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Meus Doze Anos

Lembro de quando tinha doze anos. Todo final de ano íamos passar as férias na casa do meu avô Nicolau. Ele morava no interior. A viagem era longa, sempre de ônibus, mas me divertia muito observando a paisagem e as pessoas no caminho. Gente de todo tipo. Crianças à beira da estrada, agricultores transportando colheita em carros de boi, vendedoras de farinha e camarão em cada esquina. 

 

Quando chegávamos, meu avô Nicolau já estava à nossa espera na porta da casa. Ele sempre me dava um abraço apertado e um beliscão na bochecha. “Sejam benvindos ao meu humilde casebre” anunciava sorridente. Minha avó Teresa também vinha nos cumprimentar: “Fizeram boa viajem? Devem estar cansados? Vamos entrar”.


A casa, longe de ser um casebre, era uma das maiores do povoado. Meu avô havia herdado de seu pai e, sempre dizia que quando morresse, eu seria o novo dono. Tinha quatro quartos bem grandes. Uma varanda que corria ao redor de toda a casa. Minha avó passava as tardes de verão, sentada em uma cadeira de balanço, lendo contos, novelas, romances. Ela gostava mesmo era de poemas, desta vez, estava lendo Resíduo de Carlos Drummond de Andrade: “E de tudo fica um pouco. Oh! abre os vidros de loção, e abafa o insuportável mau cheiro da memória.” Lembro ainda hoje desses versos entoados por ela.

 

Enquanto os adultos conversavam, eu estava livre para brincar com os garotos da vizinhança. Sempre íamos ao Rio das Pedras; quando estávamos sós, a diversão era pular da ponte velha de madeira dentro do rio. Meu pai havia advertido sobre isso: “não quero você pulando daquela ponte menino, é muito perigoso, soube que já morreram garotos lá”. Eu dizia sempre: “sim papai, não vou pular, tenho medo”. Mas assim que estava só com os garotos, eu era o primeiro a pular, desobedecia meu pai, mas a sensação era muito boa.


Quando saíamos do rio, íamos roubar frutas nos sítios da redondeza. Sempre levávamos algumas sacolas para encher de mangas, bacuris, acerolas, cajus, às vezes até jaca. Alguns proprietários nos deixavam apanhar as frutas, contanto que apanhássemos algumas pra eles também. Outros não eram tão amigáveis, disparavam os cães em cima de nós. Era perna pra quem te quero, chegava em casa mais cansado do que maratonista em São Silvestre.


No fim da noite, depois da janta, ficávamos até tarde em volta da fogueira. Na porta de casa, contando histórias e vendo as estrelas no céu. Meu pai trazia o violão e minha mãe cantava algumas canções antigas. Minha avó me chamava para sentar ao seu colo. Mesmo não querendo, não tinha como dizer não. Acabava adormecendo com tantos cafunés.

 

Durante um mês, era sempre assim. Rio, frutas, brincadeiras, avô, avó, conversas, fogueira, varanda, etc. Depois de um mês, voltávamos para a capital e só ficavam as lembranças de um mundo diferente, de uma vida simples e sem correria, do carinho da minha avó e dos conselhos do meu avô. A vontade era: que o ano passasse depressa, para poder voltar ao aconchego dos braços da minha avó, das brincadeiras inocentes, das frutas no pé, dos saltos no rio, da minha infância feliz.

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Atualizado em: Qui 28 Abr 2011

Comentários  

#1 tania_martins 28-04-2011 10:29
Boas lembranças... Parabéns!
Abraços.

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