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Assassino de Velhinhas(parte1)

Sábado, 22h:43min.

“Sou uma pessoa de alto Q.I, culto, dissimulado, insensível, cruel e
fescenino. Detesto todas as pessoas, não dou a mínima para a humanidade. Quero
mesmo é que eles se fodam. Fodam-se todos vocês, seus hipócritas
sentimentaloides, preocupados com as aparências e vivendo limitadamente com
intuito de serem boas pessoas. Fodam-se. Abomino qualquer tipo de afeição,
agrado ou carinho. Desconheço o amor. Ignoro pessoas boazinhas e ditas
religiosas, pessoas que falam o certo e vivem o errado. Sou egoísta sim, e por
que não? Não penso nos outros, penso apenas em mim. Eu sou minha vida, e minha
vida sou eu, sou meu próprio Deus, e uso meu livre arbítrio com maestria.
Dissimulação e cinismo talham minha genial e perfeita personalidade. Sou um
fingidor, e finjo tão completamente quanto fingiu o Pessoa. Tenho um ótimo
trabalho e vivo cercado de imbecis medíocres. Sou muito bem sucedido, tenho um
belo carro, uma espaçosa casa, sou bonito, jovem e extremamente saudável.
Desperto a inveja dos inferiores, e a admiração dos autodenominados superiores,
desprezo a ambos. Cago e ando para o que pensam ou falam de mim. Não obstante
ao asco que sinto pelo próximo, minha desfaçatez me faz uma pessoa agradável,
gentil, acham-me um manso e muitos me consideram uma boa pessoa, boníssima,
ledo engano. Odeio especialmente a corja que se diz da “melhor idade”,
repugnam-me todos. Principalmente as velhinhas de peitos murchos, que andam por
aí, parecendo saídas da piscina do Cocoon, tentando esbanjar a saúde que não têm.
Todas elas lembram a velha caquética com quem fui forçado a conviver em minha infância.
Aquela puta senil e degenerada me obrigava a tocar-lhe em suas partes íntimas e
fazia com que eu sugasse seus peitos flácidos e fedorentos. Tenho engulhos
quando lembro da cena. Vivi sob os cuidados dessa devassa dos cinco aos oito
anos, quando a matei empurrando-a na direção de um ônibus que descia uma
ladeira em alta velocidade, quando atravessávamos uma rua deserta. Ninguém
desconfiou de uma pobre criança órfã. Desta forma comecei minha exaustiva,
porém prazerosa, vida de matador de velhinhas. Sou um Deus, e tenho em minhas
mãos o poder da vida e da morte. Já contabilizo 15 velhinhas assassinadas e
desfiguradas. Aperfeiçoei-me e passei a deixar minha marca registrada , cortar
o seio direito de minhas idosas vítimas. Os jornais já me intitularam como o
Maníaco Gerontocida, ou ainda melhor, a que eu mais gosto, O Monstro Decepador
de Seios, esse apelido é maravilhoso, gargalharia se tivesse algum humor dentro
de mim. Fiquei famoso e sei que um renomado detetive está encarregado de me
identificar e prender, e por isso estou deixando este pequeno bilhete de
apresentação para facilitar a inútil investigação, vocês nunca me pegarão. Despeço-me
com um cordial FODAM-SE! E até a
próxima velhinha.”

_Puta que pariu, que
cara mais insano!

