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CONFUSÃO NOS BASTIDORES DA HISTÓRIA

Um animador de circo anuncia do picadeiro:
- Senhoras e senhores, senhoritas e rapazes. Nesta noite, tenho a honra de lhes apresentar, dona baratinha Tana Boka do Povo – a professora da “Nova História do Brasil”, cuja presença aqui vai nos deixar um pouco da sua ilimitada cultura.
Entra em cena a baratinha. O apresentador se dirige a ela:
– Dona baratinha...
– Diga lá!
- Conte-nos como Cabral descobriu o Brasil.
- A princípio, isto é conversa fiada. Cabral não descobriu o Brasil. Ele era um lorde português, folgazão, que vivia pescando siri nas costas do Atlântico. Um dia, por acaso, ia passando perto de uma floresta virgem – coisa rara depois da depredação da natureza – cujo nome futuramente seria Brasil. Como ele adivinhou logo o que aconteceria por aqui 400 e tantos anos depois, recuou despedindo-se: “Terra, até à vista!” A História, envergonhada e lisonjeada...
- Envergonhada e lisonjeada? Como assim?
- Envergonhada pela covardia de Cabral e lisonjeada com a descoberta, tratou de mascarar essa façanha, registrando nos livros que ao avistar o Brasil Cabral dissera: “Terra à vista!” •
– Então as coisas no Atlântico ocorreram de outra maneira?
- Com Certeza! Os ingleses, ao chegarem nas Ilhas Malvinas...
– Sra. Tana Boka, nós estamos falando do Brasil.
– OK! O sr. quer saber mais alguma coisa?
– Claro! Fale-nos da Primeira Missa.
- A Primeira Missa... Olha, faz tanto tempo que nem me lembro da data. Só sei que foi uma muvuca. O latim do padre era excelente. Cristalino como as águas que corriam nas matas. Entretanto, ele não queria deixar as mulheres assistirem à missa em trajes considerados indecorosos contra a moral e os bons costumes da burguesia florestal da época. E como as índias ainda não eram consumidoras compulsivas dos shoppings, nem os índios tinham fantasias exóticas, ou eróticas...
- Mudando de assunto, fale-nos dos índios.
– Os índios. Cada índio tem o cacique merece, dizem. Eram outros folgados. Não queriam pegar no pesado. Queriam fazer concurso público ou entrar para a política. Ficar ali, no Senado...
– A sra. falou em água...
Como era bom naquele tempo. Ainda na o existia a taxa de consumo e nem fábricas poluentes. Não era necessário político nenhum tomar banho ou mesmo beber das águas, para provar que eram da melhor qualidade, tipo exportação. ISO 9.000.000.
– E o sistema de Capitanias Hereditárias?
– Ainda não existia o INCRA. Não sei se disputaram a terra no par ou ímpar ou no cara ou coroa.
– Fale-nos da primeira capital...
- Nem precisou de policiamento. Tudo corria maravilhosamente bem. Se o IBGE vivesse de estatística de criminalidade, não teria sobrevivido nos idos de 1500, pois não existia nada que perturbasse o sossego do povo. Nem a fome, nem horário de verão, nem transporte público, nem pivete nas ruas, sequestro relâmpago... Nada!
– E sobre a escravidão negra?
– Uma farsa. Os portugueses estavam loucos para variar de cor. Enjoaram das brancas. Importaram negras da África.
- Professora, fale-nos da atualidade.
- Da atualidade, ouvi dizer que anda por aí um gigante chamado crise financeira. Andou quebrando até o “Tio Sam”. E que ele anda atrelado com o dólar. Agora parece que ele está íntimo também do euro.
O apresentador, já meio aborrecido, reclama:
- Professora Tana Boka, a sra está provocando a maior confusão nos bastidores da história
Ela, num misto de encabulada e inocente, tenta se defender.
- Sem essa! Eu não tô com essa bola toda não, senhor!
Depois de um pequeno silêncio, o apresentador tenta resumir a entrevista.
- A senhora disse que Cabral era um lorde português. É possível ser um “lorde português?”
- Claro! Portugal importou da Inglaterra o título pra ele.
- Disse também que Cabral estava pescando Camões. Digo, camarões...
- Eu não disse camarões. Disse caranguejo. Quer dizer, siri. - Tudo bem. E que ao avistar o Brasil, ele saiu correndo.
- Sr, como sair correndo se ele estava num dos navios da expedição? Ele simplesmente retornou dizendo adeus.
- Disse que as mulheres já usavam trajes indecorosos nas igrejas?
- Verdade... mas o que é isso? Um interrogatório? O sr. coloca em dúvida a minha versão dos fatos?
- Ainda bem que disse que é a “sua versão”.
- Como?
- Esqueça. Sobre os índios, eram realmente uns folgados?
- Não queriam nada com a dureza. Parece até que trabalhavam no....
- Não diga! Mas, eles já queriam fazer carreira política
- Quem não quer?
- A sra. mencionou uma classe social da época, a “burguesia florestal”. Tinha mesmo esse nome?
- Tinha. Eram os gananciosos, que hoje são chamados de...
- Não diga, por favor!
- “Não diga, não diga!" Ora, o sr. está me aborrecendo com essa sua bajulação. Digo digo digo!
- Chega! Não diz mais nada. A Sra. me fez perder a paciência! Pode tirar o seu time de campo. Suma daqui! E não volte nem quando xiitas e sunamitas derem as maos.
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Atualizado em: Sáb 22 Ago 2009

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