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Matemática da vida Real leva o sorriso de criança

Durante muito tempo eu brincava com minha mãe quando ela insistentemente falava sobre sua morte que mais parecia receio da proximidade. Sim, proximidade, porque esta é uma realidade para todos que estamos vivos. Um dia a mais igual um dia a menos. Matemática da vida real.
Na verdade eu brincava e fazia piada na tentativa de simplificar, tornando mais leve um assunto forte e decisivo cuja data e hora jamais nos é informada.
Eu sempre repetia: pare de ficar chamando, deixa-a silenciosa, aproveite seu dia, sua vida enquanto deus assim está permitindo, e agradeça. VIVA!
A partida foi consumada no dia 25-06-2017, e pude então compreender que as minhas brincadeiras nada mais eram que sutis certezas que a morte não iria leva-la nunca.
Hoje eu compreendo que por mais idosa que ela estivesse se tornando a cada dia, com as limitações e situações compatíveis, no meu consciente ou inconsciente a morte não seria fato para ela. Eu vi outras idosas amigas da minha mãe partirem, eu vi meu pai partir... Mas a minha mãe, sinceramente eu não acreditava. Repetindo, o meu consciente ou inconsciente afirmava que ela seria eterna...
Mas no dia que saiu de casa para o hospital, algo me dizia que não haveria retorno. As pequenas melhoras entre altos e baixos no quadro clinico não me deixavam confiante.
Foram 40 dias de muito sofrimento. Houveram momentos em que ela cantava os louvores da igreja, repetia versículos, orava e evangelizava. A sua crença, fé, sua convicção religiosa estiveram presente em todos os instantes e à proporção que o sofrimento evoluía o que mais ouvíamos era “Senhor, me dá um descanso” e foi transformando esse clamor em “JESUS FILHO DE DAVI ME DÁ O DESCANSO”.
Às vezes quando eu chagava para assumir meu turno de acompanhante que era reversado com minha irmã, era recebida por um sorriso lindo, igual criança que nem os dentes nasceram. Sorriso de alegria, de carinho, confiança, por saber que eu estava ali segurando a sua mão e assim aconteceu ate o momento que a vida se foi como um sopro.
Os dias vão passando cheios de recordações. Pequenos detalhes, situações que me trazem aos ouvidos e aos olhos palavras e imagens que se repetem, provocando ao mesmo tempo um vazio sem tamanho.
Consola-me saber que o sofrimento dos longos 40 dias cessou, que a voz clamorosa foi ouvida pelo dono das nossas vidas, proporcionando uma nova morada de paz e tranquilidade merecida, mas os meus questionamentos sobre o sofrer permanecem.
Parece que o vazio tem hora marcada. Misturam-se sentimentos de incredulidade. Não, ela não se foi. Instintos de ligar, de usar a mesma frase “E AÍ MARICAS? JÁ TOMOU CAFÉ?”.
A certeza aperta meu peito. Ela não responde. Ela não precisa mais tomar o café. A minha MARICAS, a minha mãe foi viver com Jesus filho de Davi e agora só ele recebe o sorriso de criança feliz e eu fico aqui sem escutar ela dizer “MINHA FILHA!”. Só na minha saudade, só na minha lembrança eterna..
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Atualizado em: Dom 20 Ago 2017

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