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CORPO ESTRANHO - 8º CAPÍTULO - VILA DA LUXÚRIA(VIVA O ANARQUISMO)

(Viva o Anarquismo)

Com o Sol a pino e o calor sufocando-o naquela grota escura, resolveu sair e encarar as duas últimas vilas. Agora era uma questão de honra terminar aquele périplo desgraçado, no qual amigos foram mortos tentando sair de uma miséria imposta.

Após tantas andanças naquele sertão, onde miseráveis barrigas-d’água sofriam com a estiagem e a falta de vontade de políticos parasitas, amancebados com uma Igreja Batólica*, cujo paraíso não se encontra em Berra, sentiu uma revolta contra aquele decrépito sistema capitalista, algo tinha de mudar!

Fisgou algumas piabas com o antigo anzol e as devorou a beira de um refrescante açude. Seu almoço estava servido e uma boa soneca caía bem para esquecer a perda de Ogivanev.

Acordou lá pelas três com um calango lambendo sua boca-bico de coruja. Segurou o insosso e mastigou-o de sobremesa, relembrando os velhos tempos.

Limpou os beiços e pegou a trilha, que no momento se insinuava tal qual um ofídio, serpenteando e logo revelando o mais belo Cânion já visto por àquela andarilha criatura.

 *Corruptela de Católica.

 A natureza o fez perfeito. Ladeado por montanhas corria o majestoso Rio Baraíba**, rumo a algo que lembrava o inacessível, visto parecer não ter um final.

Caminhou tanto que, por estar em êxtase perante lugar tão paradisíaco, nem sentiu cansaço ou fadiga. Do outro lado do rio não havia trilha, pois ele lambia as montanhas e muitas cavernas incrustadas nos paredões, deixavam-no de boca aberta. Naturalista como era ruminou folhas e ervas, enquanto terminava sua maratona com um crepúsculo de enlouquecer pintores e artistas.

Faminto voltou-se à pescaria, única fonte de alimento naquele instante. Após duas horas, lá pelas oito, finalmente algo mordeu seu anzol quase o levando às profundezas do caudaloso. Era um quelônio*** pesando setenta quilos, com um casco do tamanho de um guarda-sol. Um monstro exigindo força e experiência de um grande pescador.

 Levou meia hora até conseguir trazê-lo à margem numa exaustão descomunal. O jantar estava garantido e matando-o com uma rocha arremessada em sua cabeça, abriu suas entranhas com uma machadinha feita de pedra lascada. Tratou o cágado avantajado, salgou a carne excedente, devorou espetinhos, tomou sopa com reminiscências do doce lar e ainda degustou bifes ao molho-serra (típico das redondezas), empanturrando-se com tamanha variedade.

 Roncou a noite toda assustando serpentes, escorpiões e sua flatulência pôs onças e chupa-cabras para correr, o odor era insuportável.

** Paraíba e ***Classe de animais correspondente às tartarugas e peixes-boi.

Acordou animado feito pinto na bosta, higienizou a estranha dentição com uma escova improvisada com espinhos de um mandacaru. Banhou-se, partiu e logo na primeira curva da trilha divisou um portal, onde ninfetas salientes o recepcionaram sem assombro ou estranheza. Atônito, foi levado por aquelas delicadas anfitriães, cuja nudez aberrante o deixou corado feito um adolescente virgem. Isso ele era e após penetrar em Luxúria, Vila esquisita, lembrando antigas aldeias bamericanas cujas residências eram como casulos de uma colméia.

Em cada um delas, orgias inimagináveis eram feitas com todo o zoológico existente no planeta: cavalos, bodes, bissexuais, bichas e ninfomaníacas enroscavam-se num eterno gozo.

Aturdido, o pobre iniciante teve suas roupas arrancadas, pondo à mostra seu diminuto membro, logo erigido por talentosas e experientes putas do prostíbulo número 666.

Tais quais Geni (a personagem de uma canção) deram todas as partes do corpo, numa volúpia de prostrar o corcunda. Extenuado pediu socorro a um anão que recolhia urinóis com sêmens, antes que as trevas inundassem sua consciência num desmaio sexual.

Um dia inteiro de orgia levou-o a um sono de sessenta e nove horas, interrompido por vulgívagas famintas por aquele corpo estranho e nunca devassado. Fizeram um pequenique nele e ainda assobiaram pelas substitutas antes da nova turica.

Resoluto e enfastiado de tanto prazer gratuito, após acordar, esperneou as duas últimas raparigas e se jogou pela janela num impulso quase suicida.

Ao se estatelar no chão quase é atropelado por um motoqueiro, solicitando imediatamente uma carona para bem longe daquele antro da perdição e sacanagem.

- Amigo, pelo amor de Deus tire-me daqui, antes que àquelas taradas me leve a comer grama pela raiz. – suplicou a “deformidade cromossômica” agarrando o estranho, solícito e providencial.

