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Fora de Alcance (Capítulo Um)

As ruas estavam tão escuras naquela noite, e ela corria porque naquele momento sua vida dependia disso. Não conseguia enxergar bem o caminho que percorria alucinada, sequer olhava para o chão. Sabia que alguém a seguia; não iria parar por nada. Nem ousava pensar no que aconteceria se fosse pega.

Estava frio, mas isso não importava naquele momento, ainda que seu corpo estivesse seminu. Não sabia mais onde estava, e a proximidade de quem quer que fosse atrás dela era cada vez maior.

‘Fim da linha!’, pensou.

E então um carro surgiu das sombras freando bruscamente a centímetros dela, a porta do carona aberta e aquele homem ao volante...

— Entre rápido!

Obedeceu por impulso, e quando se deu conta o carro já se distanciara o bastante, e velozmente ganhava as ruas da cidade.

— Você está bem? — ele olhou para ela de relance e logo voltou a atenção à estrada.

— Como diabos eu posso estar bem? Acabo de ser perseguida como uma cadela vira-latas.

— Me conte o que aconteceu.

— Salvatore está morto.

Ele aquiesceu.

— O que você viu exatamente? ­— perguntou.

— Eu não estava lá quando aconteceu, estava no banheiro. Quando saí, ele estava com a mão na garganta, apertando com toda a sua força, e havia sangue escorrendo por entre seus dedos. Comecei a gritar, a chamar por socorro. Mas logo que ouvi passos rápidos no corredor em direção ao nosso quarto, me pendurei no parapeito da janela e saltei para a rua, e desde então corri sem parar.

Olhou para ele ao terminar. Enquanto ela falara sem parar sequer para respirar, e mesmo algum tempo após o término do relato, ele manteve o olhar fixo na estrada, em absoluto silêncio. Seus olhos num claro tom de castanho eram insondáveis. Os cabelos também castanhos eram curtos, mas não tanto, um corte que destacava seu lindo rosto. Não era magro, ou forte, mas havia um equilíbrio perfeito naquele corpo esculpido por mãos talentosas.

— Você se machucou? — perguntou ele por fim.

— Não. A altura não era grande coisa. — Ela procurou seus olhos e logo acrescentou: — Que merda! O que vai acontecer agora, Douglas?

Quando ela pronunciou seu nome, ele lançou-lhe um olhar de compaixão.

— Primeiro vou levar você até a casa da sua família. Em seguida voltarei para encontrar os responsáveis e garantir que eles paguem por esse crime.

— Você acha que foi mais de uma pessoa?

— É mais provável que sim.

— Eu me sentiria bem mais segura com você...

— Por favor, Emmanuelle. Não é o momento certo para esse tipo de exposição. Seu marido morreu, horas depois do casamento de vocês no papel. Seu marido, meu chefe.

Emmanuelle se calou. Sabia o que tudo levaria a crer. Sabia que agira mal, mas não mostraria fraqueza.

Decidiram pernoitar em um motel a beira da estrada, o último que encontraram antes da barreira da policia rodoviária. Entraram em um quarto simples e, ao contrário do que esperavam, bem higienizado. Emmanuelle foi tomar uma ducha enquanto Douglas acompanhava a repercussão do crime na internet, acessando pelo seu tablet.

— Sorte a sua que ninguém mais sabia do tipo de relação que você realmente mantinha com o senhor Rossano — ele falou alto para ser ouvido por ela. — Seu nome real sequer foi mencionado.

— Se depender das informações que eles possuem a meu respeito, jamais me encontrarão. — Ela estava ali agora, atrás dele, e ele se virou.

Emmanuelle estava nua atrás dele. E por um breve momento ele admirou aquela visão. Seu corpo de pele branca e sedosa, os cabelos num tom platinado do loiro, na altura dos ombros, os olhos azuis que o fitavam fixamente...

Instintivamente as mãos dele roçaram pelas pernas longas e bem feitas dela, subindo pela silhueta esculpida até deterem-se nos seios firmes. O volume já se emoldurava sob a calça quando ele se levantou, e lentamente sua roupa foi tirada por aquelas mãos experientes.

— Vamos conseguir fazer isso agora? — a voz dele saiu num sussurro, os olhos fechados.

— Sempre conseguimos, Douglas. Nos momentos mais inoportunos. Somos mesmo pessoas horríveis.

Ele abriu os olhos para olhar para ela, mas logo percebeu que aquilo não passara de uma ilusão projetada por sua mente cansada. Emmanuelle estava ali ainda, porém coberta por um roupão azul, secando os cabelos com a toalha. E ele estava completamente vestido, como outrora, com o tablet nas mãos.

— Bem, vou tomar um banho rápido, e você pode ir dormir já. Precisamos de algumas horas de sono para repor as energias — ele disse, desviando seu olhar, deixando o aparelho sobre a mesinha e direcionando-se ao banheiro.

A ducha fria o ajudou a pensar com clareza na situação. Precisava aceitar que sua relação com Emmanuelle não mais existia, mas bastaria que suspeitassem do envolvimento que tivera com a mulher do patrão assassinado para que os dois fossem julgados e condenados pelo crime em questão.

Quando voltou ao quarto, ela já estava deitada, e de olhos fechados. Estava dormindo, ou fingindo estar. Embora as pernas a mostra e os seios projetando-se para fora do roupão fossem um convite à luxúria, ele fez questão de dominar seus instintos, e deitou-se ao lado dela, porém virado para o outro lado.

E fantasiou com a mulher ao seu lado até seus olhos se fecharem, rendendo-se enfim ao sono, sem se dar conta de que seus desejos também eram os dela naquele momento.

Emmanuelle tentava controlar o desejo de ter o corpo de Douglas junto ao seu o máximo que conseguia. Insinuava-se levemente para ele esperando alguma reação que direcionasse ao saciamento do prazer de ambos, mas ele parecia resistir bravamente às tímidas investidas.

Mas enfim ela pareceu perceber que deveria estar fora de questão aquele envolvimento carnal, pelo menos enquanto durasse aquele infeliz episódio. Sua mente só agora, aliviada da adrenalina requerida pela situação passada, começava a se dar conta de que Salvatore Rossano estava realmente morto, e seria ela a única suspeita desse crime. Se ela fosse uma mulher comum, passaria já aquela noite numa cela.

Só que Emmanuelle não era uma mulher comum, e ela sabia muito bem disso.

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Atualizado em: Seg 11 Fev 2013

Comentários  

+1 #8 RKethully 28-04-2013 12:27
nossa parabéns...
+1 #7 PauloJose 15-03-2013 19:09
estrelei amigo!
abraços.
parabéns.
+1 #6 PauloJose 04-03-2013 00:18
aplausos de pé!
parabéns.
+1 #5 PauloJose 01-03-2013 12:19
parabéns!
abraços.
+1 #4 PauloJose 15-02-2013 00:02
parabéns aplausos de pé.
abraços.
+1 #3 PauloJose 13-02-2013 08:26
muito show parabéns.
+1 #2 tania_martins 12-02-2013 10:14
Parabéns!
Abraços.
+1 #1 PauloJose 12-02-2013 08:27
muito bom , bem elaborado.

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