no Culto a teu Deus.
    Se lá no teu grimório diz que deve usar a violeta, use a violeta, não o  eucalipto – Com exceção a sacrifícios humanos e de animais, sem razão lógica. Como por ex: Mate um carneiro para o deus, e se livre do cadáver. (Se for para matar um bicho, que seja para deleitar-se da sua carne, ou trazer alívio para alguma dor.)
     
    Siga os antigos, estude-os, respeite-os, mas adore somente aos deuses. – Não trate grandes nomes da vertente da magia, como se fossem a entidade a que te dedica. – Por ex: Aleister Crowley Não É Um Deus Supremo. Em vista disso não haja como se fosse. ( Leia seus escritos, mas sempre com a consciência crítica, do quê condiz com a tua realidade.)
    Você pode imitar alguns rituais, feitiços, e poções. Mas o ocultismo é o campo da criatividade, então quando estiver pronto, inove, entregue-se, e DIY (Faça você mesmo) – Não é porquê fulana usa sempre os métodos 100% tradicionais, que tu devas utilizar também, afinal para ela pode ser fácil, arrancar a cabeça de um cervo, e para ti não.
    Como é errado falar de um ideal, sem aplicá-lo na vida, a experiência que lhes trago é a minha própria língua, que batizei de Lovlicos, pois me baseei em escritos de H.P Lovecraft, e nos sinais da linguagem cósmica, e ela consiste em: 
    Alfabeto tradicional  português- BR. 3 Palavras abreviadas com 3 siglas no total.
    III. Formação de frases, com no máximo 3 sentenças.
    Dicção forte, com acentos ocultos, que somente 
    quem já presenciou os mistérios do universo, 
    consegue aplicá-los.
    Timbre doce para o uso benéfico, timbre
    sombrio, beirando o demoníaco para o
    maléfico.
     
     
    Ex: 
    Em português é: 
    A lua brilha sem parar
    Em Lovlicos é: 
    Alub separ
    Em português é:
    Sim e não, talvez
    Em Lovlicos é:
    Sie nata
     
    Em português é:
    Não vou
    Em Lovlicos é:
    Navo
     
    Parecem palavras de uma raça antiga de alienígenas – ou com os Enn’s demoníacos que conheci ano passado. Mas é apenas um sistema simples, que apliquei aos meus rituais, e até agora rendeu bons resultados. – Ainda que alguns fatos tenham me assombrado, pois apesar de não ter uma egrégora forte (por ser minha criação) é uma expressão muito poderosa. – A melhor explicação, é que o cérebro se impressiona com coisas estranhas, e o uso das mesmas, intensifica o poder mágicko.
    A intenção aplicada nela pode variar, mas pelo que percebi com as minhas experiências e análises, é uma força que mexe com a ordem mundana, e traz a tona o quê é considerado impossível. – Tanto pro bem, quanto pro mal.
     
    Fora a Lovilicos, também realizo meus próprios rituais, baseados na filosofia com a qual tenho mais afinidade. – Uma qualidade, que me fez inclusive criar uma seita chamada Sees- Seguidores da Estrela, que obviamente representava Lúcifer, mas para acessá-la bastava acreditar em algo. -  Através dela introduzi algumas pessoas no mundo místico, após comprar-lhes a sua alma. – Quando acreditava em tais falácias.
    O Sees tinha um propósito comum: Realizar desejos, sejam eles nobres ou atrozes. Assim como também gerava consequências, para aqueles que traíssem o círculo.
     
    No total formávamos 4 componentes. Todos os membros eram femininos, e a nossa crença no poder oculto, era tão grande, que quando nos tornamos A constelação – O quê uma sente, as outras também. – O efeito foi imediato.
    Da mesma maneira que quando uma das moças, escolheu um homem, em vez do círculo. Acabou possuída, e tentou matar o seu amado, diante dos familiares. – Tinha 16 anos na época, e até chorei, me sentindo culpada, por um demônio tomar-lhe posse. – Nem sempre ter poder, é um sonho, na maioria das vezes parece mais um pesadelo. (Ao menos para mim.)
    Nossos rituais incluíam derramamento de sangue, como prova de lealdade, e devorar as doces frutas do cemitério, onde nos reunimos para realizar nossas práticas ocultas. – Que fique claro, não tolerava sacrifício de animais, o fluído da vida, vinha das moças, que faziam parte do círculo.
    Era pura brincadeira de criança, como uma versão da vida real de jovens bruxas. – Mas não cheguei a me tornar uma maníaca como a Nancy, apesar de me vestir como tal.
    Tivemos poucas reuniões, pois após chegarem as consequências, duas garotas, queriam pular fora. Uma perdeu o namorado, e a outra começou a ver as sombras, e isso lhe fez ter medo de onde colocava o pé. Então só restou eu e outra garota, que me apoiou por um bom tempo. – E até me ajudou quando minha vida ficou em risco, após romper o círculo de vez.
    Lembro-me do nosso último encontro. Foi o mais marcante de todos, pois ali tive o primeiro vislumbre da vida passada. – Fomos até o cemitério, e lá um estranho homem de chapéu branco, e camisa vermelha nos recebeu, fazendo perguntas interessantes, a respeito de estarmos ali para passeio ou trabalho, e nos avisou para tomar cuidado com as visagens (termo para espíritos) minha companheira riu, disse temer só os vivos, e eu disse que a morte era uma escapatória para os covardes, frase esta que não saia da minha cabeça.
     Ao ouvir a minha resposta, ele fez uma reverência, e sumiu no meio do matagal. Após a sua partida, as sombras começaram a ganhar forma, e tanto eu, quanto a menina vimos coisas. Primeiro vi uma mulher enforcada no topo de um pinheiro, por um cipó cheio de espinhos, e logo deduzi que era uma bruxa. Em seguida seu corpo sem vida caiu, e um ser de chifres meio homem meio touro, veio para recolhê-lo. Tão grande foi a minha surpresa, ao ver como ele a pegava nos braços. Não a arrastava para o inferno, nem levava como um pedaço de carne, parecia mais que era a sua noiva, e tinha um aparente carinho por ela. – Conseguia sentir que aquela imagem, era um retrato da minha vida passada, e aquela conexão era fantástica. – Ambos desapareciam na névoa, e 7 ou 8 rostos, não lembro ao certo, apareceram, sendo 5 femininos e os restantes masculinos. Nós voltamos para a causa da minha amiga, e acabei por desmaiar sem razão aparente.
     
     
     
     
    Mais tarde a noite, quando estava sozinha em meu quarto, vi que haviam várias sombras chifrudas ao meu redor, e as mesmas pareciam que iam sair das paredes. – Isso me deu um calafrio tão grande, que naquela noite, resolvi dormir no sofá. – Neste tempo nem imaginava que era a herdeira de Lúcifer, então não tem como ser algo influenciado por tal descoberta, que veio acontecer no ano seguinte, e só foi aceita, quase 2 anos depois, pois precisei analisar toda a gama de fatores, para poder aceitar tais fatos.
    Então tome muito cuidado com o quê aplica no seu DIY mágico, pois tudo o quê fizer, expressará a sua real natureza. – É por isso que estou lhe dando estes conselhos de maneira direta, pois apesar de ser uma conhecedora dos mistérios, com grandes saberes, por ter estudado sempre sozinha. Queria que alguém tivesse me dito estas palavras, para evitar todos os desastres que aconteceram.
    A magia independente do quê faça, sempre trará consequências. Mas não é como colher o quê plantar, e sim por causa do valor que atribui a tua responsabilidade pelos atos. Portanto sempre pratique, somente aquilo que a sua consciência é capaz de suportar, do contrário além de ser taxado como louco pela sociedade, vai realmente acabar como um. – Ouça esse conselho de quem foi recentemente diagnosticada com transtorno de personalidade, após inúmeras tentativas de suicídio e agressão, antes de conhecer formas de lidar com a própria escuridão.
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
     
    Capitulo 8 – A bruxa que vive entre os santos e os pecadores.
    Viver em sociedade é uma tarefa difícil para um bruxo. Sabemos de tantas coisas maravilhosas, e verdades indizíveis, que nos sentimos criaturas superiores, que precisam interferir na jornada dos demais, para que experimentem de toda a beleza ou conhecimento que adquirimos. – Isso é inegável, mesmo que sirva a luz da magia, e diga que acredita que todos são iguais, a igualdade não é a resposta para o quê quer.
    Imagine que todos no mundo são lagartas, e que algum dia se tornarão lindas borboletas. – Se você interferir no processo, eles certamente morrerão, antes de conseguirem sair do casulo. Este é um exemplo que li em Lex Satanicus, e achei algo absurdo na época, mas hoje percebo que é o melhor a ser feito.
    Assim como as pessoas, podem ser simbolizadas como insetos majestosos, também podem ser descritas como música, e cada uma tem um ritmo ou melodia própria, que pode ou não agradar os nossos ouvidos. – Portanto procure sempre andar, com aqueles que tem um ideal em comum contigo.
    É lindo abraçar as diferenças, mas uma coisa é aceitar o outro, outra bem diferente, é querer ser como ele. – A verdadeira beleza do mundo, não está em rostos padronizados e iguais. Mas sim em suas peculiaridades. O quê quero dizer com isso? Seja fiel a ti mesmo, e se aceite acima de tudo, não tente se adequar aos demais, somente porquê eles não te aceitam. Procure pelo teu próprio nicho, pois não importa qual seja, sempre há um espaço para ser ouvido. 
     
     
     
    Evite se expressar em sociedade, se não aceitam a tua crença mística. – Não é porquê você respeita os outros, que eles farão o mesmo por ti. – “Mas Lux você falou para não me adequar aos demais!” Sim, e não se adequar, significa ser leal aos teus ideais, não importa o ambiente em que se encontra. – Eu sou bi, e mesmo em meio aos héteros, continuarei sendo, não importa o quê digam. E se encontrar aqueles que me apoiam, me abrirei e direi a verdade, se não, seguirei em silêncio, pois o mundo é um lugar perigoso, e há aqueles que em seu fanatismo, apenas precisam de um “A”, para virem para cima. – E não quero mais responsabilidades por danos aos outros. É uma questão de sobrevivência.
    Enfiar nossas crenças na goela alheia, é como forçar a pessoa a aceitar nossas filosofias. – Eu sei que funcionou para os cristãos, mas o medo é tão eficaz, que hoje os fiéis se uniram a outras crenças, por não aceitarem a intolerância religiosa. Então o temor, embora funcione, não se compara a força do amor pelo quê se faz. Por isso se quer mesmo trazer, alguém para o seu lado – Vá na mãe de santo mais próxima, e coloque o nome da pessoa numa roda. Brincadeira!
    Tente explicar-lhes sobre a sua fé, e quando for confrontado, apenas faça comparações, que o ajudem a perceber que no fim seu amor pela divindade, não é tão diferente, do quê o quê sentem por Cristo. – Sua vida está tão difícil por quê não larga dessa tal magia e abraça o nosso senhor? Já me disseram e respondi Da mesma forma que você ama o seu senhor, apesar das dificuldades, eu também amo a Lúcifer, e assim como tu se identificas com Cristo, eu me sinto mais confortável andando com o deus romano. Foi o suficiente para seguir em paz, nunca mais tocou-se no assunto, e a amizade seguiu  a mesma.
     
     
     
     
     
     
     
     
     
    Não tente humilhar ninguém, a não ser que a pessoa realmente mereça tal castigo. – Eu pessoalmente odeio “lacrações”, porquê é algo desnecessário para sociedade, e trata-se de gente, que quer “arrasar” apenas repetindo o discurso alheio, como se fosse uma verdade absoluta. A pessoa aparentemente refletiu sobre algo, mas no fundo não se deu o trabalho de questionar, e apenas uniu a ideia do autor, a coisas que ouve no cotidiano. Chega a ser – me perdoe pela expressão – Patético, pois a preguiça intelectual se torna mais do quê evidente. – Por isso fica a seu critério Expor a sua ideologia ou não–  Mas lembre-se Bruxos (a) de verdade, não tomam os problemas da sociedade como seus. – Eu sei soa frio, todavia é assim que funciona, pois devido a enorme gama de poder, que um ser desses possui, se ele coloca as suas emoções em jogo, certamente isso traz consequências, que dificilmente são agradáveis. Hoje destrói um ditador, amanhã impede o seu país de prosperar, e todos acabam na miséria por exemplo.
    Não estou dizendo,  que não deve defender aquilo em quê acredita, estou apenas esclarecendo, que precisa ter noção do quê defende, antes de ir as ruas ou redes sociais. – Não seja mais um papagaio da fé, e somente parta para a guerra, se o conceito do outro, realmente te ferir, de uma forma, que precisa colocar todo o ácido para fora. – Este livro não é para passivos, ou atacados, mas sim guerreiros que sabem quando devem erguer a voz.
    Isto nos leva a um tópico interessante. Não ataque a tudo e todos, apenas porquê não te aceitam. Aprenda a si amar, e não ligar para opiniões repulsivas. – Não ligar mesmo, ou seja ouvir, e entrar por um lado e sair pelo outro, sem sair por aí dizendo “Eu não ligo! Não adianta tentar me atingir! Pois não vai conseguir!” já que se o fizer, estará claramente agindo de maneira contrária, ao que disse.
    Aprenda a controlar a sua raiva, ou ela te controlará. – Não haja por impulsos, pois isto pode custar muito caro para você, ou os seus colegas. – A ira nos faz ter pensamentos num segundo, cuja responsabilidade pesa por uma década.
    Haverão muitos grupos, que exaltarão a fúria, e te dirão para destruir tudo e todos. Mas não te falarão, que você pode ferir alguém gravemente, ou até mesmo matar o alvo escolhido. – Porquê a maioria que venera estas forças, não se dá ao trabalho de conscientizar os seus do perigo.
    Aprender a controlar a sua raiva interior, não te fará mais fraco. Mas sim capaz de realmente arrancar o coração, de um inimigo velado, sem sequer se importar se isto pesa ou não na consciência, pois terá ciência, de quê se chegou a tal ponto, foi algo necessário, e será mais difícil de se arrepender. Só que se o fizer, apenas por causa de um segundo de raiva, a culpa mais tarde vai te consumir, e caso isto não aconteça, sugiro que vá urgente ao psiquiatra, pois a sua falta de empatia, é algo assustador.
    Aceite a natureza, e a proteja, não tente modificar a ordem das coisas. – Nós somos carnívoros, está no nosso DNA, desenvolvemos caninos para devorar carne. Se você quer cuidar da natureza, comendo apenas frutas e vegetais, tudo bem, mas não venha tentar obrigar os outros a seguirem a tua doutrina. – Cada um em seu nicho lembra?.
     “Um leão pode devorar um ser humano, mas o ser humano não pode devorar o leão”? A onde isto é natural na cadeia alimentar? Por quê o leão tem que ser superior ao homem, em vez de haver um termo de igualdade entre ambos? A ciência não tem dito a anos, que o homem tem parentesco com os primatas, e logo é um animal também? – Eu sei isso pode ser desagradável, mas o natural não se baseia em veados e leões, andando lado a lado como amigos, da mesma forma, não pode acontecer com os humanos e os seus irmãos animalescos. Não importa se é racional. A falta do instinto caçador, nos torna dóceis, e mais fáceis de sermos manipulados por entidades obsessoras. – É claro esta é a minha opinião, escolher seguir ou não é de você, mas antes de sair levantando bandeiras a favor do meio-ambiente, pelo menos conheça o quê defende.
    Isto significa que eu, Lux Burnns, sou um monstro, a favor da caça por diversão, e outros meios de entretenimento humano, que humilham os animais? Não, o preto e branco, não se encaixa a mim. Uma coisa é respeitar a natureza, outra é usá-la como posse, da maneira que bem entender. – Por mim as fábricas de comida, deveriam promover o abate misericordioso, semelhante aos dos banquetes de festividades africanas.
    Sempre respeite a crença alheia. Você ama Odin e seu parceiro a Lúcifer. Mas e daí? Cada um segue a divindade que desejar, e aprende com a mesma. – Novamente lembre-se da metamorfose da borboleta, se mexer no casulo, ela morre.
    O mesmo vale para os seus pais. Se você vive com eles, lhes deve muito, por te darem um teto, comida, e as vezes até roupa lavada. Então não os desafie, ou os desmereça por causa de crenças diferentes. Vocês são de tempos diferentes, foram colocados juntos, para aprenderem uns com os outros, não se destruírem. – Seja maduro, saiba argumentar, e lutar como um nobre, pelo seu ponto de vista. Se agir assim, eles provavelmente verão, que a tua filosofia está te tornando alguém melhor, e que não precisam se preocupar. Agora se sair berrando, quebrando os móveis da casa, batendo a porta do quarto, mesmo que eles só queiram conversar, tudo o quê vai ganhar com isso, é mais abordagens, que demonstrem medo do caminho que está tomando. – Falo por experiência. Iniciei minha vida mágica da pior forma, e só depois que adotei esta postura, por causa de Anton Lavey, a guerra em casa acabou. Rebeldia com causa é algo louvável, mas rebeldia por rebeldia, nada mais é que tolice. – Se eles  ainda sim, não permitirem que faça os cultos dentro de casa, vá para fora, se for ruim, procure algum canto seguro, onde possa praticar, sem causar problemas em seu lar. – Nem sempre será um método efetivo, mas é melhor ter aliados dentro de casa, do quê inimigos.
    Por fim sempre tenha em mente, que sentir-se superior, não significa ser superior. Para torna-se assim, terá que ter atitudes que condizem com tal postura. – Não me mande beijos de luz, se a sua única intenção é me queimar. GsolitaryDevil.
     
    Capitulo 8 – Os Deuses e o Fim da farsa da realidade dualística.
    Este é o fim da sua jornada comigo, e o ínicio de algo ainda maior. Como disse lá no início, há autores infinitamente melhores, e não estou aqui para me apropriar dos seus cargos ou teorias. – Apenas estou apresentando-as com uma linguagem mais direta, para que saibam exatamente o quê praticam, de acordo com a interpretação aceita por outros ocultistas. 
    Até aqui temos trabalhado sobre as grandes causas sociais, que afligem a comunidade mística, e muitas vezes defendi que a realidade não é dualística. Mas para fechar este pequeno guia, me aprofundarei nesta questão com uma explicação mais extensa. – É neste ponto que você vai decidir, se quer continuar sendo ocultista, ou prefere tomar o caminho mais simples, adotando alguma religião por exemplo.
    Desde que éramos jovens, nos ensinaram a dividir o mundo entre homens e mulheres, bem e mal, fogo e gelo, guerra e paz. Nossos pais – na maioria das vezes – nos diziam “No mundo há Deus que é o bem, e há Satanás que é o mal. Deus é luz, Satanás escuridão. Deus é água, Satanás é chamas.” 
    Apesar de não discordar, dos conceitos acima apresentados – com exceção a Deus ser luz, mas é pessoal – creio continuarmos a segui-los é errado. Já aprendemos muito sobre as duas metades, então por quê deveríamos continuar trabalhando-as de maneira separada? 
    Está certo, a iluminação é importante, mas as sombras também são. É preciso que haja um ou o outro, para quê o todo exista. Não adianta tentar tirar um dos números da equação, senão dificilmente encontrará o valor de X ou Y.
     
     
    Devido a minha conexão cósmica, estudei não somente astrologia, como astronomia, física, e biologia. Pensei a príncipio, como muitos magos, que era apenas uma imposição social, para nos manter ignorantes perante a verdade do universo. Mas foi então que percebi, que a culpa da divisão não era dos cientistas, em sua maioria religiosos, e sim dos novos filósofos da internet, que empregam o conhecimento científico, apenas para atender os seus próprios conceitos mesquinhos.
    “Deus não existe.” Dizem todos os ateus, que esqueceram-se de questionar, adotando uma conduta massificada, e muitas vezes tomam como prova inconstetável, as palavras de grandes pensadores, que foram queimados como hereges. Oras meus amigos, se Deus não existe, naturalmente nada mais do mundo místico é real também. Inclusive Lúcifer, Odin, Hel, Osíris, Ísis, Seth, Zeus, Deméter, Amon, Baal, Krishina, e vários outros deuses, pois se o suposto supremo não é real, o resto dificilmente pode ser considerado como tal. O velho barbudo de sandálias que conhecemos, nada mais é do quê uma imagem criada por homens, que compilaram antigos escritos, num livro chamado bíblia sagrada. – Então quando se entrega a crença, de adorar o Deus do impossível, você indiretamente está se conectando com alguma destas divindades do velho mundo, por isso o uso de versículos, para atingir determinados objetivos.
    Espera Lux Burnns, filha de Lúcifer e Lilith, neta da gigante Tiamat, você está sugerindo que devo me converter? Calma! Não, isso jamais. Alimentar a ideia de quê este deus é supremo, é o quê torna ainda mais forte, não lembra? 
    Só que também não se pode descartar o inegável, de quê esse grande mosaico mal feito, também é parte da nossa cultura, e que desprezar alguns dos seus fatos, é o mesmo que massacrar a própria doutrina. – Por isso se prender ao lado A ou B, é errado. 
    “Ah mas a deusa x é maior que o deus y.” ou “O deus y é maior que a deusa x” Já chega de se prender a isso. Queres realmente acessar o poder máximo, nesta realidade limitada? Então pare de abraçar apenas a causa que te convém, e aceite que o quadrado é feito de dois triângulos, ou o círculo é formado pela união dos mesmos. – O quê isto significa? Que a realidade não se resume, a deuses C e D, e que não é necessário comprar as suas brigas, para que adquira o seu respeito, ou realizem os seus objetivos.
    Nem mesmo estes deuses são originários do príncipio feminino ou masculino, mas sim da união de ambos, que nasceram do verdadeiro ser supremo, que não é Jeová, Cerridween, ou nem mesmo Tiamat, apesar do quê muitos acreditam.
    Se você é iniciante, será um choque, mas a realidade precisa mostrada desde aqui, para que entenda a perda de tempo, que é lutar apenas de um lado. Então prepare-se, pois a origem do universo, de acordo com os antigos, lhe parecerá absurda, se ainda continua abraçado apenas a positivos e negativos:
     Mitologia súmeria
    Cosmogonia
    “Antes de todos os antes, nada existia, a não ser Nammu, o abismo sem forma. Um dia, Nammu resolveu espreguiçar-se, e novamente voltou a enrolar-se. Com esse gesto, ele criou Ki e Anu, respectivamente a Mãe Terra e o Firmamento. Deles nasceriam todos os demais deuses, o tempo e, no futuro, o homem, que seria feito de argila.”
    Superinteressante 28/05/2019
     
     Mitologia Egípcia: 
    Cosmogonia 
     
    Neterus Primordiais:
    São os deuses mais importantes os quais estão associados com o mito de criação (origem do universo):
    • Nun (Nu ou Ny): simbolizava a água ou o líquido cósmico que deu origem ao Universo.• Atum (Atum-Rá, Tem, Temu, Tum e Atem): representa a transformação de Nun, sendo considerado aquele que deu origem a explosão do Universo (semelhante ao Bing Bang) e que gerou os diversos corpos celestes, separando assim, o céu e a Terra.• Amon (ou Amun): esposa de Mut, ele é considerado o rei dos deuses.• Aton (Aton ou Aten): relacionado ao sol, ele foi o deus do atomismo que estava relacionado com o disco solar.• Rá (ou Ré): deus da criação, sendo um dos principais deuses do Egito.• Ka: força mística que representava a alma dos deuses e dos homens.• Ptah: marido de Sekhmet e de Bastet, representava o deus criador e protetor da cidade de Mênfis. Além disso, era considerado deus dos artesãos e arquitetos.• Hu: representava a palavra de criação do Universo.
    Toda Matéria 28/05/2019
     Mitologia Hindu
       Comosgonia 
    A Mitologia Hindu está fundada nos Vedas, que são os livros sagrados dos hindus. Segundo a crença, o próprio Brahma os  escreveu. Brahma é o Deus supremo da tríade hindu. Seus atributos são representados pelos três poderes: criação, conservação e destruição, que formam a Trimuri ou trindade dos principais deuses: Brahma, Vishnu e Shiva, respectivamente, da criação, da conservação e as destruição.
    Brahma é o deus criador de todo o universo e de todas as divindades individuais e por ele, todas serão absorvidas. Ele se transformou em várias coisas, sem nenhuma ajuda externa e criou a alma humana que, de acordo com os Vedas, constitui uma parte do poder supremo, como uma fagulha pertence ao fogo.
    Infoescola 28/05/2019
     Mitologia Grega
    Cosmogonia
     
    No princípio de todos os mitos, houve um tempo em que nada existia no Universo além do Caos – a mais antiga, a mais inexplicável, a mais absurda das divindades. Nenhum poeta e nenhum filósofo grego imaginava o que teria existido antes dele: era o primeiro dos deuses, a sombra de loucura e confusão que está nas profundezas de tudo o que existe.
    O Caos ocupava todo o espaço do Universo. Nele, estavam misturadas as sementes de todas as coisas futuras: mas não havia ordem alguma, apenas um turbilhão sem sentido e sem fim. No poema As Metamorfoses, escrito no século 1 a.C., o poeta romano Ovídio descreve assim a terrível divindade que deu origem a tudo: “Antes que a terra, o mar e o céu tomassem forma, a natureza tinha apenas uma única face, chamada Caos: uma massa crua e desestruturada, um conglomerado de matéria composta por elementos incompatíveis… Nenhum elemento estava em sua forma correta, e tudo estava em conflito dentro de um mesmo corpo: o frio com o quente, o seco com o molhado, o pesado com o leve”.
    O Sol não iluminava o dia, e a Lua não brilhava à noite. Não havia chão para firmar os pés, nem mar para se nadar – todos os elementos estavam misturados num caldo primitivo. E as coisas, embora sempre em convulsão, não saíam do lugar: pois não havia sequer direita e esquerda, em cima ou embaixo, Norte ou Sul, dentro ou fora. O Caos era tudo e, ao mesmo tempo, nada.
    Superinteressante 28/05/2019
     
     Mitologia Nórdica
    Cosmogonia
     
    A narrativa das Edas conta que, no princípio, não havia nem céu nem terra, apenas uma enorme abismo sem fundo e um mundo de vapor, no qual flutuava uma fonte. Dessa fonte surgiram doze rios que, após longa viagem, congelaram-se e com o acúmulo das camadas de gelo umas sobre as outras, o abismo se encheu.
    Ao sul desse mundo de vapor, havia um mundo de luz, que soprando vapores quentes, derreteu o gelo que havia se formado. Esses vapores, ao elevarem-se no ar, formaram nuvens e destas surgiu Ymir, o gelo gigante e sua geração. Surgiu, também, a vaca Audumbla, que alimentou o gigante com seu leite e alimentava-se da água e sal contidos no gelo. Certo dia, quando a vaca lambia o gelo, surgiu o cabelo de um homem; no segundo dia, a cabeça e no terceiro, todo o corpo, com grande beleza, força e agilidade.
    O novo ser era um deus e dele e de sua esposa surgiram Odin, Vili e Ve, que mataram o gigante Ymir. Com o corpo do gigante morto, fizeram a terra, com o sangue, os mares, com os ossos ergueram as montanhas, dos cabelos fizeram as árvores, com o crânio fizeram o céu e o cérebro tornou-se as nuvens carregadas de neve e granizo. A moradia dos homens foi formada pela testa de Ymir e ficou conhecida como Midgard ou terra média.
    Infoescola 28/05/2019
     
    Notou uma semelhança? É novato, e A e B nada mais são que A+B, que resulta em AB, que é a resposta sobre o quê o cosmos é. Eu detesto matemática, mas é um cálculo aceitável. Só que esta presença de uma força, que é soma de partes, não se encontra presente apenas no misticismo, ou em algebra.
    Na física por exemplo um átomo, é formado por prótons e elétrons, que significa respectivamente o positivo e o negativo trabalhando juntos. Isto é algo caiu para mim na sexta-série, mas estava tão focada em renegar o aprendizado mundano, que não pude perceber, o quanto isto podería me ser útil.
    Na biologia há os casos de partogênese, quando uma espécie assexuada, da origem a uma prole. Mas isto só é possível, porquê as mesmas carregam tanto os genes xx quanto o xy. 
    Esta é a natureza meu caro, esfregando em sua face, que as espécies não são definidas por machos ou femêas, e sim por aqueles que são dotados de capacidades, para dominar o reino em quê habitam. – No reino dos insetos a louva deus fêmea, fica no poder, porquê o ambiente a tornou capaz. No reino felino, especificamente dos leões, é o leão quem comanda, e assim por diante.
    Os humanos, pré-dispostos ou não, continuam sendo animais, por isso também são livres, para definir quem é apto ou não para determinado cargo, desde que estejam cientes, de quê os gêneros feminino e masculino, atuam como formas da valor equivalente, não desigual. Já que novamente, um sem o outro, tem poder, mas os dois juntos, geram a perfeita união que representa o nosso Universo.
    Portanto não se entregue a falácias dualístas, que só agregam valor a determinado grupo. Abrace o todo, entenda-o, e perceba que a união de muitos, é o quê realmente faz a força.
    Por fim guarde isto em sua mente: Bem e mal é relativo sim. Mas uma conduta, realmente correta, pode ser alvo de piada entre os demais. Não importa, se tu segues a luz ou as trevas. Sempre que resolver pensar fora da caixa, haverão aqueles que tendem a te “apedrejar” ou “queimar na fornalha ardente”, por sua postura nobre.
    Um satanista pode sim ser amigo de um cristão. Um bruxo pode sim ser amigo de um mundano. A única coisa que me parece imperdoável, é que ambos continuem, a tentarem se destruir, por comprar a briga de seres, que claramente andam de mãos dadas.
    Sem o Inferno não há quem puna os criminosos pelos seus pecados terríveis, da mesma maneira que sem o Paraíso não tem recompensas maravilhosas. Sem a Guerra, não há razão para o Amor existir. Sem a luz não dá para ver na escuridão, assim como sem um pouco escuro, é impossivel enxergar na luz. Sem o fogo para aquecer, o frio nos congela. Sem o frio para nos aliviar, o calor nos queima. Sem a lança para atacar, o escudo pode não ser mortal. Sem o escudo, não há como se defender da espada. A magia branca nos ajuda a alcançar nossos objetivos, mas a magia negra, nos ajuda a sobreviver. O tudo é o todo, e o todo é a junção de todas as metades.
    Agora a sua jornada se encerra comigo, nobre peregrino, e espero ter te ajudado a encontrar o teu cálice dourado. Pegue-o, encha-o do vinho do saber, e embriague-se de conhecimento, pois como pôde ter notado, não importa o caminho que tomares, o destino sempre será o mesmo, mas é a perspectiva do conceito, que te trará paz ou desespero.
    Com muito carinho, Lux Burnns.
  • Novela mexicana

    Camila não queria ir há sua festa de quinze anos. Para os pais que tinham investido em buffet, convite escrito a mão, colunas sociais e pingentes de ouro de lembrancinha era um verdadeiro desastre. “Como assim ela não quer ir?”, questionava a vó. “Não sei. Ela simplesmente disse que não quer ir. Esta com uma cara horrível. Nem quer se vestir. Já falei da banda que ela gosta que vai tocar, dos presentes que ela vai ganhar, que o filho dos Quinilhas vai estar lá. Ela só diz que não vai. Não sei mais o que fazer.”, respondeu a mãe aflita. “Isso é sua culpa. Ela faz tudo que quer, fala tudo que quer, vê tudo que quer, a vida não é assim. Ela tem que entender que ela não tem que querer nada, tem que fazer o que você falar e pronto.” Foi assim que a vó criou três filhas que casaram com três milionários. Se isso não era uma criação certa de família, o que era? “Tá bom, mas o que eu vou fazer?” A mãe, acostumada a obedecer, precisava de uma ordem. “Cadê o pai dela?” “Vai chegar da Coréia direto para festa. Esta no avião, não consigo falar com ele.” “É outro molenga.”

    No quarto Camila espalhava a notícia. Contava para as amigas no Facebook e WhatsAPP que não ia para a própria festa porque não estava com vontade. Todas se mostravam chocadas e incrédulas. Qualquer uma delas ia ficar em êxtase com uma festa no salão nobre do Clube A++. Algumas amigas ainda queriam ir do mesmo jeito, afinal, era uma mega festa, o filho dos Quinilhas ia com certeza, a super banda ia tocar e a lembrancinhas iam ser pingentes de ouro! Camila não queria saber se o evento ia ser cancelado ou não, se não, que fosse quem quisesse. Ela não ia. “Como você é boba. Queria eu ter uma festa dessas. Meus pais são naturebas. Não tenho nem coragem de falar sobre isso com eles.” Reclamava uma. “Quando você ver as fotos na Internet vai se arrepender.” Advertia a outra. Em uma conversa mais privada ela tentava convencer Pedro, um amigo da escola que não sabia que era seu aniversário, a matar um dia de aula e ir no cinema do shopping. “O filme é muito engraçado. Tem um cachorro que fala de verdade.”

    Com o tempo passando e a hora da festa se aproximando vó e mãe começaram a se desesperar. Aquela hora já não daria mais tempo de ela se aprontar como deveria. A manicure, inclusive, tinha outro compromisso e queria ir embora. Impulsionadas por essa grande pressão que o motorista da família arrombasse a porta do quarto. Camila tomou um susto e gritou quando escutou o estrondo e viu um machado atravessar a madeira. Sua mãe não estava preparada para o barulho e também gritou ordenando que o arrombador parasse com aquilo. Então Camila abriu a porta. Sua vó fuzilava ela com os olhos, os empregados se mostravam chocados com a situação, sua mãe estava com o rosto vermelho e os olhos lacrimejando. “O que esta acontecendo minha filha? Por quê você esta fazendo isso comigo?” “Eu não estou fazendo nada. Só não estou bem. Não quero ir.” “Você não tem que querer menina insolente. Comece a se arrumar agora que você já esta atrasada.” Para a vó o importante era demonstrar comando a qualquer custo. Camila só fez cara de pouco caso e olhou para faxineira, que fingiu que não era com ela com medo da culpa e do desemprego. Sua mãe não segurou mais o choro. “Olha só tudo que você tem. Olha o que sua mãe faz por você. É assim que você retribui? Por quê você não quer ir nessa festa? É a festa dos sonhos de todas a meninas da sua idade. Por quê você não quer ir?” Camila olhava para cima como quem contempla a aurora boreal. “Fala?!”

    A cena não se desmontava, mas ia se acalmando. Camila continuava parada com desdém encostada na porta, a mão tinha sentado numa cadeira no corredor e chorava de soluçar e a vó andava de uma lado para o outro culpando a internet pela forma como os jovens se comportam hoje em dia. “Eu acho que eu sei o que esta acontecendo aqui...”, começou a mãe, “...ela não quer ir porque eu disse que ela não ia pendurar na parede um poster horrível que ela queria na parede, não é Camila?” Ela deu de ombros com um sorriso de 'que absurdo'. A vó parou e olhou com desconfiança. “Pode colar o poster. O que mais você quer? Dinheiro para comprar uma mochila nova? Amanhã nós vamos comprar um mochila nova do jeito que você quiser.” Camila só balançava a cabeça e ria. “Não é isso não...”, a vô dava o tom de quem estava desvendado a charada, “tem alguém fazendo a cabeça dela com essa ideia. É má influência. É um menino, não é?” Camila fechou a cara, o que sobrou da porta do quarto e se jogou na cama. A mãe entrou no quarto se descabelando e gritando: “Quem é ele? Quem é ele?” Camila correu e se trancou no banheiro, que ainda tinha uma fechadura que funcionava. Depois de um tempo de silêncio sua mãe falou: “Tudo bem. Vou falar para todos que você esta doente e não vai poder ir. Quando seu pai chegar conversaremos sobre isso.”

    Já perto da hora da festa duas batidas na porta anunciavam a chegada do pagador das contas. “Abra a porta Camila, por favor, sou eu.” O pai tinha um tom calmo e sereno. “Sua mãe disse que você não vai há festa porque um menino esta te influenciando. É verdade?” Ela não respondeu e olhou para o lado. “Essa festa não é importante só para você, é para gente também. Um amigo meu esta vindo do Japão só para ir. A televisão, os jornalistas, as amigas da sua mãe, até suas amigas, todo mundo vai estar lá. O que a gente vai falar? Que tem um menino influenciando você a ficar contra a gente?” Camila mexia a cabeça olhando para o lado, para cima, para baixo, mas não abria a boca. “Você não esta me deixando outra opção além de uma atitude drástica.” Camila parou de mexer a cabeça e olhou fixo nos olhos do pai. “Tudo bem, nós vamos dizer que você esta doente e não pode sair de casa, mas arrume suas coisas que na próxima semana você vai estudar num colégio interno para meninas na Suíça.” Camila começou a chorar, o pai levantou e saiu para a festa.
  • O aborto

    Luciana tinha 14 anos e desconfiava que estava grávida.

    Começou a suspeitar de algo errado depois de dois meses sem menstruar, e de sua vó estranhar os enjôos e perguntar sobre sua virgindade. As pesquisas no Google indicavam que as chances de estar esperando um filho eram grandes. Alguns sites anunciavam a notícia de forma mais feliz, outros de maneira mais temerosa. Mas foi um teste de farmácia, no banheiro da escola com a Ana, que deu 93,7% de certeza.

    Quando escutou da Paula, um tempo atrás, que agora que ela menstruava podia engravidar, Luciana entendeu que agora podia transar. Por algum motivo também concluiu que só ia engravidar se transasse quando estivesse menstruada, e ela jamais tinha transado menstruada. Um professor de ciências, numa aula de educação sexual, tinha dito uma vez que a camisinha evitava a gravidez, mas ela nunca tinha entendido porque. Que o sexo podia gerar uma gravidez nunca foi um segredo, mas como ele levava a gravidez era outra coisa.

    Ela só tinha metido com dois meninos. Seu primo mais velho e seu namorado, uma semana antes. Como quase tudo que ela sabia sobre gravidez vinha de blogs escritos com técnicas de SEO, e conversas no banheiro feminino, concluiu que namorado deveria ser o pai. Com um filho ele não ia mais querer namorar com ela. Sua mãe nunca mais a deixaria sair de casa. Sua vida estava acabada.

    Então decidiu que ia fazer o aborto e que ninguém nunca ia poder saber de nada, só suas melhores amigas Ana e Natália.
    As três juntas voltaram para a internet para saber como era um aborto.

    Descartaram rapidamente as clínicas que apareceram na primeira página da busca. Luciana era menor de idade e nunca tinha imaginado ter tanto dinheiro. Então descobriram que existia uma remédio que provocava o aborto. Depois que ele não era vendido nas farmácias. Em seguida que podiam comprar num grupo do Facebook. Por fim também não teriam como conseguir o dinheiro.

    Num segundo momento viram que chás e algumas comidas também provocavam aborto. Mas elas não tinham como fazer o chá, na casa de qualquer uma delas alguém poderia ver. Parecia difícil de conseguir a tal Artemísia-losna e ia ter que tomar durante dias. Depois ia vir muito sangramento. Luciana não conseguiria esconder. Descartaram também.

    Na busca desesperada por uma solução imediata chegaram até um site com “dicas do sertão”. Viram que muito antigamente mulheres abortavam enfiando uma agulha de crochê na buceta até expelir o bebê.

    Luciana ignorou as advertências do site para que não recorresse aquele método e desatou a chorar. Estava claro para ela que esta era a forma mais fácil de resolver o problema.

    Foram pesquisar mais afundo sobre como proceder. Leram que deveriam cutucar o útero com a ponta da agulha ate sentir que ele tinha sido danificado. Viram um vídeo de uma mulher satirizando a situação e imaginaram os movimentos. Tudo parecia fazer muito sentido para elas.

    Ana e Natália se mostravam fiéis a amiga. Ajudariam em tudo e choravam copiosamente junto com Luciana. Ela imaginava que ia sair de dentro dela pedaços da criança enquanto ela fazia xixi. Achava que ia doer muito. Estava com muito medo, mas tinha certeza que estava fazendo o que tinha que fazer.

    Como se todo mundo já soubesse o que fazer combinaram que Luciana roubaria duas agulhas de crochês de sua avó. Seguindo uma recomendação satírica do vídeo utilizariam óleo de cozinha como lubrificante. Natalia ia pegar na geladeira antes de sair. Todas se encontrariam na casa de Ana e iriam em uma construção abandonada que ficava no mesmo quarteirão. Foi ela também que lembrou de pegar uma toalha.

    As três entraram pelo cercado de madeira quebrado e foram até um quarto no piso de cima. Ninguém falava muito e, agora, ninguém sabia muito o que fazer num quarto escuro. Luciana pegou um pano velho que achou e estendeu na frente da janela, que era por onde entrava a luz. Ela sentou com as costas meio apoiada na parede, abaixou a calça, tirou a calcinha, abriu as pernas e esticou a mão com a agulha de crochê na direção de Natália.

    Chorando desesperadamente Natália disse que não tinha coragem. Ana tremia tanto e estava tão nervosa que não conseguia falar.

    Um pouco trêmula Luciana passou óleo na agulha de crochê e começou a enfiar na buceta. Ela sentiu a ponta da agulha chegar até o limite do colo do útero. Alguma coisa parecia se remoer dentro do seu estômago e ela apenas deslisava o pedaço pontudo de plástico de um lado para o outro.

    Natália estava com as mãos cobrindo a boca e o nariz, soluçando e espalhando desespero com o olhar. Ana estava de costas, sentada e encolhida no chão chorando baixinho. Luciana olhou para cima, respirou fundo e começou a estocar a agulha de crochê com força no meio das pernas. Uma, duas, três e ela largou o objeto e começou a rolar no chão, gemendo desesperadamente, em posição fetal e com as mãos na barriga.

    Segundos depois o sangue começou a se espalhar pelo pano sujo que Luciana tinha esticado no chão. Num impulso assustado Natália se levantou e saiu correndo. Ana tirou forças do fundo da alma para sentar ao lado da amiga e segurar sua mão. Luciana chorava, tremia e se contorcia sentindo coisas meio sólidas e gosmentas saírem do meio de suas pernas.

    Os minutos que se seguiam eram angustiantes. Nenhuma das duas sabia o que fazer ou o que falar. O fluxo de excrementos foi diminuindo, mas Luciana sentia que a dor ia ficando cada vez mais aguda.

    Ambas sabiam que tinham que voltar para casa antes que suas ausências fossem questionadas. Luciana começou a se limpar um pouco com a toalha que Ana lhe ofereceu, mas tinha muito sangue. Quando tentou se levantar percebeu que não conseguia firmar as pernas, e precisou se apoiar em Ana para ir até uma torneira nos fundos para se lavar.

    Fazendo um esforço descomunal Luciana chegou em casa e conseguiu tomar um banho. Ela achava normal que continuasse a escorrer um pouco de sangue de um furo de agulha. Colocou dois absorventes e uma toalha de rosto no meio das pernas para evitar o risco de alguma coisa vazar. Pegou no armário do banheiro um paracetamol e tomou para a dor. Depois se trancou no quarto escuro e fingiu que estava dormindo para não ter que falar com seus pais, e para tentar esquecer a dor. Antes de dormir pensou que tanta dor não era normal, e que poderia morrer. Se não morresse faria outro teste de farmácia para saber se o aborto deu certo.
  • O amor eterno

    Três anos depois de entrar para faculdade de arquitetura Camila já sabia que poderia ser muitas coisas na vida, mas não arquiteta. Sentada em cima da mesa do Dr. Fernandes, com uma taça de vinho e a perna aberta, ela nem queria. Ele dispensou o copo de wiskey e posicionou sua cadeira de modo a não precisar abaixar muito para se enfiar em baixo do vestido de colegial dela. Em uns doze minutos ela tinha acabado com o serviço e em mais dez estava descendo o elevador do Business Money Tower. Passando pelo lobby perguntou para o Seu Antenor, só para ter assunto, “alguém mais me procurou?” Apenas o fato de ele responder mais que uma palavra já a preocupou. “Doutor? Não, mas hoje mais cedo veio um cara dizendo que era policial perguntando de alguém com o seu nome e muito parecida com a Senhorita.” “E o que você respondeu?” “Que não, mas ele disse que voltava.” “Obrigado querido, você é um amor. Se ele voltar de novo você me avisa, tá?” Ela pediu dando um beijo no rosto dele e comprimindo seus peitos na cara dele.

    Sempre que estava com o pé rua ela olhava para todos os lados para tentar se certificar que ele não estava atrás dela. Paulo estava esperando na entrada do flat, sob o olhar atento e preocupado do porteiro. “Vamos conversar?” “Nós já falamos tudo que tínhamos para falar. Por favor Paulo, vá viver a sua vida.” “Minha vida é com você. Isso não esta certo!” Com a ordem de segurança nas mãos, que dizia que ele não podia se aproximar mais que 50m dela, Camila advertiu em tom sério: “Se você não sair da frente do prédio eu vou chamar a polícia.” “Não adianta Dona Camila. Ele fica sentado ali na curva olhando.” Interveio Manuel do alto falante ao lado do portão. “Vai cuidar da sua vida porteiro de bosta!” “SOME DA MINHA VIDA!” Ela parou na portaria nervosa e falou para o porteiro: “Se ele estiver a menos de 50m da entrada do prédio chama e polícia e mostra isso para eles.” Ele pegou o papel e foi até o portão. “Ei, camarada, acho que você não vai conseguir mais nada aqui. Procura um bar longe daqui e enche a cara. Amanhã quando você acordar só segue em frente.” Ele saiu agitando o papel. Paulo andou uns metros na calçada, subiu numa árvore e começou a rezar. Ficava observando todos que entravam no prédio. Na sua cabeça os homens eram todos clientes de Camila, menos os gays, e as mulheres eram todas garotas de programa.

    Sem ter tempo a perder ela arrumou o apartamento e acendeu uns incensos. Construiu um ninho de amor na banheira com espuma, umas toalhas dobradas e pétalas de rosa. Colocou pilha no vibrador e deixou ele a mão junto com outros brinquedinhos. Pouco depois de terminar de se maquiar o interfone tocou. “Dona Camila? Posso deixar o Senhor Marcos subir?” “Sim Manu, obrigada.” “Olha, aquele outro esta em cima de uma árvore aqui do lado do portão dos carros. Já chamei a polícia mas eles não vieram. A Senhora quer que eu te ajude a resolver isso? Ele não vai mais querer chegar perto da Senhora.” Ela negou a oferta da surra e esperou a campainha tocar na frente da porta. Quando Marcos entrou ela já estava de cinta-liga e pronta para atacar. Ele tirou a roupa e foi para cima dela com tamanho apetite que não conseguiu chegar até o ninho de amor do banheiro. Só precisou do vibrador que Camila foi buscar com entusiasmo quando solicitado por ele. Ela prendeu uma cinta na cintura, encaixou o troço e fodeu ele com força. Ele se divertiu tanto que até se ofereceu para pagar uma pizza e bater o papo por metade do preço da hora. Ela topou e os dois só não dormiram porque Marcos tinha que ir buscar o filho na escola de inglês. Depois de dois clientes e um barraco Camila dormiu assistindo o jornal.

    Quando acordou de manhã estava preocupada com Paulo. Interfonou para portaria e perguntou para o Jonas, porteiro do diurno, se ele ainda estava na árvore. “Acho que não Dona Camila.” Ela tentou falar com a irmã dele para ajudar ele a seguir com a vida, mas ela não atendia mais as ligações desde que Camila pediu a ordem de segurança. Um tanto quanto insegura ela continuava tentando ajeitar a vida. A jornada ia ser tripla, sendo que só o último cliente ela atenderia em sua casa. O primeiro era um político do sul que gosta de transar minutos antes de reuniões importantes. Como ele tinha uma destas ela ia encontrar ele num hotel perto do centro de convenções. Depois almoçaria com uma amiga no shopping e iria para o consultório de um dentista na zona sul, para no fim da tarde encontrar o Marcos no flat. Não dava um passo sem tentar olhar para todas as direções em busca de Paulo. Era difícil se convencer de que ele não a estava seguindo.