Essa foi à expressão do
chefe de polícia após ler o abusado bilhete deixado pelo assassino. O bilhete
estava bem ao lado do corpo de uma senhora de pele negra, de aproximadamente 70
anos, que foi encontrada morta na esquina da Rua Santa Lucia com Maturim, em
frente a um brechó, no centro da cidade. Seu rosto estava muito edemaciado em
virtude das pancadas que sofreu na cabeça. Testemunhas que a encontraram e a
reconheceram disseram que ela morava a duas esquinas do local de sua morte, na
Rua Estânciana. Era uma professora aposentada. Estava voltando da casa de uma
amiga, que mora em uma antiga casa na Rua do Rio. A senhora, conhecida como
Dona Lulu, jogava buraco com sua amiga, todos os sábados. O assassinato ocorreu
por volta das 21h:00min.. As ruas do centro da cidade são conhecidamente
desertas aos sábados à noite. Ninguém viu nada, como de costume. Fui chamado
para investigar o caso, em parceria com a polícia local, a pouco mais de um
mês. Até então só sabíamos de quatro vítimas, todas senhoras com mais de 65 anos,
Dona Lulu era a quinta. Pelo visto ignoramos completamente o paradeiro dos
outros dez corpos. Era a primeira vez que o assassino fazia contato. Alguns
psiquiatras forenses dizem que quando o psicopata deixa pistas ou informações é
por que ele quer ser capturado, é uma forma de dizer que alguém tem que fazer
ele parar de matar já que ele não consegue controlar sua compulsão doentia.
Tenho minhas dúvidas sobre essa teoria, esse cara parece é querer desfazer de
nossa inteligência e se mostrar superior, como ele mesmo afirma no bilhete.
Recrutaram-me como ajudante principalmente por eu ter resolvido um caso sobre
uns assassinatos em que as pessoas mortas eram encontradas penduradas de cabeça
para baixo, formando uma cruz invertida, foi um caso muito complicado e
macabro, com lances de satanismo e tudo mais, só que essa é outra história. O
referido caso me deu notoriedade e acabei ficando famoso e ganhando o carimbo
de um bom investigador. Já fui policial, abandonei a polícia em virtude de um
tiro que tomei na face esquerda, que me tirou 95% da visão do olho desse lado,
deixando uma grande cicatriz em forma de Z, que vai do canto do olho até a
comissura labial. Meu nome é Plínio, mas sou conhecido como Zorro, graças a
essa maldita cicatriz, sei que é ridículo, entretanto, quanto mais eu xingava e
reclamava, mais me chamavam de Zorro, acabou pegando. E hoje em dia meu cartão
de visita é feito com o nome de Zorro, O Detetive, fazer o quê?

Domingo, 00h13min.

Saí da Superintendência
de Segurança e fui em direção ao meu carro. Era uma madrugada quente de verão,
e eu não estava com sono. Resolvi dar uma volta de carro pelas ruas do centro
sem nenhuma pretensão, só mesmo para articular melhor o pensamento. Todas as
vítimas eram mulheres idosas. Das cinco vítimas, duas eram brancas, duas pardas
e uma negra, a dona Lulu. A primeira era uma puta velha que tomava conta de um
bordel na beira da estrada em um povoado chamado Donzelas, distante 60 Km da
capital, foi morta com uma facada no olho. A segunda era uma andarilha suja e
inofensiva, foi encontrada degolada dentro de uma lixeira grande da prefeitura
localizada ao lado do Mercado Municipal. A terceira era uma carola rica que
teve sua cabeça estraçalhada por várias batidas no banco de uma igreja
localizada na colina de São Pedro, zona norte da cidade. A quarta era uma velha
enfermeira que trabalhava no Hospital da Cidade, e foi encontrada sentada no
vaso sanitário do banheiro do dito hospital, encostada na parede e com um
buraco na barriga por onde saia seus intestinos, uma coisa realmente horrível
de se ver. E a quinta foi a Dona Lulu que teve a cabeça arrebentada na parede do
brechó. A ligação dos assassinatos ao perfil de um assassino em série se dá por
que todas as vítimas são velhinhas e seus seios direitos estavam decepados.
Existe um selo de identificação, uma marca, típico desses vaidosos psicóticos.
E agora com o tal bilhete, não tem o que se discutir, o assassino é um serial
killer. A forma de matar não se assemelha, provavelmente por que depende do
tempo que o assassino dispõe no momento do crime, e do seu estado de espírito,
insano ou muito insano. Não parece que seja algo programado, podendo, ou não,
caracterizar um impulso incontrolável, coisa de maluco mesmo. Os legistas confirmaram
que os seios eram decepados com as vítimas ainda vivas.

_Que filho da puta mais
escroto. Falei em voz alta dando uma tapa no volante.