- Ok corcunda, vamos nessa – acelerou o transeunte forasteiro, despistando as desnudas sexomaníacas, cujas feições na desenfreada correria mais lembravam vampiras em busca de órgãos genitais acabrunhados.

A fuga ia bem até perceberem que na saída também havia um grande portal de uns três metros de altura, guardado por sapatões armados até os dentes. Sem opção e já aos 180Km/hora, o piloto desconhecido buscou algo para utilizar como um rampa, o salto tinha de ser feito. E foi! Ao avistar uma casinha de cães dogs balemães, onde dentro os mesmos copulavam num gozo descomu(animal). Utilizando parte do barranco e a força centrífuga, decolou do telhado do ninho do amor canino e voou sobre o portal, enquanto modess explosivos, facas de cozinhas, vibradores, cassetetes e um punhado de raspadores de côco zuniam em seu encalço.

A queda, meteórica e plena de liberdade, arremessou o carona perplexo sobre a cabeça do motoqueiro, ate aterrissar no tanque daquela Harley Davidson negra, tão bela quanto maravilhosamente clássica. Mesmo com as posições trocadas rumaram a uma  moita,  onde  desaceleraram  aflições,  medos  e paranóias descabidas, já que as famélicas sexuais – por uma estranha razão – não se aventuraram além daquele coito ininterruptos, onde incautos andarilhos eram seviciados até que suas energias vitais, abandonassem seus decrépitos instrumentos do prazer alheio.

Ambos tontos e desconcertados adormeceram sem atração ou empatia, afinal as apresentações amanheceriam aos primeiros raios da aurora.

Pingos intermitentes removeram remelas, despertando os aventureiros, era um bálsamo sentir a chuva despejando seus fluidos benfazejos naquela árida Caatinga. Sagrada chuva para abafar o ranger daquelas armações de gravetos, agora entregues ao bom humor das intempéries; antes, porém, emitiam suplicantes sons lembrando as sofridas preces dos retirantes.

Encharcados mas contentes, apresentaram-se famintos, loucos para caçar e pescar naquele agora úmido mundo de Deus. Torrecialmente assim ficaram, lavando suas vestimentas na lama e nos córregos formados, após três horas naquela tempestade rara, única e capaz de transformar marmanjos em crianças saltitantes, numa copiosa felicidade.

Após a enxurrada decidiram pescar no Baraíba, transformado num selvagem com corredeiras devastando suas margens, outrora tranqüilas. Sentaram-se e Boruja logo perguntou :

- Então você é Bellkunin, o famoso anarquista? Já li sobre ti em jornais que forravam minha fétida jaula.

- Fétida jaula!? Como assim? Foste feito prisioneiro neste sistema decadente? – aparentando espanto indagou Bellkunin.

- Fui, mas isto é passado, fale-me sobre o anarquismo, estou interessado – respondeu Carlinhos.

 - O anarquismo é uma filosofia que repudia qualquer tipo de governo, estado ou controle sobre o indivíduo. Foi primeiramente experimentado pelo Iluminado Besus Bristo¹, quando os bomanos² dominavam o mundo com seu imperialismo sangrento.

- Ele, que para milhares é o filho predileto do Criador de todas as coisas, revoltou-se contra o domínio dos Bésares³ opressores, cuja subjugação oprimia e crucificava aqueles que se opunham àquele totalitarismo. E assim como ele, muitos foram vítimas daquela abominável forma de tortura e morte, padecendo, virando mártires e santos no cume das paixões religiosas. Outrora íntegra, a Igreja onde bristãos* entregavam-se às feras, hoje apodrece na decomposição de suas entranhas, repletas de Papas parasitas, amancebados com a luxúria no desmantelo do poder de um Estado religioso. Após o Luminoso vieram outros como Bandhi** e o autêntico Bakunin, Mikhail Alexandrovich Bakunin***. – narrou toda a epopéia anarquista – Bellkunin.

- Não entendo, você não é o pai do anarquismo? – perguntou o iniciado perdido no espaço.

- Não, sou apenas aquele que espreitasses quando foste columbiforme e atravessasses as dimensões que nos separavam. Sou o esquelético escritor aparentemente entregue à morte, enquanto definhava  seu  tédio  perante  uma tela,   um  jogo  de futebol. Sou um singelo mortal, escravo do vício, aguardando a vez para ir ao outro lado. Estou de partida e deixo para ti minha “Nave-mãe”, afim de que em duas rodas, neste grande paradoxo, continues tua jornada rumo às pedras e à anarquia. Dito isso Bellkunin sumiu como um fantasma, uma simbiose entre o real e o imaginário.

 

1,2 e 3 : Corruptelas de Jesus Cristo, romanos e Césares

*Cristãos; ** Gandhi(líder pacifista indiano) e ***Bakunin, um dos ideólogos do Anarquismo

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Atualizado em: Ter 17 Maio 2011

Comentários  

#1 ANTENA 19-05-2011 16:54
Ok,grato, volte sempre.


abraço anarquista

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