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OS PRISIONEIROS DE BABÃO

Dois amiguinhos, portadores da Síndrome de Down, passeiam tranqüilamente pela floresta. A menina é Quirina, uma moreninha de 10 anos. Ela vai colher flores. O amigo dela, Melque, 9 anos, cabelos encaracolados, carrega nas costas uma mochila com sanduíches e suco para o lanche dos dois.
Muito alegre com a paisagem daquele lugar que ainda não conhecia, Quirina saúda os passarinhos, que cantam alegremente nas árvores.
De repente Quirina vê um cupinzal e fica admirada com aqueles montinhos de terra. Ela puxa Melque pela camiseta e mostra a ele.
- Veja, Melque...
Os dois vão entrar na comunidade, quando ouvem o Bem-te-vi recomendar, do alto da árvore.
- Se eu fosse vocês, não pisava aí! Cupim não é amigo da gente!
Quirina arregala os olhinhos negros, aceita o conselho do pássaro e sai dali com Melque.
Mais adiante, ela ouve um barulho estranho. Parece que alguém montou uma oficina de ferraduras de cavalo ali, e que os empregados estão trabalhando incansavelmente, batendo nos ferros.

2ª PARTE
Melque explica à amiguinha que é um pássaro – a araponga. E que o seu canto é aquele mesmo. O apelido da araponga é Ferreiro por causa do som que ele emite ao cantar.
Quirina ficou tão entusiasmada com o Ferreiro que pede:
- Canta mais... continua... continua...
Quando cansa de olhar a ave, volta-se para Melque e diz:
- Que legal, Melque!
Ela percebe que está falando sozinha. Assustada, olha ao redor e só enxerga um pé do tênis do amigo. Melque desapareceu. Ela procura por todo lado. Nada. Então Quirina começa a correr de volta pra casa.
Já cansada de tanto correr, avista distante o gigante Babão. Um bicho que a vovó dizia que pra fazer as crianças dormirem, as mães-anãs tinham que contar casos horrorosos das façanhas de Babão. As crianças não queriam ir pra cama de jeito nenhum, dizia a vovó. Então as mães-anãs botavam as crianças, à força, nos berços, e começavam a sussurrar no escuro do quarto:
- Babão! Babão! Babão-berém-bem-bão.. .
Os pequenos, apavorados, fechavam os olhinhos para não verem o monstro se aproximando. E imaginavam-no do lado de fora, temível, mostrando as mãos sujas que pegariam a casinha e a levaria com todo mundo dentro.
Então as mães-anãs recomendavam:
- Não abram os olhos, senão Babão-berém-bem-bão aparece!
Na certeza de que os filhos não deixariam o quarto, as mães pegavam os lampiões e saíam.O escuro tomava conta de tudo. E temendo a aparição do monstro, as crianças ficavam quietinhas e acabavam dormindo.
Agora as mães já não fazem assim mais. Contudo, as crianças morrem de medo de Babão.

3ª PARTE
Percebendo que Babão carrega algo nas costas, Quirina grita:
- Babão, largue o meu amigo!
O gigante ouve e pára. Quirina, por ser muito baixinha, consegue se esconder detrás do tronco de uma árvore. O gigante dá três passos na direção dela, sem largar Melque. Rosna feroz e agarra-a pelos cabelos.
No instante seguinte, estão os dois na mão do gigante.
- O que ele vai fazer com a gente, Melque?
- Nada! Ele só quer nos assustar!
Melque não quis dizer a verdade. Ele tem certeza de que Babão não está bem intencionado.
O gigante não larga os prisioneiros. Atravessa o rio de um só pulo e sobe correndo a montanha. Por fim chega a um lugar cheio de frondosas árvores.
No alto de uma dessas árvores, Melque e Quirina vêem um monte de barro. Depois avistam um passarinho chegando com mais barro no bicho. É o João-de-barro, terminando de construir a sua casa.
- Anda logo! – ordena Babão.
O passarinho, amedrontado, explica:
- Falta pouco!
- Termine logo. E faça-a bem maior do que normalmente faz.
Melque e Quirina observam o João-de-barro se apressar.
Algumas horas depois, o pássaro fala:
- Está construída!
- Beleza! – diz o monstro. Em seguida, estica o dedo e toca na casa. Ele fica irritado.
- A terra ainda está molhada!
Em outro galho da árvore, o João-de-barro, tremendo, tenta explica.
- Ainda não deu tempo de secar!
- Se vira! Eu quero a casa seca agora!
O João-de-barro voa, à procura de ajuda para secar a casa.
O terror espalha-se nos rostos das crianças. Eles entenderam que Babão vai prendê-los ali.
Quirina chora e abraça Melque, que começa a chorar também. Babão nem liga pra eles, envolvido com a chegada dos passarinhos para secarem o barro.
Quando tudo fica pronto, Babão fala pras crianças.
- Vocês vão ficar presos aqui.
Empurra os dois pra dentro da casa e tranca a porta.