    No caminho para o centro de convenções recebeu uma mensagem adiando o encontro. O prefeito tinha solicitado uma reunião e a diversão ia ter que ficar para outro dia, por que no fim da tarde a agenda de Camila já estava cheia. Com tudo, o almoço com Karen ganhou um pouco mais de tempo e as duas ficaram batendo perna no shopping. “Estou pensando em sair do flat e comprar um apartamento na zona sul. Quero independência do Marcos.” “Cuidado amiga, você já tem um ex louco atrás de você. Te disse para não aceitar dinheiro do Marcos sem sexo. Ele esta apaixonado por você.” “É diferente. O Paulo foi meu primeiro namorado, e eu a primeira namorada dele. Perdemos a virgindade juntos, ficamos dez anos juntos. O Marcos é casado, tem filhos, família. O que ele gosta em mim é outra coisa, e vou continuar dando, ou ele vai continuar.” As duas riram alto e todo mundo olhou. Vendo toda aquela felicidade Paulo não se controlou. Apareceu repentinamente detrás de uma pilastra e acertou dois tiros em Camila. Depois caiu ao seu lado e pediu desculpas antes de atirar contra a própria cabeça.
  • O ANJO DO JULGAMENTO

    Prólogo
    A maldade silenciosa.
    Vivo num mundo cruel e sem salvação. Onde monstros se disfarçam de homens, e crianças são tratadas como adultos. Sigo por ruas pavimentadas, pagas com o sangue dos trabalhadores, e a dor dos inocentes. Criminosos crescem como pragas, e andar por qualquer cidade, já não é mais seguro. Ligo minha TV para esquecer que a perversão cresce lá fora, e me deparo com materiais doentios direcionados aos menores. A maior rede social de vídeos do mundo, proíbe minhas denúncias, garantindo que o material não chegue aos adormecidos. Mas minhas palavras não podem ser caladas. Há uma inútil luta na sociedade, para saber qual religião é melhor que a outra, ou se o homem é maior que a mulher, e vice e versa. Enquanto todos dão atenção para assuntos tão triviais, verdadeiros males ocorrem em torno do mundo com um único objetivo: manter a dominância de uma Elite doentia, que tem pervertido a magia, desde que o homem era somente um projeto de uma raça superior. Não me diga que ainda acredita, que os demônios vivem abaixo dos seus pés, e que Deus não é uma inteligência magnânima, que deu origem a isto tudo. Não, não me confunda como uma religiosa fanática, pois estou bem longe de ser. Não, também não me chame de satanista, este é um nome que não cabe a mim. Estou muito além destes rótulos, para ser definida somente por eles, por isso peço que me respeite, e me chame apenas por anjo do julgamento. Já que estou acima do bem e do mal, e apta para determinar a sentença dos seus homens e mulheres. Vim para este mundo, como uma de vocês, nasci de uma barriga humana, embora fique cada vez mais claro, que não sou deste mundo. Cresci como uma criança normal, sem saltos no tempo, ou perseguições de um grupo secreto. Porém sempre carreguei comigo, uma maldade gigantesca, que me levava a manipular, me aproveitar, e torturar os outros. Talvez tenha sido uma menina psicopata, talvez somente acima da média, mas uma coisa é muito clara, esta crueldade frívola nunca me abandonará, e dado as atuais circunstâncias, é melhor que assim seja. Na minha fase adulta, o meu destino ficou cada vez mais claro, quando seres poderosos, entraram em contato comigo através de pensamentos obscuros, e sinais nos céus, que jamais cessariam, até eu aceitar a minha conduta. Em janeiro de 2020, fui seguida por um grupo de frades tradicionais, após ter tido vários pesadelos, com inúmeras mortes causadas pelas minhas mãos. Eu senti medo, pois após tantos anos de terapia, enfim tinha descoberto que sofria de um mal psicológico, que poderia me transformar numa assassina de uma hora para a outra, o quê para mim, era cruel e demoníaco, e eu precisava controlar, senão vidas inocentes iriam pagar pelo meu problema. Eles me chamaram por um nome, que tentei esconder debaixo do tapete, todavia evitar o quê era, não foi o suficiente para me deixarem em paz, e assim tive de seguir com eles. Muito antes de evitar as minhas asas negras, já havia imaginado que um grupo viria até mim, e me levariam a algum lugar sombrio, por isso implorei aos deuses para me protegerem, ou me deixarem escapar. Infelizmente cheguei ao meu destino, e ninguém me salvou. Eles eram assustadores, e tentaram me atacar, mas o meu desejo insaciável por sangue, me levou a ficar viva e ilesa. Manchada de vermelho, me afastei do monte de cadáveres, pronta para me entregar a polícia. Só que dois padres surgiram, e aplaudiram o meu desempenho. “Ela é perfeita.” Concordaram entre si, e fiquei desconfiada, esperando que me dessem uma explicação. Eles pestanejaram, e me vi obrigada a puxar a faca. “Digam quem são, e o quê fazem aqui.” Perguntei sentindo a adrenalina fluir. “Somos os filhos de Jesus. Pertencentes a ordem sagrada de Cristo.” Eles me responderam, e eu gargalhei. Afinal o quê uma ordem de tamanho poder religioso, iria querer com um anjo caído, que negava a própria alcunha? Eles me disseram que precisava ir com eles ao mosteiro de Santa Marta, e que lá receberia explicações mais detalhadas. Naturalmente opinei por não ir, contudo cedi a minha curiosidade, e com eles eu segui. Muitas horas se passaram, até me levarem ao topo de uma montanha rochosa. Outra vez o medo de ser destratada, e sofrer torturas preencheu o meu ser, até que o vi. Era um homem loiro, de cabelos escuros, olhos penetrantes e claros, que intercalavam entre o rio e o mar, muito bonito , que vinha em minha direção. “Minha filha.” Ele disse, e eu não segurei o riso. Até ali tinha noção que de quê havia conhecido o paraíso, porém filha daquela figura bíblica? Era cômico demais. “Preferes desta forma?” Disse ao fazer chifres de bode crescer em sua cabeça, enquanto o corpo mudava. “Não pode ser.” Fiquei catatônica, e acabei por desmaiar em seus braços. Ao acordar ele me explicou tudo, e pude reagir de outra maneira, o abraçando forte, por saber que estava diante do meu verdadeiro pai. Assim me tornei uma dos seus seguidores, e me dediquei a cumprir a minha missão, de destruir os ímpios, e iluminar a terra, com a minha chama sagrada. Pois ele só havia voltado, para que o julgamento se iniciasse, e o mesmo só poderia ser feito com o poder da sua amazona, e filha mais velha, a própria morte, ou seja eu. No início senti culpa pelas vidas que ceifei, no entanto bastou ver a lista dos culpados, para que o arrependimento se transformasse em paz. Não estava tirando aqueles homens e mulheres de suas famílias, e sim devolvendo demônios de volta para o inferno, do qual nunca deveriam ter saído, e seguiria fazendo isso até limpar o planeta, desta maldita escória de covardes.
    Capitulo 1- Verdades
    Inconvenientes
    A MORTE NARRA:
    Um dia eu tive uma amiga, que acreditei que seria para sempre, mas agora era somente outra neblina de inveja e prepotência, que precisava se dissipar. Ela era bonita, e de corpo desejável, mas embora tivesse tais atributos, não era feliz ou satisfeita consigo mesma, por mais que escondesse isso, através de um sorriso tão vazio quanto a sua cabeça sonhadora. Sei que parecem sinais de ódio, todavia posso assegurar-lhes que é somente mágoa. Eu confiei nela, depositando em suas mãos todos os meus sonhos, medos, e anseios, como se fosse a única confidente que tive na vida, e o quê achei que duraria até o Armagedom, hoje era apenas um motivo de dor e tristeza. Ela seguiu uma vida criminosa sem retorno a cidadania de bem. Algo que tentei lhe alertar, que não teria um fim nobre. Já eu me juntei a Ordem secreta, que conhecia as duas faces do demônio, e passei a julgar os meliantes que trucidavam inocentes. Desde sempre estava claro, que éramos o lado diferente da moeda. Só que para a minha surpresa, não fui eu, a servir as trevas, cometendo iniquidades, apesar dos demônios que sempre me acompanharam, nas profundezas da minha mente. “Thamara.” Meu superior me chama, enquanto sigo pelo escritório, olhando os relatórios da empresa, com um par de óculos, que por intervenção divina, não mais necessitava, porém precisava para manter as aparências. “Seu desempenho foi excelente neste mês. Logo se formará com louvor.” Ele me elogia, e o olho sem muito interesse nas finanças. “Que bom. Não vejo a hora de terminar o curso, e voltar a trabalhar em casa.” Deixo escapar, e isso o magoa, já que acha que eu não valorizo seus esforços para me sentir bem ali. Não me importo muito, pois após ter conhecido tantos que usavam a máscara de bons moços, para esconder seus crimes. Gentilezas não mais me atraem. “Tha.” Ouço a voz do meu amado, e sorrio ao ver o belo moreno de terno que vem na minha direção. Ao chegar o abraço com todas as minhas forças, pois ele é a minha luz, neste mundo sombrio. Nós terminamos as simulações de compra e venda de ações, e descemos pela escadaria. Ao entrarmos no carro, nossas feições de alegria mudam, e ele segura a minha mão. “Sei que não será fácil. Mas é preciso.” Diz tentando me dá forças, e eu aceno com a cabeça, me preparando para tempestade que há de vir. Ele estaciona o carro, eu desço com o cabelo amarrado, num coque para trás, luvas, e tudo o quê é necessário para cometer um crime. Estamos numa floresta densa e escura, e o cheiro de morte impregna o ar. “Ela esteve aqui.” Aviso, ao o seguir sem fazer muito barulho. “De fato.” Meu marido pega duas cabeças de recém-nascidos, mortos, que tiveram seus olhos arrancados, e pela quentura do sangue, percebo que o infanticídio foi praticado a poucas horas. “Droga!” Esbravejo furiosa, e nós abandonamos o local do sacrifício. Assim me livro das vestimentas que nos ligam aos assassinos, exatamente como os filhos de Jesus me ensinaram, e seguimos como inocentes. Meu celular toca, e o atendo com grande desgosto.
    _Thamara.
    _Não chegamos a tempo de capturá-la.
    _Eu sei. Sua irmã pode ser uma
    cabeça oca, mas ordem a qual ela
    serve, é cheia de membros
    perigosos.
    _Para uma menina, ela tem me
    causado uma bela dor de cabeça.
    _É porquê tem sentimentos por ela,
    e no fundo se sente culpada pelo
    caminho que tomou.
    _Pai. Eu sou o monstro da família.
    Se tivesse controlado meu ego,
    talvez pudesse salvá-la.
    _Não, não poderia. Ela tinha o livre
    arbítrio, e optou por seguir para
    as trevas.
    _Ela não é tão má. Eu sei, porquê
    na hora das mortes...
    _Thamara. Você desliga as emoções
    , para julgar os que merecem. Ela o faz
    para sorrir, se divertir, e você já viu.
    Não há comparação.
    Meu pai estava certo. Minha irmã, e antiga melhor amiga, agora era um monstro imparável, que não se preocupava com o dia de amanhã, e já tinha cometido mais de 10 assassinatos, em nome da Ordem das Corais. Uma seita religiosa que tem planos malignos para o planeta, e precisa ser detida, pois apesar de seu número ser pequeno, a mesma é responsável por todo o serviço sujo, da ordem piramidal dos Iluminados. Algo terrível, que me trouxe memórias cruéis... “Katherine!” Gritei ao vê-la arrancar a cabeça de uma criança, mas ela me ignorou, tinha se entregado a escuridão, e nada poderia ser feito para regressar. “Ela nunca vai parar.” Conclui retornando aos tempos atuais. Era hora de matá-la, mas não sabia se teria a mesma frieza que desenvolvi ao exterminar os outros.
    A viagem de volta para casa foi longa e silenciosa. Bartolomeu sabia o quanto aquela situação me afetava. Ao chegarmos, notei que os portões da minha luxuosa casa estavam abertos, então coloquei um dos pares de luvas, e amarrei os cabelos. “Thamy.” Meu marido segurou o meu pulso, assim que coloquei o pé para fora, já com a adaga na mão. Meus olhos subiram, e vi a silhueta de minha mãe Lina, brincando com minha filha e cópia Ramona. “Não traga os seus trabalhos para casa. Seu pai jurou que manteria sua identidade protegida, e enviaria os melhores guardas para cuidar do nosso lar. Confie na palavra dele.” Ele me disse, porém não quis ouvir, andava tendo visões de que a casa seria invadida pela Ordem das Corais, e seria arrastada pelos Iluminados para dentro de um abismo, e não podia abaixar a guarda. A noite...Jantamos lasanha, com muito refrigerante, agindo como a família normal que não éramos, para manter a mente de Ramona sã. Um acordo que firmei com Bart, para garantir que a menina tivesse a infância que não tivemos, e somente mais tarde viesse a saber O quê nós somos. A pequena sempre carinhosa, nos deu beijos de boa noite, e foi para o seu quarto, ler seus contos favoritos dos irmãos Grimm. Apesar de sua doçura, ela sempre teve inclinações para assuntos obscuros, pois as histórias contadas para outras crianças, lhe davam sono. Era uma prodígio, e por isso eu ficava cheia de dores de cabeça, quando minha mãe vinha em casa. “Thamy você tem que colocá-la numa escola especializada.” Disse minha mãe, enquanto eu colocava os pratos na lava louça. “Já falamos sobre isso. Nem eu, nem Bartolomeu gostamos da ideia. O mundo não é seguro para uma garota gentil como ela.” Respondi esperando o furacão Lina, derrubar todos os objetos da cozinha, mas a idade a deixou mais calma, e isso me surpreendeu. “Filha você sempre reclamou por não termos explorado o seu potencial quando criança. Nós não fizemos isso, porquê não percebemos, seu pai não percebeu, mas você e Bart veem, não acha justo lhe darem a oportunidade?” Usou o velho argumento irritante, de quê fui um prodígio não reconhecido, por culpa do meu pai terrestre, e isso me chateou muito, contudo respirei fundo, e sentei a mesa, ligando o meu notebook. “Venha aqui.” Chamei-a, e a mulher baixinha e empinada, se juntou a mim, com seus óculos fundos. “Está vendo estas notícias?” Mostrei o novo sistema de pesquisa inteligente, conhecido como SIP-I. O programa que substituiu o Google em 2022, quando a Deep Web, deixou de ser uma rede subterrânea, para se tornar superficial, devido a grande popularidade de materiais distribuídos como inofensivos. Ao contrário do programa do Bill Gates, o SIP-I, era controlado por uma inteligência artificial, criada por um gênio e pai de família, que a desenvolveu exclusivamente para garantir que os filhos, ficassem longe dessas mídias danosas. O Google ainda existe, porém é uma ferramenta usada por criminosos, que agora podem agir a olho nu, graças a intervenção da Elite, para satisfazer seus desejos doentios. A policia, os guardas, os seguranças, os advogados, e todas as ferramentas para se fazer a justiça, não passam de teatros financiados pelo grupo piramidal, para fingir que ainda há um meio de salvar a todos. Sim, o mundo está um completo Caos, e não posso colocar a minha preciosa herdeira do verdadeiro Novo Mundo, nas garras dos monstros do atual. Não tive todo o cuidado de filtrar a sua programação, lhe formar em cursos a distância, para agora entregá-la de mãos beijadas ao sistema deles. “Menina de 10 anos, é estuprada em banheiro unissex por garotos da mesma idade. -Menina desaparece em escola, sem deixar rastros- Menina é agredida ao voltar para casa sozinha- Meninas tendem a sofrer 75% das agressões e abusos no país -Professor é preso por molestar as alunas. Preciso ler mais?!” Disse ao configurar o SIP-I com a minha biometria, para conteúdo adulto no meu computador portátil. “O mundo não é só isso Thamara.” Ela tenta me convencer, e eu acabo rindo, pois praticamente todo mês tenho que matar muitos, por conta da perversão que se expandiu. “Pode até não ser. Mas tudo o quê vejo é esse descontrole, e enquanto Ramona não for capaz de matar, em vez de ser morta, ela fica em casa.” Disse com frieza, e minha genitora se calou. A conversa que tive com a Dona Lina, me deixou bastante apreensiva, e trouxe de volta demônios, que há anos não me perturbavam. “Cuidado em casa.” Disse uma das vozes de minha consciência. “Você não deve confiar em nenhum homem.” Repetiu, e o medo se apoderou de mim. A passos lentos segui pelo corredor do quarto da minha menina, a porta estava entreaberta, e o meu bebê de 10 anos dormia totalmente embrulhado em sua coberta lilás, que por meu intermédio havia se tornado a sua cor favorita, desde que era menor. Entrei no cômodo, e me sentei ao seu lado, fiquei lhe fazendo cafuné, e vi o seu sorriso. “Você é a coisa mais importante do mundo para mim.” Disse-lhe, e ela me abraçou forte. Foi então que ouvi ruídos, e me vi obrigada a me esconder. Como não tinha para onde ir, usei um dos poderes da morte, a invisibilidade. Bart apareceu ali, e sem perceber acabei por deixar a menina descoberta, com o seu pijaminha de short curto. Respirei fundo, se algo ruim fosse acontecer, teria que ser naquele momento, pois meu marido pensava que eu ainda estava a conversar com a sua sogra. Ele a observou sorridente, e a cobriu, dando-lhe um beijo no rosto. “Sua mãe e você, são tudo para mim.” Falou com ternura, e eu não consegui me conter. Meu corpo tremulou entre o intangível e tangível, e acabei por surgir no canto da parede. “Thamara? Mas o quê faz aqui?” Disse já incomodado. “Eu precisava ver se a Ramona estava bem.” Foi o meu primeiro impulso a dizer. “Se era só isso, por quê se escondeu atrás da cortina?” Questionou com o ar de inteligência, sabendo no fundo o quê aquilo significava. “Nem precisa dizer.” Concluiu me deixando para trás, e sai atrás dele, pronta para me explicar.
    _Bart.
    _Thamy. Você lida com o mal o tempo todo.
    Como é que ainda pensa isso de mim?
    _É só que você é todo liberal, e gosta muito
    de mim, sendo que pareço uma menina
    de 14 anos.
    _15. Mas você tem 24, há diferença.
    _Até o dia que envelhecer...
    _Primeiro se envelhecer, sempre será a minha
    mulher. Segundo você não envelhece, é
    parte de ser a morte.
    _Mas se não consigo julgar nem a Katherine,
    que é minha irmã, imagine a você que é
    o amor da minha vida?
    _Eu não sou a Katherine. Tenho prazer de matar
    pela mesma razão que você. Pra limpar o mundo
    dessa escória maldita, que se tornou uma
    epidemia!
    “Tem prazer de matar? Pela mesma razão que ela?” Ouvi uma terceira voz na discussão, e meus olhos se arregalaram, lá estava a minha mãe na porta do quarto da minha filha, que se escondia atrás da sua longa camisola azul. “Ah! Fantástico!” Explodi, e ele lutou para se manter calmo. “Agora todos os meus planos para a Ramona foram por água abaixo. Está feliz?!” Deixei fluir o ódio. “Espera, vai me culpar? Foi você que iniciou a discussão!” Ele rebateu, e embora tivesse razão, preferi negar a culpa, e inspirei “todo o ar do ambiente”, até me tranquilizar, para explicar tudo o quê tinha acontecido, pois embora tivesse o dom de tirar a vida das pessoas, não tinha a capacidade mudar seus rumos. O tempo nunca volta para a morte, isto se dá por uma força maior que a minha, e até mesmo a de meu pai.
    Nos sentamos a mesa, a mesma onde deveriam haver conversas comuns e entediantes, em vez do grande “elefante” que estava entre nós. Ramona ficou a me observar com seus olhinhos negros, que estavam esperando uma explicação, enquanto minha mãe tremia como um rato diante do gato, achando que minha doença, tinha enfim chegado ao estágio final, e agora eu matava sem ter um código de conduta. “Eu poderia mentir para vocês, e acreditem em mim quando digo: Adoraria fazer isso. Mas esconder a verdade, as levariam a pesquisar por conta, e tirarem conclusões mais absurdas que o próprio axioma, por isso vou lhes contar tudo.” Tentei soar culta e fria, mas por dentro temia que não me entendessem, e me jogassem numa casa de apoio emocional e psicológico, um nome bonito para hospício do século XXI. Bart mesmo magoado pela acusação, segurou a minha mão me dando apoio, e apesar de meus demônios o odiarem, por me fazer tão fraca, uma pequena parte de mim, se sentiu segura por tê-lo ali, e assim ambos sorrimos sem vontade, um para o outro. “Lembram-se quando sumi por mais de 6 meses, quando estava perto de fazer 28 anos?” Iniciei o meu relato, com uma pergunta, para adaptá-las ao ambiente do passado. “E que Bart lhes disse que tínhamos tirado um ano de férias longe da Ramona, que tinha se tornado cada vez mais pestinha?” Conclui, e a velha conservada Lina, revirou os olhos, já se recordando do fatídico tempo. “É claro que sim, foi o seu ato mais egoísta em relação a pobrezinha.” Resmungou seca, e isso me fez sorrir com satisfação, pois agora ela se calaria com a verdadeira razão do meu sumiço. “A verdade é que eu tinha sido recrutada por uma antiga Ordem que...” Tentei terminar mas a avó, já veio atropelando a minha narrativa. “Você entrou para os Iluminados?! Depois de tudo o quê me falou sobre eles e sua maldade e...” Desta vez eu atropelei suas palavras. “Não! Eu entrei para a Ordem de Cristo. Na qual os verdadeiros devotos da luz celestial, ou estrela da manhã, são treinados pelo filho de Deus, para limpar o mundo de tamanha crueldade, provocada pela má interpretação das Escrituras Sagradas, que foram corrompidas pelo homem, para atender suas ambições.” Respondi quase automaticamente, e ela ficou emudecida. “Mas você é má. Como o filho de Deus, a aceitaria em seu rebanho?” Inquiriu desapontada com o seu grande ídolo divino. “Eu sou má, porquê preciso ser, e Jesus me escolheu porquê sou a filha dele e Madalena.” Disse com desgosto. Após ter entrado em tantas casas, para matar homens merecedores desta sorte, não gostava de ser associada a maldade diabólica, pregada por palavras vãs, de homens loucos por poder. “Mas você não é filha de Lúcifer?!” Ela ficou ainda mais confusa. “Tive a mesma reação ao descobrir. Mas sim Lúcifer e Jesus são o mesmo ser.” Esclareci, e ela cuspiu a água que tinha começado a beber. “Meu pai cometeu muitos erros mãe. Um deles foi tentado introduzir neste mundo, virtudes para os quais não estava preparado.” Baixei a cabeça, lamentando pelo surgimento da outra face, do príncipe do mundo. “Seu pai é o Alexandre! Esse homem que a induz a matar é um blasfemo!” Gritou como uma fanática, e com o meu dedo indicador apontei minha energia para a planta no meio da sala, que por “mágica" começou a secar, enquanto meus olhos mudavam de castanho para violetas. “Tudo é um, e o um é tudo.” Disse ao abrir a palma, e soprar a vida de volta para a flor, que brotou ainda mais linda e brilhante.
    _Como fez isso? Esse Homem. Esse homem é um alien?!
    _Não, bom é, mas não da forma que está pensando.
    Eu sou o cavaleiro do Apocalipse mãe, eu sou
    a Morte.
    _Mas como isso é possível? Sua gestação foi normal,
    embora houvessem complicações!
    _E você rezou a Nossa Senhora do Perpétuo Socorro,
    para que eu não morresse, e me chamou de seu
    milagre.
    _Minha filha. É um peso tão grande para carregar.
    _Eu sei que é mãe. Sei que posso ficar louca. Mas pela
    primeira vez na vida, tudo realmente faz algum sentido,
    e principalmente, eu não preciso mais ficar de braços
    cruzados, vendo o mundo ruir.
    _Mas você é tão jovem, bonita, e inteligente.
    Ele não pode escolher outra em seu
    lugar?
    _Eu tenho 666 irmãos. Mas nenhum deles tem o
    meu poder mãe.
    _Eu sabia que um dia isso ia acontecer.
    _Não tá planejando me colocar no hospício não é?
    _Não, não minha filha. Apenas espero que saiba
    o quê está fazendo, pois um erro e...
    _Mamãe eu não morro.
    _Mas pode se ferir, e depois de tudo o quê já passou, não
    quero que se machuque ainda mais.
    Ela me abraçou, e Ramona ficou calada, ponderando sobre tudo o quê sabia a respeito de Cristo e Lúcifer. Naquela madrugada tive de falar tudo a minha pequena, de uma forma que ela pudesse entender, e acabamos por adormecer.
    O MISTERIOSO MARIDO NARRA:
    Thamara dormiu junto de nossa filha, e eu fiquei a mesa, arrumando os pratos, cheio de doces que devoramos ao ouvir as palavras da minha esposa. Lina não conseguia dormir, por isso ficou sentada no sofá com o olhar vazio. Embora quisesse transmitir confiança a filha, ainda não tinha aceitado os fatos, e suas mãos tremulantes, alegavam que estava a beira de um surto. Olhei-a por cima dos ombros, e respirei fundo. Se não a ajudasse agora, a Thamy iria sofrer as consequências mais tarde, e não podia deixar isso acontecer. Como quem não quer nada, sentei-me ao seu lado, e ela como que por desespero virou-se para mim, dando-me um baita susto, com seus grandes olhos vermelhos e enrugados, marcados pelo pânico do desconhecido.
    _Bart.
    _Eu mesmo Lina.
    _Thamara não me contou como você foi envolvido
    nessa matança.
    _Ah, é simples. O par da Morte, sempre será
    o Peste.
    _Espera você também acredita que é um dos Cavaleiros
    do Apocalipse?
    _Mas é claro que sim. Fui treinado junto com
    a Thamy.
    _Isso é loucura Bart!
    _Não, não é. Basta parar de ver a Thamy como somente
    sua filha, que verá os sinais entorno dela.
    _Vocês tomaram alguma droga, quando conheceram
    esse guru que acha que é Cristo?!
    _Lina. Se acalma. O tal “guru" salvou sua filha de ficar
    cega.
    _Então é um alien! Um alien maldoso!
    _Lina. Ele é realmente Cristo, sua filha é a Morte, e
    eu sou o Peste. Precisa aceitar isso.
    _Por quê?!
    _Porquê com você como nossa aliada, podemos
    iniciar o quanto antes, os treinos de Ramona para
    esta seguir o destino que lhe foi escrito.
    _E seria?
    _Herdar nossos poderes e manter o mundo
    em equilíbrio.
    A conversa com Lina, não me pareceu muito proveitosa. Era evidente que Thamara tinha puxado a cabeça dura dela. Todavia obtive algum êxito, e por isso pude dormir em paz naquela noite. “Você tem que matá-la.” O sussurro de minha própria voz passou pelos ouvidos. Minha esposa não estava de todo errada, haviam demônios na minha mente, só que ao contrário do quê ela pensava, não representavam perigo algum a nossa filha, não da forma que com veemência me acusava, pelo menos. Meus pensamentos eram mais piedosos, me falavam sobre matar a família inteira, e depois a mim mesmo, não torturá-las com maldade, como fazia com minhas “vítimas”, ou de maneira sexual, como algumas das “vítimas” faziam com terceiros.
    Mergulhado no vazio obscuro dentro de mim, eu os vi. Eram vários de mim, cada um com uma ideia de diferente, e como eu sou o rei deste Inferno mental, caminhei lentamente entre eles, mostrando-lhes a minha força e imponência. O meu eu assustado se recolheu de imediato, ou meu eu raivoso, saltou na minha direção, e por isso o peguei pelo pescoço. “Ela nunca vai te amar! Não é capaz de amar a alguém!” Ele gritou e isso me fez sorrir, ao puxar seu crânio ensanguentado para fora do esqueleto. “Eu que mando aqui, e se não respeita a minha amada deusa, deve morrer como todos os outros.” Esclareci, e o frio e calculista veio até mim. “Ela não é controlável como a Célia. Não é um bom negócio, seguir com aqueles que estão além dos fios de nossa manipulação.” Olhou para mim, e eu lhe acertei com um machado que projetei. Não tinha tempo para ouvir as asneiras, de partes minhas, para as quais somente a Thamara ainda dava vida. “Ele seguiu por aquela direção.” Disse o meu eu viciado em violência, e por isso segui cautelosamente até a escuridão, que crescia da direção em que aquele demônio tinha se enraizado. “Ela te deixou uma vez.” Foram as suas primeiras palavras. “Ela seguiu com Dave, e te ignorou. Só retornou porquê Dave não a ama.” Continuou com seu monólogo de mágoa. “Só há uma razão para odiá-la tanto. Sr. Tristeza.” Brinquei ainda atento ao ataque dele. “É Sr. Melancolia.” Ele gritou enfurecido. “Pra mim parece mais o bebê chorão. Aquele tempo se foi Bart Melancólico.” O alfinetei, e depois recobrei o sentido, se somos o mesmo, não cairia numa provocação barata. “Não para mim. Eu ainda a vejo nos braços do outro, exatamente como ela desenhou.” Respondeu com mais intensidade, e pude chegar até ele, porém ao pisar no topo de uma colina, iluminada pela luz da lua, percebi que aquela voz vinha do meu inconsciente. “Ela nos ama. Me ama, e é só o quê importa.” Disse ao olhar para baixo. “Não é tão simples.” Suas sombras se materializaram, agarrando meus pés como tentáculos, e me arrastando para dentro do breu. Uma vez disse a Thamara que eu tinha entrado em depressão quando me deixou, mas eu menti, ela tinha criado algo muito pior dentro de mim, pois nunca havia amado tanto alguém antes dela, e agora esse mesmo monstro queria me puxar para o fundo, com o intuito de se tornar o 70% de mim, que controlava os meus outros demônios. Isso já tinha acontecido uma vez, e até hoje sofro com consequências do Bart Melancólico, que me levou a trair a minha esposa, mesmo que só emocionalmente, e ela nunca me perdoou. “Ela irá fugir com o primeiro homem bonito que aparecer.” Ele disse tentando me desnortear, mas desde que tinha completado 30 anos, não era o garoto de antes, o emprego e pequenas intervenções de Thamy, tinham me tornado atraente o suficiente, para não me sentir ameaçado, caso surgisse mais um novo rival, na batalha pelo coração da minha companheira. Por isso concentrei raios de luz na minha palma, e cortei os braços da criatura, antes de chegar na ponta do precipício. “Eu não entendo por quê você ainda existe. Eu já superei o passado, então faça o mesmo. Não importa as batalhas que perdemos, e sim que vencemos a guerra, e teremos a Thamara para sempre.” Disse iluminando o meu corpo ao máximo, para ser intocável pelo poder obscuro, do ser que habita as profundezas da minha cabeça. “Dave, Thomy, e outros, não foram os últimos.” Ele me disse, e retornei ao meu estado ativo.
    Já eram 7: 30 da manhã, e Thamara já havia iniciado suas negociações com o Robô da Ibov. “Me atrasei?” Brinquei com o meu sorriso mais sem graça, e ela seguiu com os seus olhos vazios, procurando por algo que nem a mesma sabia. “Está atrasado em 15 minutos, e só não perdeu 140 USD, porquê entrei em seu Login.” Respondeu seca, e isso me preocupou bastante. Se ela soubesse a luta que vivo toda noite, para continuarmos juntos, talvez valorizasse o meu amor, ou não. Conhecendo a senhorita “Não te amo há muito tempo.” Certamente não. “Obrigado meu peixe.” Agradeci citando o nosso apelido próprio, na intenção de alcançar as suas emoções. Só que ela seguiu inerte, me ignorando, e isso fez com quê o pesadelo da noite passada, parecesse bem real. Sentei-me do seu lado, meio desarrumado, tinha apenas escovado os dentes, e lavado o rosto. Sua pequena e delicada mão procurou pela minha, e isso me fez sorrir. “Não Bart Melancólico estava errado. Ela me ama sim.” Pensei tentando esconder o riso de alegria, e sem dizer nada ela se encostou no meu ombro, ainda focada na tela da FT. Era o seu jeito de dizer Eu te amo, sem o uso das palavras, e eu adoro isso, pois depois do carinho silencioso, sempre vem o beijo, e neste sinto toda a sua energia amorosa fluir com bastante gosto.
    A MORTE VOLTA A NARRAR:
    Ainda estava enfurecida pela noite passada, ele me traiu com uma garota mais jovem, de 18 anos, quando tinha 22. O quê quer que eu pense? Que é um homem digno que não se interessa por garotinhas? É difícil. Pois achei que o fato de ser 2 anos mais nova, me dava uma vantagem que as outras não podem ter. Afinal desde nova, sempre sofri muita rejeição dos caras da minha idade, e recebi bastantes pretendentes mais velhos. Assim conclui que meu par teria de ter sempre um ou dois anos acima de mim, do contrário sempre seria sempre um fracasso. Meus planos caíram por terra! Mesmo sendo mais nova, ele procurou por uma ainda mais nova, 4 anos mais nova. O quê me levou a concluir que se tivesse 17, teria um relacionamento com uma menina de 13 anos, algo tão patético, quanto o quê Roger, o lixo que me desvirginou fez. Depois de tal fato, nunca mais o vi com os olhos do encanto, porém ainda sim, mesmo ferida, e quebrada por dentro, não deixei de amá-lo. Só que como ele nunca valorizou os meus esforços, para manter longe os abutres que queriam destruir o nosso relacionamento, sempre que esse rancor crescia dentro de mim, acabava por dizer que não sinto mais nada, pois a verdade é que não queria sentir, mas por alguma razão era o único que não era capaz de deixar de amar totalmente. Talvez fosse o pacto que fizemos, quando ele tinha 18 e eu 16, ou quem sabe somos almas gêmeas. Já não sei mais, pois cansei de fazer inúmeros rituais para nos desamarrar, e continuarmos voltando aos dias de intensa paixão da juventude, e nos amando ainda mais. Como uma maldição sem fim, da qual nunca poderia escapar. Karma também é uma opção, consequência por desafiar a ordem divina. Contudo poderia ter me prendido a um homem cachaceiro, que me bateria, ou não me reconheceria nem mesmo com magia. Porém acabei junto dele, e apesar de ter sido o maior dos idiotas, foi a melhor opção, entretanto se pudesse voltar no tempo, eu teria impedido essa união de todas as formas, e com certeza me espancaria até desmaiar, antes de juntar nossas gotas de sangue, e transformá-las numa só, envolvendo o nome de Lúcifer e Lilith. Talvez fosse melhor ter invocado a própria Afrodite e o seu Adônis endeusado, mas isso é duvidoso, pois muitos no círculo dos magistas alegam que Lilith é Vênus, e se isso é verdade, então Lúcifer seria Áries ou será que era o pobre Efestos? Aquele que foi expulso do Olimpo pela própria mãe, e se tornou um Deus por sua cruel astúcia, ao descobrir as fraquezas daqueles que um dia o humilharam. Tanto faz. Só sei que rezei aos deuses errados, pois mesmo que a minha vítima cedesse, passamos por vários problemas ligados a este bendito ritual diabólico. O amo muito, ele é a minha vida, não vivo sem ele, parece que quem se amarrou fui eu. É duro sentir tal coisa, sendo que nunca tive tal emoção, por nenhum outro homem antes, e pior ainda é gostar dele deste forma, depois de tudo o quê aconteceu. Eu piso, humilho, chuto como se fosse outro psicótico a ser julgado, e na hora de partir o agarro forte, e faço o quê estiver ao meu alcance para não deixá-lo ir. Meus médicos dizem, que é culpa do meu mal, que não o amo de verdade, só gosto de sua submissão, e de torturá-lo friamente. É tudo tão simples para eles, que chega a me dar raiva. Não é que não o ame, pois se assim fosse, não perderia a cabeça só de imaginar ele com outra. “E isso se dá porquê o trata como sua posse, e acredita que ninguém mais pode tocá-lo.” Já até ouço o Doutor Fernand dizer, e reviro os olhos. Oras se não quero que ninguém toque nele, é porquê é importante para mim, e as mãos impuras de terceiros não devem corromper o meu imaculado amado.
    _O quê está pensando Thamy?
    _Nada.
    _Olha lá a mentira patológica gente.
    _Não importa.
    _Ainda é sobre aquele assunto irritante?
    _Em parte sim.
    _Hm.
    _O quê quer para o café?
    _Nada.
    _Isso só funciona comigo. Deixa de graça.
    _Eu realmente estou sem fome.
    _Então vou fazer bolinhos de queijo
    , presunto, salsa, e recheio de
    requeijão.
    _Quero 2.
    _Ótimo. Vou aguardar você terminar
    aqui.
    Sorri da maneira mais cínica, e isso o contagiou. É nessas horas que percebo o quanto me ama. “Eu vou. Mas só porquê me garantiu 140 dólares ainda pouco.” Fez a face de senhor da razão, e eu gargalhei. Está querendo enganar a quem querido? É evidente que expande a quantidade de oxitocina no seu organismo por mim. Tomamos o café-da-manhã, já em clima de harmonia, sorrindo como se por alguns minutos todos os males tivessem ido embora. Uma perfeita relação abusiva, na qual para surpresa de todos, era a mulher que estava pisando de salto alto nos sentimentos do homem. O telefone tocou, e fechei a cara, pois não era Lúcifer que estava me ligando, e sim a minha irmã que tinha se bandeado pro lado dos Iluminados.
    _Luciféria.
    _Pai!
    _Precisa vim a Santa Marta o quanto antes.
    _O quê? Por quê?
    _Sua irmã despertou da lavagem cerebral
    das Corais, e está a beira da morte!
    _Ela... O quê?
    _Venha ao mosteiro, e explicarei tudo.
    _Está bem.
    Ele desligou, e eu olhei para Bart. Nós entramos no carro, e dirigimos até o monte dourado. Katherine estava totalmente desidratada, caída no piso, como se implorasse pelo seu último suspiro. Sem dizer nada, afastei todos os frades, e me ajoelhei diante dela. Concentrando minhas energias na palma, vi ambas se tornarem esferas de luz radiante, e soprei para dentro da sua boca, infelizmente minha irmã não estava só morrendo, e sim tinha sido acometida por um vírus, e somente o sangue do Peste, poderia curá-la. “Vai em frente.” Disse ele estendendo o pulso, e com minha unha de energia, perfurei sua pele rasgando-a, até pingar gotas vermelhas na língua da moça, que pouco a pouco se restabeleceu de sua doença.
    Passadas algumas horas...Caminhei pelo mosteiro, e fumei um cigarro de maconha para me acalmar. Meu pai viu, e sorriu, erguendo a mão, para tirá-lo da minha. Sem questionar o entreguei, e para a minha surpresa, ele o levou aos lábios, e puxou toda a fumaça com gosto. “Parece que o lado Lúcifer segue aí dentro.” Brinquei, e ele olhou para o céu. “Lúcifer nunca irá embora, Magda.” Respondeu com calmaria. “É Luciféria, Luciferiel.” O corrigi. “Luciféria no céu, Magda na Terra, Arádia na Magia, Matheuccia na Religião...São apenas nomes. O quê importa é a sua essência, pequena princesa.” Citou meus “20 nomes", e me fez entender o seu propósito. “De fato. Lúcifer no céu, Jesus Cristo na Terra, Agrippa na Magia e na Religião.” Devolvi na mesma moeda, e ele riu com compaixão. “Então reconheceu minhas palavras, até mesmo através de um homem? A eduquei direito pelo visto.” Olhou para o lado, e ergui os ombros. “Quando falou que o Ar não era um elemento, e sim uma cola que unia os outros 3, como se o mesmo fosse o mais poderoso dos elementos, ficou bem óbvio na verdade.” Completei, e ele seguiu a fumar a erva sagrada, que aos olhos do sistema, era maldita, pois fazia o cérebro trabalhar mais rápido, e se tornar menos passivo ao controle. “Pena que nem todos os meus filhos aprenderam direito a respeito da palavra sagrada.” Olha para a frente, e a silhueta de violão da Coral, surge querendo se aproximar de nós. “As deixarei a sós.” Ele de imediato se retira. “Espera, ela é sua filha. A minha está em casa lendo e aprendendo.” Resmunguei colocando minha mão em seu peito, não o deixando passar. “Mas quando sua mãe criou ódio dos homens, você cuidou dela, como se fosse sua. Queria uma chance de se redimir? É esta.” Me relembrou, e acabei por ficar sem argumentos. Como uma criança, a morena veio até mim, e eu segui com a postura fria de mágoa.
    _Lucy.
    _É Thamara.
    _Pra mim sempre será Lucy, a minha irmãzinha
    mais velha.
    _Irmã mais velha, não venha com diminuitivos
    para despertar meus sentimentos.
    _Como sempre fria como gelo não é?
    _Diria mais fria como a Antártica.
    _Não vai querer saber como te encontrei?
    _Você sempre se fez de lesa, mas é inteligente.
    Não há nada surpreendente em ter chegado
    até aqui.
    _Eu ouvi um elogio da Sra. Crítica?
    _O quê quer aqui Katherine? Já não nos traiu
    o suficiente, ao se misturar as Corais?
    _Isso está além do quê pode compreender
    Thamara Mary.
    _Que você tinha sede de poder, e se meteu
    com as pessoas erradas? Não, é bem
    fácil.
    _Se me ver como a velha Lilá, sim, é só isso.
    Mas entrei na Ordem das Corais, para vigiá-las,
    e te entregar constantes relatórios sobre os
    crimes.
    _É Agarath e disso eu me lembro. Então num fatídico dia, simplesmente me levou para uma armadilha, e por pouco não morri.
    _Eu me apaixonei Lucy, e assim como você
    e Bart, ele era o meu parceiro de outras
    vidas.
    _Outro loiro de olhos claros com o rosto
    de uma estátua grega?
    _Guarde o seu sarcasmo. Ele era moreno,
    de olhos castanhos, e sem um gigante
    porte físico.
    _Deixe-me adivinhar, era o líder das Corais?
    _Não. Era outro subalterno como eu, e quando as
    Corais descobriram que tinha traído elas, juraram
    matá-lo, e me entregar o seu coração numa
    folha.
    _Então por um amor de verão traiu
    alguém de seu próprio sangue.
    Interessante.
    _Ele não era um amor de verão Lucy!
    Estávamos juntos, desde que me infiltrei
    na Ordem das Corais!
    _E já se passou pela sua cabecinha infantil,
    que ele pode ser o vigia delas, para testar
    a sua lealdade queridinha?
    _Já! É claro que já! Você me treinou lembra?
    _Então como ainda pode me trair?
    _Porquê ele era diferente do John. Me ligava,
    Mandava flores, fazia planos comigo, e me
    fazia ver que Bart não era o único homem
    na face da Terra, a amar uma mulher.
    _Não te usava? Não te ignorava? Não
    pisava em você? Não dava sinais claros
    de manipulação, e que não estava
    afim?
    _Não. Havia tanta devoção da parte dele,
    que várias vezes as Corais tentaram o matar,
    somente por me proteger.
    _Então te amava mesmo.
    A conversa prosseguiu, e vi os olhos de Katherine. Apesar dos sinais de um amor realmente recíproco, estava claro que aquela história não tinha tido um final feliz.
    A MEMBRO CORAL NARRA:
    Quando entrei no clube das Corais, que até aquele momento não era uma ordem reconhecida pelo mundo, tinha apenas um objetivo, orgulhar a minha mestra, irmã, e segunda mãe que já tinha conhecido. A tarefa era simples, apenas observar os relatórios através do Whatsapp e repassá-los para a minha superior, que havia praticamente retornado dos mortos. Contudo praticamente da noite para o dia, o Clube das Corais, ganhou destaque, e passou a ser notado por diversos países. Assim em vez do pequeno grupo que só tinha conversas online, agora os membros ganhavam passagens, para se encontrarem pessoalmente. Entrei num lugar com estátuas de Gárgula, cheio das mais diversas artes clássicas e góticas. Quem tivesse conhecido a líder antes, não acreditaria, que Ane Marrie agora era uma das mulheres mais ricas do Brasil. Mas isso tinha um preço, que era caro demais para pagar. “Olá meus filhos. Eu sou a deusa. Lúcifer não virá, mas os homens de Cristo, bateram a nossa porta, e não podemos deixá-los esperando.” Disse Ane, enquanto os 9 membros principais, se aproximavam de seu trono de mármore, uma regalia necessária, oferecida por ninguém menos que os iluminados. “Luz é o quê este mundo precisa, e é a ela que agora serviremos, sem perder a nossa autonomia.” Prosseguiu, sentindo-se a dona do mundo. “Se Lucy assistisse a essa cerimônia, teria revirado os olhos, e cochichado algo sarcástico.” Pensei ao me ajoelhar perante os pés da “deusa Marrie". A festa foi bastante recatada, até o momento em que ela pediu que nos despíssemos. Tremi um pouco, pois só havia eu e mais uma garota, chamada Pauline, e um dos homens veio até mim. Seu nome era Timothy, e o olhar cheio de desejo, me fez ter repulsa, por achar que era um pervertido qualquer. Porém quando segurou minha mão, e a beijou, soube que mesmo sendo um tarado, era um cavalheiro. “Não é bem o lugar para ser educado.” Joguei verde, para ver se era um teatro e ele riu. “Com alguém tão bela quanto você, é sempre hora de ser educado.” Ele me olhou com os seus escuros olhos penetrantes, e sem graça deixei meu riso escapar. Após o evento, em que por nome dos deuses tivemos de copular, Ane Marrie notou uma conexão entre nós, e nos fez um par, segundo ela éramos deuses antigos, que agora tinham reencarnado para clarear a sociedade. Novamente se Lucy ouvisse tal coisa, iria surtar, pois parecia uma cópia malfeita da historia dela e do marido, e se saísse da minha boca, certamente brigaríamos, pois ela iria pensar que a ideia teria sido minha, por conta dessa “mania de poder". Timothy andava pela cidade, sentindo-se o Senhor das Ruas, por conta do título que a “deusa" lhe proporcionou. Eu seguia ignorando isso, minha deusa era outra, e a mesma dizia que eu só me tornaria como ela, no dia em que finalmente despertasse, de maneira tanto física quanto intelectual. Só que o meu parceiro achava mesmo que Ane Marrie, era alguma entidade poderosa, por isso tentava fazer a minha cabeça para ver a sua grandeza, e jamais seguir a renegada filha de Lúcifer, que não fazia parte das Corais, por ser uma egocêntrica, metida, que achava ter mais poder que a “nossa" majestade. “Sempre não é Lucy?” Mas estes embora pareçam ser defeitos, no fim eram suas qualidades, e eu admirava esse desempenho frio e turrão de ser. Percebendo que a glória da Rainha Cobra, não me tocava o coração, ele desistiu de falar de seus feitos, e passou a mudar de assunto. “Obrigado Satã por sinal.” Foi então que vi que Timothy, não era só um ingênuo seguidor da “deusa nada virgem", como Lucy costumava chamar, e pouco a pouco, meus pensamentos sempre focados na minha irmã, foram desaparecendo, e sendo substituídos por todos os segundos e minutos que ficava perto dele. É claro cometíamos muitos crimes hediondos, em nome dos Iluminados, por intermédio da majestosa Marrie. Mas tudo o quê ficava na minha mente, eram os milk-shakes com hambúrguer que comíamos na volta para casa. Os meses se passaram, e a minha aproximação com ele, se tornou cada vez maior. O quê deveria ser somente uma parceria de negócios, logo se tornou um romance, e quando dei por mim estávamos vivendo juntos, no apartamento simples dele, que nós chamávamos de ninho do amor. Mesmo que um filho de Eva morresse em minhas mãos todos os dias, tudo o quê importava, era o calor do seu colo no final da noite, pois nada mais era importante além de nós dois, ou assim pensei.
    Certa noite cheguei em casa, e Timothy não estava lá. Somente o nosso cachorro Vlad, se encontrava no apartamento. Logo o medo de algo ter acontecido invadiu o meu pensamento. Liguei em seu telefone, e o mesmo estava desligado. Estaria ele aprontando sem mim? Questionei. Só que o meu amor, me deixou um pouco mais lúcida, e por isso decidi verificar os meus recados. “Amor. O Vlad tá com saudades.” Foi a primeira mensagem, as 7:30. “Amor hoje vai ter pizza na janta, quer escolher o sabor?” Foi a segunda, na hora do almoço. “Amor trouxe sua pizza favorita, com muito queijo e...” A ligação caiu as 19:45. “Merd...!” Deixei escapar, e fui para a próxima e última mensagem. “Sabemos de sua conexão com a deusa renegada, e se quiser ouvir outra declaração patética do seu amado, vai ter que fazer o seguinte...” Anotei as instruções com a mão trêmula. Sabia que Thamara jamais me perdoaria, pelo que ia fazer. Contudo Timy era o amor da minha vida, e eu não me perdoaria se algo acontecesse a ele. Precisava tomar uma decisão, que mudaria a minha vida sempre, e tinha apenas alguns minutos para cruzar a linha da traição. Foi então que segui o plano delas, e enviei uma falsa localização para a minha irmã, que a enviaria direto para o abate. Ela não havia despertado ainda, mas assim como eu tinha alguém que me amava, ela também tinha, e certamente ele iria resgatá-la, e caso isso falhasse, havia uma força celestial disposta a mudar o tempo, para salvá-la, e sendo assim ela era importante o suficiente para o universo intervir. Ao contrário do Timothy que tinha menos de 2 horas de vida, e poderia desaparecer para sempre, pois era um criminoso, e mesmo sendo um filho do Inferno como eu, ficaria preso ali, por sua afronta a ordem natural, ao seguir as leis erradas. Era o fim da minha parceria com a minha irmã, e por isso não conseguia aguentar as lágrimas, mas mesmo assim, eu segui em frente, e entrei naquele depósito. Timy estava preso dentro de um vidro cheio de água, acorrentado até o pescoço, com panos brancos que estavam vermelhos de sangue. Só haviam 7 minutos de vida agora, e eu precisava encontrar o painel. Corri de um lado para o outro, tentando achá-lo, até que notei os olhos do meu amado, e segui na direção indicada por estes. Quando o líquido já tinha ultrapassado o queixo, eu consegui desligar, e sem pensar duas vezes, entrei no tanque, e usei a chave que me entregaram, após mandar minha irmã para a morte. Ao nos encontrar nos abraçamos mais forte do quê nunca, e nos beijamos ali dentro. Mas após ter comprometido toda a Ordem das Corais, eu mesma paguei o preço. O tanque se fechou, na parte de cima, e a própria Ane Marrie, veio nos executar. Pensei que ia morrer, pois agora não só subia água, e sim um liquido verde, que segundo a mesma estava contaminado, com um vírus que tinha ficado adormecido há 7 mil anos. Eu gritei, e me debati, enquanto Timothy ficou parado. Não entendi a razão, até ver a enorme e gosmenta criatura na sua nuca, que brilhava mais que neon, e que seus olhos estavam vazios. “Este? É um presente da nossa bióloga renegada, que antes de sair me ensinou sobre todos os poderes da ciência... e seus malefícios.” A rainha sorriu, e entrei em desespero. Sem saber o quê fazer, passei a me empurrar na ordem contrária ao apoio do tanque. A queda poderia me machucar, só que era melhor que morrer. Empurrei várias vezes, impulsionando o meu corpo, até que a cúpula caiu no piso e se partiu. Me arrastei entre os cacos, e peguei a mão do meu namorado. Sabendo que não éramos mais bem vindos, sai correndo até a saída mais próxima. Nós dois corremos até a floresta, e quando vi um frade passar por ali, gritei pedindo por ajuda. “Eu sou Úrsula, a outra irmã de Thamara a filha mais velha de Cristo!” Foi tudo o quê pude pronunciar, antes de desmaiar. Se falasse meu nome verdadeiro, eles não nos ajudariam, Thamara tinha deixado isso bem claro, na sua “doce” carta de despedida, por isso fui obrigada a mentir. Mas ainda bem que fiz isso, pois me trouxe até o único lugar, em que Timothy pôde ser curado, para que possamos iniciar uma nova vida, longe dos crimes da Ordem das Corais. Sei que somos dois ímpios, mas se meu pai é mesmo Cristo, ele ensinou os outros a perdoarem, e certamente não negaria uma segunda chance, para uma das suas filhas, e o sobrinho, filho de seu irmão Belial.
    _Então mentiu para chegar aqui?
    _É só o quê ouviu?!
    _Não, foi apenas a parte mais marcante, pois pensei
    que tinha me rastreado de alguma maneira, algo mais
    inteligente, do quê apenas sorte.
    _Foi inteligente, do contrário Timothy teria morrido.
    _E agora espera que a Ordem de Cristo os abracem
    , e ofereçam um banquete pela sua chegada?
    _Queremos somente redenção Thamy.
    _Sem coroas, deuses, ou as velhas regalias que
    foram ofertadas por Marrie, para tentá-los ?
    _É claro que sim.
    _Estão prontos para o trabalho duro,
    que lhes confere alguma nobreza
    entre nós?
    _Se tiver um quarto, comida boa, e bons
    livros.
    _Acha que está no direito de exigir?
    _É o mínimo para um ser humano.
    _Então terá de se dirigir ao pai.
    Ele quem lida com essas
    coisas.
    Thamara era bastante firme em suas palavras, porém era evidente o alívio que sentia no peito, por me ter de volta ao seu comando. Uma vez irmã, sempre irmã, e mesmo com toda a frieza, ficava claro que se importava do contrário, não teria feito o seu marido “O Peste" me dá o sangue da cura.
    A MORTE NARRA:
    A volta da minha irmã mais nova deveria me trazer alegrias, mas por mais feliz que estivesse pela sua volta, não podia me esquecer dos males que tinha causado, e de quê nem Ramona escapou das suas teias diabólicas. Inspirei fundo, e caminhei para longe dela, deixando-a sem respostas. Tudo sempre foi muito fácil para Katherine, então não me admira a sua “cara de pau”, de vim até Santa Marta em busca de perdão. Nosso pai poderia lhe perdoar, afinal ele sempre foi o cara que perdoo as faltas do mundo, mas eu neste sentido, era tão implacável quanto minha mãe Madalena Lilith.
    A noite... Timothy e Katherine ficaram agarrados um ao outro, sorrindo, ao beberem a sopa do nosso chefe e padre João. Quem os visse ali, pensaria que eram almas gêmeas, puras e inocentes, entregues aos desejos da juventude. Fiquei com o cotovelo apoiado na mesa, pousando a mão abaixo do queixo. Os observando com cautela e fúria. Vendo o meu estado, Bart deitou sua cabeça no meu ombro, dando-me beijinhos no pescoço, até me fazer rir, e sussurrou para nos afastarmos de todos. De mãos dadas, nós seguimos até a beira do rio cristalino, e nos sentamos na ponta da terra, deixando a água cobrir os nossos pés. “Não gostei da volta dela.” Ele iniciou, e dei graças aos deuses, por não ser a primeira a dizer. “Ela é minha irmã, mas eu também não estou satisfeita com isso.” Concordei, e ele se deitou no meu colo, deixando a água fria cobrir metade do seu corpo, já que a fenda estava rasa, e “secando”.
    _Por pouco você e Ramona não morreram
    naquele dia. Não é algo fácil de se perdoar.
    _Se Ele não tivesse parado o tempo...
    _E ainda tem essa. Graças a ela o Arcanjo voltou.
    _Ciúmes, bonitinho?
    _Sempre terei ciúmes de você. É o amor da
    minha vida.
    _Você também é o amor da minha...
    _Mas?
    _Você sabe...
    _Está muito magoada comigo, para sentir
    alegria por isso.
    _Olha, não é que é esperto?
    _Engraçadinha.
    _Sou mesmo.
    _Eu te amo Thamy. Sei que falhei feio contigo, como marido,
    mas não vai se passar um dia da minha vida, que não deixarei
    de lutar para ser digno do seu perdão.
    Ele ergueu a face para cima, e pude vê as estrelas se refletirem nos seus olhos. Aquelas íris brilhantes, e a pupila tão dilatada ao olhar para mim, me fizeram entender porquê mesmo depois de tantos anos, sofrendo por ser incapaz de dar uma segunda chance a alguém, ainda seguia ao seu lado, e afastava todos os possíveis pretendentes, tornando-o minha primeira e única opção. “Também te amo Bart. É difícil pra mim perdoar, qualquer pequena falha que seja. Mas por você estou tentando.” Me esforcei para me declarar. Escrever é fácil, porém falar dos meus sentimentos, sempre foi algo complicado, pois é como se eu não fosse capaz de amar, ao ponto de literalmente esquecer de mim, e levar um tiro para proteger alguém que não está dentro desse corpo. Contudo Bart era o único por quem eu realmente me esforçava para ser melhor, e por mais que o Dr. Fernand ou o Dr. Augusto dissessem o contrário, isso para mim, era o mais perto do amor que podia conhecer. Sem que percebesse, meus dedos fizeram carinho em sua cabeça, e meus lábios foram até os seus. Talvez amar, não fosse algo que trouxesse somente felicidade e satisfação, e sim a caminhada longa e tortuosa, na qual os dois enfrentam todas as barreiras para continuarem juntos.
    O PESTE NARRA:
    Outra vez seus impulsos românticos a traíram, era óbvio por causa da sua face corada de vergonha, ao afastar o rosto depois de me beijar, e praticamente criar alguma distância emocional, ao se recostar para trás. Ainda bem que tínhamos voltado a brigar por nosso relacionamento, não queria me lembrar, do dia em que quase perdi a mulher da minha vida, e o fruto desse amor que nunca se apaga. Droga. Estou começando a lembrar outra vez...Já ouço o som do temporal que caia, e a voz dela ao telefone. “Bart por favor me ajude.” Foi tudo o quê ouvi, antes de ligar sua localização, e seguir até o meio da mata escura. A mesma em que há poucos dias, havíamos encontrado sacrifícios infantis, em nome dos “ofídios em forma de humanos”. O sangue estava espalhado por toda parte, - ao contrário do quê fizeram com Marcele, outra membro que abandonou as corais, antes da mesma se transformar numa ordem mundialmente famosa, por suas atrocidades. – Eles queriam mesmo executar a Thamara, sem fazer parecer suicídio. Minha respiração era calma, porém a cada passo que dava, o medo crescia dentro de mim, e os suspiros pouco a pouco se aceleravam. As folhas se quebraram abaixo dos meus pés, mesmo tentando ser sorrateiro, e isso fez meu coração subir até um pouco acima das costelas. Um pouco trêmulo, me aproximei das árvores, para observar o ambiente. Sentindo a força de Gaia fluir pela copa, ganhei energia para enfrentar os monstros que tinham levado a minha amada, e a minha filhinha. Minha áurea obscura cresceu, e por alguns segundos o Bart viciado em violência, tomou 70% do controle do meu corpo, pois estava pronto para me “banquetear” com a carne de certas corais. Meus dedos arranharam o tronco, como se fossem obsidianas, e por um momento senti que meus olhos queimaram, e se tornaram amarelos como ouro, dando-me o poder de ver no escuro. Foi então que a vi, nos braços dele, e minhas íris se tornaram vermelhas como rubi, pois o Bart melancólico quem assumiu. “O quê faz aqui?” Perguntei ao ver o homem de longos e cacheados cabelos negros, que segurava a minha esposa, e ficava ao lado da minha filha, me encarando com seus olhos azuis, que brilhavam de maneira tão inumana quanto os meus. “Se soubesse cuidar dela. Eu não precisaria intervir.” Ele me respondeu, e isso me fez rir de raiva, pois jamais deixava de salvaguardar a minha amada. “O quê aconteceu?” Perguntei lentamente, pronto para matá-lo com todos os requintes da maldade, assim que me entregasse a minha companheira. “As corais vieram atrás dela.” Disse sem parecer se importar, e ela despertou. “Você?” Perguntou para ele, com certa mágoa, e este sem querer sorriu. “Estou fazendo hora extra.” A colocou no piso, e levantou voo. “Ela precisa de proteção. Não importa quem você seja, sabe que somente o Pai tem tal poder.” Disse ao passar por mim. Apesar de ser um engomadinho celestial, ele estava certo, porém conhecendo a mulher que tinha, havia a certeza de quê ela não seria a favor de tal intervenção, por isso só deixei escapar um barulho de lata de refrigerante sendo aberta.
    No caminho de volta para casa...Thamara ficou em completo silêncio, segurando Ramona que tinha dormido em seus braços. Pelo retrovisor pude vê-la. Seu olhar era vazio, tinha marcas de garras nos ombros, o lábio estava roxo, como se tivessem torturado e depois a forcassem a beber veneno. Eu queria saber o quê tinha acontecido, mas ela parecia sem reação. Ao passar pela entrada de casa, ela pulou no meu colo e me abraçou forte. “Ela saiu. Eu preciso ir embora.” Foram as suas palavras. Sem pensar, a segurei contra o meu peito. “Não.” Foi tudo o quê consegui sussurrar, e ela me deu um beijo no rosto, seguido de um beijo na boca, que pareceu sugar as minhas energias. Era como se ela fosse a Hera Venenosa das revistas em quadrinhos, mas seus olhos ficavam violetas e vítreos, quando minha vida era engolida por sua boca roxa. “Eu te amo muito. De verdade. Mas meu ódio pode te machucar, então adeus.” Ela disse e dei o meu último suspiro, caindo desmaiado no piso.
    Os dias se passaram...Minha sogra entrou em desespero, e veio para dentro da nossa casa, me oferecer ajuda para cuidar de Ramona, enquanto eu procurava por minha esposa. Cheguei a voltar a beber e fumar, coisa que só fiz na adolescência após termos terminado por conta dos seus inúmeros pretendentes, e querer vivenciar todos os prazeres da juventude. Ela certamente diria que o fez, pra ficar com o tal Dave, porém anos mais tarde, vim saber que não tinha só o babaca, outros estavam aos seus pés. Não acho isso negativo, porquê eu também era o homem de muitas, após termos nos afastado. Pra mim isso só significava que a separação nos tornou duas criaturas frias e maldosas, que deixaram um rastro de destruição por onde passaram, mas se reencontraram mesmo nas trevas, pois eram perfeitos um para o outro. Infelizmente acho que ela não via assim, e por isso tinha partido de vez. Ela, seu outro Eu sempre saia em momentos de adrenalina. Então isso pra mim, era uma desculpa mais do quê esfarrapada. O sino da porta do bar tocou, e foi tudo muito rápido. Um grupo de mascarados, com uma braçadeira vermelha, jogaram um frasco ovalado no piso, que se partiu e deixou todos doentes.
    No meio daquela névoa verde, eu via mulheres e crianças gritando, ao chorarem lágrimas de sangue, enquanto os homens vomitavam sem parar pelos cantos, e alguns tremiam como se sofressem o efeito colateral de um remédio psiquiátrico. O quê quer que seja, era mortal, mas me sentia normal, por isso caminhei por ali, até chegar a saída, onde encontrei um grupo de homens de túnica branca. “Eis que o filho do nosso senhor enfim aparece entre as sombras, iluminando-as com a sua luz.” Disseram em coro, e ergui uma sobrancelha de incredulidade. “Saudamos-te ó grande cavaleiro iluminado, que deve acompanhar a amazona negra que com a sua mortalha e foice limpará o mundo.” Eles se ajoelharam diante de mim, com itens em suas mãos. “Eu sonhei que muitas pessoas morriam por minhas mãos.” Me recordei, com a voz dela. “Não podia ver o rosto, mas andava a cavalo com um guerreiro de armadura prata, que me levava até os outros dois. Era como se eu fosse a Morte” Foi o segundo lampejo. “E se um dos cavaleiros, não for apenas uma corrupção machista, e a Morte na verdade é uma amazona?” Foi o quê me fez ter certeza que era dela que se tratava. “Onde ela está?!” Peguei um deles pela túnica, e ergui contra a parede, pronto para destrui-lo caso tivesse feito mal a minha amada. “Está em Santa Marta, porém assim como a mesma está treinando, você deverá fazê-lo, para terem controle dos seus poderes, e não serem controlados por eles.” Me respondeu aquele ficava ao lado do outro. “Olha pra minha cara. Vê se eu me importo com isso? Só quero achá-la.” Disse com impetuosidade. “Se quiser ver a minha filha. Terá de ser merecedor dela.” O quarto e último homem impôs, e quando olhei para trás, vi seus olhos brilhantes como uma lâmpada no escuro. “Lúcifer?” Questionei desconfiado. “É apenas um dos meus nomes, meu filho rebelde.” Me respondeu. “Ela está bem? Não estão abortando seus filhos, e lhes dando o feto para comer não é?” Inqueri me recordando das terríveis visões da minha companheira. “Não somos Os Iluminados. Nosso treinamento é mais rigoroso e evolutivo. Ela está aprendendo a controlar o poder da Morte, e não se tornar o próximo grande Demônio, já temos você pra isso.” Respondeu e brincou no final. “Do quê está falando?” Perguntei sem entender a razão de tal acusação. “Então o bloqueio de memória foi um sucesso.” Se aproximou de mim, e pousou a mão no meu ombro direito. “Infelizmente Baal Hadad, não poderá viver para sempre nesta mentira, de quê só Thamara Mary, viveu no Inferno, e tem o meu sangue.” Tais palavras me deixaram um pouco receoso. “É hora de enfrentar o seu grande demônio, e fazer juiz ao fato de ser o príncipe deste mundo.” Ele prosseguiu. “Esse não é o teu título?” Perguntei com certa curiosidade. “Eu sou o novo Deus, meu filho, o título de Diabo é, e sempre será seu.” Ele me respondeu, e meus olhos se engrandeceram. “Isso não seria uma blasfêmia para o Altíssimo?” Notei os aspectos bíblicos dos quais Thamy sempre falava. “Seria, se ele não tivesse concedido esta glória, para se tornar o sucessor do seu bisavô.” Outra vez ele respondeu algo de quê não tinha muito conhecimento, a não ser pelas aulas da minha linda descendente dele.
    _Eu tenho um bisavô?
    _É muito para explicar. Mas sim. Você é parte da terceira
    gerações dos deuses.
    _Então este bisavô é o Caos da mitologia nórdica?
    _Sim, e dele nasceram os primeiros deuses supremos,
    que são os seus avós.
    _É muito para processar...
    _Ficará mais fácil depois que desbloquearmos sua memória.
    _Não.
    _O quê? Por quê?
    _Se sou mesmo o Diabo, não quero machucar Thamara
    ou minha filha, é melhor deixá-lo adormecido.
    _Isso é um excelente sinal. Porém embora tenha machucado
    muitos com a sua frieza e sadismo, tenho certeza que não
    praticou algum mal contra elas.
    As palavras de Lúcifer me acalmaram, e por isso segui com os frades, para receber o devido treinamento de meu poder, e ver a minha amada outra vez. Foram 6 meses de teorias e práticas, sobre o meu porte físico e espiritual. Os cientistas da ordem diziam, que minha saliva era uma fonte de doenças nocivas, que se transformava no quê minha mente desejasse, e que o meu próprio sangue, continha antígenos praticamente sobre-humanos para cada um desses males. Por vários meses fui estudado numa estufa, ás vezes dentro de um tanque, outras numa maca, para definir o limite dos meus poderes, que faziam de mim, uma bomba biológica, com a cura para as mesmas doenças que causava, por isso me chamaram de Peste. Contudo embora fosse parte das minhas habilidades, ter esses vírus vivendo em meu corpo, e os curar, não era todo o meu poder, pois graças aos seres microscópicos, poderia modificar o meu DNA, para me tornar qualquer ser existente na galáxia...Mas não vem ao caso, como dizia...No sexto mês finalmente pude encontrá-la, ela continuava linda e radiante como a lua. Como tanto gostava, estava usando um vestido preto longo e decotado, sendo seguida por homens e mulheres cobertos por capuzes amarelos. Ao contrário dos costumeiros olhos vazios, parecia tão serena quanto na adolescência, e sorria com a confiança, que nós dois acreditávamos que tinha morrido.
    _Bart?
    _Thamara...
    _Como chegou até aqui?
    _Digamos que nossos caminhos se cruzaram.
    Você não é a única filha cósmica.
    _Sério? Eu sabia! Você é meu par eterno!
    _Não, não sou. Sou apenas o deus que ficou
    louco de amores por você, e não te deixou
    viver na solidão.
    Eu segurei em sua face e a beijei com carinho. Ao sentir o seu corpo no meu, meu coração pulsou com muita intensidade. Foi assim que as memórias do passado tomaram conta da minha mente... Eu era somente um garoto loiro, semelhante um viking, quando nos reencontramos. Ela era somente uma menina de cabelos vermelhos, com olhos violetas e vítreos. Nós discutimos no começo, pois a figura baixinha, tinha contas para acertar comigo. Mas como sempre fomos estranhamente um atraído pelo outro, acabou por me contar a verdade. Sentia-se vazia, e nem sempre do nada, nascem as melhores coisas, por isso ela tomou a pior decisão. Com o uso dos seus poderes, ela abriu a porta da minha cela, e me soltou no universo. Então o quê Deus havia decretado como um caso resolvido, voltou para lhe assombrar. Pouco a pouco me infiltrei no paraíso, e fiz com quê os anjos ficassem encolerizados. Os fracos pereceram diante de meu poder, e o caos se fez no cosmos. Para mim, era como uma festa sem fim, com muitos gritos, sangue, e desespero. Mas para ela, era como uma falha grotesca, que precisava ser corrigida antes que descobrissem o quê fez. Eu espalhei entre as multidões, todo o sofrimento possível para me fortalecer, e ela veio com a sua foice, para lhes dá paz mesmo no Inferno, entre os seres materializados. Seu pai tinha sido o anjo que tirava a vida dos vivos. Porém após o seu nascimento, ele foi coroado como príncipe celestial, e outro teve de assumir o seu posto. Muitos dos seus bravos filhos, lutaram para provar que eram dignos de tal glória. Assim eles limparam a galáxia, ceifando todas as almas que pudessem, com suas armas especiais. Contudo foi na única menina, que o poder se manifestou, e por isso esta que recebeu a sorte grande. Ao contrário dos irmãos, ela não matava somente para se provar merecedora da foice de seu pai, mas sim de acordo com o seu código de conduta, no qual os culpados eram friamente punidos, e os justos levados cuidadosamente para o outro lado. Seus irmãos só se focavam em quantidade, ela não, e esta era a virtude secreta do seu pai, quando ele atuava como tal. Eu a admirava, tanto pela sua impetuosidade violenta com os ímpios, quanto pelo cuidado que tinha com os inocentes. Por isso também tomei a pior decisão. Certa vez a Morte, estava a tomar banho no rio sagrado, e eu entrei na água, infectando-a, para lhe tornar inofensiva. Ela lutou com valentia, usou seus poderes para tentar curar a água, mas por algum mistério da natureza, a pobrezinha não tinha forças para vencer a mim, pois eu era a própria doença, era o vírus que carregava outros dentro de mim, era a própria Peste, em forma humanoide. Ela não suportou a enfermidade que lhe provoquei, e caiu em meus braços. Estava fraca, e bastante vulnerável, quase irresistível. Passei a mão por sua face pálida, ela me olhou preocupada, quase dizendo "não" para a minha proximidade, porém mesmo assim a beijei, e a tomei para mim. Por alguns anos, ela desapareceu, e os homens deixaram de respeitar o poder celestial, assim como acreditaram que não havia punição para os seus crimes, pois eu também não atuava. "Vou beber até cair hoje, pois o meu fígado não mais adoce vadia!" Disse um bêbado ao espancar a esposa, que segurava o símbolo dos celestiais. "Deus porquê não me permite morrer, e me deixa sofrer? Não pequei tanto para acabar assim!" Chorou com a boca toda ensanguentada. Ela não era a primeira a perder a fé. Outros estavam em níveis mais avançados, chegando até mesmo a acreditar, que Deus os tinha abandonado a mercê do mal, do qual tinha lhes prometido proteção. Inúmeras criaturas iam as ruas, protestar contra as iniquidades divinas, e haviam os que tentavam assumir o papel, da única juíza consagrada pelos deuses, deste universo. “Então você queria encontrar a paz, depois de tudo o quê me fez?" Um homem num plano de vingança, apontou a arma para a cabeça de outro. "Eu lamento te informar, mas não existe mais morte, e por isso sou livre para estourar a tua cabeça, quantas vezes desejar." Atirou na testa do culpado, várias e várias vezes, com um sorriso cada vez maior, que o tornava pior do quê aquele que ele julgava. Este não era um caso isolado, os assassinatos se expandiam mais do quê as doenças, que costumava espalhar. Para uns era um parque de diversão macabra, e para os que não tinham tal coragem, parecia a visão mais do quê realista do Inferno dos mortais. Cabeças decepadas, gritavam pelas ruas, e os sádicos lhe perfuravam os olhos, e chutavam-nas para a lama, afogando-as sem parar. Pessoas que tinham perdido o corpo na briga para sobreviver, se arrastavam pelos cantos, para tentar se livrar daquela tortura sem fim. As mulheres se uniam em instalações, para cuidarem uma das outras, já que nesta realidade sem final ou consequência, os pervertidos também ganhavam espaço, e se sentiam no poder de abusar das mesmas. Nem mesmo as crianças, conseguiam manter a inocência, e por isso ficavam divididas: Entre aquelas que matavam, e as que corriam. Meu ato egoísta, tinha feito da galáxia, o próprio Tártaro dos Gregos, e o Inferno dos Católicos, pois eu os privei de manter a bondade, e de receber a devida a punição, ao levar a nossa Morte, para o único lugar, no qual somente o seu Eu daquela realidade, tinha a permissão de julgar, e esta era somente como qualquer criatura que habitava aquele Cosmo. Como desde cedo trabalhei para o céu, como o auxiliar do meu pai, o veneno de Deus. Sabia de todos os pontos fracos da Morte, desde a sua jurisdição, até o quê poderia prendê-la para sempre. Acorrentada no fundo do universo, ela brigava para sair, amava o seu trabalho, e não queria ver ninguém lhe substituir. Só que nunca me dirigia a palavra, e evitava até olhar em meus olhos, devia me odiar bastante. Todavia eu não conseguia deixá-la ir, pois só o fato de tê-la por perto, era o suficiente para me sentir bem, e não me importava com quantos sofreriam no processo. "Já não basta o quê fez?" Ela finalmente disse, com seus braços presos ao aço, banhado com a luz do buraco branco, que sintetizei para imitar o poder supremo, do pai do príncipe celestial. "Foi culpa de nossa mãe, e você sabe." Respondi de imediato. "É só o quê sabe dizer. Mas se fosse forte, teria dito não." Ela retrucou. "Você não pode me culpar por aquilo para sempre. Se soubesse lutar, também teria impedido.” Rebati, e ela ficou indignada. “Vai culpar a vítima? É sério?” Sua voz era alegre, mas cheia de raiva. “Eu sou o Peste. O quê esperava? Que eu me arrependesse? Fui treinado para ser impiedoso!” Mostrei a minha ira, e ela voltou ao silêncio. “Ao menos sentiu algo por mim?” Aquele tom me deixou desnorteado, parecia triste, quase magoada. “Você sabe que sim. Haviam dois destinos naquela noite: te possuir, ou te fazer desaparecer para sempre da minha realidade.” Desabafei com tristeza, quase me encolhendo de vergonha. “Eu não podia ficar sem você.” Segurei em sua face, erguendo seu queixo, e olhei no fundo daquela neve, coberta pela luz do rouxinol. “Mas você sempre foi o pior dos filhos. O Forte, O Implacável por ser incapaz de amar.” Argumentou, sem acreditar. “Parece que a única fraqueza da Peste é a própria Morte.” A beijei, e mesmo com as mãos acorrentadas, ela me puxou para a si. Aquela atração mortal e doentia, tomou conta de nós dois, e a boca mais fria que existe, pareceu quente por uns minutos. Com suas pernas salientes e fatais, ela montou em mim e me arranhou, se entregando a enfermidade do amor. Logo arranquei a sua mortalha, e tirei a sua armadura, enquanto ela me despiu as vestes de cavaleiro. Minhas mãos desceram pela sua costa frágil e nua, a sua boca não quis desgrudar, e quando o fez, foi somente para me beijar o corpo inteiro, e voltar ao meio das coxas, onde fez vários movimentos de vai e vem, deixando sua doce saliva escorrer por meu membro. Contudo não a deixei somente me satisfazer. A deitei no piso, segurei seus pulsos, e passei a minha língua por entre os seios delicados, descendo, até chegar no ponto do prazer, do qual bebi todo o júbilo com gosto, até escorrer pelo canto dos lábios, e quando vi que praticamente implorava, para que a completasse, sorri maldosamente. “Você realmente me deseja ?” Beijei-lhe a virilha, e ela corou de vergonha. “Sim.” Respondeu com sua voz doce como chocolate amargo, o meu favorito. “Então peça por mim.” Impus, e ela relutou, até que se deu conta de quê só havia nós dois, como na segunda vez, em que estivemos juntos, e cedeu a sua vontade. “Me possua Peste.” Aquelas palavras me deixaram eletrizado, e por isso entrei dentro dela com ímpeto, arrancando-lhe suspiros tão intensos, que foi capaz de suar. Aquele rosto, aquele sorriso, aquelas bochechas rosadas de prazer, seguido de seus gemidos, me deixaram louco. Por dias repetimos o feito, e creio que a Morte, foi a primeira a desenvolver a Síndrome de Estocolmo, por isso esta doença é vista de maneira tão mórbida. Mas ela não mais se importava, nem sequer ligava para o quê fazia, só com quem fazia. Se ela me amava, eu não sabia, acreditava que estava usando seu charme fatal somente para ganhar a liberdade. Porém no dia que enfim a libertei, esta saiu voando para fora do cativeiro, e se deparou com a luz de uma das luas do planeta em que estávamos. Estava tão feliz, que pensei que nossos momentos de amor doente, ficariam para trás, assim que retornasse, para impor a ordem ao nosso “mundo". “Vamos?” Segurou em meu pulso, e fiquei paralisado. “Quer que eu vá? Eu o Peste, o demônio, o...” Me silenciou com o dedo indicador. “Nem tudo é preto e branco Peste. Você causou sim muito sofrimento, mas graças a ti famílias se mantém unidas, homens mudam a conduta, e mulheres valorizam a felicidade.” Seus olhos eram de uma criatura sã, contudo suas palavras me pareciam insanas. “Se isso é verdade, por quê sempre atrapalhou a minha tarefa? Como se quisesse me corrigir, após ter me libertado?” Questionei incrédulo, e ela sorriu. “Porquê tua execução é tão sombria e implacável, que mesmo as vítimas dos criminosos, se apiedavam destes. Que de acordo com o meu dever, mereciam uma punição ainda mais severa, por toda a eternidade.” Ela explicou. “O meu erro foi te libertar, mas você quem escolheu atender o meu pedido. Portanto é só você que pode corrigir isso. O quê já se passou, não dá para voltar atrás, sem alterar todo o equilíbrio já existente. ” Ela completou, e eu percebi que estava errado, não era uma falha grotesca que tentava controlar. Nós retornamos para a nossa galáxia natal, tudo estava destruído, e muitos imploravam por seu regresso, enquanto me destetavam mais do quê nunca. Pouco a pouco, ela fez o seu trabalho, não haviam muitos para receber o atestado de óbito, por isso eliminou os executores com punhos de ferros e sem piedade, e trouxe enfim o descanso para os que tinham temido, que aqueles dias jamais teriam fim. Nosso pai quis julgá-la, porém eu assumi a responsabilidade por tê-la raptado, e assim a livrei de perder o manto que tanto adorava. Achei que após a confissão, voltaria para a cela, contudo por ter me provado um pouco mais maduro, o pai decidiu me tornar o segundo juiz consagrado, que auxiliaria a Morte em seu trabalho. Tão grande foi a minha alegria, ao ouvir tal coisa, pois em vez de me afastarem dela, nos juntaram como a metade oposta e complementar da mesma moeda. Desde então, as duas criaturas mais perigosas do universo, seguiram de mãos dadas por toda a eternidade, se amando de uma maneira que os mortais não seriam capazes de compreender. Já que onde Morte fosse, a Peste certamente ali estava... “Bart?” Ouvi a voz dela dizer, e outra vez estávamos a beira do rio. Todavia enquanto me perdia em lembranças passadas, já havíamos trocado de lugar, e agora ela tinha se sentado em meu colo, e ficava a olhar para os peixes na água, ao entrelaçar seus dedos aos meus. “Oi...” Falei olhando para as nossas alianças, próximas uma da outra, por causa da união das palmas. “Promete nunca me deixar?” Disse se encolhendo, quase sem voz, e a luz da lua brilhou sob o aço dos anéis. “É claro que sim meu amor. Não importa o quê os astros digam, sempre seremos um do outro.” Beijei sua cabeça, e ela retribuiu beijando as minhas mãos.
  • Paradoxo da vida perdida

