person_outline



search

A VIDA DA ROSA I

Uma menina, uma vida. Nasceu já grande, avolumada para os padrões de consumo e alimentação da sua família, pobre no interior da Paraíba, tendo como vista as pedras secas e os cactos da noite. Ela espantosamente garbosa, rosadinha desenvolta nas carreiras saltitando entre pontos cortantes, predizendo o seu breve e espantoso futuro de rainha.

Logo cedo foi seviciada no seio da sua própria carne, como se não bastasse, obrigada a silenciar para não morrer de apanhar e de vergonha.  Cresce com olhar atento, já que entendera o que houvera consigo e tentando se afastar da culpa do silencio foge pra longe, para o mundo, que nada de novo poderia lhe oferecer. Contudo, era melhor que viver aquela humilhação de não lhe prestar uma pequena honra que fosse de caráter e acumulando mágoas, tragédia de si própria.

O mundo abraça rosa e seu corpo completo para sobreviver em meio ao nada, de posse de frangalhos de roupas que mal cabiam numa velha sacola surrada de encostar-se às paredes de barro solto. Fazer dinheiro para comer, pra não roubar, pra ter tempo de encontrar um emprego que lhe desse um pouco de alento de dignidade que existia no seu latente coração. Por que eu, perguntava a si mesma sem encontrar uma razão para em tão pouco tempo de vida se sentir condenada ao ostracismo social e familiar.

Proporcionalmente ao volume do seu tamanho, mulherão, corpão, bração, pernão, tudo no ao, assim seria a sina do sofrimento dessa cristã convicta e não revoltada com deus e o seu destino. Igualmente, a cada dia o seu olhar para com os outros era mais distinto. Testa franzida, protestando antecipadamente de quem se aproximasse dela, apta a se defender de qualquer maneira, quando já trabalhando, não emprestaria mais o seu ventre para depósitos extras. A consciência já lhe garantia uma muralha de defesa pessoal e ai começou a ter imensas  e novas complicações. Já estava falada e não poderia querer se modificar...

Rosa, apesar de tudo sorridente para com os amigos e amigas, de fala alta, estridente, definida, resolve então encarar a vida empresarial. Estabelece-se com um comercio de bar. Ganha dinheiro e resolve ampliar as atividades. Todos os sábados alem de vender bebidas e comidas, inventa um forro e uma feijoada, logo apelidado de forro do risca faca. Os bêbados mais mansos elas os tirava no carinho que lhe era peculiar, ou os mandava pra casa com suas mulheres vindas em suas buscas. Aos mais alegrezinhos, aconselhava que ali era só uma brincadeira entre amigos e os convidava a melhorar o seu desempenho educacional. O problema estava nos valentões e riscadores de faca. Foi o que aconteceu com Zé furtado. Grandão, peixeira do lado, bebeu, bebeu, puxou a faca, deu quatro lapadas na mesa de ferro, cujas garrafas sobre, se espatifaram no chão e gritou que dali por diante quem mandava no ambiente era ele. Ela carinhosamente vai ao seu encontro com uma pastinha e uma vassoura, pede, suplica a ele para não fazer isso, desmoralizar a sua festinha, que estava tão boa, tão bem freqüentada... e o Zé cada vez mais se arvorava na valentia e nos empurrões provocadores aos amigos que tentavam, em vão acalmá-lo. Chama a polícia! Não, policia não! gritava desesperada a rosa, com medo de complicações passadas e batidas liberadas... Pede suplica e o Zé... nada. Tomou as medidas direitinho, entrou nos aposentos de deposito do seu comercio, preparou duas armas. Um cabo de vassoura lizinho emborrachado e um velho facão de guerra enferrujado. Foi pela última vez apelar para o bom senso do seu cliente, que já havia perdido até a própria consciência do estava a fazer. Não teve dúvida. Vou dar uma surra no  amigo Zé. Sólida, decidida, abastecida de razão, altiva, narinas abetas, olhos esbugalhados, volta com o Zé de mãos pra trás, com as duas armas. Voa em Cida do Zé que da primeira pancada do cabo de vassoura perde a faca. Deita a face do facão nas costas do Zé que a marca do mesmo fica impresso em letras grandes. Bate na direita, esquerda e no meia volta vou ver. Chute no saco, no estomago, na bunda, a rosa virou a fera.  Delataram a policia que já estava chegando ao bar e que avisado corre e esconde as armas. O Zé fica frio, senta na mesa e pede uma cervejinha gelada. A policia ultra voluntariosa procura a briga e pergunta. Dona Rosa quem esta brigando aqui!  Ninguém seria capaz de dizer. E ela mui sorridente pergunta com ar de admiração. Aqui... no meu bar... ninguém, pausadamente, malandramente calma, e o Zé caladinho tirando o gosto da sua valentia...

Pontilhada de eventos hilariantes a vida da rosa é uma estória admirável do ponto de vista dos fortes e dos fracos. Aparentemente uma pessoa equilibrada, distinta, formada pela escola mais severa existente. A vida.

O forro e o bar vão a falência precoce. Endividada, vai trabalhar para pagar o rombo. Já tinha um filho pra criar cujo pai, mui provavelmente necessite de uma investigação mais segura para saber quem é. Encara a vida de forma que a vida lhe deu. Retira-se e vai morar próximo da cidade, numa casa quase abandonada cedida por um amigo, que de forma caridosa lhe emprestou. Extremamente inquieta, compra uma metralha por quinze reais para fechar um buraco que ameaçava o alicerce da sua moradia. Um carroceiro vendo aquela metralha encostada, próximo da casa, não teve duvidas. Pegou a sua carroça e começou a carregar o material para si, pois segundo ele, estava precisando muito. Não leve meu material, eu comprei para tapar o meu buraco! Grita desesperadamente. O carroceiro nem escuta, já com o seu veiculo abastecido deixou a mulher jogando cobras e largatos com o seu nome. Vai embora. Conformada, silencia e vai curtir a sua indignidade com nó na garganta. Demora pouco e o carroceiro encosta pra vir buscar a segunda. Ela incha, piada, bufa e o cara nem ai.. Pede, diz, informa e de nada lhe valia os seus apelos. RESOLVE agir. Pois bem, `pere aí... ´            O cara nem ligou... crente que mulher e merda era a mesma coisa. Saí  Rosa com um revolver na mão e lhe saca três tiros nos pés que ele abandonou a carroça e ainda hoje esta correndo pelos matos com medo da rosa!

Continuaremos contando a  A VIDA DA ROSA...

Pin It
Atualizado em: Sex 7 Set 2012

Deixe seu comentário
É preciso estar "logado".

Curtir no Facebook

Autores.com.br
Curitiba - PR

webmaster@number1.com.br