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Bullyingnorância...

Um surto pscótico deixou a cidade bem conhecida. Quem ouviu antes do atirador invadir a escola alguém falando sobre Realengo? Hoje, até o Bono Vox do U2 comenta o ocorrido. Mas não foi só essa palavra que ficou popular nos noticiários. A expressão inglesa "bullying" está em todos os veículos de comunicação. Lurdinha foi uma das que ouviu a palavra e, como todo brasileiro, para mostrar que tem um QI elevado a quinta potência, ela adicionou a palavra ao seu vocabulário: 

-O que foi que você disse?

- Disse Maria apoiando as mãos na grande cintura que Deus lhe deu. 

-Eu disse que a neta da Dona Joana tá sofreno bullyng na escola. 

-Sofreno o quê? 

-Bullying, Maria. Bullying... Bê, u, éli, i, eni... Bullying. Você não sabe o que é bullying? 

-Sei sim, mulher. Mas lá em casa a gente só usa garrafa térmica mesmo. 

Lurdinha ergueu os braços e olhou na direção do céu, mesmo com o teto da casa censurando o sol: 

-Valame Deus, Maria! Tu num vê televisão não? Nunca viu falar de bullying? 

-Vejo sim, Lurdinha. Sempre que posso eu vejo o Programa do Ratinho. É "café no bullying" - Disse a velha sorrindo e esticando os dedões positivamente.

-Não é esse bullyng... É inglês. Quando uma pessoa sofre humilhação pública nós chamamos de bullying. 

-E a neta da Joana sofreu isso foi? 

-Foi. Chamaram a coitada de pagodeira. A menina chegou a chorar. 

-Nossa. Que coisa triste, Lurdinha. E como ela tá? 

-Eu vi ela ontem. Ela tava com um pentiado lambido e roupa preta ouvindo aquele rapaz que foi no Faustão. O filho do Fábio Junior. 

-Sei quem é. O tal de Fiuk. 

-É esse mesmo. Esse nome é tão difícil. Pra mim tinha que ser "Fábio Junior Junior", mas tudo bem. De qualquer forma, é uma coisa muito triste. 

-É mesmo. Nunca me chamaram de pagodeira, mas deve ser horrível mesmo. Eu sei que olhando assim é meio difícil de acreditar, mas nem sempre eu tive esse corpinho. 

Um silêncio enquanto Lurdinha olhava a amiga da cabeça aos pés. O percurso ocular era bem grande: 

-Sério? Difícil de imaginar, heim. 

-Pois é. Eu era gordinha na adolecência e sofria com isso. Sempre ouvia frases do tipo "Ei. Maria balofa. Não entra na piscina senão ela vai transbordar". Ou "Maria. Você é tão grande que seu traseiro tem gravidade própria". Ou então "Alguém me ajuda. A Maria sentou em cima de mim". 

-Complicado, heim. 

-Muito. 

-A verdade dói, né? -Bastante. Agora deixa eu ir pra casa que o Programa do Ratinho hoje vai revelar quem é o pai usando o resultado do teste de DNA.

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Atualizado em: Sex 15 Abr 2011

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