    Meu Deus, ainda estou vivo. Não sei como. Mais uma vez o improvável venceu. De algum jeito cheguei na casa da Paula e ela me deixou ficar no quarto de hóspedes. Preferia o quarto dela, mas não foi desta vez. Também não sei o que aconteceu ontem a noite. Nem quero saber. Checo tudo para ter certeza de que estou sozinho. Tem um aviso na geladeira pedindo para eu não fumar dentro de casa, mas teoricamente não vi. Fiz um café forte para viagem e sai antes que ela pudesse chegar para me repreender. “Você esta fodendo com a sua vida”, ela ia dizer. “Se eu quisesse foder com a minha vida arrumava um emprego e casava com você”, eu ia responder. Acho que talvez tenha escutado aquilo e respondido isso ontem a noite. Explicaria o quarto de hóspede.

    O bar do Jaime estava começando a receber o grande público. Ele fingiu que não me conhecia, e a filha dele não conseguia esconder que odiava me amar. “Meu pai não quer mais você aqui.” “Faz tempo que ele não me quer aqui, mas ele gosta da onça pintada?” “Filho da puta.” Com um copo de Campari e uma garrafa de cerveja a vida até parece que vale a pena. Peguei o Mutarelli no bolso do casaco e comecei a ler como se estivesse numa biblioteca. Era como se o mundo tivesse parado de girar e o tilintar dos copos era uma barreira contra qualquer coisa que tentasse entrar no meu mundo. Mas não foi o suficiente para parar a Sandy. “Ninguém vem aqui para ler!” “Eu não sou ninguém.” “Tenho um negócio aqui para você que vai te tirar dessa pasmeira.” “Não, obrigado.” “Tem certeza?” Ela tirou um vidro de remédio com um conta gostas e um líquido preto e viscoso. “O que é essa merda?” “Lubrificante social.” Ela pingou duas gotas no meu Campari, que ficou meio marrom, e deu uma golada. Olhei para ela sorrindo como o pote de ouro no fim do arco-íris e terminei com o que tinha sobrado.

    Então o mundo mudou, apesar de continuar o mesmo.

    Comecei a afundar num chão aveludado e a brasa no meu estômago virou um lança chamas. A filha do Jaime trouxe mais bebida e disse alguma coisa sobre eu ser um babaca. A Sandy estava dançando loucamente com alguém que parecia ser eu. E era. Aquela coisa preta tinha feito um outro Neb nascer e aprender a dançar, o antigo continuava sentado na mesa lendo Mutarelli em alguma outra dimensão. Ou poderia estar realizando os desejos sexuais da filha do Jaime. Numa terceira hipótese casado e com filhos na casa da Bárbara. Em algum plano ainda não descoberto pelos departamentos de física eu ganhava o Nobel de literatura e falava no discurso: “só sei ler e escrever, então tive que me virar com isso.”

    Talvez, para garantir a paz entre todos no bar, seria indicado que só fossem aceitos adeptos do Lubrificante Social. Assim não haveria nenhum problema em sair caindo em cima da mesa dos outros. Em algum momento, sem razão aparente, concluí que era o Super Homem e tentei alçar voo para o infinito e além, mas fui interrompido pela ausência do supernatural e a implacável gravidade. De repente minha cara estava ao alcance de um coturno cheio de um pé com muita vontade de me chutar. Primeiro tentei me teletransportar para a nave do Capitão Spock. Quando percebi que não ia funcionar já e tinham ido boa parte dos dentes que me restavam. Me esforcei tanto para me fingir de morto que cheguei a acreditar que era verdade. O Jaime apareceu com um taco de beisebol e muitos gritos. Apaguei com a certeza de que acordaria muito melhor.
  • Precauções do COVID-19

    Se cuide do jeito certo
    Se os sintomas surgir
    Se afaste de perto 
    Depois chame um médico

    Mantenha distância do infectado
    Fique o mais possível afastado
    Mantenha-se mascarado
    Faça tudo que logo estará curado

    Se o resultado der negativo
    A proteção deverá continuar
    Se esforce para seguir protegido
    Que logo a vacina chegará
  • Superhero, jelly and flying double kick

    Translation | Eder Capobianco Antimidia
    It was nearly midnight and the uproar is formed in the middle of the square. The crowd was arranged in circle crowding together and screaming for blood. Two guys exchanged kicking and punching as if it was a duel until the death, but without a lady for the winner. Neb approached and went to stuffing in the middle of human mass. Two guys are picking up money bets while the animal side of gamblers surfaced through expressions of hatred and cry of war. One of the fighters fall down and the other was staggering. Then one of the bookmakers entered the middle of the circle and raised the right arm that stood staggering. “Sledgehammer! This is our champion!” The people divided between shouts of “crooked deal” and the chorus of “Sledgehammer! Sledgehammer! Sledgehammer!” Two peons entered into the circus ring and pulled out the loser like if he were a sack of blood-soaked shit. The Sledgehammer took a few bucks with the bookmaker and went creeping to fall in a bank forward.
    “Let's go to the next fight of tonight: paying off 2 to 1......... Blood Eyes vs Steel Fists!” Go up the sound of the audience acclaiming the gladiators, and a giant appears on one side of the corner throwing punches himself in the head and howling like a wolf in heat. In the other corner one tiny strong skinny jumped side to side, supporting hands on the ground as a primate in defiance of all band. Did not judge, or talking, or rule. But before the fight the bookmaker came into the middle of the ring and called on: “Who goes to the next match?” A big fat man with a longshoreman's face emerged from the midst of the fans floored two or three dipsticks and puffed out his chest as if to say “hit the alpha male”. “Does anyone here think can win the He-Man!?” Neb excused for a mason who was in front of him and gave two short step with your arm raised. “I do.” There was silence, and they all looked quiet to that plump guy with 5 feets and 220 pounds of jelly. A second later all laughed and pointed to Neb. “No kidding me.” “Called a real man to fight.” “Take this grandma figurine there before he gets hurt!” Neb did not change his expression and stared at the bookmaker. “Do you know where this getting into?” He asked. Neb nodded yes with his head.
    The battle began and Neb stay in the corner watching the first moments of the fight between Blood Eyes and Steel Fists. It was a slow big fat guy and a skinny articulated to testing themselves. They seemed to be exchanging friendly punches, until one managed to take down the other and the thing warmed up. In the middle of pushing and shoving Neb felt someone pulling her arm out of the action. It was one of the bookmakers. “Let's make a deal: you fall when you take the first punch and I paid to you the same that I pay for the winners. I do not want deaths here, it's bad for my business.” “I think I will not die here today.” The bookmaker gave an ironic smile. “You know about. But before you start the fight know about that the loser takes nothing, and you still have time to get out of here with nothing and walking.” After that he began to shake hands in the air with the wad of bills and returned to the middle of the turmoil. Neb reached the limit circle and saw that the Steel Fists was not enough to bring down the Blood Eyes. The dream is over in a hook up that made the maxillary of Blood shaking like an old washing machine.
    Two twit led the loser fainted away. Blood Eyes proposed to fight another round. The opponent would be a bad old faced and with brands that said it would not be the first time he dared to take a beating. Before announcing the next fight the bookmaker looked Neb as if to say: is your last chance. He raised a little his sleeves and turned his cap backward. “From my right hand, paying off 2 to 1, the crushing bones He-Man!” The brute puffed out his chest and yelled at enjoy, “I'll end you lot of lard. You will never walk again!” And the people supported. “Kill, kill, kill.” Discreetly, Neb took out a white powder and sent it to the nose. Then he began to twitch like a rusty robot. “From my left side, paying off 20 to 1, the discredited Fish Soapy.” He entered the circle under laughter, chewing the gums and with a mouth dripping blood. “Beck to pond or you will turn pumpkin crushed!” “Today is going to have fish stew!”
    The bookmaker left the ring and the He-Man hit two left jabs in Neb, who tried not turn and either not accused the stroke. The brute raised his arms calling the galley and began scoff. “Come on, you already had to have fallen.” Neb did not move to much, just squirmed and chewing gum. Then came two more jabs and a right cross that did Neb totter on tack of the floor and juggling to keep in feet. “It's over mallards, your time has come.” He-Man was up angry and screaming. Neb gave way to the bull, but left his foot in the way. The big fat guy stumbled and went straight to the crowd, which propelled him back to the center of the circle. Incorporating Shawn Michaels skills Neb gave a flying double kick in the big boy pit of his stomach, which fell back like a rotten banana and began to squirm out of breath. With unexpected agility he got up and hit a field goal kick to the head of He-Man, who slept in the moment. The silence that followed was agonizing. Neb turned wheezy for the bookmaker, who was standing with his mouth open and his hand up full of money, a kind of trance. Slowly he entered the ring and announced the winner. Neb took the payment champion and left squirming.
  • Tirando a sorte grande

    Era um motel de beira de estrada sujo. O Jonas tinha pegado uma garota de programa para entrar com ele de fachada na frente, enquanto o Maleita ficaria escondido dentro do porta malas. “Ei, ninguém me falou que ia ser a três. Para mim não tem problema, mas eu cobro o dobro.” “Olha só......a gente paga......mas não vai ter sexo aqui. Só senta na cama e espera tudo acontecer que a gente já vai embora.” O Jonas falava enquanto o Maleita tentava desviar o olhar de Sheila. Ela era bonita e sexy, e ele não estava acostumado com isso. “Como assim?” Ela tinha a pose das Stellas em Detroit Rock City. “A gente precisa fazer um trampo........vender umas parada........os caras vão vir buscar aqui. Para você não muda nada.......até vai receber sem trabalhar.” A presença feminina num quarto de motel incomodava os dois amebas, na verdade. “Não quero participar de nada. Me deixem ir embora.” “Não dá.........você, tipo............podia contar para alguém.” Assim era o raciocínio simples de uma ameba. “Entendi. Mas eu quero receber três vezes mais que o combinado então.” Assim era o raciocínio simples de uma empreendedora. “Tudo bem.”

    Ainda restava algum tempo antes dos clientes chegarem. Porque as mães do Jonas e do Maleita eram do tipo ditadura da moral judaico-cristão, nenhum deles conseguia estar na companhia de uma mulher sem se sentir como William Miller, de Quase Famosos, junto com a Penny Lane. “Você não precisa participar.......sabe...........se quiser pode ficar escondida no banheiro.” O Maleita queria ser gentil. “Já participei de coisa muito pior, meu bem. Hahahahaha.” “Haha......é......mas é que a gente nunca sabe o que vai acontecer. De repente os caras resolvem encrespar e.........” “Sei bem como é o a gente nunca sabe o que vai acontecer. Olha só o que estou fazendo num motel. Ahahahah.” A Sheila estava tão a vontade com a situação quanto um peixe dentro da água. “Assim.......com todo respeito.......você........sabe.......nunca pensou em fazer outra coisa da vida?” Agora era o Jonas que queria fazer amizade. “Olha só quem esta me julgando? E você? Com todo o respeito.......já pensou?” “Mas........é diferente........” “O que é diferente? Nós três estamos fodidos aqui.” “Mas pelo menos eu não vendo o corpo.........nossa......desculpa......eu não......” O impulso judaico-cristão do Maleita fez ele se sentir como a Angela Hayes, de Beleza Americana, quando ela conta pra o Lester que é virgem. “Pelo menos eu vendo o que é meu. É meu direito. E você? O que tá vendendo aqui?” Num sinal claro de que a conversa estava encerrada Sheila foi para o banheiro, que não tinha porta. “Eu vou cagar, então, por favor, não venham aqui. Para cagar em cima eu cobro mais.” Foi estranho para os dois escutarem uma mulher falar cagar, mas eles estavam se borrando de medo dela por causa do tom duro com que ela falou.

    Com o ambiente pesado, e a Sheila no banheiro, o tempo parecia que não passava. “Eles já tinham que estar aqui.” Na cabeça do Maleita era questão de tempo para a polícia entrar no quarto estourando tudo. Quando os carcamanos bateram na porta ele quase teve um ataque cardíaco. Eram três caras: um velho desarmado e dois grandões ostentando armas na cintura e nas mãos. “Vocês estão sozinhos aqui?” O capo falava e os leões de chácara encaravam. Era como o Cara de Tijolo em Snatch. “Não. Tem uma amiga nossa no banheiro. Mas ela esta fazendo cocô mesmo.” O futuro dono da mercadoria olhou de canto de olho para o jamanta da esquerda, que levantou a mão com a arma até a altura do ombro, encarou os amebas, e entrou no banheiro. Parecia com o John McClane em Duro de Matar I. “Ei! Não posso nem cagar em paz?” A Sheila escutava tudo sentada na privada como fica alguém que esta usando o trono, e já tinha decidido só sair de lá a hora que tudo estivesse resolvido. O capanga fez cara de poucos amigos, um sinal de positivo com a cabeça para o chefe, e voltou para o seu lugar de poste ao lado do big dog. “Ok. Cadê a mercadoria?” O Jonas pegou a mochila que estava no sofá e colocou em cima da cama. O velho abriu, viu o que tinha dentro, e olhou para o capanga da direita, que saiu e rapidamente voltou com uma maleta. “Tá aqui o pagamento. Não gastem tudo em chocolate.”

    Depois que os gangsteres saíram nenhum dos dois sabia direito o que fazer. “Vamos esperar um pouco antes de ir para não levantar suspeitas.” Sugeriu o Jonas. “Vamos embora daqui logo!” Protestou o Maleita. Sheila saiu do banheiro e abriu a maleta que estava na cama enquanto os dois discutiam. Quando eles escutaram o tric tric das travas olharam para ela sincronizados como os dançarinos de Chicago. “Meu Deus! É muito dinheiro! Parabéns rapazes! Vamos comemorar!” Sheila falou isso já deitando nos lençóis de seda da cama redonda e deslizando a mão pelo corpo. O desespero de ver uma mulher pelada deixou os dois amebas travados sem piscar. Sheila riu, abriu o frigobar, pegou três garrafinhas de whiskey, deu uma para cada idiota, e brindou. “Vocês vão pagar, então vamos nos divertir.” Ela virou a garrafinha que estava em sua mão e começou a tirar a roupa. Os dois repetiram o gesto e, tremendo como vara verde, foram brincar.

    Com a ajuda de uma profissional do sexo eles descobriram um mundo novo. Estica dali, chupa de lá, dobra pra cá, gira, torce, fode de pé, fode deitado, fode lado. A cada novidade uma garrafinha de alguma coisa ia goela abaixo. Vodka, vinho, cerveja, e a galadeirinha do quarto tinha mais bebida do que festa de formatura. Sheila foi deslumbrante, se superou. Cada um gozou três vezes sem nem saber de que lado estava a boceta. No fim eles gemiam mais que ela. A mistura álcool + sexo animal levou os dois direto para o paraíso do sono dos campeões. Jonas começou a roncar como um trator com defeito em menos de cinco minutos. O Maleita não precisou de tanto, depois da última gozada apagou sem nem se preocupar em tirar o pau de dentro da onde ele estava. Sheila ainda tomou um banho quente antes de pegar a maleta com o dinheiro e sair.
  • Um dia para cair no esquecimento

    Acordei com dores de todas as formas físicas e psicológicas conhecidas. Ninguém me ama, nem eu. Estou pronto para morrer. Estou pronto há décadas. Por favor Senhor, perdoe minha covardia e acabe com isso. Se as dores no peito não são um sinal claro do fim, o que vai ser? Não sei porque corpo e mente insistem nessa tortura. Parece que centenas de micro aranhas estão arranhando minha garganta e um bando de duendes do inferno estão martelando a minha cabeça. O que mais eu botei para dentro além de bebida? A culpa é dassa porra!

    Liguei o rádio e um cronista tosco estava falando alguma coisa sobre viciados em drogas. “Estas pessoas precisam entender que elas não estão aptas a viver em sociedade porque elas não produzem...”. Sempre que escuto coisas assim culpo a comunicação pelos caos social. É muita voz para pouca ideia. Coloquei um K7 velho do Led Zeppelin para tocar e fui para cozinha empurrado pela queimação no estômago.

    ♫“In my time of dying, want nobody to mourn;
    All I want for you to do is take my body home;
    Well, well, well, so I can die easy;
    Well, well, well, so I can die easy....”♫

    Era disso que eu precisava!

    Abri a geladeira e me deparei com um queijo velho, leite e um pouco de margarina. Pus o leite no fogo junto com a margarina. O queijo ganhou mais um tempo para juntar mofo. Acendi um baseado e fiquei olhando a margarina derreter e se espalhar pelo leite, depois formar uma deliciosa espuma de gordura com a nata pronta para transbordar felicidade para Gregors por todo fogão. Quando começou a subir na panela desliguei e coloquei numa xícara que tava meio limpa em cima da pia. Me sentia como um americano sentado na cozinha tomando leite com margarina, fumando um cigarro e lendo o jornal.

    Trim, trim, trim.....parei de ler e fiquei esperando a secretária eletrônica atender. Sempre me assusto quando o telefone toca. Ninguém nunca me ligou para conversar ou dar boas notícias. “Piiiii.........Oi...bom dia.....nós não nos conhecemos......meu nome é Miguel.......sou coordenador do curso de letras na faculdade.............queríamos te convidar para recitar seus poemas........no nosso próximo Congresso........meu número é 2 4 5 3 0 4 2........bem......obrigado.”

    É sempre bom saber que se tem para onde correr, mas estou querendo ficar parado no momento. Não lendo o jornal. Passando o olho numa notícia sobre os caminhos para se acabar com a pobreza ficou claro que eu e o resto da humanidade não estávamos vivendo no mesmo planeta.

    Virei o K7 e sentei na companhia de um livro de contos do Bukowski. Nós sim estávamos vivendo no mesmo planeta. Entre “Atirei num cara lá em Reno” e “Kid foguete no matadouro” cai no sono dos campeões.

    Foram pouco mais de uma hora sem sentir nenhuma das dores da vida. Levantei pensando que precisava de alguma coisa para acompanhar o queijo que tinha sobrado na geladeira, além de cigarro e bebida. Não ia ter como fugir de pisar na rua.

    Tomei um banho e fiz tudo que podia para não se parecer com o que eu era. Ser eu sempre torna tudo mais difícil. Ninguém gosta de pessoas como eu. Não consigo disfarçar muito bem que acho que tudo é ruim, que os outros são chatos e os lugares que não são minha casa também não são legais.

    Bolei mais um baseado para conseguir suportar a pressão dos olhares na rua e sai rumo ao mercado. As vezes é estranho ver as um exército de carne humana fazendo coisas cotidianas como robôs pré-programados. Levantar cedo, ir na escola/trabalho, almoçar assistindo TV, jantar assistindo TV, dormir assistindo TV. Na maioria do tempo isso não faz o menor sentido. A ideia de viver num mundo onde isso não é o padrão me agrada mais que o atual cenário. Tenho visões em que me vejo tendo impulsos repentinos de gritando desesperadamente que todos parem tudo. Depois caio no chão me retorcendo como plástico pegando fogo. Nem sempre é fácil manter o controle. Não é que não gosto das pessoas, mas prefiro elas longe de mim.

    No caminho ainda tive a oportunidade de testemunhar um acidente de trânsito. O carro do direita parou para o que vinha no sentido oposto, na esquerda, atravessar a pista e entrar na rua transversal. O carro que vinha atrás não quis ser tão gentil, e na tentativa de desviar do outro que parou encheu a lateral do que vinha da esquerda. Pensei que a brutalidade do outro transformou a gentileza do um em estupidez, e ainda bem que eu não estava em nenhum carro.
    Cheguei no mercado preparado para ser direto e letal. Entrar, comprar o que tinha que ser comprado e sair em cinco minutos, sem precisar falar com ninguém de preferência. Peguei leite, margarina, banana, mais queijo, pão e umas garrafinhas de suco de cevada. Respondi cinco “nãos” para a mocinha do caixa e pedi dois maços de cigarro. Voltei para casa sem precisar usar muito mais que monossílabos para me comunicar. Considerei uma saída de grande sucesso. Me sentia tão feliz e pronto para encarar a vida que o fardo de estar vivo parecia quase como um presente divino.

