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TEQUILA GIRL - UM ROMANCE PARA MAIORES DE 21 (CAPÍTULO 8)

Capítulo 8: A PERDA

Algumas vezes precisamos respirar amor e nem sempre tem alguém disposto a nos dar esse ar tão importante. Já passei por momentos de solidão insuportáveis, de fazer qualquer um, em plena sanidade, pirar. E essa história de amor que vivi durante seis anos, realmente foi bom enquanto durou, foi eterno enquanto era real. Vivemos longas noites de amor, noites de pura tensão também. Henrique era para ser diferente de todos os outros que passaram na minha vida. Mas ele fez questão de se igualar a massa masculina.

Uma das coisas inesquecíveis que vivi ao lado de Henrique, foi a minha dedicação total quando ele mais precisou, e o total desprezo que recebi quando mais precisei. Ele passou por vários momentos difíceis, e eu por amor, não o deixei fraquejar nunca, porque o sucesso dele sempre foi importante para mim.

Em 2004, ele perdeu o pai. Foi uma perda irreparável. O pai era tudo na vida dele. E com a perda, ele também perdeu o senso, a vontade de viver, a sanidade e a eloqüência. Tive que colocar a cabeça dele no lugar por várias vezes. Ele ficou sem comer por seis dias seguidos.

Cheguei numa sexta-feira a noite do trabalho e passei no apartamento dele, para ver se precisava de alguma coisa. Ele estava todo sujo, bêbado, com um revólver na mão e o dedo no gatilho, sentado na cama chorando. Quando vi aquilo, me bateu desespero. Corri em direção a ele. Ele me olhou nos olhos e ameaçou se matar. Levou a arma em direção a boca e chorando me disse:

- Rê, como é mais fácil morrer !

- Eu sei, com certeza é melhor morrer - disse concordan-do com aquela loucura - Você realmente vai se sentir melhor tirando toda essa dor de não ter mais ele por perto. Vai se sentir pleno com o alívio. Mas infelizmente se você apertar esse gatilho, eu terei que também apertá-lo em minha boca.

Ele me olhou assustado e sem saber o que dizer foi baixando a mão.

- Se você morrer para aliviar a dor de perder seu pai, eu terei que morrer também para aliviar a dor de ver você tirando a vida e me deixando também.

Ajoelhei em frente a ele, tirei meu casaco, as luvas e pedi que ele colocasse mais uma bala na arma, porque uma seria pouco. Ele percebeu o que estava fazendo, mesmo bêbado. Tirou a arma da boca. Colocou-a na cama e ajoelhou na minha frente e me pediu perdão. Eu só o abracei e dei colo. Parecia uma criança de seis anos. Deixou de ser um homem de 30 anos naquele momento e passou a ser um menino carente. Chorava de soluçar.

Eu dei um banho nele, preparei um chá, o coloquei na cama, e deitei com ele. Acabou pegando no sono. Acordou no sábado às 13:00 horas. Preparei um café da manhã completo. Quando ele acordou já estava tudo pronto. Ele sentou à mesa e desabou a chorar e pedir perdão. Naquele dia ficamos até uma hora da manhã só conversando sobre aquilo.

Confesso que tive de ter nervos de aço para fazer tudo isso com tanta frieza. Talvez o meu conhecimento e experiência em psicologia ajudaram tanto eu como ele. Foi uma fase ruim e inesquecível. Tive de ter paciência e sabedoria para lidar com isso. Até hoje não me sai da cabeça, o estado deplorável dele, tentando tirar a própria vida. Faço terapia até hoje por conta disso.

Não sei se tenho direito de dizer que ele deve a vida a mim, pois se eu não tivesse chegado, talvez teria realmente se suicidado. Ou talvez não. Eu não sei até onde ele seria covarde. Poderia ter sido covarde e não ter se matado. Ou cometer um ato de covardia e se matar. Me abalou profundamente saber o quanto ele foi fraco. Depois disso nosso relacionamento começou a esfriar. E foram acontecendo alguns episódios que levaram ao nosso rompimento em 2005.

 

 

 

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Atualizado em: Qui 12 Maio 2011

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