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Convivendo com a incerteza de um erro médico ( Câncer de mama

mamografias anuais me deixavam tranquila, apesar da tensão de cada resultado. Minha irmã mais nova, descobriu o câncer de mama aos 38 anos, quando seu filho tinha dois aninhos. Eu já havia convivido com o desespero de minha mãe, que nunca se conformou. Eu, filha mais velha, mesmo apavorada, queria passar tranquilidade à família e ao pequeno Felipe. Parecia um pesadelo, sem fim.
Quando, chegou o meu dia de confrontar-me com o fantasma que habitava em minha mente.

Eu percebi a minha mama direita, com a forma diferente e a examinava compulsivamente. Não encontrei nódulo na palpação e fui ao ginecologista que também nada palpou. Fiz mamografia e nenhum nódulo foi encontrado, apenas uma densidade assimétrica nas mamas. Fiz ultrassonografia e uma área estava suspeita. Havia algo escondido pela densidade aumentada. Mamas densas, podem esconder oa nódulos e as microcalcificações. Fui encaminhada à Ressonância Magnética das mamas e o nódulo não foi visualizado, mas havia algo que impedia a passagem do contraste.

A tensão era indescritível e arrisquei-me a fazer uma Biópsia fina por agulha e relaxei após o exame, que demonstrou ser apenas ser esteatonecrose. Marquei a retirada da lesão e fui tranquila. Ao acordar da cirurgia, realizada no Copa D´OR , percebi que todos estavam estranhos e os olhares eram reveladores de uma surpresa. Pedi que me dissessem o que estava havendo e o médico entrou no quarto explicando que a biópsia por congelamento, tinha sido inconclusiva e  resolveram fazer a biópsia ( parafina) que demoraria quinze dias , para  a chegada do resultado. Comecei a necessitar de ansiolíticos e telefonei para o ginecologista que não participou da cirurgia, mas poderia ter alguma notícia. Como eu esperava, com a sinceridade que era uma de suas características marcantes, disse já saber que encontraram um Carcinoma Lobular e que precisavam confirmar se era in situ ou invasivo. Descrever a sensação de estar perto do fim e ao mesmo tempo à esperança de ser o melhor resultado, fiquei alternando entre a mudez e a alegria.

Os quinze dias pareciam quinze anos e o telefone toca, e é marcada a consulta com o médico, cirurgião oncológico, de uma brilhante equipe da Zona Sul e do INCA.

Eram quatro médicos e uma sentença: Não podemos dizer o tamanho da lesão, pois não é revelada na imagem e teremos que fazer quimioterapia para definirmos , antes da cirurgia. O desespero veio como um furacão. Nada estava claro, nada era revelado. Este sofrimento era pior do que um diagnóstico bombástico mas definitivo, mas ao mesmo tempo caminhava ao lado da Fé e da esperança.

Colhi várias opiniões, e todos foram unânimes em dizer que o carcinoma Lobular infiltrante, que veio como resultado da biópsia, era um tumor multifocal e bilateral: Vários focos pela mama e normalmente nas duas mamas. Qual teria que ser a minha decisão? Se um foco não foi visualizado em exames, como saberei que não existem outros? Usei a lógica que é a mais comum. Qual a razão de se fazer quimioterapia, diminuir o tumor e retirar apenas um quadrante, se não sabemos o que pode existir nos outros? Pedi que retirassem minhas duas mamas. Eles não aceitaram e retiraram apenas a mama direita, e os linfonodos, sem fazer o novo exame de linfonodo sentinela. Eu tive axila negativa, isto é, não tinha metástase nos linfonodos. Naquele momento, fiquei feliz por não ser o pior. Diante de sentimentos ruins, torcemos para ser o menos ruim. Aí começaram os enigmas: Como se mede um lobular? Não encontrando o foco, o patologista resolveu somar todos os focos encontrados e me deu um tumor de 7,0cm, sete centímetros. Impossível um tumor de 7,0cm não aparecer numa ressonância magnética. A Ética médica é perversa, pois ninguém da equipe quer dizer de quem foi o erro. Todos acertaram. Enlouqueci ! Sem mama, sem cabelos, com o casamento estremecendo, depois de 27 anos, depois de uma linda festa de bodas de prata e eu já não me sentia amada. Minha auto- estima baixíssima e sem parceiro. Filhos lutando, um pela OAB e outro pelo vestibular. Minha mãe sofrendo com a metástase de minha irmã que havia retornado nos ossos e eu, sem saber o melhor caminho. E a dúvida de erro médico me assombrava. Eu tinha que ser forte, eu tinha que superar . Eu tinha que me aceitar, eu tinha que me amar, mesmo sendo rejeitada como mulher. Aquele corpo não era mais o meu corpo e eu tinha que aceitar a minha nova imagem: Aquela era eu , aquela não era  eu ! E a idéia do erro me revoltava. Quem teria errado? Os exames de imagem? a biópsia fina por agulha? A medida do lobular invasivo?

Resolvi telefonar para o hospital Albert Einstein em São Paulo, que me atendeu com um carinho , atenção e  paciência, e explicou-me que  a medida de um tumor lobular infiltrante, se dava pelo maior foco e não pela soma dos focos. Telefonei para a médica patologista que assinou o laudo, e esta teve a ousadia de me responder que para ser precisa, num cálculo de maior foco, ela demoraria mais de um mês, só na minha mama. Se eu estivesse um pouco mais descontrolada, sairia de minha casa para dar voz de prisão a uma médica do INCA. Fiz toda a quimoterapia, radioterapia e já se vão 7 anos do ano de 2003. Lutei com todas as minhas forças para estar bem durante o tratamento e faço controle desde a época citada. Meus filhos conseguiram, cada qual, entrar na OAB e no Vestibular. Estão formados, trabalhando, maduros, viveram a saída do pai de casa, em 2005, depois da descoberta de um novo Câncer inicial de ovário, que me fez passar por nova quimioterapia.

Sofri violência doméstica , nessa época, no braço com sequelas, lesando ligamento de meu polegar e entreguei o caso à Justiça em 2005.

Hoje, depois de passada a pior fase da minha vida, ano de 2010, continuo sob controle anual, sem recidivas sem a certeza de que houve erro de biópsia, mas com a mesma suspeita, como relatado nos jornais da última semana. Um câncer muito inicial pode trazer transtornos nos diagnósticos.

Minha irmã faleceu , minha mãe está em depressão, eu estou lutando na Justiça pela separação do casal, pelos bens que ele dilapidou, e pela sentença que o absolveu, por ser um homem influente .

A única mensagem que posso deixar aqui, é que ninguém consegue impedir o pacote que lhe pertence. Por mais que a medicina avance, temos que acreditar que cada um tem um destino e que as histórias não saõ iguais. Eu sempre estive com a presença de Deus em minhas atitudes e entrei em um acordo com ele: Enquanto eu estiver viva, aqui no mundo terreno, estarei ajudando às pessoas que necessitam de minha ajuda. Entrei para a Política para ver de perto como as coisas funcionam e estou sempre produzindo algo que possa ficar registrado para sempre, no livro da vida.

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Atualizado em: Qui 12 Ago 2010

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