    Ajeitei tudo na cozinha e fui me preparar. Era terça-feira, um bom dia para ir ao bar. Vazio e silencioso. Sem jogo de futebol, sem hormônios desesperados por uma metida, sem papo, sem calor humano. O verdadeiro paraíso. Não há dor que o álcool não possa curar nem tempo que ela não possa preencher. Só precisava de mais um baseado e de escutar o outro lado do K7 do Led que dormi no meio. Não se tinha alguma coisa haver com o alinhamento de Plutão com a Lua, mas o dia estava favorável e nada seria capaz de me deter, mas a campainha tocou seguida do gruindo: “carteeeeeeeeiro”. Olhei e vi um envelope sendo arremessado por debaixo da porta. Era o Ministério da Guerra que estava cobrando minhas contribuições atrasadas, e elas não querem receber em poemas contemporâneos realistas marginais, tem que ser em dinheiro. Isso ou uma bala no peito atirada por um extremista qualquer num ponto remoto do mapa. Que merda! Peguei o telefone e liguei para o cretino do recital.
  • Uma Crônica Carioca

    Este livro é uma obra de ficção que se passa numa versão ficcional do municipío de Nilópolis, na baixada Fluminense do Rio de Janeiro; qualquer semelhança com pessoas, eventos ou locais reais é mera coincidência.
    A cultura local foi usada para compor esta obra, o autor é um morador de Nilópolis, logo tudo que encontrará aqui foi inspirado por uma vivência real.
    Tenha uma boa leitura. 
                Capítulo 1
       Nossa cidade, nosso orgulho 
    Pedro vinha pela Via Light sentido Nilópolis as seis da noite, estava voltando da festa de aniversário de oito anos de seu sobrinho Vitor, não porquê a festa acabou e sim porquê Pedro fez uma merda, ele tentou pegar a cunhada da sua irmã.
    Sintonizado na rádio 102.1 (Mix FM) enquanto dirige seu Fiat Uno 2005 vermelho, batucando seus dedos no volante.
    Lê lê lê lê lê Lá em casa! 🎶
    Lê lê lê lê lê Na cama! 🎶
    Lê lê lê lê lê lê Tirando a roupa toda! 🎶
    Mesmo ao som incondicional da voz de Thiaguinho (cantor que gosta muito), Pedro não consegue tirar da sua cabeça o que aconteceu na festa:
    No quintal estavam os adultos bebendo e conversando enquanto crianças corriam molhadas e pulavam na piscina, com os pais sempre atentos e uma ou outra mãe maluca gritando pro seu filho parar de tentar se matar; Pedro estava odiando isso, mesmo amando sua irmã ele sabia que uma hora ou outra iria embora antes de cortar o bolo; A festa era na casa dela e do esposo, em Nova Iguaçu, e apesar de gostar da cidade, ele detesta os “riquinhos” (Pedro se perguntava se poderiam ser chamados de ricos quem mora até mesmo no mais caro dos apartamentos de Nova Iguaçu) que moram nela, gente meio babaca sabe?
    Ninguém falava do que tinha acontecido no episódio de ontem de ‘Avenida Brasil’, Carminha tinha descoberto que a sua empregada era a Nina, a menininha que ela havia abandonado no lixão; Pedro nem curtia muito novela (segundo ele) mas porra, isso foi foda pra caralho, e esses Nova Iguaçus? Novaguanos? Sei lá, esses caras estão falando do carro novo da Ford?! Fala sério…
    Ao chegar em casa e pesquisar, Pedro descobriu que quem mora em Nova Iguaçu são Iguaçuano.
    No meio da festa e no papo ruim ele viu uma loirinha super gostosa, não viu aliança no dedo então foi falar com ela (não que isso o impedisse de verdade, mas na festa do sobrinho não seria uma boa ideia), e ao abordá-la e rirem um pouco no canto da casa, Pedro mandou a clássica: 
    — Tá afim de sair dessa festa?
    — E ir pra onde? — Ela disse rindo, bom sinal.
    — Pro meu apartamento, podemos ver o Shrek lá —Isso não parece uma boa cantada mas foi, a conversa deles por incrível que pareça havia chegado no gosto dela por Shrek três, que Pedro não curte muito, acha a história do Arthur muito brocha, mas gosta bastante do primeiro e do segundo, acha uma boa trilogia (ele ignora o quarto filme).
    — Queria muito, mas meu noivo tá olhando pra gente.
    Noivo?! Caralho! — Ele pensou.
    — Noivo?! Cadê sua aliança!?
    — Ele não comprou ainda — Ela respondeu com um leve desdém, dando de ombros. Pedro olhou ao redor procurando o noivo dela, mas não achou ninguém.
    Voltou a olhar para ela e pensou se valia ou não a pena falar “Foda-se seu noivo, se fosse macho mesmo tu já estaria com aliança na mão e talvez até casada, vem na minha”, isso poderia dar uma merda do caralho (o que deu) mas a loira era muito gostosa, então ele mandou:
    — Foda-se seu noivo, se fosse macho mesmo tu já estaria com aliança na mão e talvez até casada, vem na minha.
    A loirinha olhou pra ele como se não acreditasse no que estava ouvindo, mas ainda assim gostando; antes que ela pudesse responder, seu noivo pegou Pedro pela gola da camisa e jogou no chão, a festa inteira parou na hora.
    Pedro se levantou e tentou apaziguar a situação, o que não deu muito certo, entre palavrões e ameaças próximas da beira da piscina o corno nada mansotentou dar um soco no rosto de Pedro que apenas saiu da frente e o deixou cair na água (com um empurrãozinho e uma perna na frente), depois é só confusão, gritaria e briga.
    Pedro nem é um cara bonito, nem feio, só bem normal, tem um cabelo curtinho, pele morena, um bigode fino junto de uma barba mal raspada e veste camisa amarela e calça jeans, mas sua lábia com as mulheres é invejável.
    ••
    Pedro segue na Via Light quando entra na direita e vê a entrada de Nilópolis, uma pedra retangular num planalto escrito “Nilópolis” e abaixo: Nossa cidade, nosso orgulho!
    Enquanto olha a placa pela segunda vez hoje, um cara numa Doblò passa do seu lado e grita “Freio tá ruim!”, e já é o terceiro a te falar isso desde que saiu da sua irmã.
    Puta merda… dia tá bom pra caralho…
    Ele aproveita o caminho e vai direto para seu mecânico, segue a principal, passa pela escola laranjinha lá que ele nunca lembra o nome, grita “Tonin!” Quando passa pela ‘Aviário, loja de frangos’ (bom nome), segue em frente ao cristal, passa direto pelo posto, quis evitar ouvir um monte de especialistas em porra nenhuma falar do seu problema no carro e vira a esquina na Av. Carmela Dutra, em direção a praça do chafariz.
    A praça do chafariz é o lugar favorito de Pedro, mas se sente um pouco envergonhado por não saber quem é o cara da estátua.
    É um maluco de bigode e roupa meio militar, devia ser alguém bastante importante e Pedro sente um pouco de pena por seu monumento estar meio pichado, e principalmente pela praça ser mais conhecida por seu chafariz do que pela memória do cara… mas não se dá o trabalho de procurar no Google.
    Mais à frente, logo depois da LifeFit e antes da passarela do trem (a perigosa, não a segura), Pedro entra no seu mecânico, um armazém aberto pra cacete com peças de carro pra tudo quanto é lado, e com os funcionários mais gente boa do mundo.
    — Fala aí Marcão! — Grita Pedro pro seu amigo, o dono — Boa tarde aí pessoal!
    — Fala piroca! — maldito seja o dia que te contei essa história — o que houve aí?!
    — Porra cara, tava voltando da minha irmã e uns dois caras me avisaram que o carro tava fazendo barulho ou sei lá — Pedro não entende nada de carros, se sente meio burro por causa disso e até inseguro em visitar mecânicos, só confia no Marcão.
    Marcão analisa o carro, manda um funcionário por no levantador pra verem por baixo e depois da uma olhada no motor.
    — Porra piroca, teu carro tá todo zoado, vai ter que trocar o alternador.
    Pedro nem pergunta o porque pois é um ignorante, o que Marcão falar ele acredita.
    — Quanto da isso aí?
    — Cara, um alternador pra tua carranca tá custando uns setecentos a oitocentos reais por ai, vai dar um preju pra tu.
    Porra…
    — Porra… — Pedro lamenta.
    — Pra alimentar o sistema — Diz Marcão tentando explicar — vou ter que trocar teu alternador, ele tá muito fudido.
    — Peguei a visão… — Mente Pedro — Mas eu consigo andar com ele ainda?
    — Cara… já consertamos o freio aqui então consegue, mas recomendo trocar logo o alternador porquê se der merda na rua vai ter que chamar o reboque, quando tu consegue comprar?
    — Essa semana ai, até quarta eu consigo sim.
    — Show cara, vou nem te cobrar a instalação.
    — Que isso Marcão.
    — Isso mesmo ‘cah’, tu é parceiro, faço isso aí de graça pra tu.
    “De graça” é como Marcão chama “Enganar otário”, de fato a instalação foi de graça mas alguns dias depois, após ir pro cinema e voltar pra casa, o carro de Pedro começou a dar problema de novo, e dessa vez Marcão cobrou pra consertar um problema que ele mesmo havia inserido, mas Pedro jamais desconfiou disso. Não deveria confiar tanto em Marcão.
    Voltando para aquele dia, o da confusão na festa e do alternador quebrado:
    — Brigadão cara, — Disse Pedro — qualquer coisa eu volto aí, e aí, tu continua jogando na loto? 
    — Sempre, tô sabendo que o próximo prêmio passa de cinquenta milhões, mas nunca ganho né cara, tá difícil!
    — Faz o seguinte cara, todo jogo teu, tu aposta duas vezes.
    — Porquê?
    — Porquê tu vai ganhar mais, porra!
    — Não faz sentido isso!
    — Não faz?! Se sair pra três ganhadores tu fica com quanto?
    Após pensar alguns segundos Marcão concluiu: 
    — Realmente…
    — Tô te falando garotão, se tu ganhar eu quero um milhão!
    — Só se tu passar o número das piranhas!
    — Que piranha Marcão? Pego ninguém não!
    Após algumas risadas Pedro foi embora com o sentimento de “tá andando tá bom”, mas receoso disso não durar muito tempo, e ao olhar pra praça do chafariz ele fica ainda mais.
    Vamo lá garota — Ele pensa enquanto esfrega sua mão no volante de forma carinhosa — não me deixa na mão, não na noite das viúvas!
                                  Capítulo 2
               A noiva do Carlinhos
          
    Eu não sou a porra da noiva do Carlinhos — Pensa Paulinha enquanto olha pra mulher que acabou de te chamar disso ao encontrá-la saindo do seu trabalho no Bob’s
    — Eu me separei dele tem seis anos, sou Paula, noiva de ninguém — Diz tentando não soar incomodada.
    — Ah sim, — Disse a dona — sabia que tinha te reconhecido, frequentei muito a escola dele lá, meus pêsames pela perda.
    — Ok, obrigada, tenha uma boa noite — Disse e saiu andando, a senhora claramente tinha mais coisas para falar mas Paulinha odeia quando a reconhecem por “noiva do Carlinhos”.
    Carlos Guimarães Luiz de Souza (Carlinhos) foi um dono de escola de samba em Mesquita, a “Barreirense de Mesquita”, Paulinha o conheceu num ensaio, na época que a escola ainda estava começando; Eles passaram meses namorando e se ajudando, ele pagando pra Paulinha suas dívidas e ajudando sua mãe, e ela o auxiliando na administração dos ensaios da escola.
    O relacionamento de Paulinha e Carlinhos começou a ruir quando ele fez algo que ela desprezou, tomou o terreno de uma senhora idosa pra si. 
    A senhora morava num terreno logo abaixo do viaduto de Mesquita, na Estrada Feliciano Sodré, ela dizia que seu marido havia trabalhado na construção do viaduto e por isso havia ganhado aquele terreno para viver com ela na juventude do casal, mas após o marido falecer e a senhora começar a ficar cega, bandidos a viram vulnerável e não demorou para invasões acontecerem, até que a escola de Samba de Carlinhos concretizou a tomada por completo, se instalando dentro do terreno da idosa e realizando seus ensaios e shows ali.
    A idosa foi tentar reclamar com Carlinhos que na frente de todos disse “A senhora não tem ninguém e está cega, daqui a pouco você vai morrer e a gente vai ficar com tudo, sinta-se feliz por deixarmos você com sua casa!”.
    Uma semana depois do término, Carlinhos já assumiu outra, uma piranha qualquer, e um ano após isso Carlinhos morreu, depois de se envolver com milicianos, sua escola foi saqueada por invasores e o que restou está lá até hoje, junto da senhorinha cega.
    ••
    Paulinha desce a escada rolante da praça de alimentação para o primeiro andar do shopping, saindo logo à frente da ‘Casa&Video’.
    O shopping de Nilópolis é o shopping mais humilde dos demais shoppings daquela região do Rio de Janeiro, três andares de um edifício não muito grande e com lojas sem grande conglomerados por trás, exceto o Bob’s que no ano seguinte iria sair dali e trocar de lugar com o Burger King, fazendo os nilopolitanos ganharem uma profunda admiração por um restaurante de fast food levemente menos fastque o anterior e tão gorduroso quanto; O shopping de Nilópolis também possui um cinema com três salas que possuem uma qualidade de som duvidosa e uma telona que não casa bem com seu projetor, Paulinha descobriu isso no dia que foi num encontro com um cara, o encontro foi péssimo e talvez isso tenha sido o motivo dela ser tão crítica com a sessão.
    Paulinha desceu a escada rolante novamente para o térreo onde na porta automática do shopping esperava sua melhor amiga: Brenda.
    Diferente de Brenda, Paulinha era gorda, não tão gorda mas o suficiente pra não aguentar se olhar no espelho; Diferente de Brenda, Paulinha era branca e também loira de cabelos meio longos, e também diferente de Brenda, Paulinha não dirigia, por isso sempre pegava carona na Shineray Jet 125 azul de sua amiga na volta pra casa.
    — Tudo pronto? — Pergunta Brenda, já com o capacete e com a moto preparada esperando sua amiga em frente à entrada do shopping que conectava com a Rua Professor Alfredo Gonçalves Figueira, que ia direto pro centro do calçadão.
    — Sim, ‘vambora’! — Ela responde colocando o capacete e se sentando atrás da sua parceira.
    Brenda acelera e entra na Alberto Teixeira da Cunha, parando no sinal logo à frente da padaria Topázio, o trânsito hoje está cheio (como sempre) e Brenda não espera sinal verde para ultrapassar os carros parados e ir embora, ela vira na esquina na subida da Avenida Getúlio Vargas e vira à esquerda na Antônio João Mendonça, passando com sua moto por cima de uma poça d’água fazendo Paulinha dar um grito de empolgação.
    Elas atravessam o viaduto (o velho do centro, não o novo lá de Nova cidade) e viram na esquina do Aydano, onde Paulinha mora.
    Paulinha mora nos prédios gêmeos de frente a frente no fim da rua, bem próxima ao Fantasy (casa de festas infantis bastante renomada e cara pra caralho), ela desce da moto de Brenda e devolve o capacete para a amiga.
    — Brigadona amiga — Diz a abraçando e beijando na bochecha — Me liga assim que chegar lá, tenho um negócio pra te falar.
    — Tem haver com homem?!
    — Porra, tem isso também!
    — Já estou ansiosa, beijos.
    — Beijos.
    Brenda espera Paulinha fechar o portão da portaria para poder ir.
    Paulinha sobe as escadas, justamente por odiar andar ela escolheu o primeiro andar para morar, seu apartamento é o 06, seu sofá é onde ela depositou suas economias, nele e em sua cama, o resto ela economizou ao máximo, seu sofá é bem próximo à porta da frente, que por sua vez fica ao lado direito da televisão de 40 polegadas (dada pela sua mãe), seu banheiro é com porta de correr (aquelas que fazem barulho infernal) e o resto é como você pode imaginar, simples e meio desarrumado.
    Paulinha liga sua televisão que está passando a novela das seis: Amor Eterno; Ela aumenta o volume e vai direto pro banheiro.
    Já durante a novela das sete: Cheias de Charme, Paulinha estava fumando seu cigarro Hollywood quando Brenda ligou:
    — Demorou pra caralho hein! O que houve?!
    — Tive que buscar o Fernando na casa da Bianca, tavam fazendo um trabalho de escola lá
    — Sei… — esse muleque vai engravidar essa menina ainda — Já tomou banho?
    — Sim, já tô na cama, o que você queria me contar?
    — Uma piranha me reconheceu quando saí do trabalho, me perguntou “Você é a noiva do Carlinhos?!” Com a cara lavada.
    — Meu deus, ainda? 2012 e essa gente comentando coisas de outra vida.
    — É porquê são um bando de filhos de uma puta isso sim, ainda me disse “meus pêsames”, pêsames o cacete, espero que ele esteja no quinto dos infernos, vou ter pêsame por ‘homi’ que me traiu com piranha?! Com vagabunda?!
    Brenda ri, já esta acostumada a ouvir absurdos.
    — E o tinder? — Brenda tenta mudar de assunto — Como ficou?
    — Tô ganhando curtidas aqui, mas a são tudo feio demais pra mim, ou é feio ou é negão — Paulinha não curte dormir com o que ela chama de “escurinhos”, não tem preconceito, só não rola — Tô numa maré de azar quanto a isso, mas tô conversando com um cara legal… — Ela diz essa última parte com mais desânimo.
    — De onde ele é?
    — Nova Iguaçu, tem carrão, é engraçado, acho que vai dar certo.
    — Tô na torcida — Brenda respondeu enquanto bocejava — Vou lá amiga, tô cheia de sono, amanhã a gente se vê.
    — Tudo bem minha linda, boa noite.
    — Beijinhos.
    Grande amiga…
    Após a chamada, Paulinha abre o tinder e checa suas curtidas, que continuavam no zero.
                          Capítulo 3
           O professor de kickboxing
    Brenda chegou em casa com seu filho às seis e cinquenta, eles moravam na ‘Rua do Valão’, como os moradores chamam a Avenida Periperi, por conta do rio imundo que corre no meio da rua e que os moradores nem sentem mais o cheiro.
    As sete e quinze ela saiu de seu banho, a casa de Brenda é bem mais arrumada que o apartamento de Paulinha, além de bem maior com um andar sendo somente para os quartos, e Brenda seu filho e seu irmão que acabou de chegar às sete e vinte se juntaram a mesa para um jantar em família (miojo).
    — Como foi no trabalho hoje, Marcos?
    — Um cliente lá levou o carro com problema no freio, fui dar uma olhada no motor e o alternador dele tava ‘ferradasso’!
    — Qual cliente? — Perguntou Fernando.
    — O piroca.
    — Que tipo de apelido é esse? — Disse Brenda.
    Após algumas risadas, Marcos explicou por alto:
    — É uma história que ele me contou de uma parada que ele fez, um dia eu conto com mais calma, — Olhou pro Fernando e levantou o tom de voz para um mais hostil e brincalhão — e tu muleque?! Tô sabendo que tava na casa da namorada né! Fazendo o que lá?!
    — Que namorada o que! — Disse o garoto, Fernando tem quinze anos, idade propicia a garotos, quando atraentes, a namorar, e Fernando não era feio, era um dos mais inteligentes da classe e estava estudando pra entrar num preparatório militar, e Brenda, como uma mãe extremamente protetora que é, já disse várias vezes que bateria em qualquer “Vagabunda que tentasse pegar meu filho”, no fundo isso não é tão verdade, mas ela jamais deixaria de compor essa personagem:
    — Acho bom não ser namorada mesmo! Se não meto a porrada nos dois!
    Marcos riu e Fernando corou.
    — E tu irmãzinha, — Disse Marcos — Como foi no trabalho?
     O de sempre…
    — Foi legal… o de sempre.
    Brenda trabalha numa loja de perfumes baratos no térreo do shopping, logo abaixo das escadas rolantes, começou como um bico mas a comodidade de ser próximo do colégio de Fernando e duas subidas do trabalho de Paulinha a manteve ali, Brenda queria ser rica (como toda boa Nilopolitana) e esse pensamento a levou a mudança repentina de assunto:
    — E a ‘loto’? Fez o jogo? 
    — Só comprei o Rio de Prêmios, — Disse Marcos — registra o número lá depois Fernandin!
    — ‘Jaé’
    — Pô falando nisso — Disse Marcos — sabe o que eu realizei hoje? Se jogar o mesmo jogo duas vezes, tu ganha mais se sair pra mais de um ganhador, tipo, pra três ganhadores, eu tendo dois jogos ganho mais!
    — Isso já não era óbvio? — Perguntou Fernando.
    — Porra muleque! — Voltando a fala hostil e brincalhona — tá me chamando de burro?!
    — Óbvio!
    Depois de rirem bastante, Fernando aproveitou o alto astral que sua mãe estava pra mandar:
    — Mãe, pode me colocar no karatê ali perto da Vila?
    — Fernando, já te falei que quando acharmos um barato eu te coloco
    — Mas lá é barato.
    — Não tanto quanto era na vila olímpica!
    — A vila era de GRAÇA mãe!
    — Vai esperar e acabou, Fernando.
    Com esse fim de janta frustrado e com Marcos lavando a louça Brenda foi para seu quarto, pequeno e mal iluminado, deitou em sua cama King Size e ligou para Paulinha, mas enquanto escuta sua amiga falar da vida, fica lembrando com certo rancor o porquê de Fernando não poder mais fazer kickboxing na vila olímpica.
    ••
    Algumas semanas atrás, Paulinha foi com ela buscar Fernando assim que ele acabasse a aula, elas estavam levando para ele um headset novo para entregá-lo de presente na frente dos colegas, o que seria bastante especial para ele certamente (a ideia foi da Paulinha), entretanto, elas chegaram mais cedo do que o previsto.
    A vila olímpica de Nilópolis é um dos locais mais famosos do município, sendo um ótimo lugar para lazer e esportes, o problema é que está localizada muito próxima da vila de Mesquita (que é bem melhor, mas não diga isso pra nenhum nilopolitano).
    As aulas acontecem dentro do pequeno edifício bem na entrada da vila, Paulinha e Brenda passaram pela entrada gradeada e quando entraram no salão de treinamento elas viram a merda: O professor estava dando uma banda pra machucar o Fernando.
    — Que porra é essa?! — Gritou Paulinha antes de Brenda pensar em dizer algo — É assim que você ensina seus alunos?!
    O professor corou na hora e os demais alunos ficaram observando a malucona loira gritar com ele.
    — Minha senhora, eu só estava mostrando pra ele como ele NÃO deveria fazer, ele havia feito errado o movimento, machucando o colega e eu só estava o corrigindo.
    — Não machucou não mestre — o “colega machucado” o corrigiu — E eu que atrapalhei o movimento, eu te falei.
    — Silêncio quando os adultos estão falando, Guilherme!
    — Silêncio nada! — Gritou Paulinha — fala mais aí Guilherme, o que houve?!
    A confusão atraiu a atenção de funcionários e outros pais que esperavam do lado de fora.
    Guilherme nem teria falado mais nada, mas os olhares de todos acabaram o fazendo dizer:
    — O… o Fernando tava… tava fazendo o movimento em mim mas eu acabei me desequilibrando e ele me derrubou da forma errada… o mestre veio intervir e repetiu no Fernando o que ele fez…
    Paulinha andou pelo tatame até o Fernando que estava ainda no chão e o levantou:
    — Tá tudo bem Fernando?! Vem, ‘vumbora’! — Disse puxando ele pra junto da Brenda.
    Ok, Brenda ficou puta, ela não gostou de saber que o professor tava fazendo isso com o Fernando, mas ela tava disposta a esquecer tudo aquilo e apenas dar uma bronca no cara, mas Paulinha foi longe demais…
    A verdade é que o professor havia descoberto naquele dia mais cedo de que estava sendo corno, sua esposa tava se encontrando com um cara na sua casa já fazia algumas semanas, ele nunca soube quem era o cara, mas tinha suas suspeitas; Ele levou a raiva pro trabalho e na primeira oportunidade que viu acabou descontando a raiva nos alunos, mas porra, tinha que ser justamente no aluno com uma tia maluca?!
    Ele tentou puxar o Fernando de volta pra continuar a aula e Paulinha soltou sua mão dele.
    — Tá maluco porra?! Tira a mão dele!
    Paulinha deu um empurrão no cara e jogou Fernando pra perto da Brenda.
    Porra — Pensou o cara — foi só uma banda caralho, quem é essa maluca?!
    E depois pensou:
    Caralho, eu não posso apanhar de uma loira gordinha na frente dos pais e alunos, eu sou a porra do mestre desses muleques!
    E quando Paulinha foi colocar a segunda empurrada com sua mão, ele usou uma técnica para virá-la de costas e empurrou levemente Paulinha pra trás para evitar confusão (tarde demais) dizendo:
    — Pra trás senhora, não quero te machucar.
    Agora sim, mandei bem — Ele pensou.
    Esse cara tá fudido — Pensou Paulinha.
    O que ele não sabia, era que Paulinha treinou boxe pela maior parte de sua vida, tento sido campeã de uma competição estadual em 2004, e outra coisa que ele não sabia, era que Paulinha amava pra caralho bater em homem.
    Paulinha virou pra trás num movimento rápido dos pés e se pôs em movimento de combate, com os pés justos e mãos levantadas, naquele momento o professor sabia que ela não era uma gordinha maluca… ok, ela não era SÓ uma gordinha maluca.
    Paulinha meteu um jab direto no cara, seguido de um cruzado esquerdo, o professor sentiu o sangue caindo sobre seu queixo: quem é essa mulher?!
    Paulinha meteu um jab direito mas ele esquivou, dando nela um jab esquerdo, e isso era exatamente o que Paulinha queria, ela tinha essa tática de fazer o óbvio para seu inimigo realizar um jab direito ou esquerdo, e ela sempre aproveita muito bem:
    Ela abaixou seu tronco e levantou com um uppercut direito, que deixou o professor desequilibrado, prontinho pro golpe final: a porra de um gancho bem dado.
    Paulinha foi com toda sua força num gancho bem no queixo do mestre de meia tijela, lançando o homem de quarenta anos e mais de 100 quilos no chão.
    — Me machucar é o caralho — Disse ela antes de ir embora com Brenda e Fernando, deixando o professor no chão, desacordado e com os alunos sem saber o que fazer; Desde então Fernando nunca mais pisou na vila olímpica… e nem Paulinha.
    ••
    — Vou lá amiga, tô cheia de sono, amanhã a gente se vê — Brenda não estava com sono, só lembrou da raiva que ficou de ter perdido o kickboxing de graça do Fernando e quis parar de falar.
    — Tudo bem minha linda, boa noite.
    — Beijinhos.
    No fim, até que é uma grande amiga…
                     Capítulo 4
                 A noite das viúvas
    Pedro sai da sua casinha humilde, entra na sua carranca já arrumado pra noite das viúvas: Jaqueta de couro, camisa branca com gola V, calça jeans e tênis da adidas.
    Ele da partida no carro e segue viagem, Pedro passa devagar sem abusar da segunda marcha pelas ruas de Nilópolis pois ele gosta de ver a cidade acordando a noite, e deixa eu te contar uma parada leitor: Nilópolis a noite é bonita pra caralho…
    Lua brilhando no céu sem nuvens, luzes dos postes batendo nos carros parados nas calçadas, lojas fechadas ou prestes a fechar com os portões já fechados mas com portinholas abertas atendendo os últimos clientes, o vento movendo os papéis de vereadores e prefeitos da eleição passada, poças de água parada nos buracos das principais, padarias e bares abertos com dezenas de cadeiras vermelhas de plástico com pessoas dos mais diferentes gabaritos conversando e bebendo, o som de televisões ligadas passando o jogo ou algum programa de tv aleatório e o cheiro confortável da brisa pós um gramado molhado, isto são as noites de Nilópolis.
    Pedro passa pela Mirandela, vira a esquina na Avenida Getúlio Vargas (a principal), segue reto até virar novamente na Antônio Mendonça e passa pelo viaduto, do viaduto da para ver grande parte do centro, de ambos os lados da linha do trem, o grande prédio amarelo do shopping, a primeira e a segunda estação de trem (a perigosa é a mais próxima), o prezunic, a rodoviária com suas colunas gigantescas e também a praça do chafariz, local para onde Pedro se desloca.
    Após o viaduto Pedro vira a esquina na Avenida Francisco Nunes, subindo o (Morro da cedae) onde ele vai virar à direita e descer a rua Senador Fernando Mendes e finalmente entrar à direita, abaixo do viaduto, e seguir até a praça do chafariz, onde está tocando bem alto ‘Aí se eu te pego!’ de Michel Teló, mas Pedro não identifica de onde o som está vindo exatamente.
    Ele deixa seu Uno vermelho 2005 na esquina da LifeFit e vai andando até a praça do chafariz, se senta num dos bancos de pedra que estava sem ninguém que ficam logo abaixo de um pequeno teto de madeira, e com seus óculos escuros ele analisa qual será seu primeiro alvo.
    Bem do outro lado da rua está o bar e Pedro sabe que ali está cheio de cornos em potencial, ele sabe identificar cornos, uma boa maneira que ele desenvolveu pra detectar dos do tipo motoqueiros por exemplo é pelo tipo de moto que ele usa, as que fazem barulho são pra avisar a esposa de que estão chegando, quanto mais barulhenta a moto mais chifrudo o cara é.
    Mas depois de uma merda que deu algumas semanas atrás com um professor da vila olímpica ele evita esse tipo de problema.
    Viúva não tem marido pra me bater 
    Observando as mulheres sentadas nos bancos da praça, a maioria com seus namorados ou só amigos, algumas até com crianças, Pedro procura alguma que esteja sozinha.
     Demora bastante pra encontrar, tenta olhar na direção de onde fica a rampa de skate, mas só acha mães esperando seus filhos pararem de tentar se matar (Pedro acha skate muito perigoso), olha pro quiosque em sua frente mas só encontra mulheres acompanhadas, olha pro bar e, porra, no bar eu não vou achar nada, e depois de alguns minutos de concentração ele encontra uma coroa.
    Ela é morena, parece ter uns quarenta anos, sem aliança e com uma boa bunda (típico de solteironas nessa idade).
    Segundo ele, as coroas são as mais fáceis principalmente as viúvas, pois:
    Elas já passaram por casamentos longos com um homem, por isso estão doidas por uma pica nova, um novo frescorEstão velhas e no fundo toda mulher quer um homem pra terminar sua vida ao seu lado, e quanto mais velhas menos oportunidades surgem, por isso o filtro delas é bem mais liberadoQuanto mais velha mas exige um homem homem mesmo, nada de fresquinhos e duros, elas querem homens que usam jaqueta de couro, óculos escuros e que tenham uma carreta da boa, tipo minha uno!
    Essa morena aí que eu vou carcar!
    Ela está de pé ao lado do chafariz, bebendo um copo de cerveja e mexendo no celular, poderia estar esperando alguém mas porra, vale arriscar.
    — Boa noite — Diz Pedro tirando seus óculos e colocando na gola — está esperando alguém?
    Ela não virou o rosto pra evitar o contato, o que para Pedro é um ponto positivo, apesar dela não sorrir:
    — Não estou não, só aproveitando a noite.
    — Noite bonita mesmo, ai, sabe de onde essa música tá vindo?
    Ela faz uma cara de “Porra, pior que não sei” e diz:
    — Porra, pior que não sei!
    Ela xingou, só preciso acompanhar.
    — Nem eu, estacionei meu carro ali e vim ouvindo essa caralha e sem saber de onde tava vindo!
    Ok, agora eu sou o cara que acompanhou o raciocínio dela e tem carro, tá mandando bem Pedrão, tá mandando bem!
    — Estranho mesmo. — Ela disse.
    — Mas e aí, qual é a do contemplar a noite sozinha, faz bastante isso?
    — Na verdade não, comecei recentemente.
    — Recentemente? — tem história aí — Porquê?
    — Eu… sei lá, só comecei.
    Mandou mal Pedro, isca errada! Isca errada!
    — Eu faço isso às vezes também, só começo as coisas… acho que veio com a idade sabe? Tentar coisas novas, sair da rotina… — Pega essa isca aí! Minhas iscas são verídicas porra! 
    Ela deu um sorriso:
    — Sabe, você deve tá certo, vem com a idade mesmo, — Consegui — Quantos anos você tem? 
    — Quinze — cinquenta e um
    Ela riu:
    — Sei, e eu tenho quatorze — Quarenta e um, gostei
    — Estamos na flor da idade! Qual seu nome? — Disse erguendo a mão direita e apertando a mão dela com força (só o bastante pra passar rigidez, não pra machucar).
    Isso aí foi seu pai que o ensinou, Pedro tinha realmente quinze anos quando seu velho o pegou batendo uma no quarto a noite.
    Eles ficaram um olhando para o outro com o pequeno Pedro sem ter mais como disfarçar, o cara entrou no meio da parada! Bate na porta porra!; Até que o velho disse:
    — Trate mulheres como se elas fossem as coisas mais interessantes do mundo, mesmo quando não forem, principalmente quando não forem, pergunte sobre elas e seja um cara gente boa e engraçado, antes de se apresentar faça ela ter uma palhinha de como você é, do seu senso de humor e de como você pensa, mas não o suficiente pra quebrar o mistério, e depois disso, quando for se apresentar, aperte a mão dela com força, a força que ela vai ter quando for pra cama, é sempre mostre sua força pra elas, mulher gosta de força, faça ela saber que se te trair, vai sentir sua força sem o carinho da cama, faça ela saber que tu é o macho alfa dessa porra, pra ter um bom aperto treine com um hand grip de academia e não com sua pica, tendo uma boa mulher não vai precisar mais bater punheta toda noite achando que nós não sabemos disso… sua mãe tá chamando, jantar está na mesa — e fechou a porta; O pai de Pedro faleceu divorciado e sozinho.
    Pedro aperta a mão dela com rigidez e ela diz:
    — Helena, o seu?
    — Pedro, Pedro Cunha — Porquê eu disse meu sobrenome?!
    Pedro comeu ela naquela noite, lá no motel Fluminense, próximo a Chatuba (a vendedora de materiais de construção, não o bairro de Mesquita), e depois de deixar ela em casa e voltar pro seu lar pra tomar um bom banho, seu carro deu pau na calçada,Você foi guerreira garota, obrigado por resistir até o fim, até a noite das viúvas acabar.
                         Capítulo 5
                Sobre arroz e feijões
    Paulinha era muito gostosa a uns dez anos atrás, desde novinha era a loira mais linda da baixada, vivia andando pra cima e pra baixo com as amigas e os ‘contatinhos’.
    Aos dezessete anos quando estava com as amigas numa festa na beija-flor conheceu um cara chamado Alexandre, mas todos o chamavam apenas de “Tinho”, e eles ficaram durante a festa; Após ficarem mais alguns dias, começaram a namorar, a mãe de Paulinha não aprovava isso, mas ela e sua mãe nunca tiveram uma relação tão boa.
    Na festa de aniversário de dezoito anos de Paulinha estavam todos bêbados, suas amigas Michele, Anjelica, Eduarda, Camila e Brenda (outra Brenda) estavam jogando o jogo da garrafa com os rapazes enquanto Paulinha lavava a louça.
    A festa estava ocorrendo na sua casa, e era pequena, sua mãe havia concordado com a festa em uma condição: A louça estar sempre limpa.
    Enquanto as amigas e amigos estavam na sala, Paulinha fechou a torneira e começou a reparar na água indo pelo ralo, ela não sabe bem o que te chamava atenção ali, apenas gostava de observar, foi quando percebeu que não estava ouvindo a voz de Tinho que deveria estar rindo com os outros enquanto os demais jogavam o jogo.
    Paulinha saiu da cozinha e viu todos sentados quietos em frente a tv de sua mãe, menos Tinho e Michele.
    — Cadê o Tinho?
    As amigas olharam umas pras outras e os caras riram, Paulinha deu uma corrida para o corredor dos quartos até que abriu a porta do seu e viu Tinho beijando Michele.
    ••
    Ela odiava essa memória, mas estava com ela em mente agora enquanto olhava a água da pia do Bob’s descer pelo ralo, até que seu celular vibra em seu bolso:
    — Oi, Brenda.
    — Vai vir ou não? Vamos almoçar ali no ‘sefieselvi’ em frente a Cacau-Show.
    Paulinha ri da amiga por não conseguir falar “self-service” e responde:
    — Tô indo.
    Elas saíram do shopping e cortaram caminho por dentro da Leader, Brenda ficava sendo chamada pelas roupas mas sempre tinha que ser rápida em acompanhar Paulinha que detestava esperar por causa de roupas caras.
    Elas passaram pela calçada do Bradesco e Itaú (que ficam lado a lado) e entraram no restaurante; Pegando a comida, Paulinha sempre reparava que o feijão vinha antes do arroz na fila, o que pra ela não fazia sentido nenhum!
    Após prepararem e pesarem seus pratos, escolheram uma mesa e começaram a conversar:
    — Devíamos ter ido lá no coxinha, lá eles não colocam o feijão antes do arroz.
    — Você sempre diz isso e eu nunca entendo o porquê.
    — Porquê isso tá errado! Não faz sentido nenhum você por um alimento sólido por cima de um líquido, vira uma sopa bizarra no seu prato!
    — O que propõe? — Brenda diz dando uma garfada numa banana frita.
    — O certo.
    — Que é?…
    — O arroz por baixo do feijão, isso molha o arroz sem o transformar numa sopa bizarra.
    — Mas após misturar, eles ficam do mesmo jeito.
    — Mas antes da mistura você pode escolher se vai ter um monstro no seu prato ou um alimento minimamente estruturado!
    — Eu acho que você tá exagerando, além do mas, você pode escolher pegar o arroz antes.
    — Posso, mas irritando o maldito que está atrás de mim na fila, “Foi mal aí gente, voltem a fila aí, é que eu não quero comer que nem uma filha da puta por causa do imbecil que colocou a porra do arroz depois da caralha do feijão!”
    Brenda ri pra cacete antes de mandar um:
    — Porra eu te amo, amiga!
    Paulinha da um sorriso e da uma garfada no seu nhoque de frango com gosto de purê gelado, e diz:
    — E a viagem, vai rolar?
    — Pra Rio das Ostras?
    Paulinha diz um “uhum” com a boca cheia.
    — Vai sim, já falei com o Antônio e ele disse que pode ir todo mundo, o problema é o dinheiro.
    — Tá apertada?
    — Poxa Paulinha, tô sim… eu não aguento mais esse emprego.
    Paulinha se sente meio culpada por ela ter arrumado o trabalho ali no shopping e a presença dela ter meio que prendido Brenda lá.
    — Já falou isso com seu irmão? Fala com o Marquinhos, ele conhece uma porrada de gente, com certeza consegue pra tu uma entrevista.
    — Ele já sabe, falei com ele ontem a noite depois de ligar pra você.
    — E aí?
    Brenda evitou dar detalhes, ela detesta preocupar sua amiga sobre essas coisas, a verdade é que depois de dizer:
    — Beijinhos — Pra Paulinha e desligar o telefone, ela chorou, depois de lembrar da parada do kickboxing e de não ter dinheiro pro karatê, Brenda começou a chorar no travesseiro, pensando na vida, pensando no seu emprego que odeia e pensando se seria forte suficiente pra ajudar Fernando depois que terminar o ensino médio, foi quando Marcos entrou no quarto com uma jarra de suco quebrada e viu sua irmã com os olhos molhados: 
    — O Fernando quebrou a ja… Que foi irmã?
    Entrou e fechou a porta, e disse:
    — O que houve? Aconteceu algo com a Paulinha?
    — Meu emprego Marcos, meu emprego é uma merda! 
    Marcos viu que era seríssimo quando ouviu a irmã xingando(Para Brenda, ‘Merda’ era palavrão); Ele colocou a jarra no chão e se sentou ao lado dela na cama.
    — Vai ficar tudo bem, eu… eu vou arrumar alguma coisa pra você.
    — Arrumar em que?! Eu não tenho estudo, não tenho nada!
    — Tu tem sua garra mulher, tem seu irmão pra te ajudar e seu filho pra te dar força, relaxa, vai dar tudo certo, tu vai conseguir um emprego melhor e vai conseguir pagar o karatê do muleque, eu vou te ajudar pow, olha pra mim, para de olhar pra baixo e olha pra mim… vai dar tudo certo. — E Brenda o abraçou.
    Foi isso que aconteceu, mas Brenda apenas disse pra Paulinha:
    — Ah, ele disse que vai ver.
    — Vai dar tudo certo pow, sei que vai…
    Paulinha era péssima em confortar, por isso acabou mudando de assunto:
    — E a loto hein? Viu quanto vai ser? Cinquenta milhões!
    — Vi sim, Marcos ficou de comprar hoje, tu acredita que ele descobriu só ontem que se apostar duas vezes no mesmo jogo tu ganha mais se sair pra mais de dois ganhadores?
    Elas riram e Paulinha disse:
    — Só teu irmão mesmo.
    — Da uma chance pra ele!
    — Sabe que eu não curto neguinhos, sem preconceito.
    — Sei… — Disse Brenda, sorrindo.
    — Mais aí — Deu uma pausa pra beber um gole do seu guaraná antártica — o que tu faria se ganhasse cinquenta milhões?
    — Compraria uma casa pra mim e uma pro Marcos, investiria na educação do Fernando e nunca mais trabalharia na vida.
    — É, é um bom sonho.
    — Sonho não, possibilidade… mas e você? O que faria com cinquenta milhões, ‘loirona gostosa’?!
    — Ninguém me chama assim a anos! Ah… acho que eu… nunca pensei nisso.
    — Sério?
    — Sim… sei lá, compraria um carro e… não sei, não sei o que faria, acho que só daria pra você e iria morar na sua casa nova.
    Elas riram da resposta e após acabarem o almoço voltaram pro trabalho, Paulinha deixou Brenda no térreo na lojinha de perfume e subiu as escadas rolantes pro seu trabalho; Assim que entrou no Bob’s o gerente disse:
    — Já tava quase te demitindo por justa causa! Bota seu avental e vai trabalhar!
    Vai se fuder seu filho da puta!!! — Foi o que ela quis dizer, ao invés disso, apenas ficou em silêncio.
    Quando chegou no seu armário e pegou o avental, seu celular vibrou de novo, e era uma notificação do Tinder: It’s a Match!
                            Capítulo 6
                    A vila olímpica
    Depois da noite das viúvas e de ter deixado seu carro quebrado na calçada, Pedro entrou em casa para tomar seu banho; Sua casa é pequena e humilde, não tem muitos cômodos e possui pouquíssima mobília, o que é típico de um homem solteiro. Na sala, há somente um rack onde está a enorme e pesada TV de tubo que sintoniza apenas dois canais: Rede Globo e Canal Oração.
    Ao entrar em casa, ele deixa sua jaqueta no sofá velho, os tênis sobre o pano de chão e o seu revólver .38 na cômoda (ele costuma deixá-lo no porta-luvas durante o dia e na cômoda da sala à noite), depois segue para o banheiro para tomar seu banho.
    No banheiro, ele liga a torneira da banheira e o rádio que está sobre o espelho. Ele sintoniza na 89.0, a Rádio Rock!, que está transmitindo "Your Love" dos The Outfield, justo na parte do refrão:
    I Just Want to use your Love Tonight 🎶
    I Don’t Want to lose your Love Tonight 🎶
    Pedro da uma dançada com o refrão e enquanto a banheira ainda enche ele vai até a cozinha, pega do congelador uma caixa já aberta de nuggets e põe numa forma, coloca no fogão (sem tirar as panelas sujas de dentro) e aquece a duzentos graus; No banheiro ele tira sua roupa e desliga a torneira, se deita em sua banheira fazendo a água subir até quase a borda e começa seu banho, enquanto a rádio agora toca ‘Blue Suede Shoes’ versão de Carl Perkins da clássica do Elvis.
    Após o banho Pedro comeu seu nuggets em seu sofá enquanto assistia ‘Chacrinha: O Velho Guerreiro’ no SuperCine; Pedro foi dormir as duas da manhã sabendo um pouquinho a mais sobre o Chacrinha.
    ••
    No dia seguinte, chamou o reboque pra levar seu carro até o Marcão, que disse para ele “Te falei que ia dar merda” e Pedro respondeu “Tô ligado Marcão”, o carro ficou na oficina enquanto Pedro teria que arrumar um jeito pra conseguir a grana do material, de algum modo tava aliviado por Marcão também não cobrar a instalação (o que teria suas consequências mais tarde), e por conta de perder sua maior companheira, a Uno vermelha 2005, ele decide ir andando até em casa.
    Pedro saiu do Marcão e foi andando o caminho de volta, passou pela estação da praça do chafariz, passou pelo calçadão de Nilópolis e quando chegou na Mirandela, na calçada das Lojas Americanas que viu fechando na noite anterior, ele já estava cansado pra caralho.
    Caralho… tô enferrujado… 
    Pedro sabia que seu eu de quinze anos atrás, quando ainda estava no exército, com certeza nem soaria ao voltar pra casa, até mesmo correndo, mas o eu de agora que só anda de carro pra cima e pra baixo e que trabalha cortando cabelos dia sim dia não tá zoado pra cacete.
    Preciso ir correr na vila olímpica…
    Pedro pegou um dos táxis do ponto ali da rua e foi até sua casa, vestiu sua roupa de exercícios que não usava a muito tempo:
    Camisa regata verde Short azul escuro da NikeMeias brancasTênis preto da Olympikus
    E com essas roupas, pegando sua carteira e chave e deixando o revólver em casa, Pedro partiu pra vila olímpica… de táxi.
    ••
    Ao redor do campo de futebol da vila olímpica tem um circuito onde algumas pessoas estavam andando, Pedro começou na pista de caminhada, deu cinco voltas e então entrou na pista de corrida, no final da primeira ele já estava respirando pesado e seu suor já estava entrando em seus olhos e ardendo levemente, demonstrando algum esforço ele limpou a testa e permaneceu correndo tentando pelo menos realizar mais duas voltas, mas ao chegar na metade do caminho ele tornou a andar, e foi assim que terminou o circuito.
    No bebedouro ele encheu um copo descartável de água gelada e deu três goles, deixando um restinho para jogar no rosto, e foi depois de sentir a água gelada em sua pele que ele viu Antônio… o professor de Kickboxing.
    Porra, esqueci completamente.
    Pausa aqui, tenho que lhes contar uma história: Pedro já foi dono de um bar!
    ••
    Em 2008 ele havia começado sua nova empreitada logo depois de ser suspenso do exército por uma outra merda, na época do bar o Pedro não sabia absolutamente nada sobre empreendedorismo, tanto que o bar faliu no mesmo ano, foi o que o fez virar barbeiro, mas o bar rendeu a ele algumas experiências, principalmente na “arte” de pegar mulher casada.
    Ficar atendendo vários homens casados o dia inteiro deu pro Pedro a chance de ouvir suas conversas, dentre as falácias sobre o Neymar ser o melhor jogador do Brasil (Pedro sempre foi muito mais fã do Hugo Souza, “esse muleque tem futuro” ele sempre diz), e conversas sobre seus trabalhos, eles sempre comentavam sobre suas esposas, claro que muitos falavam bem das patroas e sobre como gostavam de ser casados, Pedro respeitava esses, mas sempre tinham os que reclamavam e falavam de como as manias delas os incomodavam; Logo Pedro chegou a seguinte conclusão:
    Se eles não querem, tem quem queira! — Ele diz que foi ele quem inventou essa frase, mas provavelmente apenas viu alguém dizer no ‘Amigos de Nilópolis’.
    Em algumas semanas Pedro sabia os horários de serviço dos seus clientes, sabia os horários que eles bebiam e sabia quando suas esposas estavam sozinhas em casa, porra, sabia até do que elas gostavam!
    Ele contratou um garoto pra ficar atendendo por ele sempre que ele precisava “sair”, e nessas saídas ele sempre ia nas ‘casadas carentes’; Pedro comeu muitas bucetas nessa época, já fugiu pela janela centenas de vezes, já se escondeu em baixo da cama dezenas de vezes e já apanhou algumas vezes.
    Depois da ultima surra ele tinha prometido a si mesmo que nunca mais pegaria casada, por coincidência foi na mesma semana que o bar faliu.
    Ao abrir seu salão de beleza, algumas casadas que ele já tinha comido iam até ele pra “fazer o cabelo”, depois de comer mais algumas bucetas novamente, um corno foi lá e deu uma merda enorme.
    “Ok! Dessa vez acabou!” ele disse pra si mesmo num espelho, “Você não vai mais pegar casada nenhuma seu imbecil de merda! Tá me ouvindo seu imbecil de merda?! Hein! Você é um imbecil sim! Comeu bucetas até a porra do seu bar falir! FALIR PORRA! Você é um imbecil de merda que não arruma mulher nenhuma e vive sozinho na porra de uma casa desarrumada! É ISSO MESMO QUE VOCÊ É! Tem inveja da sua irmã é?! FODASE!”
    Naquele dia, ele havia bebido demais, mas seu discurso “motivacional” realmente funcionou… por algum tempo.
    De vez em nunca ele pegava uma casada, mas tomando bem mais cuidado, nesse meio tempo ele criou o prazer por viúvas, entretanto algumas semanas atrás ele conheceu uma loirinha sensacional lá na praça do DPO, ela não era muito inteligente nem nada, mas era uma baita duma gostosa, mas ele descobriu que ela tava namorando um professor da vila olímpica.
    Ok, Deu pra mim mas ela continuou ligando pra ele, chegou num ponto que ele não aguentou mais e foi pra cima, foi pra casa dela e pegou ela lá, supostamente ela havia pedido um tempo pro namorado, mas Pedro veio a descobrir que o cara não tinha interpretado dessa maneira.
    E foi ali, só de cueca samba-canção escondido no banheiro de um apartamento barato no centro de Nova Cidade (bairro de Nilópolis) que Pedro estava ouvindo a discussão:
    — Você é minha, Rebeca!
    — Eu pedi um tempo, Antônio!
    — Um tempo é pra você pensar na vida, pensar no que vai fazer, e não sair dando pros outros por aí!
    — Eu faço o que eu quiser da minha vida cara! Quem é você pra me dizer o que fazer?!
    — Eu sou o homem que tá pagando seu apartamento, caralho!
    Pedro sabia que o cara tava errado, sendo um controlador do cacete e tal, mas porra, ele entende o lado dele:
    O cara tá pagando o apê?! Pelo menos a mina tinha que ser clara em terminar logo né?!
    — Tá pagando porque você quer! Eu não te pedi nada!
    — Ou eu pagava ou você era expulsa! Tu não arruma emprego em lugar nenhum porque é uma burra do caralho! Uma inútil!
    Pegou pesado
    — CALA A PORRA DA BOCA!
    — ALGUÉM TEM QUE TE DIZER A VERDADE! SE NÃO VAI SER AQUELA MERDA DA SUA MÃE, VAI SER EU!
    — QUER SABER! EU DEI SIM, EU DEI PRO SEU MELHOR AMIGO, TAVA DANDO PRA ELE AGORA ALI NAQUELA CAMA QUE VOCÊ PAGOU!
    Agora ela pegou pesado, eu nem conheço o cara, golpe baixo, foi então que Pedro ouviu o barulho de um tapa, tava quase abrindo a porta pra ajudar ela quando ouviu o cara dizer:
    — Bate em mim mesmo, pode bater, bate no único homem que te ajudou nessa vida!
    Ah, foi ela que bateu!
    — Vai embora Antônio!
    Pedro tirou o ouvido da porta e instintivamente colocou a mão na maçaneta e quase abriu, Que merda que eu fiz?!
    — Quem tá aí?! Tem alguém no banheiro?! — Pedro ouviu o cara dizer. Nesse momento ele correu pra janela, abriu e pulou!
    A queda não era muito grande, só doeu o ombro pra cacete, correu pro seu carro, pegou a chave que escondia presa em cima do pneu, deu partida e foi embora ouvindo o cara dizer lá atrás: “Volta aqui seu ‘fela da pulta’!”
    E esse cara, era o Antônio, professor de kickboxing da vila olímpica que suspeitava do Pedro desde que o viu na mesma uno vermelha parado em frente a fábrica da Moleka, e que agora estava o vendo beber água no seu ambiente de trabalho.
    ••
    — Bom dia — Disse Pedro.
    — Boa tarde — Antônio o corrigiu.
    — Já passou de meio dia? Nem reparei…
    — Já… se exercitou bastante?
    — Sim, um pouquinho, sabe como é, tentando voltar a ativa.
    — Sei… você era do exército né? Dez anos atrás?
    — Sim, porquê?
    — Ouvi o pessoal falar por aí… foi dispensado?
    — Na verdade eu quis sair, tava cansado da vida lá.
    — Saquei… mas não é isso que falam.
    — Eu sei o que falam, não acredita neles não!
    Os dois ficaram se encarando, Pedro tava quase falando “Então vou lá, valeu valeu” quando Antônio disse:
    — Tu dirige uma uno vermelha né?
    Porra…
    — Dirijo sim.
    — Não vi ela por aí, veio a pé?
    — Sim.
    — Porquê?
    — Minha caranga tá quebrada, deu merda no motor, tenho que arrumar uma grana pra consertar, sabe como é.
    — Ah sim… gosta muito dela?
    — De quem?
    — Do seu carro.
    — Sim! Gosto muito, adoro ela, meu carro, ele, adoro ele.
    — Hum… qual seu nome? 
    — Pedro.
    — Prazer Pedro, sou Antônio.
    Apertaram as mãos e Antônio apertou com bastante força.
    — Prazer cara, é professor aí né?
    — Sou sim, sabe lutar?
    Pior que não
    — Pior que sim, manjo um pouco de karatê.
    — Que bacana… porquê não fica pra uma aula? Da uma olhada, só um teste pra testar seus músculos e tal, é de graça!
    Esse cara quer me encher de porrada
    — Não, valeu, quem sabe outro dia? Hoje eu tô bem cansado.
    — Que isso pow, é só um treininho, fazer um alongamento antes e tá joia, até pras crianças verem como é uma luta com artes marciais diferentes.
    — Não, valeu, fica pra próxima.
    — Tem certeza?
    — Tenho.
    Um silêncio constrangedor pairou até um faxineiro dizer:
    — Ô da água na cara! Tenta não machucar nosso professor, a gordinha loirinha já feriu ele bastante!
    Gordinha loirinha? A Rebeca era loirinha mas gordinha? Os padrões de beleza hoje tão muito bizarros…
    — Há há há! — Disse Antônio para as risadas que se seguiram dos colegas de trabalho.
    — Mas sério, valeu, quero não, tudo de bom aí professor! Boa aula! — Disse passando pelo portão e indo embora.
    Escapei de uma das boas agora… acho melhor eu andar só lá na mata por enquanto.
             
