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Agora eu te entendo...

          Com 17 anos eu saí de casa, fui fazer faculdade em uma cidade que eu nunca tinha ouvido falar. Meus pais não apoiaram por causa da distância e do curso e aproveitando esse espirito de negação dos dois, eu decidí dizer o por que de eu nunca ter levado uma namorada p'ra casa: Eu era gay. Não importava o que eles achassem, pois no dia seguinte eu entrei no ônibus e fui pra mais de 600km de casa. Essa é só uma introdução para criar um contexto.

         Tenho 19 anos, e sou HIV positivo. Como foi imprudente você deve estar pensando, não é? Mas isso foi uma prova de amor. Agora a invés de imprudente deve estar me achando otário, certo? Bem... Vou contar-lhe minha história.

        Em um estado diferente do meu, sem conhecer ninguém, eu fui viver. Conseguí um trabalho em uma loja de departamentos durante o dia e fazia faculdade anoite. Sempre quando dava um tempo eu conhecia alguém e levava p'ra casa. A gente transava, sempre muito seguro, claro. E era assim que eu vivia até que em um dia um desses garotos era mais bonito que os outros, era mais educado que os outros e eu me encantei.

        Passei a dar preferência pra ele quando queria ver algum garoto e foi assim que passamos a nos ver toda semana, as vezes só conversávamos e as vezes viamos filmes até que ele ja estava morando comigo. Dizem que me apeguei assim por não ter ninguém na vida e pode até ser verdade, ele foi meu alicerce nessa momento dificil da vida.

        Dividíamos o aluguel do pequeno apartamento, iamos juntos ao supermercado, à faculdade enfim, éramos um casal, mas as vezes ele se mostrava muito triste, as vezes muito nervoso... Nunca me dizia o que era e eu tentava respeitar sua privacidade. Já que éramos casados, em tese, na hora do irmos p'ra cama eu sempre dizia que queria fazer sem o preservativo e ele semrpe relutava.

        O que eu devia pensar? Que ele estava saindo com outra pessoa, certo? Comecei a investigar as coisas dele até que uma carta em seu nome chegou, do maior hospital da cidade. Eu abri e dizia algo sobre mudar a medicação do controle da Aids e tudo fez sentido...

        Passei a entender e eu disse pra ele que tinha descoberto.

        -- Você não tinha o direito de abrir minhas correspondências! Ele gritava.

        -- Você quem não devia ter me escondido uma coisas dessa. Eu dizia, triste.

        -- Eu não queria te perder. Ninguém quer namorar uma pessoa doente!

        -- Não diz isso. Eu te amo. Vamos fazer de tudo p'ra você ficar bem. Agora eu te entendo...

        -- Entende? Você acha que por que leu uma carta você me entende? Você não sabe o que é acordar todos os dias e ter que tomar mais de 30 pílulas p'ra ter que sobreviver e transar sempre com medo de machucar a pessoa que ama. Você não entende e nunca me entenderá!

        Colocou o casaco, saiu e bateu a porta com força.

 

         Mais anoite quando ele chegou nós conversamos um pouco, eu ja estava na cama, ele tomou um banho e, sem roupa, deitou-se ao meu lado, me fez carinho e depois da reconciliação fomos comemorar com o amor. Ele deitou de bruços e eu o abracei, ele pegou a camisinha no criado mudo e me deu. Eu abri e enfim... Sentimos um ao outro até pegarmos no sono.

         No outro dia, acordamos, tomamos café e retomamos nossas vidas. Isso já faz um mês. Acabei de receber outra carta do hospital, mas dessa vez no meu nome.

        Estou esperando ele chegar p'ra eu dizer que agora eu o entendo...

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Atualizado em: Qui 9 Jan 2014

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