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Essa tal felicidade

Quanta complexidade guarda a alma do ser humano!

Que outra criatura deste mundo pode ter manifestações tão paradoxais quanto chorar de felicidade ou sofrer por amor?

Muito já foi escrito e dito sobre sofrimento e felicidade, além de suas nuances, e gostaria de aproveitar o momento de inspiração para contribuir com este vasto arsenal. Só não cairei na tentação de citar outras espécies que também manifestam tais sentimentos e reações (donos de cães e gatos que o digam) para não tornar o texto pedante demais. Desejo ser o mais breve possível, sem a pretensão de ser dono de alguma verdade a não a minha própria. Isto é, o que se segue faz parte de minha opinião sobre o assunto, estando ela isenta de julgamento e réplicas, mas não de discussão; salutar e edificante.

Assim, continuarei a discorrer sobre o tema fazendo duas perguntas: o Criador de todas as coisas (seja lá por qual nome o chamem; isto supondo-se que o leitor acredite na existência de tal entidade) deseja a felicidade de suas criaturas? Teria este mesmo Criador, a capacidade de faze-las felizes?

A religião, a riqueza, o prazer, entre outras coisas, tem oferecido momentos de alegria, mas não a inabalável felicidade. A religião oferece conforto e segurança a muitas pessoas, mas tem causado guerras, torturas, desentendimento e mais confusão do que esclarecimento, sem mencionar o opressivo sentimento de culpa que acompanha o fiel. A riqueza é capaz de resolver vários problemas, mas tem trazido ganância, avareza, morte, sem mencionar a inquietante sensação de assalto iminente. O prazer alivia todos os corações, mas tem provocado desequilíbrio, instabilidade, irresponsabilidade, sem levar em conta que é um sentimento fugaz, durável até cessar o estímulo que o alimenta. E isto tudo desde sempre.

O fato é que a alegria ou seu oposto não dependem de espiritualidade, condição social ou física. Ambos sentimentos são um estado d’alma no qual escolhe-se estar. Ilude-se quem deposita nas mãos do outro a responsabilidade por sua condição emocional ou que acredita ser responsável pela felicidade ou não do próximo. Cada um deve assumir a responsabilidade por seus próprios sentimentos e isto, por si só, já é uma tarefa grandiosa e que exige muita disciplina e apurado auto controle.

Então, respondendo às duas perguntas feitas no início, penso que o Criador deseja com toda a magnitude de seu ser a felicidade de suas criaturas, mas se vê completamente incapaz de promovê-la; simplesmente por não poder assumir as escolhas que competem a cada um.

Há de se levar em conta os fatores externos, com certeza, mas eles não devem ser o fator decisivo e preponderante para o veredicto final e é fácil observar que tais fatores não são assim tão relevantes, a não ser que imputemos a ele tal relevância.

Como exemplo, pergunto: o que poderia provocar tamanha desolação em alguém a ponto de inspirar-lhe a escrever tão angustiantes versos como os da música: Tristeza do Jeca - “Vou guardar minha viola já não posso mais cantar, pois o jeca quando canta dá vontade de chorar...”? Desnecessário dizer, acho, que tal idéia contraria diretamente o ditado que diz: “Quem canta os males espanta.”

Do contrário, que acontecimento maravilhoso levaria o compositor a criar uma ode que tem por refrão a seguinte exclamação: “Que vida boa! OUOUOU Que vida boa!”? Trata-se daquela música do sapo que caiu na lagoa.

Quantas histórias sofridas, aos olhos do observador, são vivenciadas com estranha abnegação e sorriso nos lábios por variadas pessoas de variadas nacionalidades: filhos doentes, condições sociais ultrajantes, condições físicas impossíveis de serem contornadas para promover autonomia? Quantos filhos de berço, criados como certeza promissora de um futuro glorioso, enveredam por caminhos ilógicos: violência, descontrole, criminalidade?

Volto a insistir que a resposta é: escolha. Cada um escolheu estar assim e ponto. E se tudo depende da escolha feita, então por que não se escolhe sempre pela alegria?

A esta pergunta devo responder com um termo técnico complexo que somente os iniciados nos mais altos conceitos de psicologia conhecem: SEI LÁ!!!

Já os demônios pessoais sim, são os principais responsáveis pelas más escolhas: insegurança, medo, raiva... Entra na lista a eterna insatisfação que acompanha a humanidade desde que tomou consciência de si mesma.

Falando em tom mais pessoal, a todo momento queremos sempre mais: mais amor, mais paixão, mais riquezas, mais prazer, mais paz, mais saúde, mais fraternidade, mais de Deus, mais, mais, mais...

Nunca estamos satisfeitos com o que temos, com o que somos, onde estamos, com o que a vida nos proporciona. Não sou ignorante a ponto de dizer que não devamos almejar por algo melhor ou por crescimento, seja em qual nível for, mas que esta busca não seja o foco principal de nossa existência.

Arrisco a afirmar que ao encontrarmos a sabedoria para dosarmos equilibradamente todas as coisas seremos mais felizes. E ao assumirmos a responsabilidade pelo nosso próprio destino, sem legar ao outro tamanha responsabilidade, teremos dado um passo muito importante rumo ao auto conhecimento.

Pela última vez, só uma pessoa é responsável por nosso estado de espírito: nós mesmos. Nada e ninguém pode alterar nosso estado sem que permitamos. Decidamos estar mal humorado e ninguém poderá alterar isto. Decidamos estar inebriados de paz e nada poderá tirar isto de nós.

Enfim, encerro com a citação de um frase de Carlos Drumond Andrade (se não me engano): “Dor é inevitável, mas sofrimento é escolha.”

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Atualizado em: Sex 16 Jul 2010

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