                              Capítulo 7
                Loirão gostoso
    Camila havia tido um péssimo dia, ela e seu namorado Jhonatan (ambos de dezessete anos) brigaram naquela mesma manhã por um motivo super idiota.
    Eles haviam feito uma descoberta sensacional de foda na noite anterior no drive-thru do Mc Donalds ali de Anchieta (na Rua Cardoso de Castro), enquanto ele dirigia e ela escolhia o pedido na placa, Camilla teve uma ótima ideia: 
    Se escolhermos um hambúrguer simples e pedirmos pra aumentar as quantidades e adicionar ingredientes, será que conseguimos montar um Cheddar McMelt sem ter que pagar o preço de um Cheddar McMelt?
    E levou essa dúvida para seu companheiro:
    — Jhon! — Ela disse fazendo ele desviar o olhar dos atendentes do outro lado do vidro para ela — Se escolhermos um hambúrguer simples e pedirmos pra aumentar as quantidades e adicionar ingredientes, será que conseguimos montar um Cheddar McMelt sem ter que pagar o preço de um Cheddar McMelt?
    A pergunta fez ele erguer as sobrancelhas em surpresa:
    — Porra, será?! Nunca pensei nisso!
    — Faz todo sentido né? A gente pede um Cheddar normal, pedimos pra adicionar mais cebola, mais carne, mais… mais tudo! Cada extra é só um real a mais, sai mais barato que o Cheddar McMelt!
    — Puta que pariu, por isso que eu te amo, vamos ver se dá certo!
    Deu certo.
    — Caraaaalho! Deu certo! — Ele gritou no carro, na volta pra casa — Isso foi genial!
    — Sim!!! — Disse ela rindo — imagina o que podemos fazer?! Tipo, um Quarteirão num DUPLO Quarteirão!
    — Duplo quarteirão?! Camila, eu tô falando de um Mc Lanche feliz num B-I-G M-A-C!
    Ela começou a rir com a ideia:
    — Sim!!! Vamos fazer isso! — Pegou o celular — Deixa eu falar isso pro pessoal!
    — Não faz isso não.
    — Porquê?
    — Pra ser uma sabedoria nossa, mô.
    — Saquei, saquei! 
    Camila continuou mexendo no celular.
    — Tá fazendo o que? — Perguntou Jhonatan.
    — Mexendo no insta…
    — Hm… tá falando com ninguém sobre isso não né?
    — O que? Eu acabei de falar que saquei.
    — Tudo bem.
    — Não confia em mim?
    — Confio.
    — Então porquê me perguntou isso?
    — Só pra checar.
    — Checar o que? Se eu tô mentindo pra você?
    — Camila…
    — Não vou mandar cacete, vai ser nosso segredinho idiota.
    — Idiota? Como assim idiota?
    — Saber como manipular o Mc Donalds é idiota.
    — É uma parada nossa, não fale simplesmente que é idiota!
    — “Parada nossa”? Parada nossa não é saber o preço das coisas do Mc Donalds.
    — Eu acabei de falar que é!
    Quando ele a deixou em casa ainda estavam discutindo, ela bateu a porta do carro e entrou; Na manhã seguinte ela havia ido na ‘Mata’ (como chamam o Park do Gericinó), onde Jhonatan estava andando de Skate com os amigos, ele a viu e correu pra abordá-la.
    — Porquê me bloqueou no zap? — Ele perguntou.
    — Porquê não tava afim de discutir.
    — Essa briga foi muito idiota Cah, vamos conversar? Parar com isso?
    Camila estava prestes a perdoa-lo quando ele disse:
    — Hein, Caro-Camila?
    — Quem é Carol?
    — Colega da gente que anda de Skate, foi sem querer desculpa.
    — Desculpa o caralho, sai de perto de mim — E seguiu andando sozinha a passos rápidos pela pista que leva ao mais fundo da mata.
    — Camila! — Disse Jhonatan chegando de skate nos pés — desculpa bebê!
    Camila se virou, empurrou ele e gritou:
    — Vai de skate lá pra Carol! Enfia o skate no rabo e vai andar sentado!
    E foi assim que Camila foi parar andando sozinha nos fundos da mata, com raiva e cansada.
    Ela havia acabado de passar pelo ‘Pau do Jacaré’ (apelido de uma trilha fechada na mata) quando um cara loiro e muito bonito a abordou.
    — Bom dia, tudo bem?
    — Ah… oi, tudo sim.
    — Eu acho que me perdi, estava procurando…
    Carol parou de prestar atenção no que o cara tava falando depois que ele disse “procurando”, ele era gostoso pra cacete, loirão de uns trinta e poucos, talvez trinta e cinco, alto e vestindo uma regata branca e jeans, com tênis da Nike.
    — Eh… sim, o que deseja?
    Ele sorriu e disse:
    — Me ajuda a sair daqui?
    — Claro! pode me seguir.
    Depois de alguns passos ele mandou:
    — Tu mora por aqui?
    — Moro aqui do lado, por isso venho sempre que posso.
    — Ah sim…
    — Gosta daqui?
    — Curto sim, é a segunda vez que venho, é bem bonito.
    — Demais né? Ver o sol se pôr aqui é muito rei leão.
    Ele riu e disse: “Tudo que o sol toca…”
    — Sim! — Ela exclamou rindo — eu amo demais.
    — É incrível mesmo, minha irmã tatuou o Simba bebê no braço.
    — Que lindo! Eu queria tatuar mas… meus pais são muito duros.
    — Ainda mora com eles?
    — Sim… tenho dezenove — mentiu — moro com eles ainda.
    — Bem, isso é ruim mesmo mas enquanto tu morar no teto deles, é melhor seguir as regrinhas, depois que envelheci vi que da adolescência pra cima, morar com os pais é o mesmo que morar de favor.
    — É uma merda mesmo, você mora sozinho?
    — Moro sim, em Nova Iguaçu.
    — Adoro lá.
    — Sério?
    — Sim, sei lá, parece ser tudo mais chique do que aqui, é a maior cidade da baixada né?
    — Deve ser… porquê tu tá andando sozinha por aqui?
    — Como assim?
    — Não quero me intrometer em nada, mas seu semblante é de alguém chateado, brigou com alguém e por isso tá aqui sozinha?
    — Cara… sim, briguei sim.
    — Hm…
    — Foi com meu namorado, meu ex namorado, ele fez merda atrás de merda aí eu só me desliguei dele.
    — É complicado isso mesmo, os caras perdem demais as oportunidades de não fazer merda, imagina perder uma mulher como você?
    Ela riu e disse: 
    — Obrigada, mudando de assunto, o que tu tava fazendo por aqui?
    — Vim arrumar meu esconderijo.
    — O que?
    — É, eu fui do exército há alguns anos, tenho bunker por aqui, mas admito que fazem anos que não visitava a mata, por isso me perdi depois que sai dele.
    — Pow que maneiro, mas o que faz nesse esconderijo? É pra algum ataque nuclear ou sei lá?
    Ele riu e disse:
    — Não não… só pra dar uma dormida, ouvir uma música em paz, assistir Rei Leão, essas coisas.
    — Poxa, que foda… posso ver?
    — Quer ver o bunker?
    — Um bunker na mata com música, cama e televisão? Claro, posso entrar lá?
    — Pode sim, vamos lá.
    — Pera, qual seu nome?
    — Jailson das Graças.
    — Eu sou Carol do Nascimento, prazer.
    — Nome bonito, prazer Carol.
    Ela riu antes de dizer: “Obrigada”
    — Bem, — ele disse — Só me seguir que eu mostro o caminho.
    Carol nunca mais foi vista.
                
                         Capítulo 8
               Tigres e esquilos
    Brenda deixou Paulinha em casa, a amiga loirinha havia dito que iria se arrumar pra sair com um cara novo do tinder, “Neguinha, eu vou transar!” ela gritou quando Brenda a deixou em seu prédio, fazendo Brenda corar por baixo do capacete preto.
    Ás 18:45 Brenda deixou sua moto em casa e entrou no carro de seu irmão para irem ao mercado, chegando no cristal as 18:47 (é bem do lado da casa deles), Marcos estacionou seu Palio ali no estacionamento em frente ao cristal.
    Brenda segurava a lista de compras que havia feito na noite anterior, logo após chorar no ombro do irmão e lembrar que precisava organizar as compras de amanhã, enquanto Marcos levava o carrinho.
                           “Lista de compras”
    Ovos (no sacolão é mais barato?)
    Batata pro purê com ovos
    Feijão e arroz
    Omo
    Amaciante da ipê
    Duas giletes
    Batata frita
    Dois óleos
    As caixas de leite
    1k de picanha (no cristal tá mais barato)
    Se sobrar dinheiro: Sucrilhos do Fê
    Brenda e Marcos já haviam completado a maior parte da lista quando finalmente chegaram na carne; Brenda havia ouvido alguns murmúrios dos clientes sobre o preço, uma senhora que estava conversando com uma amiga no telefone enquanto comprava biscoitos disse “O quilo da carne tá quarenta reais!” E também havia ouvido um casal discutindo depois de voltar do açougue “Cinquenta reais é um absurdo!” “Sim, demais”, e também havia ouvido um senhor dizer pra ela quando estava pegando as batatas e colocando na sacola:
    — A carne tá cara, absurdo isso, como que pode né?
    — Sim, absurdo… quanto está a carne?
    — Não viu? Meu sobrinho disse que tá sessenta reais o quilo!
    A verdade é que ninguém havia de fato visto o preço da carne, apenas murmurado a partir da reclamação de uma cliente de mais cedo que havia perdido sua carteira e se queixou da “falta de humildade” dos funcionários ao não abaixar o preço para ela ou vender fiado, mas diferente dos outros, Brenda foi ver o preço.
    — Trinta reais o quilo, senhora. — Disse o açougueiro.
    Ok, não é tão caro quanto quarenta ou cinquenta ou até mesmo sessenta, era um preço que Brenda e Marcos poderiam pagar, mas ainda assim não sobraria mas nada na carteira.
    — Vamos levar? — Perguntou Marcos.
    Brenda quer levar a carne, quer fazer o purê de batatas com ovos mexidos acompanhados de picanha pro almoço em família, mas ao mesmo tempo… fazia alguns meses que Fernando não comia sucrilhos, ele adorava desde mais novo os cereais com leite que aprendeu a comer com seus tios, antes do tio Aldemir falecer; Brenda esperava que dessa vez sobrasse dinheiro para comprar, ela até tirou seu hidratante da lista pra conseguir levar o cereal.
    — Irmã?
    — Ah… não, vamos comprar salsichas e o sucrilhos do Fernando.
    Marcos olhou para ela, olhou para a carne e tornou a olhá-la nos olhos e deu de ombros.
    Eles levaram o cereal.
    Ás 19:48 eles chegaram em casa, Fernando ainda não tinha chegado da casa da colega de trabalho.
    Marcos foi tomar banho enquanto Brenda ficou de guardar as compras; Batatas fritas no congelador, batatas normais no pote pra descascar, ovos na geladeira, feijão e arroz em seus respectivos potes, leite no armário… Fernando chegou.
    Da cozinha Brenda escutou ele fechando o portão e colocando a chave na porta de casa, ela pegou o sucrilhos da sacola e escondeu dentro do fogão. Na sala ela se apoiou nas costas do sofá enquanto Fernando abriu a porta e colocou as chaves sobre a estante.
    — Boa noite, sumido.
    — Boa noite, mãe. — Ele disse meio frustrado.
    — O que houve?
    — Nada não.
    — Nada não nada, o que houve? 
    — Nada mãe, vou tomar banho.
    —ok— Melhor não pressionar, pelo menos não agora — Fiz as compras.
    — Que legal. — Ele disse antes de virar o corredor e fechar a porta do banheiro.
    Adolescentes sabem ser irritantes…
    Terminou de guardar as compras enquanto ele tomava banho, ligou a televisão na Record e ficou ouvindo o jornal enquanto via stories de famosas fazendo coisas cotidianas; Fernando saiu do banho e subiu as escadas, sem olhar para ela…
        …Brenda foi atrás, quando abriu a porta ele estava com um short de dormir e passando desodorante.
    — O que houve? — Ela perguntou fechando a porta.
    — Nada.
    — Eu não vou sair desse quarto até você me dizer o que houve… foi a…
    — …A quem? Não tem ninguém, não tem menina nenhuma, não tem nada, já disse.
    Foi ela.
    — Sou sua amiga, sabe disso né? Além de sua mãe sou sua amiga, se você não me conta as coisas como eu poderei te ajudar?
    — Não quero ajuda.
    Você acha que não, sempre acham que não.
    — Ok… vou te deixar dormir, comprei seu sucrilhos!
    — O do tigre?
    — Tigre?
    — sucrilhos é o nome de uma marca que tem um tigre na embalagem, o nome do alimento em si é cereal, a senhora comprou o que tem o tigre?
    Brenda ficou em silêncio, não tinha visto tigre nenhum na embalagem apenas pegou um dos que apareceram, um com um esquilo ou algo parecido, e então disse:
    — Não, peguei um mais barato.
    A decepção nos olhos dele foram claras.
    — Ok, obrigado.
    Ela fechou a porta com o coração um pouco mais partido.
                       Capítulo 9
                   O espelho
    Paulinha se arrumou pro encontro, ao chegar em casa tomou um banho mais esforçado que o normal, enquanto ouvia em seu celular deixado em cima da pia, com o som virado para o chuveiro: ‘Hoje a Noite é Nossa’ do Jeito Moleque.
    Depilou as axilas e seu órgão, lavou o cabelo, bochechou a boca com o Listerine que comprou depois que saiu do trabalho (fazendo Brenda esperar do lado de fora da Pacheco bem na principal), passou ele antes e depois de escovar os dentes.
    “Só por precaução” pensou.
    Experimentou várias roupas do seu armário (e descobriu que odiava todas é que teria que fazer compras… o que também odiava) e acabou escolhendo seu vestido preto, foi com ele é uma sandália preta.
    Se olhou no espelho e pela primeira vem em algum tempo se achou gostosa.
    “Caramba, eu tô gostosa, até eu me comeria agora!”
    E se sentou no sofá para esperar pelo cara; faz tempo desde a última vez que Paulinha ficou com alguém, há oito meses ela saiu com um colega de trabalho, o Júlio, na época ele trabalhava com ela na montagem dos hambúrgueres, ela já havia reparado que ele olhava pra ela com certa luxúria, olhando pros peitos e pra suas coxas, ela ignorava o máximo que podia mas após algum tempo cansada de ficar recebendo as encaradas, ela disse pra ele “Seguinte Júlio, não quero você olhando pra mim, tô ficando incomodada” e a resposta dele foi um sorriso safado e os dizeres: “É difícil parar de olhar, são tão lindos”, nesse momento ela decidiu que daria uma chance pra ele.
    Eles saíram umas três vezes, na primeira, no hotel Fluminense, na segunda na casa dela e a terceira foi na escadaria do shopping, em todas as vezes Júlio gozou rápido demais; o que fez Paulinha parar de sair com ele e se afastar na hora do serviço, chegando até a trabalhar como faxineira pra se afastar do cara (não queria sair do trabalho, talvez por inércia, talvez pela amiga estar no mesmo prédio, talvez por não acreditar que trabalharia em outro lugar, ela não sabe ainda porque não saiu de lá).
    No mês seguinte a ela ir para as faxinas, Júlio virou gerente, trouxe ela de volta para a montagem de hambúrgueres e começou a cobrar ainda mais empenho dela, é um filho da puta.
    Mas isso foi a oito meses, desde então Paulinha tá no tinder mas só dá match em conta de adolescente punheteiro que ela acaba curtindo quando passa muito rápido e em idosos estranhos, mas finalmente deu match num cara agradável, pensa ela, num cara que pode ser aquele cara; e ele acaba de chegar no prédio.
    ••
    Paulinha passa o batom na boca mais uma vez e desce as escadas, quando chega no saguão e vê o cara parado ao lado do porteiro ela se anima:
    Quarentão, branco, cabelos castanhos bem arrumados, olhos pretos, gordo/forte, ombros largos, queixo protuberante e nariz largo, um homem bruto, charmoso e bem macho.
    — Boa noite rainha — Diz ele beijando as bochechas dela — vamos?
    “Não disse que estou linda…”
    — Boa noite meu rei, vamos sim.
    Ela se sentou no banco da frente, um HB20 branco, e seguiram viagem, ele a levaria até um restaurante de comida japonesa em Mesquita chamado ‘Jappa Temakeria’, haviam poucos pratos que Paulinha gostava da culinária nipônica, mas aceitou sem dizer nada pois o cara parecia entusiasmado em levá-la lá.
    — E ai, animada pra essa noite? — Ele perguntou meio que dando de ombros.
    — Aham, faz tempo que não como comida japonesa — Ela comeu um temaki há três semanas quando Brenda comprou um por entrega e deu pra ela provar e achou horrível, tempo faz é que ela não sai com alguém — tô com saudades.
    — Vai adorar o lugar.
    — Espero que sim, você parece animado em ir pra lá.
    — É, eu gosto bastante.
    — Hum…
    A viagem foi silenciosa, na verdade, o silêncio era muito confortável para Paulinha, ela gostaria mesmo de um companheiro que falasse pouco, mas… sentia que não era isso que estava precisando agora, ele falava bem mais no tinder, será que não gostou de mim?
    Como toda pessoa feia, Paulinha usava fotos antigas em suas redes sociais, talvez nem tão antiga assim mas fotos que elas se sentem “menos feias”, e Paulinha sentia que isso talvez fosse um problema nesse caso: “Ele me viu diferente da foto, viu como na verdade sou horrorosa, com essa banha, essa barriga grande e horrível, essa bochecha gorda e essa cara feia, quem gostaria de alguém assim? Deve estar se sentindo mal por isso…”
    Eles chegaram no restaurante, era um lugar pequeno, um restaurante de beira de rua, sem muitos lugares e meio apertado… mas a comida era realmente boa, ele escolheu todos os pratos do rodízio e Paulinha gostou de tudo que provou, não sabia o nome de nenhum deles e a forma como ela pronunciava virou uma piada entre os dois, uma piada que apesar de Paulinha rir, ficava super incomodada em ser ridicularizada.
    — Como descobriu esse lugar? — Ela perguntou entre uma risada e outra.
    — Meu amigo me trouxe aqui uma vez no aniversário da prima, achei meio pequeno mas a comida sempre me trouxe de volta — Na verdade ele comia uma funcionária, havia conhecido ela no tinder e vinha sempre pra cá buscar ela depois do trabalho, depois que terminaram ele ficou com receio em voltar a frequentar (terminaram mal) mas ao saber que ela havia saído decidiu que seria um bom lugar pra levar mulheres no primeiro encontro, mas essa história não pega bem não é? — gostou daqui?
    — Sim, a comida é ótima e acho que por ser pequeno, os funcionários podem atender mais rápido os clientes.
    — Poxa, não tinha pensado nisso, você tem razão.
    — Claro que tenho — Ela respondeu com um sorriso fechado, não mostrando os dentes “horrorosos! Horríveis! PÉSSIMOS!!”
    Ele sorriu de volta, um sorriso cheio, vivo, talvez sincero; eles conversaram sobre muitas coisas naquela noite, Paulinha contou a história do professor de kickboxing, contou sobre seu pai ter ensinado a ela o Boxe é incentivado ela a treinar, diferente de sua mãe que nunca gostou disso, e contou sobre seu trabalho, pulando a parte do gerente abusador.
    Foi uma noite agradável, comida boa, risadas, sorrisos… “e agora vem a melhor parte.”
    Após ele pagar a conta, entraram no carro e seguiram em direção a Nilópolis, novamente numa viagem silenciosa, tirando um ou outro comentário sobre a noite que ela fazia e ele concordava, passaram pelo centro de Nilópolis, Paulinha já estava preparada para entrar em um dos motéis da região quando ele passou direto, “pra casa dele então!”
    Ele passou pelo viaduto com ela, foi até a rua que ela mora e então… parou em frente a seu prédio.
    — Pode estacionar aqui na rua, ninguém vai multar não.
    — O que? Não não, eu tô indo, só vim de trazer.
    — O que?!
    — Vim te deixar em casa.
    — Você tá falando sério?
    — Como assim?
    — Não gostou da noite?
    — Adorei.
    — Não gostou de mim?
    — Gostei.
    — Teve um dia aborrecido?
    — Não, foi tudo bem.
    — Então porquê não quer me comer?
    Aquilo o deixou sem resposta.
    — Foi a foto não foi? Me achou diferente.
    — Não é iss—
    — Fala logo o que é! — Ela o interrompeu.
    — Olha, você é uma mulher engraçada, gente boa, inteligente, a noite foi ótima, mas… 
    — Mas?
    — Mas eu achei que você era diferente.
    “Não.”
    — Na foto você tá diferente — Ele continuou — Não é que eu não gostei de você, só esperava outra pessoa mais…
    “Gostosa.”
    — Diferente. — Ele concluiu.
    Paulinha ficou olhando para ele pensando “é claro que isso ia acontecer, era óbvio, sempre foi, ninguém fica com alguém gorda e feia que nem você, NINGUÉM, quando aprenderá isso?!”
    Ela então disse: 
    — Ok, boa noite.
    Saiu do carro, entrou no prédio e subiu as escadas.
    ••
    Na manhã seguinte ela acordou com seu despertador para o trabalho, dormiu sem tomar banho, de baixo da coberta estava nua, a roupa que foi para o encontro estava jogada pelo chão da casa e seu espelho estava todo quebrado e espalhado pelo chão.
    Ela desligou o despertador e se levantou, sua coberta caiu no chão quando ela se ergueu para se sentar na cama e enquanto olhava para seus seios e rosados e estrias na barriga, pensava em Tinho.
    “Eu deveria ter o perdoado, deveria ir até ele agora”.
    Ela se cobriu novamente e voltou a dormir.
                           Capítulo 10
                     Excentric
    Durante a noite de encontro de Paulinha e a ida as compras de Brenda, Pedro estava em casa assistindo novela enquanto pensava na vida sem sua caranga.
    Havia comprado o carro a sete anos e desde então foi seu novo melhor amigo, ele que ouvia suas lamentações, que ouvia seus desejos, seus segredos, que o levava até as casadas, até as baladas, até as festas de aniversário do sobrinho, ele que escondia sua arma! Seu revólver que agora fica sem segurança na prateleira de sua sala.
    Obviamente não foi a primeira vez que ele deu problema, Marcão já disse para ele diversas vezes que deveria trocar de carro, ‘Essa bicha é muito velha, Piroca!’ mas Pedro sempre ignorava seus conselhos, tinha carinho pelo carro, ainda tem.
    A novela tava boa quando Pedro decidiu que queria ir na balada no centro de Nilópolis, a Excentric; uma casa noturna com muita música, drogas, sexo e bebidas, tudo de bom! E Pedro tava com saudade de ir lá já havia algum tempo, claro que escolheu um péssimo dia pra matar essa saudade, “justo no dia que a caranga tá ruim?! Porra! “ Mas quem culpa os desejos do coração? ou no caso, os desejos do pau? Tomou um banho, botou uma roupa discreta e foi andando mesmo.
    A Excentric fica próxima ao shopping, na esquina da rodoviária, um prédio grande e bonito, com a faixada de madeira (pelo menos Pedro acha que é) com o nome em prateado; chegou lá as 22h, horário bom pra “observar a floresta.”
    Na fila tem gente de todo tipo, puta, ladrão, estelionatário (ladrão vem vestido), traficante, viciado, mulher bonita e gente de bem; o pai de Pedro havia dito pra ele que uma boa forma de conhecer o povo de uma cidade é olhando pra fila de sua balada, sempre tem um resumo dos moradores lá, é pra Pedro, essa é uma verdade absoluta (assim como muitas das coisas ruins que seu pai havia lhe dito).
    ••
    Não demorou muito para a fila andar e Pedro se deparar com o interior da balada: Som altíssimo, luz baixa, paredes e chão preto, um segundo andar lotado, uma pista de dança no centro menor do que deveria, um sofá preto na parede esquerda (nunca sente lá) com uma esquisita sentada e um barzinho na direita da entrada, “não é a balada que queremos mas é a que merecemos…”
    Dança, álcool e mulher “tudo que há de bom!”, era isso que Pedro queria pra esquecer a briga com a Irmã depois de ter estragado a festa do sobrinho, o muleque não merecia isso mesmo, festa estragada pelo tio vagabundo, ao invés de ir lá e ser um puta tio foda com uma tia tão foda quanto e uma prima gente boa, eu fui lá como um… “Porquê eu tô pensando nisso?! Vamo beber porra!!!”
    E durante uma hora e quarenta e três minutos, após seis cantadas bem sucedidas e dois peitos mamados, Pedro esqueceu seus problemas, esqueceu até mesmo de que não deveria sentar no sofá.
    — Caralho… — Disse numa tentativa de racionalizar a merda que havia acontecido na última hora — Caralho…
    Ele estava balbuciando e voltando a consciência quando olhou pra esquerda e viu aquela mulher esquisita que viu antes; Ela era branca, olhos castanhos escuros, cabelo preto com algumas mechas azuis e vestia preto, deveria ter uns vinte cinco ou trinta anos e tava bebendo cerveja.
    — Boa noite… — Disse Pedro.
    — Boa.
    — Vem sempre aqui?
    — Não.
    — Hm… nem eu, primeira vez…
    Ela permaneceu em silêncio, olhando pro próprio copo.
    — Me diz uma coisa, seu cabelo tá azul ‘memo’ ou são meus olhos?
    Ela sorriu e disse: São seus olhos.
    — Sabia que não podia confiar neles… já me traíram diversas vezes estes pilantras!
    — Deveria procurar um oftalmologista.
    — Um o que?!
    — Um o f t a m o l o g i s t a!
    — Ah, médico de olho! Deveria mesmo, mas já fui enganado por um deles!
    — Sério? Como?
    — No detran! — Pedro odeia o detran — fui fazer o exame pra tirar habilitação e o filho dá puta me fez voltar lá quatro vezes! Quatro! Sessenta reais cada consulta, tudo pro bolso dele!
    — Mais isso aí foi um caso do detran — Disse rindo — outros oftalmologistas não fariam isso.
    — Talvez, mas deixa feia a indústria né?
    — A indústria de médicos…
    — Não, a indústria de médios DE olho! Indústria médica é outra parada.
    — Como assim?
    — Medico de olho não é médico.
    — Ham?! — Ela exclamou, com uma cara de “Me explica isso aí, tiozão”.
    — Medico é o cara que trabalha no corpo todo, se o cara só trabalha com um órgão ele não é médico, no máximo um… mecânico, um pseudo-médico, um médico de olho!
    — Um mecânico! — Ela exclamou rindo pra cacete.
    — É forma de dizer — respondeu rindo também.
    — Tu deve fazer parte da galera que acha que veterinário pode cuidar de uma pessoa.
    — Mais é claro! — Pedro disse sério — Se tu pode cuidar de um macaco tu pode cuidar de humano!
    Ela riu ainda mais e Pedro começou a ver ela com outros olhos.
    “Que sorriso lindo, não tinha reparado nisso… e o cabelo dela é azul mesmo?… ou é a luz?… não, é azul sim.”
    — Qual seu nome? — Ele perguntou.
    — Débora, pode me chamar de Debra.
    — Prazer Débora — Disse extendendo a mão — sou Pedro, pode me chamar de Pedro — Ela não riu, “óbvio, piada de merda!”
    Eles apertaram as mãos e Pedro apertou com firmeza, como seu pai lhe ensinou.
    — E o que você faz, Debra?
    Debra se espreguiçou no sofá e colocou os braços por trás do encosto.
    — Eu sou animadora.
    — Que maneiro! Tu trabalha no que?
    — Faço colorização pra Cartoon Network, mas meu trabalho principal é com tatuagem.
    Pedro reparou que não viu nenhuma tatuagem nela.
    — Nunca vi uma tatuadora sem tatuagem.
    Debra levantou a camisa até a altura dos seios e mostrou na barriga uma tatuagem de uma cobra cercando um mundo, além de reparar na tatuagem, Pedro viu o quanto ela era gostosa, tinha a “barriguinha perfeita” sabe? Nem tão magrinha e nem tão gordinha?
    — Que maneiro! Que bicho é esse aí?
    — É a Jörmungandr!
    — Saúde!
    — Porra — Disse rindo — é a ‘iômungandir’! A cobra da mitologia nórdica que cerca o mundo!
    — Ah, maneiro, muito foda! — Pedro não entendia nada sobre mitologias — ela é gente boa?
    — Depende — Respondeu abaixando a camisa — Tudo depende na mitologia nórdica.
    — Porra, tudo depende até na vida real né.
    — Vida real? — Disse ela franzindo o cenho.
    — Sim ué, vida real.
    — É que pra mim isso é real, a Jörmungandr existe assim como os deuses.
    Pedro ficou chocado e apesar de achar que sim, não conseguiu esconder isso.
    — Você acredita nisso? — Apontando pra barriga dela — Na MITOLOGIA nórdica?
    — Claro, porquê eu tatuaria algo em mim que não acredito?
    — Pessoas tatuam pokemons no corpo e eu duvido de que acreditem que eles sejam reais.
    — Pessoas estranhas.
    — Ok… porquê você acredita?
    — Porquê faz todo sent— Ela se interrompeu com a própria risada — É claro que eu não acredito porra — Disse entre os sorrisos e risadas.
    — Porra — Disse Pedro também rindo muito.
    — Tu levou muito a sério!
    — Você é uma ótima atriz.
    Eles riram tanto que começaram a deslizar pelo sofá até se acomodarem novamente.
    — Graças a deus que tu não acredita nisso, graças a deus.
    Após terminarem as risadas com suspiros de alívios, Debra disse:
    — Eu não acredito em deus.
    — Posso conviver com isso.
    Ela olhou pra ele e completou:
    — Tô falando sério.
    — Eu também.
    Após um silêncio entre ambos que era terrivelmente destruído pelo som da música, danças e risadas da balada, Pedro propôs:
    — Bora no McDonald’s?
    — Bora.
    Pedro e Débora foram lanchar no restaurante que pede moedas para crianças com câncer, ele pediu um BigMac e ela um McChicken por ser vegetariana, após uma longa e divertida discussão sobre se comer animais era ou não imoral (Pedro acredita que imoral não é, mas é de fato ‘zoado’, menos peixes, pois em sua teoria, peixes não tem “alma”), eles foram caminhar pela noite iluminada e badalada do centro de Nilópolis.
    No fim da noite, Pedro a deixou no ponto de ônibus e aguardou com ela o Cabral passar, não tentou dar suas chamadas para motel, não tentou levá-la para seu cafofo, carinhosamente apelidado de “Marmita” e não tentou se convidar para casa de Débora, havia apenas pedido seu número após a conversa sobre peixes terem ou não alma.
                        Capítulo 11
       Uma Cedae abandonada?!
    Paulinha não iria trabalhar hoje, pôs isso em sua própria cabeça, hoje era o dia que começaria sua rotina para se tornar uma linda mulher.
    Ainda sentada em sua cama após acordar se sentindo péssima, ela pegou seu telefone e ligou para seu gerente, demorou um pouco para encontrar pois havia esquecido que tinha salvo o contato como “Demônio maldito” e não seu nome, César.
    — Fala Paula.
    — Bom dia, César. — Não vou dar pra esse cara nenhuma intimidade mínima nessa porra — Hoje eu acordei mal, não poderei ir.
    — Como assim?
    — Tomei uns remédios pra dormir ontem e acordei com dor de cabeça e enjoo, acabei de vomitar meu banheiro todo aqui, sujei tudo, as calcinhas — Íntimo ou não, isso pode convencê-lo — as roupas do varal, tudo tudo tudo! Não tô podendo ir hoje.
    — Pow Paulinha, precisamos de você, não pode ficar faltando assim não.
    — Abre seu computador aí e vê quantas faltas eu tenho cacete! 
    — Acalme-se!
    — Nenhuma! Zero! Nenhuma falta! Tô passando mal, não vem me comprar como se fosse uma funcionária ruim não! Não posso trabalhar hoje e nem pense em me demitir por isso… a meu Deus…
    — O que foi?
    — Vou vomitar.
    Nesse momento ela realmente vomitou, a parte dos remédios e dor de cabeça era mentira, mas a comida japonesa de ontem era verdade suficiente.
    O vômito caiu parte em sua cama parte no chão, sujando o tapete de pano que ela gosta de encostar os pés quando levanta e a fronha que, pra melhorar as coisas, já estava suja.
    — Ah… César… não posso ir, desculpe.
    — Eu ouvi essa… tudo bem, pode ficar em casa, toma um Dramin e se não melhorar vai no Jucelino, melhoras aí.
    — Obrigada, tchau.
    Ele desligou o mais rápido que pode.
    Contornando o vômito, Paulinha se levantou, tentando ao máximo não sujar seu seio esquerdo nem sua barriga com o líquido terrível que saiu de dentro de seu intestino, tocando seus pés no chão frio (bateu saudade do tapete quando limpo), ela foi até o banheiro tomar seu banho antes de sequer pensar em limpar o chão.
    Mais do que muita coisa, Paulinha odiava vômito, seu cheiro, sua aparência viscosa e hedionda, só de ver se sentia suja, e mais do que vômito ela odiava se sentir suja.
    Depois de por a fronha e tapete no lixo e já começar a pensar em comprar novos, Paulinha mandou mensagem para Xandi, seu amigo mototáxi, pedindo para levá-la na mata do Gericinó; Não gostava de lá, por ser muito longe e ter muita natureza pro gosto da Paulinha, mas a vila olímpica estava fora de cogitação.
    Como sempre, Xandi disse que já estava a caminho; Apesar de não curtir pegar um pretinho, Paulinha achava que o real motivo de não ficar com Xandi era esse fato: Ele fazia todas suas vontades, ela gostava de um amigo assim mas alguém pra ser seu homem? “Jamais, um marido que me dê presentes que eu queira seria muito bom, que me leve nos restaurantes mais caros é ótimo, que me leve onde eu gostar de ir e me de as roupas que eu queira seria fantástico, mas literalmente QUALQUER coisa que eu pedir? Como um pau mandado? Não, não curto isso… pelo menos não pra namorar.”
    ••
    Enquanto Xandi passava com sua moto entre os carros com Paulinha sentada na garupa, veio a ela um pensamento: Porquê não ir andando até o Gericinó? Claro que é longe, mas ficar gostosa não era seu objetivo? Talvez andar até lá e lá andar também seja…” não, não faz sentido nenhum, andar lá é o objetivo, andar até lá é suicídio, já é horrível andar com sol quente, pra que andar até lá pra já chegar com vontade de ir embora?”
    Com isso Paulinha chegou à conclusão que fazer exercício para fazer exercício era coisa de idiotas.
    Xandi parou a moto bem na entrada, havia primeiro passado pela entrada lateral, do estacionamento, mas havia inaugurado lá um armazém de peixaria e ele detestava cheiro de peixe, preferiu dar meia volta e vir pela entrada normal.
    Fazia um sol forte nesta manhã e nenhuma das pessoas presentes havia visto que o calor estava a exatos trinta e dois graus.
    — Obrigada, Xandi — Disse ao descer da garupa, ela vestia um short vermelho até o joelho, camisa regata branca e tênis de corrida — quando for embora posso te ligar?
    — Se eu não tiver levando cliente eu venho na hora.
    Pau mandado.
    — Certo, obrigada, tchau tchau.
    — Tchau loirona gostosa.
    Paulinha se virou e foi andando pela entrada gradeada da mata, o caminho sinuoso de asfalto entre a grama aparada e a pequena área de treino logo à frente do edifício de um andar lhe chamaram atenção, ela nunca havia vindo na mata antes? Acha que sim mas não se lembrava, a alameda que se seguia a esquerda era sem fim, com no horizonte um visual bem ‘Rei Leão’, o que já ganhou sua simpatia de cara.
    Enquanto andava pela entrada ao lado do quiosque, viu mais pessoas chegando a pé.
    — Otários… — Resmungou enquanto colocava seu fone e começava sua caminhada.
    Paulinha seguiu pela alameda e viu que o caminho se bifurcava em duas direções, seguiu a da esquerda foi em frente, só parando para trocar de música quando a playlist parava numa chata (e aproveitava esses momentos beeeem devagar, é uma boa desculpa, não?)
    Deem uma folga pra ela, leitores, ela nem sabe que decidiu começar a fazer exercícios no dia mais quente do ano, uma longa pausa pra trocar música é mais do que perdoável.
    Paulinha andou, andou e andou muito, até descobrir que usar camisa branca para isso foi uma péssima ideia, o suor marcava sua pele branca, seu umbigo, sua barriga, suas dobrinhas, tudo; por um segundo ficou preocupada sobre se havia ou não vestido sutiã mas pra sua sorte a Paulinha do passado recente colocou o mais confortável e discreto de todos.
    Neste dia, ela descobriu que havia uma sede da Cedae abandonada por ali, no portão havia uma corrente e o prédio era super sinistro, “daria pra fazer um filme de terror aí fácil fácil” pensou ela, e daria mesmo.
    Quando parou de olhar para a Cedae e olhou para o caminho que teria que fazer de volta… bateu o desespero.
    Calor não definia o que Paulinha sentia, seu corpo estava quente, suas pernas doloridas e sua cabeça não conseguia pensar coisas complexas com clareza, ela só queria beber a água que esqueceu de trazer e pedir pro Xandi… espera… “água que esqueci de trazer?”
    No seu apartamento lá no centro de Nilópolis, próximo ao Fantasy, dentro de sua geladeira da LG, sua água estava gelada, fresquinha e pronta para salvar vidas.
    “Puta que pariu!!!”
    — Ok — Começou a falar em voz alta — Eu posso pedir pro Xandi vir me pegar aqui, talvez possa entrar aqui dentro de moto… faz sentido isso? Entrar aqui de moto? Ah… Paula Guimarães de Mello, você é uma abençoada.
    E começou a andar o caminho de volta.
    Assim como Simba cruzou o deserto para voltar para casa, Paulinha estava cruzando o interminável caminho para chegar a entrada; havia mesmo feito esse mesmo caminho para chegar até ali? Não parecia… estava mais… mais longo.
    Seu joelho estava pouco a pouco se transformando numa máquina enferrujada, movida a poucos movimentos e prestes a quebrar, ela tentava ficar com a cabeça para cima mais sua coluna tendia a posição mais confortável… porquê vim até aqui? Não podia andar até a metade do caminho de e voltar?.. não… todos iriam ver, as mãe com seus cachorros, as crianças com seus skates, as idosas com suas… malditas idosas, como elas conseguem e eu não?
    No meio do caminho Paulinha não aguentava mais, apoiou a si mesma na madeira que separava o além mato do caminho asfaltado, da vida selvagem e a vida civilizada, das aventuras e… espera… Em Senhor dos Anéis, Frodo e seu amigo caminharam de casa até Mordor, (Paulinha não havia lido o livro nem olhado nenhum mapa mas imaginava que a distância deveria ser monstruosa), se aquelas duas crianças conseguiram atravessar um mundo inteiro, eu consigo chegar na entrada do gericinó! Eu consigo!
    ••
    — Um passo de cada vez.. — Era o que Paulinha repetia quase que num sussurro a cada passo dado em direção a salvação (a saída do gericinó), cada passo era mais difícil que o outro, mas pensando em seus personagens favoritos e nos desafios que eles haviam passado, ela continuou andando, andando e andando, até que enfim… chegou na área de treino bem próxima ao portão da entrada, onde uma repórter seguida de uma equipe de filmagem fazia perguntas para alguns transeuntes e pro atendente do quiosque. 
    Paulinha parou para se sentar numa área coberta com duas mesas de Pedra, se sentou na que estava vazia enquanto na outra, adolescentes acompanhavam de longe a reportagem.
    — Aí garotada, — Ela disse — o que tá havendo ali?
    — Uma menina desapareceu, — Disse um menino de cabelo enrolado — dizem que foi por aqui.
    — Com certeza foi por aqui, Daniboy! — Afirmou uma menina magricela de cabelos ruivos — todos viram ela aqui na última vez!
    — Mas ninguém acompanhou ela, pode ter ido embora.
    — Eu também acho que foi por aqui — Disse um meio careca de cabelos platinados — essa mata é muito grande.
    — Tô com o Matheus. — Disse uma branquela de óculos e cabelos negros.
    Ignorando a criançada, Paulinha respirou fundo… um, dois, três… respira… após se acalmar um pouco, pegou seu celular e ligou para Xandi, sem perceber que a bateria estava em 1%, as longas pausas pra música tiveram seu preço, o telefone desligou bem no meio da chamada.
    — O que?! — Disse ao ver a ligação parar de rolar e ao tirar o celular do ouvido e olhar para a tela, viu que seu aparelho salvador havia descarregado.
    Não houve grito de raiva, não houve batida na mesa de pedra e nem mordida no beiço, ela apenas aceitou, com desespero, seu destino.
    — Como cairia bem um sacolé que a Brenda fazia agora… — Disse com uma tristeza genuína.
    Paula Guimarães de Mello se levantou daquele banco como uma nova mulher, uma mulher que seria (teria que ser) capaz de andar todo caminho até sua casa do outro lado da cidade, assim como dois hobbits haviam feito num filme que ela havia assistido.
            Capítulo ‘douze’
                    Malhado
    Pedro acordou com uma chamada de sua irmã, pensou em ignorar novamente, olhou para os lados e percebeu que havia dormido no sofá, quando levantou para se sentar viu umas latinhas de Skol jogadas no chão, “Cara, você é imundo…é, eu sei.”
    O telefone continuava tocando, após uma respirada funda, ele atendeu:
    — Fala mana, bom dia.
    — Bom dia, porquê tá me evitando?
    — Não tô afim de escutar.
    — Ah Pedro… quantos anos você tem? 15?! Não aprendeu até hoje cara? Meio século de idade e continua esse mesmo cara?
    — Era isso que eu não queria escutar.
    — Você tá igualzinho ao papai.
    Isso foi demais pra ele.
    — Ok, tchau mana.
    — Espera… como você tá?
    Observando a latinha de Skol caída no seu tapete, sua arma em cima da cômoda e sua tv desligada na tomada por algum motivo que não se lembra, ele começou a pensar em qual resposta seria a correta, e com um amargor na boca ele respondeu:
    — Indo… e você?
    — Puta, quebrei o carro do Flávio ontem.
    — Cacete, como? — Disse se levantando e caminhando até a cozinha.
    — Fui levar seu sobrinho na pediatra e um cano em baixo carro quebrou.
    — Ué? Como isso? — Disse fechando a porta de seu banheiro no caminho após sentir um cheiro horrível vindo de lá.
    — Eu lá entendo de carro? Flávio levou pro conserto e tão ajeitando lá.
    — Ham… e o Vitinho, como ele tá?
    — Tá bem.
    — Bem mesmo? Pediatra foi para que então? Jogar dama? — Neste momento ele estava com o telefone entre o ombro e a orelha, usando as mãos pra lavar (dar uma molhada boa) na louça.
    — Foi só um exame de rotina, ele vai lá uma vez a cada seis meses… tá com saudade de você.
    — Espero que não só ele.
    — Eu também tô, mas o Flávio ficou meio puto, mais do que eu.
    — Eu também ficaria… quem era o cara?
    — Amigo de trabalho dele, sabe o que aconteceu depois daquela festa?
    — A mulher dele deu uma chave de buceta nele?
    — Quase isso, viajaram pro Caribe, dar uma “Refrescada no noivado” disse ele pro Flávio pelo telefone, noivado? Porquê não casam logo né?
    — O que uma chave de buceta boa não faz, hein? — Disse rindo, ela o acompanhou.
    — Não achei que você fosse dar em cima de alguém na festa.
    — Nem eu, a oportunidade aparece do nada. — Disse secando a louça e abrindo a geladeira, não tinha muita coisa além de meia cartela de ovos, uns saquinhos de hambúrgueres, manteiga quase acabando, metade de um pacote de pão PlusVita e uma caixa de Ades de maçã que ele acabou escolhendo pra matar o amargor na língua.
    — Vem aqui esse final de semana? Bebe uma com o Flávio e eu, assiste um jogo, ficar afastado demais tá parecendo que tu tá com medo de te julgarmos.
    — Eu sei que já julgam, mas relaxa que talvez eu passe ai — De repente se lembrou de Debra na noite anterior — e é… Ana, eu vou poder levar alguém?
    — Desde que não seja uma puta dessas “Boates de Dança” que você visita.
    — Há há, faz anos que não como uma puta.
    — Sei.
    — É sério, pagar é pros fracos — Disse se sentando em seu sofá novamente — Eu conheci uma menina maneira.
    — Menina?
    — Mulher porra — riu — uma mulher maneira, trabalhadora, gente fina…
    — Olha aí, fico feliz com isso, graças a Deus, vai se aposentar com ela?
    Pedro não havia pensado nisso, na verdade, nem gostaria de pensar.
    O que surgiu neste momento em sua cabeça não foi um pensamento de “Me aposentar de comer várias?! Jamais! Solteiro é vida!”, não, longe disso, mas no merecimento; ele merecia uma vida que sua irmã alcançou? Uma família, uma casa, uma mulher que te faça feliz sem que ele a afaste… merece? Fazem anos que não pensa nessa possibilidade.
    Aos 35 ele viu sua irmã se casar, e decidiu que já era hora dele também, porra, já passara da hora; aos 40 viu seu pai morrer, sozinho. A família o amava mas era aquele amor quase que inexistente, entende? Aquele amor que está mais nas palavras do que de fato num sentimento que vem do seu coração, como um primo distante, ou nem distante mas que não mora com você. Você o ama? É seu primo, sangue do seu sangue, mas você o ama? O conhece o suficiente para isso? Sabe de suas ambições, seus desejos, a pessoa que ele é e que construiu para se tornar, seus conhecimentos, preconceitos, maneirismos… saber todas essas coisas e ter um carinho, um afeto por isso, não seria amar? Pedro acredita que sim, e nenhuma dessas pessoas da família realmente sabia sobre seu pai.
    Um homem que afastou sua esposa, seus filhos e parentes, mas que em seu enterro vieram parentes que Pedro nem sabia que tinha, vestidos de preto e sendo gentis com Pedro, sua irmã e mãe, dizendo que os amava e que a família havia perdido uma parte dela, mas que prosseguiria firme e forte após aquele baque; para Pedro, a família nem existe mais, existe uma linha genética bifurcada, com famílias e mais famílias com pequenos núcleos de amor verdadeiro, assim como ele e sua irmã possuem, que sua mãe possuía com eles e que seu pai jamais fez parte.
    “Você está igual o papai… frase cruel de se dizer maninha, cruel.”
    — Espero que sim… vamo vê — Respondeu com um desânimo que veio do nada.
    — Certo, vai trabalhar hoje?
    — Vou, já já vou lá abrir a barbearia.
    — Beleza maninho, vai lá, te amo viu?
    — Também te amo, fala pro Flávio que pedi desculpas pela festa, e diz pro Vitin que na próxima vez que for aí vou levar um presente.
    — Não se promete coisa pra crianças, Pedro…
    — Eu vou levar, relaxa.
    — Ok, beijos.
    — Beijo.
    Desligou seu telefone e ficou sentado olhando pra casinha desarrumada e vazia, como a de seu pai costumava ser.
    ••
    Sua barbearia fica na rua Antônio João Mendonça (em frente ao bar do Sapo Maluco e bem próximo ao gericinó, de onde uma loirona gostosa caminhava para casa); Pedro abriu o salão e deu uma varrida no lugar, por ser seu próprio negócio ele decidia trabalhar só quando quisesse ou precisasse muito, não é uma decisão muito inteligente, mas para um homem que recebe dinheiro do exército por uma aposentadoria acidental, trabalhar quando quer está ótimo.
    O lugar é pequeno, apenas uma cadeira de clientela e cinco bancos de espera, o chão é ladrilhado em preto e branco e o ventilador de teto faz barulho, o que naquele calor de 32° era quase como ouvir o som de uma ambulância, barulhenta mas salvadora de vidas.
    Após arrumar tudo, foi até a entrada e girou a plaquinha para “Aberto” e se sentou no banco de espera aguardando seu primeiro cliente do dia, aquele que irá contribuir para o conserto de sua caranga.
    A clientela apareceu, os muleques de sempre com seus cabelos crespos ou enrolados; Muitas conversas surgiam entre eles e Pedro adorava ouvir e as vezes falar, dizer poucas palavras era o que ele adorava fazer quando cortava cabelo de crianças (com adultos ele mal puxava conversa, a não ser que fossem adultAs), pois dava para elas um ar misterioso, como se Pedro fosse um guru sábio e sempre com boas dicas e poucas (mas ótimas) histórias; elas discutiram sobre os cinquenta milhões da loteria e o que fariam se ficassem milionários, a maioria das ideias era comprar uma mansão, o que para Pedro não teria muito uso, ele não entendia muito bem porquê milionários compravam casas tão grandes, pra quê tanto espaço pra poucas pessoas?! Não precisa ser uma casinha minúscula que ele mesmo mora, mas uma casa maneira com quintal, varanda, talvez um espaço pra piscina, dois ou três quartinhos e uma sala maneira já tá ótimo, sem falar do IPTU que eles devem (ou não) pagar por isso né, mas enfim, ele não quis pensar muito sobre.
    — Pedrão — Perguntou Tiago, um garoto estudioso que morava por ali e que a mãe já havia dado em cima de Pedro — fala aí pra gente, qualé a do teu apelido?
    — Que apelido? — Pedro disse enquanto passava a navalha no pé do cabelo doutro menino — Pedrão? É um aumentativo bem simples.
    — Não se faz de bobo! — Disse um outro rindo como os demais — Tamo falando do Pedro Piroca!
    Alguns riram de soluçar. Pedro terminou em silêncio de cortar o cabelo do menino que já havia quase se cortado de tanto rir e então se virou para lhes contar a história, uma história que ele não se orgulha mas que é até que engraçada e vai dar pra tirar algum aprendizado para esses Zé ruelas.
                    Sub-capítulo
              Muleque piroca
    Seguinte, em 2006 eu tava namorando uma mulher que vou chamar nessa história de… Amendoim. Eu e Amendoim já estávamos ficando desde 2005, mas só assumimos sério mesmo em 2006, quando eu vim a conviver com o…
    “Muleque piroca!”
    Com o filho dela, que vamos chamar de Juninho.
    — Amendoim é mãe do Juninho? — Perguntou um dos garotos.
    Isso ai, agora não me interrompe; a Amendoim havia me dito algumas vezes que tinha receio de levar homem pra casa dela por conta do filho, dizia que ele era “Especial”, eu imaginei uma criança com síndrome de down ou alguma paralisia, ela nunca me explicou muito bem, nem gostava de tocar no assunto pra falar a verdade, o porquê eu só vim a descobrir nos meses seguintes.
    Como eu disse, ela nunca me levava pra sua casa quando ficávamos e nem no início do namoro, era sempre na minha casa ou em hotel, e eu gostava dela pra caralho, de verdade, ainda gosto por sinal mas não tenho coragem de aparecer na frente dela.
    — Terminou tão mal assim?
    O que eu falei sobre me interromper?
    Em 2006 começamos a namorar, bem na época da copa (ela ajudou bastante, tipo casais que se conhecem ou decidem se casar em época de eleição, a festa da euforia altera destinos…) e mais próximo do fim da copa ela finalmente me chamou pra sua casa, onde conheci o Juninho; Corpulento, olhos largos e distantes, barba grosssa e voz atarracada, apesar dos seus quinze anos, o muleque piroca! parecia um homem adulto, porra, ele parecia mais adulto do que eu!
    E não, ele não tinha paralisia e nem síndrome de down, ele tinha… algo mais, eu pesquisei várias doenças mentais que poderiam ser mas nenhum dos sintomas do Google batiam 100% com os dele, Juninho era… alguma coisa bizarra.
    Já vi ele cuspir num cachorro na rua, quebrar o brinquedo que a mãe havia dado pra ele no mesmo dia e começar a gritar e espernear quando trocavam de canal e tiravam do desenho, era um bebê gigante, um bebê cruel e… piroca.
    — É daí que vem o piroca?
    Calma que eu vou chegar lá.
    Bem nessa época fiquei mais na casa dela, fazíamos churrascos com a rapaziada, ficávamos vendo televisão a toa nos fins de semana, algumas vezes eu até dormia lá, e como ela era enfermeira, ficava bastante tempo fora de casa, foi quando passei a conhecer melhor o Juninho.
    Ele não gostava muito de mim, nunca disse isso mas dava pra sacar pelo olhar, quando ela ficava trabalhando eu ia lá dar comida pra ele, fazia um almoço legal pra gente e dava companhia né, mas o muleque por estar acostumado a ficar sozinho só gostava de ficar sentado no sofá vendo desenho o dia inteiro, esse é o mal da porra dessa geração! Escutem o que digo!
    Cansado da televisão pequena da Angé… Amendoim!
    — Angélica?! — Perguntou o garoto antes de começar a rir com os demais.
    Amendoim! Há há! Esqueçam o Angélica! Enfim, eu tava cansado da televisão da Amendoim, pensei em trazer a tv da minha casa que era maiorzinha, mas porra, início de namoro, ela vivia trabalhando, paixonite né, aquela coisa, eu acabei comprando uma televisão pra ela, uma da LG de quase cinquenta polegadas! Enorme! Obviamente eu ia ver o jogo nela, mas o objetivo foi mais agradar ela mesmo.
    Na noite que a televisão chegou ela ficou surpresa pela minha atitude, configurei a tv e fodemos a noite toda como recompensa pra mim, e nada de contar pros pais de vocês que eu disse algo desse tipo hein!
    E foi no dia de um jogo que sinceramente eu nem lembro mais qual foi, a raiva e tensão do dia me fizeram nem prestar atenção, que nosso relacionamento terminou mal pra caralho.
    Eu tava na sala assistindo a copa quando o Juninho saiu do quarto tele, ele disse:
    — Quero ver o ‘cartun netuork’!
    — Agora não Junin, tio tá vendo o jogo aqui, mais tarde a gente vê desenho.
    — Tá passando o desenho que eu quero ver agora.
    — Ele vai passar de novo depois, senta aí, vê o jogo do Brasil com o tio!
    Ele olhou pra tv e sem pensar duas vezes o garoto deu um socão na tela gritando “QUERO VER AGORA!”.
    A tela trincou, a imagem que antes era colorida e bela, estava metade rosa e com linhas brancas subindo e descendo… ah eu fiquei muito puto.
    — Juninho! Que porra?! — Eu disse me levantando e colocando a cerveja no chão quando ele pegou a televisão e tacou no chão pra finalizar o serviço.
    Eu também fiz algo sem nem pensar, eu dei um soco na barriga dele, ele se abaixou resmungando de dor quando eu dei outro no fígado e depois uma cotovelada nas costas, ele se ergueu e cuspiu no meu rosto, foi quando aproveitei o movimento para segurar seu pescoço e empurrar ele de volta pro seu quarto, joguei ele na cama e dei bons chutes na bunda dele e nas costas, quantos foram? Eu não sei, só sei que eu parei apenas quando ouvi ele chorando.
    Tirei a chave da porta e tranquei ele lá por fora, pus a chave no meu bolso e só querendo ir ver o jogo e evitando arrumar a confusão, eu só passei por cima da tv, peguei a cerveja e fui ver o jogo no bar.
    Naquela tarde eu não falei nada, não falei com os amigos do bar, só assisti o jogo mas nem lembro de olhar para ele, pra quem me olhasse de fora veria eu olhando pra tela sem reagir, enquanto aqui dentro de mim eu só tava pensando naquela merda… na televisão quebrada, foi cara aquela televisão, cara pra caralho e a Amendoim não merecia ter sua televisão quebrada, por isso assim que acabou o jogo eu me levantei e voltei pra casa ver se a tv tinha conserto.
    Não tinha, o vidro tava quebradaço e o plástico, ou ferro sei lá, tava todo fudido, aquele maldito tinha acabado com ela e o mais estranho era que ele não tava batendo na porta pra eu abrir nem nada, tava em silêncio lá dentro.
    Por curiosidade eu destranquei a porta e olhei lá dentro, ele tava deitado no mesmo lugar, parado.
    — Só falta você ter morrido agora! Seu viado!
    E ele começou a chorar de novo.
    — Se tá chorando tá bem — Eu resmunguei e voltei pra sala.
    Enfim, quando Amendoim chegou do plantão a televisão velha já tava no lugar, eu disse o que aconteceu sem citar a parte que espanquei o filho dela, ela lamentou o ocorrido, pediu desculpas por ele, ficou quase chorando mas eu dei meu aponho pra ela e mandei aquele papo de “Ele é assim mesmo, tá tudo bem, pelo menos tem você pra cuidar dele” e tal, ela foi lá no quarto dele ver como ele tava e nem reparou nos hematomas, ele tava de cobertor e o quarto tava escuro, naquele momento eu fiquei aliviado por não ter socado a cara do muleque.
    Quando nos deitamos na cama e nos preparamos para dormir, ela veio pedir desculpas novamente, dizendo que eu não merecia isso por ter comprado a televisão, foi quando eu falei o que não deveria:
    — Porquê você não interna logo aquele muleque piroca?
    As reações dos garotos no salão foram diversas, uns ficaram chocados, outro começou a rir e a maioria abriu um sorriso de surpresa.
    — É, eu sei, fiz merda.
    Amendoim gritou:
    — Como é que é cara? Do que você chamou meu filho?!
    — Desculpa — Eu tentei dizer entre os gritos dela, sabendo que eu estava errado.
    — Ele pode ter os problemas dele mas essa casa aqui é dele porra! Minha e dele! Você não vai passar por cima dele não! Antes eu interno você antes de pensar em me afastar dele! Você tá me ouvindo?! — ela se levantou e apontou o dedo pra mim:
    — Quem você pensa que é pra dizer isso pra mim dentro da minha casa?! Falando do MEU FILHO?!
    Enfim, deu uma merda do caralho, ela me expulsou da casa dela e com razão e no dia seguinte me ligou falando que viu hematomas nele e que ia chamar a polícia pra cima de mim, também com razão, por isso eu quebrei meu telefone, joguei ele no rio, troquei de chip e nunca mais apareci em Mesquita.
    Um ano mais tarde um amigo meu, que é meu mecânico inclusive, me perguntou sobre essa minha antiga namorada, e aí eu contei pra ele essa história com a condição dele nunca contar pra ninguém, no dia seguinte Nilópolis toda tava me chamando de piroca.
          Fim do sub-Capítulo
    Os garotos estavam chocados, demorou alguns segundos pra eles começarem a rir da história; Pedro os fez prometer nunca contarem ela para ninguém, e se contarem, trocarem os nomes e não o citarem ele, uma promessa que para qualquer um seria quebrada facilmente, mas para o Pedro, o barbeiro sábio da garotada, seria mantida talvez até aqueles pirralhos virarem adultos.
    Depois de cortar os cabelos dos garotos, Pedro quis dar uma passada em casa para almoçar, almoçaria na rua se não tivesse esquecido a carteira no sofá de casa.
    Ao fechar a barbearia ele olhou para o outro lado da calçada e uma gordinha loirinha estava sentada no chão, suando como se estivesse numa sauna e respirando fundo, ela olhou para Pedro e deu um sorriso que Pedro respondeu com um “Fala aí” e seguiu pra casa sem esperar resposta.
    Ao chegar na calçada de sua humilde residência, novamente reclamando por estar sem carro, ele viu um cachorro parado no seu portão, era um vira-lata preto de olhos amarelos e olhar sorridente; Pedro não o estava reconhecendo até o totó vir correndo na direção dele e pular no seu colo.
    — Ei… Malhado? É você?!
                 Capítulo 13
           Loiros e água gelada
       