4ª PARTE
O monstro sai à procura de lenha para acender o fogão.
Na mesma hora cai uma chuva forte, encharcando toda a madeira.
Babão, urrando de raiva, ordena:
- Pára chuva! Pára! Quero lenha seca pra fazer minha comida!
Contrariando o monstro, a chuva cai mais forte ainda.

Enquanto isso, na casa do João-de-barro...
Quirina tem uma idéia. Ela chama o João-de-barro e cochicha com as duas mãos em concha. Logo depois o pássaro voa apressado e encontra o local que Quirina indicou. E pousado num galho, grita:
- Cupim!
Os insetos saem às multidões e iniciam um vai-e-vém pelos pátios das casas.
O pássaro, surpreso com a multidão de insetos, esqueceu de dar o recado. Quando percebe, está cercado por todos os lados. E alarmado, ouve o grito de guerra:
- Atacar!
O João-de-barro constata que os insetos vão estraçalhá-lo ali mesmo.Tentando se salvar, ele anuncia:
- Paz! Paz! Estou aqui em missão de paz! Venho da parte de Quirina.
- Quirina? Quem é Quirina? – perguntam os cupins.
- Uma menininha que tem síndrome de Down... o monstro Babão seqüestrou-a.

Ao ouvir falar no monstro, os cupins novamente começam o vai-e-vém. O pássaro aproveita a distração deles e voa para um galho de arvore.
Nesse momento, debaixo de uma árvore, Babão descansa, feliz da vida. E depois de cochilar um pouco, reinicia a caminhada, escorregando na lama.

5ª PARTE
Pra sorte dele, o sol vai saindo bem forte e acaba secando toda a floresta.
Babão corre em direção de suas vítimas. Seus passos gigantescos não deixam nada na frente. Vai arrancando pedras, árvores, tudo que atrapalhe seu caminho.
Ao chegar onde deixou presos Quirina e Melque, algo faz os seus olhos se arregalarem ainda mais. Babão abre os braços e berra, furioso:
- O que vocês aprontaram aqui?
A casa do João-de-barro está toda desmoronada. E Quirina e Melque estão bem escondidinhos num outro galho da árvore.
Irritado, Babão agarra as crianças.
Melque dá um assovio fino. Imediatamente Babão sente alguma coisa subindo em suas pernas. Ele começa a rir.
- Parem de me fazer cócegas, formiguinhas! Parem com isso! Parem! Rá-rá-rá-rá-rá!
No instante em que sente as primeiras picadas, o monstro fica sério, olhando os buracos. Depois...
- Mas... é cupim?!
Isto serviu de grito de guerra para os cupins, que começam o taque. O monstro deixa as crianças e sai correndo e gritando.
- Socorro! É cupim! Socorro!
Foi o fim de Babão. Em poucos minutos, o gigante é totalmente destruído.

Quirina e Melque descem da árvore. O monstro já era. Agora eles podem reiniciar o passeio pela floresta.
Melque agradece aos cupins e sai de mãos dadas com a amiguinha, quando ouve chamarem seu nome. É a araponga – o Ferreiro.
- Melque, vim trazer o tênis que você perdeu quando Babão te seqüestrou!
Quirina interrompe o Ferreiro pedindo.
- Faz aquele barulho, faz!
A araponga abre o bico e...
- Teinnn! Teinnnn! Teinnnn!
Quirina tapa os ouvidos, sorrindo. A araponga sai dali aconselhando.
- Melhor vocês voltarem pra casa. Já ta tarde pra passear.

O João-de-barro passa voando por eles. Alegre e feliz. Melque pergunta:
- Você poderia nos acompanhar? Vamos voltar pra casa! Tá ficando escuro.
- Claro. Tô mesmo procurando uma outra árvore pra construir minha casa amanhã.
Quirina percebe que o passarinho não está sozinho.
- Já sei! Você vai casar!
A namorada do João-de-barro sorri para Quirina, confirmando.
E assim vão os quatro, debaixo daquele sol que vai se escondendo para a noite chegar, rindo e brincando de esconder, pelas alamedas floridas da floresta.
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Atualizado em: Qua 17 Jun 2009

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