Resolvi esfriar a
cabeça e parei em um barzinho do centro da cidade, perto do Mercado Municipal,
onde sempre tinha bons shows de bandas de rock locais e era frequentado por uma
galera bem informada e culta. Quem sabe não encontro aquele sacana por aqui?
Ele se diz tão culto e inteligente, que poderia muito bem está misturado às
pessoas que lotam o local. Para falar a verdade não acredito, de jeito nenhum,
que possa esbarrar com o sujeito, além do mais, não tenho a mínima idéia de
como ele seja e pelo que ele escreveu, se for verdade, ele parece ser um puto
de um pedante e só deve comparecer aos lugares da moda e cheio de
pseudo-intelectuais de merda. Esse lugar é bastante alternativo para o gosto fino
de nosso psicopata. Relaxei, tomei umas geladas encostado no balcão, e para
minha surpresa, vejo lá no fundo do bar o Dr. Homero, conversando ao pé do
ouvido de uma bela morena. Dr. Homero é um brilhante e jovem promotor. Foi ele o
promotor que acusou e condenou o matador satânico e é ele também que vai
comandar as investigações do Gerontocida, é assim que se chama oficialmente o
caso. Ele tem 33 anos e é cearense de Fortaleza, mora aqui na cidade há cinco
anos, depois que passou no concurso da promotoria. È uma figura bem estranha,
caladão, reservado e muito tímido, tem uma cara de bezerro desmamado que faz um
sucesso impressionante com as mulheres, o cara é um pegador de primeira
categoria, um verdadeiro come quieto. E como ele se alimenta bem. Alimentação
de qualidade amigo, só pega as gostosas. Apesar de sua pouca conversa, eu e ele
nos damos muito bem, eu também não sou muito chegado a uma tagarelice sem
sentido e já saímos várias vezes para beber juntos, e até que conversamos
bastante. Viramos bons amigos. Ele é uma cara bastante inteligente e conhece a
fundo mentes doentias. É alto, branco, bem apessoado, têm olhos pretos, cabelos
castanhos cortados de maneira social, está sempre bem vestido e dirige um puta
de um carro. Apesar de sua estrutura imponente, ele é um cara bem simples e,
sinceramente, o acho até meio bonachão, para não dizer retardado, tem um jeito
bem esquisito de sorrir, um sorriso de gordo, saca sorriso de gordo? Aquele
sorriso com a boca bem aberta, levando a cabeça para atrás e as mãos e os
braços indo para frente como se fosse segurar uma pança, que ele não tem. Esse
sorriso, que muitas vezes parecia forçado, destoava e fazia-lhe parecer meio
abobalhado, mas, sem dúvida, era uma ótima pessoa. Esperei o desfecho de sua
investida na morena, observando de longe, e vi quando ela lhe deu um beijo na
bochecha e se afastou. Aproveitei e fui falar com ele.

_Dr. Homero, e aí, tudo
certo? Falei.

_Olá Zorro, tá perdido?

_Eu quem pergunto isso,
o que um respeitável promotor está fazendo em um bar como esse?

_Hehehehehe. Ele deu a
ridícula risada de gordo dele, e continuou falando. Que isso Zorro, você sabe
que eu não tenho frescuras, e aqui tem uma boa música e estou bem acompanhado. Hehehehehe.
E deu uma tapa com muita força em meu ombro, força que ele parecia não saber
que tinha. E continuou sorrindo.

_Era aquela morena que
acabou de sair?

_Ela mesma, ela foi até
o banheiro e volta já.

_ Você soube que teve
outro assassinato?

_Fiquei sabendo sim, O
Mendonça me ligou, disse que tinha falado com você, e me falou sobre o bilhete,
você tem uma copia com você, não é mesmo?

__Isso, isso, estou
aqui com ele, quer dá uma olhada.

_Agora não, vamos
marcar para amanhã, quer dizer, para mais tarde, lá em minha casa, lembra onde
é?

_Claro que lembro.

_Que tal ás 15h00min.?

_Sem problema para mim.

Logo depois a morena
voltou, me despedi e resolvi ir embora. Entrei no carro e peguei um cd do Chico
Science e Nação Zumbi, chamado Afrociberdelia, comecei com Coco Dud, a música
tem um instrumental muito viajante, misturando percussão tribal e de maracatu
com toques de música eletrônica, a combinação ficou muito boa, “Cascos, caos,
cascos, caos. Imprevisibilidade de comportamento. O leito não-linear segue...,
para dentro do universo. Música quântica... .” Acendi um e fui para casa. Minha
mãe estava de visita e não queria preocupá-la.

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Atualizado em: Seg 26 Set 2011

Comentários  

#1 ANTENA 26-09-2011 14:32
Dr Jacosta e seus contos policiais. Leva muito jeito amigo, parabéns.


abraço anarquista

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