    Paula estava cansada, faziam anos que ela não se sentia tão fadigada, a última vez que ela se lembra foi no treinamento antes dum campeonato de boxe que ela participou (e ganhou).
    Sua pele está toda oleosa, sua roupa encharcada de suor e sua camisa branca marcando sua pele, qualquer pessoa de longe consegue identificar o sutiã que ela está usando e as estrias em sua barriga; A pergunta que ela se faz constantemente é: Como eu, uma mulher que pratiquei esporte por mais da metade da minha vida, esqueci desse detalhe da camisa branca?, e essas são perguntas que não possuímos as respostas.
    Seu joelho doía sem parar, aguentar o peso de seu corpo a estava destruindo, cada passo era um esforço a mais que fazia sua alma estremecer e apenas o pensamento reconfortante de que em breve estaria em casa e ia beber AQUELA água, ia comer AQUELE bolo da padaria… espera, teria que passar na padaria antes né? Deixa pra lá então, só água estava ótimo!
    Água gelada, com a crosta de gelo apenas separando a água do plástico, sem pequenos pedaços de gelo quebrado que dificultam o ato de beber, apenas… o gosto da liberdade… da vida.
    Mas isso tinha que esperar Paulinha atravessar metade da cidade, o que estava se provando mais lento do que ela imaginava.
    Ela sabia que bastava seguir uma linha reta depois da saída da mata que ela chegaria em sua casa em algum momento, mas esse ‘em algum momento’ tava foda. Enquanto andava pensava em sua mãe, que assim como as pessoas que olham para ela em sua caminhada, a julgava o tempo todo, desde a loirona gostosa até a atual gordinha ex noiva do Carlinhos.
    — Nunca era o suficiente pra você né, mãe? — Disse em voz alta quando estava mais distante das pessoas nas calçadas.
    Teve um momento em que uma picape passou com quatro caras sem camisas na caçamba, no som deles tocava um funk super alto e o motorista fez questão desbatizar um pouco para buzinar para Paulinha e gritar “Cooorre gordinha! Cooorre!!” Fazendo seus companheiros na caçamba rirem e alguns moradores que observavam em suas varandas e portões disfarçarem os risos.
    Paulinha reagiu com o silêncio, como qualquer pessoa gorda já estava acostumada a humilhações públicas e dessa vez não reagiria diferente, na verdade cansada como estava, até mesmo aceitaria carona daquele escroto se ele oferecesse mesmo que zoando.
    Paulinha não tinha o medo intrínseco a qualquer mulher de andar sozinha, apesar de saber que o mundo é tomado por caras e que qualquer desconhecido é um possível estuprador, ela não se amedrontava, no fundo sentia até que teria o prazer de encarar um de perto pra meter a porrada nele até o cara sangrar, era o que dizia para Brenda sempre que a mesma ficava com medo de andar com ela em alguma rua esquisita.
    Mas essa falta de medo não impediu Paulinha de rezar para nada acontecer no caminho de volta, ela já estava exaurida, dorida e em desespero pleno, não suportaria algo tão terrível, e algo em sua cabeça (que ela preferiu acreditar ser a voz de Deus) disse para ela seguir em silêncio, não falar com ninguém, não responder humilhações ou insultos e apenas seguir em frente.
    Após minutos e mais minutos andando, ela finalmente deu a primeira de muitas paradas para descansar, se sentou num banco de praça. Pegou o celular no bolso e tentou ligá-lo novamente numa vã tentativa e depois olhou para seu reflexo na tela preta, estava toda ensebada e com o cabelo sofrendo por isso.
    Usando o suor para arrumar o cabelo de uma forma menos desagradável, ela guardou o telefone no bolso e olhou em volta, viu uma mãe passar protetor solar no rosto de seu filho, viu uma vendedora trazendo um ventilador pros seus clientes e numa casa de gente rica, viu gente tomando banho de piscina.
    — O quão quente tá hoje? — Perguntou novamente em voz alta mas dessa vez obteve uma resposta:
    — Trinta e cinco graus agora.
    Paula se virou e reparou num homem alto, loiro e bem bonito de pé ao seu lado.
    — Bom dia — ele disse — tudo bem?
    — Tudo sim, bom dia — Disse abrindo um sorriso que foi correspondido.
    — Você veio do gericinó, certo?
    — O que entregou?
    Ambos riram e o cara prosseguiu:
    — Sabe me dizer se tem repórteres mesmo lá? Ouvi dizerem e queria dar uma olhada.
    — Tem sim, pelo menos tinha quando eu estava lá, é sobre uma menina que desapareceu, uma barbaridade.
    — Meu deus, que horrível… espero que encontrem ela, mas acham que foi alguém?
    — Acham sim, esse mundo de hoje tá foda né.
    — Tá sim, tá uma merda — Disse ele com uma empatia sublime, uma preocupação visível nos olhos — Os jovens não podem nem mais andar lá em paz? Que absurdo…
    — É… — Paulinha não soube o que responder, estava ocupada demais encantada com o loirão gostoso.
    — Bem, eu vou lá, e prazer — ele estendeu a mão — sou Léo — mentiu.
    — Prazer, sou Paula — apertou a mão dele com um sorriso verdadeiro — Você vai sempre lá?
    Ele demorou alguns segundos para formatar a resposta:
    — Vou sim, tentar manter o corpo né, e você? Tá indo também?
    — Sim, comecei recentemente, tentando ficar menos horrorosa.
    — Que isso, não fala assim, tu é mó gostosa.
    — Sério? — Disse rindo.
    — Sério pow, loirinha, simpática, não se reprime não.
    — Esqueceu a parte do gordinha.
    Ele sorriu e sussurrou:
    — Mais partes pra pegar.
    Paulinha deu um olhar malicioso e foi respondida da mesma moeda, até que ele finalizou:
    — Mas eu vou lá, quero ver esses repórteres, se um dia a gente se vê lá conversamos mais.
    — Show, vai lá loirão.
    Ele riu e disse:
    — Tchau loirona!
    E essa foi a primeira vez que Paulinha teve contato com Sailson.
    ••
    Sua jornada estava longe de terminar, em uma de suas paradas para aliviar o joelho, ela reparou num cara de talvez uns cinquenta e poucos fechando uma barbearia, também era gatinho por isso Paulinha deu um sorriso pra ele, o cara a encarou por alguns segundos com cara de tacho e enfim disse meio sem jeito:
    — Fala aí.
    E saiu andando.
    — Filho da puta… — Resmungou Paulinha.
    Ao longo do progresso foram muitas paradas.
    Num mercadinho, num bar, na parede do Habibs, na rodoviária, no viaduto, até mesmo na padaria na esquina de sua casa, Paulinha aproveitou cada parada o máximo que pode até que finalmente chegou em seu prédio.
    Olhar para ele era difícil, tão alto e tão… salvador… Paulinha estava já delirando de cansaço, e foi na escada que ela teve vontade de matar um; Em momentos como esse, quando se está muito perto de um objetivo que precisou de muito esforço para acontecer, a ansiedade aumenta até o limite, e quaisquer esforços para te impedir de chegar nesse objetivo você retalha com seu ódio mais profundo, no caso de Paulinha os esforços eram seus ossos.
    Ela chegou a dar um soco em sua própria coxa num excesso de raiva por não conseguir subir a escada como queria, apesar de morar no primeiro andar ela estava demorando mais do que pretendia, e quando finalmente chegou em seu apartamento ela chorou, lágrimas de vitória, finalmente os Hobbits haviam queimado o anel no vulcão.
    Rapidamente fechou a porta, tirou a roupa suada inteira ficando completamente nua e abriu a geladeira e bebeu a garrafa de água inteira, quer dizer, quase inteira, parte da água ela usou pra jogar na própria pele.
    Pós o telefone pra carregar e partiu para tomar um banho que merecia.
    Desse dia em diante, Paulinha nunca mais saiu com o telefone com no mínimo 70% carregado.
                Capítulo 14                       
           Tentando algo novo
    Brenda está na Via-Light, mesma rodovia onde Pedro atravessava no início desta crônica, a diferença é que ela está com sua moto indo no sentido contrário, em direção a Nova Iguaçu, lar dos Iguaçuano.
    Brenda tem uma entrevista de emprego marcada, na noite anterior foi surpreendida por isso quando seu irmão Marcos foi até seu quarto com a novidade, disse que algum cliente estava precisando de uma nova atendente pra loja de roupa dele e que o cara pagava bem, Marcos juntou um mais um.
    Sua euforia foi tanta com a possibilidade de um emprego melhor que aquela porcaria de vendedora de perfume que nem mesmo ligou para seu gerente avisando a falta, no fundo sabia que estava errada mas quis se dar esse prazer.
    Brenda chegou em Nova Iguaçu as 8:27 da manhã, atravessou os corredores de carros com sua moto com precisão (como sempre fazia) e nem mesmo precisou de gps, lembrava o endereço de có.
    Com sua motoca ela passou pela Art-Pão, seguiu à esquerda e entrou nas vielas do centro, entrou no calçadão e passou pelas lojas de beira de calçada até encontrar o estacionamento ao lado da farmácia. Depois de deixar a moto em segurança, seguiu as instruções de Marcão sem pegar no celular para conferir (queria se desafiar), seguiu sempre pela direita, entrou na principal entre os grandes varejos, virou a direita após as Lojas Americanas, virou uma vez para a esquerda e outra para a direita e finalmente alcançou a loja de roupas.
    Foi recebida por uma senhora no balcão.
    — Bom dia, sou Brenda, o senhor Bruno marcou uma reunião comigo.
    — Bom dia Brenda, o senhor Bruno não está, passou mal esta manhã—
    — Ah que pena.
    — Mas seu sócio Felipe está lá em cima, vou dar uma ligada pra ver se ele realiza sua reunião, tudo bem?
    — Poxa, obrigada.
    As duas cruzaram sorrisos e a senhora ligou para o andar de cima, uma voz atendeu e o sorriso da senhora se foi na mesma hora.
    A conversa foi rápida, se resumiu a “Senhor Fernando, a Brenda, que marcou uma reunião com o seu Bruno tá aqui, mando ela subir?” E um rápido “ok, já mando”, ao desligar o telefone o sorriso tímido voltou:
    — Ele a aguardava, pode subir.
    — O nome dele não era Felipe?
    — É sim, mas ele não gosta de ser chamado assim, prefere Fernando.
    — Ok… obrigada novamente.
    Brenda subiu as escadas terrivelmente íngremes que qualquer pessoa mais gordinha desistiria só de olhar, se pegou imaginando Paulinha na sua situação e deu um sorriso quando imaginou ela dizendo “desisto do emprego, vô nessa”.
    Ao chegar no segundo andar, viu armários e mais armários com roupas ensacadas, duas meninas que nem repararam nela estavam empacotando algumas peças e colocando tudo no canto da sala, o corredor que se seguia após isso dava num escritório enorme com duas mesas, uma pequena e mais escura que ficava na janela e uma enorme e iluminada que estava bem no centro, onde seu entrevistador é possível futuro chefe a aguardava.
    Fernando (Ou Felipe) era enorme, um corpo hostil, um olhar uniforme, mãos assustadoras e fez Brenda se perguntar o que ele fazia quando alguém lhe chamava pelo nome que não gostava… e qual era mesmo?! Não consigo me lembrar! O nome dele é Felipe mas prefere ser chamado e Fernando ou o contrário?; Ele ergueu seus óculos da ponta do nariz até encontrar o lugar mais confortável e olhou para Brenda com seus olhos negros de boneca.
    — Olá, Brenda.
    — Olá senhor… bom dia.
    — Bom dia, sente-se por favor.
    Devagar e sem tirar os olhos do olhar inexpressivo e sinistro de Fernando ou Felipe, Brenda se sentou na cadeira em frente a mesa.
    — Trouxe seu currículo, Brenda? — Ele diz bem devagar.
    — Trouxe sim, senhor.
    Com relutância visível, abriu sua bolsa e tirou o currículo e o colocou sobre a mesa, ignorando a mão de Fernando ou Felipe que esperava receber o papel.
    Felipe ou Fernando estava com a mão no ar ainda, seu olhos encarando o currículo que foi posto na mesa, e rapidamente voltou seus olhos para os de Brenda que estava tensa, ele desceu sua mão até o currículo e começou a lê-lo, olhando para Brenda por cima do papel uma vez a cada 10 segundos.
    — Algum problema, senhor?
    — Hm?
    — Está lendo meu currículo a bastante tempo.
    — Ah, é porquê ele é bem interessante, aqui diz que você trabalhou por três anos como vendedora de perfumes na perfumaria Souza, e que largou recentemente… porquê?
    — Senti que deveria explorar outras áreas, estava me sentindo sufocada lá, fazendo a mesma coisa sempre.
    — Entendo…
    Um silêncio sepulcral se instalou, ele continuou lendo e relendo o currículo de Brenda, sem fazer perguntas, as olhadas por cima do papel ficaram menos frequentes e Brenda se perguntava se ele a estava testando ou apenas pensando em como a matar.
    — O senhor é sócio do Bruno desde sempre?
    Ele ficou surpreso com a pergunta.
    — Sim…
    — Como é criar um negócio? Já li que no Brasil 60% dos empreendedores entram em falência no primeiro ano.
    — É difícil mesmo — Ele abaixou o currículo e o colocou na mesa abaixo de outra papelada — as tarifas, salários de funcionários, o gasto em propaganda, nos primeiros dois anos a loja nem mesmo dava dinheiro pra se pagar, tivemos que bancar sozinhos com ajuda do banco e de dinheiro guardado, foi bem complicado.
    — Nossa, e vocês conseguiram superar essa.
    — Conseguimos — o olhar de Fernando/Felipe já estava bem menos ameaçador — e ficamos muito felizes com o que temos hoje, claro que temos responsabilidades com as pessoas que dependem de nós, mas ser seu próprio chefe não tem preço.
    Brenda deu um sorriso pela primeira vez naquele escritório, que Felipe/Fernando retribuiu com vigor.
    — Bem Brenda, o que te fez querer trabalhar aqui?
    Ela não respondeu, seu olhar parecia agora o de uma mulher decidida, por um momento Fernando/Felipe pensou ter visto uma pessoa importante sentada diante dele, naquele momento Brenda estava pensando em algo, talvez maluco, mas que seria um passo muito importante na sua vida.
    — Na verdade senhor Felipe, eu não quero, assim como o senhor e seu amigo Bruno, quero ser dona de mim mesmo.
    Felipe que gostava de ser chamado de Fernando olhou para ela com um princípio de raiva, talvez até mesmo fosse atacá-la, mas algo mudou sua percepção naquele momento.
    Algo mudou.
    Brenda apertou sua mão, desceu as escadas e foi embora para casa; no caminho, passou no mercado e comprou alguns ingredientes, no calçadão de Nilópolis ela comprou sacos plásticos e ao chegar em casa, foi até a cozinha começar sua nova empreitada.
                        Capítulo 15
            Amizade verdadeira
    “Vem” é uma palavra poderosa.
    Em 2003, Pedro era sargento de armas do trigésimo sexto batalhão de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Foi lá que conheceu Malhado, o vira-lata que chegou ao batalhão com apenas seis meses e tornou-se o mascote da unidade.
    Ele era cuidado pelos recrutas nos momentos de folga, mas não demorou muito para que Pedro e o cachorro desenvolvessem intimidade. O cão passou a andar mais próximo dele, sempre observador e silencioso.
    Enquanto liderava os treinamentos, Malhado o acompanhava lado a lado, ganhando fama entre os soldados como "O cão do sargento". Até que o próprio Pedro começou a chamá- lo de "meu cão".
    Malhado não era agressivo, não tinha passado por nenhum tipo de adestramento e nem mesmo servia para amedrontar os recrutas. Ele era simplesmente o amigo fiel do sargento, sempre presente, seguindo-o em silêncio.
    Em seu quarto Pedro conversava com Malhado, claro que ele não podia entender mas reagia à cada fala.
    — E então eu disse pro meu velho: Olha só seu filho da mãe, você é foi um péssimo pai e eu não vou ser igual a você! NÃO VOU!
    E Malhado arregalava os olhos e fazia um gesto como se confirmando, para Pedro era o suficiente.
    Essa relação durou dois anos, até que Pedro fez alguma merda.
    Malhado estava deitado ao lado da cama do seu dono no batalhão, quando Pedro entrou a noite sem sua farda, estava suando, com roupas comuns e fedendo a… pólvora?; Pedro pegou uma mala e começou a arrumar suas roupas nela.
    — Seguinte garoto, vamos embora daqui.
    Malhado continuou o encarando.
    — Aconteceu uma parada sinistra, eu te contaria mas é melhor não né? Evitar falar coisas assim é sempre bom — Estava bem aflito, respirando pesado e com certa pressa — Vamos embora, eu e você! Voltar pro Rio, lá é legal, tu vai curtir, é bem quente mas tem gente boa, arrumamos alguma coisa por lá, minha irmã não vai deixar a gente na mão… não vai… não vai.
    Pedro tirou um revólver .38 de um esconderijo no fundo do guarda-roupas e colocou na parte de trás da calça, fechou a mala e colocou um boné preto.
    — Vem Malhado, vamos dar o fora dessa porra.
    Malhado sempre o segue quando ouve o som “Vem”, é o som que os humanos fazem e parecem gostar quando ele começa a andar atrás deles após isso.
    Estava bem escuro, as luzes nos postes do pavilhão criavam sombras nas tendas e nos muros, sombras que Pedro usou bem; Com Malhado sempre atrás, eles se esgueiraram por todo o lugar, por um momento Pedro sentiu medo (mais do que o que já estava) e sacou o revólver enquanto se escondia atrás de um pilar, mas o guarda passou direto por eles felizmente.
    Quando se aproximaram do muro que já tinha uma corda preparada na parte mais isolada e escura do pavilhão, Pedro jogou a mala do outro lado e começou a preparar a corda; Um alarme começou a tocar, para Malhado o som era insuportável como todos os alarmes do lugar, mas não era o único som que ouvia: Malhado ouviu homens acordando e suas camas rangendo, armas sendo preparadas e homens gritando sem parar, muitos e muitos passos e pisadas fortes no chão, algo estava acontecendo.
    Pedro amarrou a corda ao redor de Malhado, entre as patas e na barriga, subiu o muro com um esforço considerável, já estando sentado em cima do muro ele puxou Malhado pra cima, torcendo muito para que não tenha machucado seu amigo (e realmente não machucou), segurou o cachorro nas mãos e pulou para o lado de fora aterrizando todo desengonçado mas sem ferir Malhado.
    — Bora garoto, estamos quase lá!
    Desamarrou a corda, guardou na mala e começou a correr em direção as casas da vizinhança.
    Malhado corria ao seu lado sem parar, até mesmo desacelerou para acompanhar melhor seu dono humano que estranhamente corria em apenas duas patas, nesse momento Pedro estava desesperado, dava para ver o pavor em seus olhos iluminados pela lua, as casas estavam todas escuras, algumas pouco iluminadas por postes e outras com um cômodo ou dois com luzes acesas, e foi nessa penumbra entre as vielas que Pedro e Malhado entraram, Malhado não sabia mas Pedro tinha um lugar pra se esconder, ele tinha um objetivo.
    Após correrem seis quadras sem parar, Pedro pulou um muro onde já tinha um buraco feito bem da largura de Malhado, que seguiu seu dono sem pestanejar, do outro lado eles se esconderam num mato alto.
    — Chegamos amigão, vamos ficar aqui um pouco…
    Ele abriu a mala e tirou um pote de plástico que encheu com água de uma garrafa.
    — Aí, bebe, você merece, sei que não é um peixinho maroto que você ama mas é o que tem.
    Malhado bebeu aquela água como nenhuma outra, correr seis quadras é muito até para um cachorro.
    Pedro bebeu até acabar sua garrafa, depois pegou uma barra de cereal e dividiu com Malhado.
    — Malhado, vamos ficar aqui até de manhã ok? Vai passar um trem aqui, já combinei com o motorista, não é motorista o nome né? Enfim, dele dar uma desacelerada aqui pra gente entrar, hoje a noite ainda a gente chega na rodoviária lá da… da outra cidade e… e… até o fim do mês chegamos no Rio.
    Malhado confirmou com a cabeça.
    — Foi mal amigão, não aceitam cães em avião, não do seu tamanho, e não é muito seguro pra gente também.
    Malhando deitou em cima de sua perna.
    — É garoto… eu fiz merda, mas tudo tem um recomeço, claro que o recomeço vem depois de uma punição e tal, mas eu vou pular essa parte.
    ••
    — Vem Malhado.
    A palavra mágica foi dita e Malhado levantou na hora, Pedro já estava de pé, pegou a água que sobrou do Malhado e jogou no próprio rosto, limpou as remelas dos olhos e esfregou a água no cabelo.
    — Bora, o trem tá vindo!
    Malhado podia ouvir o trem chegando, o som incessante da máquina vindo em todo vapor, Pedro pegou sua mala e se preparou para correr e saltar.
    — Garoto, vou precisar que você pegue minha mão quando eu pular ok? Ou pula antes de mim!
    Malhado o encarava.
    O trem chegou na visão de Pedro, ele pulou e gesticulou na direção do “motorista”, mas ele não buzinou em retorno como deveria.
    — Estranho.
    E não parecia desacelerar.
    — Porra, porra!
    O trem vinha imparável, mas suas portas estavam abertas, mostrando que não estava lotado mas tinham pessoas o suficiente pra Pedro ter que ficar de pé no vagão.
    — Ok garoto, vamos ter que se esforçar um pouco mais! No três a gente corre e pula!
    O trem vinha em alta velocidade.
    — Um!
    Malhado olhava para o trem.
    — Dois!
    As pessoas nos vagões encararam o homem estranho com um vira-lata se preparando para correr.
    — Três! Vem!
    Malhado correu atrás de Pedro, eles correram o máximo que puderam, até Malhado passou de seu dono e se aproximou do vagão, as pessoas olharam e deram espaço para eles entrarem, brasileiro não quer confusão com estranhos fazendo coisas estranhas, mas diferente de Pedro, Malhado não sabia o que deveria fazer quando chegasse perto do trem.
    Pedro pulou e entrou em cheio no meio do corredor do vagão, as pessoas o encaravam como se ele fosse um alienígena mas ele ignorou, apenas olhou para trás e viu Malhado o seguindo do lado de fora.
    — Pula garoto! Vem!
    A palavra mágica, Malhado seguiu como sempre deveria fazer quando a ouvia, mas estranhamente seu dono continuava repetindo essa palavra sem parar.
    — Vem garoto! Pula! Vem na minha mão!
    Malhado corria sem parar e via seu dono ficando cada vez mais distante.
    — Vem Malhado! Vem!
    Mas malhado não alcançou o trem e ficou para trás.
    Ainda podia ouvir Pedro gritando, mas sua voz estava misturada com a de várias outras pessoas e o som do trem andando, até que se perdeu.
    Malhado finalmente parou de correr, ouviu o som do silêncio tomar a linha e olhou em volta pra ver se achava Pedro, se ele havia pulado do trem ou ido parar em outro talvez? Mas não o encontrou, apenas sentia o cheiro do álcool e principalmente o cheiro de sua água na testa e nos cabelos de seu dono, e foi isso que ele seguiu.
    ••
    Malhado seguiu a linha por todo o resto do dia, quando o sol já estava se pondo ele chegou numa estação com outros quatro trens iguais ao que seu dono havia pulado, ele subiu na plataforma e foi olhar nesses trens mas não achou Pedro, somente assentos com cheiros estranhos de suor e milhares de humanos indo e vindo do lado de fora.
    Ainda seguindo uma fagulha de cheiro que assemelhava ao seu dono, Malhado foi parar numa rodoviária, viu vários ônibus com humanos entrando e saindo, percebeu que ônibus chegavam, ficavam ali parados e os que já haviam chegado antes partiam, talvez Pedro havia entrado em um deles? Malhado não sabia, não havia como saber até porque era um cachorro, mas por algum motivo acreditava em seu interior que sim, por isso seguiu o ônibus que estava saindo.
    Correu atrás dele sem parar, o ônibus passava por ruas e mais ruas, lotadas de carros e de pessoas, e estranhamente nenhuma delas era Pedro, até que o ônibus parou e suas portas abriram pra algumas pessoas entrarem, Malhado subiu as escadas junto delas mas lá dentro os humanos eram maus, alguns humanos pequenos gritaram quando ele entrou e uns mais velhos jogaram coisas nele, até que um bem alto o chutou pra fora, Malhado não entendeu porquê foi tratado tão mal, só estava querendo ir com eles até onde seu dono poderia estar.
    Mesmo não sendo bem recebido lá dentro, ele continuou seguindo a máquina de várias rodas, rua após rua, cidade após cidade, até que viu uns homens parados ao lado de uma van, os homens estavam vestidos com as mesmas roupas que usavam lá no pavilhão, com armas e tudo mais, e falavam com um motorista que apontava pra eles algumas direções, bem, seu dono era um desses homens, porque não segui-los agora?
    ••
    Malhado está comendo um frango que achou no lixo, os pelos brancos do seu focinho ficam imundos com o molho e os pedaços da comida, uns outros cachorros se aproximam ao ver o lixo derramado e aberto mas Malhado rosna pra eles, seu olhar bem mais agressivo os espanta, ninguém mexe com ele agora.
    Após comer e limpar seu focinho com a língua, ele continua andando sem rumo, chega numa ponte e pensa em contornar por ela (ele odeia pontes, o som ali é horrível), mas o contorno é longo demais e ele acaba passando por ali mesmo, pelo menos a ponte é curta.
    Três carros passam por ele e acabam com seus ouvidos, logo depois da ponte ele olha para o lado esquerdo e enxerga um desenho numa grama feito de pedras, interessante os humanos usarem pedras pra desenharem.
    O desenho é de um beija-flor, e ao lado está escrito “Bem vindo a Nilópolis, nossa cidade, nosso orgulho”, mas Malhado não sabe ler então ignora as palavras.
    Ele caminha por toda a rua principal até chegar numa praça com um chafariz, que ele obviamente pensa em usar pra se lavar mas ao ver os humanos ao redor ele hesita e decide ir embora; Após subir uma escadaria ele vê que dessa vez está por cima de uma “ponte”, é que lá embaixo tem trens passando, trens! Será que… bem, ele não sabe de essa chance existe, na verdade ele nem mesmo sabe o que é uma “chance”, mas o conceito por trás dessa palavra tem algum sentido em seu interior, então ele continua para o outro lado da cidade.
    Ele anda, segue por lojas, praças, prédios e mais prédios, em todos esses anos como andarilho Malhado já viu de tudo, o suficiente pra saber que os humanos é que mandam, eles que tomaram tudo, tudo e absolutamente tudo é deles, não tem porque se rebelar ou morder algum, eles sempre irão vencer.
    Quando começa a anoitecer ele vai a procura de um lugar pra dormir, acha uma rua lotada de tendas ainda sendo formadas e decide dormir ali perto.
    No dia seguinte ele acorda com centenas de humanos ao redor, andando pra tudo quanto é lado e gritando, gritando muito.
    Malhado odeia acordar por causa de vozes humanas, mas fazer o que né, ele segue andando para frente e após seguir por ruas e mais ruas sem fim, num calor terrível que o faz se perguntar (ou algo próximo a um pensamento questionador), ‘como esses humanos vivem assim?’, ele chega até frente de uma casa meio feia, com muro mal acabado e um cheiro forte de… de… pólvora… amônia?, álcool…
    Malhado não tem certeza, ele bate umas vezes no portão e nada, então decide esperar, em algum momento alguém irá sair e ele irá saber se seu dono está ali ou não… alguém irá aparecer.
    Mais tarde ele ouve passos na calçada, já ouviu vários passos nessa calçada hoje mas esses eram diferentes, ele conhecia esses passos.
    Malhado olha para o lado e vê ele, Pedro, um pouco diferente mas é ele, É ELE.
    Malhado corre e pula em cima de Pedro o derrubando no chão, começa a chorar de animação se esfregando em seu DONO.
    Se o que ele pensava pudesse ser chamado de pensamentos, seriam: “É ELE, É ELE! Eu vim! Eu vim! EU VIM!”
    E Pedro ainda sem saber como reagir, diz:
    — Ei… Malhado? É você?!
    Malhado não parava de se esfregar em seu dono, até que Pedro o pegou em seus braços e deu um forte abraço enquanto suas lágrimas eram esmagadas pelos pêlos de seu grande amigo.
    — Você veio amigão, você veio.
    Este capítulo foi inspirado no clássico ‘A Dança da Morte’ de Stephen King.
                Capítulo 16
           Conselho de amiga         
           
    Paulinha acordou já correndo para o banheiro, sua suspeita é que o bolinho de padaria que ela comeu em seu “pós-treino” não bateu bem; Ela já foi uma atleta, já lutou boxe profissionalmente e já foi acostumada a manter uma forma atlética, sabe muito bem que o bolo que comeu ontem como um ato desesperado de “eu mereço” por seu dia tão cansativo não irá ajudar em nada na sua tentativa de se manter em forma, muito pelo contrário, mas preferiu se enganar como já vem fazendo nos últimos dez anos.
    Foi pro banho, escovou seus dentes (enquanto tomava banho), colocou sua roupa para ir para o trabalho, pegou sua bolsa e celular carregado, sua chave e…
    “Eu não quero ir… eu não vou.”
    Ela voltou para seu quarto e pois uma roupa mais bonita, algo que não fosse o figurino de uma máquina padronizada industrial, algo vivo.
    Paulinha saiu de seu apartamento em um vestidinho vermelho curto, óculos escuros, uma bermuda jeans e completando com um par de chinelos brancos; Pegou seu celular para chamar uma carona mas por algum motivo que nem ela mesma conseguiria explicar, talvez por uma mistura de pensamentos positivos quanto a sua saúde ou por uma forma de compensar pelo bolo, ou talvez apenas por que sim, como muitas coisas na vida, ela pôs o celular de volta no bolso e foi caminhando.
    ••
    A casa de Brenda estava uma barulheira, o som de um liquidificador já é bem alto mas Brenda colocou logo os dois que ela tem para funcionar, ela fica em um e seu filho em outro.
    — Filho!
    Ele não ouviu.
    — Ô MULEKE!!!
    — O-Oi mãe!
    — Vai lá ligar o rádio! Quero ouvir um som!
    — Não vai dar pra ouvir é nada com o rádio e esses liquidificadores ligados!
    — Tô nem aí, ninguém vem aqui mesmo! 
    Ele chega na cômoda onde fica o rádio e pega a maletinha azul de CDs.
    — Qual você quer, mãe!
    — O que?!
    — Oi?!
    — QUE QUE É?!
    — QUAL A SENHORA QUER?!
    — BOTA O IRMÃO LÁZARO AÍ PRA GENTE!
    — BELEZA!
    Ele abriu a maletinha, pegou um CD branco com ‘Lázaro as melhor1’ escrito á marca texto e colocou no rádio.
    Para a sorte de Paulinha, no momento em que ele estava voltando para a cozinha, por algum motivo também sem explicação, ele olhou para o lado, para a janela, onde viu através do vidro uma forma estranha se movendo, parecendo uma pessoa, então se aproximou da porta e abriu a portinhola, conseguindo ver a Paulinha muito puta batendo no portão.
    Brenda estava colocando o conteúdo rosa do seu liquidificador num saquinho plástico que havia preparado quando viu sua querida amiga entrando em sua casa.
    — Que barulheira é essa nessa casa?! Tô mó tempão no portão! — Disse Paulinha, Brenda ficou encantada em quanto que a voz de Paulinha consegue se destacar com tanta facilidade aos sons do liquidificador e a voz do Irmão Lázaro no volume máximo.
    — Amiga! O que tu tá fazendo aqui?!
    — Vim te visitar ué! Quer que eu vá embora?!
    — Claro que não! — Disse rindo — Vem cá me ajudar, FILHO! Tu fica com os saquinhos agora!
    Paulinha olhou pro formato dos saquinhos, viu os leites condensados abertos e fechados na pia e o monte de tang de diferentes sabores na mesa.
    — Tu tá fazendo sacolés?!
    — Uhum! vou vender!
    — Menina! arrasou! Finalmente seguiu minha ideia né?! — Bateu no ombro do filho da Brenda e disse — Eu que passei essa visão! Que tua mãe tinha que vender esse ouro aí que ela faz!
    — Eu e o tio Marquin já falamos pra ela várias vezes também.
    — Cala boca que fui eu que dei a ideia, e já falei que não quero dar pro teu Tio!
    Ambos riram e ele disse:
    — Eu não dis—
    — Xiu que agora é só adulto falando! Te ajudo em que garota?! Só falar!
    Brenda a ensinou a colocar os ingredientes na ordem certa no liquidificador e a despejar na jarra lavada pro filho por nós saquinhos e fechar, fizeram isso pelo resto da manhã enquanto ouviam a inconfundível voz do Irmão Lázaro .
    ••
    Vou passando pela prova dando Glória a Deus! Gloria a Deus! Glória a Deus! 🎶
    A produção de sacolé sofreu uma pausa para o almoço, Brenda começou a preparar os pratos e por no microondas, seu filho abaixou o volume da música e foi para o quarto enquanto Paulinha se sentava e começava a conversar com sua querida amiga sobre essa nova empreitada.
    — E ai Loirona Gostosa — Disse Brenda, aliviada por não precisar mais gritar — Porquê não foi trabalhar hoje?
    — O César me deu uma folga.
    — Olha aí hein, tá podendo com o gerente.
    — Pois é, mas me conta aí, porquê começou a vender sacolé do nada?
    — Eu… eu saí daquele emprego no shopping.
    — Sério?!
    — Sim, sabe a real é que eu não aguentava mais, não me sentia feliz ali, não me sentia bem.
    — Queria fazer algo que goste?
    — Olha amiga, eu queria dizer que sim mas… mas eu só…
    Apesar de saber o porquê que estava fazendo o que estava fazendo, ela não sabia explicar ao certo a veracidade de sua escolha, era uma mistura de vergonha e insegurança quanto a vida que estava escolhendo seguir.
    Paulinha olhando para a amiga, a mulher que nem ao mesmo se lembra com precisão quando a conheceu, como uma familiar que você apenas aceita que faz parte de você e não importa como aconteceu, reconheceu a confusão em seus olhos e apenas assentiu, pegou em sua mão e não exigiu mais respostas, não exigiu demais pensamentos, apenas disse:
    — Relaxa, vai dar tudo certo… esse garoto vai longe.
    Brenda abriu um sorriso largo.
    — Vai, não é?
    A acalorada conversa foi interrompida pelo alerta do microondas.
    — Chama ele pra almoçar aí — Disse Brenda.
    — Ô MULEKE! VEM ALMOÇAR!!!!
    Depois do almoço, Brenda e Paulinha continuaram a preparar sacolés, ao todo foram cinquenta, tomando todo o freezer de Brenda; Após isso, as duas amigas foram para o calçadão onde Paulinha dizia que conhecia uma loja excelente para comprar plásticos de sacolés e os demais ingredientes pela metade do preço do Prezunic, mercado bem popular do centro da cidade.
    Enquanto atravessavam pelo túnel por baixo do trem que divide a cidade no meio, passaram por um mendigo apelidado pelos moradores de “cheiroso”, morador de rua que fazia todos tamparem suas respirações sempre que passavam por ele.
    — Aiai — Disse Paulinha após voltar a respirar — eu vou te contar viu.
    — O que foi?
    — As escolhas que as pessoas tomam.
    — Tá falando do cheiroso?
    — Sim, eu tô falando do cheiroso.
    — Não acho que sejam escolhas.
    — Imagina se não fosse.
    — Que isso amiga, não sabemos a vida das pessoas, não acho que seja justo julgar tão facilmente assim.
    Paulinha refletiu por alguns segundos antes de dar sua resposta e concluiu que Brenda, como sempre, estava certa.
    — Quer saber, você tá certa, foda-se, talvez ele não pode controlar o destino.
    — Exato, poxa.
    — É, pode ter sido abandonado, perdeu alguma aposta, fez escolhas erradas no trabalho, com a família, sofreu pressão dos pais sei lá.
    — Esse negócio de pressão dos pais é complicado sabia, eu vivo me avaliando pra não pegar pesado demais.
    — Ah eu sei bem disso, minha mãe mesmo falava que eu poderia ser o que eu quisesse: cardiologista, pediatra, ortopedista, cirurgiã… era foda, mas nem por isso virei mendiga né, apesar que com aquele salário do Bob’s eu não tô tão longe do cheiroso não.
    Brenda deu um riso culpado e perguntou com bastante cuidado:
    — Amiga, e como tá sua mãe?
    Paulinha com a maior calma do mundo disse:
    — Sabe que eu não sei.
    — Quando foi a última vez que vocês se falaram?
    — Ah, faz uns meses, fui lá na casa dela num almoço.
    — Sério?! — Brenda ficou bastante surpresa — Quando foi isso?
    — Ah… foi… — Toda a calmaria de Paulinha foi embora e ela ficou tensa como sempre ficara quando falava sobre sua mãe — Foi nunca, na verdade a última vez que eu conversei com minha mãe faz uns seis anos.
    Brenda parou de andar, ficou olhando pra sua amiga e se sentiu culpada por deixá-la daquele jeito.
    Paulinha olhou para ela com um olhar que dizia “está tudo bem” mas no fundo não estava bem de verdade.
    — Amiga… me desculpa ter te perguntado isso.
    — Relaxa amiga, tá suave.
    — Tá não, eu não deveria, não sei porquê perguntei na verdade.
    — Brenda… relaxa, vamos andando, é só minha mãe, não é um bicho papão nem nada.
    Ao chegarem na loja que Paulinha havia dito, Brenda se deparou com os preços e realmente eram bastante convidativos a comerciantes, e foi ali procurando um balde de leite condensado que ela viu o ex patrão de Paulinha, um simpático coroa, comprando doces com seu filho.
    — Amiga, olha quem tá ali comprando chocolate.
    Paulinha viu seu ex chefe que também a viu e antes mesmo dela pensar em fingir que não viu e se esconder atrás de outras prateleiras, ele veio falar com ela:
    — Paulona! Quanto tempo!
    — Oi Tony, quanto tempo — Disse meio desconfortável.
    — Muito tempo mesmo, olha, meus pêsames pelo Carlinhos.
    — Obrigada — “Queima no inferno aquele filho da puta”— Muito obrigada.
    Se formou um clima desconfortável de silêncio entre os três até que Paulinha disse:
    — Ah, perdão, essa é a Brenda, minha grande amiga.
    — Prazer, Brenda! Como vai?!
    — Muito prazer — Disse dando a mão para ser beijada — estou bem, obrigada.
    — Que ótimo — Beijou sua mão — vieram comprar doces também?
    — Trouxe a Brenda aqui pra ela comprar uns doces pro filho dela.
    — Ah sim — Ele respondeu, vendo que elas estavam no corredor de baldes para comerciantes — Bem, nesse corretor  aqui não sei se vai valer a pena.
    Brenda interviu com bastante simpatia (Algo que Paulinha não está nem ao menos tentando):
    — É que eu tô pensando em vender sacolés, aí tô dando uma olhada.
    — Entendi! Poxa, se for vender sacolés, você pretende vender por onde?
    — Ah, lá em casa com uma plaquinha, porquê?
    — Entendi, olha, eu te recomendo vender na praia, lá em Copacabana, toda vez que passo lá vejo gente querendo sacolé mas só tem açaí, sorvete, queijo, camarão, essas coisas, sabe?
    — Sim… — Disse Brenda com bastante interesse.
    — Lá isso tá em falta, mas se tu for vai precisar de uma licença, e pow eu te consigo isso fácil, só falar comigo, tá bom?
    — Sério?! Obrigada! Vou pensar nisso sim! 
    — Show, e Paulinha, lá no posto sempre vai ter um lugar pra você caso esteja precisando hein, agora vou lá que tenho que ir pra casa, Brenda, prazer te conhecer — Disse dando um abraço rápido — e Paulinha, bom te ver! — Dando um abraço mais lento — Tchau tchau!
    — Tchau! — Disse Brenda bem alegre.
    — Valeu. — Respondeu Paulinha.
    — Olha aí amiga, fala com ele pra mim sobre essa licença? Eu nem havia pensado nisso de ir vender na praia… vou precisar de um isopor né? Deve ser barato?
    Paulinha nem quis responder, só pegou o celular pra conferir se ainda tinha o número dele, nisso ela viu as dez ligações perdidas do seu gerente, mas ignorou.
    — Amiga, tá aí? — Disse Brenda.
    — Tô sim, tudo bem eu falo com ele.
    — Obrigada… tá tudo bem?
    — Uhum…
    — Hm… o que foi?
    — Ele sua com o Carlinhos quando ele me traia, aproveitava e traia a mãe do filho dele também.
    Brenda ficou em silêncio por uns dez segundos.
    — Sério?
    — Sério.
    — Nossa… que filho da puta.
    — É, e ele sabe que eu sei.
    — Ah… por isso que ele foi tão legal então.
    — É.
    — Qual o cargo que ele te ofereceu no posto?
    — Gerência, já me ofereceu uma vez.
    — Sério?!
    — Sim.
    Mais uns segundos de silêncio.
    — Paulinha, quer um conselho de amiga?
    — Quero.
    — Aceita.
                        Capítulo 17
               Romeu e Julieta
    Pedro deu um banho daqueles em Malhado, comprou ração, molho de peixe (O que o cachorro mais gosta) e levou seu velho amigo para o veterinário, no final das contas gastou uma nota mas gastou feliz, Malhado deu uma nova reanimada para Pedro, como se voltasse a ser aquele mesmo jovem que fugiu do quartel por pegar uma mulher que não devia.
    Até a casa voltou a ser arrumada, Pedro se preocupava com Malhado pegar algo do chão como uma camisinha usada ou um pedaço de chocolate e ir embora de novo, não estava nem um pouco afim de passar pela perda do seu melhor amigo novamente.
    A noite, Pedro foi encontrar Debra para o que eles chamaram de seu primeiro encontro “oficial”; Encheu as vasilhas prateadas novinhas de Malhado com água do filtro com gelo e ração com molho de peixe, Pedro mal sabia mas estava começando seu processo de deixar aquele cachorro obeso, sete meses depois disso Malhado teve que passar por uma séria dieta e rotina de exercícios no Gericinó, mas isso é outra história, a crônica narrada neste livro irá acabar muito antes disso.
    Pedro e Débora se encontrariam no shopping Nova Iguaçu ( o shopping da Pedreira para os mais íntimos), iriam assistir Garota Exemplar, Pedro nem fazia ideia da existência desse filme mas aparentemente era de um diretor “maravilhoso”, segundo Debra.
    Pedro estava vestindo uma camisa branca, uma jaqueta de couro marrom de aviador,, uma calça jeans e calçando um Jordan (falso); Ele havia ido para lá pelo ônibus Ponte Coberta, e Pedro ficou a viagem toda refletindo sobre o quão bom é ter um ônibus que deixa exatamente em frente ao shopping mais popular da região.
    Esperou por Debra na escadaria por cerca de dez minutos, já estava ficando puto e já pensando no que diria para ela sobre essa demora toda, mas tudo mudou quando ela apareceu; Debra desceu do ônibus vestindo um moletom branco, uma calça de algodão preta, uma bota marrom e usava um cordão com um símbolo bastante único que Pedro não conhecia.
    Para Pedro, Debra desceu do ônibus em câmera lenta, ver aquela mulher de cabelos azuis como o mar e pele lisa como a neve foi quase tão revigorante quanto ver Malhado feliz tomando seu banho.
    “Esse dia tá ótimo…”
    — Fala aí, gatona! — Disse ao recebê-la na escadaria da entrada do Shopping.
    — Fala aí, gatão! Tá bonitinho pra caramba hein viado! — Ela disse com seu riso que já tanto encantou Pedro.
    — Obrigado, e você está… está linda.
    — Obrigada.
    — Não, sério… você tá perfeita.
    Ela corou.
    Pedro pegou em sua mão e, como um casal, entraram no shopping.
    Tiveram que esperar dar o horário de sua sessão, aproveitaram isso para andar pelo lugar e conhecer o shopping recém inaugurado e já tão bem falado.
    Conheceram as lojas de móveis (que Pedro sempre aproveita para tirar uma soneca mas não dessa vez), as lojas de tecnologia, algo que fascinava Debra que, empolgada, explicava cada um dos aparelhos para Pedro, que não entendia muito mas era contaminado pela alegria da moça; Também conheceram a praça de alimentação, onde a maior parte da noite foi passada, com uma bela pizza gigante de margarita e uma menor de Romeu e Julieta (Pedro detestava, Debra comeu sozinha).
    Estavam já ficando sem novidades para apreciar em sua caminhada quando se depararam com um estande de tiro com armas de airsoft, Debra ficou bastante curiosa em olhar porém hesitante em experimentar, e Pedro aproveitou a situação para demonstrar suas habilidades.
    — Fala queridão! — Se apresentou ao atendente — estande bacana.
    — Boa noite casal bonito.
    — Bonita aqui só tem ela — Disse com uma risada alegre — Quanto que está para dar uns tiros?
    — Sessenta reais por uma hora.
    — Faz trinta por meia hora?
    — Faço sim.
    O estande era grande por dentro, com cabines separadas para cada cliente e uma longa área na frente com bonecos brancos em silhuetas e dezenas marcas de tiro; Pedro escolheu um rifle, Debra um revólver e se aproximaram de uma das cabines com seus protetores de ouvido.
    — Deixa eu te mostrar como se faz — Disse apoiando o rifle no tripé de apoio.
    — Vai homem, mostra pra mim como se faz! — Disse com certo tom de ironia.
    — Esse é o rifle de ar comprimido, na verdade é uma carabina, o nome dela é “PCP”, mas eu gosto de chamá-la de “PTO”.
    Surgiu um silêncio desconfortável e então Debra disse:
    — Você quer que eu pergunte o que isso significa?
    — Sim — Respondeu rindo.
    — O que “PTO” significa, meu caro?
    — Pau pra Toda Obra.
    — Entendi…
    — Eu gosto bastante dela, esse pistão aqui que ela tem — Gesticulou para o que para Debra era um “ferro que leva a bala até a saída” — é carregado com uma pressão absurda de ar, a precisão dela também é ótima, seu único defeito é que ela precisa de uma bombinha, pra poder recarregar, eu não sei bem se essa daqui de Airsoft também precisa, não entendo muito desses brinquedos, mas a de verdade eu sempre andava com uma bombinha na mochila.
    — Como sabe tanto?
    Pedro estava adorando ensinar tudo aquilo para Debra, e ela sabia disso, gostava de ver o brilho no olhar dos caras que saiam com ela, dizia não entender sobre alguns assuntos só para vê esse brilho nos olhares, ela sabia que no fim das contas todos os homens eram iguais, mas dessa vez, estava sentindo algo além, ela não sabia ainda, mas estava começando a amar Pedro, mesmo que isso não pudesse ser dito com apenas dois encontros.
    Mas no fundo, era isso.
    Esse era o brilho que ela tanto buscava sem saber.
    Após as explicações sobre seu passado no exército, Pedro começou a disparar no boneco de treino e para surpresa de Debra e até a dele mesmo que estava velho e já meio sem jeito com armas, acertou todos os onze tiros bem no meio da cabeça, no ponto exato, e sua velocidade no uso também foi impressionante, a cada novo disparo Pedro engatilhava a arma como se a mesma fosse parte do seu corpo, uma reação automática vinda de sua memória muscular exageradamente perfeita.
    — Caramba… isso foi impressionante, parabéns, puta que pariu.
    — Obrigado… — Disse como se não fosse nada mas por dentro estava bastante orgulhoso — Sua vez, quero ver você usando esse revólver aí.
    Debra se aproximou já apontando a arma com a mão direita enquanto segurava seu cotovelo com a esquerda.
    — Calma aí, não segura assim não, coloca as duas mãos.
    Pedro novamente deu sua aulinha, mostrou como funcionava o carregamento da arma e como dava para ver as balas no tambor, efetuou um disparo para Debra ver a pressão que um revólver faz em mãos e ensinou ela a melhor forma de disparar; No fim das contas foi uma excelente ideia passar por aquele estande.
    Na saída da sessão, Debra estava empolgada, aflita, reflexiva, e Pedro estava… meio confuso.
    — Porquê ela fez aquilo tudo? Não era mais fácil só terminar com o cara.
    — Não não, como assim? — Pergunta incrédula — ela não podia fazer isso, ela era claramente obcecada pela perfeição.
    — Perfeição? A mulher é uma psicopata!
    — Sim! De fato, ela era louca, mas ainda assim bastante sã do que tava fazendo, não faria sentido ela terminar, na cabeça dela era melhor o mundo achar que ela morreu do que ser uma mulher que teve uma crise no casamento.
    — Mas de onde você tá tirando essa perfeição, baby?
    Debra amou ser chamada de “Baby” mas optou por ignorar isto por enquanto:
    — Você dormiu no filme?
    — Se eu tivesse dormido você e todo o cinema saberia, eu ronco.
    — Que bonitinho! Mas enfim, os pais dela construíram nela uma obsessão com a perfeição, com aquelas histórias lá dos livros!
    — Sim.
    — Aí isso fez ela ficar completamente obcecada com assa ideia de ser perfeita!
    — Mas não era só ela terminar então?! — Pedro disse rindo.
     — Eu não tô falando que eu concordo com ela não, só dizendo que na cabeça dela aquele plano faz sentido, aliás até que fez sentido vai? Até certo ponto pelo menos.
    — Ham… sei lá, só achei aquele cara um brocha do caralho.
    — Ele é mesmo, eu também não gosto do ator, todo filme que ele faz fica com aquela cara de pau mole.
    — Qual sua nota?
    — Ah eu não gosto de dar nota assim que saio do cinema não, depois de pensar bastante no filme eu chego numa avaliação, mas se fosse pra falar uma agora… uns… nove e meio?
    — Nossa.
    — Eu adorei esse filme! — Diz rindo — E você, baby?
    Pedro sorriu e disse: sete.
    — Sete?
    — Talvez seis.
    — Meu Deus.
    — Eu gosto de filmes com mais ação, com mais tiros, tipo Stallone Cobra e Robocop.
    — Entendi… — Debra disse com um preconceito já enraizado na voz.
    A noite durou mais algumas horas, Debra levou Pedro para a livraria onde ficou namorando uns livros que queria, Pedro reparou em um deles, chamado “As Crônicas de Arthur: O Rei do Inverno”, Debra tinha um certo fascínio em livros medievais, Pedro sabia que essa informação seria bastante útil em algum natal ou aniversário da vida.
    “Isso se ela ainda te aguentar até lá.”
    Após isso foram até o parque lá atrás do shopping onde ficaram até o lugar fechar.
    Pedro ficou ao lado dela no ponto de ônibus, o que ele queria mesmo era levá-la para casa mas, pela primeira vez em anos, não sentia que essa abordagem seria ideal.
    — Me diverti bastante essa noite… obrigada.
    — Eu que agradeço… adorei a nossa conversa na roda gigante.
    — Também gostei… gostei de você na real, bastante, com exceção do gosto cinematográfico.
    — Sei.
    Ambos deram um sorriso tímido e ficaram em silêncio, mas pela primeira vez não foi um silêncio incômodo e sim um silêncio confortador, aquele silêncio bom sabe? Sem pressão, sem a necessidade de papos sem relevância, apenas a existência e relaxamento mútuo.
    E foi nesse momento que Pedro se apaixonou.
    O ônibus chegou, Debra se foi e Pedro decidiu ficar sentado ali, seu ônibus passou mas ele preferiu pegar o próximo… estava sentindo aquele momento único que nem mesmo conseguia explicar o que era, mas no fundo sabia se tratar de algo que seu pai sempre disse que ele jamais teria.
                     Capítulo 18
                  Copacabana
    Brenda detesta andar de metrô, a sensação de estar cercada de pessoas suadas, estressadas e potencialmente perigosas quando se tratam de homens é bastante estressante, mas esse sentimento se atenua quando ao lado de sua querida e amada Paulinha que, assim que o vagão parou, correu para o banco mais próximo e conseguiu dois assentos livres; também ganhou olhares tortos de pessoas que não puderam sentar ao seu lado por que ela estava com as mãos postas aguardando Brenda, mas não que ela se importe com isso.
    Já era o segundo transporte “público” que estavam pegando (“público” pois Paulinha não considera realmente PÚBLICO algo que você tem que pagar para acessar), este era o caminho para chegar até a praia de Copacabana no centro da cidade: ônibus de Nilópolis para Pavuna, Metrô da Pavuna para estação Arcoverde e de lá é só seguir andando até a praia.
    Brenda estava bastante nervosa, mais do que pensava que estaria, este era seu primeiro dia vendendo sacolé na praia e sua decisão de abandonar um salário mínimo para ir vender abaixo de sol quente já não parecia tão boa quanto outrora; Paulinha a encorajou bastante, e diferente da amiga, está animada em ajudar a vender (exceto em estar usando saia de tanga, biquíni e chapéu), sabe que se gritarem alto o suficiente poderão chamar atenção da praia toda, e quem não quer um sacolé de morango num dia tão quente?
    E se encontrarem turistas é melhor ainda, até porquê, como ambas haviam combinado antes de sair de casa, “pra gringo é mais caro”.
    — Quanto exatamente? — Perguntou Paulinha.
    — O que?
    — Quanto exatamente que vamos vender pra um gringo.
    — Não sei… uns cinco reais?
    — Só? Eu já vi um cara cobrando cem reais por um espetinho de queijo, e o gringo pagou feliz.
    — Aí amiga, eu não quero enganar feio assim, tudo bem pagar mais caro mas sei lá, cem reais?
    — Os caras fazem turismo sexual, Brenda.
    — Turismo sexual?
    — É, eles vem aqui pra comer as brasileirinhas baratinhas e ‘coxudinhas’, um bicho desse merece pagar quarenta reais em uma paçoca, cinquenta pra arredondar a nota, ficar pegando trocou de dez reais é sacanagem também, tadinho.
    — Não sei de onde você tiras essas coisas.
    — Acorda mulher! o mundo é assim! o Brasil é um enorme puteiro, com droga, bucetinha barata, caipirinha, samba, arara azul, globeleza e por aí vai!
    Brenda fez umas contas: “moralidade + quanto eu quero ganhar + bom senso = a…”
    — Vinte reais, dois pra Brasileiro e vinte pra gringo, um zero a mais, o que acha?
    — É… aceitável.
    A discussão foi interrompida pela musiquinha de aviso do metrô: “Próxima Estação: Arcoverde, Next Stop: Arcoverde, mantenham as mãos afastadas das portas, keep your hands away from the doors”.
    — Ai vamos nós — Exclamou Paulinha pegando o isopor — Bora minha preta, vamo ganhar dinheiro!
    — Vamos! — Respondeu fingindo entusiasmo.
    ••
    Após andarem três ou quatro quadras, finalmente as duas amigas nilopolitanas chegaram em Copacabana, a praia mais famosa do país; a areia estava sempre clara como o dia, contrastando sempre com aquele mar azul escuro, cujas ondas jamais paravam de ir e vir, com a água se tornando branca após o choque nas areias e nos incontáveis banhistas que visitam diariamente o grande paraíso turístico e natural.
    O cheiro de maresia misturado com álcool e carne na brasa era acachapante porém bastante confortador, as vozes de banhistas e vendedores se confundiam, o som do mar era sempre estrondoso mas ofuscado pelo som das músicas, tanto de caixas de som portáteis quanto daquelas enormes e fixas dos comerciantes, isso tudo abaixo de um sol ardente.
    — Bem vinda a Copacabana — Disse Brenda.
    — Bem vinda a Copacabana.
    — Bem… vamos lá.
    As duas amigas gritavam “OLHA O SACOLÉ!!” (Frase que haviam escolhido e treinado ainda em casa) enquanto andavam em meio à dezenas de famílias em seus guarda-sóis; a areia estava pegando fogo, despreparadas as duas foram de chinelos, que nas primeiras horas de venda incomodou bastante, mas nem tanto comparado a queimadura que estavam fazendo nas costas de Paulinha que não trouxe protetor solar.
    “É claro que eu não trouxe a porra do protetor solar…”
    E não queria pedir o que Brenda havia colocado no seu próprio isopor, pois sabia que iria ouvir um “Eu te avisei”, entrando, não fazia muito tempo que Paulinha havia sofrido com cansaço e muito calor, não queria passar por isso de novo, logo, preferiu ser julgada.
    — Amiga…
    — Oi.
    — Me dá seu protetor solar?
    — Eu te avisei.
    — É… é.
    Elas foram até a sombra de um quiosque e Brenda passou protetor nas costas da amiga, enquanto Paulinha passava em seu rosto e braços.
    — Porquê eu tinha que ser tão branca?
    — Te pergunto o mesmo, seria bem melhor ter uma amiga pretinha que nem eu.
    Um vendedor franzino que já estava observando as duas há alguns minutos se dirigiu até elas quando as viu paradas na sombra, parou seu carrinho de picolé e começou a puxar assunto.
    — Nunca vi vocês por aqui.
    Paulinha não estava com cabeça para bater papo e já estava pronta para falar com “É mesmo é? Tá bom, valeu” quando Brenda respondeu o sujeito:
    — Primeiro dia, estamos nos acostumando ainda, não esperávamos tanto sol — Disse com sua costumeira simpatia e um grande sorriso no rosto.
    — Sim, o sol aqui é sempre terrível, pelo menos vocês vieram com chapéus e protetores solares, tem gente que nem isso.
    Paulinha olhou pra ele mas não disse nada, continuou a esfregar seu braço.
    — A gente se preparou — Olhou para os pés do homem e ele estava de tênis — só não pensamos em colocar nossos tênis, achávamos que seria desconfortável.
    — Vou falar pra você, é bem desconfortável mesmo, a areia sempre entra até na meia, mesmo eu usando duas, o tênis faz muito buraco fundo na areia sem querer, é bem ruim, mas eu não troco isso pela quentura que é essa areia por nada!
    — Olha, eu devia ter pensado nisso antes de sair de casa, da próxima vez já saberemos!
    — Olha ai, serviu de aprendizado.
    — Com certeza, agora a gente vai lá, obrigada! — Guardou o protetor e pegou o isopor.
    — Antes de vocês irem! — Falou mais baixo e chegou mais perto — cês falaram com ‘uzômi’?
    Brenda e Paulinha fizeram caras de desentendidas e ele na hora já entendeu que não.
    — Por isso nunca vi vocês por aqui, vocês duas não podem vender nessa praia.
    — Que papo é esse? — Disse Paulinha.
    — Aqui é tudo regularizado, não pode sair vendendo coisa não, tem que falar com uzômi, tudo que vocês venderam hoje tem que dar ‘pruscara’.
    Brenda não estava ligando os pontos ainda porém Paulinha já havia entendido que “Caras” e “homens” são esses.
    — Olha só seu filho da puta — Ela puxou o vendedor pela camisa e encostou o mesmo na parede do quiosque sem gerar alarde, Brenda ficou assustada mas não tentou fazer ou falar nada — se você dedurar a gente pra algum miliciano tu vai se fuder na minha mão, tá ouvindo?
    O homem olhou com pavor para ela mas também não quis gerar alarde, apenas a ouviu atentamente.
    — Minha amiga aqui é dona de casa e eu sou lutadora de boxe, tem duas guerreiras aqui na sua frente que vai destruir você se tu tentar alguma gracinha hein, tu vê lá hein, eu não tenho medo de homem nenhum não hein o porra.
    Suas falas ameaçadores soavam quase como um sussurrar, mas foi o suficiente pro vendedor nunca mais esquecer a experiência; Paulinha o empurrou de volta para seu carrinho e ele rapidamente foi embora.
    Em choque, Brenda perguntou:
    — Paulinha, o que você fez?
    — Ganhei um tempo pra gente, bora vender esse sacolé logo.
    ••
    — Aquele seu amigo podia ter nos dito que precisávamos de autorização para vender sacolés na praia!.
    — Qual amigo? Aquele que trai a mãe do filho dele e que saia com meu ex marido pra cheirar cocaína na barriga de anãos?
    Ser informada de que estava em relativo perigo por conta de não molhar a mão de certas pessoas fazia Brenda, que já não estava bem com a situação, ficar ainda mais relutante em continuar, sentia que deveria ir pra casa, guardar todo aquele sacolé para consumo próprio e espalhar seu currículo por Nilópolis e redondezas.
    A areia molhada entre seus dedos nos pés também não estava ajudando.
    — Amiga, vamos pra casa?
    — O que?! — Paulinha parou de andar.
    — Depois a gente vai atrás dessa tal de autorização, alguém pode vir pegar o que a gente tem ou sei lá, algo pior.
    — Ninguém vai mexer com a gente não Brenda! mal começou e já está querendo desistir?!
    — Não é desistir, é só…
    — Desistir.
    — Não é não.
    — Sei, olha, estamos indo bem — Se aproximou dela e pegou sua bolsinha de dinheiro — Quanto já temos?
    Brenda também abriu sua bolsinha e começou a contar.
    A maioria eram notas de dois, graças a Deus, mas também tinham notas de dez e de vinte.
    — Eu tô com quatorze, e você? 
    — Vinte e seis.
    — Porra, Brenda, amiga, vinte e seis! No total isso da o que… trinta e seis sobe quatro… quarenta reais!
    — É…
    — É não, É PRA CARAMBA, isso é ótimo, vamos continuar aqui, pretendíamos ganhar cento e vinte né? Fora os preços pros gringos? Estamos indo bem.
    — Pera, deixa eu anotar isso — Pegou seu caderninho da bolsa e começou a escrever — quatorze… vinte… e seis… e quarenta…
    — Pra que isso?
    — Nada demais… amiga eu tô meio sei lá.
    — Ei! Relaxa, estamos indo bem, confia na gente.
    A relação das duas sempre funcionou assim, quando uma não estava muito esperançosa a outra servia como musa, a luz no fim do túnel, e nesse momento Brenda estava precisando.
    Continuaram suas vendas mas dessa vez olhavam para todos os lados achando que a qualquer momento alguém apareceria para pará-las, Brenda chegou a apressar um pai a pagar o sacolé de seu filho, algo que surpreendeu bastante sua amiga; As vendas estavam boas apesar de não terem encontrado nenhum gringo (para a tristeza de Paulinha), até que encontraram novamente aquele homem que Paulinha havia ameaçado, mas dessa vez ele estava acompanhado de dois outros homens.
    Vestidos com camisa da Beija Flor de Nilópolis e shorts vagabundos, um de óculos escuros e outro de boné, vieram, aos olhos de Paulinha, “cheios de marra”, e começaram a gesticular para elas pararem e os acompanharem até fora da orla.
    “Podem vender aqui não, guria” dizia um deles repetidas vezes enquanto o outro apenas gesticulava.
    — Não podemos porquê?! — Indagou Paulinha enquanto Brenda ficava pouco a pouco mais catatônica.
    — ‘Cês tem que ter o papel do Valdeci!
    — Papel de quem?!
    Os dois homens pegaram de forma brusca nos braços das Nilopolitanas e se viraram para tirá-las de perto dos banhistas para evitar gritaria no meio de todo mundo (além de para poder fazer suas ameaças, roubos e chantagens o quanto quiserem), mas não contavam com a raiva de… de uma mãe solteira.
    Antes que Paulinha tivesse a chance de fazer seu escândalo (o que ela IRIA fazer), Brenda pegou sua bolsa de dinheiro e bateu bem no meio do olho direito do homem que apertava seu braço; Ele gritou de dor e juntou suas mãos no ferimento, dando tempo de sobra para Brenda dar um chute bem dado no ponto fraco de todo machão atrevido.
    As pessoas ao redor começaram a olhar aquela baixaria, crianças olhando curiosas e adultos encarando, alguns com aprovação e outros com tanta curiosidade quanto os mais novos.
    Paulinha? Paulinha estava embasbacada, não conseguia esconder isso, mas não deixou sua surpresa atrapalhar sua chance de dar um jab no nariz do outro malandro.
    Os dois envergonhados e irritados, foram pra cima das Nilopolitanas, prontos para pegar suas bolsas de dinheiro, recuperarem sua dignidade e dar porrada em mulher, mas não estavam preparados para o que era mais óbvio de acontecer: o sentimento de justiça do público.
    Apesar de habilidosa, Paulinha ainda era uma mulher, vista como “sexo frágil”, é mesmo conseguindo dar conta daqueles dois sozinha, recebeu ajuda dos banhistas homens que não achavam legal dois homens contra uma mulher, mas a ajuda veio depois de humilhá-los mais um pouco.
    Depois de feri-los, Brenda se recolheu para atrás da amiga e Paulinha soltou seu isopor e bolsa no chão, um dos idiotas veio pra cima com as costas baixas, na intenção de pega-la pelas pernas e derruba-la, mas ficou apenas na intenção após Paulinha descer uma bica no cocuruto dele o fazendo comer areia, o outro, quis a enforcar, veio com as mãos cheias pra cima do pescoço da Loirona gostosa, até chegou a encostar suas unhas na pele da mesma, mas foi brutalmente interrompido por Paulinha agarrando seus braços, os dobrando para baixo e finalizando com uma cabeçada muito bem dada.
    Antes que os dois começassem a se levantar, pais e família e beberrões do bar os pegaram e começaram a dar socos e pontapés até os expulsar da orla.
    As pessoas começaram a aplaudir para Paulinha e Brenda, ouviram assobios (aqueles difíceis de fazer, com os dois dedos) e elogios; somente após toda a confusão que Brenda e Paulinha perceberam que estavam sendo filmadas, dezenas de pessoas estavam com seus celulares apontados para as duas, e o sentimento de revolta e agonia havia sido completamente substituído por alívio e vitória.
    As duas ficariam sendo chamadas de “As irmãs do sacolé” nas redes sociais, algo que faria muito bem para Brenda mais tarde e também uma consequência terrível para as duas, mas essa é uma história para daqui a pouco.
    Tímidas porém encorajadas, as duas amigas continuaram a vender seus sacolés, que foi muito impulsionado pela briga, toda a praia queria um sacolé das irmãs de pais diferentes, até mesmo um gringo que fez questão de vir até elas quando a procissão sessou.
    — Boua tairdê — Disse um gringo loiro e branco para Brenda, tentando falar português — sabor qual?
    Brenda ainda meio abalada, olhou para Paulinha que estava ocupada vendendo para três pessoas ao mesmo tempo.
    — É… morango, chocolate, leite cond—
    — Choucoulati! Choucoulati! Quanto custa? — Isso pergunta ele dizia com perfeição.
    — É… — pensou por uns segundos e disse — duzentos, ‘tchuo rundréd’!
    — Ok! — Disse sorrindo, abriu sua carteira que estava lotada de notas de cem e entregou quatro para Brenda.
    — Jo quiero dois!
          
               Um mês e pouco           
                depois…
                       Capítulo 19
    Quatro minutos para meia noite
    Sua caranga quebrou novamente, dessa vez quando estava voltando do cinema com Debra, haviam ido assistir ‘Os Suspeitos’ (o do Denis Villeneuve, não o do Bryan Singer), que Pedro adorou por sinal, mas a discussão no momento era sobre o carro:
    — Porra! o Marcão me disse que tava tudo sussa! — Exclamou ele bastante frustrado, estavam na Avenida Brasil, a lua cheia brilhava no céu sem estrelas e centenas de carros passavam por eles dois, presos no acostamento.
    Pedro vestia uma camisa polo vermelho escuro, uma calça jeans e um cordão com uma bala de revólver na ponta, foi um presente de Debra pelo aniversário de um mês; havia uma marca de beijo nela, Pedro adorou.
    Debra vestia uma camiseta azul e uma calça jeans branca, além de usar um anel de ouro dado por Pedro, no anel estavam gravuras em Élfico, algo que ela amava.
    A tradução dessas gravuras era um segredo deles.
    — Posso tentar consertar? — Disse ela.
    — Baby… eu sei que você já fez curso de mecânica e tudo mais mas—
    — Mas não quer ser visto sentado frustrado enquanto sua namorada conserta o carro?
    — Não era isso que eu ia dizer — De fato não era, mas era o que estava pensando sobre — eu ia dizer que só o Marcão entende esse carro.
    — Tô vendo, abre logo o capô.
    Ela saiu do carro e Pedro deu um suspiro de agonia, mas fez o que ela pediu, sempre faz.
    Debra ligou a lanterna do celular e ficou fuxicando enquanto Pedro ligava para o número do reboque que estava na placa.
    — Alô? Oi, boa noite, eu tô parado aqui na Brasil… é… isso aqui mesmo… meu carro deu ruim e não liga de jeito nenhum, meu mecânico fez alguma cagada cumpadi… sim sim… meia hora? Pow num da pra alguém vir antes não?… putz… tá… tá… é uma Fiat Uno 2005 meu bom… pois é… é…
    — Amor!
    — Sim sim… então é que eu tava querendo alguém por agora…
    — Amor! Tenta ligar aí!
    — Pera aí só um instantinho que eu acho que minha namorada consertou.
    Ele girou a chave e… foi.
    — Há há! — Gritou Debra do lado de fora, bem animada — Confia na mãe aqui que dá bom!
    — Deixa pra lá amigão, ela já consertou aqui.
    “Sua mulher consertou seu carro?!”
    — Sim, tchau tchau.
    E desligou rápido.
    Ela entrou no carro já dizendo:
    — Tá me devendo uma dedada.
    — Quando chegarmos em casa eu faço isso e muito mais..
    Colocaram os cintos, se beijaram e voltaram para a estrada.
    — Qual era o problema?
    Debra olhou pra ele com desdém:
    — Quer mesmo saber?
    — Porquê não iria querer?
    — Tu foge de querer entender qualquer coisa de carro, minha mãe disse isso na sua cara e é verdade.
    — Bem… é uma verdade…
    — Hm… esse seu mecânico aí hein, não sei não, ele tá te enganando.
    — Como assim?
    — O problema era algo facilmente removível, parece que ele colocou ali de propósito, pra tu gastar uma nota quando voltasse.
    — Que isso, Marcão não faria isso.
    — Se você diz…
    “Marcão faria isso?”
    Debra pegou o celular, algo que Pedro no fundo se incomodava, gostava de conversar e sentia que o Facebook e Instagram tiravam isso dele, mas aproveitou a situação para ligar o rádio e ouvir seu Thiaguinho de cada dia.
    Deixa tudo como tá 🎶
    Pedro amava essa música, Debra não, na verdade ela detestava pagodes e preferiria ouvir Heavy Metal, mas não incomodava seu digníssimo com tais gostos opostos.
    — Aí, você já viu esse vídeo aqui?
    Pedro virou o olhar rápido para o telefone e viu no Facebook um vídeo de duas vendedoras de sacolés batendo em dois homens na praia.
    — Porra! Nem te conto, não só já vi como conheço uma delas.
    — Como é que é?! — Disse bem animada e surpresa.
    — Assim, conhecer é forte, mas já vi uma delas, a pretinha é irmã do Marcão, meu mecânico!
    — Meu Deus, sério?!
    — Sim, nunca falei com mas já vi ela lá na oficina, tava com o filho dela eu acho, o Marcão me falou que ela tá famosinha agora, é lá de Nilópolis, Bianca eu acho…
    — Porra, que foda amor, bora comprar um sacolé com ela.
    — Vamos.
    Não vão.
    — E essa amiga dela? A loirinha, luta pra cacete aliás.
    — Essa daí não me é estranha, mas acho que não conheço não, no máximo já vi por lá.
    — Hm… conhece bastante gente né?
    — Infelizmente sim.
    — É de família isso?
    — Bem… minha mãe falava com todo mundo, quando chegava um vizinho novo ela já ia apresentar eu e minha irmã, dentro de uma semana já tava até dividindo receita de bolo.
    — Queria ter a conhecido.
    — Minha irmã é outra, conheceu o marido dela na fila do banco, acredita? Puxou assunto com o cara do nada, acho que vou pra tirar dúvida sobre como que depositava na máquina, e hoje cria um filho com o maluco, e nunca parou de fazer amigos fácil.
    — Hm…
    — Acho que é de família sim.
    É foda imaginar a gente ser de alguém 🎶
    Debra disse incomodada:
    — E sua irmã?
    — O que tem ela?
    — O que mais ela faz?
    — Ah… sei lá, ela tem a vida dela.
    — Não fala muito com ela?
    — Que isso, nos falamos todo dia, tenho uma relação boa com ela.
    — E porquê que eu não a conheço ainda?
    — Ah, não sei, só não apresentei.
    — Hm… — Fez uma cara apática e voltou para o celular.
    Pedro sabia que isso a incomodava, mas também não sabia como falar sobre, logo, decidiu ficar calado, como já tem feito nas últimas semanas.
    Pedro e Debra se tornaram bastante íntimos em pouco tempo, Debra que arrumou seu armário de cuecas das últimas duas vezes e que levava Malhado pra passear quando Pedro estava na barbearia; Sua mãe já havia aceitado seu novo namorado, jantaram com ela duas vezes e foram no aniversário do sobrinho de Debra onde ela havia feito o pedido de namoro oficialmente, tudo indo muito certo, um casal em formação, bonito e íntimo… mas sentia que era só por parte dela.
    Debra bloqueou o celular e ficou olhando para a estrada através da janela, achava interessante como tudo que estava próximo passava rápido mas as montanhas lá no fundo pareciam se mover bem devagar…
    — Baby, já foi na Casa do Alemão?
    — Oi? Foi mal eu tava olhando as montanhas.
    — Já foi na Casa do Alemão?
    — Aquele restaurante? Não, passamos por ele?
    — Não, é que eu vi uma placa de um negócio escrito em Alemão e lembrei dele, enfim, vamos lá um dia? é caro pra caralho mas a comida é boa.
    — Beleza.
    Ele ficou olhando pra ela de rabo de olho e não deixava de reparar no quanto que ela estava meio avoada, pensativa, isso o estava preocupando por já imaginar do que se tratava.
    — Quer ouvir alguma outra música?
    — Não, eu tô de boa.
    — Hm… — “Ok… lá vai…” — no que você tá pensando?
    Ela pensou um pouco antes de responder, olhou para o rosto dele, talvez para medir as reações e disse:
    — Porquê você não me apresentou sua irmã?
    Pedro reagiu de forma neutra, ela achava que ele estava se concentrando pra não parecer nervoso (e estava certa sobre isso).
    — Não sei, falta de tempo?
    — Não, não é falta de tempo, estamos livres o tempo todo, eu trabalho em casa quando eu quero e você trabalha dia sim e dia não.
    — Ah baby, sei lá, não imaginei que fosse importante.
    — A gente já tá junto a um mês… tipo, um mês, minha família já sabe de você, minha mãe já te conhece, já tô dormindo na sua casa e você na minha mas… sei lá.
    — “Sei lá” o que?
    Debra ficou em silêncio olhando para a janela, sem querer entrar naquela discussão.
    Pedro também não queria, mas uma das poucas coisas que seu pai havia lhe ensinado era: “Nunca deixe nada pela metade”.
    — “Sei lá” o que, Debra?!
    — Não parece que é pra você tanto quanto é pra mim!
    “De novo não”
    — Como assim? Eu vou com você pra todo lugar, faço de tudo pela gente, te compro uma porrada de coisas…
    — Não é sobre isso!
    — Conheci sua família e fui legal com todo mundo, até com aquele seu tio desgraçado!
    — Amor—
    — Como que não pode não ser pra mim tanto quanto pra você?! Não faz sentido nenhum isso!
    — E porquê que sua família não me conhece?
    — Não tem família pra conhecer! Eu só tenho minha irmã!
    — Ela não é família?
    — Claro que é, mas é só ela, não tem pai nem mãe nem tio nem porra nenhuma.
    — Não xinga!
    — Só não te apresentei ainda porquê… sei lá, isso importa?
    Debra ficou o encarando incrédula quando dizia:
    — Tudo você fala “a gente”. “a gente vai vê” ou “a gente da um jeito” ou “a gente consegue”, quando não é a gente é “nós dois”, “nós dois somos fodas”, “nós dois vamos resolver” ou “tudo vai dar certo pra nós dois, baby”, mas como me diz… como que pode existir um “nós dois” quando só um de nós trás o outro pra dentro da sua vida?
    Pedro ficou calado.
    — Pedro eu não sei nada sobre o seu passado, você só me conta as histórias engraçadas e coisas assim, até depois que eu te contei sobre o meu tio achando que talvez você também fosse se abrir pra mim você só… continuou.
    — Você disse aquilo esperando algo em troca?
    — Não, eu disse aquilo porquê confio em você, mas não sei se você confia em mim também.
    Ela olhava para ele tentando encontrar ali alguma resposta mínima em seu olhar, e encontrou uma tentativa, por alguns segundos deu para ver Pedro quase formando uma frase, quase falando algo, talvez uma confissão? Um pedido de desculpas? Algo concreto, Debra queria qualquer coisa na verdade, mesmo que fosse um “tá bom”, com isso ela iria dar a briga por terminada, talvez ficassem se dando um gelo pelo telefone por algum tempo mas seria isso, “deixa tudo como tá”, mas não aconteceu.
    O que quer que Pedro fosse falar desistiu, deixou para ele; apenas continuou olhando para a estrada e aumentou o volume do rádio.
    A gente não vai errar não! 🎶
    A gente não vai errar não! 🎶
    — Inacreditável — Ela disse inconformada — inacreditável.
    E se a gente errar!!! 🎶
    A gente foi feliz tentando acertar! 🎶
    Debra se virou para a janela e assim ficou até o fim da viagem; em silêncio.
    Deixa tudo como tá… 🎶
      
           4 meses depois
           Capítulo final
              Mundo Pequeno
            Paulinha  •
    — Tu num é a noiva do Carlinhos?! — Diz um motoboy que parava para abastecer.
    Paulinha trabalha em um posto de gasolina, não como frentista e sim como gerente; o posto é aquele que o amigo de seu ex noivo lhe indicou, que fica na esquina do colégio Nilopolitano, no centro da cidade; agora ela tem um bom salário e um trabalho até que bem gratificante apesar do sol escaldante daquela manhã quente de Nilópolis.
    Paulinha emagreceu, não muito mais o suficiente pra começar a se sentir bem consigo mesma, não que os problemas de autoestima tenham ido embora, porém, certamente estão mais acentuados.
    A Loirona Gostosa veste uma camiseta escura com uma branca por baixo, uma calça também azul bem larga (para Paulinha isso significava uma calça super confortável) e botas pretas; seu cabelo está mais longo mas no trabalho ela sempre deixa preso com uma “xuxinha”.
    — Bom dia, eu fui a noiva dele sim.
    — Bom dia! — respondeu se sentindo reprovado por não ter dito isso antes “e tem que sentir mesmo!” — meus pêsames, curtia muito a escola dele! Só harmonia e samba foda.
    — Pois é né, João! Vem atender ô da moto!
    O posto tinha cinco frentistas e um estagiário, o João, que era quem os outros mandavam para lidar com os clientes que não gostavam, mas é claro que João não sabia disso.          
    Paulinha se dirigiu até a bancada onde ficava o frigobar, um telefone fixo, os armários dos funcionários e a agenda da gerência, sentou-se e bebeu uma aguinha gelada.
    Seu dia a dia no trabalho era assim, observar seus colegas de trabalho e cuidar para que não de nada de errado; meses últimos três meses convivendo com esses homens ela pode conhecer bastante sobre eles, sabe quem trai a esposa, quem gasta o salário em jogo do bicho, quem frequenta o Eros Club todo fim de expediente… mas também sabe quem é um ótimo trabalhador, quem sabe conversar sobre política sem ofender os colegas, quem consegue fazer uma partida perfeita e sem erros no Guitar Hero, quem sabe cantar no karaokê as músicas da Adele sem desafinar… são todos boas pessoas, ela gosta muito de todos ali, e acredita que gostam dela também; Claro, até onde se dá pra gostar de seu “chefe”, Paulinha tem ciência disso, mas acredita que faça parte daquela pequena família ali… com o João.
    — Fala aí, chefona! — Disse Renan, o primeiro a dar um oi e quem apresentou o posto para ela no primeiro dia — como você tá? — ele estava todo sorridente.
    — Fala aí, Renan, tô com um calor desgramado mas tô bem, e você?
    — Bem também — Pegou um banquinho e sentou-se perto dela; Renan tinha trinta e dois, era moreno e, apesar da idade, já era grisalho — Sobre aquele assunto, tem alguma novidade?
    — Ah… desculpa amigão, o pessoal não me autorizou a dar um aumento.
    O sorriso no rosto dele foi pouco a pouco diminuindo.
    — Putz… eu tava precisando dessa.
    — Eu sei, argumentei, disse o que você faz aqui e do seu empenho mas não colou, desculpa mesmo.
    — Não precisa de desculpar, não é culpa sua.
    Paulinha olhava para ele com pena.
    — Como que tá lá?
    — Ah, ela tá indo, os remédios são caros mas estamos dando um jeito.
    Paulinha pegou sua carteira mas Renan interveio segurando sua mão.
    — Não não, não precisa, sério.
    — Para de ser bobo, deixa eu ajudar.
    — Sério, não precisa, eu vou dar um jeito… fica pra você.
    — Cara… — ela guarda a carteira e fica pra baixo por ele — Sabe que se eu fosse milionária eu faria tudo pela sua filha.
    — Eu sei — respondeu com um largo sorriso — eu sei… falando nisso, soube que o resultado vai sair hoje da loto? Duzentos milhões, mulher!
    “Porra amigão… foi uma boa forma de mudar de assunto, admito…”
    — Tô sabendo sim, minha amiga não me deixa esquecer.
    — A Brendinha?
    — Ela mesmo.
    — Pow ela é muito gente fina, comprei uns sacolés pra Milena semana passada com ela!
    — Sério? Ela gostou?
    — Adorou, quando puder eu vou pegar mais lá com ela.
    — Que bom, pelo menos ela se alegra com um docinho né.
    — Sim sim, mas porquê a Brendinha não te deixa esquecer?
    “ ‘Brendinha’, ainda não tô acostumada com isso…”
    — Uns meses atrás ela me fez fazer o mesmo jogo que ela, e o irmão dela disse ainda pra fazermos o mesmo jogo duas vezes, ou seja, fui praticamente obrigada e jogar na loteria, aí agora eles estão falando disso toda hora.
    — Essa estratégia de jogar duas vezes é boa.
    — Tem que ser mesmo, porquê eu não estava nenhum pouco afim de jogar, aliás, isso foi logo depois daquela briga lá na praia.
    — Sério?! — Disse rindo — sensacional! Mas você lembra qual foi o jogo?
    — Lembro nada!
    O telefone fixo começou a tocar.
    — Ih! — reagiu Renan — devem ser os caras, será que mudaram de ideia?
    — Tomara que sim.
    — Show, vou lá trabalhar tá chefona! Qualquer coisa me chama.
    — Pode deixar, vai lá!
    Renan voltou para perto dos demais e Paulinha atendeu o telefone, pronta para ouvir algum pedido pra inspeção ou de algum documento da sua agenda… mas não era ninguém do trabalho.
    — Alô?
    — Oi, Paula.
    — …ah… oi… oi mãe — “Como… como ela conseguiu esse número?” — c-como conseguiu esse número?
    —…Essa é sua primeira pergunta?
    — C-como a senhora tá?
    — Não sabia que você tinha se tornado gaga.
    — Gaga? O-oque? Ah, não, só… só estou cansada e com calor.
    — Sei. Cansada e com calor. Claro.
    — …
    — Quanto tempo você é frentista?
    — Não sou frentista, eu gerencio.
    — Entendi, você gerencia… bacana… conseguiu isso por causa do seu noivo?
    — Você quis dizer meu ex noivo? Não.
    — …Sei.
    Paulinha bebeu mais um gole d’água, sua garganta estava seca novamente.
    — Não me respondeu, como a senhora está?
    — Eu tô bem, indo… a pensão daquele corno do seu pai até que dá pra pagar a casa.
    — Nós duas sabemos que o papai não era corno.
    — Era sim! E você é uma igual a ele!
    — Me ligou pra ficar ofendendo a mim e ao papai?
    — Eu te liguei pra te perguntar como você está — “e até agora não perguntou” — já que se depender de você eu morro sem receber uma ligação sua, né.
    — Estou bem, obrigada por perguntar.
    Mais um gole de água, “maldita garganta.”
    — Soube da Fernanda?
    — Sim, eu vi no Facebook.
    — Hm… eu fui no casamento, foi lindo.
    — É eu vi que a senhora estava lá.
    — Me perguntaram de você… e sobre o seu casamento, não soube o que responder.
    — …
    — Está casada?
    — Não.
    — Noiva?
    — …Não.
    — Namorando pelo menos?
    Paulinha começou a respirar fundo, nem conseguia mais olhar para o nada, seu olhar precisava se apoiar em algo mas nem isso ela conseguia, e quando respirou novamente pela boca, mas aquele ar rápido que entra quando alguém está prestes a chorar, sua mãe ouviu.
    — Paula Guimarães de Mello, você está chorando?
    — …Não.
    — Sei… claro que não está. O Carlinhos era tão bom, — “Claro que era! CLARO QUE ERA” — muito triste o que houve com ele… eu soube que o Tinho mora por aí também nesse fim de mundo, deveria ir falar com ele, dar uma nova chance.
    — …
    — Você precisa disso.
    — …
    — Como pode ser feliz sozinha? Me explica?
    — Tchau, mãe.
    E desligou.
    Ficou encarando o telefone por uns bons minutos até finalmente ficar aliviada de que ela não ligaria de novo.
    “Engole o choro, anda!”
    Se recusou a limpar o rosto, não até conseguir parar de chorar.
    “Anda!”
    Nesse momento lembrou da voz de seu velho.
    “Engole o choro, filha”
    “Mas tá doendo! O soco dela foi muito forte”
    “Eu sei que foi, mas é justamente por isso que você tem que engolir o choro, o soco dela pode ser forte, mas você? Você é muito mais! mais forte do que qualquer soco! do que qualquer adversidade!… você é a mais forte de todas… e sempre vai ser”
    Sua última lágrima caiu no chão, limpou seu rosto com a manga da camisa e bebeu mais um gole de sua água, enquanto encarava sua mão esquerda.
    Enquanto encarava seu dedo anelar.
    — Paulona! — gritou Marcos junto dos demais frentistas, quando ela olhou eles apontaram para o relógio — deu nossa hora, Loirona!
    Ela respirou fundo e gritou:
    — Aquele pessoal preguiçoso da tarde não veio ainda?! — Com aquela energia de sempre, como se nada tivesse acontecido.
    — Não vi ninguém não! — Respondeu Renan.
    — Então vamos fechar tudo! Bora meter o pé que eu ainda vou fazer uma caminhada!
    ••Brenda •
    — Fernando! — Gritou Brenda — Já lavou a louça?!
    Ela estava amarrando o tênis para caminhar com sua velha amiga, vestia um shortinho rosa, uma camiseta preta, meias brancas, tênis brancos da Nike e uma mochilinha de pano roxa só pra levar sua garrafa, uma colorida que mostra os horários de cada refeição.
    Brenda também estava diferente, começou a acompanhar Paulinha nas suas caminhadas há quatro meses, fez isso para motivar sua amiga mas acabou gostando; Está mais magra, mais sorridente e seu cabelo agora é um Blackzinho com cheiro de chiclete.
    — Hoje é dia do tio Marcos!
    — Dia de tio é o caramba, é seu! Pode descendo! Anda! Você e ela!
    — “Dia do tio Marcos” — Disse seu irmão, enquanto assistia televisão do sofá — que moleque safado!
    — Mas é seu dia mesmo, — sussurrou — só tô te dando esse desconto porquê vai levar a gente na mata.
    — Sei disso de dia não.
    — Sei. Sei. Agora levanta, a Paulinha já saiu do trabalho, vamos pegar ela lá!
    — Quem me dera pegar ela lá!
    — Você não começa!
    Fernando e sua namorada desceram e foram direto pro sofá.
    — Tão sentando porquê?! Vai lavar a louça menino! — Gritou Marcos, rindo.
    — Quem manda aqui sou eu, Marcos! Deixa que eu falo! — Disse Brenda — TÃO SENTANDO PORQUÊ?! VÃO LAVAR A LOUÇA!
    A namorada de Fernando riu e ele respondeu:
    — Vocês não vai sair?!
    — Vocês não VAI sair?! Tô pagando escola pra que?!
    Todos riram muito e ele se corrigiu:
    — Vocês não irão sair? Pode deixar que quando a senhora chegar a louça vai estar lavada!
    – Acho bom mesmo! — Disse Marcos pegando a chave do carro e saindo.
    — Eu que mando aqui, Marcos! E vocês dois, ACHO BOM MESMO!
    — Tchau mãe, boa caminhada!
    — Tchau, bom filme, beijos!
    Família boa…
    Os dois entraram no carro e partiram para encontrar Paulinha no posto.
    ••
    — Olha ela ali! Ali Marcos!
    Paulinha estava usando uma calça legging preta, uma camiseta vermelha, meias brancas e tênis pretos.
    Paulinha entrou no carro e seguiram viagem.
    — Demoraram, hein!
    — Que isso, demoramos nada! — Disse Brenda — Como você tá, amiga?
    — Meio sei lá, depois te conto.
    Brenda olhou para sua amiga pelo retrovisor e só pelo seu olhar ela já soube o motivo, poucas coisas podem deixar Paulinha tão mal quanto… “a mãe dela… será que elas se falaram? Tem coisa ai…”
    — Entendi… e como foi o trabalho? Marcos quer saber.
    — Claro que ele quer.
    — Me tira dessa aí — Disse rindo — Já desencanei da Paulinha.
    “MENTIROSO!!!!”
    — Sei.
    — Graças a Deus né, Marcos — Disse Paulinha — Bola pra outra, tanta piranha loira por aí e tu mira na que menos te dá bola.
    Brenda riu e disse:
    — Vai ver esse foi o que encantou ele!
    — Deixa baixo! — Marcos exclamou — Deixa baixo!
    Os irmãos riram e Brenda tentou mudar de assunto, já conseguia ver que o irmão estava um pouco constrangido:
    — Loirona, loto hoje hein!
    — Tô sabendo…
    — Vocês jogaram né?! — Perguntou Marcos.
    — Irmão! Tu sabe que sim! Tá me estranhando?
    — Sei lá, tu anda esquecida.
    — Nós duas jogamos a uns quatro cinco meses atrás ôôôô adotado.
    — Adotada é tu.
    Paulinha riu “tão bom ver ela rir” e disse:
    — Jogamos os números das nossas… primeiras vendas somadas? Acho que foi isso né, neguinha?
    — Acho que foi…
    — Algo assim.
    — Jogaram duas vezes? — Disse Marcos.
    — Sim…
    — Bom, tem que jogar duas vezes! Meu cliente falou.
    — Te falei né Paulinha dessa teoria do cliente dele?! Lá da mecânica?!
    — Falou sim, só umas quinze vezes.
    Os três riram e Marcos comentou:
    — Mas faz sentido pow!
    ••
    Chegaram na mata pela entrada do estacionamento onde um caminhão de peixaria estava descarregando em um armazém próximo ao portão, Marcos parou o carro um pouco distante do veículo e já começou a manobrar, iria voltar para casa para ver o resultado da loto e o jogo do Mengão que iria rolar depois, mas seu principal objetivo mesmo era não deixar que Fernando ficasse aos amassos, na cabeça dele era bem engraçado “empatar foda”.
    — Se cuidem hein meninas, e cuidado com o assassino da mata hein!
    As duas saíram do carro e Paulinha disse:
    — Como se a gente tivesse cara de adolescente.
    — A última que desapareceu aí tinha vinte e poucos pow — Disse Marcos, com uma leve preocupação, sempre ficou preocupado com essa história da Brenda ir andar na Mata, cinco meninas já sumiram nos últimos seis meses, mas ela estar acompanhada e sua companhia ser a Paulinha sempre o tranquilizou — não era adolescente não.
    — A gente sabe se cuidar, Marcão.
    — Disso Nilópolis toda sabe, Loirona Gostosa.
    Ela sorriu pra ele e deu as costas, de certa forma aquele sorriso melhorou bastante seu dia.
    — Tchau irmão! — Disse Brenda e acompanhou Paulinha que, para seu azar, pisou em um peixe — Amiga!
    Paulinha olhou para ela, nem havia percebido.
    — Tu pisou num peixe, mulher!
    Ela olhou para baixo e se tocou, ficou enojada começou a esfregar o tênis no chão como quem pisa em cocô de cachorro enquanto sussurrava palavrões.
    — Tchau de novo, irmão! — Disse rindo.
    — Tchau, mana! Fala pra ela lavar bem o tênis quando for pra casa.
    — Pode deixar! — Pegou no braço de Paulinha e partiram para dentro da trilha.
    Antes de virar o caminho e perder Marcos de vista, viu ele parando seu carro ao lado direito de um Fiat Uno vermelho que vinha no sentido contrário, em direção a Mata.
    — Peixe filho da puta.
    — Seu tênis vai ficar fedendo agora.
    — Tô sabendo… teu irmão, ainda tá caidinho por mim, né?
    — Está, está sim.
    — Sabia.
    As amigas seguiram à alameda até a entrada principal, não haviam muitas pessoas nem mesmo nos quiosques, alguns jovens estavam sentados nas mesas de pedra próxima a entrada e no caminho à frente o que dava para ver eram apenas duas ou três famílias, os desaparecimentos certamente afetaram a popularidade do lugar, o que para Paulinha era ótimo, “quanto menos gente melhor!”
    A tarde estava bastante quente, não tanto quanto aquela há quatro meses atrás lida por você caro leitor, mas era bastante quente; Depois de seguirem a bifurcação da direita da alameda principal de caminhada, Brenda puxou assunto:
    — Amiga… o que houve?
    — Do que você tá falando?
    — Você estava mal quando entrou no carro.
    — Ah… não era… não era na…
    Paulinha olhou para baixo e não conseguia falar qual era o problema, Brenda sentiu que deveria perguntar logo o que achava ser o problema, “mas e se ela não quiser falar sobre isso?…”
    — Se não quiser falar sobre, tudo bem.
    — Era… foda-se, era sobre minha mãe.
    — Eu imaginei… o que aconteceu?
    — Ela me ligou, ligou pro meu trabalho na verdade.
    — Pro seu trabalho? Como ela conseguiu o telefone de lá?
    — Sei lá…
    — …Ela… ela falou alguma coisa?
    — Falou… falou que eu deveria dar uma nova chance pro Tinho.
    — Tinho? Aquele maldito que te traiu e foi super ultra tóxico com você o namoro inteiro?
    — Ele mesmo, disse que ele tá morando em Nilópolis.
    — Graças a Deus nunca vimos ele, eu mesma se visse iria jogar na cara dele o que tivesse na minha mão!
    Paulinha deu um leve sorriso mas… pareceu forçado, algo para aliviar a tensão mas não deu muito certo.
    Paulinha continuou:
    — Ela é o tipo de mulher que acha que todas precisam casar, ter uma família e cuidar do seu marido… eu sou meio que uma decepção — Essa última palavra ela disse com bastante peso — sempre fui na verdade.
    — Casar? Cuidar do seu marido? Menina, mulher não precisa de homem nenhum, eu trabalho pra mim e por meu filho, meu irmão me ajuda mas tem a vida dele, esse negócio de toda mulher tem que se casar e viver com homem do lado é do passado.
    — Eu sei… mas ela disse que é o que eu preciso.
    Brenda pensou bastante no que diria a seguir, não queria pressionar mas também queria que ela disse-se o que pensava sobre si mesma, e torcia muito para que não acreditasse no que sua mãe maldita havia posto na cabeça da própria filha… “ah Paulinha… lá vai…”
    — E ela tá certa?
    Brenda a encarou, olhou para seus olhos… perdidos, olhando para o nada, reflexivos…
    Antes que Paulinha pudesse responder qualquer coisa, um homem as abordou:
    — Boa tarde, tudo bem? — Ele era branco, loiro, usava uma regata branca e uma jaqueta Florida por cima, uma calça jeans e tênis pretos, Paulinha o reconheceu na hora, era aquele loirão gostoso que havia visto há muito tempo atrás.
    — Boa tarde, tudo bem sim! — Disse Brenda com um sorriso enorme no rosto.
    Paulinha não respondeu, apenas deu um sorriso forçado.
    — Desculpa interromper vocês mas… já não as vi em algum lugar? Eu acho que foi num vídeo… — A voz dele era aveludada, suave, linda de se ouvir.
    — Viu sim! — Brenda respondeu toda risonha — somos as irmãs do sacolé!
    — Isso mesmo! Poxa que coincidência, o que fazem por Nilópolis?!
    — Somos de Nilópolis!
    — Sério?! Que bacana!… você, Loira, eu  já vi você, foi por aqui não foi?
    — Sim, eu estava voltando pra casa… estava mais gordinha na época.
    — Eu ia falar isso agora! Emagreceu, e você luta bastante né? No vídeo tu arrebenta dois caras ao mesmo tempo!
    Brenda ria dos comentários alegres do estranho bonitão e Paulinha dava sorrisos forcados para não estragar o clima; ele continuou:
    — Poxa que demais, bom ver vocês por aqui, estão dando uma caminhada?!
    — Sim! — Vamos só até ali no fim da estradinha e voltamos, — Brenda explicou — não seguimos até a Cedae não, por segurança.
    — Ah, que isso, eu levo vocês lá, é de boa!
    — Não, obrigada, preferimos ficar só nessa área mais próxima da entrada!
    — Não não, que isso, faço questão — sacou uma arma e apontou para elas.
    Era um revólver.38, de tambor, ele o manteve próximo ao seu corpo, sem o erguer e nem fazer escândalo, e também se manteve calmo, na verdade se mantinha até mesmo o tom alegre e espontâneo com que se apresentou:
    — Vamos lá, mostro pra vocês como é lá dentro.
    Brenda não sabia como reagir, ficou apavorada, sua vida inteira passou diante de seus olhos, não podia morrer, Fernando ainda estava na escola, ele precisa dela, precisa.
    Paulinha também não sabia como reagir, seu olhar era mais de descrença do que pavor, não conseguia acreditar naquilo; Já havia visto esse homem antes, já até conversara brevemente com ele, “como isso era possível? Que tipo de coincidência maldita era essa?”
    — Vamos meninas! Vamos lá! Garanto que vão gostar do lugar! Mas sem gritar por favor, um lugar tão calmo como esse não pode ser perturbado por gritos, concordam?
    ••
    Passaram pelo portão da Cedae abandonada, estava tudo enferrujado com exceção da corrente e cadeado que ele usou para trancar; Brenda se mantinha desesperada mas sem reagir, mantinha todo seu pavor controlado, seguindo as regras de se captor e se apoiando em Paulinha, que virou seu principal alicerce de sanidade.
    Ela segurou o braço de Paulinha assim como Fernando segurava o seu poucos anos antes, o que Paulinha fizesse, Brenda faria também; não parava nem por um segundo de olhar para Paulinha, sentia que se por acaso olhasse para seu captor o medo se tornaria real.
    Real.
    A Loirona Gostosa não parava de observar ao redor, tentava encontrar alguma forma de incapacita-lo, se ela conseguisse tirar sua arma, iria acabar com cada ossinho de seu corpo… “mas como?! Como eu me livro daquela arma?!”
    A Cedae era cercada por uma cerca gradeada muito enferrujada, do lado esquerdo do portão tinha um espacinho de terra recentemente cavada, Paulinha achava que Brenda poderia passar por ali, mas ela…
    — A entrada é logo ali, irmãs do sacolé.
    Elas olharam para trás e encararam o prédio com mais atenção.
    As paredes estavam imundas e com a tinta branca se descolando, as janelas estavam empoeiradas e algumas quebradas, provavelmente por conta de crianças jogando pedras; os vidros eram grossos, tão grossos que as partes quebradas até poderiam ser usados como lâminas (Paulinha pensava apenas nisso), e a porta metálica da entrada principal também estava com uma corrente e cadeado.
    O loiro tomou liderança do caminho e, com uma chave, abriu o cadeado e retirou a corrente, as duas repararam que ele não usava chaveiro, as chaves estavam soltas em seu bolso; ao abrir a porta, tudo que elas puderam ver naquele corredor da entrada era um chão sujo e corrimãos amarelos no fim do mesmo.
    — Cheguem mais, “mi casa és su casa!”!
    Brenda só pensava em Fernando, já Paulinha… “Como é possível que não tenha NINGUÉM para ver o que está acontecendo  aqui!”
    Paulinha deu os primeiros passos e Brenda a acompanhou, as duas adentraram o lugar escuro e empoeirado e sentiram o cheiro… o cheiro que nunca mais esqueceriam: o cheiro do medo.
    O ar estava quente, úmido e morto, havia o fedor vindo dos canos de tratamento de água abandonados pelo tempo, nas paredes havia não só poeira e fungos como algo mais… algo mal.
    Ele fechou a porta e trancou, depois se virou bem devagar para elas e dessa vez, dessa vez… não havia mais aquela animação de antes, agora havia mostrado quem realmente era; seu olhar estava muito mais profundo e sem emoção, no fundo dos seus olhos não havia nem mesmo aquela empatia falsa de antes, apenas o mais profundo mal: a ausência de humanidade.
    — Continuem andando. Eu digo quando parar.
    As duas seguiram em frente, ouvindo os passos lentos e pesados atras de si; No final daquele corredor escuro e sujo havia uma entrada sinuosa, ao olharem para lá viram um corredor longo, mal iluminado com apenas poucos focos de luz no teto, as paredes eram de ferro, já bem laranja, coberto de ferrugem, com desenhos de símbolos quase que religiosos, nomes escritos com fios de palha que Paulinha e Brenda não conseguiam nem mesmo pronunciar em suas mentes, e pelo caminho, alguns chinelos e pedaços de roupa, dava para ver que haviam sido bem mais do que cinco vítimas.
    Paulinha e Brenda seguiram por ali em silêncio, Brenda chorando muito mas fazendo de tudo para não fazer nenhum barulho. Após alguns passos nesse corredor, ouviram o passo daquele homem adentrando no corredor também, e o som de seu passo foi completamente assustador para Brenda, foi como um estouro num lugar vazio, o som pesado passou por seus ouvidos como uma bala, fazendo-a gritar.
    — Silêncio. — Disse aquilo atrás delas, calmo.
    Paulinha segurou a amiga pelo rosto e olhou em seus olhos:
    — Neguinha… vai dar tudo certo… agora fica calma por favor.
    Por mais incertas que aquelas palavras fossem, foi o bastante para deixar Brenda calma, por um instante se sentiu segura, mesmo adentrando possivelmente no que seria seu fim.
    — Tá bom… — Foi o que foi capaz de responder — tá bom…
    Paulinha segurou em sua mão e continuaram em frente, de repente começaram a ouvir uma voz em suas mentes, uma voz grossa que dizia algo incompreensível, mais parecia um ruído, um sibilar, algo gutural que a cada passo que davam mais alto ficava em suas mentes.
    Paulinha também estava assustada, na verdade, apavorada, mas sabia que sua amiga precisava dela, sabia que, se entrasse em pânico, Brenda também entraria.
    “Por ela… por ela.”
    Andaram por menos de dois minutos naquele corredor e quando finalmente chegaram numa sala escura o sibilar parou.
    Nela havia um altar de palha no centro com um livro bem grande, sua capa parecia ser de pele humana… acima dele havia uma criatura estranha esculpida em pedra, a escultura era pequena (cabia em mãos grandes), possuía textura áspera, asas e longos tentáculos; no canto direito da sala tinha uma mesa cheia de ferramentas, lâminas, bisturis… e nas paredes haviam ganchos com pedaços de carne em decomposição, talvez uma dezena ou uma dezena e meia, na escuridão não dava para ter certeza.
    Brenda em sua inocência ou como uma forma de se preservar de demais pensamentos, imaginou que fossem carnes de animais, já Paulinha, sabia bem que aquelas eram as outras meninas, e novamente, bem mais do que cinco…
    O cheiro era acachapante, a mais pura podridão que tomava conta dos sentidos de Brenda e Paulinha, era nauseante estar naquela sala, completamente nauseante; Assim que entraram se encostaram numa parede e ficaram olhando para baixo, ouvindo os passos daquilo vindo até a sala para se juntar a elas… foi então que… ouviram mais do que apenas dois passos… espera… passos de cachorro?
     ••        Pedro •
    Pedro acordou de um sonho que não queria despertar, um sonho bom, com ela; Somente quando abriu seus olhos pode perceber que havia dormido no sofá, estava pelado e tinham quatro latas de cerveja no chão, esperava que Malhado não tivesse lambido nada (e provavelmente não lambeu mesmo, Pedro bebeu até a última gota pelo o que se lembra), e também esperava ter trancado a porta de casa antes de cair na bebedeira completamente pelado em sua sala.
    Esse sofá era o lugar favorito dela na casa, mais do que a cama! aliás as cervejas eram Skol, a favorita dela, “porra, CHEGA! Vamos acordar ! Levanta seu merda, anda!!!”
    Com bastante esforço conseguiu se sentar, Malhado estava deitado próximo a cozinha, olhando para ele.
    — E, bêbado por causa de mulher de novo, eu já sei, não precisa jogar na minha cara.
    Malhado girou a cabeça pra direita como se não entendesse o que ouvira.
    — O que foi? Tá com fome? Quer passear?
    Girou a cabeça para a esquerda.
    — O que? Já me viu pelado antes Malhado, não me julga não que é feio julgar alguém pela aparência.
    Malhado colocou a língua para fora e ficou respirando rápido, com um sorrisinho fofo e espontâneo.
    Pegou seu celular para fazer seu ritual matinal dos últimos dois meses: conferir mensagens e ligações perdidas.
    — Ah… nada… que surpresa.
    O namoro de Pedro não durou muito depois daquela conversa na Avenida Brasil, deram um gelo um no outro até voltarem a se ver novamente, mas não foi a mesma coisa, parecia que o brilho havia sumido, mais para ela do que Pedro que descobriu de uma vez por todas que segredos criam barreiras entre as pessoas, e essas barreiras as vezes podem ser bem difíceis de serem quebradas.
    Largou seu telefone no sofá, coçou a barriga e disse para Malhado:
    — Vamos passear, amigão? — Que respondeu mexendo a cauda de um lado para o outro.
    Pedro tomou um banho de água gelada, foi difícil no começo e chegou a pular quando a água encontrou sua pele, mas se acostumou rápido, depois do banho comeu uma banana e deu outra para Malhado que gostava de comer com casca e tudo.
    Vestiu uma blusa marrom, bermuda azul escura, colocou seu cordão que foi presente dela, duas havaianas pretas e um relógio de prata (falso, óbvio).
    Depois de colocar a coleira em Malhado, olhou para sua arma logo acima da cômoda, tem levado ela bastante consigo recentemente (desde que brigou com ela! Que brigou com ELA!!!), tem deixado sempre no coldre da cintura, mas nos últimos dias têm seguido o conselho de Marcão, pode até ouvir sua voz dizendo:
    ‘Deixa essa parada em casa, piroca! Tu tá muito abalado com aquela mulher, vai acabar fazendo besteira ‘cah’’ 
    “Porra…”
    Decide deixá-la onde está e parte para a Mata.
    ••
    Com Malhado no banco do Carona, Pedro dirige sua Fiat Uno vermelha até o Gericinó (Mata, para os mais íntimos), já se acostumou a ter seu velho amigo ao seu lado em todas as viagens de carro, antes era ela mas “meu Deus, chega disso, para de pensar nela!!!”
    Quando chega próximo à entrada do estacionamento vê Marcão manobrando, vindo em sentido contrário, parou o carro ao seu lado e gritou:
    — Fala aí, Marcão!
    — Fala aí Piroca! — Disse todo sorridente, também acenou para Malhado — Totó! Indo passear é?
    — Sim, vou levar ele pra dar uma voltinha, tá precisando.
    — Ele ou você?
    “Porra, Marcão…”
    — Nós dois, né, nós dois…
    — Como você tá, ‘cah’?
    — Tô indo, acho que já tô melhor agora.
    — Sério mesmo?
    — Sério pow, essa noite mesmo eu dormi com uma piranha aí.
    — Sério?! — Não pareceu acreditar — que piranha?
    — Uma aí… acordei com ela no sofá.
    — Sei… mas olha cara, tu vai superar essa, quando tu vê, ela que vai atrás de tu e você nem vai estar mais lembrado de quem era ela — “literalmente impossível “— Vai por mim!
    — Sei…
    — Mas agora eu tenho que ir lá, boa caminhada aí, Piroca!
    — Valeu, Marcão.
    — Ah, minha irmã tá aí pow, deixei ela aí com uma amiga dela, da uma olhada nelas pra mim? Deixa ninguém tocar não, principalmente na loira, é minha! — Disse rindo.
    — Tua namorada?
    — AINDA não! AINDA!
    — Sei — riu — Valeu, Marcão.
    — Valeu, Piroca! — Gritou e seguiu viagem: Pedro gostava bastante do Marcão, talvez não devesse, mas gostava.
    Pedro avançou para dentro do estacionamento da Mata e quando passou por um caminhão que estava descarregando peixe num armazém e Malhado quase pulou pela janela.
    — Calma aí, amigão! É só peixe!
    Colocou seu carro numa das muitas vagas livres, pegou seu amigo pela coleira e seguiram para a trilha.
    ••
    Malhado já havia feito xixi três vezes e cocô duas, Pedro não aguentava mais a agonia de ter que torcer pra ninguém estar vendo que esqueceu os saquinhos de necessidades do seu animal, estava aliviado que agora (pelo menos nos últimos cinco minutos) Malhado parecia não precisar mais fazer o que ninguém poderia fazer por ele.
    Subiam a estrada de terra que levava até uma Cedae abandonada quando Malhado começou a agir estranho.
    — O que foi garoto?!
    Ele não parava de olhar para o prédio esquecido, o que era bastante bizarro já que Pedro o levava para ali quase todos os dias e aquilo nunca tinha acontecido.
    — Viu alguma coisa?
    O bichinho estava cheirando sem parar, parecia sentir algo vindo de lá.
    — O que foi, Malhado?!
    Foi então que o cachorro deu um pique que Pedro não estava esperando e acabou deixando a coleira escapar de sua mão.
    — Malhado!
    Malhado correu para o portão da Cedae onde tentou forçar para abrir e nada aconteceu, depois correu para a cerca gradeada por onde ficou tentando pular mas também sem sucesso, até que começou a cavar numa área sem grama que Pedro julgou já ter sido cavada antes.
    — Malhado! Para!
    Malhado cavou rapidamente o buraco e conseguiu passar para o outro lado.
    — PORRA!
    Pedro ficou sem saber o que fazer, não iria conseguir pular o portão e aquela cerca parecia meio alta também; Malhado estava agora cheirando a porta metálica da entrada do lugar, Pedro sabia que se ele conseguisse entrar no prédio poderia cair em alguma entrada de esgoto ou algo assim e poderia acontecer o pior, o que lhe amedrontava profundamente.
    A única entrada era o buraco que Malhado havia cavado.
    — Puta que pariu… puta que pariu…
    E foi para onde foi.
    Com certa dificuldade conseguiu atravessar, ficou todo sujo de terra e sabia que quando chegasse em casa teria que tomar um senhor banho, não antes de deixar Malhado de castigo, “Você vai ter que dormir do lado de fora hoje seu féla da pulta!”
    — Entrou aqui porquê, porra? Me sujou todo!
    Malhado não parava de olhar para a fresta da porta.
    — Tá olhando para o que?! Tem comida aí dentro?!
    Foi então que ouviu um grito.
    Cão é dono tomaram um susto, o suficiente para um pequeno pulinho para trás.
    “O que foi isso?!”
    Foi um grito de mulher e veio lá de dentro, Pedro pensaria que foi só sua imaginação se Malhado também não tivesse pulado… tem uma mulher ali dentro.
    Em outro contexto, Pedro teria ignorado o que ouviu, teria se afastado e no máximo dito para alguém que certa vez ouviu um grito vindo de um prédio abandonado, talvez em algum encontro de amigos numa noite densa, como uma história de terror… mas cinco meninas haviam desaparecido nos últimos meses, não era uma história de terror, era realidade.
    — No que você meteu a gente, amigão?
    Malhado o encarava assustado.
    — Bora entrar aí.
    Pedro procurou por uma entrada, tentou a mais óbvia mas estava trancada com um cadeado e correntes que estavam muito novos para algo que havia sido abandonado a anos, “Puta que me pariu…”
    Caminhando ao redor encontrou uma janela quebrada, várias na verdade, mas apenas uma era grande o suficiente para ele é Malhado passarem sem se cortar.
    Pedro entrou sem fazer barulho, com passos leves e lentos, depois pegou Malhado no colo e o pousou gentilmente ao seu lado.
    — Fica comigo. Fica. Comigo.
    Pareceu entender o que Pedro dizia pois fez exatamente o que seu dono mandou.
    O lugar era muito empoeirado, tudo ali tinha um visual que parecia ter saído de uma história pós apocalíptica, mas o que mais amedrontava Pedro não era o visual, e sim o cheiro: podridão e maresia.
    Não fazia sentido para ele sentir cheiro de maresia num lugar tão longe de qualquer vestígio de praia, mas talvez fosse algo referente a estação de tratamento abandonada, pelo menos era assim que sua mente tentava explicar o que sentia.
    Pedro chegou a um corredor bastante aberto que dava para aquela porta principal, logo ali pode ver corrimãos amarelos que separavam o corredor de uma longa área de tratamento onde haviam dezenas de canos que vinham diretamente do subsolo… e Pedro ouviu um som vindo deles.
    Vozes guturais, mais pareciam ruídos na verdade… um sibilar grosso e amedrontador, que dizia palavras que Pedro não conseguia nem ao menos conceber e aquilo fez ele tremer na base pra caralho.
    Observando, a única conclusão que consegui chegar era que aqueles sons vinham de alguma coisa embaixo da terra… mas o que? O que seria capaz de fazer esse som tão… tão absento.
    Tentando ignorar aquele som, Pedro continuou andando naquele amplo corredor até chegar em uma entrada sinuosa, escura, que dava para um outro corredor bem mais estreito do que esse.
    Era um corredor escuro com poucas luzes no teto com espaço de uns cinco passos entre elas, paredes de ferro completamente tomado por ferrugem, com palavras escritas com palha e… ei, “tem um malandro ali…”
    Havia um homem de jaqueta florida, estava de costas para Pedro e talvez há uns trinta metros dele, era loiro e bem alto; Malhado entrou no corredor mas não deu muitos passos antes de olhar para Pedro e pedir sua permissão com o olhar, que não foi correspondido.
    — Ô amigão! — Gritou Pedro — O que que você tá fazendo aí, hein?
    O homem loiro parou de andar e lentamente olhou para trás, por estar logo abaixo de uma das luzes seu rosto foi logo reconhecido por Pedro como o do “Cara que anda pela mata”, já havia visto ele algumas vezes antes, nunca conversaram nem nada mas sabia dele, era ‘Um cara lá’.
    — Fala aí, irmão! — Disse Pedro novamente — Tá tudo bem ai?!
    O loiro estava com um olhar vazio, quase que morto, porém lentamente começou a demonstrar uma emoção: raiva.
    — O que quer?! — Gritou de volta.
    — Ah, nada demais, só estava olhando e vi esse corredor sinistro aqui e você aí dentro, só queria saber o que tá rolando.
    — Vá embora!
    “Tô querendo mesmo”
    — Cara eu até quero! mas é que ouvi uma mulher gritando e vim conferir! Sabe como é né, andam sequestrando meninas por aí!
    O homem pegou uma arma e apontou.
    — Meu Deus do céu! — Foi a reação instintiva — Faz isso não, cara!
    — Vai embora!
    Atrás dele, duas mulheres saíram de alguma sala, não conseguia ver muito bem seus rostos por estarem meio longe mas conseguia ver que estavam assustadas, tremendo, uma loirinha e uma pretinha… “espera…puta que pariu! A irmã do Marcão e a quase namorada dele?!”
    — Puta que pariu… — Sussurrou — Olha amigão! — Colocou suas mãos acima da cabeça, virou seu olhar para baixo e começou a andar lentamente em direção ao homem armado — não posso ir embora! Acho melhor você me prender aí com elas!
    — Que porra é essa?! — Disse Brenda.
    — Nossa ajuda. — Paulinha sussurrou.
    — Calem a boca as duas! — gritou o desgraçado loiro ao se virar e apontar para elas — voltem pra sala!
    — Amigão! — Gritou Pedro — Ouviu o que eu falei?! É que tu não me respondeu aí sabe como é né?! Não sou adivinho!
    O raptor juntou as costas na parede e começou a mirar para os dois lados, as amigas perceberam de que ele não estava preparado para uma situação dessas.
    — Vocês duas! Voltem pra sala! E você! SAIA DAQUI AGORA!
    Pedro estava se aproximando lentamente com Malhado logo atrás:
    — Mas meu amigo, eu não sei o caminho de volta! Eu tô perdido!
    Paulinha percebeu que o homem com o cachorro estava tentando o distrair e disse:
    — Pois é! Ele não sabe como sair daqui! Vai lá ajudar ele! A gente se virá aqui!
    O loiro avançou em Paulinha, colocou o cano do revólver eu sem pescoço e gritou:
    — CALA A BOCA SUA PUTA!
    Com ele tão próximo, Paulinha e Brenda puderam ver seus olhos… estavam vermelhos, vermelhos brilhantes.
    — Amigão! — Gritou Pedro.
    O homem se virou e, com passos rápidos, chegou próximo de Pedro e parecia estar prestes a dar um tiro.
    — FALEI PRA VOCÊ IR EMBORA, PORRA!
    Neste momento, Pedro olhou para a arma, sua vida estava prestes a passar pelos seus olhos… quando ele reparou que não haviam balas no tambor.
    “Acostumado a pegar só meninas, né seu desgraçado?!”
    — A arma está descarregada… — Disse Pedro com alívio e raiva, um sentimento similar a uma vingança — descarregada!
    Paulinha e Brenda tiveram uma epifania ao ouvir aquilo.
    “Descarregada?!” Pensou a Loirona, “Descarregada!!”
    O loiro chegou a apertar o gatilho naquele momento, mas como Pedro havia dito, não haviam balas, só fez barulho.
    Brenda soltou o Braço de sua amiga pois sabia o que aconteceria em seguida: um show.
    Paulinha avançou para o loiro, ele chegou a se virar para trás mas não tão rápido quanto a campeã nacional de boxe que com a mão direita agarrou seu pescoço enquanto com a esquerda socou sua barriga repetidas vezes, ele tentou batê-la com sua arma mas Brenda conseguiu o impedir dando um tapa em sua mão, lançando o revólver ao chão.
    — FILHO DA PUTA! — Gritou Paulinha.
    — ASSASSINO! — Gritou Brenda.
    — DEMÔNIO! — Gritou Paulinha.
    Paulinha desferia socos no estômago e olhos, um em seguida do outro enquanto Brenda dava chutes nas pernas e arranhões no braço, não demorou para ela se virar e ir até a sala pegar uma das lâminas que havia visto.
    Paulinha não parava nem por um segundo de o espancar, sentia-se não só expurgando todo medo e raiva que havia sentido desde que foi interceptado por aquela coisa do lado de fora quanto vingando todas as mulheres que aquilo havia feito mal.
    Numa das tentativas de se defender, o loiro pegou a cabeça de Paulinha para dar uma cabeçada, mas foi impedido por Pedro que pela primeira vez em anos desferia um soco na cara de alguém.
    O homem caiu no chão junto de todas as suas chaves que saíram de seu bolso, Paulinha aproveitou a queda para chutar seu tórax, após o quarto chute ele juntou suas forças para se levantar e nesse mesmo movimento pegar uma de suas chaves.
    Foi tudo muito rápido, se levantou com uma chave em mãos e se desvencilhou dos seus agressores, correu como nunca havia corrido antes para fora daquele lugar.
    — Malhado! Pega! — Gritou Pedro para seu cachorro que no mesmo instante começou a perseguir o maldito.
    — Ele vai fugir! — Gritou Brenda saindo da sala com um facão enferrujado enorme nas mãos.
    — Não vai não! — Respondeu Pedro, com a mão direita arrancou a bala do seu cordão que ainda estava com a marca de beijo dela e com a esquerda pegou o revólver.
    ••
    Por sorte, a chave que conseguiu pegar na fuga era a do cadeado da porta principal, destrancou o cadeado e arrancou aquelas correntes o mais rápido que pode, abriu a porta e correu!
    Não conseguia enxergar direito, o sangue que descia de sua testa atrapalhava sua visão, sua barriga doía MUITO e sentia que não estava mais conseguindo pensar com clareza, só sabia que deveria sair dali.
    Ao chegar no portão, usou o que restou de suas forças para pular por cima, deu um pulo com seus braços para o alto e com muito esforço ergueu seu corpo podre e ferido, foi quando viu aquele cachorro, o que estava com aquele cara!
    O cachorro latia muito e parecia assustador, mas não conseguia pular até ali em cima, sem tempo para comemorar ele apenas pulou para o lado de fora e continuou correndo, foi então que… que ouviu um barulho de grade…
    Malhado passou pelo buraco que havia cavado e avançou para aquele homem, aquele troço.
    “Ele mandou eu pegar, eu vou pegar!”
    Aquilo se virou para olhar de onde o barulho de grade vinha mas já era tarde demais e malhado estava trucidando seus testículos:
    — AAAAAAAAHHHHH!
    “Peguei!”
    ••
    Paulinha, Pedro e Brenda correram até a saída, o sibilar que vinha dos canos de esgoto sessou assim que os três passaram novamente pela entrada, ainda não sabiam disso mas iriam ouvir aquele som novamente pelo resto de suas vidas, quando estiverem sentados no sofá depois de um almoço de domingo, quando estiverem dirigindo numa estrada escura, quando estiverem sozinhos e imersos em seus pensamentos… mas isso não era algo para se preocupar agora.
    Chegaram no portão e se viram numa encruzilhada, os três pensaram ao mesmo tempo:
    “Deveríamos ter pegado as chaves”
    Pedro chegou perto do portão e disse:
    — Talvez eu consiga quebrar dando umas porradas com a arma!
    — Não vai ser preciso! — Gritou Paulinha, a Loirona correu e com o chute mais poderoso que já havia dado em sua vida, arrombou o portão, torcendo a corrente no meio e tombando tudo no chão.
    “Caralho”, Pensou Pedro.
    — Caralho. — Disse Brenda.
    O assassino que estava sofrendo com Malhado, deu um soco no focinho do pobre animal e chutou sua barriga, fazendo ganir na hora; Se levantou e tentou salvar sua vida, iria correr para longe daqueles três! Afinal, “eles não tem nem arma!”
    Pedro acoplou a bala com a marca do beijo de Debra na arma, girou a tambor, mirou… e disparou.
    A cabeça explodiu com o impacto.
    Pedro, Paulinha, Brenda e Malhado assistiram aquilo deixar de existir, pedaços do seu cérebro se espalharam pelo chão e seu corpo despencou como um saco de carne; Sangue e um líquido preto jorrava de dentro daquilo que costumava ser um monstro e agora era só isso: carne sangrando num chão de terra.
    Os três protagonistas observavam.
    — Ah… qual seu nome? — Disse Brenda.
    — Sou Pedro.
    — Prazer, Pedro, me chamo Brenda.
    — Brenda… prazer… você é irmã do Marcão?
    — Sou… sou sim.
    — Ele é meu mecânico.
    — Hm… olha só… mundo pequeno.
    — Pois é…
    — Essa daqui é minha amiga Paulinha.
    — Prazer, Paulinha.
    — Prazer, Pedro… — Ela respondeu.
         ••   Epílogo •
    O sol já estava quase se pondo, o céu estava amarelado, viaturas polícias estavam cercadas de curiosos, uma van da Rede Globo era cercada por seguranças, uma van da Rede Record tentava estacionar enquanto os repórteres caminhavam até os três sobreviventes para cobrirem sua matéria.
    Duas ambulâncias estavam no centro de todo aquele fuzuê, enquanto uma viatura do IML manobrava para deixar o local.
    Nas ambulâncias, estavam eles três, os sobreviventes e recente celebridades do município de Nilópolis: Paula Guimarães, Pedro Cunha e Brenda Oliveira.
    — Brenda! — Dizia a jornalista — Como foi que tudo aconteceu, fala pra gente!
    — Foi tudo muito rápido — Brenda falava enquanto as enfermeiras a colocavam na maca — ele chegou pra gente sendo todo alegre e do nada apontou uma arm— um enfermeiro passou na frente do microfone.
    Os curiosos gritavam, todos elogiando os três sobreviventes, eufóricos chamavam os três de heróis, a energia era tanta que a força policial e seguranças dos repórteres precisavam unir forças para evitar que invadissem a pequena área.
    — Pedro! Pedro! —  Gritou um jornalista do Balanço Geral para Pedro que tentava conversar com uma das enfermeiras sobre estar bem e não precisar de cuidados — É verdade que você possui passado militar? Gostou de matar vagabundo?
    — Eu não dou entrevistas! — E colocou suas mãos sobre o rosto — Cadê meu cachorro?! Malhado! — Um enfermeiro entregou o cachorro em seu colo, com uma bandagem ao redor da barriguinha.
    — Paulinha! — A Jornalista da Rede Globo gritava para ser ouvida, Paulinha estava de pé ao lado de Brenda enquanto a mesma era medicada — É verdade que o assassino estava desarmado quando morto? Acha que foi necessária sua morte?!
    Paulinha ficou puta e fechou a porta da ambulância.
    — Amiga, — Dizia acariciando a cabeça de Brenda — vai dar tudo certo, fica calma.
    Brenda deu um largo sorriso e respondeu:
    — Eu sei que vai.
    A ambulância partiu com Brenda e Paulinha para o hospital, uma equipe de jornalistas se preparava para entrar no covil do assassino junto da polícia e os demais repórteres tentavam, em vão, uma e entrevista com Pedro, que tampava seu rosto e só demonstrava se importar com o bem estar de seu cachorro.
    ••
    A lua já brilhava no céu quando Pedro finalmente conseguiu chegar em casa com Malhado, não aguentava mais explicar de onde havia saído aquela bala.
    Trancou sua porta e, exausto, se sentou em seu sofá, Malhado se sentou ao seu lado, apoiou a cabeça em sua coxa e começou a cochilar.
    — Tá cansado né, amigão… nós dois estamos… que dia…
    Tirou a camisa e pegou seu celular, haviam dezenas de ligações perdidas, de vários colegas, alguns amigos, algumas ex ficantes mas a maioria eram de sua irmã, “porra, tô famoso…”, estava prestes a ligar para ela quando viu uma que chamou sua atenção… uma chamada perdida de Debra.
    Encarou, sorriu, se entristeceu… e ligou de volta.
    Ela rapidamente atendeu:
    — Pedro?! Tudo bem?!
    — Oi Debra, tô bem sim.
    — Meu Deus, que bom, eu vi na televisão o que aconteceu, meu Deus meu Deus meu Deus, como foi tudo isso?
    — Tudo foi muito rápido, eu só entrei lá e… e aconteceu, não me machuquei nem nada, só fiquei preocupado pelas outras duas.
    — Que bom que não houve nada, o balanço geral entrou lá no covil, mostraram tudo, censuraram mas mostraram, tinha até um altar lá!
    — Tinha?
    — Tinha! Você não viu?!
    — Eu não fui tão a fundo, enfrentamos ele num corredor.
    — Tinha um altar de palha vazio lá! Desenhos de monstros nas paredes! facas!
    — Das facas eu sabia, uma delas voltou lá e saiu com um puta de um facão, nem usou, tadinha, tava doida pra enfiar aquele facão no rabo dele.
    Debra riu e Pedro se lembrou de como amava ouvir aquelas risadas, eram um som tão lindo, tão mágico, era como uma recompensa pra um dia tão… estranho.
    — Cara, — Ela disse ainda rindo — como que você consegue ser engraçado com algo tão horrível?
    — Dou meu jeito, sabe como é.
    — E como sei…
    — Hm…
    — Fiquei com muito medo de você… sei lá, eu fiquei apavorada quando te vi na televisão com os repórteres falando de assassino e gente morta e covil… meu Deus… — Ela começou a chorar — eu achei que tinha te perdido…
    — Ei… ei, calma, tá tudo bem, eu tô aqui, vivo e bem, Malhado também por sinal, esse cara sim foi um guerreiro.
    — Fiquei preocupada com ele também, foi bom ver ele na televisão, vi que um enfermeiro colocou um curativo nele.
    — Eu que pedi.
    — Ficou tão fofinho, tadinho.
    — É… ele tá dormindo aqui na minha coxa agora.
    — Hm… bom pra ele.
    — Pois é…
    Um silêncio se instaurou, aquele mesmo silêncio de antes, que não incomoda, que conforta, que acalma… e que Pedro sabia que queria pelo resto da sua vida.
    — Debra…
    — Diga-me.
    Ele respirou fundo antes de continuar.
    Pensou se deveria e… “Porra, óbvio que eu devo, chega de ser um marica…”
    — O meu pai nunca foi muito bom pra mim… nem pra mim nem pra minha irmã, e muito menos pra mamãe… ele… ele e a mamãe se divorciaram quando eu ainda estava na escola… ela ficou com a guarda e… e ele… ele ficou ainda pior com a gente depois disso…
    Seus olhos se encheram de lágrimas.
    — Ele dizia que eu era fraco…
    — Pedro—
    — Sempre dizia… que eu não poderia e nunca iria conquistar nada porquê… porquê eu não merecia… pois eu era um marica… ele via demais da mamãe em mim, quando ela passou a criar eu e minha irmã sozinho isso só piorou… uma vez ele olhou nos meus olhos e disse que nunca ia ser feliz… nunca, que eu nunca iria ter uma família porquê eu não era capaz… e… — Sua respiração acelerou, lágrimas não paravam de cair e Pedro se viu num estado que nunca esteve antes, finalmente colocando tudo aquilo para fora, era um triste e doloroso alívio dizer aquelas palavras pra quem amava — eu… por muito tempo eu acreditei nele, eu acreditei, porra eu já tenho mais de cinquenta e nunca, nunca consegui construir nada, minha irmã está lá casada, teve meu sobrinho! Uma criança linda, maravilhosa, tem uma vida, sabe?!, e… e eu… eu só pude sentir…
    — O que? — Debra chorava enquanto perguntava.
    — Eu só pude sentir que ele estava errado… quando estava com você…
    — Pedro…
    — Eu… eu te amo… eu sei que eu deveria ter me aberto com você, e que deveria ter te apresentado pra minha irmã, te trago pra minha vida… mas eu fui fraco… fui como meu pai, mas eu não quero mais, eu não quero nunca mais ser que nem meu pai.
    Debra chorava muito e Pedro finalmente pode se sentir liberto, como se um peso gigantesco tivesse sido tirado de seus ombros.
    — Eu… — Ela dizia enquanto continha as lágrimas — eu também te amo…
    Pedro conseguiu dar um sorriso em meio aquelas lágrimas.
    — Debra… minha irmã provavelmente vai querer fazer um churrasco por eu ter aparecido na tv… foi uma aposta que fizemos quando mais novos que se um de nós aparecesse na tv o outro teria que fazer um churrasco… e… você podia ir.. a gente ajuda lá a fazer o almoço e tal… ela iria gostar de te conhecer… o que me diz?
    — Baby… eu adoraria! — Disse com um riso de alívio.
    — Bom… vou ver o dia e marcamos.
    — Ótimo, marcamos então.
    — Certo… tchau, baby.
    — Tchau, baby.
    Pedro desligou o telefone e não conseguia conter tanto seu sorriso quanto suas lágrimas.
    Lágrimas de alegria. Lágrimas de liberdade.
    ••
    Paulinha segurava a mão de Brenda o tempo inteiro, sua amiga havia sido medicada com um calmante, estava bastante nervosa quando a polícia e ambulância chegaram; Sentou-se ao lado da maca e ficaria com ela ali até o Marcos e Fernando chegarem.
    — Amiga, eles já estão vindo? — Perguntou Brenda.
    — Sim neguinha, estão sim.
    — Eles sabem que é aqui no Jucelino?
    — Sabem sim, eu falei.
    — Que bom… Paulinha, obrigada, eu não teria conseguido sem você.
    — Claro que teria.
    — Não, eu não teria, eu estava muito nervosa… eu… eu… — Não conteve as lágrimas — achei que eu ia morrer…
    — Ei, ei, você tá bem, relaxa, tu foi forte pra caralho mulher, você é forte… você me manteve calma lá, sabia?
    — Nem vem, você que me conteve calma…
    — É sério… eu… eu também não teria conseguido sem você… tu é minha maior inspiração nega.
    — Sério?
    — Claro, porra você é foda, foi corajosa pra caramba tanto lá quanto na vida, eu jamais pensaria em vender sacolés na situação que você estava e, mesmo que eu tivesse pensado, não iria conseguir crescer tanto quanto você cresceu… você é muito forte, Brenda, muito mesmo.
    — Aí… eu vou chorar, amiga.
    — Pode chorar.
    Brenda conseguiu juntar forças e se erguer para abraçar sua amiga, sua parceira, sua irmã.
    — Eu te amo, Paulinha.
    — Eu também te amo, Brenda.
    — Você é a pessoa mais forte que eu conheço, vejo você como meu refúgio, sabia? Meu refúgio loiro e super gostosão!
    Paulinha riu e disse:
    — Obrigado, amiga…
    Uma enfermeira abriu a porta e Marcos e Fernando entraram.
    — Mãe!
    Paulinha se afastou e Brenda abraçou seu filho com muita força, Marcos os abraçou por cima.
    — Você tá bem, mana?
    — Tô sim… só tô meio emocionada por causa do calmante…
    — Vou lá, — Disse Paulinha — quando chegarem em casa me avisem.
    — Que isso, — Reagiu Marcos — volta com a gente, te deixo em casa.
    — Não, obrigada, eu quero ir andando… tchau gente.
    Marcos e Fernando se despediram.
    — Tchau, neguinha.
    Brenda olhou nos olhos de sua irmã de outra mãe e com um tocante sorriso, disse:
    — Tchau, Loirona Gostosa.
    Paulinha sorriu de volta, abriu a porta e—
    — Loirona! — Disse Brenda — Deixa a porta aberta por favor? Tá quente aqui.
    — Claro.
    E foi embora, enquanto caminhava pelo corredor escutou:
    ‘Maninha, o resultado da loto foi quatorze, vinte e seis e quarenta, deu que foi pra cinco ganhadores, quais números você jogou?’
    ‘Ih, só voltando pra casa pra eu saber, o jogo tá na minha cômoda do quarto’
    ••
    O hospital fica numa elevação no centro do município, numa rua meio estreita e não muito bem preparada para ter um hospital mas, é o que tem.
    Quando Paulinha desceu a rampa da entrada, reparou que na esquina da principal (no começo da subida do morro) estava tocando uma música que ela adorava na caixa de som da Pastelaria, era ‘Preciso me Encontrar’ do cantor Cartola, achou bastante curioso pois não era uma música que ela esperaria escutar nas ruas de Nilópolis; foi uma surpresa agradável.
    Quando colocou o pé na calçada teve outra surpresa, Tinho estava com roupas de enfermeiro, indo para o hospital.
    — Paulinha! — Ele era careca, branco, alto, olhos castanhos e… ainda era bonito, tão bonito quanto sempre havia sido — Tudo bem? Quanto tempo.
    — Fala aí, Tinho, tô bem sim.
    — Eu soube o que aconteceu, você está bem?
    — Tô ótima, deu tudo certo no fim das contas, só vim por causa da minha amiga.
    — Que bom, graças a Deus, você tá morando por aqui?
    — Sim, moro por aqui sim.
    — Poxa que bom, me mudei pra cá recentemente, fui transferido pro Jucelino… você tá indo pra casa agora? Porquê meu plantão já acabou, só estou indo pegar minhas coisas, vamos conversar em algum lugar?
    Paulinha olhou no fundo dos olhos dele… e disse:
    — Não… eu vou andando, obrigada.
    — Ah… tudo bem, beijos, se cuida tá?
    — Você também.
    Paulinha seguiu seu caminho, desceu a rua e virou a esquina, observou ao seu redor, a música, as pessoas, as lojas, respirou fundo aquele ar ameno daquela noite iluminada, deu um sorriso e seguiu em frente.
                                    Fim
  • Uma imensidão de nada no meio do deserto de lugar nenhum

    Devo ser uma daquelas almas rejeitadas no céu e no inferno que foram mandadas para um lugar pior: a minha vida. Meu corpo doía em partes que achei que não existissem mais. Num reflexo debilitado chutei alguma coisa. A filha do Jaime ainda estava deitada do meu lado. “Por que você é assim?” “Porque não sei outra forma melhor de ser.” Não tinha oi amor ou bom dia. Nossa relação se dava por uma necessidade biológica desencadeada por um instinto de procriação da espécie.
    No momento estou desempregado, o que para mim parece mais solução do que problema. Sendo imediatista, tenho mais tempo para pensar em como me livrar mais rápido da filha do Jaime. O vontade de não fazer nada percorre todos os meus músculos até chegar no cérebro e se transformar num desejo desesperado de beber alguma coisa, impulsionando meu corpo até a cozinha na busca de uma dupla solução para o estômago revirado e a tremedeira: café com conhaque. Sem tchau ou até logo escuto a porta da frente abrir e fechar. Faço o sinal da cruz e sinto como se uma onda de liberdade me atingisse em cheio, gritando para ser ecoada em palavras na tela do computador.
    Antes que eu pudesse concluir o drama de uma jovem que, na louca procura por um motivo para viver, se envolve numa orgia dentro de um escritório de um renomado advogado e é crucificada pela sociedade porque ele era casado, a campainha toca. Vejo pelo olho mágico dois policiais vestidos de camisa branca e calça jeans, ostentando distintivos no peito. Tudo que passa pela minha cabeça é: “fudeu”. Tentei me concentrar por uns três segundos para adivinhar o que tinha fudido, mas tudo estava fudido e sob controle. A minha vida era certamente uma ameaça para a sociedade, mas ninguém jamais conseguiria provar. Com mais uns dez segundos, e uma boa talagada na garrafa de conhaque, consegui controlar a respiração e abri a porta estampando uma cara de paisagem.
    “O Senhor é o responsável pelo blog Contos Cretinos?” “Sim, Senhor.” “Onde o Senhor estava na noite do dia 22?” “Não sei, por quê?” “Nós podemos entrar?” “Não sei, o que esta acontecendo?” “Um homem foi morto da mesma forma que o personagem do conto Primavera de outono, publicado no blog do Senhor.” “Minha nossa, mas eu não matei ninguém.” “O Senhor esteve na Paraíba neste mês corrente?” “Não, disso eu tenho certeza. Lá é muito quente, não gosto do calor.” “Manterei contato, de qualquer forma, não saia da cidade sem me avisar.” “Que? Como assim?” “Aqui esta meu cartão, tenha uma boa tarde.”
    Depois de uma visita destas qualquer vestígio de inspiração tinha descido pelo triturador junto com a cabeça do pobre coitado da Paraíba. Fiquei imaginando como alguém consegue ralar a cabeça de outro alguém inteira num ralador de alumínio. Quando escrevi aquilo achei que seria impossível ralar a cara de alguém num ralador de alumínio. Fui pro bar do Jaime para tentar pensar menos naquelas fotos que o policial mostrou. Peguei uma cerveja e sentei numa mesa perto da porta para poder fugir rápido se ele ou a filha dele tentassem me matar por algum motivo. Mas foi a Marta que sentou do meu lado. “Então você acha que esse policial vai investigar você porque um conto seu influenciou um assassinato na Paraíba?” “No mínimo, né?! O cara foi lá em casa me contar isso e perguntar onde eu estava no dia do crime…ele acha que eu estou envolvido e esta na minha cola.” “Tenho uma coisa aqui que vai sumir com a sua paranóia.” “Não vem com aquela história de folha de coca com cinza de batata doce…” “Não, não….aquela fonte secou….tenho aqui uma mistura de pó de mico com gengibre.”
    Entramos no banheiro feminino e ela esticou duas carreiras daquele pó estranho. “Demora uns minutos para fazer efeito e talvez você espirre um pouco, mas depois…” “Minha nossa, só sinto o gengibre grudando em cada mucosa do meu nariz…….essa porra meio que arde e refresca ao mesmo tempo.” “Com uma dose de vodca tudo vai parecer alegria.” Quando voltamos para o salão o Jaime e a filha dele me olhavam como se eu fosse um criminoso. Se aquele policial que apareceu em casa estivesse aqui com certeza iria preso.
    Depois da vodca o mundo começou a ficar num tom felicidade azul anil. Um sorriso se engessou na minha boca. Era como se Deus tivesse tocado meu coração e eu era todo amor. A Marta se transformou num anjo da paz e me abraçou com um beijo longo e demorado com gosto de amora. Queria distribuir toda aquela felicidade pelo mundo. Queria poder jogar pétalas de rosa para o alto cantando qualquer música dos Mutantes. Comecei a pular como uma gazela pelo bar espalhando vibrações de gratidão para todos os lados. A filha do Jaime tentava demonstrar todo seu desprezo por mim fingindo que eu não existia. Não resisti a tanto amor reprimido e agarrei ela quando ela passou por perto. O Jaime não gostou da minha atitude e começou a me dar vassouradas me empurrando para fora do bar. A Marta se jogou nas costas dele dizendo que ele ia matar a borboleta que nascia de dentro de mim. Conclui que como uma borboleta eu poderia voar. Comecei a correr em círculos para pegar embalo e quando senti que estava na velocidade certa tomei impulso numa cadeira, saltei na horizontal agitando meus braços asas e cai apagado de cara no chão.

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